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21/09/2022
Número: 0808684-23.2019.8.15.0000
Classe: DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Órgão julgador colegiado: Tribunal Pleno
Órgão julgador: Desa. Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti Maranhão
Última distribuição : 09/08/2019
Valor da causa: R$ 10.000,00
Assuntos: Inconstitucionalidade Material, Processo Legislativo
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ASSOCIACAO BRASILEIRA DE SHOPPING CENTERS MARCOS ROLIM DA SILVA (ADVOGADO)
ABRASCE (AUTOR) SERGIO VIEIRA MIRANDA DA SILVA (ADVOGADO)
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA PARAÍBA
(REU)
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Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
67825 26/06/2020 11:08 Acórdão Acórdão
77
Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 0808684-23.2019.8.15.0000.
Relatora: Desa Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti
Requerente: Associação Brasileira de Shopping Centers – ABRASCE
(Advs. José Ricardo Pereira Lira – OAB/SP 145.613-A, e Sérgio Vieira Miranda da Silva – OAB/SP 175.217-A).
Requerido: Presidente da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, Procurador-Chefe NEWTON NOBEL SOBREIRA VITA
– OAB/PB 10.204.
É da competência privativa da União legislar sobre direito civil, de acordo com o art. 22, I, da
Constituição Federal.
A intromissão do Estado, na fixação de preço privado, significa uma inadequada interferência no princípio
da livre iniciativa e da livre concorrência, o que enseja o reconhecimento da inconstitucionalidade
material da norma impugnada.
ACORDA o Pleno do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, em sessão ordinária judicial por
videoconferência hoje realizada, apreciando o processo acima indicado, proferiram a seguinte decisão:
JULGOU-SE PROCEDENTE A AÇÃO, POR UNANIMIDADE, NOS TERMOS DO VOTO DA
RELATORA, PARA DECLARAR, COM EFEITO EX TUNC, A INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL E MATERIAL DA LEI ESTADUAL Nº 11.411/2019, SENDO QUE OS
DESEMBARGADORES OSWALDO TRIGUEIRO DO VALLE FILHO, SAULO HENRIQUES DE
SÁ E BENEVIDES, JOSÉ RICARDO PORTO, LEANDRO DOS SANTOS E O PRESIDENTE,
ACOMPANHARAM EM PARTE A RELATORA, PARA DECLARAREM A
INCONSTITUCIONALIDADE, APENAS, MATERIAL DA REFERIDA LEI. FIZERAM
SUSTENTAÇÃO ORAL O ADVOGADO MARCOS ROLIM DA SILVA OAB SP 362.621, NA
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DEFESA DA REQUERENTE, E NEWTON NOBEL SOBREIRA VITA, OAB PB 10.204, NA
CONDIÇÃO DE PROCURADOR-CHEFE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA
PARAÍBA. OS DESEMBARGADORES OSWALDO TRIGUEIRO DO VALLE FILHO E JOSÉ
RICARDO PORTO LANÇARÃO NOS AUTOS SUA DECLARAÇÃO DE VOTOS.
RELATÓRIO
Em suas razões, alega a Associação autora, preliminarmente, a inconstitucionalidade formal (por vício de
iniciativa) e material (por transgressão ao direito de propriedade e aos princípios da livre iniciativa e da
livre concorrência) da mencionada norma por violação aos artigos da Constituição Estadual: 1º, caput e §
1º; 4º; 5º, caput; 7º, caput e seu §3º, inc. I; e 178.
Aduz que inúmeras leis no mesmo sentido foram declaradas inconstitucionais pelo STF e por outros
tribunais, dentre eles esta Corte de Justiça no julgamento da medida liminar na ADI nº.
0801741-29.2015.8.15.0000, através da qual, manifestando-se sobre o tema, declarou a
inconstitucionalidade de Lei editada pelo Município de Campina Grande.
Verbera que, em todos os precedentes dos tribunais pátrios já julgados, relacionados a (1) fracionamento
conforme minutos utilizados; (2) gratuidade condicionada a consumo; (3) gratuidade por certo período de
tempo (carência); (4) vinculação da cobrança a período de permanência; e (5) gratuidade para pessoas
idosas e deficientes, à unanimidade, entendeu-se que a intervenção no desenvolvimento da atividade de
estacionamento, por dizer respeito à exploração econômica de propriedade privada, enquadra-se no ramo
do Direito Civil, sendo, portanto, matéria de competência privativa da União, além de importar em
transgressão ao direito de propriedade e aos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência.
Salienta não ser a hipótese sequer de matéria relativa a direito do consumidor, eis que a questão
enquadra-se, claramente, no rol daquelas em que se dá a intervenção do Poder Público na propriedade
privada e na ordem econômica, hipóteses a serem disciplinadas exclusivamente pela União, importando,
noutra vertente, em invasão da esfera de competência exclusiva da União Federal, ao tratar de normas
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consumeristas de caráter geral, isto é, que não tenham o propósito de regular questões específicas do ente
federado relevante.
No tocante à inconstitucionalidade material, assevera que referida norma também padece de tal vício de
inconstitucionalidade, porquanto interfere direta e indevidamente na atividade empresarial dos
empreendedores de shopping centers, importando em violação do seu direito líquido e certo de
propriedade, bem como da livre iniciativa e da livre concorrência.
Conclui a explanação asseverando que todos os dispositivos da lei inquinada encontram-se eivados pelo
vício da inconstitucionalidade.
E requer, por fim, a concessão da medida cautelar, argumentando que estão presentes (a) o fumus boni
iuris, haja vista a violação dos dispositivos mencionados da Constituição Estadual, bem como o (b)
periculum in mora, ante a evidência dos danos decorrentes da aplicação da Lei Estadual ora impugnada,
os quais serão crescentes e de improvável reparação, na medida em que os associados da requerente
permanecerão expostos a fiscalizações e sanções tendo por objeto a exigência de observância Lei nº
11.411/2019 do Estado da Paraíba.
Pedido liminar deferido em sessão plenária desta Corte de Justiça, realizado de acordo com os termos §
1.º do art. 204 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, para suspender a Lei
Estadual sub examine (Id 4599234).
Nessa linha de raciocínio, argumenta que, assim como o direito do consumidor é aplicado quando da
indenização por furto, dano ou fato ocorrido no interior do estacionamento, deve ser, também, em relação
ao custo do estacionamento.
Apesar de citado, através de sua Procuradoria Geral, o Estado da Paraíba deixou o prazo transcorrer in
albis, sem manifestar-se.
A douta Procuradoria de Justiça, no parecer (Id 5492974), opinou no sentido de ser julgada procedente a
ação, declarando-se a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº. 11.411/19.
VOTO
Inicialmente, constato que a pretensão deduzida na presente ADI guarda relação de pertinência com os
objetivos institucionais da ABRASCE, que tem por finalidade representar e defender os interesses dos
empreendedores, investidores e gestores de “shopping centers”, sendo certo que a lei impugnada
estabelece restrições na cobrança de tais estacionamentos localizados no Estado da Paraíba, afetando
diretamente aqueles que são operados pelos shoppings no Estado, mostrando-se legítima, portanto, a
atuação da associação autora.
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A Constituição do Estado da Paraíba, em seu artigo 105, dispõe que “compete ainda ao
Tribunal de Justiça: I -processar e julgar: a) a representação e a ação direta de
inconstitucionalidade de leis ou de atos normativos estaduais ou municipais em face
desta Constituição (...)”.
Faz saber que a Assembleia Legislativa decreta, e eu, em razão da sanção tácita, nos
termos do § 1º do Art. 196 da Resolução nº 1.578/2012 (Regimento Interno) c/c o § 7º
do art. 65, da Constituição Estadual, Promulgo a seguinte Lei:
Art. 3º O benefício previsto nesta Lei só poderá ser compreendido pelo cliente que
permanecer por no máximo 5 (cinco) horas no interior do estabelecimento.
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Adriano Galdino
Presidente.
Observo que a Associação autora indicou, na petição inicial, os dispositivos impugnados, bem como
apresentou os fundamentos jurídicos do pedido em relação a cada um deles, tendo utilizado, como
parâmetro de controle de constitucionalidade tanto normas expressamente previstas na Constituição do
Estado (artigos 1º, caput, e §1º, art. 4º, 5º, 7º, caput, e §3º, I, e 178), quanto regras de repartição de
competência legislativa, previstas na Constituição Federal, que são de observância obrigatória pelos entes
da Federação.
Passo a fazer uma curta explanação acerca dos dispositivos legais suscitados:
Ainda, o artigo 178 da mesma Constituição do Estado da Paraíba dispõe que “...o Estado e os Municípios
promoverão o desenvolvimento econômico e social, conciliando a liberdade de iniciativa com os
princípios da justiça social, visando à elevação do nível de vida e ao bem-estar da população”, devendo,
entretanto, observância aos limites de suas respectivas competências previstos na Constituição Federal.
A Constituição Federal, em seu artigo 1º, devidamente reproduzido pela Constituição do Estado da
Paraíba, estabelece o princípio federativo, por meio do qual se explica a autonomia dos Estados
Federados, assegurando-se aos entes da federação a competência privativa que foi outorgada a cada um
deles, estabelecendo que:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados
e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Por seu turno, a CE prevê, em seu artigo 7º que “são reservados ao Estado as competências que não
sejam vedadas pela Constituição Federal”; e, em seu § 3º, I, textua competir ao Estado “zelar pela
guarda da Constituição Federal, desta Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar
o patrimônio público”.
É certo que a República Federativa do Brasil adota como modelo federativo a simetria dos sistemas
federal e estadual quanto aos princípios, existindo uma principiologia a harmonizar as normas que os
compõem, de modo a não destoar do que foi adotado no plano nacional, prevalecendo o equilíbrio
federativo.
Na esteira desse raciocínio, percebo que o art. 7º da Constituição Estadual ao dispor serem reservadas ao
Estado as competências que não sejam vedadas pela Constituição Federal, encontra simetria com a norma
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do artigo 25 da CF, dispondo seu artigo 22 ser da competência privativa da União legislar sobre direito
civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho.
Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, em diversas oportunidades, tem assentado que a disciplina
acerca da exploração econômica de estacionamentos privados refere-se à matéria de Direito Civil, sendo,
desse modo, da competência privativa da União, nos termos do art. 22, I, da Constituição Federal, senão
vejamos:
Induvidosamente, a análise acerca da pertinência da norma, em relação ao campo de atuação (se Direito
Civil ou do Consumidor), está diretamente ligada à verificação de sua incidência sobre o perfil do direito
à propriedade, assim como seus reflexos no contrato de depósito, típico dos estacionamentos privados.
Ora, na medida em que a cobrança de estacionamentos urbanos possui relação direta com o direito à
propriedade, por limitar o pleno exercício desta no âmbito das relações contratuais, não há que se falar em
caráter consumerista da norma em análise.
Demais disso, cotejando-se a norma também sob a ótica específica do contrato de depósito, que tem
previsão nos artigos 627 a 646 do Código Civil, revela-se que o legislador entendeu por deixar no campo
da autonomia privada das partes a fixação da retribuição da prestação. Observe-se que rezam os seus
artigos 628 a 631, in verbis:
Art. 630. Se o depósito se entregou fechado, colado, selado, ou lacrado, nesse mesmo
estado se manterá.
Art. 631. Salvo disposição em contrário, a restituição da coisa deve dar-se no lugar em
que tiver de ser guardada. As despesas de restituição correm por conta do depositante.
Como se vê, os dispositivos da Lei Estadual nº 11.411/2019 invadem esfera do Direito Civil, afrontando a
disposição do sobredito art. 7º da Constitucional deste Estado que reclama, repita-se, observância às
regras de competência previstas na Constituição Federal.
Em recente julgamento realizado em agosto do ano transato, o Min. Luiz Fux, ao relatar a ADI 5610/BA,
bem sintetizou a questão, traduzida na seguinte assertiva: “o direito do consumidor, à mercê de abarcar
competência concorrente dos Estados-membros, não pode conduzir à frustração da teleologia das
normas que estabelecem as competências legislativa e administrativa privativas da União”.
A inconstitucionalidade material está clara por conta de a lei inquinada, ao dispor sobre a cobrança em
estacionamento privado infringir os princípios da Constituição Estadual (art. 1º), revelados na livre
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iniciativa e na livre concorrência, de reprodução obrigatória a partir do art. 1º da Constituição Federal
(Princípios Fundamentais da República Federativa do Brasil e Princípio geral da Atividade Econômica –
art. 170, CF), além do direito de propriedade.
Com efeito, a Lei nº. 11.411/201, da forma apresentada, interfere na atividade empresarial dos
proprietários de shopping centers ao impor a gratuidade pelo uso de estacionamentos privados nos 20
(vinte) primeiros minutos de permanência, bem como quando houver consumo.
Induvidosamente, a espécie trata de indevida intervenção na exploração de estacionamentos, uma vez que
o proprietário tem o direito público subjetivo de exercer livremente sua atividade econômica, sem
interferência ou tabelamento de preços, desde que respeitada a função social da propriedade.
Portanto, a intromissão do Estado, na fixação de preço privado, significa uma inadequada interferência no
princípio da livre iniciativa, o que enseja o reconhecimento da inconstitucionalidade material da norma
impugnada.
Nessa linha de raciocínio, entendo que nem sequer a União poderia legislar sobre a matéria, pois, mesmo
havendo competência para tanto, não poderia aprovar tal norma, porque, muito embora lhe seja possível
estabelecer normas sobre direito privado, não poderia atentar contra o princípio da propriedade privada
bem ainda desafiar os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, como já exposto.
Vale transcrever os precedentes do Supremo Tribunal Federal, nas vezes em que foi acionado para decidir
sobre a matéria:
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ilegitimidade passiva "ad causam", pois a Câmara Distrital, como órgão, de que
emanou o ato normativo impugnado, deve prestar informações no processo da A.D.I.,
nos termos dos artigos 6° e 10 da Lei n° 9.868, de10.11.1999.3. Não compete ao
Distrito Federal, mas, sim, à União legislar sobre Direito Civil, como, por exemplo,
cobrança de preço de estacionamento de veículos em áreas pertencentes a instituições
particulares de ensino fundamental, médio e superior, matéria que envolve, também,
direito decorrente de propriedade.4. Ação Direta julgada procedente, com a declaração
de inconstitucionalidade da expressão "ou particulares", contida no art. 1° da Lei n°
2.702,de 04.4.2001, do Distrito Federal”. (Grifei; ADI 2.448, rel. Min. SYDNEY
SANCHES, Tribunal Pleno, DJ 13.6.2003);
Atente-se que o colendo STF, através do seu órgão plenário ou por suas turmas, nos recentes julgados em
que tem sido acionado para manifestar-se sobre o tema, tem confirmado, por unanimidade, esse
entendimento. Vejam-se (negritei):
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EM VERBA HONORÁRIA, POR TRATAR-SE DE PROCESSO DE MANDADO
DE SEGURANÇA (SÚMULA 512/STF E LEI Nº 12.016/2009, ART. 25) – AGRAVO
INTERNO IMPROVIDO. (RE 1169262 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO,
Segunda Turma, julgado em 06/12/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-282
DIVULG 17-12-2019 PUBLIC 18-12-2019)
Ao fazer-se uma análise do primeiro precedente citado (ADI 4862/PR), conhecido como leading case,
julgado em agosto de 2016 e publicado em fevereiro de 2017, a Assembleia Legislativa deste Estado,
defende que teria prevalecido o entendimento de que se trata de competência concorrente entre a União,
Estados e Municípios, para legislar sobre a matéria, por se tratar de direito do consumidor a questão
versada na norma sob análise.
Ocorre que, como se pode extrair da ementa do julgado, e de acordo com o inteiro teor voto do eminente
relator, Min. Gilmar Mendes, o entendimento firmado foi o de que houve vício formal por usurpação de
competência privativa da União, ou seja, a discussão versa sobre direito civil, na esfera do direito privado.
Verifico, ainda, das razões de voto do ilustre Min. Edson Fachin que, muito embora tenha manifestado
seu voto no sentido de entender ser consumerista a matéria, e ainda que tenha apresentado possível
entendimento divergente, ele se curva ao posicionamento ora esposado, em razão do princípio da
colegialidade.
E assim tem sido em todos os precedentes do Supremo Tribunal Federal, tanto em manifestações através
do seu órgão plenário quanto por meio de suas Turmas, como visto, sempre reconhecendo a
inconstitucionalidade (i) formal de leis estaduais ou municipais que, violando a competência privativa da
União, edite normas disciplinando a cobrança de estacionamento em estabelecimentos privados ou
públicos, ou, em outros julgados, em menor número, (ii) a material, face a intromissão quanto aos
princípios da livre iniciativa e livre concorrência.
Em caso análogo ao dos autos, pronunciou-se esta Corte, pela inconstitucionalidade da norma de âmbito
municipal, a qual dispunha sobre o tema em questão, por se tratar de matéria privativa da União. Veja-se:
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Atendimento dos requisitos do art. 90, V, da Constituição do Estado de São Paulo.
Associação requerente que, por estar legitimada para propor ações diretas de
inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, também poderá fazê-lo no
âmbito deste Tribunal de Justiça. Precedentes jurisprudenciais do Órgão Especial.
Interesse jurídico na causa e representatividade una. Requerente que representa os
interesses dos empreendedores, investidores e gestores de shopping centers, que, no
mais das vezes, disponibilizam serviço de estacionamento aos seus usuários.
Preliminar afastada. Inconstitucionalidade da norma. Invasão da competência
privativa da União para legislar sobre Direito Civil. Lei que restringe o direito de
propriedade e intervém no domínio econômico. Afronta ao artigo 1º, da Constituição
Estadual, e aos artigos 22, I, e 25, § 1º, ambos da Constituição Federal.
Inconstitucionalidade da lei reconhecida. Ação procedente.” (ADI
20680863320168260000–São Paulo –Órgão Especial –Relator Tristão Ribeiro
–26/10/2016 –Votação Unânime –Voto nº 27665).
Por todo exposto, concluo que a elaboração da norma ora combatida revela uma iniciativa suspeita do
legislador estadual, emanado do espírito de elevado apelo popular, uma vez que a medida veiculada se
revela benéfica aos cidadãos, incidindo pontualmente sobre o preço cobrado em decorrência da
exploração de propriedade privada, o que configura ingerência do Poder Público no âmbito da atividade
econômica privada, cabendo ao Judiciário, como o órgão responsável pela análise do controle de
constitucionalidade, extirpar do ordenamento jurídico a lei eivada de vícios.
Forte nessas considerações, julgo procedente a presente Ação Direta para declarar, com efeito ex
tunc, a inconstitucionalidade formal e material do inteiro teor da Lei Estadual nº 11.411/2019.
Comunique-se o teor desta decisão à Assembleia Legislativa deste Estado, para fins do disposto no art.
108 da Constituição Estadual e 209 do Regimento Interno desta Corte de Justiça.
É como voto.
Assinado eletronicamente por: Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti - 26/06/2020 11:08:45 Num. 6782577 - Pág. 10
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Desa Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti
Relatora
1 Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios
desta Constituição.
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