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Em princípio, cabe ressaltar que o início do período do Humanismo (1418-1527)

se determinou com a chegada de Fernão Lopes, indicado por Dom Duarte, a um cargo
de Guarda-Mor da Torre do Tombo. Isso se deu historicamente com a Revolução de
1383, esta que se acendia por conta da morte de Dom Fernando e, principalmente, a
insatisfação com o governo de sua mulher, D. Leonor Teles, espanhola. O Mestre de
Avis, declarado então de D. João I, assume o trono.

O rei João I, felizmente, possuía uma aguça além de seu tempo, em outras
palavras, considerava de suma importância os conhecimentos culturais e, acima de tudo,
o desenvolvimento das artes letrais. Assim, D. João I clarificou seus conhecimentos a
seu filho, D. Duarte, este que condicionou a aparição de Fernão Lopes em cargos de
excelência, redimensionando a Literatura Portuguesa.

O antropocentrismo da Literatura torna-se um dos pilares do Humanismo, pré-


datando eventos o Renascimento na Itália, contrapondo-se às ideologias teocráticas da
Igreja Medieval. De uma maneira geral, no século XV, Portugal se equivale aos moldes
europeus da época e, dessa maneira, o apego ao terreno e à onda realista que assolava os
movimentos culturais.

Novamente ao Fernão Lopes, apresenta-se sua história de superação, de uma


origem não-nobre ao trabalho que o reconheceu nas entrelinhas históricas portuguesas.
Apesar da escassez de documentos em relação a este, sua perseverança em relação às
crônicas é louvável. Foi por meio dele que as escrituras portuguesas adquiriram uma
relevância literária, com uma base e uma padronização dos relatos, quanto à forma
escrita.

O favorecimento de Fernão Lopes como “pai da história portuguesa” se dá, além


de motivos já citados, em situações em que este tenta modernizar-se ao fincar-se em
mobilizações e textos escritos em comparação com orais. A concepção do historiador se
dá, sobretudo, na visão sobre os reis das épocas, sumariamente as políticas e os
principais eventos que rodearam ou ocorreram a Portugal. Entre estes movimentos,
Lopes levou em consideração a movimentação das massas em relação aos eventos
históricos, assim como as causas econômicas.

Em razão de sua morte, a sua sucessão se dá por Gomes Eanes de Azurara, não
estando ao patamar literário de Lopes, apesar de uma diferenciação no que tange o
método histórico de reis (regiocêntrica) com uma forte presença das massas sociais para
uma diminuição dessa massa. Entretanto, ele incorporou períodos extremamente
importantes à história portuguesa: a expansão ultramarina e uma linha extremamente
nacionalista que incorporaria futuramente Os Lusíadas (1572). A cultura clássica foi
outro elemento de importância para Azurara, isto se retrata por suas constatações e
fraseologias.

Houve, após Azurara, a substituição por Rui de Pina, uma nova declinação em
matéria intelectual e literária em comparação ao Fernão Lopes instaurou-se, e, ainda
mais forte que Azurara, o quesito clássico tornou-se mais presente. Ao longo do século
XV, entretanto, a prosa doutrinal e excessivamente moralista cultivava-se intensamente.
Esta, servia principalmente para a educação da realeza em seus projetos de convívio
social. Diversas obras, como Livro de Montaria, de D. João I, e Leal Conselheiro e
Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, de D. Duarte, cujo objetivo
fundamentava-se na arte de caça e cavalgação.

A poesia pós-século XIV continuou a ser cultivada e, com Garcia de Resende,


foram recolhidos fragmentos e montado o Cancioneiro Geral (1516). A poesia neste
desliga-se dos ritmos musicais, cometendo-se autonomamente apenas com palavras
divorciadas de aparato musical. O ritmo, portanto, dá-se pela sonoridade das palavras
dispostas nas obras. Os poetas, para compensar a falta de lirismo da música, recorreram
para novas técnicas:

1. A esparça, única estrofe entre 8 a 16 versos produzindo textos melancólicos;


2. A trova, composta de duas ou mais estrofes;
3. O vilancete, formado por um motivo (mote) de 2 ou 3 versos, seguido de
voltas, como um refrão;
4. A cantiga, formada de 4 ou 5 versos e de uma glosa (repetição no final das
estrofes que glosam o mote) de 8 ou 10 versos.

O Cancioneiro Geral obteve, também, influências clássicas, de Ovídio,


conjuntamente com a ascendência italiana, de Dante e Petrarca, centrado estes no
lirismo romântico. Há tentativas de poesias épicas, entretanto, as religiosas sobrepõem-
se, como esperado. O ponto alto, porém, são as poesias líricas, o amor-sofrimento e
súplica advindas do lirismo trovadoresco. A natureza é outro objeto de apreciação dos
poetas quatrocentistas, sendo utilizada como forma de escape e inspiração.
Durante a Idade Média, o teatro religioso tornou-se uma potência cultural nos
meios populares, iniciando por assuntos como milagres e quadros bíblicos alusivos à
períodos importantes ao catolicismo, como Natal e Páscoa. Sendo encenado,
inicialmente, no interior das igrejas, transferindo-se para o claustro e, finalmente, para o
adro. Nisso, a população começou a ter uma representação maior nas peças, de caráter
não-religiosos, principalmente, no pátio em frente à igreja: esta que os caracterizava de
profanos, ou seja, diante (pro) do templo (fano).

Houve, então, um abandono do pátio da igreja para locações mais populares,


como mercados e burgos da Europa, atraindo interesse dos castelos e da realeza do
período. Nisso, Gil Vincente, inspirado por Juan del Encina (1468-1529), destacou-se
escrevendo, principalmente, textos de caráter religioso. Apesar de suas origens
duvidosas, é de senso comum que Vincente obteve seu reconhecimento ao apresentar,
para a nobreza, o Monólogo do Vaqueiro, em espanhol. Causando tão boa impressão
que é convidado a retornar no ano seguinte, encenando outra peça: Auto Pastoril
Castelhano.

De forma sucinta, o teatro vincentino pode ser dividido em 3 fases:

1. Influenciado por Juan del Encina, de 1502 a 1514;


2. Ápice da carreira dramática, encenando suas melhores peças: Trilogia das
Barcas (1517-1518), o Auto da Alma (1518), a Farsa de Inês Pereira (1523),
entre outros, durando até 1527;
3. Nesta fase, o teatro vincentino foi dominado pelo classicismo renascentista,
essencialmente antropocentrista, durando até 1536.

A temática, porém, é dividida de forma dual: tradicional e atualidade. Sendo


tradicional: a caráter religioso, predominante nos períodos medievais, e bucólico, como
em Auto da Alma e Auto da Fé; e, atualidade: caracterizado maiormente pelo retrato
satírico da sociedade de seu tempo, desde o estrato social mais baixo até a burguesia e o
clero, como na Farsa de Inês Pereira.

É evidente, porém, que essas temáticas são apenas subjugadas por uma questão
de dominância, visto que determinados gêneros continuam sendo produzidos e
encenados mesmo após sua “época d’ouro”. Notadamente, há uma tendência à produção
de Autos secularizados, sociologicamente significando que a descrição da perda de
influência da religião em determinados aspectos culturais e sociais do período.
Quanto à condição de como eram interpretados os Autos de Vincente, é de
aceitação histórica que eram deveras precárias, nunca mencionando a presença de
palcos ou bastidores, notando um descaso com o cenário. Esta precariedade, porém, não
significava que a qualidade da obra era demasiadamente rebaixada, visto que poderia
ser encenada em qualquer período em que se encontrasse, como era de feitio de
Vincente, desde palácios, mosteiros gigantescos até uma hospitais e praças.

Assim como a flexibilidade das condições, percebe-se, no teatro vincentino, uma


maleabilidade de acordo com os locais representados nos textos, assegurando o interesse
dos espectadores dependentemente do local em que eram produzidos. O artista-maior
era o responsável por toda a infraestrutura do local, como a montagem dos guarda-
roupas, direção e montagem.

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