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medieval
(continuação)
A segunda época medieval
A segunda época medieval (século XV e início do século XVI) foi marcada pela
transição do mundo medieval para o mundo moderno, que se inicia com o
Renascimento (século XVI).
Verifica-se o uso de redondilhas (a menor com cinco sílabas poéticas e a maior, com
sete), de ambiguidades, aliterações e figuras de linguagem. No plano amoroso, tanto
pode apresentar certa sensualidade e intimidade em relação à mulher amada, como
também uma visão idealizada e platónica da mulher. A Poesia Palaciana é o marco que
separa a escrita poética do canto, da dança; das cantigas, num geral. Ela passa a ser
formalizada com um grau que lhe permitia promover um ritmo, versificação, métrica e
musicalidade. Musicalidade esta que independia de um acompanhamento instrumental.
A ideia era que o ritmo sonoro da lida expressasse uma “sinfonia”, por assim dizer.
Poesia palaciana
O termo Poesia Palaciana recebe este nome pois os textos eram criados com o intuito de
serem declamados nos palácios. Ela surge durante o século XV, em meio ao reinado de
D. Afonso V, rei de Portugal. O entretenimento à nobreza era o principal objetivo das
poesias palacianas.
O principal cronista da época foi Fernão Lopes, que soube conciliar as técnicas
narrativas. com certa imparcialidade no tratamento dos fatos históricos. Enfocando não
apenas a vida dos nobres, mas o conjunto da sociedade, foi o primeiro historiador
português a atribuir ao povo importância no processo de mudanças políticas do país.
Características da Prosa historiográfica
A prosa historiográfica de Fernão Lopes foi desenvolvida nas crônicas que escreveu,
onde se destacam:
Com elevado valor estético e um estilo literário único, ele utilizou uma linguagem
simples, coloquial, histórica e racional com foco no psicológico de seus personagens.
Relatou com uma visão imparcial os fatos, uma vez que o intuito principal era registrar
os acontecimentos históricos e marcantes da história de Portugal.
Trecho do primeiro capítulo da “Crônica de Dom
João I”, de Fernão Lopes
“Razões em prólogo do auctor d'esta obra, ante que fale dos feitos do Mestre.
Grande licença deu a affeiçâo a muitos, que tiveram cargo de ordenar historias,
mormente dos Senhores, em cuja mercê e terra viviam, e onde foram nados seus antigos
avós, sendo-lhe muito favoraveis no recontamento de seus feitos. E tal favoreza, como
esta, nace de mundanal affeiçâo, a qual não é, salvo conformidade de alguma cousa ao
entendimento do homem.
Trecho do primeiro capítulo da “Crônica de Dom
João I”, de Fernão Lopes
Assim que a terra em que os homens, por longo costume e tempo, foram criados, gera
uma tal conformidade entre o entendimento, e ella, que havendo de julgar alguma sua
cousa assim em louvor, como por contrário, nunca por elles é direitamente recontada,
porque louvando-a, dizem sempre mais d'aquello, e se d'outro modo não escreverem suas
perdas tão minguadamente, como acontecerem, outra cousa gera ainda esta
conformidade e natural inclinação, segundo sentença d'algnns, que o pregoeiro da vida é a
fama, recebendo refeição, para o corpo, o sangue, e espiritos gerados de tantas viandas
teem uma tal similhança entre os que causa esta conformidade.
Trecho do primeiro capítulo da “Crônica de Dom
João I”, de Fernão Lopes
Alguns outros tiveram que isto descia na semente, no tempo de geração, a qual dispõem
por tal guisa aquello, que d'ella é grado, que lhe fica esta conformidade, tambem ácerca da
terra, como de seus divides, e ao que parece que o sentiu Tu-lio, quando veiu a dizer:
Nós não somos nados a nós mesmos, porque uma parte de nós tem a terra, e a outra os
parentes; e porém o juizo do homem ácerca de tal terra, ou pessoas recontando seus feitos
sempre copega.
Trecho do primeiro capítulo da “Crônica de Dom
João I”, de Fernão Lopes
Esta mundanal affeição fez alguns historiadores, que os feitos de Castella, com os de
Portugal, escreveram, posto que homens de boa authoridade fossem, desviar da
verdadeira estrada, e colher por semideiros escuses, por as minguas das terras de que
eram em certos passos claramente não serem vistas, especialmente no grande desvairo,
que o mui virtuoso Rei de boa memoria D. João, cujo regimento e reinado se segue, houve
com o nobre e poderoso rei D. João de Castella, pondo parte de seus bons feitos fóra do
louvor, que merecia, e evadindo em alguns outros de guisa que não aconteceram
atrevendo-se a publicar esto em vida de taes que lhe foram companheiros bem veadores
de todo o contrario.”
Teatro português
- durante a primeira época medieval, o teatro esteve ligado à Igreja e quase sempre era
realizado em datas religiosas, ilustrando passagens da Bíblia ou representando a história
de santos.
Com Gil Vicente, teve início em Portugal o teatro leigo, isto é, não religioso, praticado fora
da igreja.
Gil Vicente e o teatro português
A cultura medieval foi fortemente marcada por preocupações religiosas e espirituais. E na
Baixa Idade Média, contudo, que começam a surgir as primeiras manifestações artísticas
leigas, como as cantigas. Gil Vicente, cuja obra foi difundida em Portugal nas três primeiras
décadas do século XVI, representa o passo decisivo nesse processo de laicização da cultura
portuguesa.
Voltando-se não para Deus, mas para os homens, para a sociedade portuguesa em sua
enorme diversidade de classes e grupos sociais - o fidalgo, o rei, o papa, o clérigo, o burguês
comerciante, o médico incompetente, a mulher adúltera, a moça casamenteira, o nobre
decadente, o velho devasso, o juiz desonesto, etc. -, Gil Vicente tinha para si uma missão
moralizante e reformadora. Não visava atingir as instituições, mas as pessoas inescrupulosas
que as compunham.
Gil Vicente e o teatro português
Embora tenha escrito pecas de fundo religioso, elas não almejavam difundir a religião nem
converter os pecadores. Seu objetivo era demonstrar como o ser humano -
independentemente de classe social, raça, sexo ou religião - é egoísta, falso, mentiroso,
orgulhoso e frágil diante dos apelos da carne e do dinheiro.
Da vasta produção de Gil Vicente, destacam-se, entre outras, as obras Auto das barcas (Auto
da barca do inferno, Auto do purgatório e Auto da barca da glória), O velho da horta, Auto da
Índia e Farsa de Inés Pereira.