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Contexto histórico
O Humanismo é um período de transição entre a Idade Média e o Renascimento,
compreendendo o final do séc. XV até início do séc. XVI, em que se observam tendências
que começam uma revolução na filosofia, na arte e nas ciências.
As navegações vieram alargar o horizonte do homem medieval, até então limitado
pelas cercanias dos feudos. Os perigos e os desafios enfrentados pelos navegantes
trouxeram ao homem a crença de que ele era capaz de enfrentar a natureza e o
desconhecido, contando apenas com sua força e coragem.
O homem começou a perceber a sua importância no mundo. O teocentrismo medieval
passou a ser contestado e surgiram novas formas de abordagem do Universo, movidas pela
racionalidade, que deram origem a uma nova concepção: o antropocentrismo, na qual o
homem, e não mais Deus, ocupava o centro do Universo.
Assim, esse período é marcado pela coexistência de duas concepções de mundo: a
teocêntrica e a antropocêntrica.
A Crônica d’El-Rei D. Pedro é a mais conhecida de Fernão Lopes. O texto relata a paixão
arrebatadora do infante Pedro pela bela castelhana Inês de Castro.
Fragmento para análise
Crônica Del-Rei D. Pedro I (Capítulo XXXI) – em que narra a morte dos assassinos
de D. Inês.
“A Portugal foram trazidos Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, e chegaram a Santarém
onde El-Rei D. Pedro estava, e El-Rei, com prazer de sua vinda, porém muito magoado por
que Diego Lopez fugira, os foi receber, e ódio cruel sem piedade lhes fez por sua mão torturar
querendo que lhe confessassem quais foram da morte de D. Inês culpados, e o que era que
seu pai tratava contra ele, quando andavam em desavença por ocasião da morte dela; e
nenhum deles respondeu a tais perguntas, coisas que a El-Rei agradasse; e El-Rei, com
queixume, dizem que deu uma chicotada no rosto de Pero Coelho, e ele saltou então contra
El-Rei, em desonestas e feias palavras, chamando-lhe traidor e perjuro, algoz, carniceiro
dos homens, e El- Rei, dizendo que lhe trouxessem cebola e vinagre para o coelho, enfadou-
se deles e mandou-os matar.
A maneira de sua morte, sendo contada em detalhes, seria mui estranha e crua de
contar, cá mandou tirar o coração pelos peitos a Pero Coelho e a Álvaro Gonçalves pelas
espáduas; e quais palavras ouve, e aquele que lhe tirava que tal ofício havia pouco em
costume seria bem dolorida coisa de ouvir, enfim mandou-os queimar, e tudo feito ante o
palácio real onde ele pousava, de modo que comendo olhava o que mandava fazer.
Muito perdeu El-Rei de sua boa fama por tal escambo como este, o qual foi tido em
Portugal e em Castela por mui grande mal, dizendo todos os bons que o ouviram que os reis
erravam muito indo contra a suas verdades, pois que estes cavaleiros estavam sobre
segurança abrigados em seus reinos.”
Lopes, Fernão. In. Fernão Lopes - Crônicas - Rio de Janeiro, Agir, 1968 p.23
A poesia palaciana
Entre o início do século XIV e o início do XV, não há registro de poesia, o entusiasmo
dos trovadores enfraqueceu, sendo apenas resgatado no fim do período humanista, graças
à publicação da obra O Cancioneiro Geral, em 1516, na qual Garcia de Resende reuniu perto
de mil poesias de 286 autores que tratam de temas diversos.
A poesia produzida nesse período é chamada poesia palaciana porque, ao contrário
da lírica trovadoresca, poucas eram acompanhadas por instrumentos musicais; eram
recitadas por poetas da Corte nos saraus dos palácios.
Cantiga
Comigo me desavim:
Vejo-me em grande perigo!
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim!
Ante que este mal tivesse
Da outra gente fugia:
Agora já fugiria
De mim se de mim pudesse!
Que cabo espero ou que fim
Deste cuidado que sigo,
Pois trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
Sá de Miranda
O teatro no Humanismo
Gil Vicente é considerado o fundador do teatro português. Sua primeira peça, escrita em
castelhano, foi o Monólogo do vaqueiro ou o Auto da visitação, apresentado nos aposentos
da rainha D. Leonor, em 1502. A partir, daí, teve início sua vasta produção teatral, que, além
de autos, inclui comédias, tragicomédias, farsas e moralidades.
Na linha da tradição medieval, a maioria de seus textos se atém a temas populares,
religiosos e moralizantes, mas a presença de deuses antigos e a crítica social contundente
já anunciam o período renascentista.
O teatro vicentino
Fragmento II
A obra Auto da barca do inferno foi escrita em 1517, momento em que irrompia na
Alemanha a Reforma Protestante de Lutero. Por essa razão as críticas contundentes aos
abusos do clero ficam tão visíveis no texto. Sobre a obra de Gil Vicente, esse grande cronista
dos costumes de sua época, assinale a alternativa incorreta.
a) Gil Vicente tem suas raízes na Idade Média, mas volta-se para o Renascimento, aliando
o humanismo religioso à atitude critica diante dos problemas sociais.
b) Variada na forma, a obra vicentina desvenda os costumes do século XVI, satirizando a
sociedade feudal sem perder o caráter moralista e a preocupação com a intervenção social.
c) Embora critique o clero, a nobreza e seu séquito ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação
heroica dos reis, atitude comum na Idade Média.
d) Ao mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a produção vicentina aponta para a
necessidade de reforma da Igreja, devido aos abusos do clero.
e) Trabalhando com uma verdadeira galeria de tipos, Gil Vicente adapta o uso da linguagem
coloquial ao estilo e à condição social de cada um deles.
Gabarito
1. C
2. B
3. C
4. D
5. C
6. E