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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA TERCEIRA VARA CÍVEL DA

COMARCA DE _________________.

Processo nº _______________

______________________________________
____ , doravante Primeiro e Segundo Comtestante, respectivamente já
qualificados nos autos supra, que em seu desfavor promovem
_________________________, também qualificado, por intermédio de
seus procuradores in fine assinados vêm com o devido acatamento e
respeito ante a ilustre presença de Vossa Excelência, apresentarem

CONTESTAÇÃO

na presente AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS


MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS, com fulcro nos artigos 300 e seguintes
do Código de Processo Civil, pelos fatos e fundamentos que passa a
expor:

SINTESE DA INICIAL
1. O requerente em extensa peça inicial ter sido
vítima de danos materiais, morais e estéticos por ato supostamente dito
ilícito do segundo requerido, ora contestante.
Segundo a inicial, o requerente exercia a função
de pedreiro, com salário mensal de R$ 1500,00, o que pretendeu
comprovar com declarações de particulares (doc. anexos).

Ainda segundo a inicial, o requerente sofreu uma


fratura de fêmur no dia 05/11/2000, motivo pelo qual foi encaminhado à
Fundação Civil Casa de Misericórdia de , primeira requerida, onde ficou
internado por 09 dias à espera de cirurgia, sob os cuidados do segundo
requerido.

A cirurgia foi realizada no dia 14/11/2000,


alegando o requerente que ;quem efetuou o procedimento de colocação
de haste (platina) em sua coxa teria sido o instrumentador “Mauro” e
não o contestante, médico então responsável pela cirurgia.

Prossegue, alegando que após receber alta em


18/11/2000, permaneceu em sua residência por mais 13 dias sentindo
muita dor e febre, motivo pelo qual foi realizado o hemograma
completo. Do exame cuja cópia consta no processo, o requerente
concluiu por infecção hospitalar, que segundo afirma originou-se de maus
tratos e falta de higienização sofridos na cirurgia.

Ainda segundo a inicial, o requerente


permaneceu internado por mais 21 dias, obtendo alta em 23/12/2000.
Alega que o membro operado expeliu secreção por aproximadamente
dois meses, sem que fosse dada qualquer explicação por parte do
contestante.

Em fevereiro de 2001, ainda conforme peça


introdutória, o requerente teria realizado consulta onde foi informado
pelo contestante da necessidade de uma segunda cirurgia, que segundo o
requerente, foi novamente “realizada” pelo instrumentador Mauro, eis
que o contestante se retirou da sala de cirurgia 30 minutos após o seu
início.

A segunda cirurgia foi realizada para a colocação


de fixador do fêmur, que segundo o vasto entendimento médico do
requerente teria sido colocado de forma errônea e atingido o nervo
ciático.

O requerente recebeu alta e 21 dias após foi


informado da necessidade de nova cirurgia para a retirada do fixador.
Ainda segundo o requerente, tal cirurgia foi realizada em 13/04/2001
onde foi efetivada a abertura de seu membro inferior direito. Após a
cirurgia, a pedido do requerente assumiu o caso o médico Marcos
Bruxelas de Freitas, terceiro requerido na presente ação.

Foi internado novamente em 20/04/2001,


tomando medicação que ainda segundo seu entendimento “médico” não
estavam fazendo efeito algum, motivo pelo qual supostamente teria
procurado auxílio de médica de São Paulo, que fez “diagnóstico” de
infecção hospitalar com risco de óbito.

Conforme inicial, foi requisitado exame de


cultura, que constatou crescimento de cocos gram positivo identificados
como staphylococus aureus, e que supostamente teria sido ministrado
medicamento inadequado, não constante no exame laboratorial.

O requerente foi então encaminhado ao HC de


Ribeirão Preto, que determinou seu reencaminhamento ao serviço de
origem. Prossegue o requerente afirmando ter-lhe sido exigida a quantia
de R$ 2.250,00 para pagamento de enxerto, que foi pago com cheque,
que foi inclusive sustado pelo requerente.
Alega até que até o presente momento não foi
realizada cirurgia corretiva, permanecendo o requerente em sua
residência, afastado pelo INSS e ainda tentando tratamento junto ao HC
de Ribeirão Preto.

Após inúmeras considerações afirma ter sofrido


danos morais decorrentes dos supostos abatimentos e traumas
psicológicos, materiais devido a sua incapacidade de trabalhar
normalmente além do cheque protestado, além das despesas de
tratamento e finalmente dano estético devido ao encurtamento da perna
direita.

Baseou seu pedido inicial nos artigos 186 e 927 do


código Civil, afirmando ter havido conduta culposa do contestante que
segundo o requerente não tomou providência no sentido de combater a
infecção.

Alega pela colocação errônea dos parafusos na


primeira cirurgia realizada pelo requereifo ora contestante, que a
alegada drenagem espontânea seria sinal de negligência na condução do
caso do requerente.

Pleiteou dano material cuja fixação de pensão


mensal deveria supostamente ter como base a renda de R$ 1500,00,
equivalente a 9,93 salários mínimos, durante o período de
convalescência ou ainda enquando durar o suposto estado de
incapacidade.

Pediu ainda a liquidação do cheque no valor de


R$ 2250,00. Após formulou pedido alternativo de fixação do valor da
pensão, caso não fosse de entendimento ser devido o valor de 9.93
salários mínimos anteriormente pleiteado.
Prossegue requerendo o pagamento de todas as
despesas médicas necessárias, indenização pelo dano estético a ser
arbitrado por esse juízo e pagamento de indenização a título de dano
moral na razão de 500 salários mínimos.

Finalmente pleiteia o pagamento das verbas


deferidas com a aplicação dos índices de correção e juros nos termos do
398 do Código Civil, e ainda constituição de capital pelos requeridos
suficiente para o pagamento da “obrigação”.

I - DOS FATOS

1. O requerente deu entrada no pronto socorro


da Santa Casa de Misericórdia de Coquinhos, primeira requerida, em
05/11/2000 às 23h30m, com politraumas, sendo atendido inicialmente
pela Dra. Ana Luiza Almeida sendo diagnosticado fratura do fêmur
direito. O requerente foi então internado, sendo solicitado pelo
primeiro contestante, Dr. FULANO DE TAL, internação para fixação de
fêmur.

Conforme prontuário médico (doc. Anexo) o


requerente foi internado para tratamento ortopédico, pois havia caído
de uma árvore e estaria com muita dor na perna direita altura do fêmur,
e edema no local.

Foi então conduzido ao leito, onde foi medicado


e ainda aplicado tração cutânea de 3kg para fêmur, sendo aconselhada
às enfermeiras e auxiliares, atenção para a tração correta e observação
sobre perfusão do MID, conforme prontuário (doc. Anexo).

No dia 06/11/2000 foram requisitados pelo


primeiro contestante os exames pré-operatórios de praxe, efetuando-se
exame raio-x e ainda coleta de sangue. O requerente então permaneceu
no quarto, sob medicação analgésica e anti-inflamatória, com tração
aguardando redução de edema para que pudesse ser efetuada a
intervenção cirúrgica.

Por ter sido avisado pelos familiares do paciente


ora requerente, que este passava por tratamento vascular e ainda, que
tinha passado de uso de drogas intravenosas, bem como quadro de
impossibilidade de punção de veias periféricas para aplicação de
medicamento intravenoso, o primeiro contestante requisitou
eletrocardiograma (ECG) bem como outros exames específicos.

O contestante então procedeu aos exames de -


hemograma completo(para avaliar possível perda sanguínea no foco da
fratura), uréia, creatina( para avaliar a função renal), glicemia( para
descartar diabetes), além do eletrocardiograma, requisitados em
7/11/2000.

O requerente, bem como os exames realizados,


foram então submetidos ao exame do médico cardiovascular especialista
em 09/11/00, Dr. Ricardo Augusto Goulart, para avaliação pré-operatória
de risco cardiovascular.

Diante deste quadro de ausência de circulação


periférica, o cirurgião vascular Dr. _____________________ foi
requisitado para realização de dissecção de veia profunda, o que foi
feito em 09/11/2000 conforme prontuário médico assinado pela
enfermeira chefe Neiva Batista.

Apenas após a avaliação pré-operatória e o


parecer do médico especialista, dado em 11/11/2000 (doc. Anexo)
autorizando a cirurgia, aconselhando forte monitoramento cardíaco e de
pressão arterial, foi realizada a intervenção no dia 14/11/2000.
O paciente permaneceu então mais dois dias em
observação (dia 12/11/2000 a 14/11/2000) para a verificação de redução
de edema para que pudesse se realizar a cirurgia de osteossíntese.
Como apresentou boa circulação e condições gerais boas, conforme
prontuário médico (doc. Anexo) foi submetido em 14/11/2000 a
osteossíntese do fêmur direito.

Assim, ao contrário do que afirma em sua peça


preambular, o requerente não ficou simplesmente 9 dias à espera pura e
simples de cirurgia, mas sim, aguardando a realização de todos os
procedimentos preventivos e acautelatórios para o procedimento
cirúrgico ao qual deveria ser submetido.

A cirurgia transcorreu de forma absolutamente


normal, sendo realizada integralmente pelo médico responsável, ou seja,
o primeiro contestante.

Em momento algum o contestante teria lido


jornal durante o procedimento, sendo que sequer se coloca a impugnar
tal fato, diante da absoluta improbidade da alegação!

Tão pouco a cirurgia poderia ter se realizado pelo


instrumentador! Tal fato de forma alguma aconteceu. Aliás, cumpre
ressaltar que a realização de intervenção cirúrgica por pessoa não
qualificada, provavelmente implicaria no óbito do requerente, que não
estaria neste momento, propondo ação judicial para ressarcimento de
suposto dano.

Para a realização da cirurgia, foi aplicada a


anestesia Raqui e ainda o antibiótico kefazol (cefalexina) indicado para
profilaxia antimicrobiana neste tipo de procedimento cirúrgico,
conforme protocolo do próprio hospital (doc. anexo).
Às 15h50m do dia 14/11/2000 o requerente
retornou à sala de recuperação consciente, com pressão arterial normal
e foi conduzido ao leito sem sangramento, conforme boletim cirúrgico
(doc. Anexo).

Foram tomados todos os cuidados gerais, como


troca de curativo e observação quanto a possível edema ou secreção. A
recuperação foi acompanhada diariamente através de 3 visitas diárias da
data da cirurgia até a sua alta, conforme pode-se constatar no
prontuário (doc. Anexo).

A medicação prescrita pelo contestante foi a


adequada para os casos de osteossíntese, sendo eles a cefalexina
(Kefazol – cefalosporina de segunda geração) 2 além de medicamentos
para dor e hipertermia, bem como antinflamatórios, que foram
devidamente ministrados pelos auxiliares de enfermagem (doc. Anexo).

No dia 15/11/2000 o requerente conseguiu


sentar-se com boa tolerância, apresentando o local de cirurgia sem
qualquer sangramento e com boa aparência, sem febre, sinais vitais bons
e sem queixas quanto dores, conforme se pode constatar no prontuário
médico (doc. Anexo).

Uma vez apresentando bom estado, sem febre, o


que se constata pelo gráfico demonstrativo de temperatura e pulso (doc.
Anexo), sem queixa de dores e com local operado em bom estado, o
requerente recebeu alta hospitalar em 17/11/2000, assinada pelo
primeiro contestante.

Após a alta, em 22/11/2000, com retorno ao


ambulatório de ortopedia bem, sem queixas, sendo marcado outro
retorno para a retirada dos pontos no dia 29/11/2000 sendo que neste
dia o paciente queixou de dores no quadril. No mesmo dia foi solicitado
rediografias do fêmur e quadril ( nada constatado de irregularidade),
receitou o primeiro contestante medicação para dor e orientou o
paciente para que o mesmo retornasse se necessário.

Como o paciente não apresentou resposta ao


tratamento, o primeiro contestante providenciou assim sua internação
em 12/11/2000, para tratamento de processo inflamatório ou infeccioso
a esclarecer.

Na data da internação foi colhido sangue para


realização de hemograma completo e hemocultura, conforme
requisitado pelo primeiro contestante (doc. Anexo), que pediu todos os
exames necessários para o controle da possível infecção.

Desde a data acima, foi ministrado ao paciente


antibiótico cefalexina (Keflex) indicado para quadros inflamatórios em
osso, bem como antinflamatórios e analgésicos, com manutenção da
soroterapia. Em 04/12/2000 o contestante prescreveu ainda o
medicamento Bactrin, que tem como princípio ativo sulfametocsazol –
trimetropim.

Como não apresentava mais sinais de infecção,


com sinais vitais normais e temperatura igualmente normal, conforme
gráfico demonstrativo, o requerente teve alta hospitalar em 11/12/2000,
sendo esta novamente assinada pelo contestante.

Do período de 23/12/2000 a 23/02/2001 o


paciente reclamou de secreção durante as visitas ao consultório do
primeiro requerido, o que foi devidamente elucidado ao paciente.
Conforme a práxis médica, se sabe que é necessário a formação de calo
fibroso para a decisão do procedimento a ser tomado, evitando a perda
contato ósseo. A precoce retirada da haste poderia comprometer a
consolidação da fratura do requerente, o que sim traria seqüelas de
difícil reparação.

Em 14/02/2001 foi então realizada uma


reavaliação do quadro do requerente, onde se verificou a não aceitação
da haste colocada pelo organismo do requerente. Ante a não aceitação
da haste, normalmente colocada nestes casos de fratura, o contestante
indicou uma limpeza da coxa e a retirada da haste intramedular e
colocação de fixador externo dinâmico de fêmuR, que por ser menos
agressivo poderia ser melhor aceito pelo organismo do requerente.

A segunda intervenção cirúrgica foi realizada em


28/02/2001 após novamente paSsar pela avaliação prévia do cirurgião
vascular (DR. Gotardo Rocha Júnior ) que novamente necessitou de fazer
uma dissecção venosa profunda para passagem de um catéter de intra-
cath segundo boletim cirúrgico (doc. Anexo) teve início às 13h e
término às 15h, diferentemente do que alega o requerente em sua
inicial.

Novamente foi realizada pelo contestante, que


permaneceu no centro cirúrgico durante todo o procedimento, o que não
poderia ter ocorrido de outra forma, eis que esta foi por ele totalmente
realizada.

No mesmo dia da intervenção foi solicitado pelo


contestante, exame de cultura bacteroscopía e antibiograma, pelo que
foi realizada coleta da secreção da coxa direita (membro operado) do
requerente.

No procedimento cirúrgico foi realizada a


drenagem do fêmur e colocação de fixador com aplicação de anestesia
raqui pelo anestesista Lúcio, com aplicação de antibiótico cefalexina,
tudo de conformidade com os procedimentos padrões da medicina
moderna e ainda protocolo da instituição médica (doc. anexo).

Vale ressaltar que o fixador de fêmur foi


colocado de forma regular, conforme procedimento padrão, conforme
comprova inclusive as chapas radiológicas apresentadas pelo próprio
requerente (doc. Anexo).

Tal fixador lateral foi colocado normalmente e de


maneira alguma houve lesão do nervo ciático ou mesmo colocação
errônea do fixador externo, conforme alega o requerente em sua inicial.

Aliás, vale ressaltar que tal fixador tem


colocação lateral, o que fisicamente impossibilita a suposta “lesão” do
nervo ciático que se situa na parte traseira da coxa, notadamente à 4 ou
5 cm do local onde se encontrava o fixador, conforme se constata nas
radiografias anexas (doc. anexo).

O requerente teve pós operatório normal,


medicado de forma adequada, devidamente acompanhado pelo médico
ora contestante e pelo quadro clinico do hospital, sendo que não queixou
dores ou apresentou febre no então da alta médica, o que se comprova
novamente pelo gráfico demonstrativo anexo.

Estando o paciente em bom estado, temperatura


normal conforme gráfico (doc. Anexo) diurese presente, pressão arterial
normal, sem queixas de dor (conforme plantão das 19 às 7), sem vômito,
local operado com boa apresentação e bons sinais de cicatrização, o
requerente recebeu alta em 07/03/2001.

Após um período de permanência em sua


residência, o requerente novamente queixando de dores, realizou
retorno comparecendo ao ambulatório médico da ortopedia , o primeiro
contestante indicou nova limpeza e debridamento da coxa e troca da
parte externa do fixador, o que comumente é realizado em casos de
osteosíntese.

Por apresentar mobilidade, o que normalmente


ocorre por um desgaste natural, o fixador deveria ser trocado, para que
não houvesse o retardamento na consolidação da fratura, tudo de
conformidade com a praxis médica ( vide literatura anexa)..

Em 11/04/2001, e não 13/04/2001 conforme


afirma em sua inicial, o requerente foi internado para a realização do
procedimento acima descrito, tudo conforme prontuário médico e ficha
de internação (doc. anexo).

O primeiro contestante então, diante do anterior


quadro de deficiência vascular do requerente, consultou no mesmo dia
da internação médico especialista para avaliação do caso, que autorizou
a cirurgia.

Além disso, fez pedido para a realização de


exames de cultura, bacteroscopia e antibiograma, todos estes exames
preparatórios para o procedimento cirúrgico e ainda na tentativa de
identificar a causa da suposta hipertermia (febre).

No dia 13/04/2001 o contestante então realizou


o procedimento devidamente constante do boletim cirúrgico (doc.
anexo) efetuando a troca do fixador e ainda a drenagem da fratura.
Devido ao desgaste que causou uma certa mobilidade, o que poderia
retardar a consolidação da fratura.

Tal procedimento é o normalmente realizado nos


casos de osteosíntese, e a mobilidade eventual que pode se apresentar
na parte externa do fixador, tem como causa originária diversos fatores,
inclusive o desgaste natural, stress e fadiga do material, ou mesmo,
esforço indevido realizado pelo paciente.

O contestante prescreveu toda a medicação


necessária, dentre eles antibiótico para prevenir ou combater possível
quadro infeccioso, que normalmente pode ocorrer neste caso de
intervenção, medicação esta vale ressaltar, que segundo prontuário
médico, foi bem aceita pelo requerente, que não mais apresentou
queixas ou mesmo quadro febril.

Como pode se constatar no prontuário médico


(doc. anexo) houve uma boa evolução do quadro do requerente, que foi
internado com hipetermia, situação esta que cedeu no decorrer da
internação, sendo que no então da alta (15/04/2001), conforme consta
do respectivo plantão, o requerente estava calmo, lúcido, havia dormido
bem, e não queixava dores, além de boa apresentação do local operado.

Isto é nada mais nada menos a comprovação de


que a medicação prescrita bem como o procedimento adotado pelo
médico foi o correto.

Por ocasião deste procedimento de drenagem, foi


deixada uma pequena incisão aberta na perna do requerente, de acordo
com o procedimento padrão da medicina (literatura em anexo) para a
drenagem da fratura, ou seja, para que houvesse escape para as
impurezas.

Assim, ao contrário do que afirma o requerente,


sua perna não foi deixada “totalmente” aberta, mas apenas com uma
pequena incisão, o que faz parte do procedimento padrão.
Conforme se constata nos prontuários médicos do
requerente, este recebeu alta sem febre, com boa cicatrização do local
operado, sem queixas.
Vem a baila ressaltar que a fratura de fêmur não
trata-se de “simples fratura” como faz entender o requerente em sua
inicial. A fratura de fêmur pressupõe um impacto violento, eis que
estamos falando do maior osso do corpo humano, responsável pela
sustentação do tronco.

A consolidação de uma fratura de tal porte


demora geralmente, e conforme estatísticas médicas, um lapso temporal
de 6 meses a 2 anos, o que infelizmente parece não ter sido bem
assimilado pelo requerente.

Apesar do já narrado, e de toda cautela médica


com a qual conduziu o caso, o requerente criou uma relação de
pessoalidade com o primeiro contestante motivo pelo qual pediu
expressamente a mudança de médico.

DO INÍCIO DA INTERVENÇÃO DO SEGUNDO


CONTESTANTE

O requerente então passou a ser atendido pelo


Dr. FULANO DE TAL, segundo contestante, que foi responsável pela
colocação do enxerto ósseo, realizado através da quarta intervenção
cirúrgica.

No dia 20/04/2001 o requerente foi internado


com o diagnóstico de osteomelite do fêmur direito, o que foi
diagnosticado através de exame clínico realizado pelo segundo
contestante.
O segundo contestante então, diante do quadro
anterior do requerente, o que se tornou frequente preocupação durante
todo o tratamento, requereu opinião do médico vascular especialista que
indicou a prescrição de antibiótico para combate do quadro infeccioso, o
que foi prontamente atendido pelo Dr CICRANO DE TAL, ora segundo
contestante.

Novamente vem à baila a necessidade de


enfatizar o problema constante de ausência de veias periféricas do
requerente, o que impossibilitava a aplicação de medicação via
intravenosa.

Desta forma, a única alternativa para tratamento


era medicação oral e ainda injeção de medicamento via músculo, dada a
impossibilidade de punção de veias periféricas.

Tal fato deve ser somado à queda violenta que


sofreu o requerente (queda de árvore) suficientemente forte para causar
a fratura de um osso como o fêmur.
O requerente chegou ao hospital com quadro de
poli-traumatismo, motivo pelo qual foi submetido à diversos
especialistas, dentre eles o primeiro contestante, na área de ortopedia.

O contestante realizou no mesmo dia da


internação, requisitou o exame de cultura, para avaliar o antibiótico a
ser usado. Diante do resultado do exame de cultura, foi imediatamente,
a partir do dia 28/04/2001 trocado o antibiótico para “AMICACINA”,
determinada no exame como antibiótico eficaz no controle da infecção
(doc. anexo).

O resultado do antibiograma afirma que o


staphylococcus aureus é sensível à vancomicina, conforme citado pelo
requerente, e AMICACINA, o que foi prontamente prescrito pelo ora
contestante (doc. anexo).

O segundo contestante tomou todas as medidas


preventivas e assecuratórias cabíveis, dentre prescrição de medicação
adequada, controle de cicatrização do ferimento e controle da
osteosíntese de fêmur.

Dentro da normalidade do tempo de internação e


tratamento para os casos de osteomelite – 21 dias no mínimo, segundo
práxis médica – o requerente recebeu alta 10/05/2001, com quadro
clinico bom, sem febre, indicativo de normalização do quadro infeccioso
(gráfico de controle de temperatura anexo).

Após retorno ao ambulatório do segundo


contestante, este prescreveu ao requerente a implantação de enxerto
ósseo, conforme procedimento técnico indicado nos casos de fratura de
fêmur.

Por ocasião da consulta, o segundo contestante


sugeriu a colocação de enxerto ósseo liofilizado 3cc, complementar,
como melhor material apropriado para o caso, sendo inteiramente
aprovado pelo paciente.

O requerente foi internado no dia 30/07/2001


para a colocação do enxerto ósseo, que foi realizada em 01/08/2001. A
intervenção cirúrgica ocorreu de forma normal, com aplicação de
anestesia raqui, e com duração de 1h e 10 minutos.

Permaneceu no hospital, como de praxe, para o


acompanhamento da evolução de seu quadro clínico, e ainda para que
fosse ministrada de forma correta a medicação prescrita.
Diante do quadro evolutivo do paciente, sendo
que este não apresentava hipertermia e não queixava dores, diante a
boa cicatrização do local operado, o requerente recebeu alta hospitalar
em 10/08/2001.

Seis meses após o implante de enxerto ósseo,


voltando ao ambulatório do segundo contestante para consulta normal,
diante dos sinais de consolidação da fratura, foi indicada a retirada do
fixador de fêmur, o que obviamente deveria ser realizado por meio de
intervenção cirúrgica.

Não aceitando o diagnóstico e prescrição de


tratamento terapêutico indicado pelo segundo contestante, o requerente
abandonou o tratamento médico, afirmando categoricamente que
procuraria outra assistência médica 9 conforme noticiado na inicial- item
17 ).

II – DO DIREITO

1. Da obrigação de meios

1.1 Do contrato médico x paciente – 1.2 Do


adimplemento do contrato – 1.3 Da
participação ativa do credor/paciente no
adimplemento do contrato – 1.4 Das
excludentes da responsabilidade médica

1.1 Do contrato médico x paciente

De suma importância se faz os esclarecimentos


acerca da natureza do contrato firmado entre médico e paciente, uma
vez que é o caso presente.

O contrato que se estabelece entre médico e


paciente é nada menos que contrato de locação de serviços, onde o
paciente contrata o médico para a prestação de seus serviços médicos.
Entretanto, tal contrato é de natureza sui
generis , primeiramente porque conta com o paciente como partícipe
ativo do adimplemento do contrato e ainda por ser típico contrato que
expressa obrigação de meio e não de resultado.

Nos dizeres de Caio Mario da Silva Pereira, in


Instituições de direito Civil:

“Nas obrigações de resultado, a execução


considera-se atingida quando o executor
cumpre o objetivo final, a inexecução
caracteriza-se pelo desvio de certa conduta,
ou omissão de certas precauções a que
alguém se comprometeu sem se cogitar do
resultado final”.

Ainda, segundo Washington de Barros Monteiro:


Nas obrigações de meio o devedor obriga-se a
empregar diligência, a conduzir-se com
prudência, para atingir a meta colimada pelo
ato. Dessa índole é, exemplificativamente a
obrigação assumida pelo médico, que se
compromete a cuidar do enfermo.”

Dessa natureza é a atividade médica, eis que os


princípios que regem a vida humana, da qual cuida o profissional da
medicina, baseia-se em conceitos inexatos.

Desta forma, a obrigação do médico é prestar


assistência e cuidados conscenciosos e adequados ao estado do paciente.
Entretanto ele não assume o compromisso de curar o doente, mesmo
porque a obtenção dos resultados obedece a preceitos não exatos.

Nesse sentido, para o cliente/paciente é limitada


a concepção de responsabilidade médica, porque o fato de se obter a
cura não importa em reconhecer se o médico foi inadimplente ou não.
O objeto do contrato médico é a prestação de
cuidados conscenciosos, atentos e de acordo com as aquisições da
medicina. Somente serão responsabilizados quando ficar provada
qualquer modalidade de culpa: imprudência, imperícia ou negligência.

Aliás, tanto é de meio a obrigação do médico que


este é proibido pelo Código de Ética médica a prometer a cura do
paciente. Isto se deve ao fato de que o organismo humano interage com
os medicamentos e tratamentos clínicos, de forma que cada qual
demonstra uma resposta específica.

Assim, no contexto da obrigação de meios, o


médico deve ser analisado sob o prisma da culpa na aplicação do
tratamento ou mesmo no diagnóstico, mas jamais podendo lhe atribuir a
obrigatoriedade da cura do paciente.

Ao médico cabe observar a responsabilidade


inerente ao exercício da sua função, desempenhando a sua atividade
com a devida cautela necessária a se alcançar um resultado positivo.
Entretanto, se este ocorrerá ou não, não influencia no adimplemento ou
não da obrigação.

Nesse sentido:
Se o médico se compromete a se esforçar para
conseguir a cura, cabe á vítima do dano provar a
sua culpa ou dolo. É o cliente ou sua família que
tem de demonstrar que o médico agiu com
negligência, imprudência ou imperícia para que
possa receber a indenização devida”.
(Responsabilidade Civil dos médicos, “in
responsabilidade Civil, Coordenação de Yussef Cabali,
Ed. Sariva, S.Paulo, 2 ed, 1988, pp. 319-321)

Não há o compromisso de curar, mas tão somente


o de proceder de acordo com as regras e os
métodos da profissão”. Por fim, alinha que
desta forma, a obrigação médica é de meio e
não de resultado o que difere basicamente sua
responsabilidade das demais contratuais,
mesmo que pertença no modelo jurídico a esta
espécie”. (responsabilidade civil do médico
(artigo) RT 674/57).

“Entende-se que a obrigação contratual


assumida pelo médico não é de resultado, mas
de meios ou de prudência e diligência, como
correntemente é referido. Não constitui objeto
do contrato a curo do doente mas a prestação
de cuidados conscienciosos e atentos.
Caracterizada assim a natureza da obrigação
resultante desse contrato, que obviamente
não tem necessidade de ser firmado, mas cujo
vínculo se forma quando, chamado, o médico
aceita a incumbência de tratar o doente,
assume em consequencia, a obrigação de dar a
este o tratamento adequado, isto é, conforme
os dados atuais da ciência. A atenção ao
chamado, seguida da visita e do tratamento
iniciado, estabelecem o contrato entre o médico
e o cliente. (TJRS - 1 C – Ap. J 21.10.76 -
AJURIS 17/76).

“A responsabilidade dos médicos é contratual,


mas baseada fundamentalmente, na culpa. A
obrigação assumida não é de resultado, mas de
meios, ou de prudência e diligência”. (TJRJ – 4 C
– Ap. 10898 – j. 11.3.80 – Diário da Justiça do Rio
de Janeiro, 7.5.81, p. 64, in “Responsabilidade
Civil”, Cordenador Yussef Said Cahali, Saraiva, 2
ed., 1988, p 348)

Não há obrigação por risco profissional pois os


serviços medicos são de meios e não de
resultado”(TJSP – 2 C – Einfrs. – j. 30.12.80 –
RJTJESP 68/227).

Na obrigação de meios, o que se torna preciso


observar é que o objeto do contrato médico não é a cura, obrigação do
resultado, mas a prestação de cuidados conscienciosos, atentos e de
acordo com as aquisições da ciência.

Tereza Anacona Lopez de Magalhães, forte em


ensinamentos de René Savatier (“Traité de la responsabilité civile em
droit français”, Paris, LGDJ, 1939, t1, p146) traz esclarecimentos mais
dilargados sobre a questão, assim expondo:

“A questão da presunção de culpa e


conseqüente inversão de ônus probandi não
se liga à divisão entre culpa contratual e
aquiliana, mas, sim, ao fato de a doutrina e a
jurisprudência, mais recentemente,
interpretarem as obrigações contratuais como
obrigações de meio e obrigações de
resultado, e ai está, segundo o mesmo autor,
a chave da mudança sobrevinda do ônus da
prova.

Em resumo, o que importa na responsabilidade


dos médicos é a relação entre a culpa e o dano para que possa haver
direito à reparação; mas para maior apoio ao ofendido é preciso saber-se
se o dano foi causado no inadimplemento de uma obrigação de meios ou
ao contrário, de resultado, pois nesse ultimo caso haverá inversão do
ônus probandi e a vítima da lesão ficará em situação mais cômoda.

“Ora, na obrigação de meios o que se exige


do devedor é pura e simplesmente o emprego
de determinados meios sem ter em vista o
resultado. É a própria atividade do devedor
que está sendo objeto do contrato. Esse tipo
de obrigação é o que aparece em todos os
contratos de prestação de serviços, como o de
advogados, médicos, publicitários, etc”
Dessa forma, a atividade médica tem de ser
desempenhada da melhor maneira possível
com a diligência necessária e normal dessa
profissão para o melhor resultado, mesmo
que este não seja conseguido. O médico deve
esforçar-se, usar de todos os meios
necessários para alcançar a cura do doente,
apesar de nem sempre alcança-la”..

Desta forma, pacífico o entendimento que a


obrigação oriunda do contrato médico é a de meios e não de resultado.
Uma vez em se tratando o presente processo sobre relação médico x
paciente, onde este reclama indenização por dano supostamente
causado devido a conduta culposa do contestante, pertinente o
esclarecimento acima realizado.

1.2 Do adimplemento da obrigação de meio

Uma vez sendo o contrato firmado entre o


médico e o paciente é oriundo de obrigação de meios e não de
resultado, o seu adimplemento depende única e exclusivamente da
aplicação de cautela e zelo do profissional ao aplicar o tratamento
terapêutico, diagnóstico ou mesmo intervenção cirúrgica.

Ao fazer o diagnóstico de acordo com as


condições existentes, agindo com cautela e fazendo uso de todos os
métodos disponíveis para a obtenção da cura, o médico estará
adimplindo com sua obrigação, que reitera-se é de meios e não de
resultado.
Não é necessária a cura do paciente para que se
verifique o adimplemento do contrato, eis que esta baseia-se em
conceitos não exatos, e dependente de vários fatores, dentre eles o
próprio organismo do paciente.

Assim, o médico que atua com lisura, aplica os


métodos adequados, atendidos todos os cuidados habituais, o médico
cumpriu com o contrato firmado, não podendo ser responsabilizado por
qualquer dano que venha sofre o paciente que seja ele oriundo de caso
fortuito (reação negativa de seu organismo) quer inadimplemento do
contrato (não obediência das prescrições médicas).

Nesse sentido:

“Com a evolução e o aprimoramento das


técnicas cirúrgicas operou-se a divisão do
trabalho por equipes especializadas. A
concepção unitária a operação cirúrgica é
conceito ultrapassado. A noção de ato
destacável, própria do direito administrativo
encontra plena receptividade em tema de
responsabilidade dos médicos. Tudo o que for
destacável do ato operatório engaja a
responsabilidade de quem o praticou e não
necessariamente a do cirurgião. Impende,
pois, isolar a atuação do anestesista frente
ao caso concreto. Embora a escolha do
medico ou tipo de anestesia tenha sido feita
de comum acordo, o ato cirúrgico
propriamente dito transcorreu normalmente,
o que afasta a responsabilidade do medico
pela lesão e dano que veio a sofrer o
paciente. Essa lesão resultou da injeção de
um medicamento antiemetico na preparação
do paciente para a anestesia. O antiemético
era vaso constritor e, por acidente, foi
injetado na artéria umeral do paciente, eis
que havia implantação anômala dessa artéria
em local – a dobra do cotovelo – onde
geralmente há uma veia. Essa aberração,
constatada pela perícia era insuspeitada e
inverificável sem exame com destinação
específica. Observadas que foram todas as
regras da ciência médica, e atendidos os
cuidados habituais, não há como
responsabilizar o anestesista, nem por
imprudência, nem por imperícia, nem por
negligência; nenhuma falta grave lhe pode
ser imputada. ... ( TJRS 2C – Ap. –j 29/7/65
AJURIS 17/75)

RESPONSABILIDADE CIVIL – DANO RESULTADO


DE OPERAÇÃO CIRURGICA – VINCULAÇÃO DE
CAUSA E EFEITO ENTRE A LESÃO E A
OPERAÇÃO – Inocorrência contudo de
qualquer ação ou omissão voluntária ou
negligencia ou imprudência do facultativo –
“não há obrigação por risco profissional, pois
os serviços dos médicos são de meio e não de
resultado . Essa teoria, bem exposta por
Demogues (‘Ensaios e pareceres de direito
empresarial’, de Fábio Konder Comparato,
Forense, 1978, p524) alude ao exemplo dos
serviços profissionais do médico que se
obriga a usar todos os meios indispensáveis
para alcançar a cura do doente, porém sem
jamais assegurar o resultado, isto é, a
própria cura. Como não há risco profissional
independente de culpa, deixa de haver base
para fixação de responsabilidade civil.”
(TJSP – 2C – Einfrs. – j. 30.12.80 – RJTJESP
68/227).

1.3 Da participação ativa do credor/paciente


no adimplemento do contrato

O contrato médico x paciente não é apenas sui


generis pelo fato de representar uma obrigação de meios, mas também
porque do paciente depende a obtenção da cura ou não, ou seja, o
paciente tem influencia ativa no resultado do trabalho prestado pelo
médico.
O paciente participa do contrato como partícipe,
dele dependendo também o êxito ou não do tratamento. Essa
participação poderá ser voluntária ou não.

Voluntária quando o paciente exerce o seu direito


de seguir ou não a prescrição médica, ingerindo os medicamentos na
posologia indicada e nos horários indicados, bem como seguir ou não
prescrição de repouso.

A participação é involuntária quando o paciente


está inconsciente, ou mesmo quando o seu organismo não responde à
medicação ou à intervenção cirúrgica realizada. Nessa segunda hipótese
temos o inadimplemento do contrato por caso fortuito.

Nas palavras de Leo Meyer Coutinho, ipsis literis:


“O médico não devolve vida ou saúde ao
paciente. É este que se recupera com o
auxílio do médico, razão do compromisso ser
de meios e não de fim. O médico dedica todo
o seu saber em favor do paciente. A cura é
conseqüência quando há colaboração deste,
voluntária ou não”. (Responsabilidade ética
penal e civil do médico. 1 Ed. Brasília
Jurídica:1997. Pág. 19
Assim, no contrato médico o paciente contribui
de forma voluntária ou não para a obtenção da cura eis que participa
ativamente do tratamento terapêutico prescrito pelo médico.

1.4 Das excludentes da responsabilidade


médica

São excludentes da responsabilidade civil


médica, caso se verifique ocorrência de dano ao paciente, a ausência do
nexo de causalidade entre o fato e o evento danoso ou mesmo quando a
vítima no caso, o paciente, é exclusivamente responsável pela
ocorrência do dano.

No primeiro caso, deve-se provar que o resultado


lesivo não surgiu de sua culpa ou omissão como profissional, mas sim que
apesar de todos os cuidados o organismo do paciente não reagiu de
maneira satisfatória.

Cumpre então comprovar que o dano adveio do


próprio organismo do paciente que não respondeu de acordo com as
expectativas genéricas ao tratamento, em detrimento de outros
enfermos na mesma condição e com resultados satisfatórios.

Outra excludente de responsabilidade médica é a


culpa exclusiva do paciente, onde o evento danoso decorre da sua
atuação pessoal. É o caso do descumprimento do repouso receitado pelo
médico, bem como a não ingestão do medicamento receitado na
posologia indicada e na hora indicada.

Temos ainda o fato de terceiro como causa de


excludente, como o caso do hospital que não possui aparato médico e
infra-estrutura para o atendimento de certa urgência.
Por fim, temos como última excludente da
responsabilidade médica a cláusula de não indenizar, muito comum nas
intervenções cirúrgicas seletivas, como é o caso da cirurgia plástica
estética.

2. Do conceito de erro médico

O conceito de erro médico está intimamente


ligado ao não seguimento das normas especificadas no Código de Ética da
Medicina.
Isto porque o Código de Ética Médica estabelece
regras que, se quebradas pressupõe a culpa do médico no exercício de
suas funções.

Temos três tipos de erro médico: erro de relação,


erro de diagnóstico e erro terapêutico.

O erro de relação ocorre quando medico não


conduz a relação com seu paciente de acordo com as normas éticas
previstas no Código de Ética.

Quando no diagnóstico o médico não segue as


prescrições do Código de Ética medica, igualmente incide em erro o
profissional. O erro de diagnóstico, ao contrário do que pode-se pensar
a primeira análise, não é aquele onde existe diagnóstico errado da
enfermidade. Pode ser desde um diagnóstico exagerado à pedido de
exames desnecessários.

Assim, o engano ou erro no diagnóstico por si só


não é punível. Será quando o médico deu causa ao erro por infringência
ao código de ética medica.
Porque o médico exerce uma atividade de meio e
não de resultado, compromete-se ao firmar o contrato com o paciente a
agir de conformidade com as normas que regem a sua profissão.

Uma vez que o objetivo não é a cura mas sim a


aplicação de lisura e cuidados adequados, o erro médico apenas ocorre
com a inobservância de tais regras.

Assim, se o médico age de conformidade com os


procedimentos regularmente aplicados e ainda em de acordo com os
preceitos éticos de sua profissão, mesmo que ocorra o evento danoso
não há de se falar em erro médico.

3. Do tratamento ministrado ao requerente.

3.1 Da primeira intervenção cirúrgica – 3.2 Do


segundo procedimento adotado pelo primeiro
contestante – 3.3 Da troca da haste medular
por fixador externo realizada pelo primeiro
contestante. – 3.4 Da drenagem e troca do
fixador realizados pelo primeiro contestante –
3.5 Do diagnóstico e internação por
osteomelite realizado pelo segundo
contestante – 3.5 Da implantação de enxerto
ósseo realizada pelo segundo contestante
3.1 Da primeira intervenção cirúrgica

O requerente foi internado na Santa Casa de


Coquinhos aos cuidados do primeiro contestatante, com fêmur direito,
tendo como prescrição a osteosíntese a ser realizada mediante colocação
de haste medular.

Ao contrário do que afirma em sua inicial, o


requerente permaneceu internado nove dias antes da intervenção
cirúrgica, não apenas ‘aguardando’ mas sim em observação e à espera
dos resultados de exames pré-operatórios indispensáveis.
O primeiro contestante, verificando um quadro
de impossibilidade de punção de veias periféricas, e avisado pela família
do requerente que este passava por tratamento cardiovascular, foi
obrigado a tomar medidas preventivas de maneira redobrada, visando
um bom resultado do procedimento.

Foram realizados os exames pré-operatórios de


praxe, e ainda requisitado parecer de médico cardiovascular, para então
proceder-se a realização do procedimento cirúrgico.

Toda a cirurgia foi realizada pelo segundo


contestante, Dr FULANO DE TAL, que foi o cirurgião ortopedista
responsável, conforme consta no boletim cirúrgico (doc. anexo).

Aliás, data máxima respecta, impossível a


realização desse procedimento por pessoa não qualificada. Caso a
cirurgia houvesse realmente sido feita pelo instrumentador Mauro,
conforme afirma categoricamente em sua inicial, possivelmente o
requerente teria ido à óbito e não estaria hoje diante o Judiciário
pleiteando verba indenizatória!

Relativamente a alegação de que o contestante


permaneceu no centro cirúrgico “lendo jornal”, esta não merece sequer
maiores considerações. Tal alegação infundada foi trazida aos autos
pura e simplesmente com o intuito de induzir a erro o juízo.

Toda a cirurgia decorreu de forma normal,


segundo consta no boletim cirúrgico(doc. anexo), sendo tomadas todas
as medidas terapêuticas necessárias para inibição bacteriana, com
aplicação de Kefazol (cefalexina) indicada como profilaxia para esse tipo
de intervenção, conforme protocolo do hospital (doc. anexo).

O requerente teve pós operatório acompanhado


diariamente pelo contestante bem como todo o corpo clínico e auxiliar
do hospital, através de três visitas diárias, conforme prontuário médico
(doc. anexo).

Ao contrário do que afirma em sua inicial, o


requerente recebeu alta em 18/11/2000 ante o bom quadro clínico,
sinais de cicatrização do local operado, sinais vitais normais, e ausência
de febre, conforme se constata de seu prontuário médico (doc. anexo).

Não há como fazer referência a erro de


diagnóstico, muito menos a erro terapêutico, eis que acertado ambos. O
requerente foi submetido a todos os cuidados pós e pré-operatórios.

O requerente afirma em sua inicial que recebeu


alta “mesmo com dores intensas e febre alta”. Ora MM. Juiz, as
alegações do requerente vão absurdamente contra as constantes do
prontuário médico do requerente.

Segundo o gráfico de acompanhamento de


temperatura não houve a tão festejada febre no então da alta. Ainda,
estranho o fato de queixar “intensa dor” em sua inicial, quando no
prontuário consta que o requerente foi liberado sem queixas e sem
febre.

Segundo prontuário, plantão das 13 às 19h:


“Paciente calmo, lúcido, abdômen flácido,
mantendo repouso no leito, sentado na cama,
local cirúrgico com boa perfusão, não
apresentou hipertermia, sem queixas, feitos
todos os cuidados gerais
Dieta regular.
Diurese presente.
Vômitos: Não
Evacuação: Não”

O requerente foi liberado com alta médica diante


o seu bom quadro clínico, não havendo febre ou dor, conforme provar em
sua inicial diante alegações inverídicas.
Destarte, não há de se falar em imperícia,
imprudência ou negligência no procedimento de osteosíntese realizado
pelo primeiro contestante, eis que notadamente de acordo com os
procedimentos padrões da medicina. Ainda, diante do quadro de
deficiência vascular do requerente, o primeiro contestante cuidou de seu
caso com redobrado zelo, o que se demonstra através de exames
requisitados e parecer de médico especialista (doc. anexo).

O requerente em sua peça inicial refere-se como


base para o seu pedido de indenização, a “assistência médica
deficitária”, provada pelas supostas altas com febre e infecção
hospitalar!

Data vênia, segundo o prontuário medico não


houve alta com febre. O quadro clinico do requerente, no então da alta
médico, era compatível com o de um paciente que estava se
recuperando bem de uma intervenção cirúrgica.

A medicação aplicada foi a adequada para o caso


de osteosintese de fêmur, conforme práxis médica, com prescrição de
cefalexina (Kefazol) antibiótico indicado como profilaxia nesse tipo de
intervenção pelo protocolo do hospital (doc. anexo).

Desta forma, não há de se falar em negligência,


imprudência ou imperícia, do primeiro contestante, na intervenção
cirúrgica para colocação de haste medular, eis que esse agiu
rigorosamente de conformidade com a praxis médica, de maneira clara e
responsável.

3.2 Do segundo procedimento adotado pelo


primeiro contestante
Após a alta médica referente à osteosíntese
realizada em 14/11/2000, o requerente compareceu ao ambulatório
médico queixando dores e febre, motivo pelo qual o contestante
requisitou a sua pronta internação para controle de osteosíntese.

Foi então requisitado os exames de praxe para


verificação de quadro infeccioso, hemograma completo e hemocultura.
Em momento algum tal hemograma indicou “infecção hospitalar”
conforme indicado na inicial, mas apenas um quadro infeccioso, que, a
priori não poderia ser identificado a sua causa ou mesmo a sua origem.

O primeiro contestante prescreveu medicação


para combate de infecção, principalmente com antibiótico indicado para
os casos de consolidação de osso (cefalexina).

Uma vez que houve a evolução do quadro clínico


do paciente, e de que este respondeu ao medicamento de forma
adequada, conforme pode se constatar em seu prontuário médico, o
primeiro contestante manteve a prescrição médica.

O requerente queixa diversas vezes do edema,


tentando justificar uma suposta negligência do primeiro contestante na
condução de seu tratamento. Entretanto, vale salientar que este
problema deu-se em razão dos problemas circulatórios do requerente, o
que se tornou inclusive preocupação constante durante o tratamento.

Durante o período de internação, o requerente


teve picos de hipetermia, sendo medicado na ocasião, febre esta que
cedeu com a medicação acertadamente prescrita pelo primeiro
requerente.
O último pico febril do requerente ocorreu em
07/12/00, motivo pelo qual o primeiro contestante iniciou tratamento
com Bactrin (sulfametoxazol + trimetropin) ao qual o requerente reagiu.

Com a boa reação à medicação, houve a melhora


do quadro geral do requerente, que permaneceu por mais quatro dias no
hospital, no qual foi observada ausência de febre, bom estado do local
operado, sem que este queixasse de dores.

Após plantão da manhã de 11/12/2000, onde


conforme prontuário médico (doc. anexo), estava o requerente sem
queixas de dor, sem hipertermia, sentado com boa aceitação da cadeira
de descanso, autorizou a sua alta.

Não há de se falar em culpa do primeiro


contestante quando à segunda internação do requerente. Conforme já
exposto no início da presente contestação, o contrato entre médico e
paciente é o único no qual o paciente tem participação ativa.

Após a alta médica dada em razão da cirurgia


para colocação de haste medular, o requerente permaneceu em sua
residência e foi expressamente advertido quando a necessidade de
repouso. Ainda, o requerente levou consigo receituário prescrito, que
deveria ser seguido rigorosamente, para tratamento da consolidação da
fratura e prevenção de infecção.

O que queremos elucidar é que, em nenhum


momento o requerente deixou a instituição médica com hipertermia. De
forma alguma foi dada alta hospitalar sem que este estivesse em boas
condições e com quadro clínico bom.

Entretanto, conforme se denota dos prontuários


médicos, após as altas médicas, após um certo período em sua
residência, o requerente apresentava piora do quadro, o que poderia
simplesmente ser causado pela não reação do seu próprio organismo ou
mesmo pela não obediência ao repouso indicado ou à não ingestão da
medicação prescrita.

De maneira alguma houve negligência,


imprudência ou imperícia do primeiro contestante, que agiu com total e
plena lisura em todos os seus atos, quer diagnóstico, quer aplicação do
tratamento terapêutico.
3.3 Da troca da haste medular pelo fixador
articulado realizada pelo primeiro
contestante.

Do período de 23/12 à 23/02 o paciente


permaneceu em sua residência comparecendo a consultas regulares no
ambulatório médico.

Ao contrário do que afirma em sua inicial, o


requerente ao queixar-se de secreção no membro operado, foi
devidamente informado pelo primeiro contestante que deveria ser
aguardada a formação de “calo fibroso” para então passar para o
próximo passo do tratamento.

Sabe-se que a precoce retirada da haste medular


poderia comprometer a consolidação da fratura. Uma vez não
apresentando o requerente febre ou outro fator que justificasse a
retirada precoce da haste, tal procedimento somente foi realizado em
20/02/2001

Ao contrário do que afirma em sua inicial, o


requerente foi informado de todo o andamento terapêutico. Estava
ciente ou ao menos foi informado pelo primeiro contestante de todos os
passos do tratamento, mas pelo visto “esqueceu-se” por ocasião da
propositura da presente ação.
Em 14/02/2001 foi realizada uma reavaliação do
requerente, chegando-se a conclusão que o melhor a se fazer seria a
troca da haste de platina por fixador dinâmico, que por ser menos
agressivo “poderia” ser melhor aceito pelo organismo do requerente.

A cirurgia decorreu de forma normal, e foi


colocado o fixador lateral. Ao contrário do que afirma o requerente em
sua inicial, não houve de forma alguma colocação errônea do fixador,
como inclusive se constata das radiografias (doc. anexo).

O fixador foi colocado na lateral da coxa direita


do requerente, motivo pelo qual não existe a possibilidade trazida na
inicial, eis que o nervo ciático situa-se na parte anterior da coxa.

Do prontuário médico do requerente, observa-se


que o contestante prescreveu toda a medicação adequada e que o
quadro do paciente melhorou significativamente, o que demonstra uma
reação positiva do requerente ao medicamento prescrito.

Uma vez constatando a melhora do quadro, a


inexistência de febre, queixa de dor ou de qualquer outro motivo que
justificasse a permanência do requerente no hospital, conforme
constata-se no plantão do dia 07/03/2001, foi dada a alta hospitalar.

Mais uma vez, o requerente agiu de


conformidade com a práxis médica, sendo todos os atos ministrados no
tratamento do requerente de extrema lisura e cautela, não havendo
como se presumir a “supôsta” culpa que tenta induzir o requerente em
sua inicial.

3.4 Da drenagem e troca do fixador


realizados pelo primeiro contestante
O requerente retornou ao ambulatório médico do
primeiro contestante, queixando de dores. O contestante realizou
analise clínica e verificou que o fixador externo apresentada mobilidade
(“jogo”) o que poderia retardar a consolidação da fratura.

Tal procedimento, conforme práxis médica, foi


realizado através de cirurgia realizada em 13/04/2001, onde foi
realizada além da troca do fixador, a drenagem e limpeza do local
operado.

Nessa cirurgia foi trocado o fixador externo, não


em vista de uma suposta “colocação errônea” anterior, mas sim porque
diante da mobilidade, que pode ocorrer como desgaste natural ou
mesmo esforço indevido do paciente, poderia haver o comprometimento
da consolidação da fratura.

O requerente foi internado em 11/04/2001, e


não 13/04/2001 conforme afirma em sua inicial. E ainda, foi internado
com essa antecedência para a realização dos exames pré-operatórios que
se faziam necessários, em casos como o do requerente – complicações
vasculares e impossibilidade de punção de veias periféricas.

Fez todos os exames para averiguação de quadro


infeccioso, e tomou todas as medidas cabíveis no caso do requerente. O
procedimento cirúrgico decorreu de forma regular, conforme consta do
boletim cirúrgico(doc. anexo)

Foi prescrita toda a medicação indicada para o


caso, dentre a qual estava os antibióticos para prevenir ou combater
possível quadro infeccioso, que normalmente pode ocorrer neste caso de
intervenção.
Segundo o prontuário médico a medicação foi
bem aceita pelo requerente, que ao contrário do que afirma, foi liberado
do hospital sem queixas de dor ou mesmo febre. Isso é indicativo de que
o antibiótico aplicado foi o adequado para o tratamento do caso do
requerente.

Afirma o requerente que permaneceu em casa


com a perna “totalmente” aberta, o que não coincide com a verdade
fática. Por ocasião da drenagem foi deixada uma pequena incisão aberta
na perna do requerente, de acordo com o procedimento padrão da
medicina para que houvesse escape das impurezas.

Tal fato, faz parte dos procedimentos padrões.


De forma nenhuma indica a tão festejada atitude negligente ou imperita
do contestante, que apenas realizou os procedimentos com a maior
lisura e fazendo uso de todos os seus conhecimentos médicos.

3.5 Do diagnóstico e internação por


osteomelite realizado pelo segundo
contestante

No dia 20/04/2001, aos cuidados agora do


segundo contestante, Dr. CICRANO DE TAL, foi diagnosticada a
osteomelite do fêmur direito do requerente, motivo pelo qual foi
internado na Santa Casa.

O segundo contestante então, diante da


deficiência vascular do requerente, tomou todas as medidas preventivas
e profiláticas para o tratamento, inclusive requisitando parecer de
especialista.

Vale ressaltar novamente, que a ausência de


veias periféricas do requerente impossibilitava a aplicação de medicação
via intravenosa. Desta forma, a única alternativa para tratamento era
medicação oral e ainda injeção de medicamento via músculo.

O especialista vascular indicou a prescrição de


antibiótico, que foi realizado prontamente pelo segundo contestante. O
requerente passou a tomar Cipro Keflim via oral, e Garamicina via
injeção muscular, procedimento esperado para o caso.

O contestante requisitou o exame de cultura,


para avaliar o antibiótico a ser usado. Após o resultado (27/04/2001), a
partir do dia 28/04/2001 foi trocado o antibiótico para “AMICACINA”.

Conforme podemos constatar no resultado do


antibiograma juntado pelo próprio requerente, o staphylococcus aureus
é sensível à AMICACINA, o que foi prontamente prescrito pelo
contestante (doc. anexo).

Assim, apesar do vasto “conhecimento” na área


médica que demonstrou em sua inicial, o requerente não tem qualquer
fundamento ao afirmar que o segundo contestante prescreveu
medicamento INADEQUADO para o tratamento. Novamente, com vagas
alegações tenta induzir a erro o presente juízo, visando com isso o
atendimento de suas infundadas pretensões.

O segundo contestante tomou todas as medidas


preventivas e assecuratórias cabíveis, dentre prescrição de medicação
adequada, controle de cicatrização do ferimento e controle da
osteosíntese de fêmur.

O requerente recebeu alta dentro do tempo


normal de internação e tratamento para os casos de osteomelite – 21
dias no mínimo, segundo práxis médica – com quadro clinico bom, sem
febre, indicativo de normalização do quadro infeccioso (gráfico de
controle de temperatura anexo).

3.5 Da implantação de enxerto ósseo


realizada pelo segundo contestante

O segundo contestante, após retorno ao


ambulatório, indicou ao requerente a implantação de enxerto ósseo,
conforme procedimento técnico indicado nos casos de fratura de fêmur.

Este foi internado no dia 30/08/2001 e a


colocação do enxerto ósseo foi realizada em 01/08/2001, que decorreu
de forma normal (boletim cirúrgico anexo).

Permaneceu no hospital para o acompanhamento


da evolução e para que fosse ministrada de forma correta a medicação
prescrita.

Diante do quadro do paciente, que não


apresentava hipertermia febre e estava sem dores (conforme
prontuário), o requerente recebeu alta hospitalar em 10/08/2001.

Seis meses após o implante de enxerto ósseo, que


é o tempo padrão nesse tipo de procedimento, o requerente realizou
nova consulta com o contestante que diante dos sinais de consolidação
da fratura, indicou a retirada do fixador de fêmur.

Não aceitando o diagnóstico feito pelo segundo


contestante, o requerente abandonou o tratamento médico.

O segundo contestante utilizou de todo o seu


conhecimento médico para o tratamento do requerente, sendo que
atingiu um bom resultado, ou seja, a consolidação da fratura motivo pelo
qual indicou a retirada do fixador.

Não existiu da parte do requerente qualquer ato


de imprudência, imperícia ou negligência no desenvolvimento de sua
função, motivo pelo qual não se pode atribuir responsabilidade de
qualquer natureza pelo “suposto” dano sofrido pelo requerente.

Ao agir com lisura e praticar todos os atos


segundo a ética de sua profissão, fazendo uso de todos os meios
disponíveis na Medicina moderna para a cura do requerente, adimpliu a
sua obrigação de meios, não podendo se falar in casu em
responsabilidade civil.
4. Da inexistência de culpa no tratamento
terapêutico ministrado ao requerente - 4.1
Da inexistência de culpa do primeiro
contestante – 4.2 Da inexistência de culpa
do segundo contestante

4.1 Da inexistência de culpa do primeiro


contestante

O requerente afirma em sua inicial ter o primeiro


contestante agido com culpa latu sensu, na condução de seu tratamento.

Em que pese as afirmações do requerente, em


momento algum o primeiro contestante deixou de agir com a lisura e
cuidados que sua profissão exige, no tratamento do requerente.

Os procedimentos cirúrgicos realizados pelo


contestante foram irrepreensíveis, conforme respectivos boletins (doc.
anexos), bem como a prescrição de medicamentos.

Para tentar configurar uma culpa inexistente do


primeiro contestante, o requerente afirma que recebeu altas médicas
com febre e dor, que o fixador foi colocado de forma errônea, que não
recebeu tratamento adequado, que teve infecção hospitalar devido ao
mal atendimento.

Em que pese as inúmeras alegações, diga-se de


passagem infundadas, do requerente, sua pretensão não merece acolhida
eis que o primeiro contestante cumpriu com todos os deveres que lhe
cabiam no exercício de sua função.

Segundo os prontuários médicos que


acompanham a presente contestação, todos a alta médica recebida pelo
requerente em todos os procedimentos e intervenções realizadas pelo
primeiro contestante ocorreram somente após constatação de quadro
clínico bom.

Em nenhuma das altas hospitalares verifica-se


estado febril ou mesmo queixa de dores. O que se verifica pelos
prontuários e gráficos demonstrativos de temperatura, é que o
requerente após internação, apresentava melhora e quando recebia alta
e retornava a sua residência apresentava piora.

Cumpre ressaltar que tal piora poderia ser


causada inclusive por não resposta do seu organismo, bem como falta de
repouso (prescrito pelo médico) ou não ingestão da medicação indicada.

Em todos os procedimentos forma tomadas as


medidas profiláticas no sentido de prevenir infecção. Ao requerente
foram ministrados antibióticos, e enquanto este esteve submetido à
internação, o que pressupõe uso correto dos medicamentos e repouso,
apresentou melhora no quadro clínico.

Segundo estudos médicos constantes no anexo


6.3 , em casos de osteosíntese existe a possibilidade de infecção de até
11%, o que não implica necessariamente de falta médica.
Conforme já exposto, a medicina é ciência não
exata, sendo impossível prever-se a resposta do organismo de cada
paciente. O fato de ocorrer uma infecção não pressupõe a falha médica.
Uma vez ocorrendo a infecção, a despeito de todos os cuidados medicos
realizados de forma conscienciosa, não há de se falar em erro médico ou
mesmo culpa latu sensu.

O requerente afirma em sua inicial que não


houve combate à infecção, quer por retirada da haste, quer por
drenagem. Ora MM. Juiz, com relação à troca da haste já foi
devidamente explicado que a retirada precoce da haste poderia trazer
conseqüências de difícil reversão na consolidação da fratura.

Aliás, segundo anexo 6.2, para o caso do


paciente (fratura com traço reto denteada) é indicada a colocação de
haste intramedular por apresentar melhores resultados.

A colocação de haste intramedular é a melhor


forma de tratamento de fratura de fêmur, conforme estudo médico
(anexo 6.2), que proporciona rápida regeneração do osso, união da
fratura e uso funcional do membro.

Como o requerente não apresentava febre, não


havia motivo para que se arriscasse uma retirada precoce da haste,
devendo o médico nesses casos aguardar a formação do “calo fibroso”
para dar prosseguimento ao tratamento.

Após verificada a formação do calo fibroso, o


contestante ai sim indicou a retirada da haste, DRENAGEM e troca da
haste medular para fixador articulado, o que foi realizado através da
segunda cirurgia.
O fixador foi colocado de forma correta, na parte
lateral da coxa, e ainda, a troca do fixador realizada através da terceira
cirurgia refere-se apenas à parte externa. Em nenhum momento o
motivo da cirurgia de troca, foi colocar o fixador em posição “correta”,
como afirma o requerente em sua inicial.

Não houve omissão ou procedimentos culposos do


primeiro contestante quando aos procedimentos por ele realizados.

Ao contrário, devido ao quadro de deficiência


vascular do requerente, o contestante demonstrou atenção redobrada,
sempre requisitando todos os exames pré-operatórios necessários e ainda
indicados para a patologia específica do requerente, em uma
demonstração evidente de cautela e profissionalismo.

A tal ponto chega a má-fé do requerente, que


este afirma que “na terceira cirurgia os pinos ultrapassaram o osso,
atingindo outros órgãos do requerente”. Data máxima respecta, as
próprias radiografias demonstram que na terceira cirurgia apenas foi
trocada a parte externa do fixador! A parte interna do aparelho
continuou a mesma! Foram apenas efetuadas a drenagem da fratura e a
troca do aparelho externo que apresentava mobilidade!

Cumpre-nos salientar que, o fato de ter ocorrido


ou não infecção não implica na culpa ou falta médica na aplicação da
técnica terapêutica. Existem estatísticas médicas que constatam que
existe o risco de infecção em casos de colocação de próteses
ortopédicas, e que tal fato pode ocorrer independentemente de
qualquer conduta culposa do médico.

Mesmo ocorrendo uma eventual infecção, se o


médico agiu com lisura em sua conduta não existe como atribuir-lhe
culpa quanto ao evento danoso.
O primeiro contestante tomou todas as medidas
profiláticas, agiu dentro do protocolo ditado pela instituição médica,
receitou todos os medicamentos indicados para a prevenção e
tratamento de eventual infecção, portanto não podendo ser considerado
responsável pela resposta negativa do organismo do requerente, o que
independe de sua vontade.

Ainda, prosseguindo em sua conduta


irrepreensível, verificando um quadro de possível infecção, o primeiro
contestante indicou a troca da haste medular pelo fixador, uma vez
formado o calo fibroso.

Segundo práxis médica, o fixador externo é um


método de fixação com limitação. Isso significa que o fixador externo é
indicado apenas em alguns casos específicos. Uma das indicações do
fixador externo é a fratura com infecção (anexo 6.1).

Assim, mais uma vez constata-se a lisura da


conduta do primeiro contestante, que ao verificar um quadro de possível
infecção, e após a verificação de formação de calo fibroso, o que
possibilitaria a retirada da haste intra-medular sem maiores seqüelas,
indicou a colocação do fixador externo.

Ora MM. Juiz, conforme todo o prontuário médico


constata-se que foram tomadas todas as medidas indicadas para o caso
do paciente, não havendo em momento algum falta de higienização ou
erro dito “grosseiro” pelo requerente, na conduta do primeiro
contestante.

O fato do requerente ter ou não desenvolvido


uma infecção não causa uma presunção de culpa do medico, ainda mais
quando se prova que todo o comportamento médico do primeiro
contestante está dentro dos rigores dos procedimentos médicos
indicados.

Desta forma não há de se falar na tão aclamada


culpa do primeiro contestante à que se induz a inicial, eis que, se caso o
requerente sofreu algum dano, o que questiona-se, não foi decorrente
do tratamento ministrado, que se deu de forma irrepreensível.

4.2. Da ausência de culpa do segundo


contestante

O requerente afirma que o segundo contestante


igualmente “haveria” agido com culpa nos procedimentos por ele
realizados, quer na colocação de enxerto com perna infeccionada o que
impediu obtenção de resultado, como também na prescrição errônea de
medicamento.

Primeiramente vale ressaltar que a colocação de


enxerto ósseo era o procedimento adequado para o requerente, e foi
realizado no momento oportuno. Tanto é assim que o requerente apenas
retornou ao consultório médico do segundo contestante 6 meses depois,
quando este indicou a retirada do fixador diante dos sinais evidentes de
consolidação da fratura.

O que confirma ainda mais o correto diagnostico


e indicação feitos pelo contestante, é o relatório do Prof. Cleber, trazido
aos autos pelo próprio requerente. No relatório foi determinada a
retirada do fixador diante dos sinais de consolidação óssea.

Ora MM Juiz, o requerente trouxe aos autos o


próprio atestado de competência do segundo contestante! O médico do
hospital das clínicas de Ribeirão preto, procurado voluntariamente pelo
requerente e não por encaminhamento do hospital, indicou EXATAMENTE
o procedimento anteriormente indicado pelo contestante.
Aliás, a consolidação óssea é exatamente a prova
de que a cirurgia para implantação de enxerto ósseo foi bem sucedida,
ao contrario do que afirma em sua inicial.

O tratamento ministrado pelo segundo


contestante o foi feito dentro das regras de sua profissão, com a
aplicação de todas as técnicas conhecidas para o caso e com a maior
lisura e prudência possível.

O requerente alega em sua inicial, na tentativa


de induzir a erro o juízo, que o segundo contestante teria prescrito o
medicamento AMICACINA, incorreto, em lugar de VANCOMICINA.

Data vênia, o próprio antibiograma trazido aos


autos pelo requerente prova expressamente que no caso deveria ser
prescrita AMICACIA, eis que o staphylococcus áureus é sensível ao
medicamento!

Refere-se a “objeto estranho dentro do osso”


deixado no então da terceira cirurgia. Por ocasião da cirurgia de
colocação do enxerto ósseo, houve a fratura do material de síntese. Em
tais casos, conforme práxis médica, como trata-se de material inativo
sem qualquer influência na evolução do tratamento, a opção é a não
retirada.

Desta forma, novamente o contestante agiu


dentro das normas médicas, e ainda fazendo uso das técnicas
profissionais disponíveis, em momento algum agindo com culpa em
qualquer das suas modalidades.

5. Da ausência de nexo de causalidade


5.1 O requerente afirma ter sofrido danos de
natureza moral, material e estéticos, devido a suposta atitude culposa
dos contestantes e da primeira requerida, Santa Casa.

Refere-se com dano moral por supostas


humilhações decorridas no tratamento ministrado pelos contestantes,
bem como da suposta “deformidade” que sofreu. Como dano material
refere-se à quantia cobrada pela instituição médica pelo enxerto ósseo
implantado.

Relativamente ao dano estético, o requerente


refere-se a “deformidade” no membro inferior direito, causadas por
lesões permanentes de fêmur, consolidação em V, cicatrizes cirúrgicas
múltiplas, distúrbio de marcha, postura viciosa, incapacidade para
funções laborativas habituais.

A despeito do constante na peça inicial, não


existe nexo causal entre a conduta médica dos contestantes e os
supostos danos sofridos pelo requerente.

O requerente afirma que os danos foram


decorrentes das altas com infecção, erro nos procedimentos e retardo de
assistência no momento oportuno.

Data respecta, conforme podemos constatar de


todos os prontuários médicos, os procedimentos adotados pelos
contestantes foram adequados e temporaneos.
As aclamadas altas com febre não ocorreram e a
osteomelite foi devidamente tratada por meio dos medicamentos
apropriados.

Os procedimentos cirúrgicos foram realizados


dentro da práxis médica indicada para casos como o do requerente. Se
em algum momento não surtiram o efeito desejado, foi devido a
participação voluntária ou não do paciente, quer por não resposta do seu
organismo, quer pela não observância das prescrições medicas.

Conforme estudo médico (anexo.....) em casos


de osteosíntese com fixador externo, existe a porcentagem de casos
onde ocorreu o encurtamento do membro, o que ressalta-se não é
irreversível. Tanto é assim que o Prof. Cleber indicou, após a retirada do
fixador, cirurgia corretiva.

Vale ressaltar que, até o momento em que o


requerente estava em tratamento com o segundo contestante,
responsável pela implantação do enxerto ósseo, segundo radiografias em
anexo a fratura estava alinhada não se verificando o tão festejado
encurtamento.

Aliás, o requerente abandonou o tratamento, não


podendo o segundo contestante afirmar quando exatamente ocorreu tal
encurtamento, que pode perfeitamente ter ocorrido após a retirada do
fixador mediante não observância de repouso pelo requerente.

O requerente tenta em sua inicial atribuir como


causa ao encurtamento a infecção ou falta de cuidados médicos dos
requeridos. Em que pese tais alegações infundadas, o encurtamento de
membro é fato que pode estatisticamente ocorrer em casos de fratura
do fêmur, independentemente da conduta médica.

Tais conseqüências não pressupõem a falha na


conduta médica, ou mesmo erro do profissional, podendo ocorrer de
acordo com as circunstâncias e resposta clínica de cada indivíduo.

Novamente voltamos ao fato de que a obrigação


médica é de meios e não de resultados. Uma vez agindo o médico de
conformidade com a práxis médicas, aplicando todos os procedimentos
adequados em tempo hábil, não pode ser responsabilizado por eventual
dano que o paciente venha a sofrer.

O segundo contestante aplicou com rigor todos os


procedimentos médicos adequados, inclusive com progresso do quadro
do paciente, o que é mais notadamente reafirmado pelo Prof. Cleber.

Vale ressaltar que este indicou o mesmo


procedimento anteriormente indicado pelo segundo contestante,
afirmando categoricamente “haver sinais de consolidação” óssea, o que
é nada mais nada menos que o atestado de acerto da conduta médica do
contestante.

Assim, constata-se que, em que pese as


alegações do requerente que afirma ter sofrido “n” espécies diferentes
de danos, estes não têm qualquer ligação com a conduta médica dos
contestantes, o que implica em ausência de nexo causal entre a conduta
médica e o suposto dano.

Uma vez inexistente o nexo de causalidade não


há de se falar em indenização.

6. Dos danos alegados na inicial

6.1 Afirma o requerente ter sofrido danos de


natureza moral, patrimonial e estéticos, sendo estes últimos resultantes
do encurtamento da sua perna direita, supostamente resultado da
conduta dos contestantes.

6.2 Relativamente ao dano material alegado na


inicial, no tocante ao valor referente ao cheque protestado, os
contestantes não têm conhecimento de tal fato, mesmo porque são
apenas médicos contratados pela primeira requerida, motivo pelo qual
não participam em momento algum da parte financeira e administrativa.

Relativamente à pensão pleiteada, em que pese


as “declarações idôneas” juntadas, estas não tem o condão de aferir tal
salário como sendo o percebido pelo requerente.

Segundo documento fornecido pela Previdência,


o requerente percebe o auxílio doença no valor de R$ 205,25, este
calculado mediante as próprias informações e recolhimentos
apresentados pelo próprio contribuinte-requerente.

Ora MM. Juiz, se o requerente percebe hoje a


menos de um salário mínimo de auxílio doença, conforme relata em sua
inicial, é porque recolhe contribuição sobre o rendimento
correspondente.

Desta forma, e mesmo pelas datas, as


declarações juntadas à inicial presumem-se documentos forjados
especialmente para corroborar uma pretensão inócua do requerente,
sem, entretanto, ter o condão de comprovar ganho mensal.

Se o requerente realmente ganha o quanto


afirma, seria de bom alvitre que juntasse a declaração de seu imposto de
renda de pessoa física, ou mesmo guias de recolhimento de carnê-leão, o
que não foi feito.

Igualmente, o dano moral alegado na inicial não


ocorreu, ou caso tenha ocorrido não pode ser atribuído aos contestantes
que tomaram todas a medidas e cautelas preventivas possíveis na
prevenção e no combate à infecção.
Aliás, quando o paciente sofre um acidente da
proporção do requerente, este já tem conhecimento de que a
intervenção cirúrgica é algo necessário não questão de escolha.

Os aborrecimentos decorrentes de uma


internação ou mesmo de uma intervenção cirúrgica ou tratamento
médico à longo prazo, são inerentes da própria natureza da situação.
Não podem ser atribuídos a um ou outro médico ou mesmo à instituição
médica. São aborrecimentos previsíveis e esperados, oriundos de um
caso fortuito (acidente) que não pode ser atribuído a ninguém.

A infecção em casos de implante de prótese


ortopédica é fato que pode ocorrer, independentemente da conduta
médica, dependendo de vários fatores dentre eles a própria resposta do
organismo do paciente.

O requerente trata-se de paciente com problema


vascular, ausência de veias periféricas, motivo pelo qual foi feita em
cada intervenção cirúrgica dissecção de veia profunda.
Tal quadro é característica inerente do organismo
do paciente, e que sem dúvida alguma colaborou de forma negativa em
seu tratamento.

Ora MM. Juiz, uma vez sendo o contrato médico


uma expressão de obrigação de meio, não podemos exigir dos
contestantes a promessa de cura, muito menos em se tratando de um
paciente complicado e com anomalias vasculares como o requerente!

Assim, mesmo que se admita que o requerente


sofreu um “dano moral” devido ao quadro infeccioso de osteomelite que
desenvolveu no decorrer de seu tratamento, não podemos atribuir esse
fato às condutas irrepreensíveis dos contestantes.
6.3 Com relação ao dano estético, com maior
sorte não conta o requerente. Afirma que devido a cicatrização em “V”
da fratura, anda com dificuldade.

O requerente ainda chega ao ponto de afirmar


que sofreu restrições ao tentar revalidar sua carteira de Motorista,
encaminhado à banca de deficientes físicos, juntando como prova o
formulário preenchido.

Data respecta, O “parecer” descrito nas


observações do Detran, obviamente foram feitos de acordo com as
informações prestadas pelo próprio requerente na ocasião, eis que
realizada sem auxílio de qualquer prontuário médico.

Ainda, o requerente faz menção a diminuição de


suas habilidades! Ora MM. Juiz, segundo as “restrições” descritas no
formulário, o requerente continua a dirigir veículo NORMAL e está apto a
dirigir de forma normal (restrição X).

Vale ressaltar, que o requerente ABANDONOU o


tratamento, motivo pelo qual não pode se considerar que o tratamento
terminou e que a sequela seria “permanente”.

Conforme práxis médica, após a retirada do


fixador de fêmur, o próximo passo seria uma cirurgia corretiva, para
diminuir um possível encurtamento, comum nesse tipo de fratura.

Tanto é verdade, que foi exatamente o


recomendado pelo Prof. Cleber, que indicou a retirada do fixador e logo
o encaminhamento para osteotomia corretiva de fêmur.
Aliás, vale ressaltar que a retirada do fixador foi
realizada 5 meses após indicada pelo segundo contestante, diante do
abandono de tratamento pelo requerente.

Em suma, o requerente veio realizar o mesmo


procedimento que não quis que o segundo contestante realizasse, 5
meses após o indicado. Se houve destarte atraso no tratamento, este foi
causado pelo próprio requerente que, sem motivo aparente, abandonou
o tratamento.

Desta forma, não se pode considerar que a


“seqüela” do requerente seja permanente, mesmo porque o tratamento
da fratura ainda não encontra-se terminado. O encurtamento da sua
perna direita foi devido à fratura como conseqüência estatisticamente
normal segundo os estudos médicos, e pode ser amenizado ou mesmo
extinto por meio de cirurgia corretiva.

O que deve ficar claro é que tal seqüela não é


permanente, o que somente poderia ser afirmado após as cirurgias
corretivas, decorrência natural do tratamento de fratura de fêmur.

Ainda, o requerente não provou em momento


algum a sua incapacidade laborativa, sendo que o afastamento
concedido pelo INSS o foi feito com base no acidente em si, e não na
suposta “incapacidade”.

Obviamente o requerente deveria ficar afastado


do trabalho, eis que se encontrava em tratamento de fratura grave,
motivo pelo qual não poderia exercer a sua profissão normalmente.

Entretanto, esta incapacidade provisória não se


deve as condutas irrepreensíveis dos contestantes, mas sim da
enfermidade em si, decorrente de um acidente, ou seja, de um caso
fortuito.

Assim, em que pese as afirmações do requerente


em sua inicial, tal seqüela não pode ser considerada dano estético,
primeiramente porque questionável sua permanência e ainda porque não
implica necessariamente em uma diminuição do poder aquisitivo e
laborativo do requerente.

Nesse sentido:

“Sem propriamente desfigurar a pessoa e


sem que esse fato importe sua rejeição no
ambiente social em que vive, não se pode
admitir a reparação dos danos estéticos e
morais. Assim, se como prova dos danos
foram juntadas somente fotos antes e depois
do acidente, comprovando-se tão somente
uma cicatriz a inépcia do pedido é evidente”.
(1º TA CIVIL SP – 3 C – Ap. – Rel. Antônio de
Pádua Ferraz Nogueira – j. 10.7.90 RT
661/98).

O dano estético somente é indenizável


quando por si produz dano econômico ao
ofendido (TJSP 2C – Ap. – Rel Tito Hesketh – j.
4.3.77 – RT 519/130)

O requerente afirma estar impossibilitado de


trabalhar, havendo diminuição de suas habilidades profissionais, andar
claudicante decorrentes de “dano estético irreparável” segundo afirma
em sua inicial.

Conforme já dito, não existe como afirmar-se ser


o encurtamento uma seqüela definitiva do tratamento, eis que o
tratamento ainda não encontra-se terminado.
As cirurgias corretivas fazem parte do tratamento
em casos de fratura do fêmur, eis que o encurtamento do membro
fraturado é conseqüência estatisticamente normal nesse tipo de caso,
ainda mais se tratando de fêmur, osso de sustentação.

Assim, indevida a indenização à título de dano


estético, primeiramente porque inexistente dano de tal natureza ante a
não permanência da seqüela, quer pela não diminuição da capacidade
laborativa do requerente. Ainda, mesmo que se entenda existente a
seqüela, não há de se falar em nexo de causalidade entre as condutas
dos contestantes e sua ocorrência.

7. Da litigância de má-fé

O requerente em suas alegações, tenta


indiscutivelmente induzir em erro o juízo, narrando os fatos de forma
distorcida de acordo com suas conveniências.

Ora MM. Juiz, o requerente junta declarações


forjadas, sendo patente ante sua situação perante a Previdência Social,
que comprova nunca ter o requerente percebido salário de R$ 1.500,00
mensais.

Além disso, em toda sua explanação coloca os fatos


de maneira extremamente pessoal, distorcendo e moldando-os de acordo
com suas necessidades.

O requerente está utilizando-se do processo para


buscar ressarcimento ao qual sabe não ter direito, olvidando-se dos
princípios da boa-fé e lealdade, apresentando ao juízo fatos adulterados,
adotando procedimento que deve ser repreendido através da declaração
de litigância de má-fé, nos termos do artigo 17, incisos II e V do CPC.
Assim, impõem-se que lhe seja aplicada, ex officio,
a multa pela temeridade de parte de suas pretensões, sendo esta
arbitrada por Vossa Excelência, nos moldes da eqüidade e razoabilidade.

CONCLUSÃO

Desta forma, não há de se falar em


responsabilidade civil dos contestantes, por uma série de fatores aqui
implicados. Primeiramente, considera-se que o requerente não sofreu
qualquer espécie de dano permanente, ainda estando em tratamento,
não podendo se falar em dano estético.

Em um segundo momento, tampouco pode-se


atribuir responsabilidade aos contestantes por um eventual dano, eis
que, em momento algum estes agiram com culpa, realizando todos os
procedimentos com extrema lisura e profissionalismo.

Não se verificando a conduta culposa dos


médicos, não há de se falar em responsabilidade civil, ante a existência
de contrato de meio e não de resultado.

Ainda, na mesma linha de raciocínio, caso


entenda-se a existente o dano, o que não acredita-se, não se verifica
liame de causalidade entre as condutas irrepreensíveis dos contestantes
e sua ocorrência. Em sua, se ocorreu algum dano, não foi devido à
conduta do primeiro ou segundo contestante, mas sim do próprio
requerente-paciente, voluntária ou involuntariamente.

Para melhor elucidação, impugna-se


singularmente cada pedido realizado na inicial:
1) pagamento de pensão mensal: indevido diante a ausência de
responsabilidade civil por parte dos contestantes, e ainda
assim, ad argumentandum tantum, caso entenda Vossa
Excelência como verba devida, o que não acredita-se, o
montante deve ser calculado levando-se em consideração o
real salário percebido pelo requerente, ou seja, aquele
declarado perante a Previdência Social (1.37 salário mínimo)

1.2) liquidação do cheque: indevido diante ausência de


responsabilidade dos contestantes. A despeito, cumpre-nos
ressaltar que, uma vez o requerente admitindo na inicial que o
referido título não foi pago e encontra-se protestado, não há
de se falar em ressarcimento, o que configuraria
locupletamento ilícito.

1.3) diferença de proventos: indevido ante a ausência de


responsabilidade dos contestantes. Entretanto, vale
novamente ressaltar que o auxílio pago ao requerente pela
previdência é calculado tendo como base suas próprias
declarações e documentos, portanto presumindo-se
verdadeiro.

2)despesas de tratamento médico – indevido diante a ausência


de responsabilidade civil por parte dos contestantes

3) pagamento de indenização por dano estético – indevido


diante a ausência de responsabilidade civil por parte dos
contestantes. Ainda, indevido ante a inexistência de dano
estético, quer pela não permanência, quer pela não
diminuição da capacidade laborativa do requerente.

4) indenização de dano moral à razão de 500 salários - indevido


diante a ausência de responsabilidade civil por parte dos
contestantes. Ad argumentandum tantum, por simples amor
ao debate, caso entenda Vossa Excelência devida qualquer
indenização a esse título, o que não acredita-se, requer seja
arbitrada mediante os princípios da equidade e justiça, e não
baseada em um pedido aleatório e absurdo do requerente.
5) correção monetária - indevido diante a ausência de
responsabilidade civil por parte dos contestantes, e ainda, pela
inexistência de qualquer indenização devida.

6) constituir capital suficiente para assegurar pagamento da


obrigação - indevido diante a ausência de responsabilidade
civil por parte dos contestantes, e ainda, por absurda a
pretensão de caução em propositura de ação ordinária.

Protesta provar o alegado por todos os meios de


prova em direito admitidas, principalmente juntada de novos
documentos e ainda prova pericial a ser realizada no momento oportuno.

Termos em que,
P. Deferimento.
Coquinhos,

Cientes e de Acordo:

FULANO DE TAL

CICRANO DE TAL

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