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30/07/2019 A juntada em sigilo da contestação no processo do trabalho - JOTA Info

PJE

A juntada em sigilo da contestação no processo do


trabalho
Edição da Resolução 241/2019 do CSJT permite adoção de novas estratégias processuais na advocacia
trabalhista

CLÁUDIO DE AZEVEDO BARBOSA

29/07/2019 06:04
Atualizado em 29/07/2019 às 19:34

Servidora acessa o PJe / Crédito: Luiz Silveira/Agência CNJ

Pode a parte reclamada juntar a contestação e documentos de defesa em sigilo no


sistema do PJe na Justiça do Trabalho fora das hipóteses de segredo de justiça? O
objetivo de tal prática é de impedir que o reclamante tome conhecimento do teor da
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defesa antes da audiência inicial, na qual será promovida a conciliação , retardando
a instauração de nitiva do caráter adversarial do processo. Tal prática espelha o que
costumava ser realizado no tempo dos autos físicos, ou seja, a apresentação da
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defesa em audiência somente após a tentativa de acordo, conforme a literalidade do


caput do art. 847 da CLT.

Ao juntar a contestação em sigilo, o reclamado assegura que sua estratégia de


defesa não seja conhecida pelo reclamante antes da conciliação. Além disso, nos
casos de audiência una ou contínua (ritos sumário e sumaríssimo) o advogado do
reclamante será compelido a impugnar a prova documental (art. 852-H da CLT) na
própria audiência, o que consiste numa vantagem estratégica garantida pela
legislação processual ao reclamado, uma vez que não há lei que obrigue as partes a
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exibir seus documentos probantes com antecedência .

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Essa questão torna-se ainda mais relevante com inclusão do § 3º do art. 841 da CLT
pela Reforma Trabalhista, que institui a estabilização da lide antes da audiência, com
a mera apresentação eletrônica da contestação. De acordo com esse dispositivo,
protocolada a contestação, o reclamante não pode mais desistir da ação sem o
consentimento do reclamado. Admitindo-se a juntada em sigilo da defesa, esse
dispositivo é aplicável?

Nesse contexto, destaca-se que o art. 22, § 2º, da Resolução 185/2017 do Conselho
Superior da Justiça do Trabalho – CSJT, que regulamenta o processo eletrônico do
trabalho, vedava a juntada sigilosa da contestação, ao estabelecer que o sigilo só
poderia ser atribuído nas hipóteses de segredo de justiça (art. 770 da CLT e 189 e
773 do CPC). Já o § 3º do referido dispositivo permitia que o Juízo determinasse a
exclusão das petições indevidamente protocoladas sob sigilo. Observe-se:

Art. 22. A contestação, reconvenção, exceção e documentos deverão ser protocolados


no PJe até a realização da proposta conciliatória infrutífera, com a utilização de
equipamento próprio, sendo automaticamente juntados, facultada a apresentação de
defesa oral, na forma do art. 847, da CLT.

(…)

§2º As partes poderão atribuir segredo de justiça à petição inicial e sigilo à


contestação, reconvenção, exceção, petições incidentais e documentos, desde que,
justi cadamente, fundamentem uma das hipóteses do art. 770, caput, da CLT e dos
arts. 189 ou 773, do CPC

§3º O magistrado poderá determinar a exclusão de petições e documentos


indevidamente protocolados sob sigilo, observado o art. 15 desta Resolução.
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Esse dispositivo foi objeto de contundentes críticas doutrinárias que sustentavam


sua inconstitucionalidade, como defende Luiz Calixto Sandes, sob os seguintes
fundamentos:

“a) resolução não pode criar regra processual nova; b) seus limites alcançam a
regulamentação e a padronização; c) resolução não pode restringir direitos
assegurados pela Constituição ou leis ordinárias; d) seu artigo 22 e parágrafos são
confusos e se contradizem; e) é inconstitucional — com sujeição a tal controle — a
vedação do contraditório quando realizado a tempo e modo legalmente
estabelecidos.”

No mesmo sentido prático, ainda que com fundamentos diferentes, Gustavo


Cisneiros sustenta que a competência para regulamentar atos processuais
eletrônicos é do CNJ e não do CSJT, nos termos do art. 196 do CPC, de modo que
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prevaleceria o art. 28, § 4º da Resolução 185/2013 do CNJ . Segundo esse autor, o
referido dispositivo confere aos advogados o direito potestativo de juntar a prova
documental em sigilo. Observe-se:

Art. 28. Na propositura da ação, o autor poderá requerer segredo de justiça para os
autos processuais ou sigilo para um ou mais documentos ou arquivos do processo,
através de indicação em campo próprio.

(…)

§ 4º Nos casos em que o rito processual autorize a apresentação de resposta em


audiência, faculta-se a sua juntada antecipada aos autos eletrônicos, juntamente com
os documentos, hipótese em que permanecerão ocultos para a parte contrária, a
critério do advogado peticionante, até a audiência.

Essa controvérsia até hoje tem sido objeto de decisões con itantes proferidas pelos
Tribunais Trabalhistas. À título de exemplo, pode-se citar dois julgados, um do TRT
21 e outro do TST que se contradizem. O primeiro reformou decisão que determinou
a exclusão da contestação protocolada sob sigilo:

“(…) o art. 847, “caput”, da CLT indica que o momento oportuno para a apresentação da
defesa trabalhista é depois de frustrada a primeira tentativa de acordo, sendo uma
faculdade da parte, fazê-la de forma oral ou, nos termos do Parágrafo único do
comentado dispositivo legal, poderá apresentá-la por escrito pelo sistema de
processo judicial eletrônico até a audiência.

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Conforme bem salientou a reclamada, o fato de juntar antecipadamente sua defesa


no Sistema PJe-JT não implica que a parte contrária deva ter acesso a ela antes do
momento processual oportuno, qual seja, após a primeira tentativa de acordo. A lógica
que preside essa sistemática é, como disse a reclamada, a de “fomentar e preservar o
bom diálogo na negociação, retardando o caráter adversarial do processo” ( . 675).”
(TRT-21 – RO-0000622-18.2018.5.21.0009, Data de Publicação: 14.05.2019).

O segundo, rati cou a decretação da revelia em razão da ausência de


fundamentação acerca do segredo de justiça da contestação, nos termos da
redação anterior do art. 22 da Resolução 185/2017 do CSJT. Veja-se:

RECURSO ORDINÁRIO EM AÇÃO ANULATÓRIA. I) PRELIMINAR DE NULIDADE DO


ACÓRDÃO POR CERCEAMENTO DE DEFESA – REVELIA – CONTESTAÇÃO
PROTOCOLADA SOB SIGILO – RESOLUÇÃO 185 DO CSJT – AUSÊNCIA DE PREJUÍZO.
1. O art. 22, §§ 2º e 3º, da Resolução 185 do CSJT disciplina que as partes poderão
atribuir sigilo à contestação, desde que, justi cadamente, fundamentem em uma das
hipóteses ali previstas, sob pena de que o magistrado determine a exclusão das
petições indevidamente protocoladas como sigilosas. 2. In casu, embora conste do
acórdão apenas o registro de que não houve contestação, sendo os Réus declarados
revéis, ainda que se considere que tal conclusão derivou do fato de ter sido atribuído
sigilo à contestação, não há de se falar em cerceamento de defesa, uma vez que o
Sindicato Recorrente não justi cou o sigilo de sua peça de defesa em quaisquer das
hipóteses admitidas na Resolução 185 do CSJT, podendo o Magistrado, nesses casos,
inclusive determinar a exclusão da petição. 3. A par disso, tendo o Regional decidido
pela anulação das cláusulas em debate com fulcro na legislação e na jurisprudência
pací ca desta Corte, não há como se considerar que houve qualquer prejuízo ao
Sindicato Recorrente. Assim, sabendo que o sistema de nulidades da CLT se pauta no
princípio do prejuízo, estampado no art. 794 do diploma consolidado, não há nulidade
a ser declarada. 4. Do exposto, rejeita-se a preliminar de nulidade do acórdão por
cerceamento de defesa. Preliminar rejeitada. (…) Do exposto, nega-se provimento ao
recurso ordinário, no aspecto. Recurso ordinário desprovido. (TST – RO-0000079-
39.2017.5.08.0000, Data de Publicação: 16/10/2018)

Foi nesse contexto que, em 06 de junho de 2019, a Resolução 241/2019 CSJT


entrou em vigor, modi cando uma série de disposições da Resolução 185/2017
desse órgão. A Resolução 241 mudou a redação do criticado art. 22 da Resolução
185, que agora passa a vigorar nos seguintes termos, no que é pertinente:

Art. 22. A contestação ou a reconvenção e seus respectivos documentos deverão ser


protocolados no PJe até a realização da proposta de conciliação infrutífera, com a

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utilização de equipamento próprio, sendo automaticamente juntados, facultada a


apresentação de defesa oral, na forma do art. 847, da CLT.

(…)

§ 4º Com exceção da defesa, da reconvenção e dos documentos que os


acompanham, o magistrado poderá determinar a exclusão de petições e documentos
indevidamente protocolados sob sigilo, observado o art. 15 desta Resolução.

§ 5º O réu poderá atribuir sigilo à contestação e à reconvenção, bem como aos


documentos que as acompanham, devendo o magistrado retirar o sigilo caso
frustrada a tentativa conciliatória. (…)

Como se vê, agora a Resolução 185/2017 do CSJT estabelece expressamente que o


Réu poderá atribuir sigilo à sua defesa, que deve ser retirado após a frustração da
tentativa conciliatória. E mais: o magistrado deixa de possuir a faculdade de
determinar a exclusão da defesa protocolizada sob sigilo, de modo que essa
alteração põe m a possibilidade de rejeição da contestação sigilosa.

Nesse contexto, vale lembrar que o protocolo da defesa em sigilo gera


consequências práticas extremamente relevantes, sobretudo após a Reforma
Trabalhista, que incluiu o supracitado § 3º ao art. 841 da CLT. Reproduz-se, aqui, o
ensinamento de Gustavo Cisneiros, antes mesmo da edição da Resolução 241/2019
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do CSJT, que agora, com ainda mais razão deverá ser aplicado .

Para esse autor, o reclamado possui três opções de apresentação de defesa. Pode o
reclamado (i) apresentar a contestação sem sigilo antes da audiência, o que conduz
à estabilização do litígio, impedindo desde já a possibilidade de aditamento da inicial,
e condicionando a desistência da ação pelo reclamante à concordância do
reclamado – nos termos do art. 841, § 3º da CLT. O reclamado também pode (ii):
apresentar a contestação com sigilo antes da audiência, o que não promove a
estabilização do litígio, de modo que o reclamante poderá aditar a inicial e/ou
desistir da ação sem a concordância da parte contrária, até a retirada do sigilo, o que
inclui o momento imediatamente posterior à tentativa de acordo. Pode o reclamado,
por m (iii): apresentar a contestação na audiência oralmente, o que também
permite que o reclamante desista da ação sem o consentimento do réu, ou mesmo
adite a inicial antes do ato de apresentação. Por obvio, segundo o autor, a
contestação assim apresentada deverá ser juntada aos autos pelo Juízo
posteriormente.

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Gustavo Cisneiros também destaca que a juntada da contestação no PJe, sem sigilo
gera preclusão consumativa, não podendo o reclamado aditar suas razões
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posteriormente, mesmo que antes da audiência . Essa preclusão, para o autor,
atinge também a reconvenção, que deveria ter sido apresentada junto à contestação
(art. 343 do CPC).

Importa ressaltar, por m, que é essencial que o Juízo condutor da fase postulatória,
ao receber a contestação, retire o caráter sigiloso que lhe foi eventualmente
atribuído, caso a conciliação seja infrutífera. Deve o magistrado, ainda, abrir prazo
para a réplica do reclamante, se requerido.

Caso seja proferida sentença sem oportunizar ao autor o acesso ao conteúdo da


defesa e garantir-lhe a oportunidade de apresentar réplica, os princípios da ampla
defesa e contraditório restarão irremediavelmente violados, pois esta parte não terá
a oportunidade de impugnar as alegações e documentos apresentados. Tal fato
culminará com a declaração de nulidade da sentença, conforme ampla
jurisprudência – cujo posicionamento pací co no ponto não se confunde com a
controvérsia acerca da atribuição de sigilo à contestação. Ver, por todos:

CONTESTAÇÃO. UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA “SIGILO”. CERCEIO DE DEFESA. Não


obstante a faculdade da parte ré encaminhar a defesa/contestação com a opção de
sigilo, nos termos do art. 22 da Resolução nº 94 do CSJT. A utilização desta
ferramenta impede que a parte contrária tenha acesso antecipado à defesa. Desta
forma, em caso de ausência de acordo, o referido ato deve ser consumado no
momento da audiência inaugural, conforme art. 847 da CLT, com a retirada do sigilo
do ato praticado pela ré e a consequente disponibilização da defesa e dos
documentos para ciência do autor. Não realizado referido procedimento, resulta na
nulidade de todos os atos processuais praticados após a contestação, uma vez que
não foi conferida ao autor a oportunidade de impugnar a defesa apresentada, fato que
viola os princípios do contraditório e da ampla defesa. (TRT-3 – RO-0010436-
72.2017.5.03.0047, Data de Publicação: 27.02.2019)

Nesse contexto, é conveniente que o próprio advogado do reclamante requeira ao


julgador que retire o sigilo da contestação, nos termos dos princípios da boa-fé
processual e da cooperação.

Com a superação da controvérsia acerca da possibilidade de atribuição de sigilo à


defesa no processo do trabalho, abrem-se novas opções estratégicas ao reclamado,
o que reforça a importância da advocacia no desenvolvimento dos atos processuais
da causa. Essa circunstância reitera a conhecida necessidade de atualização
constante dos advogados, também ante às inovações normativas do CSJT. Cabe ao
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bom advogado a análise do caso concreto e a adoção da estratégia que mais


bene cia seu cliente, sempre cumprindo as disposições legais e constitucionais
aplicáveis.

—————————————–

1 Sobre a questão da nomenclatura do momento autocompositivo no processo do

trabalho, destaca-se que o presente artigo adota o critério trabalhista puro. Sobre o
tema, ver: https://www.conjur.com.br/2019-mar-10/doroteia-mota-conciliacao-
mediacao-criterio-trabalhista-puro Acesso em 08.07.2019.

2 CISNEIROS, Gustavo. Processo do Trabalho Sintetizado. 2ª Ed. Rio de Janeiro:

Forense. São Paulo: Método. 2018. pg. 67

3 CISNEIROS, Gustavo. Processo do Trabalho Sintetizado. 2ª Ed. Rio de Janeiro:

Forense. São Paulo: Método. 2018. pg. 89. Não se compartilha do entendimento pela
incompetência do CSJT defendido pelo autor no presente trabalho.

4 CISNEIROS, Gustavo. Processo do Trabalho Sintetizado. 2ª Ed. Rio de Janeiro:

Forense. São Paulo: Método. 2018. Pg. 157

5 CISNEIROS, Gustavo. Processo do Trabalho Sintetizado. 2ª Ed. Rio de Janeiro:

Forense. São Paulo: Método. 2018. Pg. 208.

CLÁUDIO DE AZEVEDO BARBOSA – Graduando em Direito pela Universidade de Brasília – UnB. Membro do
Grupo de Pesquisa “Trabalho Constituição e Cidadania” (UnB-CNPq). Contato: claudio.ab10@gmail.com.

Os artigos publicados pelo JOTA não re etem necessariamente a opinião do site. Os textos
buscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.

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