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01/05/2023
15:03:17

Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

DECISÃO OU DESPACHO

Dados do Processo:
Número:
202300120446
Classe:
Procedimento Comum Cível
Fase: Situação:
DISTRIBUÍDO ANDAMENTO Órgão Julgador:
Escrivania: Impedimento/Suspeição: TRIBUNAL PLENO
Escrivania da Câmara Criminal e Tribunal Pleno NÃO Distribuido Em:
Segredo de Justiça: Processo Sigiloso: 01/05/2023
NÃO NÃO
Tipo do Processo:
Eletrônico
Número Único:
0006036-85.2023.8.25.0000

Partes do Processo:
Tipo Nome Representante da Parte
Procurador Estadual: LAÍS NUNES DE OLIVEIRA
Requerente ESTADO DE SERGIPE
- 636-B/SE
SIND TRAB EDUC BAS RED OF DE ENS DO
Requerido
EST/SE - SINTESE

DESA. ELVIRA MARIA DE ALMEIDA SILVA


(PLANTONISTA): - Trata-se de Ação
Ordinária com Pedido de Antecipação de
Tutela interposta pelo ESTADO DE
SERGIPE/SE com o objetivo de suspender o
movimento grevista deflagrado pelo SINTESE -
Sindicato dos Trabalhadores em Educação
Básica da rede Oficial do Estado de Sergipe nas
escolas estaduais nos dias 02, 03, 04 e 05 de
:
maio de 2023.

Disse que o requerido “é entidade de caráter


sindical, representativa dos profissionais em
educação do serviço público estadual, assim
compreendidos, nos termos do art. 1º do
correspondente estatuto, os que integram a
carreira do Magistério Público, ativos e inativos,
ainda que temporariamente contratados.”

Relatou que “em assembleia geral unificada,


ocorrida em 27 de abril de 2023, a categoria
deliberou pela deflagração de greve geral, com
paralisação das escolas estaduais nos dias 02,
03, 04 e 05 de maio. A decisão, entretanto, não
foi objeto de comunicação oficial às autoridades
públicas.”

Informou que a greve anunciada pelos


servidores da educação, em razão da ausência
de aquiescência da proposta de reajuste,
consubstancia manifesto abuso de direito, em
razão de desrespeito ao formalismo
procedimental mínimo exigido pela legislação de
regência; ausência de ajuste com empregador
acerca das equipes de empregados para regular
:
continuidade da prestação do serviço público;
ausência de regulamentação estatutária
específica para deflagração da greve; e, ainda,
ausência de justa causa.

Discorrendo, com base em legislação e


jurisprudência, sobre os requisitos necessários
para concessão da medida antecipatória,
pugnou pela “antecipação liminar e inaudita
altera pars dos efeitos da tutela, sob pena de
multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais),
a fim de se determinar a INIBIÇÃO do início
do movimento paredista, forte na probabilidade
do argumento em torno da abusividade do
exercício do direito de greve, bem como da
aptidão potencial do movimento para causar
danos irreversíveis ao Estado de Sergipe e a
toda sociedade sergipana.” No mérito, requereu
a procedência do pedido inicial, a fim de que
seja declarada a abusividade da greve
deflagrada.

Juntou documentos, tendo, posteriormente,


aditado a inicial para informar a ocorrência de
comunicação oficial na noite do dia 28.04.2023
(sexta-feira).
:
É o breve relato. DECIDO.

A concessão da medida liminar está


condicionada à presença dos requisitos
específicos, quais sejam, o fumus boni iuris e
o periculum in mora. Em linhas gerais, o
primeiro, restringe-se à relevância dos motivos
em que se assenta o pedido na exordial,
enquanto que o segundo, diz respeito à
possibilidade da ocorrência de dano irreparável
ao direito do requerente, fazendo com que haja
sua irreversibilidade, ainda que este seja
reconhecido na decisão de mérito.

Releva notar, que a concessão da medida em


deslinde ficará condicionada à existência
concomitante desses dois pilares, caso
contrário, será indeferida.

Pois bem.

De início, devo dizer que inobstante a


inexistência de dispositivo legal específico para
:
reger a matéria aqui discutida, o STF firmou o
entendimento, nos mandados de Injunção
670/ES e 708/DF, da Relatoria do Ministro
Gilmar Mendes, de que deve ser aplicada aos
servidores públicos a disciplina contida na Lei
7.783/89, que regula o direito de greve dos
empregados em geral na hipótese dos
denominados "serviços essenciais".

Na referida lei, destacam-se os dispostos nos


artigos 9º e 11, segundo os quais, em caso de
greve, os sindicatos, os trabalhadores e os
empregadores ficam obrigados, de comum
acordo, a garantir, durante a greve, a prestação
dos serviços indispensáveis ao atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade.

Com efeito, nessa linha de raciocínio, importa


anotar que a falta do formalismo procedimental
mínimo exigido pela legislação de regência e,
ainda, a ausência de ajuste com empregador
acerca do quantitativo de servidores indica,
embora reconheça o direito de greve
estabelecido, tal como consagrado na
Constituição Federal, que no caso em
concreto tal paralisação, inegavelmente,
comprometerá a ordem pública. Para
:
estes, entendo que deva ser aplicado
regime diferenciado, tal como estabelecido
na própria Constituição, a fim de que não
haja descontinuidade em sua prestação,
com sérios prejuízos à comunidade.

Assim, anoto que a conduta perpetrada


pelo Sindicato se revela neste primeiro
momento desproporcional, pelo fato de que
efetivamente negociações e tratativas de
mesma similaridade demandam tempo para
abrir caminho para a discussão das propostas
salariais.

Nessa linha argumentativa, cito os seguintes


julgados deste Tribunal de Justiça, a saber:

Constitucional e Processo Civil –


Ação Declaratória – Greve de
Servidor Público – Aplicação da Lei
Geral de Greve (Lei nº 7.783/89) –
Jurisprudência do TST e do STF –
Inobservância dos Requisitos
Previstos em Lei – Ilegalidade do
Movimento Grevista. I – A Suprema
Corte, ao se debruçar sobre os
:
Mandados de Injunção nos 670,
689, 708 e 712, não apenas
censurou o legislador ordinário pelo
menoscabo em relação à
conformação do inciso VII do art.
37, como também determinou que,
enquanto não sanada a deficiência
legislativa, dever-se-ia aplicar a Lei
Geral de Greve (Lei nº 7.783/89);
II – No presente caso, ante a
inobservância dos requisitos
referentes Assim, seja porque
não restou demonstrado
no Ofício encaminhado que
tenham se esgotado as
negociações com o Município,
ou que frustradas as
negociações antes de
deflagrada a greve; seja porque
não comprovada a regular
convocação para a realização da
Assembleia Geral, nem
tampouco do quórum alcançado
para deliberar especificamente
sobre a deflagração da greve,
ou porque não comprovada a
obediência do mínimo de
efetivo que deve permanecer
exercendo as suas atividades,
:
para garantir a continuidade na
prestação do serviço público
essencial, é de se reconhecer
ilegal a greve anunciada; III –
Declaratória procedente.
(Procedimento Comum Nº 201900134163
Nº único: 0010603-
04.2019.8.25.0000 - TRIBUNAL
PLENO, Tribunal de Justiça de
Sergipe - Relator(a): Ruy Pinheiro
da Silva - Julgado em 31/03/2023)

Constitucional e Processo Civil –


Ação Declaratória – Greve de
Servidor Público – Aplicação da Lei
Geral de Greve (Lei nº 7.783/89) –
Jurisprudência do TST e do STF –
Inobservância dos Requisitos
Previstos em Lei – Ilegalidade do
Movimento Grevista. I – A Suprema
Corte, ao se debruçar sobre os
Mandados de Injunção nos 670,
689, 708 e 712, não apenas
censurou o legislador ordinário pelo
menoscabo em relação à
conformação do inciso VII do art.
37, como também determinou que,
enquanto não sanada a deficiência
:
legislativa, dever-se-ia aplicar a Lei
Geral de Greve (Lei nº 7.783/89);
II – No presente caso, ante a
inobservância dos requisitos
referentes à comunicação
prévia no prazo legal, à
frustração das negociações
entre o Sindicato e o Poder
Público; à comprovação de que
a deflagração da greve foi
deliberada de acordo com o que
prevê o Estatuto do Sindicato;
de que houve a manutenção do
serviço público de saúde
através de um quantitativo
mínimo de profissionais, não se
mostra plausível a legalidade do
movimento grevista,
evidenciando-se indevida a
interrupção dos serviços
públicos prestados; III –
Declaratória procedente.
Decisão Unânime. (Procedimento
Comum Nº 202200125204 Nº
único: 0009657-27.2022.8.25.0000
- TRIBUNAL PLENO, Tribunal de
Justiça de Sergipe - Relator(a): Luiz
Antônio Araújo Mendonça - Julgado
em 18/01/2023)
:
A par do exposto, DEFIRO a medida liminar
vindicada, a fim de determinar a INIBIÇÃO do
início do movimento paredista, com paralisação
das escolas estaduais marcada para os dias 02,
03, 04 e 05 de maio de 2023, sob pena da
continuidade do mesmo implicar, em desfavor
do Sindicato, multa diária no valor de R$
3.000,00 (três mil reais) até o limite
máximo de R$ 30.000,00 (trinta mil reais)
neste primeiro momento, a fim de
resguardar o cumprimento desta decisão.

CITE-SE o requerido com urgência para, em


15 (quinze) dias, apresentar resposta aos fatos
alegados na inicial.

Intimem-se, com urgência, as partes desta


decisão.

Encerrado o regime de Plantão, encaminhe-se


os autos ao Relator originário para este tomar
as providências que entender cabíveis.

Aracaju/SE, 1º de maio de 2023.


:
Elvira Maria de Almeida Silva
Desembargador(a)
:

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