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PJE
29/07/2019 06:04
Atualizado em 29/07/2019 às 19:34
Essa questão torna-se ainda mais relevante com inclusão do § 3º do art. 841 da CLT
pela Reforma Trabalhista, que institui a estabilização da lide antes da audiência, com
a mera apresentação eletrônica da contestação. De acordo com esse dispositivo,
protocolada a contestação, o reclamante não pode mais desistir da ação sem o
consentimento do reclamado. Admitindo-se a juntada em sigilo da defesa, esse
dispositivo é aplicável?
Nesse contexto, destaca-se que o art. 22, § 2º, da Resolução 185/2017 do Conselho
Superior da Justiça do Trabalho – CSJT, que regulamenta o processo eletrônico do
trabalho, vedava a juntada sigilosa da contestação, ao estabelecer que o sigilo só
poderia ser atribuído nas hipóteses de segredo de justiça (art. 770 da CLT e 189 e
773 do CPC). Já o § 3º do referido dispositivo permitia que o Juízo determinasse a
exclusão das petições indevidamente protocoladas sob sigilo. Observe-se:
(…)
“a) resolução não pode criar regra processual nova; b) seus limites alcançam a
regulamentação e a padronização; c) resolução não pode restringir direitos
assegurados pela Constituição ou leis ordinárias; d) seu artigo 22 e parágrafos são
confusos e se contradizem; e) é inconstitucional — com sujeição a tal controle — a
vedação do contraditório quando realizado a tempo e modo legalmente
estabelecidos.”
Art. 28. Na propositura da ação, o autor poderá requerer segredo de justiça para os
autos processuais ou sigilo para um ou mais documentos ou arquivos do processo,
através de indicação em campo próprio.
(…)
Essa controvérsia até hoje tem sido objeto de decisões con itantes proferidas pelos
Tribunais Trabalhistas. À título de exemplo, pode-se citar dois julgados, um do TRT
21 e outro do TST que se contradizem. O primeiro reformou decisão que determinou
a exclusão da contestação protocolada sob sigilo:
“(…) o art. 847, “caput”, da CLT indica que o momento oportuno para a apresentação da
defesa trabalhista é depois de frustrada a primeira tentativa de acordo, sendo uma
faculdade da parte, fazê-la de forma oral ou, nos termos do Parágrafo único do
comentado dispositivo legal, poderá apresentá-la por escrito pelo sistema de
processo judicial eletrônico até a audiência.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/a-juntada-em-sigilo-da-contestacao-no-processo-do-trabalho-29072019 3/7
30/07/2019 A juntada em sigilo da contestação no processo do trabalho - JOTA Info
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30/07/2019 A juntada em sigilo da contestação no processo do trabalho - JOTA Info
(…)
Para esse autor, o reclamado possui três opções de apresentação de defesa. Pode o
reclamado (i) apresentar a contestação sem sigilo antes da audiência, o que conduz
à estabilização do litígio, impedindo desde já a possibilidade de aditamento da inicial,
e condicionando a desistência da ação pelo reclamante à concordância do
reclamado – nos termos do art. 841, § 3º da CLT. O reclamado também pode (ii):
apresentar a contestação com sigilo antes da audiência, o que não promove a
estabilização do litígio, de modo que o reclamante poderá aditar a inicial e/ou
desistir da ação sem a concordância da parte contrária, até a retirada do sigilo, o que
inclui o momento imediatamente posterior à tentativa de acordo. Pode o reclamado,
por m (iii): apresentar a contestação na audiência oralmente, o que também
permite que o reclamante desista da ação sem o consentimento do réu, ou mesmo
adite a inicial antes do ato de apresentação. Por obvio, segundo o autor, a
contestação assim apresentada deverá ser juntada aos autos pelo Juízo
posteriormente.
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30/07/2019 A juntada em sigilo da contestação no processo do trabalho - JOTA Info
Gustavo Cisneiros também destaca que a juntada da contestação no PJe, sem sigilo
gera preclusão consumativa, não podendo o reclamado aditar suas razões
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posteriormente, mesmo que antes da audiência . Essa preclusão, para o autor,
atinge também a reconvenção, que deveria ter sido apresentada junto à contestação
(art. 343 do CPC).
Importa ressaltar, por m, que é essencial que o Juízo condutor da fase postulatória,
ao receber a contestação, retire o caráter sigiloso que lhe foi eventualmente
atribuído, caso a conciliação seja infrutífera. Deve o magistrado, ainda, abrir prazo
para a réplica do reclamante, se requerido.
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trabalho, destaca-se que o presente artigo adota o critério trabalhista puro. Sobre o
tema, ver: https://www.conjur.com.br/2019-mar-10/doroteia-mota-conciliacao-
mediacao-criterio-trabalhista-puro Acesso em 08.07.2019.
Forense. São Paulo: Método. 2018. pg. 89. Não se compartilha do entendimento pela
incompetência do CSJT defendido pelo autor no presente trabalho.
CLÁUDIO DE AZEVEDO BARBOSA – Graduando em Direito pela Universidade de Brasília – UnB. Membro do
Grupo de Pesquisa “Trabalho Constituição e Cidadania” (UnB-CNPq). Contato: claudio.ab10@gmail.com.
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buscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.
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