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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SERGIPE

   
ACÓRDÃO: 202227044
RECURSO: Agravo de Instrumento
PROCESSO: 202200701173
RELATOR: RUY PINHEIRO DA SILVA
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE JOSE RENILSON SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE JOSE RILVAN SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE JOSE RIVELINO SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE MARIA LUZIA SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE MARIA RENATA SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE MARIA RITA SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE MARIA RIVALDA SANTOS SOUZA SILVA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE RAIMUNDO SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE RENIVALDO SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE RENIVAN SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE RIVALDO SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
Advogado: MARCELO AUGUSTO BARRETO
AGRAVANTE SONIA APARECIDA SANTOS SOUZA
DE CARVALHO
ENERGISA SERGIPE - DISTRIBUIDORA DE
AGRAVADO Advogado: DANIEL SEBADELHE ARANHA
ENERGIA S/A

EMENTA
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO -
  CUMPRIMENTO DE SENTENÇA –
DEPÓSITO INTEGRAL DO
MONTANTE PERSEGUIDO A
TÍTULO DE CAUÇÃO PARA
OFERECIMENTO DE
IMPUGNAÇÃO – GARANTIA EM
JUÍZO - PAGAMENTO REALIZADO
DE FORMA VOLUNTÁRIA NÃO
VERIFICADO - OBRIGAÇÃO NÃO
SATISFEITA - APLICAÇÃO DE
MULTA DE 10% E HONORÁRIOS
RECURSAIS EM 10% QUE SE
IMPÕE, EM CONFORMIDADE COM
A DICÇÃO DO ARTIGO 523 §1º
DO CPC – PRECEDENTES
JURISPRUDENCIAIS - REFORMA
DA DECISÃO FUSTIGADA -
RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO - DECISÃO UNÂNIME.

ACÓRDÃO
 
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os integrantes do Grupo II, da Primeira
Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, por unanimidade, em CONHECER DO
RECURSO para PROVÊ-LO, em conformidade com o relatório e voto constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.

Aracaju/SE, 22 de Agosto de 2022.

DES. RUY PINHEIRO DA SILVA


RELATOR

RELATÓRIO
 
Versam os presentes autos sobre Agravo de Instrumento interposto por JOSE RENILSON SANTOS
SOUZA E OUTROS, em face de decisão proferida nos autos do processo de origem tombado sob o nº
201975100247, ajuizado por ENERGISA SERGIPE - DISTRIBUIDORA DE ENERGIA S/A, em face de
decisão proferida nos seguintes termos:

“Portanto, entendo que não há de se aplicar o entendimento do STJ ao caso em tela, sendo
verdadeiro exemplo de distinguishing, pelo que não reconheço a incidência da multa e dos
honorários advocatícios previstos no art. 523, §1º do CPC.

Estabelecida essa primeira questão, mister se faz a liberação da quantia controvertida, que diz
respeito à correção monetária e aos juros devidos da data da atualização até a data do efetivo
depósito, porquanto transitado em julgado o Agravo de Instrumento nº 201900726360.

Sendo assim, expeça-se alvará eletrônico com resgate do valor total depositado nos autos,
referente à quantia outrora controvertida, em nome da Senhora Mara Rita Santos Souza, por si
e em representação aos demais Exequentes, e/ou de seus causídicos bastante constituídos,
caso tenham poderes na procuração para tanto.

Com o saque devido e, ausentes novas diligências, certifique-se e arquivem-se os autos com
as cautelas de praxe.

Intimações necessárias.

Cumpra-se.”.

Em suas razões recursais, sustentam os recorrentes a incidência da multa e honorários do art. 523, § 1.º
do CPC, sobre o valor incontroverso do débito quando do depósito.

Asseveram que não houve pagamento espontâneo da “execução (nem o valor cheio e nem o que
entendia devido), já que ela fez um depósito judicial de todo o débito cobrado, a título de caução, com o
intuito de garantir o juízo para impugnar”.

Prosseguem afirmando que “Se a executada pretendia impugnar a execução por excesso, para se isentar
da multa e honorários do 523 deveria ter feito dois depósitos: um, a título de pagamento, do valor
incontroverso; outro, a título de caução, sobre o excesso que iria alegar”.

Dentre outras considerações, requerem o total provimento do agravo.

Não houve apreciação de liminar, diante da ausência de pedido de efeito suspensivo.

Contrarrazões apresentadas em 22/02/2022.

Parecer da Procuradoria de Justiça emitido em 07/03/2022, opinando apenas pelo conhecimento recursal.
 

É o relatório.
VOTO
 

Devidamente instruído com os documentos aos quais se refere o art. 1.017 do CPC, recebo o presente
Recurso de Agravo na sua modalidade por instrumento, por entender que se trata de decisão
interlocutória prevista no art.1.015 do Código de Processo vigente.

Defendem os agravantes a necessidade de correção da decisão interlocutória combatida, na medida em


que não aplicou a multa processual prevista no § 1º do art. 523 do CPC, além de deixar de fixar
honorários advocatícios.

O art. 523 do Código de Processo Civil traz o seguinte regramento, in verbis:

“Art. 523.  No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de


decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a
requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15
(quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

§ 1o Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa
de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento”.

Vê-se que o mencionado dispositivo traz a previsão de pagamento da multa e honorários quando não
ocorrer o pagamento voluntário.

Assim, deve-se analisar se a sanção efetivamente incide na hipótese em apreço e basta verificar a
atuação do recorrido para constatar que este efetuou o pagamento com a clara finalidade de garantir o
juízo e impugnar a execução, obtendo êxito no seu intento.

Passo a aferir se é devida a multa por não pagamento voluntário.

No caso em comento, não houve o pagamento voluntário do débito no prazo previsto no artigo
523 do CPC, mas a garantia do juízo para a interposição de impugnação ao cumprimento de
sentença, conforme, inclusive, ou seja o depósito integral do montante perseguido a título de caução
para oferecimento de impugnação em 09/04/2019 (fl. 211), conforme afirma em petição de fls. 205/206.

Sabe-se que a satisfação da obrigação creditícia somente ocorre quando o valor a ela correspondente
ingressa no campo de disponibilidade do exequente. Permanecendo o valor em conta judicial, ou mesmo
indisponível ao credor, por opção do devedor, mantém-se o inadimplemento da prestação de pagar
quantia certa.

Portanto, não houve pagamento, sendo devida a multa sobre o valor do débito/condenação.

 
A propósito:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ -


REJEIÇÃO, EM PARTE, À IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA PELO JUÍZO A QUO – EXCESSO
DE EXECUÇÃO - INCIDÊNCIA do ART. 523, §1º, do CPC - AUSÊNCIA DE PAGAMENTO VOLUNTÁRIO –
DEPÓSITO REALIZADO A TÍTULO DE GARANTIA DE JÚIZO - MULTA DE 10% SOBRE O VALOR DA
CONDENAÇÃO, MONTANTE TOTAL DEVIDO – HONORÁRIOS FIXADOS NESTE PERCENTUAL –
PRECEDENTES DO STJ – DECISÃO MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.        (Agravo de
Instrumento Nº 202000713576 Nº único: 0004883-22.2020.8.25.0000 - 1ª CÂMARA CÍVEL, Tribunal de
Justiça de Sergipe - Relator(a): Iolanda Santos Guimarães - Julgado em 07/08/2020)”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – DECISÃO QUE DEIXOU DE ACOLHER A


IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA APRESENTADA PELO BANCO, ORA AGRAVADO –  PRAZO
– TERMO INICIAL – ARTIGO 525 DO CPC – GARANTIA DO JUÍZO INSIGNIFICÂNCIA –INTEMPESTIVIDADE
– NÃO CONFIGURADA – O MERO DEPÓSITO JUDICIAL DO QUANTUM EXEQUENDO, COM FINALIDADE DE
PERMITIR A OPOSIÇÃO DE IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, COMO GARANTIA, NÃO
PERFAZ ADIMPLEMENTO VOLUNTÁRIO DA OBRIGAÇÃO – PRECLUSÃO LÓGICA – DESCABIMENTO - O
JUÍZO SINGULAR APONTOU ERRO NOS CÁLCULOS APRESENTADO POR INCLUIR VALORES DA CONTA
CORRENTE, NÃO ABRANGIDOS PELO TÍTULO JUDICIAL, O QUAL SE LIMITOU À ANÁLISE DOS
CONTRATOS Nº 032.277.723, 001.712.076 E 001.708.887 – CONSTATADA QUAISQUER
INCONGRUÊNCIAS NOS CÁLCULOS APRESENTADOS PELAS PARTES, PODE O JUÍZO SINGULAR REQUER A
IMEDIATA APURAÇÃO DE VALORES, PARA CORRIGIR, EVENTUAIS ERROS, ACASO EXISTENTES –
PRECEDENTES DO STJ - MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. 1. (...) 3. Então, mesmo que o
executado realize o depósito para garantia do juízo no prazo para pagamento voluntário, o prazo para a
apresentação da impugnação somente se inicia após transcorridos os 15 (quinze) dias contados da
intimação para pagar o débito, previsto no art. 523 do CPC/15, independentemente de nova intimação.
4. Na hipótese dos autos, o executado foi intimado para os termos do art. 523 do CPC, em 21/07/2020,
fls. 107/108, encerrando-se o décimo quinto dia útil para pagamento voluntário em 13/08/2020. Em
27/07/2020 veio o executado nos autos e realizou o depósito da quantia excutida, fl. 110. Ocorre que,
independentemente, da garantia do juízo, o dia seguinte ao encerramento do prazo para pagamento
voluntário é o termo inicial do prazo para oferta de impugnação. Então considerando que a impugnação
ao cumprimento de sentença foi protocolizada em 24/08/2020, fls. 168/177, ou seja, dentro do prazo de
15 dias após o término do prazo de 15 dias para pagamento, não há que se falar em intempestividade.
5. (...) 6. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou o entendimento no sentido de que
eventuais erros materiais nos cálculos apresentados para o cumprimento de sentença não estão sujeitos
à preclusão, sendo possível ao magistrado encaminhar aos autos à perícia judicial, para apurar se os
cálculos estão em conformidade com o título da execução ou não. 7. Recurso Conhecido e Desprovido.
(Agravo de Instrumento Nº 202100701528 Nº único: 0000516-18.2021.8.25.0000 - 1ª CÂMARA CÍVEL,
Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): Ruy Pinheiro da Silva - Julgado em 14/10/2021)”

“AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE SENTENÇA – DEPÓSITO DA QUANTIA DEVIDA


PARA FINS DE GARANTIA DO JUÍZO E OFERECIMENTO DE IMPUGNAÇÃO - INTELIGÊNCIA DO
ART. 523, §1º DO CPC – PERTINENTE A FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E DA
MULTA NOS TERMOS DA LEI PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA TERMINATIVA QUE
DEVE SER REFORMADA NO PONTO. RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO –
DECISÃO UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 202100813731 Nº único: 0005159-19.2021.8.25.0000 -
2ª CÂMARA CÍVEL, Tribunal de Justiça de Sergipe - Relator(a): José dos Anjos - Julgado em
10/09/2021)”

Assim, considerando que o valor da dívida não foi pago, e que houve o depósito de quantia como
garantia de juízo, entendo que o percentual de 10% da multa deve incidir sobre o montante total da
dívida.
 

E o mesmo raciocínio se aplica para os honorários advocatícios, tal como anota claramente o atual artigo
523, §1º do CPC.  

Isto posto, voto pelo conhecimento e provimento do agravo, determinando a incidência do §1º do artigo
523 do CPC.

É como voto.

Aracaju/SE, 22 de Agosto de 2022.

 
DES.
RUY PINHEIRO DA SILVA
RELATOR

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