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Internet: colaboração e autoria

Apresentação
Com as tecnologias digitais de informação e comunicação, além do advento da web 2.0, as pessoas
passaram de meros receptores de conteúdo para produtores de conteúdo na Internet. A partir
disso, uma gama de ferramentas, tais como: blogs, redes sociais, entre outros, surgem com o
potencial de reunir informações e conteúdos gerados por seus usuários. A sociedade está diante da
inteligência coletiva, a qual transforma os processos de ensino-aprendizagem tradicionais. No
entanto, apesar de ser muito benéfica para a construção de conhecimento, esse atual cenário da
web também pode apresentar problemas frente à quantidade enorme de conteúdos gerados por
seus usuários. Por isso, há muitos desafios quanto à credibilidade desses conteúdos gerados, os
quais exigem o desenvolvimento de habilidades críticas e de questões relativas aos direitos
autorais.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá os principais tipos de pesquisas na web, os


conceitos básicos quanto ao direito de utilização de conteúdos, e como ocorre a construção do
conteúdo de forma colaborativa na web.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir formas de pesquisa na web e fontes confiáveis de conteúdo.


• Apresentar conceitos básicos de direitos de utilização.
• Descrever como se dá a construção e disponibilização de conteúdo de forma colaborativa na
Internet.
Desafio
Apesar das diversas ferramentas de produção colaborativa disponíveis, as quais favorecem
atividades de construção de conhecimento de forma cooperativa, tais como blogs, redes sociais,
entre outros, há dois problemas que chamam a atenção nesse processo: a falta de critério para
selecionar conteúdos confiáveis durante a busca de informações e o plágio.

Considere que as atividades colaborativas geralmente partem de uma situação-problema e exigem


a colaboração em grupo para a solução desse problema. Você, como mediador desse processo,
precisa desenvolver estratégias de combate ao plágio, além da criticidade quanto às fontes de
informação consultadas pelos alunos.

Veja a seguinte situação:

Os alunos precisam escrever com as suas próprias palavras o que entenderam, não podendo usar
citações literais sem mencionar o autor da obra.

Diante dessa situação, que estratégias você utilizaria para evitar o plágio, além de desenvolver a
criticidade dos alunos quanto às fontes de informação mais adequadas para esse trabalho, dentro
da sua área disciplinar? Lembre-se de justificar a sua resposta.
Infográfico
Um tema que gera sempre muita discussão no atual cenário da web é o que se refere aos direitos
autorais. No ambiente acadêmico e escolar é extremamente urgente discutir esse assunto, tendo
em vista que os alunos estão o tempo todo usando e reutilizando as informações e os conteúdos
disponíveis.

No Infográfico a seguir, você vai ver os princípios básicos de direitos autorais na Internet, os
quais ajudam a evitar o plágio e o uso indevido da informação.

Confira.
Aponte a câmera para o
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conteúdo ou clique no
código para acessar.
Conteúdo do livro
Com a web 2.0 surge a oportunidade de produzir e divulgar informação em diversos formatos,
assim como em vários canais. Esse processo, chamado de inteligência coletiva, forma uma rede
colaborativa de construção de informação e conteúdo.

Na obra Tecnologias educacionais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, leia o capítulo
Internet: colaboração e autoria, no qual você vai ver conceitos relacionados à construção e à
disponibilização de conteúdos de forma colaborativa na Internet. Além disso, vai ver como isso
acontece na prática, verificando como deve lidar com eventuais problemas relacionados aos
direitos autorais e às fontes de informação.

Boa leitura.
TECNOLOGIAS
EDUCACIONAIS

Mariana Pícaro Cerigatto


Internet: colaboração
e autoria
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir formas de pesquisa na web e fontes confiáveis de conteúdo.


 Apresentar conceitos básicos de direitos de utilização.
 Descrever como se dá a construção e disponibilização de conteúdo
de forma colaborativa na internet.

Introdução
A internet é uma grande base de dados mundial formada pela contribui-
ção de seus usuários. Com a web 2.0, surge a oportunidade de produzir
e divulgar informação em diversos formatos e por meio de vários canais.
Esse processo, chamado de inteligência coletiva, forma uma rede cola-
borativa de construção de informação e conteúdo. Com a web 3.0, há a
preocupação em reunir as informações colaborativamente construídas
de forma inteligível e organizada. No entanto, surgem problemas rela-
cionados a essa produção e à divulgação coletiva de informação. É o
caso das questões relativas aos direitos do autor, que nem sempre são
respeitados, e à falta de credibilidade de conteúdos disponíveis na rede.
A partir dessas perspectivas, o objetivo deste capítulo é apresentar a
você conceitos relacionados à construção e à disponibilização de conteú-
dos de forma colaborativa na internet. Você vai ver como isso acontece na
prática e verificar como deve lidar com eventuais problemas relacionados
a direitos autorais e fontes de informação. Como você vai ver, esses são
temas relevantes para os ambientes escolar e acadêmico, que lidam com
essa rede de informação o tempo todo.
2 Internet: colaboração e autoria

A inteligência coletiva e a informação na web


Ao navegar pela internet, você tem acesso a uma enorme teia de conteúdos, não
é? Ao longo das últimas décadas, a tecnologia vem mudando completamente
a relação das pessoas com a informação. Antes, a biblioteca era o banco de
dados mais importante disponível para os estudantes fazerem seus trabalhos
e buscarem informações. Hoje, a internet mudou esse cenário.
Nesse contexto, você deve ter em mente que todos os canais e serviços
de informação — como a biblioteca, os jornais e as enciclopédias — não
perderam o seu valor. O que acontece é que agora todos esses serviços estão
reunidos pela rede mundial de computadores. A convergência tecnológica e
de informação possibilita uma reunião de conteúdos nunca vista antes.
Mas, além de acessar uma gama cada vez maior de informações, todo
usuário dessa rede pode também produzir novos conteúdos. Assim, é possível
gerar novas informações e conhecimentos a partir do que já existe ou criar
conteúdos inéditos. As ferramentas da web 2.0 permitem essas contribuições
por meio de blogs, redes sociais, etc., em que é possível criar conteúdos.
Esse fenômeno de colaboração contínua em rede se chama inteligência
coletiva, um conceito usado por Lévy (2003) e outros teóricos. A inteligência
coletiva ganha força com a internet, que engloba a colaboração de muitos
indivíduos em suas diversidades. A inteligência coletiva é distribuída por toda
parte. Ela se baseia em princípios que dizem que o saber está na humanidade e
que ninguém sabe absolutamente tudo; no entanto, todos sabem alguma coisa
e podem se ajudar mutuamente.

O site Wikipédia é um exemplo clássico de inteligência coletiva.

Para Lévy (2003), as tecnologias da inteligência moldam um pensamento


sustentado por conexões sociais, amparadas pela utilização das redes abertas
na internet. Assim, as inteligências individuais são somadas, compartilhadas
e potencializadas. O ciberespaço, na visão de Lévy (1999), é um dispositivo de
comunicação com condições interativas e comunitárias. Por isso, se apresenta
como um bom instrumento para a disseminação da inteligência coletiva. O seu
Internet: colaboração e autoria 3

conceito, inclusive, influencia muito os sistemas de aprendizagem cooperativa


em rede, como a educação a distância.
A web 2.0, tida como marco de determinado uso das tecnologias de informa-
ção e comunicação (TICs), potencializou a ação dos indivíduos no ciberespaço
e em relação à inteligência coletiva. A liberação do polo de informação é uma
das “leis” da cibercultura que impulsiona a inteligência coletiva, conforme
defende Lemos (2004, p. 13):

A cibercultura, esse conjunto de processos tecnológicos, midiáticos e sociais


emergentes a partir da década de 70 do século passado com a convergência
das telecomunicações, da informática e da sociabilidade contracultural da
época […] tem enriquecido a diversidade cultural mundial e proporcionado
a emergência de culturas locais em meio ao global supostamente homoge-
neizante. Uma das principais características dessa cibercultura planetária é
o compartilhamento de arquivos, músicas, fotos, filmes, etc., construindo
processos coletivos.

Tenha em mente essas noções. A seguir, você vai ver que eventuais pro-
blemas podem surgir a partir da disponibilização de uma gama enorme de
conteúdos que nem sempre têm credibilidade enquanto fonte de informação.

A busca de informação na web e as fontes de


informação confiáveis
Como você viu, existe uma grande rede que reúne informações na internet,
construída de forma colaborativa a partir das tecnologias digitais da web 2.0.
No entanto, há a necessidade de organizar esses conteúdos de maneira que
possam ser acessados e localizados.
Quando se fala nessa necessidade, logo vem à mente os motores de busca
de informação em rede, não é? Eles são tecnologias associadas à geração da
internet chamada de web 3.0, que se preocupa em organizar os conteúdos para
que eles possam ser facilmente localizados. Existem diferentes motores de
busca. A seguir, você pode conhecer os principais.

 Buscadores globais: são motores de busca da internet que buscam e


disponibilizam em seus resultados todos os documentos na rede, de
maneira aleatória e também de acordo com o número de acessos aos
sites. Como exemplo, você pode considerar Google, Yahoo e Bing, os
buscadores globais mais acessados atualmente em escala mundial.
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 Buscadores verticais: são buscadores de pesquisas mais especializados.


Baseiam-se em bases de dados próprias e restritas, que podem ser pagas.
Mitula, Trovit, Catho e Buscapé são alguns exemplos de buscadores
verticais. O Catho, por exemplo, é um buscador de vagas de emprego.
O Buscapé é um site que localiza os menores e maiores preços de um
produto vendido pela web.
 Diretórios de websites: são índices de sites que permitem ao usuário
localizar outros endereços que deseja encontrar na web, buscando por
categorias. Os diretórios de sites geralmente possuem uma busca in-
terna para que os usuários encontrem conteúdos e sites dentro de seu
próprio índice.

Se você pensar no ambiente escolar, a busca de informação é uma atividade


cotidiana. Frequentemente, tanto alunos como docentes recorrem às ferramen-
tas de busca na internet — tais como o Google, uma empresa gigante no setor
de tecnologia, conhecida popularmente pelo seu site de busca de conteúdos.
Existem outros serviços de busca, como Bing e Yandex, que concorrem com
o famoso Google — mas este ainda é o mais usado em todo o mundo.
Mesmo com os mecanismos desses buscadores sendo desenvolvidos conti-
nuamente, existe um grande desafio, hoje, de chegar a conteúdos relevantes de
acordo com as necessidades de informação existentes. Afinal, há um grande
volume de conteúdos. Essa é uma questão que atinge, especialmente, o cotidiano
das pessoas, sobretudo nos ambientes escolares.
Para chegar a fontes de informação que atendam às suas necessidades de
pesquisa, o primeiro passo é saber que tipos de fontes existem na internet.
Silva e Tomaél (2004) fazem considerações a respeito da classificação de
fontes advindas desse ambiente. Tradicionalmente, a área de taxionomia
biblioteconômica reconhece e permite classificação dos seguintes canais
disponíveis em rede: os informais — que incluem e-mail, grupos de discussão
e conferências — e os formais — como bibliotecas digitais ou então um site
oficial. As autoras também dividem os documentos eletrônicos encontrados
em rede, como você pode ver a seguir.

1. Primários: são documentos como livros e teses, considerados fontes de


informação que carregam a influência direta do autor — são conteúdos
originais.
2. Secundários: são fontes de informação que trazem edições e recortes
de conteúdos originais e são formados a partir destes. Por exemplo,
toda notícia de jornal traz uma edição da fala dos entrevistados, faz a
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inclusão e exclusão de informações, a hierarquização, etc. Ou seja, o


conteúdo já não é mais o original, existem vários “filtros” que moldam
o processo de edição.
3. Terciários: referem-se a índices, catálogos online, classificados de jor-
nais, bibliografias — muitos deles transpostos e/ou gerados a partir de
fontes impressas. São fontes de informação que visam a proporcionar
uma visão resumida do material disponível sobre um tema/serviço/
matéria, etc.

Novos conteúdos e fontes de informação que surgem na internet se desen-


volvem por meio de uma verdadeira mixagem de fontes primárias, secundárias
e terciárias. Contudo, muitas delas fogem a qualquer classificação prévia, “[...]
porque são resultados do dinamismo do design característico da internet [...]”
(SILVA; TOMAÉL, 2004, p. 7–8).
Partindo dessa clasificação, é possível chegar a algumas colocações sobre
fontes de informação confiáveis. Na verdade, não há uma “receita de bolo”
para considerar uma fonte de informação confiável ou não. Isso depende do
desenvolvimento da criticidade dos alunos, da sua capacidade de selecionar
e avaliar fontes.
No entanto, a partir da classificação, já é possível fazer algumas consi-
derações. Quanto mais primária a fonte de informação, mais confiável ela
é. Isso porque se considera que aquele conteúdo sofreu o menor número de
edições e recortes possível. Por exemplo: se você vai trabalhar com seus
alunos a Segunda Guerra Mundial, pode recorrer a fontes primárias que
mostram fotos das cenas reais, relatos reais de sobreviventes, etc. Se recor-
rer a um filme que retrata esse tema, vai utilizar uma fonte secundária de
informação, que tem o ponto de vista do diretor, as edições, os atores, etc.
Ou seja, perde-se a originalidade.
Assim, na internet, não se pode automaticamente considerar que uma
fonte é confiável. Isso porque qualquer informação que passa por processos
de edição e pertence a um grupo (organização, empresa, etc.) é enquadrada
em um “molde”. Ou seja, as informações são todas formas de representação
de conceitos, conhecimentos, etc.
Outro exemplo: imagine um jornal noticioso como a Folha de São Paulo.
Esse veículo pertence a uma empresa de comunicação de grande representa-
tividade. Portanto, se você acessa uma notícia desse jornal, que geralmente
aparece nos primeiros resultados de buscadores, deve confiar sem nenhuma
criticidade? Que processos de edição esse conteúdo pode ter sofrido até virar
uma notícia?
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Portanto, aqui a intenção não é classificar fontes de informação como


confiáveis ou não, mas fazer você refletir a partir de certas indagações sobre
o que pode ser uma fonte de informação confiável. O ideal não é classificar
as fontes de informação como credíveis ou não credíveis, mas desenvolver
habilidades nos alunos para que eles possam diferenciar fontes originais
daquelas que sofreram edição. Eles também devem saber como as edições
podem influenciar a “versão final” de um produto de informação. Além disso,
precisam identificar o canal em que os conteúdos são disponibilizados, assim
como o autor, relacionando e comparando diversas fontes.
Portanto, a sugestão é que o professor trabalhe com o maior número possível
de fontes de informação a respeito de um mesmo assunto. Assim, os alunos
podem acessar diferentes versões e pontos de vista sobre um tema.

Mesmo que a internet seja uma grande rede com diversos tipos de informação disponíveis,
têm crescido os famosos sites de fake news (notícias falsas), que são conteúdos propo-
sitalmente duvidosos que podem influenciar a opinião pública. Um exemplo clássico
se refere à eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016. Uma pesquisa, conduzida
pelo portal BuzzFeed, identificou 20 notícias falsas sobre a eleição americana que tiveram
grande engajamento no Facebook, gerando 8,7 milhões de interações, entre curtidas,
comentários e compartilhamentos. Esse número superou os 7,3 milhões de engajamentos
das 20 notícias tidas como reais de maior repercussão nas redes sociais de grandes jornais
e emissoras, como The New York Times, Washington Post e CNN. O levantamento ainda
apontou a capacidade das redes sociais de influenciar os resultados eleitorais.
A maior parte das notícias falsas de grande repercussão, conforme analisado no
estudo, continha informações que favoreciam o republicano Donald Trump. A discussão
acalorada ainda responsabilizou o Facebook por ter contribuído para favorecer Trump,
já que a rede não possibilitou a filtragem desse conteúdo prejudicial. O criador do
Facebook, Mark Zuckeberg, chegou a afirmar que, apesar de a rede social contar com
mecanismos de denúncia de notícias falsas, são necessárias novas ferramentas para
filtrar o conteúdo.

Direitos autorais na internet


A inteligência coletiva, como você viu, é um dos grandes trunfos da internet.
Por meio da produção colaborativa, forma-se uma grande rede de informa-
ções, disponibilizadas em diversos canais e por diversos autores. Mas essa
disponibilização de conteúdo de maneira crescente e “sem limites” acaba
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esbarrando em questões de direitos autorais. Tais questões geram discussões


no ambiente acadêmico e escolar, que sempre estão criando e reutilizando
informações e conteúdos.
A maioria dos conteúdos pode ser copiada, “baixada” livremente. Mas
existem direitos de utilização quanto ao conteúdo? O que pode ser utilizado em
sala de aula? Quais são as restrições? A internet permite a distribuição em larga
escala de qualquer conteúdo. Além disso, ela aumenta o poder de distribuição
de um conteúdo, que antes só era disponibilizado por meio material. Agora,
a informação circula livremente pela rede, o que causa bastante discussão a
respeito dos direitos autorais.
A legislação brasileira prevê, na Lei de Direitos Autorais (Lei nº. 9.610,
de 1998), a proteção a qualquer tipo de informação produzida no País, seja
virtual ou não. Qualquer tipo de produção — seja ela registrada ou não, pu-
blicada ou não, está protegida. Isso inclui artigos científicos, livros, músicas,
fotografias, etc.
Apesar de antiga e considerada ultrapassada, a Lei de Direitos Autorais
pode ser útil no ambiente colaborativo da internet. Ela define quatro grupos
básicos: a propriedade intelectual, o direito de uso, o direito de distribuição
e a exploração comercial.

 Propriedade intelectual e plágio: de acordo com a lei, todo autor tem


propriedade intelectual sobre sua obra. Isso significa que, mesmo na
internet, não se pode utilizar uma obra — seja texto, vídeo, imagem,
etc. — e publicá-la ou distribuí-la como se fosse sua ou de outra pes-
soa. O roubo de propriedade intelectual é conhecido como plágio e é
considerado crime. Em ambiente escolar, essa regra deve ser bastante
observada, porque as pesquisas acadêmicas, os conteúdos das aulas e
os trabalhos geralmente usam ideias e imagens de outros autores. Tudo
deve ser devidamente referenciado. Uma imagem deve estar devidamente
creditada, uma citação literal em um texto tem de ser referenciada, etc.
 Direitos de uso e de distribuição: como saber o que pode ser usado e
distribuído? Um texto, uma imagem, uma música, por exemplo, deve
estar sob o regimento de algum tipo de licença. Ou seja, por meio
dessa licença, o autor cede ou não às pessoas o direito de usar aquela
obra, desde que não seja modificada. O direito de uso permite que
uma pessoa utilize uma foto (se não modificar em nada a foto original)
referenciando o nome e o site do autor. Um texto produzido por uma
pessoa na internet pode ter sua distribuição limitada pela lei ou por
desejo do autor detentor dos direitos sobre a obra. O autor pode querer
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limitar a divulgação de sua obra pois, muitas vezes, o conteúdo não


é gratuito. No entanto, nem sempre é tão fácil limitar esse acesso por
meios tecnológicos.
 Exploração comercial e pirataria: a lei é clara ao dizer que qualquer
pessoa é dona de sua criação ou de seu conteúdo gerado na rede.
Mesmo que essa criação seja de acesso livre, não se pode explorá-la
comercialmente. Por exemplo: não posso “baixar” músicas na internet
e lucrar com isso por meio do que é popularmente conhecido como
pirataria. Se uma pessoa lucra com algum conteúdo distribuído pela
internet, ela está explorando comercialmente essa obra, considerando
que ela não tem autorização do autor para fazer isso. Isso vale para
qualquer tipo de conteúdo. Na educação, é importante ressaltar que, se
alguém utiliza um conteúdo de outra pessoa em um material didático
ou livro que vai ser comercializado, precisa pedir autorização para
o autor da obra. Este, por sua vez, pode exigir algo em troca pela
exploração comercial de sua criação, ou mesmo pode autorizar o
uso da obra sem exigir nada em troca, pelo simples fato de se sentir
prestigiado pela divulgação.

Movimento copyleft

Por mais que os direitos autorais ainda sejam determinados em lei, no cenário
de compartilhamento e troca de informações que caracteriza a internet, essa
legislação pode representar uma barreira para o efetivo desenvolvimento
da inteligência coletiva. Um dos movimentos favoráveis ao acesso livre a
obras na internet se chama movimento copyleft, oposto ao então conhecido
copyright. O movimento abre espaço para a criação de mecanismos legais de
recombinação, conhecidos como licenças abertas. A Creative Commons é uma
licença nascida nesse cenário. Ela evidencia os direitos do autor, que pode
determinar o tipo de licença de sua obra, ou seja, se permite modificação, se
permite a cópia e a livre distribuição, etc.
Branco (2005) analisa que as tentativas de atualização das legislações
nacionais e internacionais, visando a reforçar o copyright diante da expansão
de obras digitais na internet, são iniciativas que escondem um controle con-
centrado e autoritário de grandes corporações sobre os direitos dos usuários
e dos produtores de obras digitais. Isso representa, de acordo com ele, uma
clara política protecionista, que “[...] propõe uma sociedade da informação
‘sem informação’ e conhecimento compartilhado. Na verdade, uma sociedade
da desinformação [...]” (BRANCO, 2005, p. 234).
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O autor defende que se passe adiante um livro impresso, que se copie parcial-
mente um livro em uma biblioteca, que se possa copiar um CD de música ou uma
fita de vídeo para fins não comerciais (BRANCO, 2005). A ideia é ampliar os co-
nhecimentos e o acesso a determinadas informações que antes eram mais restritas.
Nesse contexto, as medidas protecionistas atingem, em maior intensidade, países
mais pobres, confirmando a sua situação de meros consumidores de conteúdo.

A internet travou uma “briga” quanto a direitos autorais com os meios de distribuição
chamados de P2P (peer to peer, ou seja, “pessoa a pessoa”). Esses sistemas são softwares
que permitem que um usuário compartilhe arquivos — tais como filmes e músicas —
para download. No entanto, muitas das obras não podem ser livremente distribuídas.
O Napster é um exemplo de plataforma P2P. Ele criou uma rede de usuários que
compartilhavam arquivos em MP3. Depois, surgiram outros programas com esse mesmo
propósito, como o Morpheus e o Kazaa, e também o Emule e o Ares Galaxy. Foram
criados ainda outros sistemas e protocolos de transferência de dados, como o torrent.
Esses sistemas tiveram de enfrentar processos judiciais por conta dos direitos autorais.
Muitos músicos independentes utilizam as redes P2P para distribuir suas músicas
legalmente. No entanto, usuários comuns também fazem o mesmo com conteúdo cujo
direito é de gravadoras ou de outras pessoas. Outro problema é que nem sempre esses
sites são confiáveis, e os downloads podem favorecer a disseminação dos famosos “vírus”.

A construção colaborativa de conteúdos


na internet
O cenário de inteligência coletiva modifica os sistemas tradicionais de aprendi-
zagem. Na escola, entre as tecnologias digitais de informação e comunicação,
destacam-se os softwares e ferramentas de colaboração. Eles visam à comu-
nicação e à organização da informação, de forma cooperativa.
Há diversas ferramentas na web para a construção colaborativa de conheci-
mento: os blogs, as listas de discussão, os fóruns, as redes sociais, as wikis, os chats,
etc. A partir da troca e da construção coletiva, formam-se novos conhecimentos.
Essas plataformas contribuem para a prendizagem colaborativa e a cons-
trução social do conhecimento. Afinal, elas se apresentam como espaços
de aprendizagem em rede e exigem habilidades mais complexas do que as
solicitadas pelos ambientes tradicionais de aprendizagem. O que faz dos am-
bientes colaborativos sistemas muito mais complexos, de acordo com Coutinho
10 Internet: colaboração e autoria

e Bottentuit Junior (2006), é o fato de serem muito mais interativos e menos


estruturados (engessados). Além disso, eles exigem habilidades sociais de
construção do conhecimento.
A teoria interacionista piagetiana cabe bem aqui para explicar a importância
da colaboração entre indivíduos na construção do conhecimento, o que justifica
atividades nessa linha. Para Piaget (1958), a colaboração na aprendizagem
representa uma evolução dos processos mentais de aprendizagem. Afinal,
esses processos evoluem conforme a colaboração e o intercâmbio entre os
indivíduos, e não a partir do seu isolamento.
Vygotsky (1991), outro teórico clássico da educação, também reforça a
importância de atividades colaborativas na escola. Ele considera que é por
meio da interação que o sujeito aprende, tendo acesso a ferramentas que
possibilitam a comunicação.
Apesar de os espaços colaborativos fomentarem a troca de conhecimentos
de forma não hierarquizada, assim como a livre expressão, Preece (2002)
alerta para a importância dos mediadores desses processos colaborativos. Aqui
entra a figura do docente. Ele é fundamental para solucionar conflitos que
podem surgir a partir dessa interação, para promover o diálogo e coordenar as
atividades, bem como para estimular a participação do grupo na construção de
saberes em conjunto. Nas atividades colaborativas — facilitadas pelo ambiente
web — todos recebem algo em troca a partir da interação.
Para entender melhor esse conteúdo, observe a Figura 1, a seguir. Ela traz
um exemplo que pode ser usado em sala de aula.

Figura 1. O site Nyah! Fanfiction reúne ficções criadas por fãs de animes, séries, filmes, etc.
Fonte: Nyah! Fanfiction (2018, documento on-line).
Internet: colaboração e autoria 11

O termo fanfiction designa uma narrativa ficcional que ganhou relevância


com as tecnologias digitais colaborativas na web. As plataformas de fanfiction
são escritas e divulgadas por fãs em blogs, sites ou outros canais. Os fãs
formam novas narrativas e histórias a partir da apropriação de personagens e
enredos provenientes de produtos midiáticos — como filmes, séries, histórias
em quadrinhos e jogos. O objetivo é ampliar narrativas e formar uma rede
colaborativa dos fãs com as obras. Assim, se forma uma comunidade de
fãs que colaboram mutuamente para formar novas histórias e compartilhar
informações relacionadas ao “universo” da obra original.
A partir de diversos sites (como o Nyah! Fanfiction), o professor pode
organizar atividades colaborativas relacionadas ao desenvolvimento de nar-
rativas em conjunto. Assim, grupos de alunos colaboram para formar novas
histórias e compartilham informações sobre a obra. Com isso, eles desenvol-
vem habilidades ligadas à colaboração, à criatividade, à escrita, à leitura e
à comunicação. Além disso, exercitam os seus conhecimentos a respeito de
direitos autorais, por exemplo.

BRANCO, M. Software livre e desenvolvimento social e econômico. In: CASTELLS, M.;


CARDOSO, G. (Org.). A sociedade em rede: do conhecimento à ação política. Belém:
Imprensa Nacional, 2005.
BRASIL. Lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação
sobre direitos autorais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/L9610.htm>. Acesso em: 14 out. 2018.
COUTINHO, C. P. BOTTENTUIT JUNIOR, J. B. A complexidade e os modos de aprender na
sociedade do conhecimento. In: COLÓQUIO DA SECÇÃO PORTUGUESA DA ASSOCIA-
TION FRANCOPHONE INTERNATIONALE DE RECHERCHE SCIENTIFIQUE EN EDUCATION,
14., Lisboa, 2006. Anais... Lisboa: Universidade de Lisboa, 2006. Disponível em: <http://
repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/6501>. Acesso em: 14 out. 2018.
LEMOS, A. Cibercultura, cultura e identidade. Em direção a uma “Cultura Copyleft”? Con-
temporânea, Salvador, v. 2, n. 2, p. 9-22, dez. 2004. Disponível em: <http://www.portal-
seer.ufba.br/index.php/contemporaneaposcom/article/viewFile/3416/2486>. Acesso
em: 14 out. 2018.
LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo:
Loyola, 2003.
LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
12 Internet: colaboração e autoria

NYAH! FANFICTION. [Site]. [2018]. Disponível em: <https://fanfiction.com.br/>. Acesso


em: 14 out. 2018.
PIAGET, J. A psicologia da inteligência. 4. ed. Rio de Janeiro: Fundo da Cultura, 1958.
PREECE, J. Supporting community and building social capital. Communications of the
ACM, New York, v. 45, n. 4, p. 37-39, abr. 2002.
SILVA, E.; TOMAÉL, M. I. Fontes de informação na Internet: a literatura em evidência.
In: TOMAÉL, M. I.; VALENTIM, M. L. P. (Org.). Avaliação de fontes de informação na Inter-
net. Londrina: Eduel, 2004, p. 1-17.
VYGOTSKY, L. S. A construção social da mente. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Conteúdo:
Dica do professor
Quais aspectos devem ser considerados quanto à avaliação de fontes na Internet? Como considerar
uma fonte de informação relevante e confiável? Saber responder essas questões é fundamental
para o seu dia a dia.

Nesta Dica do Professor, você vai ver um pouco mais sobre a importância de conhecer as fontes
dos conteúdos, além da verificação da credibilidade das informações.

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Exercícios

1) O que é inteligência coletiva?

A) Um processo em que a interatividade é fator fundamental nas aulas do ensino tradicional.

B) Um tipo de inteligência que reforça o uso da robótica na educação, unindo tecnologias de


inteligência artificial.

C) Uma inteligência voltada para o uso proficiente das tecnologias da informação e


comunicação.

D) O processo colaborativo em rede, no qual os usuários contribuem com informações e


conhecimentos a partir das tecnologias digitais.

E) O processo que se refere ao uso inteligente das tecnologias mais atuais da web 3.0.

2) Sobre os cuidados quanto aos direitos autorais, é possível citar:

A) tendo acesso a uma obra paga, automaticamente o autor concede o direito de livre
distribuição.

B) em um trabalho acadêmico, é possível citar trechos literais, desde que os autores utilizados
estejam indicados na lista de bibliografia.

C) o conteúdo pode ser reutilizado e modificado, desde que o autor tenha autorizado por meio
da licença Creative Commons.

D) o autor só tem direito sobre a sua obra a partir do momento em que ele limita o seu acesso.

E) um livro ou um CD de músicas não pode ser comercializado; porém, podem ser


comercializadas fotografias de qualquer pessoa disponíveis na Internet, mesmo sem a
permissão destas.

3) Sobre fonte secundária de informação, é correto afirmar que:

A) esta diz repeito a uma fonte que sofreu edições, alterações. Ela pode trazer o conteúdo
original, mas com modificações.
B) esta diz respeito a conteúdos originais, ou seja, que não sofreram edições.

C) são exemplos desse tipo de fonte as enciclopédias e os classificados, assim como as listas de
orientação ao usuário.

D) são fontes que trazem conteúdos mesclados, originais e editados.

E) são fontes totalmente confiáveis, uma vez que trazem conteúdos originais, sem recortes e
edições.

4) Sobre fanfictions, é possível afirmar que:

A) são plataformas de conteúdo colaborativas, nas quais os usuários desenvolvem notícias em


conjunto.

B) existem com o intuito de reunir comunidades para cursos on-line.

C) são comunidades com usuários que vendem obras de suas séries ficcionais preferidas.

D) são sites para donwload gratuito de filmes, séries e livros de ficção.

E) são plataformas de conteúdo colaborativas, as quais reúnem fãs de séries, livros, filmes, entre
outros, os quais criam e compartilham novas narrativas a partir das obras originais.

5) Sobre o movimento copyleft, é possível afirmar que:

A) é um movimento que defende o acesso e o uso livre de informação na Internet, e que acaba
com o problema do plágio, o qual deixa de ser crime.

B) cria-se um mecanismo maior de proteção de obras, o qual impede totalmente a sua


reutilização.

C) o autor perde os direitos legais de uso e distribuição de sua obra.

D) abre-se espaço para a criação de mecanismos legais de recombinação de conteúdos,


conhecidos como licenças abertas.

E) acaba com os mecanismos de defesa do autor que se vê vítima de pirataria.


Na prática
Existem diversos projetos com objetivos educacionais que se favorecem das tecnologias em rede e
da construção colaborativa, os quais podem ser muito utilizados em sala de aula.

Veja a seguinte situação:

Todos os anos a professora Flávia, da disciplina de Literatura, se depara com o mesmo problema: a
dificuldade que seus alunos têm de ler as obras clássicas da literatura brasileira.

Pensando em despertar o interesse dos alunos para a história da obra, em vez de solicitar que os
alunos lessem as obras e fizessem suas fichas de leitura individuais, ela propôs algo diferente,
utilizando o potencial das tecnologias colaborativas e a construção de conhecimento de maneira
cooperativa.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!


Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Plataforma Skillshare
A seguinte plataforma oferece cursos on-line a partir de conhecimentos práticos produzidos por
comunidades de profissionais, em diversas áreas. Os cursos englobam projetos colaborativos e
aprendizado a partir da interação.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

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