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O Humanismo é um movimento literário de transição entre o

Trovadorismo e o Classicismo que marcou o fim da Idade Média e início


da Idade Moderna na Europa.
Com foco na valorização do homem, ele se destacou com as produções em
prosa (crônicas históricas e o teatro) e poética (poesia palaciana) durantes os
séculos XV e XVI.

As características do humanismo
As principais características do humanismo nas artes e na filosofia são:

Antropocentrismo: conceito filosófico que ressalta a importância do homem


como um ser agente dotado de inteligência e de capacidade crítica. Avesso ao
teocentrismo (deus como centro do mundo), esse conceito permitiu
descentralizar o conhecimento que antes era propriedade da Igreja.

Racionalismo: corrente filosófica associada à razão humana que foca na


produção de conhecimentos sobre o ser humano e o mundo, contestando o
espiritualismo.

Cientificismo: associado ao racionalismo, esse conceito coloca a ciência em


um lugar de destaque. Através do método científico, ele fomenta as
descobertas desse campo a fim de entender os fenômenos naturais.

Antiguidade clássica: os artistas humanistas foram inspirados pelos estudos


realizados anteriormente por pensadores clássicos gregos e romanos,
sobretudo pela literatura e mitologia greco-romana.

Valorização do homem: inspirado nos modelos clássicos greco-romanos,


houve a valorização do corpo humano e das emoções do homem. Assim, as
artes humanistas focavam nos detalhes que revelassem as expressões e
desejos.

Ideal de beleza e perfeição: aliado ao conceito de valorização dos modelos


clássicos, nesse período buscou-se atingir a perfeição das formas humanas
por meio das proporções equilibradas e da beleza perfeita.

Entenda mais sobre as Características do humanismo.

O Humanismo em Portugal
O marco inicial do humanismo literário português foi a nomeação de Fernão
Lopes como cronista mor do reino, em 1434. Esse movimento vai até 1527 com
a chegada do poeta Sá de Miranda da Itália, quando começa o Classicismo.
O teatro popular, a poesia palaciana e a crônica histórica foram os gêneros
mais explorados durante o período do humanismo em Portugal.

Dentre os principais autores do humanismo português estão: Gil Vicente,


Fernão Lopes e Garcia de Resende.

Gil Vicente (1465-1536) foi considerado o “pai do teatro português” e sua obra


aborda temas religiosos e humanos. Apesar de possuir uma visão religiosa
cristã e moralista, seus textos também apresentam críticas sociais.

Esse autor escreveu diversas peças teatrais chamadas de Autos e Farsas. Os


Autos focavam em temas humanos e divinos, e as Farsas estavam
relacionadas com os costumes da sociedade portuguesa da época.

Dentre sua obra de dramaturgia, destacam-se:

 Auto da Visitação (1502)


 O Velho da Horta (1512)
 Auto da Barca do Inferno (1516)
 Farsa de Inês Pereira (1523)

Trecho do Auto da Barca do inferno de Gil Vicente

Diabo

— Cavaleiros, vós passais


e nom perguntais onde is?
1.º Cavaleiro

— Vós, Satanás, presumis?


Atentai com quem falais!
2.º Cavaleiro

— Vós que nos demandais?


Sequer conhecermos bem:
morremos nas Partes d'Além,
e não queirais saber mais.
Diabo

— Entrai cá! Que cousa é essa?


Eu nom posso entender isto!
Cavaleiros

— Quem morre por Jesus Cristo


não vai em tal barca como essa!
Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto
que chegam, diz o Anjo:

Anjo

— Ó cavaleiros de Deus,
a vós estou esperando,
que morrestes pelejando
por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo mal,
mártires da Santa Igreja,
que quem morre em tal peleja
merece paz eternal.
E assim embarcam.

Fernão Lopes (1390-1460) foi o maior representante da prosa historiográfica


humanista, além de fundador da historiografia portuguesa.

Antes dele, a historiografia de Portugal se resumia aos nobiliários, ou seja, os


livros de linhagem que reuniam as árvores genealógicas dos nobres medievais.

Assim, ele ampliou esse conceito ao escrever obras de grande valor artístico e
histórico sobre a história dos reis de Portugal, das quais merecem destaque:

 Crônica de El-Rei D. Pedro I


 Crônica de El-Rei D. Fernando
 Crônica de El-Rei D. João I

Trecho da crônica El-Rei D. Pedro I  de Fernão Lopes

E porquanto el−rei Dom Pedro, cujo reinado se segue, usou da justiça, de que a
Deus mais praz que cousa boa que o rei possa fazer, segundo os santos
escrevem, e alguns desejam saber que virtude é esta, e pois é necessaria ao rei,
se o é assim ao povo: vós, n'aquelle estilo que o simplesmente apanhámos, o
podeis lêr por esta maneira.
Justiça é uma virtude, que é chamada toda virtude; assim que qualquer que é
justo, este cumpre toda virtude; porque a justiça, assim como lei de Deus,
defende que não forniques nem sejas gargantão, e isto guardando, se cumpre a
virtude da castidade e da temperança, e assim podeis entender dos outros
vicios e virtudes.
Esta virtude é mui necessaria ao rei, e isso mesmo aos seus sujeitos, porque,
havendo no rei virtude de justiça, fará leis por que todos vivam direitamente e
em paz, e os seus sujeitos sendo justos, cumprirão as leis que elle puzer, e
cumprindo−as não farão cousa injusta contra nenhum. E tal virtude, como esta,
póde cada um ganhar por obra de bom entendimento, e ás vezes nascem
alguns assim naturalmente a ella dispostos, que com grande zelo a executam,
posto que a alguns vicios sejam inclinados.
Garcia de Resende (1470-1536) foi o maior representante da poesia
palaciana humanista. O escritor publicou em 1516 a obra Cancioneiro Geral, que
reúne mais de mil poemas da literatura medieval, de 300 autores diferentes.

A poesia palaciana recebe esse nome, pois era geralmente produzida nos
palácios e tinha o intuito de entreter os nobres. Os temas mais explorados
eram religiosos, amorosos e satíricos.

No período literário anterior (trovadorismo), a poesia tinha uma relação forte


com a música, no entanto, com o humanismo, ela se dissocia desse aspecto
musical.

Além disso, a poesia palaciana do humanismo inovou nos aspectos formais da


produção poética, com o uso da redondilha maior (versos com sete sílabas
poéticas), que conferia maior ritmo e memorização, em detrimento da
redondilha menor (versos com 5 sílabas poéticas).

Trecho da poesia Trova de Inês de Garcia Resende

Qual será o coraçam


tam cru e sem piadade,
que lhe nam cause paixam
úa tam gram crueldade
e morte tam sem rezam?
Triste de mim, inocente,
que, por ter muito fervente
lealdade, fé, amor
ó príncepe, meu senhor,
me mataram cruamente!
A minha desaventura
nam contente d'acabar-me,
por me dar maior tristura
me foi pôr em tant'altura,
para d'alto derribar-me;
que, se me matara alguém,
antes de ter tanto bem,
em tais chamas nam ardera,
pai, filhos nam conhecera,
nem me chorara ninguém.
Saiba mais sobreA linguagem do humanismo.
Os humanistas: autores e obras do humanismo
Os humanistas eram os estudiosos da cultura antiga que se dedicavam,
sobretudo, aos estudos dos textos da antiguidade clássica greco-romana.

Todos eles foram influenciados por características do período como o culto às


línguas e às literaturas greco-latinas (modelo clássico).

Dentre os grandes representantes da literatura humanista estão:

Francesco Petrarca (1304-1374) - poeta italiano fundador do humanismo e


autor das obras: Cancioneiro e o Triunfo; Meu livro secreto; Itinerário para a
Terra Santa.

Dante Alighieri (1265-1321) - poeta e político italiano, autor das obras: A Divina


Comédia; Sobre a Língua Vulgar; Vida Nova.

Giovanni Boccaccio (1313-1375) - poeta italiano e autor das


obras: Decamerão; A canção bucólica; Mulheres famosas.

Erasmo de Roterdã (1466-1536) - teólogo e filósofo neerlandês, autor das


obras: Elogio da Loucura; Manual do Cavaleiro Cristão; Colóquios.

Thomas More (1478-1535) - escritor e filósofo inglês, autor das


obras: Utopia; Tratado sobre a Paixão de Cristo; Súplica das Almas.

Michel de Montaigne (1533-1592) - filósofo e escritor francês, autor de uma


única obra reunida em 3 volumes: Ensaios.

Contexto histórico do humanismo


O humanismo surgiu no século XV na Itália, mais precisamente na cidade de
Florença durante o período do Renascimento Cultural. Por isso, ele também é
chamado de Humanismo Renascentista.

Esse movimento intelectual de valorização do homem, influenciou diversos


campos de conhecimento (filosofia, ciências, literatura, escultura, artes
plásticas) e rapidamente se espalhou por outros países da Europa.

A época renascentista foi um momento de importantes transformações na


mentalidade europeia. Alguns fatores que permitiram surgir uma nova visão no
ser humano foram:
 a invenção da imprensa de Johannes Gutenberg, que proporcionou a
expansão do conhecimento, antes controlado pela igreja.
 as grandes navegações e a expansão marítima europeia, que permitiram
ampliar os horizontes do homem europeu.
 a crise do sistema feudal, pois diversas atividades comerciais
despontavam, dando início ao mercantilismo e o uso de moedas de
troca (dinheiro).
 o surgimento da burguesia como uma nova classe social, que se
consolida com a expansão do comércio e o desenvolvimento das
cidades medievais.

Todas essas mudanças foram necessárias para questionar os velhos valores


num impasse desenvolvido entre a fé a razão.

Diante disso, o teocentrismo (Deus como centro do mundo) e a estrutura


hierárquica medieval (nobreza-clero-povo) sai de cena, dando lugar
ao antropocentrismo (homem como centro do mundo). Esse último, foi o ideal
central do humanismo renascentista.

O que é Humanismo?

Escrito por Juliana Bezerra


 
Professora de História
O Humanismo foi um movimento filosófico e literário que ocorreu nos séculos
XIV e XV, na Península Itálica.

Inicialmente, o termo era empregado para designar os estudos de


humanidades, ou seja: literatura clássica, história, dialética, retórica, aritmética,
filosofia natural e línguas modernas.

Mais tarde, recebe este nome porque representa a ideia que o homem estaria
no centro de tudo (antropocêntrica), ao contrário da mentalidade medieval, que
era teocêntrica.

Aliás, os humanistas rejeitavam o período medieval e chamaram esta época de


“Idade das Trevas”, enquanto eles representavam o “Renascimento”.

Na literatura, destacaram a temática mitológica, o hedonismo e a natureza


como um lugar de harmonia.

Os filósofos humanistas valorizaram o ser humano, a investigação através de


métodos científicos (empíricos) e as ideias da Antiguidade Clássica.
Características do Humanismo
O Humanismo buscava na razão a explicação para os fenômenos do mundo.

Para o humanista, estudioso da Antiguidade Clássica, somente com a ordem


era possível chegar à harmonia. Este princípio servia tanto para a arte como
para a política.

Desta maneira, surge o antropocentrismo, onde o homem e não Deus estaria no


centro do universo.

Não significa que a religião foi abandonada, nem deixou de fazer parte da vida
dos seres humanos. No entanto, o homem se vê agora como protagonista da
história, dotado de inteligência e vontade, e capaz de mudar seu destino.

Assim, o homem do renascimento não aceita as verdades pré-concebidas, pois


tudo deve ser provado pelo meio da experimentação (empirismo).

Um exemplo são as novas ciências surgidas nesta época:

 Filologia – estudo da origem das palavras


 Historiografia – estudo da escrita da história
 Anatomia – estudo do funcionamento do corpo humano

Humanismo na literatura
O Humanismo foi um movimento eminentemente literário. Nesta época, a
poesia, sempre ligada à música, torna-se um gênero independente.

Os autores recuperaram a temática da mitologia greco-romana e com isso


escreveram obras de teatro, poesia e prosa.

O hedonismo estará presente valorizando a mulher jovem, graciosa e de formas


harmônicas. Esta ideia será usada também pelos pintores e escultores.

Por sua parte, a natureza será um espaço de paz, tal como havia sido descrita
pelos autores latinos.

Importante ressaltar que haverá lugar tanto para mitologia clássica, como para
obras religiosas e moralizantes. Afinal, os autores eram católicos e se
preocuparam em adaptar esta nova visão de mundo às crenças cristãs.
Autores como Erasmo de Roterdã e Tomás Morus serão os principais nomes
do Humanismo cristão com livros sobre espiritualidade e conduta moral,
segundo os ensinamentos do cristianismo.

Humanismo português
O Humanismo português se inaugura com a produção de Gil Vicente (1465 -
1536?).

Este autor escreveu autos e farsas para serem representados para a corte
portuguesa.

Em suas obras destaca-se a crítica à sociedade, como podemos encontrar no


“Auto da Barca do Inferno”, onde os personagens de diferentes condições
sociais entram no barco do Anjo ou do Diabo.

Humanismo renascentista
O Humanismo ocorre dentro do Renascimento, entre os séculos XIV e XV, na
Península Itálica, especialmente em Florença.

Na época, esta cidade era um dos centros comerciais mais importantes do


mundo. As grandes famílias, como os Médici, os grêmios de trabalhadores e a
Igreja se lançaram a patrocinar artistas e literatos para mostrar sua riqueza.

A atividade artística passa a ter grande prestígio social, pois o artista é alguém
que agora cria e não repete apenas modelos estabelecidos anteriormente.

Este período se caracterizou pela valorização da Antiguidade Clássica e novas


leituras foram feitas de filósofos como Platão e Aristóteles. Igualmente, os
descobrimentos geográficos na África e na América ampliaram o horizonte
europeu.

Esta mentalidade se espalhou primeiro para os reinos mais próximos à


Península Itálica como Espanha e França.

Humanismo na filosofia
O Humanismo na filosofia é uma escola presente tanto no Renascimento como
no século XX, quando recebe o nome de filosofia humanista.

Os filósofos do Renascimento como Giannozzo Manetti (1396-1459)


valorizavam a experiência terrena do homem. Para ele, o ser humano era um
animal racional, dotado de inteligência e sagacidade.
Nesta linha, Marsilio Ficino (1433-1499), defende que a vida espiritual deve se
basear numa devoção interior e não através de ritos exteriores.

Finalmente, Giovanni Pico della Mirandolla (1463-1494) resumiu em suas obras


o espírito do Renascimento: questionamento, tolerância cultural e religiosa, e
obtenção do conhecimento a partir de diferentes saberes.

Humanistas
Além dos autores citados anteriormente, outros escritores humanistas
importantes foram:

Lorenzo de Médici (1449-1492): diplomata, poeta e governante de Florença


(1469-1492), Lorenzo de Médici manteve o mecenato iniciado por seu avô.
Além disso, enviava artistas a distintas cortes europeias, colaborando para
difusão da arte humanista. Uma de suas obras mais conhecidas é o canto
carnavalesco “O triunfo de Baco e Ariadne”, escrito em 1490.

Nicolau Machiavelli (1469-1527): filósofo, diplomata da República de Florença


de 1498 a 1512 e considerado o fundador da ciência política. Seu nome se
tornou adjetivo na cultura popular e erudita: “maquiavélico”. Esta expressão foi
usada para qualificar seu livro “O Príncipe” (1516), onde defendia que os
interesses de Estado devem estar acima de tudo.

Cardeal Cisneros (1436-1517): arcebispo de Toledo, cardeal e regente do reino


de Castela, após a morte de Isabel, a Católica. Fundador da Universidade de
Alcalá e patrocinador da Bíblia poliglota. Reformou a ordem dos franciscanos,
aplicando medidas que só seriam estabelecidas pela Igreja universal quase
meio século mais tarde. Também assumiu o Tribunal da Inquisição e impôs
penas em dinheiro ao invés de físicas.

Nícolas de Cusa (1401-1464): nascido na Alemanha, cardeal, jurista e teólogo,


sua obra mais conhecida é “Da Douta Ignorância”, de 1440. Nesse livro ele faz
uma defesa da ignorância, afinal jamais alcançaremos todo o conhecimento.
Nem por isso devemos deixar de tentar, pois somente o caminho até Deus (que
é inalcançável) aquietará nossa mente limitada.

Humanismo secular
A partir das ideias humanistas do século XIV surge o Humanismo secular, a
psicologia humanista e a pedagogia humanista.

Este movimento põe ênfase na dignidade humana, considerando o ser humano


como um ser racional, capaz de praticar o bem e evitar o mal. Para isso é
preciso cultivar a educação moral, mas também não desprezar as inovações
tecnológicas e científicas.
Os humanistas argumentam que, uma vez satisfeita as necessidades
fisiológicas do ser humano, ele é capaz de buscar o melhor para si e para a
humanidade.

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