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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO TRABALHO DO TRABALHO DE

NOVA VENÊNCIA – ES

Processo nº

Autor: Ministério Público do Trabalho


Réu:______________________________

\------------------------, já qualificado no
feito em epígrafe, por meio de seu procurador in fine assinado,
que tem escritório à Rua __________________________, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência apresentar

CONTESTAÇÃO

à AÇÃO CIVIL PÚBLICA ajuizada pelo Ministério Público do


Trabalho – Procuradoria Regional do Trabalho da ________ Região,
por intermédio da Procuradora do Trabalho já qualificada, pelos
seguintes fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

I – PRELIMINARES – CARÊNCIA DA AÇÃO

1 - Falta de interesse de agir do parquet


Em que pese o entendimento da Representante do
MPT, não existe in casu, interesse de agir como agora se
demonstra.
O professor Humberto Theodoro Jr., em sua obra
Curso de Direito Processual Civil, Vol. I defende que:

“O interesse processual, a um só tempo, haverá traduzir-se numa relação de


necessidade e também numa relação de adequação do provimento postulado, diante
do conflito de direito material trazido à solução judicial. Mesmo que a parte esteja na
iminência de sofrer um dano em seu interesse material, não se pode dizer que exista o
interesse processual, se aquilo que se reclama do órgão judicial não será útil
juridicamente para evitar a temida lesão. É preciso sempre que o pedido apresentado
ao juiz traduza formulação adequada à satisfação do interesse contrariado, não temido,
ou tornado incerto’”.

O interesse de agir nas demandas coletivas,


parte da legitimidade a ser verificada, deve-se ter certa
cautela quanto à legitimidade do Ministério Público, que presume
este interesse de agir. Esta presunção deverá ser verificada em
cada caso específico, principalmente no que tange a necessidade.

No entendimento defendido em sua obra “Ação


Civil Pública”, do professor Pedro da Silva Dinamarco:

“(...) situações concretas podem demonstrar que o resultado


desejado pode ser alcançado sem a utilização do processo. Assim, eventual presunção
absoluta do interesse de agir geraria o risco de uma hipertrofia da ação civil pública,
precisamente em virtude do seu uso generalizado e indiscriminado”.(gn)

Da análise dos fatos torna-se fácil a


constatação de que não se trata de um grande latifundiário ou
empregador regular, reincidente na infração da legislação
trabalhista brasileira.

________________é apenas um arrendatário de uma


pequena gleba de 16 alqueires onde cria poucas cabeças de gado,
como afirmou a própria consorte do empregado Adelson de Almeida
Conceição, em depoimento que se extrai da própria inicial da
presente ação.

Como visto acima nas lições dos doutrinadores,


o interesse de agir, como uma das condições da ação, se
caracteriza pela presença do binômio “necessidade/utilidade”
como um dos requisitos de admissibilidade à tutela
jurisdicional, ou seja, da viabilidade da demanda.

Consubstancia-se pela necessidade da parte


ingressar em juízo para a obtenção de um bem da vida e sua
aferição se faz pelo cotejo entre os fatos declinados e os
pedidos formulados.

Segundo os fatos narrados na inicial, nas


palavras da própria procuradora que subscreveu a Ação Civil
Pública:“ ... a situação individual do trabalhador Adelson ter sido quase que
completamente solucionada mediante a atuação da SRTE/ES “(grifo nosso).

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A própria SRTE-ES não aplicou qualquer sanção
administrativa, certamente por entender que, uma vez
satisfazendo todas as exigências, o requerido não deveria ser
penalizado.

Todas as providências exigidas pela SRTE/ES


foram fielmente tomadas pelo requerido, que pagou todas as
verbas rescisórias, providenciou o transporte do seu até então
ÚNICO empregado de volta à sua cidade de origem e realizou a
anotação retroativa da CTPS.

Ao contrário do que alega a Douta Representante


do Ministério Público do Trabalho, o requerido demonstrou
cabalmente o seu respeito à legislação trabalhista e dignidade à
pessoa humana ao atender prontamente às exigências da SRTE/ES,
inclusive providenciando às suas expensas, a mudança do ex-
empregado à sua cidade, como manda a lei.

Chega-se, portanto, à conclusão da ausência de


condição da ação na modalidade necessidade bem como utilidade,
já que, tendo o requerido tomado todas as providências para a
reparação das irregularidades encontradas, frise-se, CONTRA SEU
ÚNICO EMPREGADO, não existe a necessidade de se socorrer do
Estado-Juiz para o fim de alcançar medidas que, de forma
espontânea, conforme própria alegação do MPT, já foram tomadas.

Todo o pedido do autor se baseia nas “eventuais


futuras contratações” do réu, contudo, como já descrito e
cabalmente demonstrado, este não é empregador na real acepção da
palavra, mas tão somente de pequeno criador de gado que pela
primeira vez efetuou a contratação de vaqueiro para ajuda-lo.

Certamente que ao requerido não é dado o


direito de alegar desconhecimento da lei, contudo, no caso em
tela, não existe dano a ser ressarcido ou irregularidade a ser
sanada, eis que já foram providenciadas pelo requerido conforme
requisitado pela SRTE/ES.

2 – Da ilegitimidade ativa ad causam

O Ministério Público do Trabalho alegou


legitimidade ativa com base na LC 75/1993, art 129 da CF e Lei
7.347/85, artigo 1º, inciso IV, para defesa primária da ordem
jurídica e secundária dos direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos. Em que pese a argumentação da ilustre

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representante do MPT, esta não deve prosperar, uma vez que não
se vislumbra no caso, direitos coletivos, difusos ou homogêneos
a serem defendidos.

O artigo 129, inciso III, da Constituição da


República, ao confiar ao órgão do Ministério Público a
prerrogativa de propor ação civil pública, assim o fez na defesa
dos interesses difusos e coletivos. De igual modo, a Lei
Complementar nº 75/93, igualmente aplicável na seara
trabalhista, em seu artigo 6º, inciso VII, alínea d, dispõe que
ao Ministério Público incumbe propor ação civil pública para a
proteção de outros interesses individuais indisponíveis,
homogêneos, sociais, difusos e coletivos.

O MPT afirma pretender tutelar os direitos


transindividuais ou metaindividuais, relativamente aos direitos
indisponíveis dos trabalhadores efetivos ou em potencial do
requerido.
Segundo lição dos Ministros da Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do
Trabalho, exarada no Processo nº TST-E-RR-596.135/99.0, publicado no DJ
de 25/10/2002, o MPT tem sua legitimidade mitigada, não sendo dada a
ele a permissão de ampliar sua própria competência, ao contrário do que
diz a norma legal. Vejamos:

“(...) O artigo 129, inciso III, da Constituição da República, ao


confiar ao órgão do Ministério Público a prerrogativa de propor ação civil pública,
assim o fez na defesa dos interesses difusos e coletivos . De igual modo, a Lei
Complementar nº 75/93, igualmente aplicável na seara trabalhista, em seu artigo 6º,
inciso VII, alínea “d”, dispõe que ao Ministério Público incumbe propor ação civil
pública para a proteção de outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos,
sociais, difusos e coletivos.

“Apesar da referência contida na norma em apreço, a regra é


destinada ao Ministério Público em geral, o da União, mais abrangente, portanto.
Seria paradoxal conceber seu alcance àqueles feitos de natureza trabalhista. A estes,
a Lei Complementar nº 75/93 deu norte próprio, restritivo.

Com efeito, o artigo 83, inciso III, da norma complementar, ao tratar


da competência do Ministério Público do Trabalho, limitou a promoção de ação civil
pública, no âmbito da Justiça do Trabalho, exclusivamente, para a defesa de
interesses coletivos.

A atuação do Ministério Público do Trabalho, in casu, acha-se


limitada. Não se trata de defender interesses coletivos , porque esse alcance o fato
gerador desta ação não possui. O coletivo que adjetiva os interesses a ensejar a
ação civil pública no âmbito trabalhista é mais amplo, no sentido de categoria.(grifei)

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Não se pretenda, de igual sorte, confundir o Ministério Público da
União (gênero) do Ministério Público do Trabalho (espécie), no que tange à
competência. A Lei Complementar nº 75/93, em que pese não raro ser desfavorecida
de melhor técnica legislativa, dotou o Ministério Público da União (gênero) de um
admirável elenco de competências. Fê-lo acertadamente.

Mas, no que se refere ao Ministério Público do Trabalho (espécie),


especificou e explicitou claramente sua abrangência e, por corolário, restringiu sua
atuação. Logo, incabível pela via judicial estender-lhe a abrangência, uma vez que
não o fez o legislador infraconstitucional.

Os interesses individuais homogêneos não estão inscritos na


previsão legal restritiva do artigo 83, inciso III, da LC 75/93. De igual sorte,
quando trata dos interesses individuais indisponíveis, limitou o papel
protetor do Ministério Público do Trabalho às nulidades de cláusulas de
norma coletiva autonomamente criadas (art. 83, IV); quando quis ser
mais específica, e tratou isoladamente de determinados sujeitos, fê-lo
de modo também restritivo: menores, incapazes e índios (art. 83, V).

A hipótese destes autos não legitima o Ministério Público do Trabalho


para a presente ação. Não se cuida de interesses coletivos (art. 83,III), nem de
direitos individuais indisponíveis violados por norma coletiva (art. 83, IV), nem de
menores, incapazes e índios (art. 83, V).

Mesmo que se aceite a legitimidade do


Ministério Público do Trabalho para tutelar os direitos
coletivos in latu sensu, sendo eles os direitos coletivos,
difusos ou individuais homogêneos, não se vislumbra sequer traço
da ofensa a direitos transindividuais, como pretende comprovar o
Ministério Público do Trabalho.

Interesses difusos são aqueles que abrangem


número indeterminado de pessoas unidas pelas mesmas
circunstâncias de fato, o que não se vislumbra no caso.

Já os direitos coletivos, por sua vez, são


aqueles pertencentes a grupos, categorias ou classes de pessoas
determináveis, ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base. Direitos ou interesses homogêneos são os
que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei n 8.078, de
11 de setembro de 1990), constituindo-se em subespécie de
direitos coletivos.

Conforme se extrai dos autos, não se trata o


requerido de grande latifundiário que emprega dezenas ou

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centenas de trabalhadores para a consecução do seu objetivo
lucrativo. Trata-se de pequeno arrendatário que cria poucas
cabeças de gado. Somente UM EMPREGADO foi encontrado em
situação irregular pela SRTE/ES, porque o requerido apenas tinha
UM EMPREGADO. Aliás, trata-se de seu primeiro e único empregado.

Toda a jurisprudência juntada pela


Representante do Ministério Público a fim de embasar o seu
pedido jurídico, originou-se do exame de casos bem diversos do
ora presente. Trata-se de casos de trabalho escravo, com a
contração irregular de vários empregados que viviam em condições
subumanas, sem recebimento de salário e mantidos como
verdadeiros reféns na propriedade do explorador econômico.

Em cada um dos casos onde atuou o MPT, seja na


defesa de interesses difusos e coletivos, seja na defesa de
interesses metaindividuais em geral, sempre existia um fator em
comum: a pluralidade de empregados lesados. É desta pluralidade
de empregados que nasce o impacto social dos ilícitos
trabalhistas.

Se tal pluralidade não fosse conditio sine qua


non para a aferição da repercussão social do fato, o Ministério
Público do Trabalho teria a obrigação, decorrente do próprio
munus público que exerce, de averiguar a cada reclamação
trabalhista, nem que fosse contra uma simples dona de casa que
contratou empregada doméstica, o impacto que o não pagamento de
um direito trabalhista trouxe à sociedade.

Há de se ter cautela ao definir a legitimidade


ativa do Ministério Público do Trabalho, na tutela dos direitos
individuais indisponíveis, pois, à luz do Direito do Trabalho,
todos os direitos laborais são de natureza indisponível.

Decidir pela legitimidade ativa do parquet em


ações como a presente, em que temos de um lado um empregador
esporádico e do outro um empregado lesado, trará um precedente
perigoso, chegando ao absurdo de se autorizar ações civis
públicas em toda reclamação trabalhista movida por falta de
anotação na CTPS ou pagamento de férias e outros direitos
estabelecidos no artigo 7º da Constituição Federal.

Caso análogo, seria permitir ao parquet


pretender indenização perante toda a sociedade, devido a não
pagamento de férias ou concessão de licença maternidade à
empregada doméstica, por exemplo. O Ministério Público se veria

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então legitimado e obrigado a defender os “direitos
transindividuais” de toda a classe de empregados domésticos que
pudessem porventura, ser empregados por aquela determinada
empregadora ou empregador.

Salta aos olhos o absurdo e a falta de


razoabilidade do exemplo acima citado, que não é diferente da
presente situação.

Não existe, no caso, direitos metaindividuais a


serem resguardados. Existiram irregularidades que foram
prontamente sanadas pelo requerido em tempo determinado pela
SRTE. Não se pode intentar defender direitos coletivos dos
FUTUROS E EVENTUAIS POTENCIAIS EMPREGADOS, demonstrado o tipo de
atividade exercida pelo pequeno arrendatário, que sequer possui
postos de trabalho a serem ocupados ou oferecidos.

II - MÉRITO

Ad argumentandum tantum, em não se acolhendo as


preliminares ora aduzidas, passamos a análise da matéria
meritória, na qual o autor igualmente não conta com melhor
sorte.

1 – Do registro e assinatura de CTPS dos trabalhadores no prazo legal .

O Ministério Público pleiteia, em sede de


tutela inibitória, que o requerido seja condenado em obrigação
de fazer a efetuar a assinatura da CTPS de todos os seus
empregados atuais e futuros, conforme determina o artigo 29 e 41
da CLT.

Data vênia trata-se de um pedido pateticamente


inócuo, uma vez que a situação do empregado em questão foi
absolutamente resolvida. A carteira do empregado em questão foi
devidamente anotada, inclusive retroativamente à data de sua
contratação.

Não existem empregados atuais a serem


beneficiados pelo presente pedido. O empregado a que o
ministério Público se refere em sua inicial era o ÚNICO
empregado do pequeno arrendatário.

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Não se pretende aqui implicar no descabimento
da atuação do parquet através de tutela inibitória. Contudo,
tal atuação é limitada à reincidência no ilícito trabalhista ou
pelo menos na grande probabilidade de sua ocorrência. Tais
hipóteses ocorrem, por exemplo, nos casos de empresas ou mesmo
empresários individuais que empregam vários trabalhadores. Como
sua atividade lucrativa simplesmente não pode ser exercida sem a
contratação de mão-de-obra, existe uma grande probabilidade que
o ilícito venha a ocorrer novamente.

Admitir uma tutela inibitória no presente caso,


de pequeno arrendatário que somente teve o vaqueiro Adelson como
empregado, seria o mesmo que permiti-la em todos as reclamações
trabalhistas de todas as Varas do Trabalho do país.

Qualquer empregador, mesmo o empregador


doméstico, que tenha contra si uma reclamação trabalhista por
falta de anotação da CTPS, poderá figurar com réu em ação civil
pública visando a tutela inibitória nos moldes em que pretende a
ilustre procuradora do Ministério Público.

Como acertadamente dispôs o ministério Público


na inicial, a obrigatoriedade de anotação na CTPS está prevista
na Consolidação das Leis do Trabalho e, portanto, não havendo a
reincidência ou a probabilidade de ocorrência desta, a medida
não passa de pretensão de “confirmação” de legislação já em
vigor e com obrigatoriedade óbvia.

Mais uma vez, cabe aqui o bom senso do


aplicador do Direito para conseguir aplicar a letra dura da lei
e dos procedimentos processuais ao caso concreto, evitando que a
ação civil pública se transforme em uma panacéia, que mais
prejudicará - com o “abarrotamento” das Varas Trabalhistas - do
que beneficiará a coletividade, na tutela de seus direitos
transindividuais.

2 – Do depósito mensal do FGTS e recolhimento de contribuições


previdenciárias.

O Ministério Público requer em sede de tutela


inibitória, que o requerido se abstenha de não realizar o
depósito do FGTS na forma da Lei 8036/90, para os seus atuais e
futuros empregados.

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Como já ressaltado inúmeras vezes, o caso versa
sobre contratação única de um vaqueiro, por pequeno arrendatário
para manejo de poucas cabeças de gado. Não se trata de empresa
com vários funcionários ou de grande produtor rural que para
desenvolver sua atividade lucrativa, obrigatoriamente tem que se
valer de mão-de-obra contratada.

Não existe reincidência nem tampouco


probabilidade de reincidência do ilícito trabalhista.

O requerido recolheu todo o valor devido a


título FGTS, inclusive multa rescisória de 40% sobre o valor do
FGTS com relação ao ÚNICO trabalhador por ele contratado.

Mais uma vez, manifesta a inutilidade da


presente medida, pleiteada pelo Ministério Público, que apenas
vem colaborar com o excesso de processos descabidos que correm
nas Varas Trabalhistas.

3 – Do descumprimento do artigo 459, § 1º da CLT e do recrutamento de


trabalhador

O ministério público pleiteia, com base no


ocorrido com o trabalhador Adelson, que o requerido pague os
salários dos atuais trabalhadores nos termos do artigo 459, § 1º
da CLT e que se abstenha de recrutar trabalhadores em local
diverso, a não ser que formalize contrato de trabalho e custeie
o transporte e de sua família.

Conforme consta nos autos, o requerido em


momento algum “cobrou” a mudança do empregado para a propriedade
arrendada. Pelo contrário, é fato incontroverso que o requerido
foi até o município de Carlos Chagas – MG e providenciou a
mudança do empregado e de sua família com seus próprios
recursos.

De igual sorte, o seu retorno para a cidade de


origem também foi custeado totalmente pelo requerido, uma vez
que a SRTE/ES sugeriu a rescisão do contrato de trabalho. Vale
salientar que o Senhor Adelson de Almeida foi o primeiro e único
trabalhador contratado pelo requerido.

Não existem trabalhadores atuais, portanto a


medida mais uma vez se mostra sem utilidade. Aceitar a

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movimentação do Ministério Público para proteger uma
coletividade “fantasma” é aceitar sua movimentação a cada
reclamação trabalhista isolada, onde para evitar que o
reclamante infrinja novamente a legislação trabalhista, lhe seja
impelida uma obrigação de fazer.

Inexistente in casu a reincidência ou mesmo a


probabilidade desta, que autorizaria a intervenção do parquet.

4 – Do exame médico admissional

O MP requereu tutela inibitória a fim de obrigar o


requerido a realizar exame admissional, para as atuais e futuras
contratações, a rigor da NR – 7 e artigo 168 da CLT.

Aqui, novamente a procuradora do MPT pleiteia


tutela inibitória em favor de trabalhadores que simplesmente não
existem! Frise-se: o vaqueiro Adelson era o primeiro e único empregado
do requerido, motivo pelo qual a presente tutela se mostra vazia de
utilidade e necessidade.

Várias são as reclamações trabalhistas propostas


nas Varas do Trabalho, onde o reclamante alega acidente de trabalho ou
LER (lesão por esforço repetitivo), pretendendo a sua configuração de
plano devido à ausência de exame admissional feita pelo reclamado. Em
nenhum dos casos, verifica-se a atuação do Ministério Publico em defesa
dos demais empregados ou mesmo dos empregados em potencial, pleiteando
tutela inibitória em sede de obrigação de fazer.

Nada mais coerente. Em se legitimando e


conseqüentemente obrigando o Ministério Público a agir nestes casos,
causaria uma verdadeira hipertrofia e banalização da Ação Civil
Pública, que serviria apenas para inflar o já tão sobrecarregado
Judiciário Trabalhista, com ações absolutamente desnecessárias.

Não existe reincidência! Não existiu penalidade


aplicada pela SRTE/ES! Não existem postos de trabalho a preencher e
assim sendo não existe probabilidade de reincidência!

Desta feita, mais uma vez descabida a pretensão do


parquet, no presente caso.

5 – Do descumprimento das normas de medicina e segurança do trabalho


– NR 31

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Segundo alegações do Ministério Público, o
requerido infringiu dispositivos da NR 31, portaria 86/2005 do
Ministério do trabalho, além de desrespeitar outros dispositivos
constitucionais, como proteção à saúde e segurança dos trabalhadores.
Pleiteia em sede de tutela inibitória que o requerido se comprometa a
cumprir integralmente a referida norma com relação aos atuais e futuros
empregados.

Conforme já exposto exaustivamente, não existem


empregados atuais a serem protegidos pela presente ação e a tutela
inibitória neste caso padece de utilidade e necessidade, diante da
natureza da atividade exercida pelo pequeno arrendatário em regime
familiar.

Trata-se de uma propriedade pequena, de 16


alqueires, onde o requerido cria poucas cabeças de gado. Aliás, esta é
a situação em geral de todos os pequenos pecuaristas nas propriedades
vizinhas: o próprio proprietário ou arrendatário promove o manejo de
sua propriedade, sendo raros os casos de contratação de mão-de-obra.
Mesmo assim, quando ocorre, é feita nos moldes em que foi feita a
contratação do senhor Adelson, ou seja, contratação única e esporádica.

Não existe supedâneo fático ou jurídico para


obrigar o requerido a manter um alojamento nos termos da NR – 31,
conforme pleiteia o Ministério Público do Trabalho. O requerido não é
empregador habitual e por opção pessoal, depois da desastrosa
experiência, já decidiu em prover pessoalmente o manejo da propriedade
arrendada.

Uma vez que não existe a probabilidade de nova


infringência da norma trabalhista e muito menos reincidência, não há de
se falar em concessão de tutela inibitória, a fim de assegurar
cumprimento de lei, que já em vigor e dotada de compulsoriedade.

6 – Da inocorrência do trabalho degradante em decorrência do


desrespeito à NR – 31

A representante do Ministério Público alega que


eram precárias as condições do local utilizado como moradia pelo
trabalhador e sua família, repetindo diversas vezes argumentos sobre a
ausência de camas, armários e de revestimento do chão da cozinha.

Baseia única e exclusivamente nas condições do


imóvel, a falta de garantia de um patamar mínimo de dignidade e
degradação do meio ambiente de trabalho e familiar, qualificando o
tratamento dispensado pelo requerido para com o seu ÚNICO empregador
como desumano e degradante.

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Ora, MM Juiz, existe um verdadeiro abismo entre
tratamento desumano e simples desobediência de um ou dois itens de uma
NR ou Portaria! A digníssima representante do MPT foi bem enfática ao
ressaltar as supostas falhas cometidas pelo requerido, mas
estranhamente esqueceu-se de mencionar que no mesmo local
supostamente “insalubre e absolutamente inabitável”, existia TV
colorida com antena parabólica, fogão a gás, luz elétrica, água
encanada e geladeira!

Não parece crível que se possa qualificar a simples


ausência de armários ou revestimento do piso da cozinha, como situação
“degradante” ou “desumana”. Aliás, caso seja este o entendimento do
presente juízo, cumpre salientar que o próprio requerido vive em
condições “desumanas” uma vez que a casa sede não é em nada melhor do
que a que foi ocupada pelo seu empregado.

A NR – 31 em seu item 31.23 do qual se extraem os


itens citados pelo MPT, trata de área de Vivência no caso de frente de
trabalhadores rurais, ou seja, no caso de contratação de vários
trabalhadores para colheita ou outro serviço temporário.

Segundo o item 31.23.1 da referida NR–31 o


empregador rural ou equiparado deve disponibilizar aos trabalhadores
áreas de vivência compostas de:

a) instalações sanitárias; (C = 131.341-0/I3)


b) locais para refeição; (C = 131.342-8/I3)
c) alojamentos, quando houver permanência de trabalhadores no
estabelecimento nos períodos entre as jornadas de trabalho; (C =
131.343-6/I3)
d) local adequado para preparo de alimentos; (C = 131.344-4/I3)
e) lavanderias; (C = 131.345-2/I3)

Logo após ao referido item, a NR faz referência a


todos os requisitos das instalações sanitárias, locais para refeição,
alojamentos, local para preparo de alimentos e lavanderias.

Somente no item 31.23.11, ainda dentro do aspecto


vivência, mas completamente fora do âmbito AREA DE VIVÊNCIA, a NR –31
estabelece os requisitos para MORADIAS.

Se atentarmos bem para o que diz a NR – 31 em seu


item 31.23.11 veremos que, a rigor, o requerido não descumpriu nenhum
dos requisitos para a MORADIA de empregado rural, senão vejamos:

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a) capacidade dimensionada para
uma família: não existe
regulamentação do que seja
essa capacidade
dimensionada. A residência
ocupada pelo vaqueiro
contratado e sua família,
não é maior ou melhor do que
a casa sede.
b) Paredes construídas em
madeira ou alvenaria: todas
as paredes eram construídas
em alvenaria.
c) Pisos de material resistente
e lavável: o único cômodo
que era de “chão batido”
conforme se desprende da
própria inicial, era a
cozinha. Todo o resto da
moradia tinha piso revestido
de cimento (durável e
lavável por natureza)
d) Condições sanitárias
adequadas: a moradia era
dotada de banheiro. Não
existia falta de cobertura
do banheiro, mas apenas o
fato de que uma das telhas
de amianto estava quebrada
na lateral, algo que seria
facilmente corrigido.
e) Ventilação e iluminação
suficientes: a moradia era
dotada de janelas e portas e
tinha luz elétrica.
f) Cobertura capaz de
proporcionar proteção contra
intempéries: a moradia era
coberta por telhado em
amianto que apesar de não
ser um dos mais resistentes,
proporcionava perfeita
proteção contra chuvas e
qualquer outro tipo de
intempérie.
g) Poço ou caixa de água
protegido contra
contaminação: a casa contava
inclusive com água encanada
e banheiro.
h) Fossas sépticas, quando não
houver rede de esgoto

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afastadas da casa e do poço
de água, em lugar livre de
enchentes e a jusante do
poço: como já dito, a
moradia era aparelhada com
banheiro.

As exigências quanto a camas e armários para guarda


de pertences são referentes ao item 31.23.5 que trata de ALOJAMENTOS,
que é ambiente coletivo disponibilizado pelo empregador para pernoite
dos diversos trabalhadores rurais de uma determinada propriedade.

Ora MM. Juiz, se o próprio Ministério do


Trabalho diferenciou moradia de alojamento, estabelecendo
requisitos mínimos diferentes para eles, não cabe à douta
Procuradora ir além das suas atribuições institucionais e
pretender igualar onde o próprio regulador distinguiu!

Não cabe outra alternativa a não ser chegar a


conclusão de que a Ilma. Procuradora tenta levar a erro o r.
Juízo, ao interpretar ao seu bel prazer norma regulamentar do
Ministério do Trabalho.

O requerido não quer aqui sugerir que o empregado


Adelson morava em um palacete! Nem mesmo o requerido, suposto grande
latifundiário maléfico como quer implicar a douta representante do MPT,
vive em condições melhores do que as que tinham o seu empregado. O
fato é que, mesmo não podendo se afirmar que o empregado vivia como um
rei, não se pode dizer que ele vivia em condições desumanas ou
degradantes!

Data a máxima venia, qual a desumanidade em se


proporcionar uma casa, que apesar de não ser grande e não ter
revestimento de azulejo do chão ao teto tem luz elétrica, água
encanada, fogão a gás, parabólica e TV a cores e geladeira? Ora MM.
Juiz se trata de moradia rural e, portanto é esperado que tal imóvel
seja rústico. Contudo, existe um verdadeiro precipício entre ser
rústico e ser “inabitável”!

A digna representante do MPT repete por diversas


vezes que não havia cama ou armários, como se a NR – 31 exigisse tais
requisitos! Aliás, cumpre salientar que a área onde está localizada a
fazenda arrendada pelo requerido é permeada por pequenas propriedades
todas em equivalentes condições. São propriedades simples, com
moradias simples, geralmente manejadas pelas próprias famílias. O
senhor Adelson não morava em condições piores que as demais famílias
proprietárias da região, não existindo nem de longe a tão festejada
repercussão do fato sustentada pelo MPT.

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Falta com a verdade a Ilma. Procuradora a tentar
impingir ao requerido a imagem de grande latifundiário, vilão da
sociedade, explorador da atividade pecuária!

Mesmo que, absurdamente se admitisse, que alguns


dos requisitos contidos na NR – 31 não foram cumpridos adequadamente
pelo requerido, a SRTE/ES poderia ter aplicado sanção administrativa,
de acordo com o artigo 201 da CLT e demais dispositivos aplicáveis.

Vejamos o que diz o artigo 201 da CLT:

Art. 201. As infrações ao disposto neste Capítulo relativas à medicina do


trabalho serão punidas com multa de 30 (trinta) a 300 (trezentas) vezes o
valor-de-referência previsto no artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 6.205, de
29 de abril de 1975, e as concernentes à segurança do trabalho com multa de
50 (cinqüenta) a 500 (quinhentas) vezes o mesmo valor.

Parágrafo único. Em caso de reincidência, embaraço ou resistência à


fiscalização, emprego de artifício ou simulação com o objetivo de fraudar a
lei, a multa será aplicada em seu valor máximo.

Como podemos ver, a CLT atribui às portarias do


Ministério do Trabalho a força de norma administrativa da qual nasce
uma imposição de multa. A SRTE/ES, verificando o descumprimento de
alguns itens da NR em questão poderia ter imposto multa administrativa,
o que não foi o caso. Ao requerido foi aconselhada a rescisão do
contrato de trabalho com o pagamento de todas as verbas trabalhistas
uma vez que o empregado não tinha mais interesse em trabalhar no local.

Certamente houve irregularidades, falta de registro


da CTPS, mas nada que não tenha sido resolvido no então do retorno do
empregado para o seu local de origem. Aliás, tais problemas poderiam
ser sanados por meio de reclamação trabalhista, o que não foi
necessário devido ao pronto atendimento de todas as providencias
exigidas pela SRTE.

Dos fatos narrados e comprovados não se extrai


elementos para a comprovação de trabalho degradante. A moradia ocupada
pelo vaqueiro Adelson, apesar de rústica, está longe de configurar o
suposto tratamento degradante ou de afronta ao princípio da dignidade
humana. O então primeiro e único empregado do requerido era vaqueiro e
desta feita exercia o seu trabalho ao ar livre e sem imposição de
jornada.

Não há de se falar em falta de segurança ou mesmo


de falta de condições de higiene, não passando a presente iniciativa do
Ministério Público de atitude revanchista ante a recusa do requerido no

15
recebimento de notificação para assinatura de TAC, que se operou mais
por falta de instrução do que por qualquer outra coisa.

Aliás, o Termo de ajustamento de Conduta não passa


de instrumento de que se vale o Ministério Público para determinar a
reparação integral do dano, sob pena de execução, uma vez que se trata
de título executivo. Assim, por meio de TAC o interessado formaliza,
espontaneamente, sua intenção de reparar integralmente o dano causado
por ele.

O requerido já havia cumprido todas as exigências


da SRTE/ES reparando completamente os eventuais danos trabalhistas
sofridos pelo empregado Adelson. O dano moral é algo personalíssimo e
se não foi argüido pelo empregado não cabe ao Ministério Público
defender direito individual de cidadão plenamente identificável. Se
este não recorreu à Vara do Trabalho para pleitear ressarcimento por
danos morais, certamente é porque não sofreu nenhum dano desta
natureza.

7 – Da inocorrência do dano moral coletivo

O autor pleiteia a reparação de danos morais


coletivos, ante a suposta conduta do requerido que poderia
enquadrar-se em impor ao seu ÚNICO trabalhador condições
degradantes. Afirma que uma vez que desobedeceu a legislação
pertinente à segurança e medicina do trabalho, o dano coletivo
existe de per si e, portanto deverá ser ressarcido, uma vez que
toda a coletividade foi abalada.

A Ilma. Procuradora aduz que, havendo agressão


aos direitos e garantias fundamentais, a conduta do requerido
deverá ser fortemente punida por meio de imposição pecuniária.

Como já alegado não se trata de caso de


trabalho escravo ou degradante. A moradia ocupada pelo
trabalhador Adelson era rústica, mas não se pode, sequer
insinuar, a existência de condições desumanas ou degradantes,
quanto menos falta de segurança do trabalho.

O então empregado do requerido, Senhor Adelson,


era vaqueiro em uma pequena gleba de terras, e trabalhava, como
é de natureza da própria atividade, ao ar livre no manejo do
gado. A pequena propriedade arrendada pelo requerido está
situada em local onde existem outras diversas pequenas
propriedades em igual situação.

16
Como é comum na maioria das propriedades de
Porto Belo, estas são manejadas pelas próprias famílias
residentes, e somente em uma ou outra existe a contratação,
quando muito de apenas um, empregado. São propriedades
modestas, ocupadas por pequenos pecuaristas com pouco poder
aquisitivo e dotados de pouca instrução, onde as moradias são
todas rústicas, não implicando, contudo em ambiente de
degradação ou de perigo iminente.

O próprio requerido mora em residência bem


parecida com aquela que era ocupada pelo seu empregado!

Nem de longe houve a repercussão tão festejada


pelo Ministério Público do Trabalho na presente Ação Civil
Pública. Não havia trabalho degradante! Não havia trabalho
escravo! Não havia risco iminente contra a vida do empregado e
de sua família!

Para que se ilustre o absurdo a que chega a


alegação do Ministério Público, comprova-se que o suposto
“casebre caindo aos pedaços” onde residia o empregado era dotado
de banheiro, água encanada, geladeira, fogão a gás e TV a
cores com parabólica! Data máxima venia existem várias
famílias morando inclusive nas cidades que possuem menos
facilidades que tinha o empregado, e nem por isso pode-se
considerar que morem em local degradante.

Há de se diferenciar luxo de necessidade e


ainda, considerar a adequação das exigências ao local e a
atividade exercida. Moradias rurais são rústicas por natureza,
o que não autoriza a presunção de falta de condições de
habitabilidade.

Tão “degradante” era a situação do empregado,


que o requerido autorizava que este fizesse as compras no
mercado de Porto Belo, há 10 Km da fazenda, e providenciava a
entrega das mercadorias. A assinatura ou não de recibo ou
promissória era feita por exigência do dono do mercado e não
pelo requerido. O empregado Adelson comprava o que queria e
quando queria.

A presente ação trata-se, ao contrário do que


pretende comprovar o Ministério Público, de iniciativa inédita,
que deve ser recebida com muita reserva pelo Julgador, a fim de
se evitar o esvaziamento da Ação Civil Pública.

17
Para que se admita a condenação por danos
morais pelo simples descumprimento de legislação trabalhista, é
necessário que exista ao menos uma pluralidade de
trabalhadores de modo que possa causar efetivamente um impacto
na sociedade. É neste sentido as jurisprudências elencadas pelo
próprio MPT, uma vez que TODAS ELAS versam sobre contratação
irregular ou trabalho escravo de vários trabalhadores.

NÃO EXISTE QUALQUER OUTRO PRECEDENTE DESTE TIPO


DE CASO, onde o Ministério Público assume a defesa da sociedade
ante a conduta de um empregador diante UM EMPREGADO ÚNICO. Em
todos os casos em que o MPT pleiteia indenização por danos
morais causados à coletividade, existia uma pluralidade de
empregados.

Para ilustrar a “novidade” da presente ação,


vejamos as jurisprudências consideradas “análogas” juntadas pelo
próprio MPT:

- Julgado exarado nos autos do Processo VT – PP – 276/2002


citado às fls. 26-27 : o caso versou sobre caso de
fazendeiro contratante de vários empregados e muitas
irregularidades foram encontradas. Todos os empregados
estavam tolhidos do seu direito de ir e vir, não recebiam
salários, dormiam em barracos de lona feitos por eles
mesmos. A cantina onde os empregados eram obrigados a
comprar os gêneros alimentícios que consumiam era de
propriedade do próprio patrão, que ficava no final com todo
o salário dos empregados.
- Julgado exarado no processo 738714/2001, DJ 24/10/2003
citado à fls 10 da inicial: o caso versou sobre a
contratação ilegal de vários trabalhadores através de
cooperativa.
- Julgado exarado no processo RO 5309/2002, 1ª Turma TRT 8ª
Região citado às fls 27-28: o caso versou sobre vários
trabalhadores que exerciam suas atividades em locais
insalubres, sem instalações higiênicas, sem água potável,
fazendo suas necessidades em buracos no chão, etc. Segundo
se extrai do inteiro teor do acórdão citado: “ (...) Pelo que
destes autos consta, a reclamada imputou a um conjunto de trabalhadores
que não se pode quantificar, pois aqueles que foram indenizados restringem-se
aos que estavam no local por ocasião da fiscalização, o exercício de atividade
profissional em condições sub-humanas, pois o ambiente de trabalho não tinha
a menor salubridade, sem instalações higiênicas, sem água potável, com
trabalho a céu aberto e não eram fornecidos os equipamentos de proteção(...)

18
Assim, não se nega a legitimidade do Ministério
Público da União para pleitear o ressarcimento da sociedade
pelos danos morais coletivos sofridos. Contudo, o dano moral
coletivo somente exsurge de situação de tal gravidade e
magnitude que seja capaz de causar a repulsa da sociedade.

Neste diapasão, segundo a teoria absurdamente


defendida pelo Ministério Público, toda e qualquer lesão à
legislação trabalhista causaria um dano moral coletivo,
legitimando a atuação do parquet, mas não é isso que se
verifica. O dano moral coletivo é reconhecido e aplicado nos
casos onde há a simples infringência das normas trabalhistas,
mas somente quando existe uma pluralidade de trabalhadores,
sejam atuais ou em potencial. Esta pluralidade de indivíduos
lesados causa uma repulsa tal na sociedade que merece ser
ressarcida.

Não há nenhum registro de caso análogo ao do


requerido, onde não existe uma pluralidade de trabalhadores
envolvida, nem que seja de forma potencial. No caso em tela, não
existe lesão potencial, pois não existem trabalhadores em
potencial. Como já dito inúmeras vezes, trata-se de
pequena propriedade e o requerido até o presente momento
somente teve UM EMPREGADO.

Hipoteticamente, segundo a teoria extrema do


Ministério Público do Trabalho defendida no presente processo, a
sociedade seria lesada, por exemplo, no processo
00406.2006.006.17.00.1 que correu na 6ª Vara Trabalhista de
Vitória-ES, pelo qual CELIA REGINA SANTANA CANDIDO foi obrigada
a buscar a tutela jurídica para ver cessar o ilícito
trabalhista, uma vez que sua patroa não havia feito anotação na
CTPS, atrasava seus salários e não lhe pagava as verbas
trabalhistas exigidas pela Constituição Federal. Contudo o
Ministério Público não atuou no citado processo, pois a ausência
de pluralidade de empregados, sejam atuais ou potenciais, impede
que haja uma efetiva lesão à sociedade.

Não apenas no presente caso, bem como em


todos os demais a serem resolvidos pela Justiça do trabalho, há
de se aplicar o princípio da razoabilidade que corresponde à
idéia de que o ser humano “juiz” deve proceder conforme à sua
razão. Não se trata de princípio exclusivo do Direito do
Trabalho; antes, é um princípio geral de Direito imanente à
ordem jurídica em sua globalidade.

19
Nos lindes do Direito do Trabalho, presta-se à
medição da verossimilhança de determinada explicação ou solução;
assim, p.ex., não é razoável supor que os ex-empregados de uma
dada empresa tenham espontaneamente se demitido e constituído
uma cooperativa entre si para, a partir do mês seguinte, prestar
serviços à mesma empresa, por preço unitário e sem os encargos
sociais de praxe.. O princípio da razoabilidade induz, nesses
casos, à presunção da fraude.

Já no caso em tela, não é razoável supor


que um empregado que tinha em sua moradia TV com antena
parabólica, água encanada, banheiro, geladeira, fogão a
gás, luz elétrica, vivia em situação degradante e
desumana.

Menos razoável ainda seria admitir a


intervenção do Ministério Público a cada reclamação trabalhista
onde o empregado alega, via de regra, infringência de seus
direitos trabalhistas, indisponíveis por natureza.

Assim sendo, incabível qualquer condenação a


título de dano moral coletivo, pois este não ocorreu, seja
porque não houve lesão à coletividade, ou porque o empregado do
requerido não exercia seu trabalho em local insalubre e
desumano, ou devido ao fato de não existir uma coletividade de
empregados em potencial.

8 – Do Quantum pleiteado a título de dano moral coletivo

A despeito de toda a argumentação até agora


realizada, caso seja do entendimento de Vossa Excelência ser
cabível a condenação do requerido ao pagamento de qualquer
quantia a título de reparação por danos morais coletivos, deve-
se frisar que o valor pleiteado é absolutamente irreal ante
os fatos narrados.

Em todos os julgados onde houve a condenação de


empregadores por danos morais coletivos decorrentes de ilícitos
trabalhistas cometidos contra uma COLETIVIDADE de trabalhadores,
houve uma proporcionalidade entre a capacidade financeira e os
danos efetivamente causados.

Na fixação dos danos morais coletivos, o


Julgador deve levar em consideração o passado da empresa, o seu
histórico de reincidência, a sua capacidade financeira, dentre
outros fatores.

20
No acórdão exarado no RO
00750.2005.003.17.00.0, do TRT da 17ª Região, a construtora
Épura Ltda foi condenada a pagar R$ 25.000,00 a título de danos
morais coletivos em caso que envolvia a falta de colocação de
barreiras em todos os acessos de entrada à torre de elevador,
execução de tarefas às alturas por trabalhadores que não usavam
cinto de segurança com trava-quedas. As irregularidades
culminaram com o falecimento do auxiliar de obras José Maria
decorrente de queda de bloco de cimento que lhe causou
traumatismo crânio-encefálico.

O MM. Juiz da causa, atentando aos princípios


da razoabilidade e proporcionalidade, princípios estes presentes
em todo o ordenamento jurídico e não apenas na seara do Direito
do Trabalho, observando a primariedade da empresa e o fato de
ter a empresa cumprido todas as exigências feitas pela Delegacia
Regional do Trabalho após o acidente, houve por bem fixar os
danos morais coletivos em R$ 25.000,00.

Em outro caso, do mesmo TRT da 17ª Região,


ACÓRDÃO - TRT 17ª Região - 00448.2004.141.17.00.6, a Cerâmica
Marilândia Ltda. foi condenada ao pagamento de R$ 6.000,00 a
título de danos morais coletivos decorrentes de acidente de
trabalho fatal ocorrido em suas dependências, também por falta
de observância das normas de higiene e medicina do trabalho.

No próprio julgado citado pela procuradora do


Trabalho às fls. 26-27, a sentença proferida pelo MM. Juiz da
Vara do Trabalho de Paraupebas/PA, onde segundo o acórdão de
inteiro teor, na Fazenda Bandeirante “foram encontrados diversos
trabalhadores em situação irregular, sujeitos à imposição de trabalho degradante e
forçado, na medida em que, os trabalhadores, eram reduzidos e expostos à condições
de trabalho sub humano, sem possibilidade de dispor do direito de ir e vir, pois o
empregador mantinha-os atrelados à sua atividade econômica, e a seu jugo, em
decorrência de dívidas intermináveis, relativas à supostas despesas de hospedagem,
alimentação, transporte e outros gêneros que compravam na cantina do réu.”, a
empresa ré foi condenada ao pagamento da quantia de R$ 60.000,00
a título de danos morais coletivos!

Ora MM. Juiz, que tanto os danos


extrapatrimoniais individuais como os de natureza coletiva,
inobstante a dificuldade de apuração do valor indenizável, devem
ser reparados pelo arbitramento do magistrado, de acordo com os
critérios de proporcionalidade e razoabilidade.

21
No que tange ao dano extrapatrimonial coletivo,
o que levará em conta para a quantificação do dano, é a extensão
deste, as circunstâncias do fato e a situação econômica do
ofensor.

Todos os julgados aqui mencionados e também


citados pela própria Procuradora do Trabalho, trazem situações
infinitamente mais lesivas que a do requerido, seja porque
lesaram um número muito maior de trabalhadores, seja porque
as ilegalidades eram de maior gravidade. Em TODAS ELAS o
valor dos danos morais concedidos foi menor do que o
pleiteado pelo Ministério Público do Trabalho.

Assim, com base nos princípios da


proporcionalidade e razoabilidade, em se entendendo ser cabível
a reparação a título de danos morais coletivos, requer-se sejam
estes arbitrados em valores condizentes com as supostas faltas
cometidas pelo requerido e levando em consideração a sua
primariedade e condição financeira.

IMPUGNANDO OS PEDIDOS

1. Tutela inibitória: Como admitido pela


Procuradora em sua inicial, todos as irregularidades ocorridas
na contratação do empregado foram sanadas. Não existem outros
empregados na pequena propriedade arrendada e não há indícios ou
probabilidade de reincidência.
Como já comprovado, o requerido é pequeno
arrendatário de terra e não necessariamente precisa de
empregados para exercer a sua atividade rural de natureza
familiar.

2. Da tutela antecipada
Para que seja deferida a tutela antecipada se
faz necessária a comprovação dos requisitos para a sua
concessão, sejam eles, periculum in mora e fumus boni iuris, que
não estão presentes no caso.
Não existem outros empregados na pequena
propriedade. O empregado Adelson foi o PRIMEIRO E ÚNICO
empregado contratado pelo requerido.

Assim, como não existem empregados a serem


beneficiados com as medidas pleiteadas, sejam eles atuais ou
potenciais e uma vez que todos as irregularidades referentes à

22
contratação do vaqueiro Adelson foram devidamente sanadas,
descabida a tutela antecipada para concessão da tutela
inibitória.

Impugnando especificamente os pedidos de


tutela antecipatória:

1) REALIZAR ANOTAÇÃO DAS CTPS: INDEVIDO. Não


existem trabalhadores atuais ou potenciais a serem
beneficiados com a medida pleiteada, pelo que se mostra
inócua e atentatória ao princípio da economia processual

2) EFETUAR O REGISTRO DE TODOS OS SEUS


TRABALHADORES EM LIVRO, FICHAS OU SISTEMA
ELETRÔNICO EM CONFORMIDADE COM O ARTIGO 41
DA CLT: INDEVIDO. Não existem trabalhadores atuais ou
potenciais a serem beneficiados com a medida pleiteada,
pelo que se mostra inócua e atentatória ao princípio da
economia processual

3) PAGAR OS SALÁRIOS DE TODOS OS SEUS


EMPREGADOS ATÉ O QUINTO DIA ÚTIL DO MÊS
SUBSEQUENTE AO VENCIDO, NA FORMA DO ARTIGO
459, § 1º DA CLT, FORNECENDO RECIBO ASSINADO E
DATADO PELO PRÓPRIO EMPREGADO: INDEVIDO. Não
existem trabalhadores atuais ou potenciais a serem
beneficiados com a medida pleiteada, pelo que se mostra
inócua e atentatória ao princípio da economia processual

4) ABSTER-SE DE RETER, PARCIAL OU TOTALMENTE O


PAGAMENTO SALARIAL DE SEUS EMPREGADOS:
INDEVIDO. Não existem trabalhadores atuais ou potenciais a
serem beneficiados com a medida pleiteada, pelo que se
mostra inócua e atentatória ao princípio da economia
processual

5) EFETUAR DEPÓSITOS MENSAIS A TÍTULO DE FGTS


EM CONTA VINCULADA DO TRABALHADOR, BEM COMO
RECOLHER O FGTS RESCISÓRIO QUANDO DEVIDO, NA
DATA E FORMA ESTIPULADA PELA LEI 8.036/91:
INDEVIDO. Não existem trabalhadores atuais ou potenciais a
serem beneficiados com a medida pleiteada, pelo que se

23
mostra inócua e atentatória ao princípio da economia
processual

6) REALIZAR EXAME MÉDICO ADMISSIONAL, QUANDO


DA CONTRATAÇÃO DE NOVOS EMPREGADOS: INDEVIDO.
A obrigatoriedade do exame admissional já está prevista na
legislação trabalhista, dispensando qualquer tutela neste
sentido ante a não probabilidade de reincidência no ilícito
trabalhista. Ademais, não existem trabalhadores atuais ou
potenciais a serem beneficiados com a medida pleiteada,

7) FORNECER GRATUITAMENTE O TRANSPORTE DE


RETORNO DO TRABALHADOR E DE SUA FAMÍLIA AO
LOCAL DE ORIGEM SEMPRE QUE REALIZAR
RECRUTAMENTO DE TRABALHADORES EM
LOCALIDADE DIVERSA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS:
INDEVIDO. Não existem trabalhadores atuais ou potenciais
a serem beneficiados com a medida pleiteada. O primeiro e
único trabalhador contratado já foi conduzido à sua
localidade de origem às expensas do requerido.

8) DISPONIBILIZAR IMÓVEL PARA MORADIA DE SEUS


EMPREGADOS EM CONDIÇÕES DE HABITABILIDADE,
RESPEITADOS OS REQUISITOS MÍNIMOS
ESTABELECIDOS NO ITEM 31.23.11 E SEUS SUBITENS
DA NR – 31: INDEVIDO.Não existem trabalhadores atuais ou
potenciais a serem beneficiados com a medida pleiteada.
Ademais, como se depreende da NR – 31, moradia e
alojamento são coisas distintas e, portanto tem distintos
requisitos mínimos de segurança e habitabilidade. A
moradia até então destinada ao empregado Adelson cumpre
todos os requisitos do item 31.23.11 da NR – 31.

3 – Da tutela definitiva

Impugnando o pedido de tutela definitiva:

1) Procedência do pedido formulado na ação


civil pública e condenação no pagamento de
indenização por dano moral no valor de R$ 50.000,00
(cinqüenta mil reais) a ser revertido ao FAT.:
INDEVIDO uma vez que não se verificaram os fatos
nos quais o Ministério Público baseou seu pleito
indenizatório.

24
Ex positis, requer:

a) A extinção do feito sem o


julgamento do mérito, em
vista da ilegitimidade ativa
do Ministério Público uma
vez que inexistem direitos
coletivos ou difusos
lesados, e da falta de
interesse de agir ante a
completa reparação dos danos
causados ao trabalhador
Adelson..

b) Caso não seja acolhido a


alínea a do presente pedido,
requer a IMPROCEDÊNCIA TOTAL
da presente AÇÃO CIVIL
PÚBLICA.

Protesta o requerido por todos os meios de


provas em direito admitidas, notadamente provas testemunhais,
juntada de novos documentos, exames periciais, vistoriais, e de
todas as outras que se fizerem necessárias.

Termos em que,

Pede deferimento.

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