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AMBIENTES DIGITAIS
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Introdução
Ser um usuário das redes sociais pode ser fundamental para compreender as
possibilidades de atuação para um social media em uma instituição. Entender como
funcionam as mídias é uma parte importante para o processo de conhecimento dos
profissionais de comunicação.
Entretanto, devemos ver as redes sociais com positividade ou podemos esperar que
elas fortaleçam pontos negativos em nossos comportamentos?
Nesta aula, veremos, por exemplo, que alguns autores, como Pierre Lévy, defendem
que a internet pode contribuir para democratizar a informação, enquanto outros
autores, como Dominique Wolton, possuem perspectivas mais pessimistas, alegando
que as redes sociais podem funcionar como “bolhas”, tornando as pessoas menos
tolerantes com as diferenças.
Para entender como os ambientes digitais se modificaram ao longo do tempo e quais
suas tendências atuais mais marcantes, é preciso conhecer um pouco da história
dessas tecnologias e dos seus usos sociais. É importante tomar como ponto de partida
que as diferentes tecnologias sempre fizeram parte da vida humana. Desde tempos
mais remotos, os humanos usam artefatos e saberes que, reunidos, conformam
“tecnologias”. Hoje, mais especificamente, são as tecnologias digitais que dominam o
cenário da vida ocidental. Delas dependem transações bancárias, sistemas
operacionais diversos, redes de sociabilidade, relações comerciais e de trabalho e
trocas afetivas.
Mas como essa história se inicia? Quais usos foram dados para essas tecnologias?
Como se estrutura a infraestrutura desse ciberespaço? Como o “digital” está presente
em nosso dia a dia? Como ele afeta nossa subjetividade e percepção do mundo?
Utilizaremos os capítulos 1 e 2 do livro Cibercultura, de Joselmo Rezende (2020), para
guiar nossa reflexão. O capítulo 1 nos dá a base para iniciar a discussão sobre as
intensas transformações do que se convencionou chamar de “internet” e seus modos
de apresentação, ou seja, a Web 1.0, Web 2.0 e Web 3.0. São trajetórias que tratam
dos avanços tecnológicos produzidos na relação com as pessoas que usam tais
tecnologias. A interação dos sujeitos com as interfaces das plataformas e dos
aplicativos, mídias e serviços propicia que novas demandas e ajustes sejam feitos,
gerando uma contínua mudança. Esse percurso nos ajuda a compreender melhor
como tais evoluções tecnológicas mudaram nosso cotidiano de forma radical. Em
seguida, o capítulo 2 da obra de Rezende (2020) se aprofunda em como as tecnologias
digitais modificaram não só nossas relações sociais como até mesmo a percepção de
nós mesmos e da comunicação.
Neste material, vamos elencar quatro tópicos de análise:
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A internet, o ciberespaço e a cibercultura.
No primeiro tópico, vamos estudar um pouco a história da internet, buscando
distinguir os conceitos de ciberespaço e cibercultura. São conceitos próximos, mas
que tratam de focos e dimensões diferentes.
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A internet chegou aos lares na década de 1980 e era lenta, sua conexão caía toda
hora, além de ser pouco interativa. Na fase posterior, já por volta dos anos 1990, com
os smartphones, tudo iria mudar. Através desses aparelhos com alta tecnologia
acumulada, seria possível acessar documentos, mensagens e imagens de forma
individual, em qualquer lugar e com alta velocidade.
Figura 1 - Ilustração para se pensar nos computadores típicos do final do século XX.
Fonte: Freepik (2023). https://br.freepik.com/vetores-gratis/ilustracao-do-conceito-de-computador-
retro_32318415.htm#query=computador%20antigo&position=3&from_view=search&track=ais
O conceito de ciberespaço foi criado por um escritor de ficção científica. Isso mesmo:
não é a primeira vez que a arte anuncia realidades que só vão ganhar materialidade
anos depois. Gontijo et al. (2007) afirma que o escritor William Gibson, em seu livro
Neuromancer, de 1984, definia o conceito como um território não físico, onde as redes
de computadores armazenavam e faziam circular um número quase infinito de
informações. Assim, o ciberespaço marca o encontro de humanos em interação direta
com tecnologias, modificando seus princípios, condutas e estruturas. É um espaço de
trocas simbólicas, de práticas e de produção de ideias e narrativas.
O ciberespaço também será chamado de realidade virtual, comunicação mediada por
computador, cibercultura, cultura da conectividade, entre tantos nomes. Mas observe
atentamente que esses conceitos não são idênticos: cada um traz uma teoria
embutida.
Aqui vale discutir um pouco mais a ideia do “virtual”, pois essa era a conceituação
adotada para falar desse “mundo da internet”. Usada numa época em que o universo
digital começou a se apresentar para as pessoas, havia toda uma reflexão sobre o
poder ter uma “vida virtual”, assumindo-se qualquer identidade – a ideia era a de dois
mundos paralelos, que mal se tocavam. O virtual era associado a algo que não era
“real”, mas, sim, simulado de forma eletrônica, restrito à cibernética.
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Hoje, por exemplo, alguns autores evitam usar o termo “virtual”, porque entendem que
as fronteiras entre o não presencial e o presencial estão muito misturadas. Com tantas
tecnologias de imagens, por exemplo, é possível tornar presentes experiências,
emoções e informações ao mesmo tempo que estão acontecendo. São experiências
“reais”, corporificadas e presentes.
Já o termo “cibercultura” envolve “tudo que diz respeito à cultura digital, tanto no
aspecto técnico quando ligado à cultura, à religião, ao comportamento humano e
principalmente ao uso e mudança da tecnologia [...]” (REZENDE, 2020, pág. 6).
você sabia?
Se a internet é uma base tecnológica e material, o ciberespaço
trata de um “lugar” que não é físico, onde se dão as relações
sociais e os modos como essa comunicação se realiza na
ambiência digital, ou seja, é um espaço relacional presente, sem
ser exatamente presencial. Já a cibercultura abarca tanto os
aspectos técnicos quanto tudo o que envolve o comportamento
humano, suas representações, suas opiniões, seus valores etc.
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de informações, códigos e sistemas, disponibilizando-os para os diferentes
computadores que estejam conectados à internet.
A web, ou World Wide Web, é um termo que designa a teia de páginas contendo
textos, imagens, sons etc. Trata-se de um amplo sistema de informações ligadas
através de hipermídia. O termo “web” também passou a ser sinônimo da própria
internet, isto é, da rede mundial de computadores. Para acessar uma web, é preciso
um navegador (Google Chrome, Safari, Mozilla Firefox, Internet Explorer etc.), em que
são visualizados os conteúdos disponíveis.
A web também contém a história desses avanços tecnológicos processuais e históricos.
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uma interface mais fácil. Assim, o ambiente online se tornou muito mais
dinâmico, permitindo conversas e informações específicas de dados
diversos de pessoa para pessoa. Além de ser a época do surgimento das
A
redes sociais, outra característica marcante foi a de que os usuários
Web
passaram a ser estimulados a colaborar para a organização, a produção e a
2.0
circulação de conteúdos. Ou seja, isso muda profundamente a relação com
a informação e a comunicação, afinal agora qualquer pessoa pode produzir
seus próprios conteúdos e torná-los públicos. O exemplo mais emblemático
é a Wikipédia, uma enciclopédia online escrita a partir da colaboração dos
internautas. A plataforma YouTube é outro exemplo interessante, com o
convite apelativo para qualquer pessoa produzir seus próprios vídeos e os
transmitir online. Já o Facebook, criado em 2004, estou no mundo ocidental
como uma das plataformas de redes sociais mais conhecidas.
Alguns autores já falam da Web 4.0, focando a ideia da internet das coisas (IoT, do
inglês Internet of Things) e uma maior integração entre os serviços já existentes
disponibilizados pelas empresas.
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você sabia?
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios,
em 2021, o número de domicílios com acesso à internet no Brasil
chegou a 90% (IBGE, 2021). Em termos absolutos, são 65,6
milhões de domicílios conectados, isto é, 5,8 milhões a mais do que
em 2019. Os brasileiros usuários de internet com mais de 10 anos
de idade já formam um contingente de 155,7 milhões. Além disso,
de acordo com uma pesquisa realizada em 2021 pelo Centro
Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da
Informação (CETIC, 2021), 93% das crianças e adolescentes
brasileiros entre 9 e 17 anos de idade usam a internet.
Fontes: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2021)
e TIC Kids Online Brasil (CETIC, 2021).
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era necessário sair de casa, comprar ingressos e ir a um local demarcado e num
horário definido. As tecnologias digitais permitiram que qualquer ator, cantor ou artista
plástico veiculasse suas obras sem depender de uma gravadora, emissora, rádio ou
galeria. Há uma autonomia dessa produção cultural que nunca se viu antes, e, por
outro lado, há uma igual liberdade de acesso dessa plateia.
A vida cotidiana, mesmo nos seus aspectos mais íntimos, também se modificou. A
busca por parceiros(as) afetivos ou sexuais, o aprendizado sobre a sexualidade e
sobre cuidados corporais agora são mediados por tecnologias digitais. A relação e
percepção de nossos corpos também se alterou, visto que aplicativos dos mais
diversos controlam os fluxos e dinâmicas corporais. Há aplicativos para controlar a
ingestão de água e de calorias, a prática de exercícios, o sono, o fluxo menstrual, entre
consideravelmente outros. Somos cada vez mais “ciborgues”, ou seja, nossos corpos e
subjetividades interagem de tal forma com essas tecnologias que surgiram a tê-las
como uma prática corporificada.
caso
O quanto seu cotidiano é mediado pela internet? Você já reparou
em algumas coisas que você faz através da internet? Entre lazer,
comunicação, estudo e namoro, quantas horas você gasta “na
tela”?
Você sabia que vários estudos revelaram que o uso excessivo da
internet pode causar consequências negativas para a saúde, como
insônia, ansiedade, dificuldade de atenção, sentimento de solidão,
entre outros?
O Brasil é um dos países com uma média de 10 horas diárias de
uso da internet – uma das mais altas do mundo!
Você conhece alguém que já deixou de sair, namorar, estudar ou
até dormir para ficar acessando as redes e os aplicativos? Se
respondeu positivamente, essa pessoa pode estar experimentando
o que alguns autores chamam de “uso compulsivo” ou “abusivo” da
internet.
Conclusão
Como verificamos nesta unidade,
passamos a coexistir num espaço não
presencial, digital, ou seja, num
ciberespaço. Nesse novo habitat,
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humanos, máquinas, informação e dados
se articulam de forma sinérgica e
dinâmica, modificando intensamente a
vida social.
Esse território, em que as fronteiras do virtual e do presencial se entrelaçam, demarca
também regras, modos de interação e de comunicação, conformando uma nova
cultura, uma cibercultura. E, como qualquer cultura, ali se conectam códigos, valores e
práticas capazes de orientar comportamentos, definir identidades e delinear
comunidades de pertencimento (ou de exclusão).
Analisamos também como os ambientes digitais possuem uma história e um processo
de intensas modificações tecnológicas: desde uma internet estática, de interface nada
amigável, até uma web veloz, interativa, vinculante e onipresente em nosso cotidiano.
Seguimos nesse percurso inacabado, em transição, para um presente-futuro que
marca o estágio de nossas identidades e agências entre humanos e inteligências
artificiais.
Por fim, estudamos como as tecnologias digitais atuam de forma onipresente na vida
das pessoas e das instituições e organizam sistemas operacionais macroeconômicos e
das economias nacionais, sendo a base administrativa dos órgãos de governo. Do
mesmo modo, as tecnologias também mudam a gramática dos afetos e da
sexualidade, além de fazerem a vigilância dos corpos em seus fluxos e dinâmicas.
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