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Leia agora um trecho extraído da obra Auto da barca e tanto dado à virtude!
do Inferno, de Gil Vicente. Nessa peça, o cenário é uma Assim Deus me dê saúde,
espécie de porto, onde estão ancoradas duas barcas:
uma se dirige ao Paraíso e é tripulada por um Anjo; a que eu estou maravilhado!
outra levará as almas para o Purgatório ou para o DIABO – Não façamos mais detença,
Inferno. Quem está nela é o Diabo e seu Companheiro.
Almas representativas de diversos tipos sociais embarcai e partiremos;
chegam à margem e reivindicam seu desejo de
embarcar no batel rumo ao Paraíso. Na cena abaixo, o tomareis um par de remos.
barqueiro Diabo conversa com o Frade FRADE– Não ficou isso na avença.
Auto da barca do Inferno DIABO – Pois dada está já a sentença!
[…] Vem um Frade com uma Moça pela mão, e FRADE– Por Deus! Essa seria ela?
um broquel e uma espada na outra; e um casco
debaixo do capelo; e ele mesmo fazendo Não vai em tal caravela
a baixa começou a dançar, dizendo
minha senhora Florença?
Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã,
Como? Por ser namorado,
Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã,
e folgar c’uma mulher?
Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha!
Se há um frade de perder,
DIABO – Que é isso, padre? Quem vai lá?
com tanto salmo rezado?!
FRADE– Deo gratias! Sou cortesão.
DIABO – Ora estás bem arranjado!
DIABO – Danças também o tordião?
FRADE– Mas estás tu bem servido.
FRADE– Por que não? Vê como sei.
DIABO – Devoto padre e marido,
DIABO – Pois entrai, eu tangerei
haveis de ser cá pingado…