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CENTRO UNIVERSITÁRIO – CATÓLICA DE SANTA CATARINA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO


RESTAURAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO DE EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS

PROJETO DE RESTAURO DA RESIDÊNCIA 62 DA RUA CONSELHEIRO ARP

Acadêmico
Rodrigo Gomes Faust

SETEMBRO
JOINVILLE
PESQUISA HISTÓRICA

JOINVILLE

A Cidade de Joinville foi fundada em 9 de março de 1851, com a chegada dos primeiros imigrantes
da Alemanha, Suíça e Noruega, a bordo da barca Colon.
Ilustração da Carroça vindo do planalto em direção a
Na época ainda era chamada de Colônia Dona Francisca, em homenagem à princesa Francisca Carolina, Joinville carregada de erva mate
Carregamento de madeira vindo de São Bento do Sul
filha de D. Pedro I e herdeira de uma área de 25 léguas quadradas. As terras foram dote de casamento da
princesa com o príncipe François Ferdinand Phillipe Louis Marie, de Joinville.
Na chegada dos imigrantes iniciou a abertura de picadas em três direções:
O príncipe cedeu, em 1849, oito léguas de área para a Sociedade Colonizadora Hamburguesa, de
Os suíços na direção Oeste seguindo a picada Jurapé (Schweizer-Pikade ou Rua do Meio) antes
propriedade do senador Christian Mathias Schroeder e a partir daí começou sua colonização.
batizada como Mittelweg e após a campanha de nacionalização na década de 30 passou a chamar-se de
Em 1852 a Colônia Dona Francisca passou a ser chamada de Joinville.
Rua Quinze de Novembro.
Os noruegueses na direção Norte (Nordstrasse) atual João Colin.
Os alemães na direção Sul-Oeste acompanhando o percurso do Rio Mathias (Deutsche Pikade ou
Matthias-Strasse) hoje Visconde de Taunay.

Princesa Dona Francisca e o Príncipe de Joinville

Em 1852 a Rua Mittelweg continuou a ser prolongada em direção ao Oeste para atingir a Serra
Geral com o planalto de Curitiba.
Rua XV de Novembro 1866
Esse caminho foi muito importante para o desenvolvimento da economia da cidade, pois logo mais Foto de Otto Louis Niemeyer
em 1865 se inicia o ciclo do Mate e da madeira. O Porto de Joinville escoada sua produção em direção ao
porto de São Francisco em barcas menores e em seguida mundo afora em grandes embarcações. Em 1852 a Rua Mittelweg continuou a ser prolongada em direção ao Oeste para atingir a Serra
Geral com o planalto de Curitiba.
Esse caminho foi muito importante para o desenvolvimento da economia da cidade, pois logo mais BAIRRO AMÉRICA
em 1865 se inicia o ciclo do Mate e da madeira. O Porto de Joinville escoada sua produção em direção ao
porto de São Francisco em barcas menores e em seguida mundo afora em grandes embarcações. Na década de 20 e 30 com o processo de alavancagem capitalista em Joinville e houve juntamente
um efetivo processo de urbanização.
Durante a Segunda Guerra mundial houve a escassez de produtos importados da Europa então a
CEMITÉRIO DO IMIGRANTE necessidade se tornou oportunidade ocorrendo a abertura de inúmeras indústrias fora aquelas já existentes.
Joinville então ficou conhecida como a Manchester Catarinense.
O Cemitério do Imigrante teve a localização determinada pela Companhia Colonizadora de Até o ano de 1951 existiam apenas os bairros Itaum e Guanabara no Sul, Glória a Oeste, Boa Vista
Hamburgo, seu primeiro sepultamento ocorreu em dezembro de 1851, sendo que o cemitério funcionou e Iririú ainda pequenos no Leste, o Bairro Bonsucesso (atual Atiradores) e Centro.
até o ano de 1913. No cemitério há 490 sepulturas, embora o número de sepultados supere os 2 mil, entre A grande multiplicação dos bairros ocorreu no final da década de 60 com os efeitos da
imigrantes e seus descendentes, luso-brasileiros e afrodescendentes que colonizaram a região. industrialização pós golpe militar.
O referido é Patrimônio tombado desde 1962 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico O bairro América onde encontra-se a casa da Conselheiro Arp, 62 passou a ser conhecido por sua atual
Nacional (Iphan). denominação por volta de 1980, a região que compreende o Bairro América era denominada Centro, e
O cemitério tem grande relevância em nosso trabalho de pesquisa sobre a casa da Rua Conselheiro mudou para o atual nome somente quando as novas instalações do América Futebol Clube, que em seus
Arp, 62 pois são vizinhos e todo seu entorno deve ser preservado a fim de não ferir os visuais do cemitério. primórdios foi conhecido por Foot Ball Club Teotônio, foram concluídas na Rua Visconde de Mauá.Pelo
fato de ser um bairro de ocupação antiga sua infra-estrutura começa a ser instalada desde o início do Século
XX, iniciando pela energia elétrica e mais tarde, a rede de água tratada. Houve uma alteração das atividades
econômicas, passando de agrícolas para comerciais/industriais, atribuindo ao bairro maior centralidade.
Neste bairro moram alguns descendentes dos colonos de origem germânica, que imigraram para a Colônia
Agrícola Dona Francisca na segunda metade do Século XIX.
Vizinho do centro o Bairro América é facilmente confundido com o próprio centro da cidade. Isto
torna se compreensível ao observarmos o grande número de estabelecimentos comerciais e industriais que,
além de prósperos e dinâmicos, contêm uma história rica e obrigatória para qualquer análise sobre o
processo de urbanização da cidade de Joinville. As duas principais vias de acesso as quais recorriam
viajantes, comerciantes e aventureiros e que, sem dúvida, desempenharam papel importantíssimo no
crescimento do município são as atuais ruas Dr. João Colin e Blumenau.
Energia elétrica chegou em 1918, os moradores deste bairro foram os primeiros beneficiados com a
instalação da energia elétrica. A Sra. Irmã Hardt: informa que quando seus pais vieram residir no bairro,
em 1918, já utilizavam energia elétrica. 0 Sr. Ronaldo C. Daberkow, nascido em 1929, nos declara que
desde a sua infância era comum a utilização da energia elétrica entre a vizinhança. A água encanada só foi
instalada mais tarde, há mais ou menos 45 anos. Porém a água faltava com frequência, trazendo aos
moradores vários transtornos. Para resolver o problema, construíram um reservatório, que duas vezes por
Foto tirada do alto do cemitério do Imigrante em direção a semana era abastecido. Este reservatório estava localizado na esquina da Rua Tubarão com a Rua Dr. João
Rua Conselheiro Arp em 1960.
Colin. Mesmo depois da instalação da água encanada muitos moradores continuaram utilizando água de
poço devido a este problema. Antes disso, porém, a Prefeitura Municipal encarregava se do abastecimento
com um carro pipa que passava uma vez por semana. Cada morador possuía uma caixa d`água e pagava Conselheiro Julius Arp, era herdeiro legítimo de um feudo alemão, veio para o Brasil, no fim do
por metro cúbico de água. A Rua Dr. João Colin foi calçada em 1952, quando ainda era denominada Duque século 19 e se instalou inicialmente em Santos e posteriormente no Rio de Janeiro, onde instalou uma
de Caxias. A Rua Benjamin Constant (antiga Rua Guilherme ou Wilhelmstrasse) e a Rua Visconde de importadora de produtos têxteis. Apreciador de borboletas, soube que em Joinville havia uma grande
Mauá só foram pavimentadas em 1980. A Rua Lages foi calçada aproximadamente em 1950. 0 Sr. Augusto quantidade e decidiu transferir seus negócios para a cidade do Norte catarinense. Em 1901, juntamente
Erzinger ia até a cidade fazer entrega de mercadorias de bicicleta e nos conta que quando vinham pessoas com Ottomar Kaiser, fundou a Kaiser e Cia., sendo que no fim do mesmo ano, Ottomar se retirou da
de outras cidades, ficavam espantadas com a quantidade de bicicletas que circulava pela cidade. empresa, continuando como sócio e a empresa passou a se chamar Arp e Cia., com sede no Rio de Janeiro
e filial em Joinville. Em 1946, passou a chamar-se Malharia Arp S/A. Foi neste ano, também, que o
Conselheiro Julius Arp morreu.
RUA CONSELHEIRO ARP

A Rua Conselheiro Arp hoje juntamente com as ruas Duque de Caxias e Expedicionário Holz
formam um corredor importante de escoamento do trânsito na área central de Joinville, praticamente uma
só rua com cerca de dois quilômetros. As três ruas juntas ajudam a desafogar o trânsito da avenida JK,
principalmente para quem quer ir para a zona Norte da cidade. Suas histórias se misturam com a história e
o desenvolvimento da cidade, pois as denominações foram feitas, oficialmente na mesma Lei, em 1957.
Além disso, a peculiaridade de seus
homenageados as torna cada vez mais
interessantes.
A Rua Conselheiro Arp, tem a extensão
de 750m que vai da Quinze de Novembro
até a rua Frederico Huebner. Um pequeno
trecho dela foi aberto também nos meados Vista Panorâmica da Rua Conselheiro Arp com a casa 62 avistada.
dos anos 1930 e ia somente até a rua Max
Colin. O nome da via é uma homenagem ao
Conselheiro Julius Arp, alemão que veio
para o Brasil e montou diversos
empreendimentos, e escolheu Joinville para
expandir seus negócios e aumentar sua
coleção de borboletas. Ele fundou a
empresa que deu origem à Malharia Arp,
ícone fabril joinvillense por muitos anos.

Antigas imagens da Rua Conselheiro Arp


HISTÓRIA DA CASA NÚMERO 62

O primeiro registro da casa localizado foi a transcrição de número 12.675 cadastrada no 1º Cartório
de Registro de Imóveis de Joinville onde o madeireiro Sr. Bertholdo Michels adquiriu a casa em
04/03/1951 por sentença a Arrematação procedida nos autos da Ação Executiva de Cobrança movida
contra Kamradt, Gelinger & Cia e Augusto Gelinger e sua mulher.
O segundo registro da casa foi a transcrição de número 12.747 cadastrada no 2º Cartório de
Registro de Imóveis de Joinville onde o Sr. Berthodo Michels e sua mulher Orlandina Mafra Michels
vendem o imóvel para o Sr. Gehart Maier e Frida Helena Maier na data de 22/09/1951.
Antes mesmo feita a escritura em março de 1951 o Sr. Gehart Maier, agora denominado como Geraldo
Meier (acreditamos na mudança do nome devido a perseguição dos alemães pós Segunda Guerra Mundial)
solicitou a Prefeitura Municipal de Joinville a autorização de ampliação da casa conforme planta anexa e
no mesmo ano solicitou sua vistoria ao término das obras.
Após a morte de Sr. Gehart Maier em 1994 a casa passou para o nome de Karin Birckholz e seu marido
Wilson José Andersen Balão. Solicitação de ampliação da casa 1951
Em 2008 foi pedido a autorização de demolição Fonte: Arquivo Histórico de Joinville

do imóvel por parte do Sr. Wilson Balão e o órgão


COMPHAAN se opôs a demolição assim como
deliberou pela preservação do bens e abriu o processo
de tombamento do imóvel. Em 2011 o imóvel já
tombado foi vendido para o médico Geraldo Antonio
Cassol e sua esposa Vera Lucia Freitas da Silva Cassol
que em seguida no próximo ano a revendeu para Valdir
José Romanini Júnior e sua esposa Beatriz Weege
Goulart Romanini até dos dias de hoje, o imóvel
encontra-se em nome da família agora em da Veritas
Administradora de Bens Ltda administrada por Thomas
Romanini.

Transcrição 12.675, 1º CRI


Data construção da casa entre 1938 a 1946

Matrículas dos imóveis do entrono

ARQUITETO GEORG KELLER

O foco da Keller & Cia era a construção de residências e casas comerciais. A primeira delas é um
cartão de visitas para o arquiteto – foi a casa do sogro, o industrial Germano Wetzel, na rua 9 de Março,
esquina com o Beco Mato Grosso. Erguida no início dos anos 20, a casa já foi demolida, mas marcou época
Matrícula n° 33.400 do 1 CRI de Joinvillle com suas mansardas, ao estilo francês. A ela se seguiram outras, como a residência do deputado federal
Hans Jordan, na rua Procópio Gomes de Oliveira, a casa do prefeito Arnaldo Moreira Douat, na esquina pela Universidade Federal de Santa Catarina”, Entre as inovações atribuídas a ele, está o uso do concreto
da avenida JK com rua Padre Carlos, e a sua própria residência, na rua Jaraguá, ao lado do atual Museu de armado no Sul do País. Nos anos 30, seu sobrinho Helmuth Keller, também arquiteto, associou-se à firma.
Arte de Joinville, onde anos depois morou a filha Elisabeth e o genro, o ex-prefeito Nilson Bender. Nas
casas de alto padrão, os acabamentos como ladrilhos, pisos e até maçanetas eram importados da Alemanha.
Eram casas grandes, de famílias abastadas.
A construtora foi responsável pela construção da chaminé da antiga Arp & Cia, onde funcionava a
Malharia Arp e onde hoje é o Shopping Cidade das Flores e outras chaminés que já foram demolidas,
outras obras foram as adutoras de água do rio Motucas e do rio Piraí, várias pontes na área rural (entre elas
a ponte coberta sobre o rio Cubatão, na região do Quiriri) e o Hospital de Ibirama, também são algumas
de suas obras.
Uma de suas grandes obras foi a construção das trincheiras de concreto armado e fundações para
Casa de Ernesto Wetzel, na Rua XV de Novembro. Casa do Prefeito Arnaldo
os canhões de artilharia de longo alcance do Forte Marechal Luz, em São Francisco do Sul. Como ele Crédito Fritz Hofmann/AHJ Moreira Douat Esquina JK

lutou na primeira guerra, sabia posicionar tecnicamente estas trincheiras.


Georg Keller trabalhou por 53 anos. Mas mesmo aposentado não deixou de ir a empresa. Depois
vendeu sua parte da empresa para o sobrinho Helmuth, que porteriormente também a vendeu. No fim da
vida, usava o talento para o desenho para pintar aquarelas. Faleceu em agosto de 1979, aos 84 anos, de
câncer.
A casa de número 62 da Rua Conselheiro Arp foi construída pelo arquiteto Georg Keller da Keller
& Cia. O arquiteto nasceu em1896, em Hohenstein-Ernstahl, na Saxônia, Friedrich Georg Keller chegou
ao Brasil em junho de 1920 em busca de oportunidades de trabalho pois a situação da Alemanha após a Casa de Urbano Gern, na Rua 7 de Setembro. Casa da família Beckmann, rua Rio Branco.
Acervo de família. Acervo de família
primeira guerra mundial. Chegou aqui aos 24 anos, com o diploma de curso técnico de Carpinteiro e a
formação em Arquitetura na Staatliche Bauschule, em Chemmitz, na Alemanha.
Seu irmão Max Keller já morava em Joinville e era diretor da Malharia Arp Max Keller. Joinville
na época estava em crescente industrialização e sua demanda por obras era grande. Numa visita ao irmão
conheceu Erna Wetzel e se apaixonou e ficou na cidade. Viveram mais de 50 anos juntos e tiveram três
filhas. Com a chegada de Georg Keller à cidade, em 1923, surgia a firma Enterlein & Keller e Cia, que
tinha dois ramos de negócios bem definidos: fundição (Enterlein) e construção (Keller). Além disso a
empresa tinha uma representação da Ford na rua Pedro Lobo. Quando os sócios se separaram, Enterlein se
associou a Albano Schmidt, dando origem ao que seria a Fundição Tupy. E a nova Keller & Cia seguiu Farmácia Minancora, Esquina Rua do Atual Farmácia do Sesi na esquina da
Príncipe e das Rua das Palmeiras Rua Dr. João Colin e Princesa Isabel
com foco em arquitetura e construção.
Georg se inspirava na Escola de Arquitetura “Bauhaus”, de Berlim, e costumava ler e estudar muito
sobre a área. Fazia seus projetos a bico de pena. E não ficava só nos projetos. A empresa também era
construtora. Ele elaborava o projeto e fazia a construção. Começou a estudar a parte civil e se diplomou
ANALISE TIPOLÓGICA entre seus descendentes, mas sim, associada à necessidade de reforçar seus traços peculiares como uma
forma de contribuir para a formação atual e o desenvolvimento futuro do país. Assim, o teuto-brasileiro
ARQUITETURA TEUTO-BRASILEIRA DA CASA torna-se a designação de um grupo social com características populacionais culturais e socioeconômicas
próprias em território nacional, tornando-se uma categoria sociológica, usada para definir um grupo
Teuto-Brasileiro: é a designação genérica que se atribui aos grupos de descendentes dos perfeitamente integrado ao “mosaico cultural” brasileiro, destacado como grande contribuição à formação
imigrantes alemães que colonizaram, a partir do século XIX. nacional.
Em outro momento – já em plena década de 1980 – emerge uma abordagem histórica da
colonização alemã no sul do Brasil que afirma ser a formação da identidade teuto-brasileira um fenômeno
naturalmente decorrente deste movimento imigratório, iniciado há mais de 150 anos.
Para esta geração de estudiosos, a identidade cultural teuto-brasileira seria, no mais das vezes, o
espaço de compartilhamento de um certo número de características peculiares a estes grupos estabelecidos
no Brasil, o qual determinaria a articulação social e política atual das localidades influenciadas diretamente
pela imigração alemã. Formada no próprio contato social entre imigrantes, descendentes e outros grupos
étnicos encontrados no Sul, a identidade teuto-brasileira seria o resultado de um embate pela afirmação da
sua particularidade, diante da diversidade étnica e cultural do restante do Brasil. A afirmação de suas
peculiaridades demonstraria, para o país como um todo, traços dignos de um exemplo a ser seguido pelo
país, assolado pela “herança colonial” lusa. A ética do trabalho e da poupança, a religiosidade, a natural
tendência ao associativismo, o respeito às leis e hierarquias, a valorização da iniciativa particular e familiar,
o desprezo pela iniciativa pública e pelo Estado, a manutenção das tradições e do idioma, o isolamento
municipal e regional, o respeito ao meio ambiente, seriam alguns destes traços culturais que
caracterizariam a cultura teuto-brasileira, ainda visualizada como um contraponto positivo à presença lusa,
africana e indígena na formação nacional do Brasil.
A edificação apresenta traços da cultura teuto-brasileira, ou seja, cultura alemã em solo brasileiro,
sua volumetria e ornamentação remetem também a tipologia “eclético tardio”, sendo concluída em meados
de 1930. Não foram encontrados registros do primeiro projeto, não deixando concluso onde foi
desenvolvido. Vários fatores concorrem para esta afirmação, como o fato de as modulações das casas não
mudaram quase nada com o tamanho maior ou menor das famílias, a declividade dos lotes, o tipo de cultura
agrícola, o material e a técnica de construção, o fato de o sótão atuar como dormitório ou como depósito,
a ocorrência ou não dos porões. Finalmente, cabe argumentar que, mesmo quando as plantas se
transformaram, adotando varandas e ampliando os espaços de estar, é comum que as estruturas de telhado
Descrição Cpc
permaneçam inalteradas – passando-se a apoiar os acréscimos construídos na fachada (varandas) ou nos
fundos (cozinha ou quartos). Sendo assim, podemos avançar na tentativa de compreensão das plantas
Ser teuto-brasileiro significa, principalmente, preservar os laços de sangue e os traços culturais
típicas que se estabeleceram na região de imigrantes, analisando algumas de suas generalizações e suas
trazidos pelos imigrantes através das gerações, chegando a ser encarado como uma ameaça à unidade
particularidades. Como premissa, podemos compreender que: – A organização da planta que se tornou
nacional brasileira. Nas décadas que se seguem após as guerras mundiais e a derrota da Alemanha nazista,
tradicional decorre do modelo agrícola de minifúndios unifamiliares; – Sua configuração ocorreu em
a denominação teuto-brasileiro é completamente desvinculada do ato de reivindicar a cidadania alemã
decorrência das técnicas construtivas previamente conhecidas dos imigrantes, adaptadas às condições suíços que no início do século XX fundaram Neu Zürich, foram trazidos para a região do Alto Vale com
encontradas no Brasil; – Estão presentes, na planta residencial dos imigrantes, valores universais de o propósito de ocuparem a terra e a tornarem produtiva, eram lavradores em sua maioria, falavam dialetos
sociabilidade, conforto, segurança e adaptabilidade ao clima germanófonos e seguiam religiões protestantes, em especial a religião batista.
Dois compartimentos frontais – sala e quarto do casal – separados por parede de madeira ou A colônia mais bem sucedida de todas as colônias suíças é a colônia Helvetia perto de Campinas,
enxaimel; no caso dos imigrantes poloneses, normalmente acrescentou-se o corredor central, com a função na qual se fixaram desde 1888 famílias suíças, quase tôdas oriundas de Obwalden e emigradas de 1854 a
de distribuir o acesso ao interior da casa; · Quarto ou depósito de grãos no sótão; · Puxado nos fundos ou 1887; esta notável obra colonizadora que em 1936 abrangia perto de 5.000 hectares e 2.200 pessoas. Estas
na lateral, construído originalmente ou como ampliação, onde funciona quase sempre a cozinha; colônias conservaram até hoje certos traços do folclore suíço, assim por exemplo o dialeto e a Sociedade
Varanda na frente da casa, com apoios em madeira ou tijolos, com peitoril guarnecido de parapeitos e de Tiro ao Alvo com o Guempelschiessen.
treliças de madeira ou em trabalhos esmerados de alvenaria, intercalando tijolos de modo a formar vazios, A colônia que mais se vangloria no sul do País, de uma considerável porcentagem de imigrantes
quase sempre construídos depois do módulo principal. As modificações dessa planta básica ou soluções suíços, é a antiga colônia D. Francisca, o atual município de Joinville, cuja sede por causa de sua rápida
diferenciadas podem ser as seguintes: Dois quartos distribuídos ao lado da sala frontal; · Introdução de industrialização é chamada a Manchester catarinense. Joinville constitui ao lado de Blumenau a mais bem
corredor contíguo à porta principal. Parte da varanda fechada para adaptação de mais um compartimento. sucedida colônia alemã em Santa Catarina e é uma comuna modêlo na qual os descendentes suíços (os
Ampliação lateral da casa, muitas vezes com a incorporação de mais um módulo estrutural inteiro. Colin, Richlin etc. ) desempenharam até esta data um papel de destaque.
Subdivisão do puxado dos fundos para mais um quarto. Mais uma ampliação para os fundos onde se
localizava a nova cozinha, servindo a anterior para mais quartos.
Apesar dos alemães serem maioria Joinville também recebeu outras etnias migratórias, ressaltando
nesse trabalho os suíços.

IMIGRAÇÃO SUÍÇA

Quando falamos em imigração suíça no Brasil, a primeira e mais expressiva lembrança é a colônia
de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, fundada em 1819 por suíços católicos francófonos. Em Santa
Catarina é bastante conhecida a história da Colônia Dona Francisca, atual Joinville, fundada em 1851, que
recebeu imigrantes suíços, oriundos majoritariamente do cantão Shaffhausen, norte do país, trazidos para
a Colônia pela Sociedade Colonizadora de Hamburgo de 1849, Sociedade que posteriormente alterou seu
nome para Hanseática e criou a Colônia Hammonia no final do século XIX. Diversos autores analisaram
com propriedade a imigração alemã em Santa Catarina referindo que a Sociedade Colonizadora de
Hamburgo, depois Hanseática, teve como propósito, desde o início da colonização, a formação de uma
comunidade etnicamente homogênea de acordo com as noções do Volkstum e Deutschtum. Os suíços
foram trazidos em meio aos imigrantes alemães para ocupar as terras onde foi criada a Colônia Hammonia,
adquiridas pela Sociedade Colonizadora Hanseática junto ao governo do Estado catarinense, sendo
integrados ao conjunto dos imigrantes alemães, segundo a concepção do Deutschtum.
Os imigrantes suíços estão assim inseridos no conjunto da imigração europeia do século XIX e
início do XX, que fugindo da miséria vieram para a América em busca de uma vida melhor. Os teuto-
ARQUITETURA

As seguintes informações são baseadas na foto mais antiga da casa, a qual acreditamos ser a
formação mais original da mesma.
O imóvel localizado no centro do lote apresenta porão, térreo e sótão, e varanda frontal. Com
telhada de duas águas, em 1951 foram feitas ampliações, acrescentando um anexo na parte posterior e
mudando completamente a estrutura do telhado. A casa contava com jardins. A cobertura possui forte
inclinação, oitão alinhado na lateral sul da fachada principal, direciona linha de cumeeira que compõem
com a linha perpendicular do oitão da elevação triangular maciça do oitão principal. A água lateral da
Esquema Vertical Longitudinal
cobertura, na elevação frontal marca o acesso principal junto com a escadaria lateral. Externamente a
edificação recebeu e no acesso ao térreo, também recebeu edícula para o guarda de veículo. Internamente
apresenta elementos e bens integrados originais, tais como escadaria,

Esquema das Alterações da casa ao longo do tempo.


TÉCNICAS CONSTRUTIVAS

Com o uso residencial, a configuração atual da edificação conta como pavimento térreo, com acesso
direto pelo térreo e pelo primeiro pavimento através de uma escada, remetendo ao uso de um porão; 1º
pavimento, no qual é desenvolvido todo o programa da residência, contendo hall, salas, cozinha, quartos,
banheiros; e sótão, possui três cômodos, possivelmente sendo usado como dormitórios.
 Estruturas: De acordo com as técnicas construtivas do período da construção, o alicerce da
edificação foi feito em pedra e granito. Quanto a estrutura de sustentação (pavimento térreo) pode-
Ano não informado Ano 2019 se afirmar que a mesma é de alvenaria auto-portante, as paredes estruturais externas possuem uma
estrutura de 0,40m, encontrando-se resistente e bem solidificada. Existem pequenas aberturas
nestas áreas, permitindo a circulação de ar e o arejamento estrutural.

Escadaria interna e os Estrutura do assoalho


Escada de acesso principal
revestimento de madeira do
chão.
Estrutura de pedra

 Alvenaria: No primeiro pavimento as alvenarias são de tijolos cerâmicos simples, não existe  Forro: Forro paulista pintado com tinta á óleo, executado na edificação no plano horizontal, tipo
paredes duplas, já que a alvenaria não é auto-portante, sendo sustentada pelos pilares existentes. mata-junta, sustentado por estrutura de barrotes, apoiados nas linhas que correm sobre as paredes

 Pisos: O piso na residência é constituído em assoalho, tacos e ladrilhos, sendo soalho nas áreas de internas. Seguindo o mesmo padrão no sótão e em alguns cômodos do térreo.

convivência quartos apoiados sobre vigas em madeira; tacos no hall e cozinha assentado sob laje
maciça e ladrilho hidráulico nos banheiros também assentados sob laje maciça. Os assoalhos e
ladrilhos são original e estão em bom estado de conservação (em sua maioria), contrastando com
intervenções com o piso do terro contento variação de tipo de cerâmica. Na área de sótão todo o
piso é formado por soalho, apoiado sobre estruturas de madeira. A escada de acesso principal
construída possivelmente com cimento e tijolos maciço, é revestido por uma camada em cimento
desempenado. Pintura do forro do sótão

 Cobertura: Composta por telhas cerâmicas francesas, a cobertura é formada por oitões que
compõem e demarcam a fachada, delimitando a área útil do sótão, contendo pé direito de 2,5m.
 Esquadrias: A maioria das esquadrias mantém o desenho original, apesar de algumas peças terem
sido reparadas ou substituídas. Não seguem um padrão de formato, sendo que a área social é
composta por janelas do tipo giro veneziana com duas folhas, com uma folha em vidro tipo
guilhotina. A cozinha e banheiro possuem janela de ferro basculante. Já no térreo, a tipologia é bem
diferente, marcada por janelas pequenas basculantes em ritmo medindo 80cm de largura por 54cm
Revestimento - Tacos Revestimento - assoalho Ladrilho Hidráulico
de altura cada.
 Ornamentos: A edificação seguindo o estilo arquitetônico possui uma linguagem e composição
limpa. Dando destaque às aberturas e as colunas que marcam o ritmo no volume. Os requadros de
portas e janelas são executados em relevo com reboco, o que é comum na arquitetura eclética.
 Intervenções: Externamente a edificação recebeu intervenções no revestimento da escadaria
principal e no acesso ao térreo. Internamente, apresenta elementos e bens integrados originais, tais
como escadarias, assoalhos de madeira, pisos de ladrilho hidráulico, forro de lambris, aberturas
(em sua maioria), contrastando com intervenções como no piso no térreo, em aberturas e inserção
Esquadrias
de aparelhos de ar condicionado.

 Pintura: Não existe registro sobre a cor original da edificação, mas de acordo com o período em
que foi construída, acredita-se que sua cor atual remete muito a original, rústica de cor clara.
Internamente, as paredes receberam pintura feita com cal, cola e óleo.
REFERÊNCIAS

Arquivo Histórico de Joinville

FICKER, Carlos. História de Joinville: subsídio para a crônica da colônia Dona Francisca. 2 ed.
Joinville: Ipiranga,1965

SOCIEDADE AMIGOS DE JOINVILLE (Org.). Álbum histórico do centenário de Joinville: 1851 – 9


de março – 1951. Curitiba: Gráfica Mundial Limitada, 1951. 322p.

TERNES, Apolinário. Joinville: a construção da cidade.1 ed. Joinville: SEIgraph, 1993

https://www.joinville.sc.gov.br/wp-content/uploads/2017/01/Joinville-Bairro-a-Bairro-2017.pdf

https://www.joinville.sc.gov.br/publicacoes/joinville-cidade-em-dados-2018/

http://mariacristinadias.com.br/historias/keller/

https://simgeo.joinville.sc.gov.br/

https://ndmais.com.br/blogs-e-colunas/memoria/tres-ruas-tres-historias-um-caminho/

https://shoppingcidadedasflores.com.br/institucional/

http://www.poeiranaveia.com.br/search/label/3%20Horas%20de%20Joinville

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