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Introdução
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Doutor em História é professor do Instituto de Ciências Humanas do Pontal/UFU. Universidade Federal de
Uberlândia. E-mail: aurelino.ufu@gmail.com
2
Doutor em Antropologia é professor associado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais
PPGCS/INCIS/UFU e Programa de Pós-Graduação em História – PPGHI/INHIS/UFU. Universidade Federal de
Uberlândia. E-mail: marcelmano@ufu.br
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Doutor em Arqueologia é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais –
PPGCCS/INCIS/UFU. Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: robson_arqueo@yahoo.com.br
Anais da VIII Semana de História do Pontal e VII Encontro de Ensino de História 27 a 30 de setembro de 2021 ISSN 2179-5665
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histórico-arqueológico, de caráter e valor patrimonial4, testemunho do contexto e da memória
histórica da sua ocupação indígena pré-colonial5 e colonial durante os séculos XVIII e XIX.
Trata-se de território, geográfico e histórico, no qual se deu intensos contatos entre
diferentes populações e culturas. Primeiro, entre as populações indígenas que o habitavam,
desde tempos imemoriais (MAZZA, 2020) e, durante o período colonial (meados do XVIII a
XIX), entre elas e os sertanistas paulistas (bandeirantes) (FERREIRA FILHO, 2015;
RODRIGUES, 2011; MANO, 2012); entre elas e escravisados fugidos da escravização e
homens livres pobres em geral (ALVES, 2017; MANO; ALVES, 2015; MANO; 2015);
bem como com índios aldeados pela política colonial de aldeamentos indígenas (MORI, 2015;
ASNIS, 2019).
Esse intenso cenário de contatos e intersecções culturais deixaram inúmeros registros
(históricos, arqueológicos e paisagísticos) que nos permite pensar a região em tela como um
vasto território patrimonial, conceito tomado de empréstimo da musealização da arqueologia,
(WICHERS, 2014, p. 26) e entendido como testemunho histórico dos processos de produção e
reprodução de ocupações humanas dos territórios.
Cabe aqui uma pequena digressão sobre o conceito de território,
utilizado aqui para compreendermos essa relação entre sociedade e
espaço. Milton Santos propôs que o território fosse compreendido como uma
mediação entre o mundo e a sociedade, categoria de análise social “O
território são formas, mas o território usado são objetos e ações, sinônimo de
espaço humano, espaço habitado” (SANTOS, 2005, p. 255). Para Cabral
(2007), sob a noção de território, deve-se privilegiar a reflexão sobre o
poder referenciado ao controle e à gestão do espaço. Nesse sentido, ao
tomarmos o conceito de território na Musealização da Arqueologia,
estamos destacando as relações de poder, o controle político do espaço, o
que nos parece especialmente adequado se queremos refletir
criticamente sobre o contexto contemporâneo, onde muitos projetos têm
seu espaço de atuação definido a partir dos empreendimentos de
natureza diversa, que delimitam o território patrimonial a ser
pesquisado. A divisão política, seja municipal e estadual, também é um
recorte possível para a análise do território patrimonial. (Grifo nosso)
(WICHERS, 2014, p. 26-27).
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Sendo que a região já conta com importantes bens tombados, de âmbito municipal e estadual, testemunhos
destes processos, como veremos ao longo do artigo.
5
Do ponto de vista geográfico e arqueológico, de forma ampliada, trata-se da ocupação pretérita da Bacia do Rio
Grande e Bacia do Rio Paranaíba, envolvendo o norte de São Paulo, Triângulo Mineiro, sul de Goiás e leste do
Mato Grosso do Sul tendo como grupos principais os indígenas da família linguística Jê, identificados como
Kayapó Meridionais ou Kayapó do sul.
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A delimitação desta vasta área como território patrimonial, sítio histórico-arqueológico,
de caráter e valor patrimonial justifica-se pelo fato da região do atual Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba – MG, ser composta por um conjunto de municípios não contíguos nos quais
existem sítios testemunhos do contexto e da memória histórica da produção do território pré-
colonial e colonial. Embora já se tenha uma base de conhecimento acerca das relações entre
os povos e as culturas que o construíram, ainda há muito que fazer, como, por exemplo, uma
cartografia histórica que amplie a compreensão das formas de produção do território,
inserindo as redes de trocas materiais e simbólicas entre os povos, sejam elas produtos das
relações parentais, das alianças, das guerras, das negociações e outras formas de interação
social que aí se desenvolveram (MANO, 2010; MORI, 2015).
6
Entre tantas outras, podemos citar: MORI, Robert. Os aldeamentos indígenas no Caminho dos Goiases:
guerra e etnogênese no sertão do Gentio Cayapó (Sertão da Farinha Podre) séculos XVIII e XIX. Dissertação
(Mestrado em Ciências Sociais), Instituto de Ciências Sociais, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
2015. LOURENÇO, Luís A. B. Populações indígenas e política indigenista no Triangulo Mineiro nos séculos
XVIII e XIX. In: FERREIRA FILHO, Aurelino (Org.). Índios do Triângulo Mineiro. Uberlândia: Edufu, 2015,
p. 25-56; LOURENÇO, L. A. B. Os índios da Farinha Podre. In: A oeste das minas: escravos, índios e homens
livres numa fronteira oitocentista Triângulo Mineiro (1750-1861). Uberlândia: Edufu, 2005, p. 41-93; MANO,
Marcel. Da Tradição à Cultura: problemas de investigação nos estudos das ocupações indígenas no Planalto
Meridional Brasileiro. Revista Albuquerque, v. 10, n. 19, p. 8-34, 2018; MANO, Marcel. Negros e Índios nos
sertões das minas: contatos e identidades. Varia História, v. 31, n. 56, p. 511-546, 2015.
7
Programa de Salvamento Arqueológico – Atividade do Museu de História Natural da Universidade Federal de
Minas Gerais – Relatório Final – Estudos Ambiental, produzido em 1995 e do Projeto Executivo do Programa de
Salvamento Arqueológico da UHE Miranda – Atividades do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da
Universidade Federal do Paraná, 2001.
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território patrimonial.
Sendo assim trabalhamos, portanto, na perspectiva desta região como área de
abrangência de um importante território patrimonial (WICHERS, 2014, p. 26-27) a ser
preservado por meio de tombamento do território como um todo, como sítio de alto valor
patrimonial histórico-arqueológico, ou isoladamente, por meio do tombamento de seus sítios,
trechos de caminhos, evidências e indícios atinentes àqueles processos de produção dos
espaços culturais.
Contexto pré-colonial e colonial: a presença indígena no atual Triângulo Mineiro e Alto Paraíba
– MG
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Tratando-se dos grupos indígenas da Bacia do Rio Grande e Bacia do Rio Paranaíba, esses processos coloniais
só vão se iniciar a partir da segunda década do século XVIII, com a descoberta das minas de Goiás e Cuiabá.
(RASTEIRO, 2015, p. 37)
9
“Pela descrição que aqueles viajantes deram desses núcleos, só Rio das Pedras, Santana e Piçarrão
mereceriam o nome de aldeamentos, pois eram os únicos que contavam com capelas. A presença do templo
religioso era sinal da oficialidade de sua fundação, de que o núcleo havia sido reconhecido pelas autoridades
religiosas. Os demais povoados eram destacamentos dos núcleos originais, resultado de um processo de
dispersão centrífuga dapopulação aldeada, cujas causas analisaremos adiante” (LOURENÇO, p. 56).
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região em tempos imemoriais, processos de ocupações coloniais, e até mesmo o intenso
deslocamento forçado de indígenas para a região.
Embora se trate de território patrimonial geograficamente não contíguo, mas
testemunho dos mesmos processos históricos de produção preteríta da região, trabalhamos
aqui, especificamente, com o Arraial do Desemboque (pertencente ao atual município de
Sacramento), os atuais municipios de Indianópolis, Cascalho Rico e Nova Ponte.
Arraial do Desemboque
A se tomar as fontes coloniais como fidedignas, uma vez que era corrente, por parte dos
sertanistas, a reprodução da imagem do gentio Caiapó como violentos e empecilho a ser
eliminado, o Arraial do Desemboque teria sido um dos primeiros contextos de contatos e
conflitos entre luso-brasileiros, possivelmente paulistas, e índios na defesa de seus territórios
na região.
10
A região do Triângulo Mineiro pertenceu a Capitania paulista até o ano de 1748, quando passou a pertencer a
Capitania goiana, sendo que em 1816 passa a fazer parte da Capitania mineira.
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pelo caminho dos goiases, caminho obrigatório entre a capitania de São Paulo e as minas de
Goiás imortalizando a presença dos sertanistas e bandeirantes paulistas na região, que entre os
anos de 1722 e 1725,
Nesta empreitada, sedimentando o Caminho dos goiases, cruzando parte do território do
atual Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba – MG, “apenas três cursos d’água eram de difícil
travessia: o rio Grande, cujo profundo vale, então recoberto por densa floresta, chega a 550 m
de altitude; o rio das Velhas e o rio Paranaíba” (LOURENÇO, 2005 p. 52).
No tocante ao contexto dos caminhos coloniais (Imagem 1), utilizados por sertanistas
paulistas rumo às minas de Goiás e Mato Grosso, tão importantes para a região a partir da
segunda metade do século XVIII, apesar de extensa, a citação abaixo, estraída do Relatório do
Programa de Salvamento Arqueológico traz dados importantes a ser aprofundados:
Junto a algumas ocorrências foram constatadas árvores velhas,
especialmente mangueiras. Trechos de caminhos antigos também foram
registrados nos arredores de sítios e indícios. Estes serão comentados
adiante. (...) A tradição local relaciona a voçoroca existente no lado leste
do sítio MG 81 ao caminho utilizado pelos bandeirantes em suas viagens
para Goiás e Mato Grosso. Em cartografia da segunda metade do século
XVIII figura um caminho vindo de São Paulo, atravessando o rio das
Velhas (atual rio Araguari), passando pela Aldeia de Sant’Anna (atual
sede do Município de Indianópolis) e, seguindo sempre em direção
noroeste, transpondo o rio Paranaíba, logo após a localidade de Rio das
Pedras, dirigindo-se para o interior de Goiás. Esse espaço do Triângulo
Mineiro estava sob a jurisdição do Julgado das Velhas e pertencia à
Capitania de Goiás, da qual foi desmembrado em 1816. No momento da
pesquisa, o trecho do caminho situado ao lado do sítio apresentava-se
como uma voçoroca. Disposto no sentido norte-sul, no mesmo sentido do
declive do terreno, sofreu intensamente com a erosão depois do
desmatamento. O seu ponto de travessia, na margem direita do rio Araguari,
estava logo abaixo de um acentuado estreitamento do seu curso. (Grifo
nosso) (CEMIG-LEME, 2001, p. 402).
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pousos em Rio das Pedras, Estiva, Piçarrão, Boa Vista, Santana e
Lanhoso, onde os índios vendiam alimentos aos que lá faziam paradas
(Grifo nosso) (SAINT HILAIRE, 1975 apud LOURENÇO, 2005, p. 61).
O relato acima faz referência a trinta pousos no Caminho dos goiases, nos dando a
dimensão destes pousos para os processos de produção, ocupação e colonização da região nos
séculos XVIII e XIX.
Ainda esperando por pesquisas e estudos mais consistentes sobre o tema, os caminhos
indígenas e coloniais, assim como os Pousos de viajantes, foram fundamentais não só para a
dinâmica de aldeamentos da administração colonial na relação com as populações indígenas,
como também para a dinâmica econômica, de trocas materiais e simbólicas locais e regionais.
Assim, quando realizada, a cartografia dos caminhos do ouro no território em foco poderá
auxiliar no registro de mais um caminho colonial tombado, a exemplo do que ocorre em
várias partes do pais, tanto a nível municipal quanto estadual.
O período colonial da região foi inicialmente marcado por uma política indigenista que
atuou pela cooptação, violência, e construção de aldeamentos11 de indígenas transferidos de
11
Aroldo de Azevedo (1959, p. 23) diferencia duas categorias de habitações indígenas: a aldeia, “povoado
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outras partes da colônia e “usados”, entre outras formas, como soldados para manterem livre
os caminhos do ouro.
No Triângulo Mineiro, a primeira forma de ocupação colonial consistiu,
paradoxalmente, em núcleos de população indígena instituídos pelo
colonizador: os aldeamentos. (...) Nestes núcleos, a população ameríndia
nativa era sedentarizada, de forma compulsória ou cooptada pela catequese,
e a partir de então era tutelada pelo colonizador. Para tanto, a Companhia de
Jesus recebeu da Coroa concessões de terra em torno da vila de São Paulo,
onde instalou capelas, povoados e fazendas, dando forma aos
aldeamentos.” (Grifo nosso) (LOURENÇO, 2005, p. 48-49).
construído pelos próprios índios, com os recursos de sua técnica primitiva e de acordo com sua cultura, sem a
interferência de elementos da cultura dita civilizada”; e o aldeamento de índios, de “origem religiosa ou leiga”
que seria uma expressão utilizada para diferenciar os aglomerados “espontâneos” (aldeias) dos idealizados pelos
não índios, os “aldeamentos” (1959, p. 26) (R. p. 74) Azevedo (1959) também diferencia três tipos de
aldeamento no período colonial: Aldeias do Colégio, Aldeias de El-rei e Aldeias ou Missões. As duas primeiras,
construídas próximas às cidades, congregavam os índios livres, ao passo que as Aldeias ou Missões estavam
“afastadas dos aglomerados urbanos, isoladas em pleno sertão, ficando sua administração exclusivamente
entregue aos religiosos” (AZEVEDO, 1959, p. 27). (MORI, 2015, p. 74).
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Outro fator determinante para a política de aldeamentos de indígenas na região por parte
da coroa, por meio de cooptação e da violência, era a determinação em combater e exterminar
os índios Kaiapó12 ou Caiapó do Sul, como figura na documentação colonial, sob a alegação
de que aqueles impendiam o processo de colonização e ocupação daquelas terras.
Neste sentido, “Antônio Pires de Campos, o moço, iniciou em 1748, a guerra de
extermínio contra os índios Kayapó, habitantes tradicionais da região e considerados
obstáculos à sua ocupação pelos portugueses” (CEMIG-IESA, 2001, p. 405). Os relatos de
viajantes também nos dão conta da grande presença dos índios Kaiapó na região, sempre lhes
atribuindo ferocidade e violência.
Em toda a faixa de terras compreendida na bacia do baixo Paranaíba e
baixo rio Grande (atual sul de Goiás, noroeste de São Paulo, pontal do
Triângulo Mineiro e leste do Mato Grosso do Sul), até a época em que Aires
de Casal (1976) escreveu sua Corografia Brasílica, em 1817: É a menos
conhecida [região da província de Goiás], não havendo nela estabelecimento
algum de cristãos. Os caiapós, que a dominam (repartidos ainda, segundo
dizem, em várias tribos), têm sido fatais por vezes aos comboios cuiabanos,
e invadido a parte setentrional da província de São Paulo, onde causaram a
deserção de muitos estabelecimentos. (CASAL, 1976, p. 151). (Grifo nosso)
(LOURENÇO, 2005 p. 52).
Assim, os aldeamentos de Rio das Pedras, como o de Santa Ana do Rio das Pedras,
dentre outros núcleos habitados por indígenas na região, surgiram com o claro objetivo de
defesa do Caminho dos Goiases e demais arraiais da capitania de Goiás contra os ataques dos
Kayapó do sul (MORI, 2015, p. 76).
Viajantes e fontes coloniais, também apontam para a existência de outros aldeamentos
na região.
Eschwege (1996) visitou nove aldeamentos no trajeto da estrada, em 1816.
A maioria deles, como sugeriremos adiante, deve ter nascido de divisões da
população dos três originais. Saint Hilaire relatou que Pires de Campos
fundara somente Rio das Pedras e Santana. As aldeias de Estiva, Piçarrão
e Boa Vista surgiram, segundo o cronista, de desmembramentos da
população do Rio das Pedras. (Grifo nosso) (LOURENÇO, 2005 p. 56).
12
“Desde cedo, as menções históricas aos Kayapó são modelos de construção do outro (Tapuia – não Tupi e não
civilizado) a partir da lógica e da alegoria da colonização. Como se sabe pela moderna etnografia, o termo
Kayapó é uma designação genérica que não corresponde a uma etno-taxonomia social e significa, literalmente
em Tupi ou Guarani (e não em Jê – família linguística ao qual pertencem os Kayapó), “como macaco” (MANO,
2010, p. 239).
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A considerar assertivo o relato de Eschwege (1976:2005), o território era bem povoado
(para padrões coloniais) por populações indígenas, constatando-se também significativa
mobilidade por meio de desmembramentos de núcleos populacionais originais, sobreudo se
consideramos que as guerras de extermínio contra esses grupos deva ter produzido a fuga das
aldeias, migrações e desolocamentos.
Para efeito deste artigo, consideraremos como exemplo apenas os aldeamentos de Santa
Ana do Rio das velhas e Rio das Pedras, ambos localizados entre os rios Grande e Das Velhas
(atual rio Araguari), na Bacia do rio Paranaíba, nos atuais municípios de Indianópolis e
Cascalho Rico, respectivamente. O referenciamento destes sítios torna-se possível por meio
do cotejamento entre as fontes históricas coloniais e as pesquisas arqueológicas.
(...) foi criado [1743] no governo de Dom Luís Mascarenhas, quando Goiás
ainda estava sob jurisdição da capitania de São Paulo. Com a divisão
territorial, passou a ser administrado por Goiás, sendo então, o primeiro
aldeamento desta capitania. O segundo foi Santa Ana do Rio das Velhas,
criado em 1750. Ambos estavam localizados entre os Rios Grande e
Paranaíba, no Sertão da Farinha Podre (Grifo nosso) (MORI, 2015, p. 77).
Este aldeamento foi constituído para “abrigar” os índios Bororo e Paresí, bem como
mestiços e escravos que compunham os batalhões de Pires de Campos. (MORI, 2015, p. 75).
Neste sentido,
A aldeia estava localizada sobre a encosta de um morro que vai em declive
suave até a beira do riacho das Pedras. O aldeamento consistia em umas
trinta casas espalhadas, sendo a maior parte delas cobertas por palhas e
diferindo pouco das dos luso-brasileiros, embora houvesse alguns com
paredes e tetos de folhas de palmeiras como as choças dos Caiapós,
porém muito maiores e mais altas que as destes. Esta aldeia teria sido
escolhida por Pires de Campos para se estabelecer, sendo que uma das casas
era para ele reservada. Em 1809, parte da população foi transferida,
“através de centenas de léguas e sob um sol ardente” para Nova Beira,
local onde pretendiam estabelecer um posto militar. Entretanto, os indígenas
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teriam perecido na sua maioria. Saint-Hilaire relata que todos eram
agricultores e não conservavam nenhum dos costumes de seus antepassados,
vivendo como os brasileiros (SAINT-HILAIRE, 1975, p. 131). (Grifo nosso)
(CEMIG-IESA, 2001, p. 405).
A escolha da localização para a ereção dos aldeamentos da região, entre outros motivos,
seguiu duas lógicas importantes para aquele momento, a primeira, por se tratar de localização
preferida pelos índios, e a segunda, e mais importante para a administração colonial,
facilitaria as incursões guerreiras contra os Kayapó.
A escolha do local do aldeamento de Rio das Pedras não foi aleatória. Ainda
que a paragem, segundo o governador da capitania, fosse a preferida pelos
índios, o local tinha uma posição estratégica, pois estava localizado no
“Sertão do Gentio Cayapó” (área dos tradicionais inimigos dos Bororo e da
Coroa portuguesa), às margens do Caminho dos Goiases (o que facilitava o
deslocamento e servia também como pouso para os viajantes), além de estar
equidistante de São Paulo e Vila Boa. Assim, a localização do aldeamento
facilitaria a saída de incursões guerreiras contra os Kayapó do sul.
(LOURENÇO, 2005. p. 85).
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caminho e ficasse menos exposto ás hostilidades que nelle tem feyto
repetidas vezes o gentio Cayapó (Grifo nosso) (MORI, 2015, p. 88).
As fontes coloniais, já citadas, apontam que os aldeamentos de Rio das Pedras, atual
município de Cascalho Rico e Santa Ana do Rio das Velhas, atual município de Indianópolis,
assim como um terceiro, Lanhoso, localizado no córrego Lanhoso, atual município de
Uberaba (MORI, 2015), teriam sido os núcleos originários dos demais aldeamentos da região,
sendo eles Estiva, Piçarrão, Boa Vista, Rocinha, Lanhoso, Uberaba e Baixa (Imagem 1).
Como já dito, o cotejamento entre as fontes em tela revelam referências que corroboram
para a existência de um amplo contexto histórico-arqueológico, de caráter patrimonial,
testemunho de processos de trocas, deslocamentos, forçados ou não, relações de poder,
conflitos, mas também de possíveis alianças, de suma importância para a preservação da
Memória e da História indígena local e regional.
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regionalmente (FAGUNDES, 2011). (Grifo nosso). (RASTEIRO, 2015,
p. 62).
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Imagem 2: Mapa da região apresentando o contexto das áreas
de influências das UHEs Nova Ponte e Miranda, com destaque
para os municípios afetados pelos empreendimentos.
Entre tantos outros sítios, para a finalidade das reflexões que temos tentado
desenvolver, interessa-nos, particularmente, o Sítio arqueológico-histórico MG 81 – Registro
do Rio das Velhas, no município de Indianópolis. Dentre outras possibilidades, este sítio
revela a intensidade da ocupação humana ceramista na região.
Na área do sítio maior (MG 81), havia quatro estruturas habitacionais e
uma de combustão, provavelmente ligada à queima de recipientes
cerâmicos. No sítio MG 36, com área de 1.231,50 m2, não foi possível a
delimitação do espaço ocupado pela casa, cuja base situava-se no extremo
sul. (Grifo nosso) (CEMIG-IESA, 2001, p. 402).
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ocupações humanas: uma mais antiga e pré-colonial com a presença de
vestígios líticos e uma mais recente, do período colonial. No contexto da
ocupação colonial, “raros fragmentos de telhas goivas foram encontradas
na superfície do solo” (CEMIG/IESA, 2001, p. 340). Com o avanço das
escavações, a investigação do terreno evidenciou a “função espacial do
sítio”, e apresentou “quatro estruturas habitacionais, três delas alinhadas
em sentido leste-oeste e, uma, um pouco deslocada para o sul. Ao norte foi
registrada uma estrutura caracterizada por uma laje de argila queimada,
provavelmente ligada à produção de cerâmica” (CEMIG/IESA, 2001, p.
341).
Embora ainda esteja por se realizar estudos e pesquisas mais abrangentes, a imagem
abaixo, registra uma área de habitação, denotando, o que se caracterizou na arqueologia, como
pertencente a contexto colonial.
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industrializada, inclusive da cerâmica vidrada, que compreende majólicas, aponta para o
período compreendido entre o final do século XVIII e meados do século XIX”
(CEMIG/IESA, 2001, p. 404).
A presença de um número expressivo de sítios arqueológicos, compondo um importante
conjunto artefatual lito-cerâmico, metálico e vítrico, denotando a presença das tradições
arqueológicas Aratu-Sapucaí, Tupiguarani, bem como associada a evidências do período
colonial, faz com que esta área seja estratégica, não só para a região do Triângulo Mineiro e
Alto Paraíba, mas também para a arqueologia brasileira como um todo.
E, por fim, como já dito, para a região em tela, especificamente para os municípios em
evidência neste artigo, o cotejamento entre as fontes coloniais e arqueológicas nos possibilita
vislumbrar um contexto de produção de um estenso território patrimonial, sítio histórico-
arqueológico, de caráter e valor patrimonial, testemunho do contexto e da memória histórica
da ocupação pré-colonial e colonial da região do atual Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba –
MG.
Referências bibliográficas
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