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AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA

COMARCA DA CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO.

AÇÃO INDENIZATÓRIA
POR VIOLAÇÃO DE DIREITOS DE
AUTOR C/C PEDIDO COMINATÓRIO

Desenvolvido por FCM Visual Law


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Avenida 13 de Maio n° 23, Grupos 1610, 1611, 1612 / 1619 e 1620 Cinelândia - Centro, Rio de Janeiro
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ÍNDICE
Clique nos tópicos abaixo para navegar pela Peça.

1 DOS BENEFÍCIOS DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA Página 4

2 DA COMPETÊNCIA Página 4

3 DOS FATOS Página 5

4 DO DIREITO Página 12

4.1 DA PRETENSÃO TEMPESTIVA Página 12

4.2 DA LEGITIMIDADE PASSIVA DAS REQUERIDAS Página 12

DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS E DA


4.3 EXCLUSIVIDADE DO AUTOR Página 14

4.4 DA OBRA OBJETO DA LIDE Página 16

DO PERTENCIMENTO DOS DIREITOS MORAIS E PATRIMONIAIS E


4.5 DA NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR Página 17
PARA O USO DA OBRA

RESP 951.521/MA: PRECEDENTE DO STJ – DO AFASTA-


4.6 MENTO DO ART. 48 DA LDA (OBRA EM LOGRADOURO Página 19
PÚBLICO) POR REPRODUÇÃO LUCRATIVA

4.7 DA REPARAÇÃO PELOS DANOS MORAIS DO AUTOR Página 25

DA REPARAÇÃO PELOS DANOS MATERIAIS –


4.8 LUCRO DA INTERVENÇÃO Página 26

DA SUSPENSÃO DA DIVULGAÇÃO ILEGAL –


4.9 PEDIDO COMINATÓRIO Página 29

5 DOS PEDIDOS Página 33

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AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPI-


TAL DO ESTADO DE SÃO PAULO.

INTRODUÇÃO

MARCOS RODRIGO NEVES, brasileiro, portador de RG nº 13.137.593-3,


inscrito no CPF sob o nº 116.437.567-96, residente e domiciliado à Travessa
Escada do Bairro Barcelos, 1A, Rocinha, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 22.451-
-580, vem, por meio de seus advogados infra-assinados (procuração em
anexo), com escritório à Avenida Treze de Maio, 23 Salas 1610, 1611, 1612,
1619 e 1620 - Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20031-080, e endereço
eletrônico contato@fcmlaw.com.br, com fulcro na Lei 9.610/98, propor

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR VIOLAÇÃO DE DIREITOS


DE AUTOR C/C PEDIDO COMINATÓRIO

Em face de:

GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA., pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob o nº: 06.990.590/0001-23, com sede na Av. Briga-
deiro Faria Lima, 3477, Andares 17 a 20 - Torre Sul, Andar 2 - Torre Norte
e Andares 18 a 20 Torre Norte, Itaim Bibi, São Paulo/SP, CEP: 04.538-
-133, doravante denominada como “GOOGLE BRASIL”;

REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS LTDA., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o nº 07.522.156/0001-81, com sede na Rua
do Caquende, 09, Térreo, Centro, Cachoeira/BA, CEP: 44.300-000,
doravante denominada como “REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS”;

SPA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA., pessoa jurídica de direito priva-


do, inscrita no CNPJ sob o nº 13.661.631/0001-01, com sede na Rua
Virgílio Várzea, 147, Apto. 62, Itaim-Bibi, São Paulo/SP, CEP: 04.534-
-050, doravante denominada como “SPA PRODUÇÕES”; e

UNIVERSAL MUSIC INTERNATIONAL LTDA., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob o nº 08.975.642/0001-18, com sede na
Avenida das Américas, 3500, Bloco 01, Loja A - Jirau Parte, Barra da
Tijuca, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 22.640-102, doravante denominada
como “UNIVERSAL MUSIC” pelos fatos e fundamentos que se seguem.

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1. DOS Preliminarmente, requer o Autor a concessão dos benefícios da gratui-


BENEFÍCIOS dade da justiça, com arrimo nos artigos 98 e seguintes do Código de Processo
CONTRACT

DA Civil, bem como no art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal/88, por ser pobre na
GRATUIDADE forma da lei, conforme comprovam os documentos anexos, não podendo,
DA JUSTIÇA
portanto, arcar com as custas de ingresso e demais despesas processuais sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família.

Para estes fins, e nos termos do disposto no art. 99, §3º, do CPC, o Autor
auto declara sua hipossuficiência (DOC.04), devendo apenas isto bastar para a
concessão do benefício aqui requerido, tal como aduz o entendimento do Supe-
rior Tribunal de Justiça, a seguir explanado:

Assistência judiciária. Benefício postulado na inicial, que se fez acompanhar por


declaração firmada pelo Autor. Inexigibilidade de outras providências. Não-revoga-
ção do art. 4º da Lei nº 1.060/50 pelo disposto no inciso LXXIV do art. 5º da consti-
tuição. Precedentes. Recurso conhecido e provido.
1. Em princípio, a simples declaração firmada pela parte que requer o benefício da
assistência judiciária, dizendo-se “pobre nos termos da lei”, desprovida de recursos
para arcar com as despesas do processo e com o pagamento de honorário de
advogado, é, na medida em que dotada de presunção iuris tantum de veracidade,
suficiente à concessão do benefício legal.
(STJ, REsp. 38.124.-0-RS. Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira) (grifamos)

Contudo, apesar de tal presunção de veracidade, o Autor ainda faz


prova de sua hipossuficiência por meio dos documentos financeiros e CTPS
anexos (DOCS. 05 e 06), sendo certo que as custas de um processo no momen-
to seria um ônus inviável, do qual o Autor não tem condições de arcar.

Sendo assim, é inconteste que o Requerente faze jus ao benefício aqui


perquirido, haja vista que não possui condições financeiras de arcar com custas
processuais, honorários advocatícios e demais despesas processuais, incluindo
eventuais depósitos recursais, sem que seja prejudicado seu sustento e de seus
familiares, de modo que a negativa de concessão da gratuidade feriria seu direito
fundamental de acesso à justiça.

2. DA Em razão da necessidade de formação do litisconsórcio passivo,


COMPETÊNCIA opta o Autor pelo foro de domicílio da Ré SPA PRODUÇÕES (Comarca da
CONTRACT

Capital do Estado de São Paulo – Foro Central), como sendo o competente


para autuar, processar e julgar a presente demanda, na forma do art. 46, § 4º,
do Código de Processo Civil.

Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens
móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
(...)
§ 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demanda-
dos no foro de qualquer deles, à escolha do autor.(grifamos)

Portanto, inexistindo competência absoluta em razão do valor ou da


matéria, é inconteste a competência territorial deste Foro, nos termos da Lei.

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3. DOS FATOS Inicialmente, destaca-se que o Sr. Marcos Neves, também conhecido
popularmente, através de seu pseudônimo artístico, “Wark” ou “Wark da Roci-
CONTRACT

nha”, ora Autor, labora exclusivamente e através de muito esforço e criatividade


como artista, principalmente como pintor e grafiteiro urbano, consoante se extrai
dos DOCS. 07, 08, 09 e 10, obtendo destaque pelas Obras, de sua autoria, sendo
a mais conhecida denominada como o “O ANJO” (vide DOCS. 11, 12, 13 e 14).

O Autor explica a geometria e fase artística de suas obras da


seguinte maneira:

“Na arte renascentista, o clero romano trazia para os locais


religiosos imagens angelicais por grandes artistas como
Leonardo da Vinci, Michelangelo, entre outros. Eu
procurei traduzir em forma do estudo de Pitágoras,
com pontos, retas, triângulos, quadrados e o perfil do
círculo em movimento, traçando o Dez, que significa a
perfeição divina, na face e auréola dos anjos”

Por meio da descrição acima, é possível notar que, desde o princípio,


houve cristalina criação de espírito sobre suas obras, tornando-as únicas não só
pela exteriorização gráfica, mas também pelo significado e personalidade que
elas carregam.

Neste ponto, o Requerente incontestavelmente possui notório reconhe-


cimento em sua área de atuação, pois, além de seu trabalho corriqueiro como
artista urbano, destacou-se, também, participando em uma das edições do
programa “Encontro com Fátima”, da Rede Globo de Televisão (DOC. 15), bem
como sendo destaque da revista Vogue, pela sua parceria com a famosa designer
de joias Francesca Romana Diana (DOC. 16), além das diversas exposições na
qual participou, sendo exaltado, inclusive, através da rede de comunicação inter-
nacional BBC (DOC.10).

As obras do Autor, devidamente comercializadas como Obras de Arte,


emolduram quadros, telas, murais e viraram até mesmo tatuagens na pele de seus
admiradores (vide DOCS. 17 e 18), demonstrando, cabalmente, mais uma vez, o
alcance e reconhecimento obtido pelos personagens criados pelo Requerente.

Feita esta introdução, passa-se à análise do caso concreto. No entanto,


antes de adentrar às minucias do caso, faz-se necessário ter conhecimento do
prólogo envolvendo o ora Autor, a Obra em discussão (DOC. 11) e a cantora
brasileira ANITTA.

Pois bem. Em julho de 2017 o Autor foi contratado, através da agência


BWF, para licenciar seus desenhos (a partir de agora denominado apenas como
“Obra”) à empresa CARIOCA ENTRETENIMENTO E PRODUÇÕES ARTÍSTICAS,
CULTURAIS E ESPORTIVAS LTDA., CNPJ: 11.516.741/0001-46 (vide DOC. 19), com
a finalidade de ilustrar e compor o marketing do evento denominado BAILE DA
FAVORITA (vide DOCS. 20, 21 e 22).

Restou contratado o licenciamento da Obra pelo período de


01 (um) ano, o que ocorreu sem maiores problemas até o vencimento

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do acordado, no mês de Julho de 2018, momento este que não


houve renovação do licenciamento da Obra, porém, a utilização da
mesma estende-se até a presente data para ilustrar a renomada
festa, BAILE DA FAVORITA, estando o Demandante e a até então
licenciada em conflito extrajudicial por este fato.

Neste ponto, cabe destacar que o BAILE DA FAVORITA é um


gigantesco evento que ocorre em diversos Estados do Brasil e até
internacionalmente (DOC. 22), tendo maior força e recorrência no
Estado do Rio de Janeiro, pelo seu conteúdo mais voltado para “Fa-
velas” e comunidades, onde, inclusive, ocorreu a recente festa de 08
(oito) anos do evento em questão (vide DOC. 23).

Frisa-se ainda, que além das comunidades cariocas, o


evento tem fortes ligações com a cantora Anitta, sendo esta por
diversas vezes participante do elenco de apresentações do evento
e tendo participação no lucro deste, possuindo portanto, forte
ligação ideológica e comercial entre o evento e a cantora, inclusive
possuindo diversos vídeos-chamada onde aparece a Obra do Autor
ao fundo e um personagem personalizado, criado especificamente
para a cantora (vide DOCS. 24, 25 e 26).

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Superado este prelúdio, a presente ação está sendo proposta tomando


como base a publicação do videofonograma, a partir de agora denominado
apenas como “clipe”, intitulado como “Tropkillaz, J. Balvin, Anitta - Bola Rebola
ft. MC Zaac”, no canal “Tropkillaz” junto à plataforma YouTube de propriedade
da GOOGLE BRASIL (DOCS. 27 e 28), que sem a devida autorização do Reque-
rente ou os devidos créditos, utilizou como locação espaço em que há uma das
Obras do Requerente, por sinal a de maior reconhecimento junto a seus consumi-
dores e admiradores (“O Anjo” – DOC. 11).

Em 22 de fevereiro de 2019, foi publicado junto à plataforma de vídeos


YouTube o clipe referente à música “Bola Rebola”, que possui como intérpretes
“Tropkillaz”, “J.Balvin” e a já mencionada cantora “Anitta”, e, como era de se
imaginar, alcançou gigantesco sucesso comercial, com mais de 147 MILHÕES de
visualizações, somente na plataforma YouTube (DOC. 27), cabendo destacar
que a Ré UNIVERSAL MUSIC, distribuiu o clipe para diversas outras plataformas
musicais, como poderá ser observado no DOC. 29.

Veja-se o clipe mencionado utilizando o QR Code ou o Link abaixo. O


videofonograma também será disponibilizado em mídia digital (DVD-R), acaute-
lada em cartório.

LINK:
https://www.youtube.com/watch?v=lby6qH2WYXY

Como não bastasse, cabe ser destacado que a “capa” do clipe,


disponibilizada no YouTube, pode ser descrita como os intérpretes à
frente e ao fundo a Obra do Autor (DOCS. 27 e 28), e que tal “capa”
foi reproduzida em diversos meios de comunicação de grande circula-
ção (vide DOC. 30).

Curiosamente, o processo de escolha da “capa” de um vide-


ofonograma é realizado pelo usuário, ou seja, as próprias produto-
ras, ora Rés, escolheram tal fração do clipe para servir de imagem à
“capa” do videofonograma em questão (vide DOCS. 31 e 32).

Em consulta ao Escritório Central de Arrecadação e Distribui-


ção – ECAD, pelo fonograma “Bola Rebola”, este, provocador da
materialização do clipe, constatou-se que as Rés, SPA PRODUÇÕES e
UNIVERSAL MUSIC atuam diretamente como Produtoras Fonográfi-
cas (DOCS. 33, 34 e 35), além disso, atuam também como Produtoras
Videofonográficas, conforme consta na própria descrição, fornecida
por estas, junto à plataforma YouTube (DOCS. 37 e 37).

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Neste seguimento, apenas como observação, pontua-se que o


clipe foi gravado na comunidade do Solar do Unhão na cidade de
Salvador, Estado da Bahia, ambiente este amplamente coberto de
pichações e grafites, como poderá ser observado, inclusive, no pró-
prio clipe (vide DOC. 38) e, apesar de bonito, com baixa procura turís-
tica, como afirmado pela própria intérprete em reportagem ao G1,
portal da Globo (DOC. 39).

Ocorre que, apesar das variadas locações possíveis, dentro da


própria comunidade, para a gravação do clipe, foi escolhido, proposi-
talmente, pela Ré REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS o reduto
conhecido localmente, como “BICA”, para as gravações, local este
destacado pela existência dos grafites do Autor (“O Anjo”) e do Sr.
Marcos Souza (nome da Obra desconhecido) (DOC. 11).

Em paralelo, cabe arguir que a Obra realizada pelo Autor na


comunidade, foi criada a partir de uma ação social realizada no passa-
do e que apesar de devidamente “assinada”, ou seja, com o devido
crédito do Autor em seu mural¹, no clipe, tal assinatura não é destaca-
da muito menos identificável.

Ainda sobre a escolha do espaço da locação para a gravação do


clipe, a Ré REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS, devidamente contrata-
da pela Ré UNIVERSAL MUSIC (DOC. 40), tornou-se responsável pela
obtenção de todas as licenças e autorizações, bem como pelo pagamen-
to destas, para a realização da produção artística envolvendo o clipe.

Desta forma, a REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS, parcial-


mente assim o fez, recolhendo licenças e autorizações para produ-
ção do clipe, inclusive a do Sr. Marcos Souza (DOC. 41), mencionado
anteriormente, cuja obra aparece ao lado da Obra do Autor.

Diga-se de passagem que, apesar de possuir autorização de


diversos grafiteiros (incluindo os que fazem parte da associação do
Solar do Unhão), em NENHUM MOMENTO, foi realizado contato com
o Autor para solicitação de autorização de uso da Obra, muito menos
acordado a divulgação de sua Obra na composição do clipe.

Pois bem. Mesmo sem a devida autorização do Autor para


utilização de sua Obra, o clipe teve como ponto focal de suas grava-
ções o, já referido, reduto da “BICA”, no qual sua Obra aparece em
cerca de aproximadamente ¼ do clipe, ou seja, em 3 min e 15 segun-
dos (195 segundos totais) do clipe, a Obra é trazida à tona em apro-
ximadamente 48 segundos, cerca de 25% da totalidade do clipe,
tendo aparecido por mais de 20 vezes como fundo aos intérpretes.

A propósito, observa-se que a Obra do Autor sempre se man-


teve em destaque nas cenas onde aparece no clipe, isto é, sem con-
correr espacialmente com as demais imagens, figuras e pessoas do
cenário, o que reforça o fato de que a referida Obra foi utilizada pro-
positalmente, com objetivo de agregar valor ao videofonograma.
Vejamos alguns exemplos:
1
Mural: representação de uma imagem, normalmente em paredes ou muros, tal movimento artístico também
é conhecido como “muralismo”.

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Contextualizando a presente situação e ligações, o Requeren-


te outrora já havia correlação com a cantora ANITTA através da cria-
ção de personagens e ícones para o BAILE DA FAVORITA, evento este
de grande conexão com a referida cantora e com as comunidades
cariocas, trazendo à tona, aos seus frequentadores, a proximidade
“favela-asfalto”.

Neste sentido, é razoável concluir que a escolha para a locação


do clipe ocorreu de forma premeditada, tendo em vista ter sido reali-
zada em um contexto de comunidade, contexto esse que é a marca
do Autor, tanto que é reconhecido como “Wark da Rocinha” devida a
sua origem humilde.

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Além disso, a música “bola rebola” originária ao clipe, trata,


dentre outras coisas, do encadeamento de ideias entre “Favela” e
“Carnaval no Rio” (vide DOC. 42, em destaque), sendo certo que se
afigurou conveniente a utilização da Obra do artista carioca.

Vale destacar que, apesar dos diversos grafites e locais da


comunidade, o ponto de foco das câmeras e posicionamento dos
intérpretes foi à frente da Obra do Requerente, totalizando uma expo-
sição indevida de cerca de 48 segundos da Obra.

Aqui, frisa-se novamente a ligação do Autor com o evento do


“BAILE DA FAVORITA” – que tem como representante a cantora Anitta
–, tendo em vista a Obra “O Anjo” e demais personagens terem sido
característicos em sua divulgação, inclusive sendo utilizado até hoje
como parte integrante do evento, mesmo que de maneira indevida.

Ora, resta cristalino a escolha da locação, da posição dos


intérpretes, bem como como o uso da Obra como fundo em grande
parte do clipe, pelo simples fato de somar à Obra uma identidade
visual conhecida do público POP da cantora Anitta, tendo uma cor-
relação ideológica forte, não sendo apenas “um grafite em um
muro”, ocasionando, inclusive, proveito ideológico à produção.

Com efeito, mesmo com a existência da correlação entre Autor,


a Obra e a Intérprete Anitta, bem como a recorrente aparição da Obra
no clipe e a ausência de autorização para tal, as produtoras, aqui Rés,
SPA PRODUÇÕES e UNIVERSAL MUSIC, deram os devidos créditos, na
própria descrição do clipe na plataforma YouTube, a diversos perso-
nagens envolvidos na composição do videofonograma, menos ao
Autor, provavelmente porque sabiam que era a obra de maior renome,
e um licenciamento implicaria em um dispêndio monetário relevante.

Vislumbrando tal flagrante à violação de seus Direitos de


Autor, e recebendo constantes mensagens de seus conhecidos próxi-
mos por “fazer parte do clipe da Anitta” (DOC. 43), o que demonstra,
mais uma vez, seu reconhecimento perante ao seu público alvo, o ora
Autor da presente ação imediatamente através de seus procuradores,
tentou de maneira amigável a resolução do presente conflito através
do envio de Notificações Extrajudiciais (vide DOC. 44).

Inclusive, foi através deste contato extrajudicial, que por e-mail


e whatsapp (DOC. 45) a Sra. Ana Claudia Reis, sócia-proprietária da
REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS LTDA., enviou o contrato firma-
do com a UNIVERSAL MUSIC, bem como o contrato de licença de uso
da Obra do Sr. Marcos Souza, para demonstrar que estava recolhendo
as assinaturas dos grafiteiros à época (DOC. 41).

Isso demonstra a importância das autorizações e a relevância


dada aos grafites que apareceriam no Clipe, ou seja, as obras expostas
faziam parte do cenário e contexto escolhido para o clipe, que envol-
via um ambiente de “comunidade” ou “favela” (termo trazido pela
própria música do clipe), ao qual está diretamente ligada à cultura do
Grafite. Tal contexto também está diretamente conectado com o

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“Baile da Favorita” já citado, que contava com obras e personagens


do Autor, principalmente “O anjo”.

As Rés obtiveram autorização de todos os autores dos grafi-


tes lá expostos, menos do Autor da presente ação, sendo certo que
a obra em questão é a utilizada com mais destaque no Clipe.

Lamentavelmente, após várias tratativas, não houve acordo


entre os litigantes, portanto, o Requerente extremamente consterna-
do por ter seus direitos cristalinamente violados, realizou, através de
seus procuradores, denúncia à plataforma YouTube, alegando a
flagrante violação a seus Direitos de Autor (DOC. 46).

A GOOGLE BRASIL, proprietária da plataforma, chegou a


estabelecer contato requerendo maiores detalhes acerca da infração,
bem como documentos que comprovassem a violação arguida, o que
foi prontamente respondido na data de 21/07/2019, contudo, até o
presente momento, não há qualquer tipo de movimentação ou
resposta por parte da mencionada Ré (DOC. 46).

Portanto, sem outra opção, restou ao Requerente o Judiciário


como única via de tentar se recuperar de toda a injustiça e danos
experimentados.

Por todos os fatos expostos até aqui, motiva-se a presente


ação cominatória c/c pedido indenizatório, por danos morais e patri-
moniais, por violação de direitos de autor frente às Rés, com base nos
fundamentos de direito a seguir explanados.

Antes de tratar dos fundamentos jurídicos, demonstra-se em


análise gráfica toda a relação entre os personagens e elementos
envolvidos e os fatos aqui descritos. Vejamos:

Wark Anitta Universal


Music
09 06
01 04
05 08 Reis Leite
Obra Clipe Produções

02 03 12 11
07 10

Baile da Google Brasil SPA Locação


Favorita (YouTube) Produções

(Legendas da relação entre os personagens na próxima página)

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01 – WARK, Autor da Obra;

02 – “O ANJO” e suas demais variações/personagens demonstradas nos


DOCs utilizados no Baile da Favorita;

03 – Correlação do Baile da Favorita com a cantora ANITTA;

04 – ANITTA como intérprete do Clipe;

05 – ¼ do Clipe utilizou como fundo a OBRA por ter ligação ideológica e


comercial com a cantora ANITTA;

06 – UNIVERSAL MUSIC contrata a REIS LEITE PRODUÇÕES para tratar da


Locação do espaço para as gravações do Clipe, bem como recolher todas as
autorizações devidas;

07 – SPA PRODUÇÕES atua como uma das produtoras do Clipe;

08 – REIS LEITE PRODUÇÕES atua como uma das produtoras, mesmo que
subsidiária, do Clipe;

09 – UNIVERSAL MUSIC atua como uma das produtoras do Clipe;

10 – Locação premeditada, utilização do ANJO como fundo;

11 – REIS LEITE PRODUÇÕES contratada pela UNIVERSAL MUSIC realizou


todos os trâmites de contratação para locação e autorizações pertinentes à
Direito de Autor;

12 – GOOGLE BRASIL, titular do YouTube, onde o clipe fez maior sucesso,


apesar de notificada sobre a violação do Direito de Autor do Requerente,
não retirou o clipe do “ar”, provavelmente pelo seu grande alcance e renta-
bilidade (147 milhões de views+).

4. DO DIREITO
CONTRACT
4.1 DA PRETENSÃO TEMPESTIVA:

O clipe musical fraudulento, objeto desta demanda, foi ao ar em 22


de fevereiro de 2019 na rede mundial de computadores, além de estar acessí-
vel de forma permanente na internet em diversas plataformas, como se
depreende da análise das provas documentais acostadas, restando garantido
o direito do Autor de pleitear a reparação civil pelas perdas e danos sofridos,
em conformidade com o art. 206, § 3º, V, do Código Civil.

4.2 DA LEGITIMIDADE PASSIVA DAS REQUERIDAS:

Conforme se depreende dos créditos do videofonograma objeto da lide


(DOCS. 36 e 37), as Rés REIS LEITE PRODUÇÕES E EVENTOS LTDA., SPA PRO-
DUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA., e UNIVERSAL MUSIC INTERNATIONAL LTDA.
são as produtoras oficiais do clipe musical em testilha, sendo as responsáveis
diretas por utilizarem de forma indevida e não autorizada obra artística do Autor.

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Ademais, é inconteste que as Requeridas em questão auferiram lucros mediante


o uso indevido da obra.

Portanto, é evidente que todas elas possuem legitimidade para figurar


no polo passivo da presente demanda, uma vez que o dano aqui descrito decorre
diretamente de suas condutas.

A Ré GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA., por sua vez, usufruiu e perma-


nece usufruindo, até os dias de hoje, do videofonograma produzido pelas demais
Requeridas, obtendo vantagens econômicas por meio de um material fraudulen-
to, isto é, que possui aparato ilícito. Em outras palavras, a GOOGLE BRASIL,
através de sua plataforma de vídeos, YouTube, mantém no ar o material ora ques-
tionado, obtendo, com isso, alguma vantagem material e/ou imaterial, sendo
também legítima a responder pelos danos causados ao Autor.

A propósito, o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) é claro ao precei-


tuar que o provedor de aplicações de internet poderá ser responsabilizado
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros, se, após
ordem judicial específica, não tomar as providências para tornar indisponível o
conteúdo apontado como infringente. Vejamos:

Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a


censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado
por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providên-
cias para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do
prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infrin-
gente, ressalvadas as disposições legais em contrário. (grifamos)

Em que pese até o momento não haver ordem judicial direcionada


à GOOGLE BRASIL para retirar o material litigioso do ar, verifica-se que
este é um dos pedidos aviados nesta ação, razão pela qual resta inafastável
sua legitimidade.

Outrossim, vale pontuar que a Ré em comento foi notificada extra-


judicialmente para promover a diligência perquirida, quedando-se inerte
para resolver o problema.

Com efeito, não se pode negar a responsabilidade de TODAS AS RÉS na


reparação dos danos causados ao Requerente, nos termos da Lei 9.610/1998 (Lei
dos Direitos Autorais – LDA), que em seu art. 104, estabelece a responsabilidade
solidária daquele que adquire, distribui ou utiliza obra reproduzida com fraude e
com a finalidade de obter ganho, vantagem, proveito ou lucro. Vejamos:

Art. 104. Quem vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em
depósito ou utilizar obra ou fonograma reproduzidos com fraude, com a
finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indire-
to, para si ou para outrem, será solidariamente responsável com o contrafa-
tor, nos termos dos artigos precedentes, respondendo como contrafatores o
importador e o distribuidor em caso de reprodução no exterior. (grifamos)

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Ademais, dada a conexidade entre as pretensões autorais e a comu-


nhão de obrigações relativamente à lide, é necessário que as partes integran-
tes do polo passivo respondam solidariamente pelos danos ao Autor da obra,
sem espaço para discussão acerca da culpa pelo evento danoso, na forma
dos arts. 264 e 275 do Código Civil, além dos arts. 46 e seguintes do CPC.

4.3 DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS E DA EXCLUSIVIDADE


DO AUTOR:

Gradativamente, os direitos autorais estão se tornando “Direitos funda-


mentais da pessoa”, na medida em que estão sendo constitucionalizados em
diversos países. Esses direitos envolvem duas ordens de interesses, quais sejam,
os de caráter pessoal e os de caráter patrimonial.

O caráter pessoal do Direito Autoral tem relação com o liame moral


do autor com sua obra. Nesse sentido, sob o caráter pessoal, a obra represen-
ta verdadeira expressão do espírito criador do indivíduo, representa uma
faceta de sua personalidade.

Segundo Bittar², o caráter patrimonial desses direitos, entretanto, corres-


ponde aos proventos econômicos percebidos a partir da utilização da obra, vale
dizer, é a retribuição econômica que o autor terá pela sua produção intelectual.

Com efeito, a proteção do Direito Autoral no Brasil – e suas duas ordens


de interesses – é proporcionada pela Constituição Federal em seu artigo 5º,
XXVII, bem como pelo Código Civil Brasileiro e pela Lei 9.610/1998.

Em solo brasileiro, o Direito Autoral também é regido por diversos acor-


dos e convenções em que participam vários Estados signatários.

O Brasil é membro da Convenção de Berna (revista em Paris em


24/07/71 – Decreto 75.699/1975), da Convenção Universal sobre o Direito de
Autor (Decreto 76.905/1975) e da Convenção Interamericana sobre os Direitos
de Autor em Obras Literárias, Científicas e Artísticas, também conhecida como
Convenção de Washington (Decreto 26.675/1949).

A exemplo de texto normativo, nossa Carta Magna, em seu supracitado


dispositivo, preceitua claramente sobre a proteção conferida ao Direito Autoral
e a exclusividade na reprodução, publicação e utilização de obras intelectuais:

Art. 5º, XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,


publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo
tempo que a lei fixar; (grifamos)

A Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/1998), seguindo a mesma linha,


também é enfática ao estabelecer a proteção e a exclusividade dos Direitos
Autorais, a rigor do art. 28. Vejamos:

Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obra
literária, artística ou científica. (grifamos)

2
BITTAR, Carlos Alberto. Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo: Forense Universitária, 2000, p. 8.

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O texto do artigo 9º da Convenção de Berna (Decreto nº


75.699/1975), de igual forma, explicita a temática:

ARTIGO 9

1) Os autores de obras literárias e artísticas protegidas pela presente


Convenção gozam do direito exclusivo de autorizar a reprodução destas
obras, de qualquer modo ou sob qualquer forma que seja.

2) Às legislações dos países da União reserva-se a faculdade de permitir a


reprodução das referidas obras em certos casos especiais, contanto que tal
reprodução não afete a exploração normal da obra nem cause prejuízo
injustificado aos interesses legítimos do autor.

3) Qualquer gravação sonora ou visual é considerada uma reprodução no


sentido da presente Convenção. (grifos nossos)

Logo de início, portanto, é possível concluir que se a utilização de


conteúdo protegido por Direito Autoral depende de prévia e expressa auto-
rização do autor ou titular, a utilização não autorizada é considerada viola-
ção ao Direito Autoral e pode ser objeto de sanções, nos moldes da Lei.

Não obstante todo o rigor técnico da legislação sobre a matéria, os


Tribunais brasileiros já têm se manifestado no sentido de assegurar a explo-
ração exclusiva das obras ao seu criador ou titular – mesmo que expostas
em locais públicos –, como podemos notar no trecho do voto de lavra do
Desembargador Flavio Pinheiro:

“(...) E pouco importa para a proteção dos direitos autorais, se a obra foi dada a
lume em logradouro público. A Constituição da República, art. 5º, XXVII, preconiza
a proteção ao trabalho artístico, não faz a cerebrina distinção pretendida pela ré.
Como se vê, é dada com exclusividade aos autores o direito de exploração da
obra. E nem se diga que estando a obra exposta em local público, devolve ao
domínio público a sua titularidade, retirando do artista seu direito exclusividade
na captação de haveres com a sua utilização. Seria o mesmo que, guardadas as
devidas proporções, negar a Michelangelo a autoria dos afrescos da capela
Sistina, somente porque feitos em local de visitação pública intensa. Nítida na
espécie a intenção da embargante de se utilizar do desenho como um "plus" de
suas mercadorias, com insofismável interesse mercantil.” (DESEMBARGADOR
FLAVIO PINHEIRO, NO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO SOB
O Nº 0067457- 94.1996.8.26.0000 - TJSP) (grifamos)

À toda evidência, é inegável que o Direito assegura a pretensão


aviada nesta ação. O ordenamento jurídico brasileiro, inclusive, protege os
direitos de autor tanto no âmbito constitucional quanto na seara infracons-
titucional, dimensionando a importância da propriedade intelectual em
suas mais diversas facetas.

Para os fins predestinados à esta demanda, portanto, faz-se apelo


para que as proteções conferidas ao Direito Autoral sejam consideradas e
aplicadas em seu grau máximo de extensão.

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4.4 DA OBRA OBJETO DA LIDE:

Ultrapassada as ponderações acerca da proteção e exclusividade das


obras intelectuais, cabe verificar se a Obra do Requerente é legalmente protegi-
da e dotada de exclusividade.

Pois bem. A Obra em comento trata-se de criação artística materializa-


da em arte de rua, ou, mais especificamente, em “grafite”.

A arte de rua, enquanto objeto do direito, enseja sua proteção assim


como qualquer outra obra intelectual. Ora, o grafite é uma das artes de rua que
tem mais se desenvolvido e espalhado no mundo como uma forma de expres-
são característica do cenário urbano; muitas vezes carrega em si a efemeridade
e informalidade que lembram o cotidiano das metrópoles. É, portanto, um tipo
de arte que oferece uma visão plural da realidade. Nele se manifesta uma das
maiores aberturas da atualidade: a liberdade de expressão.

Nesse liame, temos que a Lei de Direitos Autorais é a norma que mais
vem sendo utilizada nas discussões jurídicas sobre o tema no Brasil, por uma
razão simples: os processos judiciais envolvendo o grafite geralmente apontam
a discussão dos direitos autorais em reclamações dos próprios autores das
obras, que reivindicam direitos de uso da imagem destas. É a partir dela que o
julgador obtém os parâmetros legais para decidir em que medida houve ou não
alguma infração aos direitos do autor.

Com efeito, o art. 7º, VIII, da mencionada Lei (LDA) prevê a proteção ao
grafite, como sendo “criação do espírito”. Vejamos:

Art. 7º São obras intelectuais protegidas as criações do espírito, expressas


por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível,
conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
(...)
VIII - as obras de desenho, pintura, gravura, escultura, litografia e arte
cinética; (grifamos)

Em verdade, a exegese do art. 7° não só estabelece a proteção do


grafite, mas de qualquer obra intelectual criada, expressa e fixada em qual-
quer meio, seja físico ou virtual, inclusive prevendo de maneira genérica
outras formas de artes que venham a ser criadas; não limitando, pois, de
forma taxativa, quais formas artísticas deveriam ser protegidas.

A jurisprudência também é enfática ao destacar o grafite como


obra intelectual legalmente protegida, conforme se colhe do trecho do
voto emanado pelo Desembargador Salles Rossi:

“A obra artística, representada pelo “grafite” é protegida pela lei de direitos


autorais, de modo que contém uma criação artística com inspiração resultante
do talento do criador, possuindo uma imagem diferenciada.” (DESEMBARGA-
DOR, SALLES ROSSI NO JULGAMENTO DA APELAÇÃO Nº 0215338-
-75.2010.8.26.0100 - TJSP) (grifo nosso)

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Dessa forma, resta indubitável que a Obra em testilha pode e deve ser
analisada sob a proteção que a Lei confere, porquanto constitui criação
intelectual prevista legalmente. Assim, todos os consectários legais oriundos
da violação da Obra devem se prestar para reparar o dano experimentado pelo
Requerente, conforme os fundamentos que serão melhor expostos a seguir.

4.5 DO PERTENCIMENTO DOS DIREITOS MORAIS E PATRIMONIAIS E


DA NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO AUTOR PARA
O USO DA OBRA:

De acordo com a LDA, os direitos morais e patrimoniais pertencem


somente ao autor da criação, conforme dicção do art. 22, in verbis:

Art. 22. Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra


que criou. (grifamos)

No caso do direito patrimonial, o autor e, portanto o titular do


Direito Autoral, terá direito a uma remuneração pelo uso das suas obras,
mediante licenciamento ou transferência. Além disso, o autor tem o direito
de exigir indenização, caso a sua obra seja utilizada de modo indevido, isto
é, sem autorização para tanto, conforme ocorreu no caso em exame.

Já o direito moral, permite ao autor preservar o vínculo pessoal com


a sua obra. Trata-se de um direito intransferível e inalienável. Portanto,
mesmo em caso de transferência definitiva da obra, o cessionário da mesma,
denominar-se-á titular, permanecendo o autor originário como autor moral
da criação, exigindo a lei que seu nome permaneça vinculado à obra.

Pela letra fria da Lei, “os direitos morais do autor são inalienáveis e
irrenunciáveis” (art. 27 da LDA), porquanto a obra, como criação do espíri-
to, guarda em si aspectos indissociáveis da personalidade de seu criador.
Sendo assim, a utilização da obra sem atribuição do crédito autoral ou
autorização do autor representa verdadeira violação a um direito da
personalidade, plenamente indenizável.

A propósito, colhe-se da jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça, entendimento consentâneo. Senão vejamos:

“[...] A criação intelectual é expressão artística do indivíduo; a obra, como


criação do espírito, guarda em si aspectos indissociáveis da personalidade
de seu criador. Nessa extensão, a defesa e a proteção da autoria e da integri-
dade da obra ressaem como direitos da personalidade do autor, irrenunciá-
veis e inalienáveis. Por conseguinte, a mera utilização da obra, sem a devida
atribuição do crédito autoral representa, por si, violação de um direito da
personalidade do autor e, como tal, indenizável. [...]” (STJ – REsp 1562617/SP,
Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
22/11/2016, DJe 30/11/2016) (grifamos)

Daí denota-se a importância do Direito Autoral que, para ser


usufruído por terceiros, depende de autorização expressa do autor,

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pois dele não se desassocia! Ora, se ao contrário fosse, não faria senti-
do resguardar legalmente a propriedade intelectual, sendo certo que
o uso indistinto e indiscriminado de uma obra por qualquer pessoa
tornaria morta qualquer pretensão legal de garantir a propriedade
material e imaterial sobre a obra.

Não obstante, a própria LDA especificou que a utilização da obra


por terceiros depende de autorização escrita do criador, presumindo-se
onerosa, consoante se extrai dos dispositivos abaixo transcritos:

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da


obra, por quaisquer modalidades, tais como:

I - a reprodução parcial ou integral;

II - a edição;

III - a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações;

IV - a tradução para qualquer idioma;

V - a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;

VI - a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor


com terceiros para uso ou exploração da obra;

VII - a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra


ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário
realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e
lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos
em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que
importe em pagamento pelo usuário;

VIII - a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científi-


ca, mediante:

a) representação, recitação ou declamação;


b) execução musical;
c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos;
d) radiodifusão sonora ou televisiva;
e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de frequência coletiva;
f) sonorização ambiental;
g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado;
h) emprego de satélites artificiais;
i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer
tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados;
j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;

IX - a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a


microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;

X - quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a


ser inventadas. (destaques nossos)

Art. 50. A cessão total ou parcial dos direitos de autor, que se fará sempre
por escrito, presume-se onerosa; (grifamos)

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No caso sub judice, resta claro que as Requeridas, embora tenham


se utilizado da Obra do Requerente para uso e exercício das atividades em
destaque no rol normativo acima, verifica-se que nenhuma delas possui
autorização para reproduzir a Obra no videofonograma objeto da lide. De
igual forma, não possuem o devido licenciamento ou titularidade da Obra
por transferência definitiva, de modo que seu uso caracteriza-se como inde-
vido, ilegal, mormente porque destinado à atividade lucrativa de terceiros.

Cabe aqui lembrar que o art. 18, também da LDA, prevê que a
proteção aos Direitos Autorais não depende de registro da obra no órgão
respectivo, isto é, assim que criada/elaborada, a obra já está protegida pela
LDA. Por assim ser, o grafite do Requerente, “O Anjo”, já conta com prote-
ção legal desde sua criação.

Deste modo, não poderiam as Rés fazer uso da obra intelectual


protegida para fins expositores com finalidade lucrativa, veiculada em
videofonograma através da internet (YouTube), como também em outros
canais de divulgação midiática, sem que o artista autorizasse e sem qual-
quer remuneração, afrontando a Lei 9.610/1998 que somente admite
cessão/licenciamento através de contrato por escrito e com presunção de
onerosidade.

Uma vez constatado o uso indevido, nasce ao Autor o direito de ser


reparado pelo dano experimentado.

4.6 RESP 951.521/MA: PRECEDENTE DO STJ – DO AFASTAMENTO DO


ART. 48 DA LDA (OBRA EM LOGRADOURO PÚBLICO) POR REPRO-
DUÇÃO LUCRATIVA:

É cediço que a mera reprodução de uma obra exposta em logradouro


público não configura ilicitude, a teor do que preceitua o art. 48 da LDA. Vejamos:

Art. 48. As obras situadas permanentemente em logradouros públicos


podem ser representadas livremente, por meio de pinturas, desenhos,
fotografias e procedimentos audiovisuais. (grifamos)

Assim sendo, o permissivo trazido pelo dispositivo acima con-


siste na principal tese de defesa comumente utilizada pelas empresas
que violam Direitos Autorais. Portanto, adiantando-se à possível tese
defensiva das Rés, passa-se à análise do precedente estabelecido
pelo STJ acerca da matéria ventilada nesta ação.

Antes de adentrar à análise propriamente dita, vale destacar,


inicialmente, a diferença entre PRECEDENTE e JURISPRUDÊNCIA,
bem como a força daquele em comparação a esta.

Pois bem. Há, antes de tudo, uma distinção de caráter – por


assim dizer – quantitativo. Quando se fala do precedente, faz-se
geralmente referência a uma decisão relativa a um caso particular,
enquanto quando se fala da jurisprudência faz-se, normalmente, refe-

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rência a uma pluralidade frequentemente muito ampla de decisões


relativas a vários e diversos casos concretos.

Como consequência, como muitas vezes acontece, a quanti-


dade condiciona a qualidade, o que leva a individuar uma diferença
qualitativa entre o precedente e a jurisprudência.

Nas palavras de Michele Taruffo, o precedente fornece uma


regra universalizável, que pode ser aplicada como um critério para a
decisão no próximo caso concreto em função da identidade ou –
como ocorre normalmente – da analogia entre os fatos do primeiro
caso e os fatos do segundo caso em diante³.

Para o precedente, o que realmente importa é a ratio decidendi,


de modo que a “razão para a decisão” se torna eficaz e pode determi-
nar a decisão dos casos subsequentes. Deve-se notar que, quando se
verifica tal condição, um só precedente é suficiente para justificar a
decisão de vários casos sucessivos.

O uso de jurisprudência, por seu turno, tem características


muito diferentes. Em primeiro lugar, falta a análise comparativa dos
fatos, pelo menos na imensa maioria dos casos. Aqui, o problema
depende do que realmente “constitui” a jurisprudência: trata-se, como
se sabe, sobretudo dos enunciados sumulados (massime) elaborados
pelo gabinete específico que existe nos Tribunais.

A jurisprudência é formada por um conjunto de sentenças,


ou melhor, por um conjunto de subconjuntos ou grupos de senten-
ças, cada um dos quais pode incluir uma elevada quantidade de
decisões. Nesta linha, é impossível não mencionar um fenômeno
gravemente patológico, que representa um dos principais fatores de
crise do nosso sistema jurisdicional: trata-se do número anormal de
acórdãos que os Tribunais de Justiça pronunciam a cada ano4.

PRECEDENTE JURISPRUDÊNCIA

Diante da diferença pontuada, há duas considerações que


evidenciam a força do precedente em comparação com a jurisprudência.

A primeira consideração diz respeito à determinação do que é


considerado como precedente em sentido próprio, isto é, aquela
parte da decisão à qual se faz referência por dela derivar a regra de
julgamento para os casos sucessivos.

Neste contexto, a doutrina do precedente faz a distinção


entre ratio decidendi, ou seja, a regra de direito que foi posta como
direto fundamento da decisão sobre os fatos específicos do caso, e

3
TARUFFO, Michele. Precedente e jurisprudência. Trad. Chiara de Teffé. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 3, n.
2, jul.-dez./2014. /// 4 Ibidem.

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obter dictum, isto é, todas aquelas afirmações e argumentações que


estão contidas na motivação da sentença, mas que, mesmo podendo
ser úteis para a compreensão da decisão e dos seus motivos, não cons-
tituem, todavia, parte integrante do fundamento jurídico da decisão.

Em termos práticos, a razão jurídica efetiva da decisão, ou


seja, a ratio, somente pode ter eficácia de precedente, enquanto que
os obiter dicta não têm nenhuma eficácia e não podem ser invocados
como precedente nas decisões de casos subsequentes, vez que não
condicionaram à decisão do caso anterior.

Já a segunda consideração diz respeito à eficácia do prece-


dente. Ora, parece apropriado falar de força do precedente para indi-
car o grau ou a intensidade com que ele é capaz de influenciar as
decisões sucessivas.

Dessa forma, dada a sua natureza, o precedente é naturalmen-


te dotado de maior força e aplicabilidade jurídica, justamente porque
traz em seu conteúdo a ratio decidendi (ou razão da decisão), que
pode ser estendido a demais casos cujos fatos se assemelham.

Caso Sucessivo 1

PRECEDENTE Ratio Decidendi

Caso Sucessivo 2

Nesse viés, para se extrair a ratio decidendi de um julgado – e por


conseguinte sua caracterização de precedente – deve-se pensá-la como
faticidade, ou seja, como um fato jurídico lato sensu, mesmo que enviesado
em uma norma legal propriamente dita, pois não há como descolar o texto
da ratio da situação concreta que lhe deu origem5. Assim sendo, é eviden-
te que a norma jurídica não é a mesma coisa que o texto do precedente,
que está sempre atrelado a um fato.

Subsumindo toda essa lógica ao caso concreto, é certo que temos


o seguinte FATO: as Requeridas utilizaram de obra artística do Requeren-
te, localizada em espaço público, para agregar valor a um clipe musical
cuja confecção e divulgação têm um único objetivo: obtenção de lucro!

Portanto, resta-nos verificar se há no Direito Pátrio precedente


jurisdicional (e não simplesmente jurisprudência) que leva em considera-
ção os fatos presentes no caso em análise, para que a ratio decidendi seja
aplicada de igual forma, lembrando que o elemento fatídico é fundamental
para que a “razão de decidir” determine o caso presente.

Deste modo, esmiuçando os fatos, há de se primar por precedente


que versa sobre os seguintes elementos:
5
RAMIRES, Maurício. Crítica à aplicação dos precedentes no direito brasileiro. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2010.

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1 Uso de obra artística sem autorização do autor

2 Obra localizada em espaço público (discussão sobre o art. 48 da LDA)

3 Reprodução em material de ampla divulgação

4 Finalidade lucrativa (direta ou indireta) da reprodução da obra

Com efeito, verifica-se que o STJ já enfrentou matéria semelhante,


isto é, que perpassou por todos os fatos acima detalhados, firmando VERDA-
DEIRO PRECEDENTE que se enquadra perfeitamente no caso em apreço.

Trata-se do REsp 951.521/MA, que deve servir de paradigma e


fundamento para a apreciação meritória da situação fática aqui descrita,
a rigor do art. 489, §1º, inciso VI, do Código de Processo Civil6.

REsp 951.521/MA

No aludido precedente, a Turma Julgadora, por maioria, manteve o


entendimento do tribunal a quo de que a reprodução desautorizada de
imagens das esculturas do artista plástico recorrido em cartões telefônicos
da recorrente impõe o dever de indenizar o autor da obra pelos danos
materiais suportados.

No REsp, a recorrente sustentou que o art. 48 da Lei 9.610/1998


(Lei dos Direitos Autorais - LDA) permite que as obras situadas permanen-
temente em logradouros públicos sejam representadas livremente. Contu-
do, para o Min. Relator, quando a utilização do trabalho artístico possui
intuito comercial (direta ou indiretamente) e NÃO há autorização do
artista para tanto – como na hipótese dos autos, em que o nome do autor
sequer foi citado nos créditos –, deve ser observado o disposto nos arts. 77
e 78 da LDA, ficando caracterizada a ofensa ao seu direito autoral.

O Ministro ressaltou, com base na doutrina, que o fato de a obra


estar localizada em logradouro público não altera a titularidade dos direi-
tos patrimoniais do autor sobre ela, diferentemente da obra disposta em
domínio público, em que essa titularidade inexiste ou cessou e, por isso
mesmo, sua utilização é livre.

Vejamos a ementa do precedente em comento:

6
Art. 489. São elementos essenciais da sentença:
(...)
§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que:
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar
a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.

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CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535.


INEXISTÊNCIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS. DIREITOS AUTO-
RAIS. OBRA EM LOGRADOURO PÚBLICO. REPRODUÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO.
CABIMENTO.
I. Constatada a inexistência de contradição ou omissão no aresto estadual, não se
vislumbra violação ao art. 535, I, do CPC, nem a suposta nulidade alegada pela
parte, que apenas teve seus interesses contrariados.

II. A obra de arte colocada em logradouro da cidade, que integra o patrimônio


público, gera direitos morais e materiais para o seu autor quando utilizado
indevidamente foto sua para ilustrar produto comercializado por terceiro, que
sequer possui vinculação com área turística ou cultural.

III. Juros moratórios devidos em 6% (seis por cento) ao ano, a partir da citação,
observando-se o limite prescrito nos arts. 1.062 e 1.063 do Código Civil/1916 até a
entrada em vigor do novo Código, quando, então, submeter-se-á à regra contida
no art. 406 deste último diploma, a qual, de acordo com precedente da Corte
Especial, corresponde à Taxa Selic, ressalvando-se a não-incidência de correção
monetária, pois é fator que já compõe a referida taxa.

IV. Havendo pedido de indenização por danos morais e por danos materiais, o
acolhimento de um deles, com a rejeição do outro, configura sucumbência recípro-
ca. Precedentes.

V. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, parcialmente provido.

(REsp 951.521/MA, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA,


julgado em 22/03/2011, DJe 11/05/2011)

Como se nota, todos os elementos fáticos do precedente em


comento se assemelham ao caso que envolve as partes desta demanda, de
modo que sua ratio decidendi deve ser aplicada no julgamento da presente.

Ratio Decidendi do REsp 951.521/MA

A mera reprodução de uma obra exposta em logradouro público não


configura ilicitude. No entanto, servindo a obra à ilustração de produto
comercializado por terceiro para obtenção de lucro e sem a devida autori-
zação, passa-se a ofender o direito autoral do artista, agravado, se não ter
havido sequer alusão ao seu nome.

Com efeito, a fundamentação jurídica do precedente firmado


pelo STJ leva em consideração o fato de que a liberdade conferida pelo
retromencionado art. 48 da LDA há que ser conjugada com os direitos
assegurados nos arts. 77 e 78 do mesmo diploma, que versam sobre a
utilização da obra – portanto sobre o seu proveito de ordem econômi-
ca – como geradora de renda para terceiros, alheios à sua confecção.

Ora, se o intuito é comercial direta ou indiretamente, a hipó-


tese não é a do art. 48, mas a dos arts. 77 e 78. Destarte, no momen-
to em que a obra serve para agregar valor a produto comercializado

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por terceiro para obtenção de lucro e sem a devida autorização,


passa-se a ofender o direito autoral do artista, agravado quando não
há sequer atribuição de crédito.

Ad argumentandum tantum, relativamente ao caso concreto,


podemos também sustentar o afastamento do art. 48 sob outro
prisma. Isso porque, embora a Obra objeto da lide esteja exposta em
logradouro público (comunidade do Solar do Unhão na cidade de
Salvador/BA), não há de se arguir a brecha sugerida pelo art. 48 da
Lei de Direitos Autorais, visto que existem limitações para o uso de
obras artísticas, consoante prevê o art. 46 do mesmo texto normativo.

É que a exegese do artigo 46, nos aponta, de forma clara e


transparente, que o intuito do legislador foi impedir que pessoas físicas
e jurídicas obtenham lucro com obras artísticas, sem que os criadores
destas obras recebam pelo seu trabalho, bem como proibir a repro-
dução/edição de suas próprias obras de forma indiscriminada.

Tal conclusão decorre do fato de que a norma menciona por


diversas vezes que o uso só é livre quando NÃO estiver presente a fina-
lidade lucrativa, conforme se verifica dos dispositivos em destaque:

Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:

I - a reprodução:
(...)
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de
deficientes visuais, sempre que a reprodução, sem fins comerciais, seja
feita mediante o sistema Braille ou outro procedimento em qualquer supor-
te para esses destinatários;

II - a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso priva-


do do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro;
(...)

VI - a representação teatral e a execução musical, quando realizadas no reces-


so familiar ou, para fins exclusivamente didáticos, nos estabelecimentos de
ensino, não havendo em qualquer caso intuito de lucro; (grifos nossos)

Portanto, a utilização de obras artísticas, estejam elas expostas


em logradouro público ou não, a contrario sensu, não é livre quando
presente o intuito lucrativo da reprodução, exatamente o que ocorre
no caso sub judice.

Ademais, para além de ser proibida a reprodução para fins


comerciais de obra em logradouro público quando ausente a autoriza-
ção do autor, não pode haver confusão entre Espaço Público e Domí-
nio Público, visto que em nada se assemelham.

Conforme consignado no procedente acima comentado,


Espaço Público se refere ao logradouro em que a obra está exposta, ao
passo que Domínio Público, este sim, trata do direito da sociedade de

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livremente usufruí-la, sem qualquer custo ou necessidade de autoriza-


ção. Logo, não é por estar em logradouro público que uma obra artísti-
ca é, necessariamente, de domínio público.

Conclusivamente, à luz do Direito Pátrio, não cabe no presente


caso a argumentação de que o art. 48 da LDA autoriza o feito realiza-
do pelas Requeridas, porquanto é notória a finalidade lucrativa para
qual o clipe ilícito é destinado.

4.7 DA REPARAÇÃO PELOS DANOS MORAIS DO AUTOR:

De acordo com o disposto nos artigos 11 e 22, ambos da LDA, o Autor é


o titular dos direitos patrimoniais e morais sobre a pintura artística que serviu de
cenário ao clipe já demonstrado, pelo que o uso desta precisa ser por ele prévia
e expressamente autorizado, presumindo-se sempre, oneroso, de acordo com
os artigos 28, 29 e 50, todos da LDA, já transcritos alhures.

A Lei de Direitos Autorais estabelece, ainda, em seu artigo 31, que as


diversas modalidades de utilização das obras literárias, artísticas ou científicas
ou de fonogramas são independentes entre si, e a autorização concedida não se
estende a quaisquer das demais.

Na sequência, o artigo 33 aponta que ninguém pode reproduzir


obra que não pertença ao domínio público sem a permissão do Autor ou do
titular do direito.

Uma vez verificado o uso indevido da obra, deve o Autor ser reparado
pelos danos extrapatrimoniais nos moldes do artigo 24 da Lei de Direitos
Autorais c/c os artigos 927 e 186 do Código Civil.

À toda evidência, a indenização a ser arbitrada por este MM. Juízo há de


ser suficiente para confortar a vítima, cabendo ao Magistrado a responsabilidade
de PUNIR e COMPENSAR, proporcionalmente ao poderio econômico das
Requeridas, levando-se em conta o valor milionário das marcas das Rés e a noto-
riedade do Autor no cenário da arte urbana nacional.

As indenizações, portanto, devem ser encaradas como uma medida


preventivo-pedagógica para que o infrator não volte mais a causar danos e
abusos deste tipo. Nas palavras do Prof. Sergio Cavalieri Filho:

“A reparação constitui em principio, um a sanção, e


quando esta é de somenos, incorpora aquilo que se
denomina de risco de atividade, gerando a tão desen-
cantada impunidade”.

Em outras palavras, a indenização deve ser arbitrada para que o


ato ilícito não seja financeiramente compensador; isto é, de que valeria
pedir autorização e citar o nome do Autor se, acaso processadas, as
empresas Rés viessem a ser condenadas a pagar apenas o que pagariam
se tivessem agido ao rigor da Lei?

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A propósito, recentemente a 13ª Vara Cível da


Comarca de São Paulo/SP – Foro Central julgou um caso
semelhante ao caso ora narrado (Processo nº 1116700-
-09.2018.8.26.0100), onde o SBT teria plagiado obras artís-
ticas urbanas e as reproduzido no cenário de uma de suas
Novelas (vide DOCS. 47 e 48). Na ocasião, o dano moral foi
fixado em R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), ao funda-
mento de que “a liquidação do dano moral é tarefa que cabe
ao prudente arbítrio do juiz, observados os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade, o poder econômico das
partes e as circunstâncias dos fatos, devendo ser suficiente
para reparar o dano à vítima lesada sem lhe causar enriqueci-
mento sem causa, por outro lado, também significante a
evitar futuras condutas semelhantes por parte da requerida”.

Dito isto e uma vez configurado o dano moral, o Requerente deve


ser ressarcido por todo o abalo emocional sentido ao ver seu trabalho
artístico usurpado sem qualquer autorização para exibição, sendo-lhe
sonegada a própria identidade (dano moral in re ipsa), sem qualquer
remuneração, vendo todos seus direitos morais e patrimoniais de Autor
sendo afrontados e expostos sem qualquer constrangimento na rede mun-
dial de computadores.

Dessa forma, ante todo o exposto e em observância às orientações


para a fixação do quantum indenizatório, bem como em atenção ao dispos-
to no artigo 944 do Código Civil7, pugna o Requerente pela condenação
solidária das Requeridas à reparação por DANOS MORAIS no valor razoável
de R$ 100.000,00 (cem mil reais), por ser medida da mais lídima justiça.

4.8 DA REPARAÇÃO PELOS DANOS MATERIAIS – LUCRO DA INTERVENÇÃO:

Sem prejuízo da indenização pelos danos morais, o Autor também faz


jus ao lucro obtido com as operações comerciais das empresas Rés, conforme
declara a tão consistente Teoria do Lucro da Intervenção, consubstanciada no
fato de que uma empresa é obrigada a restituir o lucro alcançado a partir da
exploração não autorizada de bem ou direito alheio.

Tal tese, desenvolvida pelo brilhante jurista Sérgio Savi, pressupõe que,
se restituído apenas o valor do dano causado ao patrimônio do lesado, ainda
restaria lucro ilícito nas mãos do interventor, caracterizando verdadeiro enrique-
cimento sem causa.

Ora, é inegável que a conduta das Rés se desdobra em enriquecimento


indevido, o qual é vedado pelo ordenamento jurídico, devendo o Autor ser repa-
rado integralmente da violação de seu direito.

Esse é o imperativo categórico extraído do art. 884 do Código Civil:

7
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

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Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem,
será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização
dos valores monetários.

Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada,


quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a
restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.

Marcelo Martins de Andrade Goyanes, doutrinando sobre o dever de


indenizar pela vedação ao enriquecimento sem causa em nosso ordenamento
jurídico, destaca que:

A caracterização do dever de indenizar por parte do contrafator


pode ser defendida também sob o argumento do enriquecimento
sem causa, agora com previsão expressa no artigo 884 do novo
Código Civil brasileiro: ‘Aquele que, sem justa causa, se enrique-
cer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente
auferido, feita a atualização dos valores monetários’. Note-se que
para o enquadramento de determinada conduta na teoria do enri-
quecimento não se faz necessária existência de dano, mas apenas
o enriquecimento às custas da esfera jurídica alheia sem uma
causa jurídica que o justifique. Os enunciados aprovados pelo
Conselho da Justiça Federal a respeito do novo Código
Civil confirmam este conceito: “35 – Art. 884 do novo
Código Civil: a expressão ‘se enriquecer à custa de
outrem’ do artigo 884 do novo Código Civil não signifi-
ca, necessariamente, que deverá haver empobrecimen-
to”. (2009, p. 62.) (grifamos)

Especificamente sobre o instituto em pauta – LUCRO DA INTER-


VENÇÃO –, Sérgio Savi (2012, p.07) o conceitua como o “lucro obtido por
aquele que, sem autorização, interfere nos direitos ou bens jurídicos de
outra pessoa e que decorre justamente desta intervenção”. Para o reno-
mado autor, diante da ineficácia das tradicionais regras da responsabilida-
de civil para lidar com o problema do lucro da intervenção, buscou-se no
ordenamento jurídico brasileiro uma alternativa para tais situações. A
conclusão alcançada foi a de que, em razão de suas características e
funções, o lucro da intervenção deve ser dogmaticamente enquadrado no
enriquecimento sem causa.

Em face dessa arquitetura, temos que o direito ao lucro da inter-


venção se extrai do fato de que a vantagem patrimonial obtida por meio
da indevida intervenção nos direitos e nos bens jurídicos alheios pode
superar o próprio prejuízo sofrido pelo titular do direito, gerando,
portanto, o intolerável enriquecimento sem causa.

A propósito, a mesma hermenêutica foi firmada na VIII Jornada de


Direito Civil, com a consolidação do Enunciado nº 620, in verbis:

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ENUNCIADO 620 – Art. 884: A obrigação de restituir o lucro da interven-


ção, entendido como a vantagem patrimonial auferida a partir da explo-
ração não autorizada de bem ou direito alheio, fundamenta-se na veda-
ção do enriquecimento sem causa. (grifo nosso)

Paralelamente, o rigor do art. 210, inc. II, da Lei 9.279/96, prescreve


a possibilidade de o prejudicado pela violação da sua propriedade industrial
ser ressarcido pelos “benefícios que foram auferidos pelo autor da violação
do direito”. Vejamos:

Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favo-
rável ao prejudicado, dentre os seguintes:
(...)
II - os benefícios que foram auferidos pelo autor da violação do direito; ou
(...) (grifamos)

Considerando os excertos legais e tendo em vista que o aprovei-


tamento econômico das Rés sob o uso indevido da Obra do Autor não fica
subsumido apenas ao dano moral na forma reclamada e fundamentada no
tópico acima, defensável que o Requerente angarie indenização pelo
acréscimo patrimonial obtido pelas Requeridas às custas da utilização
indevida de sua Obra, sem nenhuma limitação, à rigidez do art. 210, II,
da Lei 9.279/96.

O pleito de indenização integral pelo LUCRO DA INTERVENÇÃO


encontra entendimento consolidado pelo Superior Tribunal de Justiça no
precedente oriundo do julgamento do REsp nº 1698701/RJ, o qual
também deve servir de paradigma e fundamento para o presente caso,
nos moldes do já mencionado art. 489, §1º, inciso VI, do Código de
Processo Civil. Vejamos a ementa do julgado:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. USO INDEVIDO DE IMAGEM. FINS COMER-


CIAIS. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. ART. 884 DO CÓDIGO CIVIL. JUSTA
CAUSA. AUSÊNCIA. DEVER DE RESTITUIÇÃO. LUCRO DA INTERVENÇÃO.
FORMA DE QUANTIFICAÇÃO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Ação de indenização proposta por atriz em virtude do uso não autorizado de seu
nome e da sua imagem em campanha publicitária. Pedido de reparação dos danos
morais e patrimoniais, além da restituição de todos os benefícios econômicos que
a ré obteve na venda de seus produtos.
3. Além do dever de reparação dos danos morais e materiais causados pela
utilização não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou
comerciais, nos termos da Súmula nº 403/STJ, tem o titular do bem jurídi-
co violado o direito de exigir do violador a restituição do lucro que este
obteve às custas daquele.
4. De acordo com a maioria da doutrina, o dever de restituição do denominado
lucro da intervenção encontra fundamento no instituto do enriquecimento sem
causa, atualmente positivado no art. 884 do Código Civil.

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5. O dever de restituição daquilo que é auferido mediante indevida interferência


nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa tem a função de preservar a livre
disposição de direitos, nos quais estão inseridos os direitos da personalidade, e de
inibir a prática de atos contrários ao ordenamento jurídico.
6. A subsidiariedade da ação de enriquecimento sem causa não impede que
se promova a cumulação de ações, cada qual disciplinada por um instituto
específico do Direito Civil, sendo perfeitamente plausível a formulação de
pedido de reparação dos danos mediante a aplicação das regras próprias da
responsabilidade civil, limitado ao efetivo prejuízo suportado pela vítima,
cumulado com o pleito de restituição do indevidamente auferido, sem justa
causa, às custas do demandante.
7. Para a configuração do enriquecimento sem causa por intervenção, não se
faz imprescindível a existência de deslocamento patrimonial, com o empobre-
cimento do titular do direito violado, bastando a demonstração de que houve
enriquecimento do interventor. 8. Necessidade, na hipótese, de remessa do
feito à fase de liquidação de sentença para fins de quantificação do lucro da
intervenção, observados os seguintes critérios: a) apuração do quantum debe-
atur com base no denominado lucro patrimonial; b) delimitação do cálculo ao
período no qual se verificou a indevida intervenção no direito de imagem da
autora; c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes e d) distri-
buição do lucro obtido com a intervenção proporcionalmente à contribuição
de cada partícipe da relação jurídica.
9. Recurso especial provido. (REsp 1698701/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 08/10/2018).
(grifamos)

Com efeito, não é ocioso lembrar que a aplicação da Teoria do


Lucro da Intervenção, como hipótese de enriquecimento ilícito, não
obsta de forma alguma a cumulação com a reparação por danos causa-
dos (sejam materiais ou morais) conforme jurisprudência do mesmo
tribunal, colacionada acima.

Ante o exposto, requer sejam as Rés condenadas a indenizar o


Requerente pelos benefícios econômicos que obtiveram com o uso inde-
vido da Obra em questão, com base no art. 884 do Código Civil e art. 210,
II, da Lei 9.279/96, mediante o pagamento de quantia apurada em liquida-
ção de sentença.

4.9 DA SUSPENSÃO DA DIVULGAÇÃO ILEGAL – PEDIDO COMINATÓRIO:

Como se viu, é inconteste que o direito do autor de fruir, utili-


zar e dispor de sua obra, previsto no art. 28 da Lei 9.610/98, pode ser
estendido a terceiros, cujo uso (royalties), por quaisquer modalidades,
fica condicionado à expressa e prévia autorização do titular, na forma
do art. 29 da mesma Lei, e do art. 9º, da Convenção de Berna para a
Proteção das Obras Literárias e Artísticas, já mencionados alhures.

Todavia, percebe-se que as Rés usufruíram da Obra do Autor


sem a devida licença e/ou autorização para tanto.

De se ver que, tal conduta deveria ter sido respaldada de


autorização ou licença expressa e pretérita, o que não ocorreu, tendo

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em vista que as Rés não obtiveram – e nem tentaram obter – qualquer


tipo de autorização para explorar os direitos da propriedade intelec-
tual do Autor, isto é, para usar a Obra em comento no clipe divulgado.

Dessa forma, requer seja determinado que as Requeridas


suspendam a exibição do videofonograma objeto da lide, de todas as
plataformas de divulgação já utilizadas, bem como se abstenham de
promover novas divulgações e comercializações do clipe, sob pena de
multa diária a ser fixada por este Juízo para cada divulgação e/ou
comercialização realizada.

Quanto ao pleito em questão, ressalta-se que a suspensão da


exibição deve ser estendida, inclusive, à Ré GOOGLE BRASIL INTER-
NET LTDA., que deverá promover a exclusão, junto à sua plataforma
YouTube, de todos os vídeos relacionados ao clipe objeto da lide, uma
vez que há monetização da divulgação em tal plataforma, bem como
porque foi solicitada extrajudicialmente a retirada do videofonogra-
ma, sem, contudo, haver qualquer resposta.

Ora, já se tem consolidado a orientação de que, uma vez noti-


ficado pelo usuário, o provedor deve retirar, no exíguo prazo de 24
horas, o conteúdo indevido, sob pena de responder solidariamente
com o autor direto do dano pela omissão praticada. Nesse interstício,
porém, o provedor não é obrigado a analisar o teor da denúncia rece-
bida, mas sim tão somente retirar do sítio eletrônico, provisoriamente,
o material dela objeto.

Nesse sentido, confira-se o seguinte precede da Terceira Turma


do STJ, divulgados no Informativo nº 500 da Corte (agosto de 2012):

REDES SOCIAIS. MENSAGEM OFENSIVA. REMOÇÃO. PRAZO. A Turma entendeu


que, uma vez notificado de que determinado texto ou imagem possui conteúdo
ilícito, o provedor deve retirar o material do ar no prazo de 24 horas, sob pena de
responder solidariamente com o autor direto do dano, pela omissão praticada.
Consignou-se que, nesse prazo (de 24 horas), o provedor não está obrigado a
analisar o teor da denúncia recebida, devendo apenas promover a suspensão
preventiva das respectivas páginas, até que tenha tempo hábil para apreciar a
veracidade das alegações, de modo que, confirmando-as, exclua definitivamen-
te o perfil ou, tendo-as por infundadas, restabeleça o seu livre acesso. Entretan-
to, ressaltou-se que o diferimento da análise do teor das denúncias não significa
que o provedor poderá postergá-la por tempo indeterminado, deixando sem
satisfação o usuário cujo perfil venha a ser provisoriamente suspenso. Assim,
frisou-se que cabe ao provedor, o mais breve possível, dar uma solução final para o
caso, confirmando a remoção definitiva da página de conteúdo ofensivo ou,
ausente indício de ilegalidade, recolocá-la no ar, adotando, na última hipótese, as
providências legais cabíveis contra os que abusarem da prerrogativa de denunciar.
Por fim, salientou-se que, tendo em vista a velocidade com que as informações
circulam no meio virtual, é indispensável que sejam adotadas, célere e enfatica-
mente, medidas tendentes a coibir a divulgação de conteúdos depreciativos e
aviltantes, de sorte a reduzir potencialmente a disseminação do insulto, a fim de
minimizar os nefastos efeitos inerentes a dados dessa natureza (STJ, 3ª Turma,
REsp 1.323.754/RJ, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, julgado em 19/6/2012).

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A Quarta Turma do STJ, por sua vez, parece acompanhar essa


orientação quando se observa do voto do Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
no REsp 1.175.675/RS que “(...) não se afirma que há dano moral imputável
ao provedor de internet (administrador de rede social), já no momento em
que determinada mensagem é postada na rede. Nesse momento, há o
dever de o provedor retirar tal mensagem do seu ambiente virtual, mas sua
responsabilização civil vai depender de sua conduta, se omissiva ou não,
levando-se em conta a proporção entre sua culpa e o dano experimentado
por terceiros (art. 944, parágrafo único, do CPC)”.

Parece novidade, mas, em verdade, essa metodologia já é adotada,


guardadas algumas peculiaridades, no direito comparado, em especial, nos
Estados Unidos da América, onde se consagrou a expressão notice and
takedown (tradução livre: “aviso e retirada”), prevista no Communications
Decency Act – CDA e no Digital Millenium Copyright Act – DMCA.

Em síntese, o notice and takedown quer significar que o provedor


de serviços online não será responsabilizado pela publicação do conteúdo
protegido pelos direitos autorais se, uma vez notificado pelo legítimo
autor, removê-lo imediatamente. Dinâmica semelhante é também adotada
pela Diretiva 2000/31, da Comunidade Europeia, segundo a qual os prove-
dores de internet ficam isentos de qualquer responsabilidade por controle
prévio de conteúdos postados, desde que não sejam devidamente notifi-
cados da prática ilícita8.

No Direito pátrio, analogicamente ao notice and takedown, temos


legislado o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14), que, eu seu art. 19, §2º,
prevê a responsabilidade por material divulgado na rede mundial de com-
putadores que infringe direitos previstos legalmente, por parte do prove-
dor responsável. Vejamos:

Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a


censura, o provedor de aplicações de internet somente poderá ser
responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado
por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providên-
cias para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do
prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infrin-
gente, ressalvadas as disposições legais em contrário.
(...)
§ 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor
ou a direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá
respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5º da
Constituição Federal. (grifamos)

Embora o dispositivo supracitado faça alusão à desobediência de


ordem judicial para ser imputada a responsabilidade do provedor, a juris-
prudência já vem entendendo que a inércia mediante solicitação da
pessoa lesada virtualmente já configura a responsabilidade civil do prove-
dor, nos moldes da teoria do notice and takedown supracitada.

8
BOECHAT, Marcos. A responsabilidade do provedor de internet e o notice and takedown. Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3360, 12 set. 2012. Disponível em: https://jus.com.br/arti-
gos/22598. Acesso em: 5 nov. 2019.

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É o que nos aponta o julgado a seguir:

Ação de obrigação de fazer c/c pedido de indenização - Empresa autora que


postula a exclusão de site fraudulento criado em seu nome na Internet para venda
de mercadorias, e a reparação dos danos morais sofridos - Sentença de extinção
do feito sem resolução de mérito, sob o argumento de que o Google não tem
legitimidade ad causam passiva - Desacerto Réu, na condição de provedor de
aplicações, é parte legítima para responder pelos pleitos decorrentes de conteúdo
ilícito gerado por terceiros, nos termos do Marco Civil da Internet e da anterior
jurisprudência consolidada - Possível o julgamento desde logo do mérito da lide
pelo Tribunal, nos termos da legislação processual civil aplicável Ação parcialmente
procedente - Pleito cominatório formulado perdeu o objeto, diante da retirada
espontânea do conteúdo ilícito da Internet por terceiro - Pedido de indenização
por danos morais que, contudo, comporta acolhida - Possibilidade de responsabi-
lização do requerido, na condição de provedor de aplicações, pelo conteúdo
ilícito gerado por terceiros e disponibilizado na Internet, em virtude de sua
inércia após o recebimento de notificação extrajudicial do lesado - Jurisprudên-
cia anterior do C. STJ já vinha se posicionando nesse sentido - Previsão do art. 19
da Lei 12.965/14, no sentido de que o provedor de aplicações só pode ser
responsabilizado civilmente por ato de terceiro após o descumprimento de
ordem judicial específica determinando a remoção de conteúdo ilícito, não deve
ser interpretada literalmente, pena de ser considerada inconstitucional - Danos
morais à autora decorrentes da ofensa à sua imagem, seu bom nome e seu concei-
to social - Pessoa jurídica passível de sofrer prejuízos de ordem extrapatrimonial -
Inteligência da Súmula 227 do STJ - Devida a fixação da indenização em R$
30.000,00, valor este que bem atende às funções ressarcitória e punitiva da
reparação - Ação parcialmente procedente - Recurso parcialmente provido. (TJSP
– Ap 1011391-95.2015.8.26.0005 - 1.ª Câmara de Direito Privado - j. 7/6/2016 - v.u. -
julgado por Francisco Loureiro - Área do Direito: Civil; Processual)

No caso dos autos, restou comprovado que o Autor solicitou à


GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA., extrajudicialmente, para que esta
promovesse a retirada do videofonograma junto à sua plataforma YouTu-
be (DOC. 46). Todavia, até o momento, nenhuma resposta foi dada.

Portanto, patente é a legitimidade e responsabilidade civil da Ré


em questão, tanto para reparar os danos sofridos pelo Requerente, aqui
descritos, quanto para ser obrigada a suspender a divulgação do clipe em
tela, bem como para ser compelida a não mais divulgar/reproduzir qual-
quer videofonograma que tenha relação com o clipe objeto da lide.

Subsidiariamente ao pleito cominatório, caso não seja o entendimen-


to de Vossa Excelência ou não seja possível a retirada do “ar” de todos os vide-
ofonogramas já divulgados, que ao menos sejam as Rés condenadas a pagar
ao Autor uma quantia a título de licença pela utilização continuada e futura da
Obra, conforme determina o art. 210, inc. III, da Lei 9.279/96, in verbis:

Art. 210. Os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais favorá-
vel ao prejudicado, dentre os seguintes:
(...)
III - a remuneração que o autor da violação teria pago ao titular do direito
violado pela concessão de uma licença que lhe permitisse legalmente
explorar o bem. (grifamos)

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A quantia a que alude o pleito subsidiário, à toda evidência, deverá


ser apurada em liquidação de sentença, observados o alcance do clipe, a
proveito econômico obtido pelas Requeridas, a valiosidade das Obras do
Autor e o tempo pelo qual as Rés vão continuar divulgando o material.

5. DOS Por todo o exposto e por tudo que dos autos constam,
PEDIDOS requer de Vossa Excelência:
CONTRACT

a
Sejam concedidos os benefícios da gratuidade da justiça, por não
ter o Autor condições de arcar com as custas e despesas processu-
ais sem prejuízo de seu sustento e de sua família;

b
Seja determinada a citação das Requeridas, na pessoa de seus
representantes legais, para, querendo, apresentarem contestação no
prazo legal, sob pena de revelia;

c
Sejam, no mérito, julgados totalmente procedentes os pedidos avia-
dos nesta ação para o fim de:

c.1 Condenar as Requeridas, solidariamente, ao pagamento de R$


100.000,00 (cem mil reais), acrescidos de juros e correção monetária,
conforme índices e dispositivos legais, a título de DANOS MORAIS;

c.2 Condenar as Requeridas, solidariamente, a indenizar o Requerente


pelos benefícios econômicos que obtiveram com o uso indevido da
Obra objeto da lide, com base no art. 884 do Código Civil e art. 210, II,
da Lei 9.279/96, mediante o pagamento de quantia a ser apurada em
liquidação de sentença, a título de DANOS MATERIAIS – LUCRO DA
INTERVENÇÃO;

c.3 Condenar as Requeridas a suspenderem a exibição do videofonogra-


ma objeto da lide, de todas as plataformas de divulgação já utilizadas,
bem como a se absterem de promover novas divulgações e comerciali-
zações do clipe, sob pena de multa diária a ser fixada por este Juízo
para cada divulgação e/ou comercialização realizada;

c.3.1 Subsidiariamente ao pleito cominatório (item supra, c.3), caso não seja
aquele o entendimento de Vossa Excelência ou não seja possível a
retirada do “ar” de todos os videofonogramas já divulgados, que ao
menos sejam as Rés condenadas, solidariamente, a pagar ao Autor
uma quantia a título de LICENÇA pela utilização continuada e futura da
Obra, nos moldes do art. 210, III, da Lei 9.279/96, a ser apurada em
liquidação de sentença, observados o alcance do clipe, o proveito
econômico obtido pelas Requeridas, a valiosidade das Obras do Autor
e o tempo pelo qual as Rés vão continuar divulgando o material;

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c.3.2 Caso seja acatado o pleito subsidiário supra, que sejam as Requeridas
condenadas, ainda, a atribuir a autoria da Obra ao Requerente, deven-
do o mesmo ser creditado em todos os materiais de divulgação do
clipe objeto da lide em até 24 horas, inclusive nos materiais de divul-
gação futura, sob pena de multa diária a ser fixada por este Juízo por
cada material divulgado em desobediência à ordem judicial;

d
Sejam as Requeridas condenadas ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios no patamar de 20% (vinte
por cento) sobre o valor da condenação, a rigor do art. 85 do
Código de Processo Civil.

No ensejo, caso seja de interesse das Requeridas e Vossa Excelên-


cia entenda pela designação de audiência de conciliação, registra o
Requerente, desde já, o seu interesse na autocomposição, a teor do art.
319, VI, do Código de Processo Civil.

Protesta provar o alegado por toda espécie de prova admitida,


em especial, prova documental e testemunhal.

Ainda quanto aos meios probatórios, requer, outrossim, seja defe-


rido pelo Juízo o acautelamento de mídia digital (DVD-R), a qual contém
a gravação do videofonograma objeto da lide.

Para os fins dos arts. 270 e 275 do CPC, requer que todas as publi-
cações sejam feitas em nome do Dr. Eduardo Faria da Silva Junior,
OAB/RJ 186.353; da Dra. Nicole Yasmin Lopes Santana, OAB/RJ 202.942;
e do Dr. Silas Tadeu de Castro Martins, OAB/MG 193.660, todos com ende-
reço profissional à Avenida Treze de Maio, 23 Salas 1610, 1611, 1612, 1619 e
1620 - Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20031-080, e endereço eletrônico
contato@fcmlaw.com.br, sob pena de nulidade.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro/RJ, 14 de novembro de 2019.

EDUARDO FARIA DA SILVA JUNIOR OAB/RJ 186.353

SILAS TADEU DE CASTRO MARTINS OAB/MG 193.660

NICOLE YASMIN LOPES SANTANA OAB/RJ 202.942

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