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MORISMO E BOLIVARIANISMO: A INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES POLÍTICAS

ENTRE PAÍSES AMERICANOS NA ATUALIDADE.

John Lennon Lima e Silva1

O processo de colonização da América Latina foi acompanhado quase que inteiramente


por uma disputa estrangeira por suas riquezas, terras, entre outros fatores. No século XIX, a
expansão imperialista transformou novamente o continente em um objeto de disputa das
potências centrais, que perpetuou uma espécie de protetorado norte americano nas américas,
iniciando assim, o longo processo de influência e dominação estadunidense que se manifesta
até os dias atuais.

Sobre o pretexto do divino manifesto, a expansão americana foi regrada por uma disputa
baseada em colonialismo x neocolonialismo e forjada pelo suposto interesse em defender os
interesses dos povos latinos. A forte intervenção, que até aquele momento foi protocolada pelas
nações europeias, agora se sobrepuja diante do poder na nova nação “livre e democrática”. A
doutrina Monroe perpetuava a nova dimensão política no continente e foi blindada pelo brasão
“américa para os americanos” que efetivou o poder da emergente potência em ralações aos
europeus, e consolidou a partir deste momento o discurso de nação civilizatória.

O fenômeno do Morismo fez com que o interesse em perpetuar uma américa longe das
amarras colonizadoras, esbarrasse em um grande processo de dominação e submissão dos
países latinos, estabelecendo assim um longo período de intervenção camuflada de democracia,
mas que não levou igualdade e melhoras para todo continente. Longe de ser a nação
benevolente, a idealização de américa Morinista, se respaldava sobretudo, por um sentido de
identidade e patriotismo “americanizado”, que escondia reais interesses econômicos e
geopolíticos.

Na obra de BETHELL (2010), observamos um pouco dessa influência dentro do


território brasileiro, onde o autor discute sobre as interlocuções de Joaquin Nabuco, sobre as
relações diplomáticas entre Brasil e EUA. Deste modo, a análise de seu texto é de grande
reflexão do momento no qual a política expansionista americana na américa latina começa a
tomar um formato mais amplo, destacando inclusive um interesse de Nabuco por esses laços.

1
Historiador, especialista em história contemporânea e mestrando em Psicologia Social pela Universidade Federal
do Pará – Brasil
ORCID - https://orcid.org/0000-0001-8059-0538
Isso demostra que o Morismo passa a ser vivido de modo que as antigas relações com a Europa,
são questionadas ou substituídas, em prol de um engrandecimento da tutela norte americana.

Assim, analisando sobre a ótica de Teixeira (2007), que discute sobre as características
do neoconservadorismo americano, as reflexões obtidas desse debate determinam como essa
perspectiva ainda é bastante presente em um cenário no qual os latinos ainda são mantidos em
um papel secundário ou inexistente. A preocupação da nação americana ainda pode ser vista
sob uma ótica expansionista e que submete o comando das nações “livres” do continente ao seu
domínio e direcionamento, reafirmando assim, a hegemonia americana dentro de uma visão
democrática e unilateral.

Entretanto, as considerações sobre o Bolivarianismo surgem em uma contextualização


propriamente anticolonialista, e que pressupõe um ideal de américa unificada sob um viés latino
americano, longe das amarras das grandes metrópoles europeias. Deste modo, pensar o
movimento bolivarianista, é discutir a sua funcionalidade quanto ação emancipadora do
domínio estrangeiro, e a ascensão de um nacionalismo propriamente latino, unificado e com
identidade própria. Essa perspectiva emoldura as lutas dentro de um viés de liberdade nacional,
que se fez presente tanto nas lutas de Simon Bolívar, como reflete historicamente no discurso
anti-imperialista vividos na américa, e que foram consolidadas pela influência norte americana
desde a política do “Big Stick”.

As intervenções norte americanas no continente foram marcadas por essa política


agressiva e ideológica, que conforme Teixeira (2007) é pontuada pela quebra dos acordos
institucionais, sobrepujando a liberdade dos povos e os direitos humanos. Para ele, a articulação
do pressuposto democrático trazido pelos EUA, é continuamente exercido pelo poderio militar
e econômico, responsável pelas crises e desestabilização políticas na américa latina. Essas
ações legitimaram longos períodos de ditadura militar, e ampliaram a política de “boa
vizinhança” que mascarava o imperialismo no continente.

Os recentes episódios envolvendo a Venezuela, nos mostra como a atuação das duas
correntes ainda são presentes e perpetuam as disputadas entre latino-americanos e os EUA.
Conceitualmente, as lutas travadas nesse país ainda envolvem um ideal bolivarianista, que
busca legitimar a liberdade do povo venezuelano, em detrimento das sansões ocasionadas pela
política externa norte americana, baseadas em uma clara violação dos direitos humanos,
perpetuando ainda mais a ideia de “democracia pra quem?”.
REFERENCIAS

BETHELL, Leslie. Nabuco e O Brasil entre Europa, Estados Unidos e América Latina. Dossiê
Nabuco. Novos Estudos. CEBRAP. v. 88 . p. 73-87. Novembro 2010

TEIXEIRA, Carlos Gustavo Poggio. Quatro temas fundamentais do pensamento


neoconservador em política externa. Rev. Bras. Polít. Int. 50 (2): 80-96 [2007]

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