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PROCESSO Nº TST-Ag-AIRR-1022-85.2014.5.02.

0046
ACÓRDÃO
(7ª Turma)
GMAAB/tpn/

ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO APÓS A


VIGÊNCIA DA LEI 13.015/14 E ANTES DA
VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017.
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM
RECURSO DE REVISTA.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA
DO MINISTÉRIO PÚPLICO DO TRABALHO.
DISPENSA ARBITRÁRIA. DIREITO INDIVIDUAL
HOMOGÊNEO. O entendimento desta Corte
Superior é no sentido de que o Ministério
Público do Trabalho tem legitimidade para
ajuizar ação civil pública, não apenas para a
defesa de interesses difusos, mas também
para tutelar direito coletivo e individual
homogêneo, desde que demonstrada a
relevância social. Portanto, de acordo com a
ordem jurídica vigente, o Ministério Público do
Trabalho é parte legítima para ajuizar ação civil
pública visando proteger interesses individuais
indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e
coletivos. Na hipótese dos autos, observa-se
que o objeto da ação civil pública diz respeito a
direito que, por ostentar origem comum que
atinge todo o grupo de trabalhadores, e tratar
de questões atinentes à cobranças indevidas
por parte do sindicato, qualifica-se como
direito individual homogêneo, atraindo, assim,
a legitimidade do Ministério Público do
Trabalho para a causa. Precedentes. Decisão
regional que merece reforma. Agravo
conhecido e desprovido.
DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO.
Depreende-se do acórdão recorrido que a
reclamada descumpria de forma contumaz a
regra referente ao intervalo térmico, previso no
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artigo 253 da CLT, além de não computar o


tempo gasto com a troca de uniforme, o qual
era previsto em norma coletiva. A
descaracterização da conclusão de que as
normas sobre saúde, higiene e segurança do
trabalho eram reiteradamente descumpridas,
na instância extraordinária, como pretende a
recorrente, demandaria incursão investigativa
em conteúdo fático e probatório, alheio à
esfera de atuação do Tribunal Superior do
Trabalho, a teor da Súmula/TST nº 126. Por
outro lado, a iterativa, notória e atual
jurisprudência do Tribunal Superior do
Trabalho é a de que a violação das normas que
regulam a segurança, a saúde e a higiene do
trabalho, por meio da extrapolação da jornada
de trabalho, além do descumprimento do
intervalo previsto no artigo 253 da CLT,
caracteriza afronta intolerável aos valores
fundamentais da sociedade e justificam a
condenação do agente ofensor à reparação por
dano extrapatrimonial coletivo. Precedentes.
Agravo conhecido e desprovido.
DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. É cediço que a lei
não estabelece parâmetros objetivos para a
quantificação do valor da indenização por
danos extrapatrimoniais, devendo o Juízo, no
exercício do poder discricionário, ao analisar o
caso concreto, ficar atento quanto à
proporcionalidade e à razoabilidade. Nessa
linha, a tarifação do valor não deve ser tão alta
que resulte em enriquecimento sem causa,
nem inexpressiva a ponto de não mitigar a dor
da vítima ou desestimular o causador da
ofensa na reiteração da conduta lesiva. Nesse
contexto, a doutrina e a jurisprudência têm se
pautado em determinados critérios para a
fls. 3

mensuração do montante indenizatório, a


saber, intensidade da culpa e do dano e as
condições econômicas e sociais da vítima e do
ofensor. Sucede que, em certos casos,
entretanto, os valores arbitrados pelas
instâncias ordinárias têm se revelado ora
excessivamente módicos ora extremamente
elevados, justificando a excepcional
intervenção do Tribunal Superior do Trabalho
no controle do montante indenizatório. Na
hipótese dos autos, a Corte Regional manteve a
sentença que fixou em R$ 1.000.000,00 a
indenização por dano extrapatrimonial coletivo
em decorrência do descumprimento contumaz,
pela ré, de normas relativas sobre saúde,
higiene e segurança do trabalho. No entanto,
considerando-se o porte econômico da
reclamada, a repercussão pedagógica da
medida, e os parâmetros que têm sido
adotados por esta Corte Superior, verifica-se
que o montante arbitrado pelo Tribunal
Regional se revela excessivo, a balizar sua
revisão, a fim de garantir a observância dos
princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, conforme os arts. 5º, V, da
Constituição da República e 944 do CC. Agravo
conhecido e desprovido.
INDENIZAÇÃO POR DANOS
EXTRAPATRIMONIAIS. DISPENSA
IMOTIVADA. VALOR ARBITRADO. QUANTUM.
No que tange à existência do dano
extrapatrimonial, o v. acórdão regional,
soberano na análise do conjunto fático-
probatório, notadamente na análise da prova
944 do Código Civil, não havendo justificativa
para a excepcional intervenção desta. Agravo
de instrumento conhecido e desprovido.
fls. 4

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo em Agravo


de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-Ag-AIRR-1022-85.2014.5.02.0046, em que
é Agravante UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP e é Agravado MINISTÉRIO PÚBLICO
DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO.

O Ministro relator, por meio de decisão monocrática às págs.


349-354, negou seguimento ao agravo de instrumento da reclamada.
Dessa decisão, foi interposto agravo, com pedido de reforma da
decisão (págs. 360-376).
Foi apresentada contraminuta (págs. 381-388).
É o relatório.

VOTO

1 – CONHECIMENTO

Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade, conheço do


agravo.

2 – MÉRITO

Ao recurso de agravo de instrumento da reclamada foi denegado


seguimento, tendo constado daquela decisão que:

“O recurso de revista foi denegado pelos seguintes fundamentos:


[...] PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO/Formação,
Suspensão e Extinção do Processo/Condições da Ação /
Legitimidade Ativa.
Alegação(ões):
- violação do(a) Código de Processo Civil, artigo 18.
- divergência jurisprudencial indicada a partir da folha 226-
verso (1 aresto).
 Sustenta que se trata de direitos individuais e direitos
homogêneos sem repercussão social e, destarte, o Ministério
Público do Trabalho não tem legitimidade ativa.
 Consta do v. Acórdão:
"1. Incompetência material. Legitimidade ativa.
fls. 5

Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público


do Trabalho em face da Universidade de São Paulo - USP, visando
que esta se abstenha de efetuar dispensas em massa sem prévia
negociação com a respectiva entidade sindical da categoria
profissional, como aquela efetuada em janeiro de 2011 quando
foram dispensados de forma abrupta aproximadamente 270
empregados aposentados e com mais de 50 anos.
No Direito do Trabalho, a Ação Civil Pública disciplinada pela
Lei nº 7.347 de 24.07.1985, destina-se à defesa de interesses coletivos,
quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente
garantidos, conforme Lei Complementar nº 75/93, art. 83, inc. III,
verbis:
"Art. 83. Compete ao Ministério Público do
Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos
da Justiça do Trabalho:
(...)
III promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do
Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados
os direitos sociais constitucionalmente garantidos".
Nos termos dos ensinamentos do eminente Ministro Maurício
Godinho Delgado ,
"A despedida individual é a que envolve um único trabalhador,
ou que, mesmo atingindo diferentes empregados, não configura ato
demissional grupal, ou uma prática maciça de rupturas contratuais
(...); Já a despedida coletiva atinge um grupo significado de
trabalhadores vinculados ao respectivo estabelecimento ou empresa,
configurando uma prática maciça de rupturas contratuais (lay-off);
(...) A dispensa coletiva certamente deflagra efeitos no campo da
comunidade mais ampla em que se situa a empresa ou o
estabelecimento, provocando em decorrência disso, forte impacto
social; (...) A dispensa coletiva configura, sem dúvida, frontal agressão
aos princípios e regras constitucionais valorizadoras do trabalho, do
bem-estar, da segurança e da justiça social na vida socioeconômica,
além dos princípios e regras constitucionais que subordinam o
exercício da livre-iniciativa e da propriedade privada à sua função
social (...)".
No presente caso, a USP alegou na contestação que os
interesses a serem resguardados relacionam-se à dispensa de um
grupo de servidores que já estavam aposentados por tempo de
contribuição e permaneciam trabalhando na autarquia. Aduz que
houve mudança no posicionamento da atual administração, voltada
a implementar um novo quadro de carreira, buscando a progressão
de seus servidores e estímulo de ingresso de novos funcionários
públicos.
Para que se caracterize a dispensa coletiva é necessário que
haja um elemento comum para a dispensa, como no presente caso
fls. 6

em que o empregador alegou que as dispensas efetuadas se deram


meramente em razão de medidas de reestruturação funcional.
Ressalte-se ainda, que ficou evidente a política discriminatória
aplicada pela USP com relação a determinado grupo específico de
servidores, aposentados e com idade superior a 50 anos, com
conotação de denegrir a sua imagem, conforme depoimento do
professor Joel Dutra, Diretor do Departamento de Recursos Humanos
da reclamada, em entrevista concedida a veículos de informação
qualificando os empregados aposentados da USP como "indolentes".
(CD doc.16, 3º volume do autor em apartado, 9:38 min. a 10:13 min).
A intervenção do Ministério Público, portanto, é plenamente
admissível, vez que defende os direitos sociais de uma categoria
específica de trabalhadores e, portanto, atrelados às relações de
trabalho mencionadas no art. 114, I, da Constituição Federal, o que
evidentemente coloca a discussão na Justiça do Trabalho.
Tampouco há como se afastar a legitimidade do Ministério
Público do Trabalho para propor a presente ação civil pública, nos
termos do artigo 127, caput, da Constituição Federal.
Rejeita-se". [...]
Opostos Embargos de Declaração, decidiu a c. Turma:
"EMBARGOS DECLARATÓRIOS DA RÉ - UNIVERSIDADE DE SÃO
PAULO - USP
Nos termos do v. acórdão, o Ministério Público do Trabalho
tem legitimidade para propor a presente ação civil pública, nos
termos do artigo 127, caput, da Constituição Federal.
Evidenciou-se, no caso, a política discriminatória aplicada pela
ré com relação a determinado grupo específico de servidores,
aposentados e com idade superior a 50 anos, dispensados de forma
abrupta e coletiva em janeiro de 2011 (aproximadamente 270
empregados), como analisado às fls.180-v/181-v.
Plenamente admissível, portanto, a intervenção do Ministério
Público para a defesa de direitos sociais de uma categoria específica
de trabalhadores sob o regime da CLT e, portanto, atrelados às
relações de trabalho mencionadas no art. 114, I, da Constituição
Federal, o que evidentemente coloca a discussão na Justiça do
Trabalho.
Ressalte-se, ainda, que a dispensa coletiva provoca forte
impacto social, em afronta a princípios e regras constitucionais
valorizadoras do trabalho, do bem-estar, da segurança e da justiça
social na vida socioeconômica. Como constou expressamente do v.
acórdão, "não houve comunicação prévia, aos empregados
aposentados, a respeito da política da ré em afastá-los dos serviços a
fim de que outros empregados fossem contratados, o que os impediu
de planejarem e reorganizarem os compromissos anteriormente
assumidos e a própria organização familiar, também desrespeitando
normas constitucionais (artigo 1º, inciso IV, caput do artigo 170,
fls. 7

(artigos 6º e 7º, inciso I), que consagram o valor social do trabalho


como um dos seus princípios, assim como o direito social dos
trabalhadores à proteção contra a dispensa arbitrária" (fls.188).
Neste contexto, a dispensa coletiva também se configurou
abusiva por falta de boa fé objetiva (artigo 422, do Código Civil) por
ausência de negociação prévia entre as partes.
Mantém-se os valores arbitrados às indenizações". 
 Perquirir a natureza do direito tutelado pelo Ministério
Público do Trabalho exige uma análise do conjunto fático-
probatório, diligência que, em sede extraordinária, encontra óbice
na Súmula n.º 126 do C. Tribunal Superior do Trabalho. 
Responsabilidade Civil do
Empregador/Empregado/Indenização por Dano Moral.
Alegação(ões):
- violação do(s) artigo 5º, inciso V; artigo 5º, inciso X, da
Constituição Federal.
- violação do(a) Código Civil, artigo 186; artigo 927;
artigo 944.
Argumenta que o dano moral coletivo não restou
configurado, haja vista que a dispensa coletiva foi mero ato de
gestão administrativa, a qual estava em consonância com o
ordenamento jurídico.
Subsidiariamente, requer a redução do valor arbitrado.
Consta do v. Acórdão:
"4.Indenização por dano moral coletivo.
Restou demonstrado nos autos a política discriminatória
aplicada pela USP ao dispensar em janeiro de 2011, de forma
abrupta, aproximadamente 270 empregados da Universidade de São
Paulo - USP, todos pertencentes a grupo específico: aposentados pelo
INSS que continuavam a prestar seus serviços e maiores de 50 anos,
sob alegação de necessidade de reestruturação da Universidade.
A dispensa coletiva efetuada provocou forte impacto social,
afrontando princípios e regras constitucionais valorizadoras do
trabalho, do bem-estar, da segurança e da justiça social na vida
socioeconômica. Tal atitude se reveste de ato ilícito praticado contra
toda a coletividade de trabalhadores, sendo desnecessária a
comprovação do prejuízo.
Diante disso, fixa-se indenização por dano moral coletivo no
valor de R$500.000,00 (quinhentos mil reais), a ser revertida ao
Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD), levando-se em
consideração a capacidade econômico-financeira da ré, bem como a
gravidade das transgressões a direitos e interesses
constitucionalmente assegurados.
Acolhem-se parcialmente as razões recursais". 
Conforme se verifica do teor dos acórdãos regionais, os
objetos de irresignação recursal estão assentes no conjunto
fls. 8

fático-probatório, cujo reexame se esgota nas instâncias


ordinárias. Adotar entendimento em sentido oposto àquele
formulado pelo Regional implicaria o revolvimento de fatos e
provas, inadmissível em sede de recurso de revista, a teor da
Súmula 126/TST, cuja aplicação impede o exame do recurso
tanto por violação à disposição de lei como por divergência
jurisprudencial.
Outrossim, é insuscetível de reexame, nesta instância
extraordinária, nos termos em que estabelece a Súmula nº 126 do
Tribunal Superior do Trabalho, o valor fixado, uma vez que
amparado nos elementos de prova produzidos e nos princípios
do livre convencimento motivado e da proporcionalidade e
razoabilidade, bem como à luz da gravidade da lesão, do porte
financeiro do agente ofensor, da capacidade econômica e social
da vítima, além do caráter pedagógico da sanção aplicada,
mormente considerando, ainda, que o montante indenizatório
arbitrado se revela adequado à situação descrita nos autos.  
Sentença Normativa/Convenção e Acordo Coletivos de
Trabalho.
Alegação(ões):
- contrariedade a Orientação Jurisprudencial: SDC/TST,
nº 5.
- violação do(s) artigo 37, da Constituição Federal.
- violação do(a) Código de Processo Civil, artigo 842,
§único.
 Advoga a impossibilidade de negociação coletiva acerca da
dispensa coletiva no âmbito da Administração Pública e que a
decisão é nula, visto que não houve qualquer limitação temporal
quanto à obrigação de fazer.
 A matéria discutida não foi prequestionada no v.
Acórdão e não cuidou a recorrente de opor os competentes
Embargos Declaratórios objetivando pronunciamento
explícito sobre o tema. Preclusa, portanto, a questão, ante os
termos da Súmula nº 297 do C. Tribunal Superior do Trabalho. 
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao Recurso de Revista. [...]
Cumpre registrar que a motivação exposta pela autoridade local, no
juízo negativo de admissibilidade, não vincula o TST, a quem incumbe a última
palavra sobre os pressupostos do artigo 896 da CLT.
No que se refere ao argumento de ilegitimidade do parquet, verifica-se
que a parte recorrente não indicou, nas razões de recurso de revista (fls.
273/295), os trechos da decisão recorrida que consubstanciam o
prequestionamento da controvérsia relativa à legitimidade do Ministério
Público.
Dispõe o inciso I do § 1º-A do artigo 896 da CLT:
“Sob pena de não conhecimento, é ônus da parte:
fls. 9

I - indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o


prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista;
(Incluído pela Lei nº 13.015, de 2014)”
No caso, a agravante se limitou a transcrever no recurso de revista
trechos esparsos do acórdão atacado, o que não permite a compreensão
das razões de decidir do Tribunal Regional. Assim, ao omitir excertos
fundamentais à compreensão da controvérsia, a parte não logrou
preencher o requisito referente ao supracitado dispositivo. Em relação ao
tema “Legitimidade ativa do Ministério Público”, verifica-se que a parte
transcreveu apenas 2 (dois) parágrafos à fl. 279, sendo que a
fundamentação do TRT contém aproximadamente 10 (dez) parágrafos (fls.
210/211) .
A transcrição incompleta do acórdão recorrido, sem a devida
indicação do trecho específico que traz a tese jurídica a qual a parte considera
violadora do ordenamento jurídico, não atende os ditames contidos na Lei nº
13.015/2014.
Nesse sentido, os seguintes precedentes desta Corte, in verbis:
RECURSO DE EMBARGOS - INTERPOSIÇÃO SOB A
REGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 - REQUISITO DE
ADMISSIBILIDADE DO RECURSO DE REVISTA - TRANSCRIÇÃO
INCOMPLETA DE TRECHO DO ACÓRDÃO REGIONAL
RECORRIDO - PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA 1.
Esta Corte firmou o entendimento de ser indispensável, para
consubstanciar o prequestionamento da matéria trazida ao
debate, transcrever o trecho exato do acórdão recorrido, à luz do
requisito de admissibilidade previsto no art. 896, § 1º-A, I, da CLT .
2. Estando o acórdão embargado em sintonia com esse
entendimento, inviável o conhecimento dos Embargos (art. 894, II,
§ 2º, da CLT). Embargos não conhecidos (E-ED-RR-15-
18.2015.5.17.0010, Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais, Relatora Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DEJT
29/11/2019).
AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
REVISTA - PROCESSO SOB A VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017 -
DISPENSA DISCRIMINATÓRIA - PRESSUPOSTOS RECURSAIS -
ART. 896, §1º-A, I, DA CLT - DEFICIÊNCIA DE TRANSCRIÇÃO -
AUSÊNCIA DE DELIMITAÇÃO DO TRECHO QUE
CONSUBSTANCIA O PREQUESTIONAMENTO DA
CONTROVÉRSIA. 1. Após a vigência da Lei nº 13.015/2014, com a
ressalva de entendimento deste relator, a SBDI-1 do TST entende
que para o preenchimento do requisito recursal do art. 896, §1º-A,
I, da CLT é necessário que a parte transcreva exatamente ou
destaque dentro de uma transcrição abrangente o específico
trecho do acórdão regional que contém a tese jurídica atacada no
recurso, possibilitando a imediata identificação da violação, da
contrariedade ou da dissonância jurisprudencial. 2. No caso, a
fls. 10

reclamante não cumpriu adequadamente esse requisito legal na


forma exigida pela SBDI-1 do TST. A transcrição de trechos que
não demonstram a exata e completa tese jurídica impugnada não
permite identificar e confirmar exatamente onde , no acórdão
regional , reside o prévio questionamento. Agravo desprovido.
(Ag-AIRR-1001266-13.2018.5.02.0060, 7ª Turma, Relator Ministro
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, DEJT 21/02/2020).
Uma vez constatada a inobservância do requisito inscrito no inciso I do
§ 1º-A do artigo 896 da CLT, resta desautorizado o acolhimento da pretensão
recursal.
No que se refere ao tema “Quantum indenizatório. Indenização por
dano moral coletivo”, verifica-se que a jurisprudência desta Corte Superior se
consolidou no sentido de que, em regra, não é possível a revisão do valor
arbitrado a título de danos morais, salvo se o montante atribuído à
indenização for ínfimo ou exorbitante, de modo a se mostrar patente a
discrepância, considerando a gravidade da culpa e do dano, tornando, por
consequência, injusto para uma das partes do processo.
Dessa maneira, o valor concedido a título de indenização
pelo dano moral coletivo, no importe de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
não se afigura desarrazoado, visto que o Tribunal Regional levou em
consideração o caráter pedagógico e punitivo da sanção, o porte econômico
da reclamada, a proporcionalidade e a razoabilidade com o dano causado,
assim como sua extensão (à coletividade). Incólumes os artigos 5º, V e X da
CF.
Por fim, em relação ao tema “Impossibilidade de negociação coletiva
no âmbito da Administração Pública”, verifica-se que a matéria não foi
enfrentada pelo TRT sob o enfoque dos dispositivos que a parte indica como
violados, quais sejam: artigos 37, caput, 61, §1º, II, “a”, e 169, §1 °, da
Constituição Federal, 842, parágrafo único do CPC, tampouco sob o enfoque
do Precedente Normativo nº 5 da SDC. Nesse contexto, a admissibilidade do
recurso de revista esbarra no óbice da Súmula nº 297 do TST.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo de instrumento, na
esteira do artigo 118, inciso X, do RITST”.

2.1 – AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO


MINISTÉRIO PÚPLICO DO TRABALHO. TRANSCRIÇÃO INCOMPLETA. SÚMULA
422/TST

Em suas razões de agravo, a reclamada apenas reitera suas


alegações de recurso de revista, no sentido da ilegitimidade ativa do Ministério Público
do Trabalho para a defesa de direitos individuais homogênos.
Eis o trecho do acórdão regional transcrito em seu recurso de
revista (fls. 1838/1839):
fls. 11

À análise.
Nos termos do artigo 129, III, da Constituição Federal, compete
ao Ministério Público a defesa de interesses difusos e coletivos.
A Lei Orgânica do Ministério Público - Lei nº 75/93, em seu artigo
83, I e III, prevê a competência do Ministério Público do Trabalho para o ajuizamento de
ações da seguinte forma:

Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das


seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho:
I - promover as ações que lhe sejam atribuídas pela Constituição Federal
e pelas leis trabalhistas;
(...)
III - promover a ação civil pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para
defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais
constitucionalmente garantidos;

O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90) também


contém previsão no sentido de possibilitar a defesa de interesses ou direitos
homogêneos decorrentes de origem comum:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das


vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares
pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste
código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os
decorrentes de origem comum.

Registre-se ainda o teor do artigo 21 da Lei nº 7.347/85, que


disciplina a ação civil pública:

Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e


individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o
Código de Defesa do Consumidor.
fls. 12

E não é outra a diretriz do excelso Supremo Tribunal Federal, no


sentido de que o Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para ajuizar ação civil
pública, não apenas para a defesa de interesses difusos, mas também para tutelar
direito coletivo e individual homogêneo, desde que demonstrada a relevância social.
Nesse sentido, a SBDI-1 desta Corte já pacificou entendimento
quanto à legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública para a defesa
de interesses individuais homogêneos.
Citam-se os seguintes julgados deste Tribunal Superior:

"RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nº


13.015/2014 E Nº 13.105/2015. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CLÁUSULAS
CONVENCIONAIS. DETERMINAÇÃO DE DESCONTOS DE CONTRIBUIÇÕES DE
EMPREGADOS NÃO ASSOCIADOS. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. 1. O sistema
de tutela jurisdicional dos direitos transindividuais encontra amparo na ação
civil pública, instituída pela Lei nº 7.347/85 e no Código de Defesa do
Consumidor. Este, por sua vez, criou nova categoria de direitos ou interesses,
individuais por natureza, mas que, "em razão de sua homogeneidade, podem
ser tutelados por ' ações coletivas' " (Teori Albino Zavascki). Nesse contexto,
conforme dispõe o art. 81, parágrafo único, inciso III, do CDC, direitos ou
interesses individuais homogêneos são aqueles de grupos, categoria ou classe
de pessoas determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos
divisíveis, de origem comum, normalmente provenientes das mesmas
circunstâncias de fato. 2. No presente caso, conforme destaca a Eg. Turma, "o
MPT pleiteou, em Ação Civil Pública, que o Sindicato dos Empregados de
Agentes Autônomos no Comércio no Estado do Rio Grande do Sul se
abstivesse de: a) instituir, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho,
contribuição assistencial (dentre outras) em favor de entidade sindical,
obrigando trabalhadores não filiados ao sindicato, salvo mediante expressa e
prévia autorização individual e b) ' exigir e receber os valores decorrentes de
contribuição assistencial ou qualquer outra, excetuada a contribuição sindical
obrigatória, dos trabalhadores não filiados ao sindicato, salvo mediante
expressa e prévia autorização individual' ". 3. As pretensões repousam sobre
direitos individuais homogêneos, passíveis de defesa pelo "Parquet". A origem
comum faz presumir a uniformidade da gênese dos direitos. Recurso de
embargos conhecido e desprovido. (TST-E-RR-20725-23.2014.5.04.0021,
Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, SBDI-1, DEJT
19/03/2021).

RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO SOB


A ÉGIDE DA LEI 11.496/07. PAGAMENTO DE SALÁRIO "POR FORA". OBRIGAÇÃO
DE NÃO FAZER. INCLUSÃO NO RECIBO. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO PARA AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS. POSSIBILIDADE. 1. A Eg. Turma não conheceu do recurso de
fls. 13

revista da reclamada, ao fundamento de que o Ministério Público do Trabalho


tem legitimidade ativa para propor ação civil pública na defesa de direitos
individuais homogêneos, com fundamento em interesse social relevante. 2.
Na esteira de entendimento do Supremo Tribunal Federal, "há certos
interesses individuais que, quando visualizados em seu conjunto, em forma
coletiva e impessoal, têm a força de transcender a esfera de interesses
puramente particulares, passando a representar, mais que a soma de
interesses dos respectivos titulares, verdadeiros interesses da comunidade.
Nessa perspectiva, a lesão desses interesses individuais acaba não apenas
atingindo a esfera jurídica dos titulares do direito individualmente
considerados, mas também comprometendo bens, institutos ou valores
jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de
pessoas. Em casos tais, a tutela jurisdicional desses direitos se reveste de
interesse social qualificado, o que legitima a propositura da ação pelo
Ministério Público com base no art. 127 da Constituição Federal" (RE 631111,
Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, DJe-213 30-10-2014). 3. É o caso dos
presentes autos, em que as pretensões constantes da petição inicial envolvem
abstenção de pagar salário "por fora", anotar na CTPS e nos demais registros
todas as verbas de natureza salarial, abstenção de emitir recibos em valores
distintos dos efetivamente pagos e de obrigar trabalhadores a assinarem
recibos em branco e pagar indenização por danos morais coletivos no valor
de R$20.000,00 (vinte mil reais). 4. Nesse contexto, em que o Ministério
Público do Trabalho insurge-se contra práticas uniformes da reclamada, a
legitimidade reconhecida no acórdão embargado coaduna-se como o
disposto nos arts. 129, III, da Carta Magna, 6º, VII, "d", e 83, III, da LC 75/93, os
quais autorizam a atuação do Ministério Público do Trabalho, mediante o
ajuizamento de ação civil pública, na defesa dos interesses individuais
homogêneos dos trabalhadores. Recurso de embargos conhecido, por
divergência jurisprudencial, e não provido. (TST-E-RR - 958900-
51.2007.5.09.0673, Relator Ministro Hugo Carlos Scheuermann, SBDI-1, DEJT
18/9/2015).

ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PARA


PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INOBSERVÂNCIA PELOS RÉUS DOS DIREITOS
DOS EMPREGADOS. Na ação civil pública, o Ministério Público do Trabalho
requer, em síntese, que os reclamados cumpram as normas trabalhistas
inobservadas nos contratos de trabalho por eles celebrados, especialmente
no que concerne às seguintes questões: a) registro dos empregados em livro
próprio e assinatura da CTPS dos atuais e futuros empregados; b)
recolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias; c) apresentação da
Relação Anual de Informação Social; d) exigência e fiscalização adequada de
uso dos equipamentos de proteção individual; e) impedimento do pagamento
por fora dos salários; f) concessão das férias; g) recolhimento tempestivo das
verbas rescisórias dos empregados demitidos; h) incidência das horas extras
no repouso semanal remunerado; i) fornecimento de água potável em
condições higiênicas; j) proteção das aberturas nos pisos e nas paredes a fim
fls. 14

de evitar queda das pessoas; l) prevenção de controle de riscos elétricos; e m)


formalização do vínculo, mediante registro, dos empregados admitidos a
título de experiência. Contudo, quando se trata de direitos metaindividuais, o
que determina realmente se o objeto da ação coletiva é de natureza difusa,
coletiva ou individual homogênea é a pretensão trazida em Juízo, uma vez que
um mesmo fato pode dar origem aos três tipos de pretensões, de acordo com
a formulação do pedido, como bem destaca Nelson Nery Júnior, in Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do
Anteprojeto, 9ª edição. Por outro lado, nos termos do ordenamento jurídico
brasileiro e na esteira da jurisprudência iterativa desta Corte e do Supremo
Tribunal Federal, o Ministério Público detém legitimidade para ajuizar ação
civil pública. Nos termos do artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, o
Ministério Público possui legitimidade para propor ação coletiva de proteção
dos interesses difusos e coletivos. O artigo 6º, inciso VII, alínea "d", da Lei
Complementar nº 75/93 confere ao Ministério Público da União legitimidade
para propor ação civil pública de "defesa de outros interesses individuais
indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos". O artigo 83, inciso III,
da mesma Lei Complementar também prevê a legitimidade do Ministério
Público do Trabalho para "promover a ação civil pública no âmbito da Justiça
do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os
direitos sociais constitucionalmente garantidos". Ademais, os direitos
individuais homogêneos estão definidos no inciso III do artigo 81 da Lei n°
8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). No caso, a decisão regional em
que não se acolheu a preliminar de ilegitimidade do Ministério Público do
Trabalho para propor a ação civil pública está em consonância com a
jurisprudência desta Corte. Recurso de revista não conhecido. (...) (TST-RR -
102300-43.2008.5.08.0121, Relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, 2ª
Turma, DEJT 25/9/2015).

(...) 2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.


LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. TUTELA INIBITÓRIA.
ADIMPLEMENTO DA LEGISLAÇÃO TRABALHISTA. 2.1. O Ministério Público do
Trabalho detém legitimidade para pleitear em ação civil pública tutela
inibitória na defesa de direitos individuais homogêneos - registro em CTPS,
especialmente quando relacionados à dignidade da pessoa humana e aos
valores sociais do trabalho (1°, III e IV, CF), nos exatos limites dos arts. 127 e
129, III e IX, da Constituição Federal, 6º, VII, alíneas "a" e "d" e 84 da Lei
Complementar nº 75/93, 1°, IV, e 3° da Lei n° 7.347/85. Está qualificado o
"Parquet", mesmo que se busque o adimplemento de elementares direitos
trabalhistas - aqui residente a valia de sua atuação. 2.2. No presente caso, a
busca da efetividade da anotação da real jornada, do respeito à limitação
diária do labor extraordinário, do pagamento das horas extraordinárias do
registro nos comprovantes de pagamento de todas as verbas quitadas, da
inibição do assédio moral aos empregados e de indenização por dano moral
coletivo autoriza a representação do MPT. Recurso de revista conhecido e
fls. 15

provido. (...) (TST-ARR - 166500-78.2008.5.24.0003, Relator Ministro Alberto


Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT 25/9/2015).

RECURSO DE REVISTA. EMPREGADOS SEM ANOTAÇÃO NA CTPS.


ORIGEM COMUM. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE
ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO 1. A legitimidade do Ministério
Público do Trabalho, na defesa de direitos individuais homogêneos, em ação
civil pública, já se encontra consagrada na jurisprudência do Tribunal Superior
do Trabalho. Precedentes. 2. Há legitimidade do Ministério Público do
Trabalho para propor ação civil pública que a tutelar direitos dos empregados
da Reclamada que laborem sem anotação na CTPS. 3. Recurso de revista de
que se conhece e a que se dá provimento. (TST-RR - 825-73.2012.5.15.0003,
Relator Ministro João Oreste Dalazen, 4ª Turma, DEJT 8/5/2015).

Portanto, de acordo com a ordem jurídica vigente, o Ministério


Público do Trabalho é parte legítima para ajuizar ação civil pública visando proteger
interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos.
No caso, a imposição de contribuição aos empregados não
sindicalizados viola a liberdade de associação e sindicalização dos empregados, nos
termos do Precedente Normativo 119 e da OJ 17, ambos da SDC do TST.
Trata-se, como se vê, de direito individual homogêneo, o que
legitima o MPT a propor a ação em epígrafe, nos termos do entendimento firmado no
âmbito desta Corte (julgados: TST-E-ED-RR-163-26.2013.5.01.0016, SbDI-1, Relator
Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, DEJT 01/12/2017 e TST-RR-17460-
65.2013.5.16.0004, 8ª Turma, Relatora Ministra: Dora Maria da Costa, DEJT 15/06/2018).
O reconhecimento da legitimidade do Parquet para a
propositura da presente ação civil pública está de acordo com a jurisprudência deste
Tribunal Superior, que é pacífica no sentido de que o Ministério Público do Trabalho
detém legitimidade para propor ação civil pública, visando a defesa de interesses
individuais homogêneos.
Nesse sentido, cito os seguintes precedentes:

"RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nº


13.015/2014 E Nº 13.105/2015. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CLÁUSULAS
CONVENCIONAIS. DETERMINAÇÃO DE DESCONTOS DE CONTRIBUIÇÕES DE
EMPREGADOS NÃO ASSOCIADOS. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. 1. O sistema
de tutela jurisdicional dos direitos transindividuais encontra amparo na ação
civil pública, instituída pela Lei nº 7.347/85 e no Código de Defesa do
Consumidor. Este, por sua vez, criou nova categoria de direitos ou interesses,
individuais por natureza, mas que, "em razão de sua homogeneidade, podem
fls. 16

ser tutelados por ' ações coletivas' " (Teori Albino Zavascki). Nesse contexto,
conforme dispõe o art. 81, parágrafo único, inciso III, do CDC, direitos ou
interesses individuais homogêneos são aqueles de grupos, categoria ou classe
de pessoas determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos
divisíveis, de origem comum, normalmente provenientes das mesmas
circunstâncias de fato. 2. No presente caso, conforme destaca a Eg. Turma, "o
MPT pleiteou, em Ação Civil Pública, que o Sindicato dos Empregados de
Agentes Autônomos no Comércio no Estado do Rio Grande do Sul se
abstivesse de: a) instituir, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho,
contribuição assistencial (dentre outras) em favor de entidade sindical,
obrigando trabalhadores não filiados ao sindicato, salvo mediante expressa e
prévia autorização individual e b) ' exigir e receber os valores decorrentes de
contribuição assistencial ou qualquer outra, excetuada a contribuição sindical
obrigatória, dos trabalhadores não filiados ao sindicato, salvo mediante
expressa e prévia autorização individual' ". 3. As pretensões repousam sobre
direitos individuais homogêneos, passíveis de defesa pelo "Parquet". A origem
comum faz presumir a uniformidade da gênese dos direitos. Recurso de
embargos conhecido e desprovido " (E-RR-20725-23.2014.5.04.0021, Subseção
I Especializada em Dissídios Individuais, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani
de Fontan Pereira, DEJT 19/03/2021).

"EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 13.015/2014. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. PEDIDO DE
PAGAMENTO DE HORAS EXTRAS E REFLEXOS. DIREITO INDIVIDUAL
HOMOGÊNEO. Trata-se de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público
do Trabalho com pedido de pagamento de horas extras trabalhadas e seus
reflexos em outros títulos, entre outros. A Turma reconheceu a legitimidade
do Parquet para ajuizar a demanda, sob o fundamento de que se trata de
direito individual homogêneo. É sabido que a legitimidade ativa do Parquet,
por ocasião do ajuizamento de ação civil pública, na busca da defesa de
interesses coletivos lato sensu , encontra fundamento na defesa dos
interesses sociais e individuais indisponíveis, nos termos previstos no artigo
127 da Constituição Federal. Ressalta-se que o Supremo Tribunal Federal já
pacificou o entendimento de que os interesses homogêneos são espécie dos
interesses coletivos e esta SbDI-1 já pacificou entendimento quanto à
legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública para a defesa
de interesses individuais homogêneos. Neste caso, o titular do direito é
perfeitamente identificável e o objeto é divisível e cindível, caracterizando-se,
porém, pela sua origem comum (decorrência de um mesmo fato), o que lhe
atribui o caráter de direito coletivo lato sensu . Busca-se, portanto, a
reparação de direitos de diversos empregados em razão de uma conduta da
empresa, que não cumpriu com suas obrigações trabalhistas, situação,
portanto, uniforme para todos os seus empregados. Ressalta-se que a
homogeneidade que caracteriza o direito não está nas consequências
individuais no patrimônio de cada trabalhador, advindas do reconhecimento
desse direito, mas sim no ato único e de efeitos coletivos pelo empregador de
fls. 17

descumprir norma legal e no prejuízo ocasionado à categoria dos


empregados, como um todo, que, neste caso, deixaram de ter a oportunidade
de perceber o pagamento de horas extras decorrentes do descumprimento
da jornada de trabalho prevista na Constituição Federal e na CLT. Assim,
configurada a origem comum do direito, de modo que legitime a atuação do
Parquet , não a descaracteriza o fato de ser necessária a individualização para
apuração do valor devido a cada empregado, uma vez que a homogeneidade
diz respeito ao direito, e não à sua quantificação, até porque os direitos
individuais homogêneos não são direitos individuais idênticos, necessitando
apenas que decorram de um fato lesivo comum. Desse modo, verificando-se
que o direito cuja tutela foi postulada nesta ação civil pública tem origem
comum, pois decorre de irregularidade praticada pela empregadora a um
grupo formado por seus empregados, é forçoso concluir que se trata de
direito individual homogêneo, nos termos do artigo 81, parágrafo único, inciso
III, do CDC. Logo, tratando-se de tutela de direito individual homogêneo, é
patente a legitimidade ativa do Ministério Público do Trabalho para o
ajuizamento desta ação civil pública, com fundamento no artigo 83, inciso III,
da Lei Complementar nº 75/93, nos termos em que decidido pela Turma,
razão pela qual deve ser mantida a decisão embargada. Embargos conhecidos
e desprovidos" (E-ED-ARR-541-76.2010.5.02.0042, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT
12/02/2021).

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI No 13.015/2014. AÇÃO CIVIL


PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO.
BANCÁRIOS. PRORROGAÇÃO DA JORNADA ALÉM DO LIMITE DE DUAS HORAS.
DIREITO INDIVIDUAL HOMOGÊNEO. 1. A Eg. 8ª Turma conheceu do recurso de
revista do reclamado e negou-lhe provimento, mantendo o acórdão regional,
no qual se concluiu pela legitimidade ativa "ad causam" do MPT. 2. O sistema
de tutela jurisdicional dos direitos transindividuais encontra amparo na ação
civil pública, instituída pela Lei nº 7.347/85 e no Código de Defesa do
Consumidor. Este, por sua vez, criou nova categoria de direitos ou interesses,
individuais por natureza, mas que, "em razão de sua homogeneidade, podem
ser tutelados por ‘ações coletivas’ "(Teori Albino Zavascki). Nesse contexto,
conforme dispõe o art. 81, parágrafo único, inciso III, do CDC, direitos ou
interesses individuais homogêneos são aqueles de grupos, categoria ou classe
de pessoas determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos
divisíveis, de origem comum, normalmente provenientes das mesmas
circunstâncias de fato. No presente caso, o "Parquet" pretende que o réu se
abstenha de prorrogar a jornada de trabalho diária de seus empregados,
além das duas horas legalmente permitidas, sem justificativa legal. Tal
circunstância constitui direito individual homogêneo passível de defesa pelo
"Parquet". A origem comum faz presumir a uniformidade da gênese dos
direitos. Precedentes. Recurso de embargos conhecido e desprovido. (E-ARR -
329-63.2011.5.04.0010, Relator Ministro: Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 4/5/2018)
fls. 18

RECURSO DE REVISTA. INTERPOSIÇÃO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI


13.015/2014. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DO TRABALHO. 1. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de
que o art. 83, III, da LC 75/93 autoriza a atuação do Ministério Público do
Trabalho, mediante o ajuizamento de ação civil pública, na defesa dos
interesses individuais homogêneos dos trabalhadores. 2. No caso, os pedidos
formulados têm origem comum, a saber, suposta prática uniforme da
empresa ré, direcionada à coletividade de trabalhadores, consubstanciada na
submissão dos mesmos ao teste do polígrafo (detector de mentiras). 3. Resta
caracterizada, assim, a homogeneidade dos direitos buscados, a legitimar a
atuação do Ministério Público do Trabalho. 4. Óbice do art. 896, § 7º, da CLT e
da Súmula 333 do TST. Recurso de revista não conhecido, no tema. (RR - 1897-
76.2011.5.10.0001, Relator Ministro: Hugo Carlos Scheuermann, 1ª Turma,
DEJT 1º/3/2019)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO ANTES


DA LEI Nº13.015/2014 E DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. PRELIMINAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA "AD
CAUSAM" DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. O Ministério Público do
Trabalho possui legitimidade ativa "ad causam" para interpor a presente Ação
Civil Pública, a qual contém pedidos de obrigação de fazer (registros de
empregados) e de não fazer (abstenção de contratação pelo primeiro
reclamado de bancários, através da segunda reclamada, de outra empresa do
mesmo grupo econômico ou de qualquer outra prestadora de serviços). No
caso, extrai-se o descumprimento de direitos trabalhistas de uma coletividade
de empregados da segunda reclamada - contratação de trabalhadores
bancários que prestam serviços diretos e subordinados ao primeiro
reclamado (Banco Morada S/A), através da segunda reclamada (Morada
Administradora de Cartões de Crédito), o que constituiu fraude a legislação
trabalhista, contrária aos princípios e normas insertas no Direito do Trabalho.
A jurisprudência pacífica desta Corte reconhece a legitimidade ativa do
Ministério Público do Trabalho nas ações coletivas para a tutela dos direitos
difusos, coletivos e individuais homogêneos de trabalhadores integrantes da
categoria. Precedentes. Inclusive se extrai tal conclusão da interpretação
sistemática dos artigos 127, caput, e 129, III, da Constituição Federal, e 83, III,
da Lei Complementar 75/93, 81 e 82 da Lei 8.073/90. (AIRR - 122200-
68.2002.5.01.0007, Relatora Ministra: Maria Helena Mallmann, 2ª Turma, DEJT
15/2/2019)

Incide, assim, a Súmula 333/TST como óbice ao processamento


do recurso.
NEGO PROVIMENTO.
fls. 19

A agravante sustenta que, ao contrário do que constou no


despacho denegatório do recurso de revista, foi indicado corretamente o trecho do
acórdão regional com o qual visava prequestionar a matéria.
Em seu recurso de revista, a reclamada alegou que "vem
cumprindo integralmente com seu papel de empregadora, inexistindo quaisquer dos
descumprimentos legais alardeados". Aduz que não praticou nenhum ato atentatório à
dignidade da pessoa humana. Transcreve arestos para o cotejo de teses.
Em atenção ao artigo 896, § 1º-A, da CLT, a reclamada
transcreveu, às págs. 1076-1078, o seguinte trecho do acórdão recorrido:

Depreende-se do acórdão recorrido que a reclamada


descumpria de forma contumaz a regra referente ao intervalo térmico, previso no artigo
253 da CLT, além de não computar o tempo gasto com a troca de uniforme, o qual era
previsto em norma coletiva. A descaracterização da conclusão de que as normas sobre
saúde, higiene e segurança do trabalho eram reiteradamente descumpridas, na
instância extraordinária, como pretende a recorrente, demandaria incursão
investigativa em conteúdo fático e probatório, alheio à esfera de atuação do Tribunal
Superior do Trabalho, a teor da Súmula/TST nº 126.
Por outro lado, a iterativa, notória e atual jurisprudência do
Tribunal Superior do Trabalho é a de que a violação das normas que regulam a
segurança, a saúde e a higiene do trabalho, por meio da extrapolação da jornada de
trabalho, além do descumprimento do intervalo previsto no artigo 253 da CLT,
caracteriza afronta intolerável aos valores fundamentais da sociedade e justificam a
condenação do agente ofensor à reparação por dano extrapatrimonial coletivo.
Nesse sentido, cito os seguintes precedentes:

"(...) DUMPING SOCIAL - INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO -


VALOR DA CONDENAÇÃO. Depreende-se do acórdão recorrido que a
reclamada reduzia o intervalo intrajornada de forma reiterada e que a
precarização consciente e contumaz das condições de trabalho visava
justamente diminuir os custos de mão de obra e maximizar a competitividade
no mercado e o lucro da empresa. A descaracterização do dumping social na
instância extraordinária, como pretende a recorrente, demandaria incursão
investigativa em conteúdo fático e probatório, alheio à esfera de atuação do
Tribunal Superior do Trabalho, a teor da Súmula/TST nº 126. Por outro lado, a
iterativa, notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho é a
de que a violação das normas que regulam a segurança, a saúde e a higiene
do trabalho, por meio da extrapolação da jornada de trabalho, inclusive por
meio da irregularidade da concessão do intervalo intrajornada, caracteriza
fls. 20

afronta intolerável aos valores fundamentais da sociedade e justificam a


condenação do agente ofensor à reparação por dano moral coletivo.
Precedentes. Incidem o artigo 896, §7º, da CLT e a Súmula/TST nº 333 neste
aspecto. Por fim, a insurgência recursal relativa ao valor da condenação vem
desacompanhada dos dispositivos constitucionais ou legais pertinentes (artigo
5º, V, da CF ou artigo 944 do CCB), razão pela qual esbarra no artigo 896, §1º-
A, II e III, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e desprovido. (...)" (AIRR -
1000940-64.2015.5.02.0252, Orgão Judicante: 3ª Turma, Relator: Alexandre de
Souza Agra Belmonte, Julgamento: 24/11/2021, Publicação: 26/11/2021)

"(...) RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. INDENIZAÇÃO POR


DANO MORAL COLETIVO. Para a configuração do dano moral coletivo, basta a
violação intolerável infligida a direitos coletivos e difusos, ação ou omissão
reprovável pelo sistema de justiça social do ordenamento jurídico brasileiro,
conduta antijurídica capaz de lesar a esfera de interesses da coletividade, cuja
essência é tipicamente extrapatrimonial. No caso, o quadro fático registrado
pelo Tribunal Regional revela que " ao comprometer a integridade e higidez
física e moral dos empregados, a conduta antijurídica da ré transcende a
esfera individual de interesses, atingindo toda a coletividade dos
trabalhadores integrantes dos quadros da empresa. Os autos de infração
coligidos com a inicial remontam ao ano de 2007 e várias irregularidades
foram novamente constatadas em anos posteriores. Ademais, consoante
aduzido pelo Parquet, emerge dos autos que a empresa não age por impulso
próprio na observância da legislação, limitando-se a remediar as infrações
constatadas e ainda assim de forma parcial ." Registrou, ainda, que " a
ausência de dano específico ao patrimônio imaterial não inviabiliza a
reparação civil em tela, considerando que o instituto, in casu, abrange os fatos
pretéritos e visa coibir infrações futuras ". Evidenciado o dano, assim como a
conduta culposa do empregador e o nexo causal entre ambos, deve ser
mantido o acórdão regional que condenou a ré ao pagamento de indenização
por dano moral. Agravo de instrumento de que se conhece e a que se nega
provimento . (...)" (AIRR - 1793-71.2014.5.03.0099, Orgão Judicante: 5ª Turma,
Relator: Alberto Bastos Balazeiro, Julgamento: 15/12/2021, Publicação:
07/01/2022)

"(...) 2 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSE PROCESSUAL. ADEQUAÇÃO DA


VIA ELEITA. Na hipótese dos autos, a controvérsia acerca do descumprimento
das obrigações trabalhistas previstas em lei pela empresa ré, tais como a
ausência de anotação da CTPS, inobservâncias das normas atinentes à saúde,
higiene, segurança do trabalho, jornada de trabalho, férias, pagamento de
salários e 13º salários, dentre outros, evidencia a origem comum da lesão,
pois decorre de uma conduta uniforme da empresa ré em descumprir
obrigação trabalhista, sendo que a necessidade de analisar a situação
individual de cada substituído, o qual somente será apurado na fase de
liquidação de sentença, não tem o condão de desnaturar a homogeneidade
dos direitos, que diz respeito ao direito e não a sua quantificação. Assim, a
fls. 21

pretensão deduzida na inicial da presente ação civil pública inclui-se na


categoria dos direitos individuais homogêneos passíveis de tutela coletiva,
porquanto decorrente de origem comum. Adequação da via eleita
reconhecida. Agravo de instrumento conhecido e não provido. (...)" (Ag-AIRR -
527-67.2012.5.05.0421, Orgão Judicante: 8ª Turma, Relatora: Delaide Alves
Miranda Arantes, Julgamento: 15/12/2021, Publicação: 17/12/2021)

"(...) AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DO


MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS .
NORMAS RELATIVAS À SAÚDE, HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO.
JURISPUDÊNCIA PACIFICADA. PRECEDENTES DA SBDI-1 DO TST. DANO MORAL
COLETIVO. ALEGAÇÃO DE QUE NÃO DESCUMPRIU NORMAS TRABALHISTAS.
TESE RECURSAL QUE DEMANDA O REEXAME DE FATOS E PROVAS. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA Nº 126 DO TST. DANOS MORAIS. VALOR DA INDENIZAÇÃO.
ARBITRAMENTO. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. AUSÊNCIA DE
TRANSCENDÊNCIA DA CAUSA. Não se constata a transcendência da causa, no
aspecto econômico, político, jurídico ou social. Agravo de instrumento
conhecido e não provido, por ausência de transcendência da causa ." (AIRR -
1446-20.2018.5.12.0011, Orgão Judicante: 7ª Turma, Relator: Claudio
Mascarenhas Brandao, Julgamento: 05/11/2021, Publicação: 12/11/2021)

"(...) DANOS MORAIS COLETIVOS. DESRESPEITO A NORMAS DE SAÚDE,


SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO. Na hipótese em análise, embora a
Corte regional tenha invocado a responsabilidade objetiva da reclamada em
razão da aplicação da teoria do risco criado, em verdade, a condenação da ora
agravante se deu baseada na evidente demonstração de sua conduta culposa
no descumprimento de normas de saúde, segurança e higiene do trabalho,
notadamente as NRs 1, 6 e 9, do MTE e o artigo 157 da CLT. Conforme
amplamente demonstrado no acórdão recorrido, a reclamada possui conduta
reiterada, devidamente comprovada em outras demandas individuais, bem
como nestes autos, de descumprimento de normas de saúde, segurança e
higiene, levando inclusive à ocorrência de acidente fatal em suas
dependências. Observa-se que a reclamada foi condenada, nesta demanda,
ao cumprimento de várias obrigações de fazer, todas elas ligadas ao
cumprimento de normas de segurança do trabalho, sendo que não houve
insurgência de sua parte quanto ao tema, tendo transitado em julgado o
referido capítulo da decisão regional. Quanto à alegação de que o eventual
descumprimento de normas de saúde e segurança do trabalho não implica
dano moral coletivo, mais uma vez sem razão a reclamada. Para a
configuração do dano moral coletivo, basta, como no caso dos autos, a
violação intolerável a direitos coletivos e difusos, ação ou omissão reprovável
pelo sistema de justiça social do ordenamento jurídico brasileiro, conduta
antijurídica capaz de lesar a esfera de interesses da coletividade, cuja essência
é tipicamente extrapatrimonial. Assim, o fato de a transgressão estar
circunstanciada no âmbito das relações de trabalho, por si só, não lhe atribui
a visão de dano individual, como equivocadamente entendeu o Regional. O
fls. 22

que vai imprimir o caráter coletivo é a repercussão no meio social, a adoção


reiterada de um padrão de conduta por parte do infrator, com inegável
extensão lesiva à coletividade, de forma a violar o sistema jurídico de
garantias fundamentais. É por isso que o dano moral coletivo, ante suas
características próprias de dano genérico, enseja muito mais uma condenação
preventiva e inibitória do que propriamente uma tutela ressarcitória. Há nítida
separação entre as esferas a serem protegidas e tuteladas pelas cominações
referidas, justamente diante da distinção entre os danos morais
individualmente causados concretamente a cada uma das pessoas envolvidas,
in casu , os empregados da reclamada, presentes e futuros, estes últimos os
quais não cuida esta ação civil pública, e a necessidade de reprimir a conduta,
claramente tida como ilícita da reclamada, de natureza coletiva ou massiva,
esta, sim, o objeto da pretensão formulada pelo Ministério Público do
Trabalho. Aqui cabe trazer a lume a lição de Xisto Tiago de Medeiros Neto
sobre a preponderância da função sancionatória da indenização por dano
moral coletivo, alertando que esta se afasta da função típica que prevalece no
âmbito dos direitos individuais, em que se confere maior relevância à
finalidade compensatória da indenização em favor das vítimas identificadas, e,
apenas em segundo plano, visualiza-se a função suasória. Ainda, diante da
incontrovérsia dos fatos relativos à conduta ilícita da reclamada, o dano moral
daí decorrente é considerado in re ipsa , já que decorre da própria natureza
das coisas, prescindindo, assim, de prova da sua ocorrência concreta, em
virtude de ele consistir em ofensa a valores humanos, bastando a
demonstração do ato ilícito ou antijurídico em função do qual a parte afirma
ter ocorrido a ofensa ao patrimônio moral. Com efeito, o dano coletivo
experimentado, nessa hipótese, prescinde da prova da dor, pois, dada a sua
relevância social, desencadeia reparação específica. Agravo de instrumento
desprovido. DANOS MORAIS COLETIVOS. DESRESPEITO A NORMAS DE SAÚDE,
SEGURANÇA E HIGIENE DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO ARBITRADA EM R$
1.000.000,00 (UM MILHÃO DE REAIS). A jurisprudência desta Corte é no
sentido de que não se admite a majoração ou diminuição do valor da
indenização por danos morais nesta instância extraordinária, admitindo-a, no
entanto, apenas nos casos em que a indenização for fixada em valores
excessivamente módicos ou estratosféricos, o que não é o caso dos autos. A
SbDI-1 desta Corte já decidiu, no julgamento do Processo n° E-RR-39900-
08.2007.5.06.0016, de relatoria do Ministro Carlos Alberto Reis de Paula,
publicado no DEJT 9/1/2012, que, quando o valor atribuído não for
teratológico, deve a instância extraordinária abster-se de arbitrar novo valor à
indenização. No caso, a Corte regional considerou, para fins de ampliação do
montante indenizatório, que ficou demonstrado o desrespeito da reclamada
ao disposto no "art. 157 da CLT, e das Normas Regulamentadoras n. 1, 6 e 9,
que dispõem acerca das obrigações do empregador", bem como que a
reclamada "ao não adotar as medidas de segurança pleiteadas
reiteradamente pelo autor (...), ampliou o risco de que outros de seus
empregados sofressem acidentes, descumprindo, assim, com o dever de
segurança que lhe é imposto pela legislação trabalhista" . Considerou, ainda,
fls. 23

que a "reparação do dano moral, por sua vez, atende a um duplo aspecto,
compensar o lesado pelo prejuízo sofrido e sancionar o lesante". Desta forma,
entendeu a Corte regional por considerar "insuficiente o montante de R$
200.000,00 (duzentos mil reais) arbitrados na origem. Por tal razão,
sopesando todos os critérios acima, a gravidade dos fatos narrados e
apurados e a capacidade econômica da ré, entende-se que deve ser arbitrado
o valor para o dano moral coletivo em R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), a
ser revertido em favor do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador" . Nesse
contexto, considerando a extensão dos danos causados, a condição
econômica da reclamada e o caráter punitivo-pedagógico da condenação,
revela-se razoável e proporcional o valor fixado pela instância ordinária, de R$
1.000.000,00 (um milhão de reais), que compensa adequadamente o dano
moral coletivo indicado pelo Regional. Portanto, não se trata de valor
excessivo e, muito menos, teratológico, única hipótese em que seria cabível a
redução pretendida pela ré, nos termos da jurisprudência desta Corte. Assim,
não há falar em ofensa aos artigos 5º, incisos V e X, da Constituição Federal e
944 do Código Civil. Agravo de instrumento desprovido. (...)" (AIRR - 1659-
77.2013.5.04.0252, Orgão Judicante: 2ª Turma, Relator: Jose Roberto Freire
Pimenta, Julgamento: 20/10/2021, Publicação: 22/10/2021)

"(...) 2. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESCUMPRIMENTO DA LEGISLAÇÃO


TRABALHISTA. DANO MORAL COLETIVO. CONFIGURAÇÃO. 2.1. Na hipótese, o
sistemático e reiterado desrespeito às normas trabalhistas (descumprimento
da jornada de trabalho, com excesso de jornada, realização de trabalho em
sobrejornada além do limite legal diário e supressão dos intervalos intra e
interjornadas) demonstra que a lesão perpetrada foi significativa e, por
conseguinte, ofendeu a ordem jurídica, ultrapassando a esfera individual. 2.2.
As empresas que se lançam no mercado, assumindo o ônus financeiro de
cumprir a legislação trabalhista, perdem competitividade em relação àquelas
que reduzem seus custos de produção à custa dos direitos mínimos
assegurados aos empregados. 2.3. Diante desse quadro, tem-se que a
deliberada e reiterada desobediência do empregador à legislação trabalhista
ofende a população e a Carta Magna, que tem por objetivo fundamental
construir sociedade livre, justa e solidária (art. 3°, I, da CF). 2.4. Tratando-se de
lesão que viola bens jurídicos indiscutivelmente caros a toda a sociedade,
surge o dever de indenizar, sendo cabível a reparação por dano moral coletivo
(arts. 186 e 927 do CC e 3° e 13 da LACP). Recurso de revista conhecido e
provido." (RR - 886-55.2018.5.12.0051, Orgão Judicante: 3ª Turma, Relator:
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, Julgamento: 13/10/2021, Publicação:
22/10/2021)

Incidem o artigo 896, §7º, da CLT e a Súmula/TST nº 333 neste


aspecto.
Nego provimento.
fls. 24

DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO. VALOR DA


INDENIZAÇÃO
A agravante requer a redução do valor da indenização por danos
extrapatrimoniais coletivos, a qual foi arbitrada em R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais). Aponta violação dos artigos 5º, V, da CF e 944 do CC.
Em atenção ao artigo 896, § 1º-A, da CLT, a reclamada
transcreveu, à pág. 1117, o seguinte trecho do acórdão recorrido:

"Deve-se ainda levar em conta o aspecto preventivo de novas violações


em caso de uma indenização considerável, o qual se aplica não somente ao
responsável pela reparação, como serve para desestimular condutas
semelhantes por parte de outros atores sociais, atingindo a finalidade
preventiva e punitiva que se espera do instituto.
Tudo isso considerado, mantenho a sentença que condenou a
requerida ao pagamento de indenização no valor de R$1.000.000,00.
Nego provimento."

Ao exame.
É cediço que a lei não estabelece parâmetros objetivos para a
quantificação do valor da indenização por danos extrapatrimoniaiss, devendo o Juízo,
no exercício do poder discricionário, ao analisar o caso concreto, ficar atento quanto à
proporcionalidade e à razoabilidade. Nessa linha, a tarifação do valor não deve ser tão
alta que resulte em enriquecimento sem causa, nem inexpressiva a ponto de não
mitigar a dor da vítima ou desestimular o causador da ofensa na reiteração da conduta
lesiva.
Nesse contexto, a doutrina e a jurisprudência têm se pautado em
determinados critérios para a mensuração do montante indenizatório, a saber,
intensidade da culpa e do dano e as condições econômicas e sociais da vítima e do
ofensor.
Sucede que, em certos casos, entretanto, os valores arbitrados
pelas instâncias ordinárias têm se revelado ora excessivamente módicos ora
extremamente elevados, justificando a excepcional intervenção do Tribunal Superior do
Trabalho no controle do montante indenizatório.
Na hipótese dos autos, a Corte Regional manteve a sentença que
fixou em R$ 1.000.000,00 a indenização por dano extrapatrimonial coletivo em
decorrência do descumprimento contumaz, pela ré, de normas relativas sobre saúde,
higiene e segurança do trabalho.
No entanto, considerando-se o porte econômico da reclamada, a
repercussão pedagógica da medida, e os parâmetros que têm sido adotados por esta
Corte Superior, verifica-se que o montante arbitrado pelo Tribunal Regional se revela
fls. 25

excessivo, a balizar sua revisão, a fim de garantir a observância dos princípios da


razoabilidade e da proporcionalidade, conforme os arts. 5º, V, da Constituição da
República e 944 do CC.

“(...) 4 - DANO MORAL COLETIVO. VALOR ARBITRADO. 4.1. De acordo


com a jurisprudência, para fins de reparação por dano moral, basta a
demonstração do ato ilícito, sendo desnecessária a demonstração do dano ou
do prejuízo, pois considera-se o dano moral in re ipsa , isto é, deriva da
própria ilicitude do ato praticado. 4.2. Assim, provada a existência de ato ilícito
que, no caso dos autos, extrapola os interesses dos empregados da ré para
alcançar toda a sociedade, pois a defesa sanitária e a inspeção de serviços de
origem animal envolvem questão de saúde pública e bem estar da população,
valores sociais de natureza coletiva e difusa, mostra-se devida reparação do
dano moral coletivo. 4.3. A fixação do valor da indenização por dano moral
coletivo deve-se levar em conta a extensão do dano, a sua gravidade, a sua
repercussão na coletividade atingida, o grau de culpabilidade, bem como o
porte do ofensor e sua capacidade financeira, de forma que a condenação
seja proporcional à conduta ilícita praticada, mas não a ponto de levá-lo a
falência. 4.4. O propósito da indenização por dano moral coletivo não é
apenas de compensar o eventual dano sofrido pela coletividade, mas também
de punir o infrator ( punitive damages ) de forma a desencorajá-lo a agir de
modo similar no futuro, servindo, inclusive, como exemplo a outros potenciais
causadores do mesmo tipo de dano, daí porque, na hipótese dos autos, a
condenação arbitrada em R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) se mostra
justa e proporcional, especialmente se levarmos em consideração que o
ofensor é entidade integrante da administração pública indireta, o qual
deveria dar o exemplo no cumprimento e respeito à legislação vigente,
sobretudo aos dispositivos e princípios da Constituição Federal. Recurso de
revista não conhecido. (...)" (RR-745100-61.2009.5.12.0001, 2ª Turma, Relatora
Ministra Delaide Miranda Arantes, DEJT 19/05/2017).

NEGO PROVIMENTO.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Sétima Turma do Tribunal Superior


do Trabalho, por unanimidade, conhecer e negar provimento ao agravo.
Brasília, de de
fls. 26

ALEXANDRE AGRA BELMONTE


Ministro Relator

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