Você está na página 1de 7

Terrorismo, Islamofobia e Securitização

Terrorismo interno nos EUA

11 de setembro como um catalisador para a percepção huntingtoniana de ‘choque de


civilizações’.

Motivou uma xenofobia geral, não apenas a islamofobia.

O perigo do terrorismo externo sempre recebeu muito mais atenção do que o terrorismo
interno (americano vs americano).

O radicalismo interno está associado a uma grande variedade de sentimentos de mal-estar


diante da crise econômica, da decadência do sistema político.
● Muitos grupos se sentem ameaçados pelo caráter mutável da sociedade americana.
As estatísticas demonstram que o grupo WASP vem se tornando cada vez menos
relevante em termos de demografia.
● A guerra cultural leva a uma nova explosão de violência. A fragmentação interna
influencia também a política externa.
● O que se observa hoje é um país dividio, no qual muitos grupos ligados a extrema
direita fazem uso de táticas de terrorismo interno. Além disso, tem-se o
desenvolvimento de grupos conspiratórios (Qanon, Tea-Party, e essas porra q vc
conhece)

Democracia, tolerância, equilíbrio, respeito. É com esses quatro pontos que pode-se
restabelecer a ordem interna e eliminar a polarização.

Islamofobia

Contexto
● Há uma tensão entre minorias muçulmanas e as sociedades europeias seculares.
● Difícil adaptação: sociedade com valores centrais distintos → Isso se reflete em outras
esferas: comumente, as comunidades islâmicas estão em regiões periféricas e possuem
subempregos. Basicamente, são marginalizados.
● Orientalismo: conexão islã com terrorismo e fundamentalismo, sobretudo em
relação à opressão às mulheres.
Por que estudar a islamofobia na França
● Maior comunidade muçulmana na Europa Ocidental
● Próximo de ¼ de todos os muç~ulmanos da UE vivem na França
● Ex Império Colonial, metrópole de territórios de maioria muçulmana
● Segunda maior economia da UE e maior nação do bloco (Km²)
● Um dos berços do Liberalismo

Principais Conceitos
● Islamofobia: atitudes ou emoções negativas indiscriminadas contra o
islã/muçulmanos
● Liberalismo: respeito às liberdades individuais lockeanas (vida, tratamento
igualitário, liberdade e propriedade)
● Iliberalismo: antítese ao liberalismo

Categorias e Exemplos de Islamofobia


● Ataques físicos: socos, empurrões, tentativa forçada de remoção do véu
● Discriminações (a grande maioria das discriminações é contra mulheres usando
véu) tratamento desfavorável, constrangimentos
● Agressões Verbais: insultos (morte aos muçulmanos), associação c/terrorismo
● Ataques à propriedade: vandalismo, pichações, incêndios (sobretudo em mesquitas, ⅔)
→ A islamofobia é uma repulsa à visibilidade da comunidade muçulmana, e a mesquita é um
símbolo dessa mobilidade.

Justificativa da pesquisa
● Desafio da acomodação democrática das minorias nos Estados Liberais
● A Islamofobia corrói as bases do Estado democrático de direito
● Integra um contexto macro das RI: debates de terrorismos e identidade

Argumento da Tese: A construção e execução da islamofobia na França depende de


uma articulação entre discursos e práticas liberais e iliberais.

Resposta ao problema da tese


● A islamofobia na França se construiu e evoluiu a partir de uma complexa associação
e co-constituição entre discursos e práticas hostis aos muçulmanos.
● Influência por um imaginário popular pautado no Orientalismo e difundido pela
Imprensa e pelas elites intelectuais. Esse imaginário constriui representações
discursivs hostis aos muçulmanos, que se manifestam em dois eixos: um eixo
securitário (terrorismo) e um eixo identidário (opressão à mulher, véu)
○ Os dois eixos contribuem para a construção de uma imagem negativa
fomentada por argumentos liberais (liberdade de expressão, secularismo,
igualdade de gênero) e não liberais (Deus Vult)

Resultado: eixo secutário (terrorismo)


● Correlação entre atos terroristas de grande porte e o aumento da islamofobia.
● Picos de islamofobia ligados a atentados terroristas como o de 2001, 2015, 2016…
● 26% das agressões verbais (homens) ofensas ligadas ao terrorismo)
● 33-40% dos Franceses associam o Islã ao terrorismo

Resultado: eixo identitário (opressão feminina)


● Véu, burca, burkini: grande marcador da alteridade muçulmana
● 60% das vítimas de agressões físicas, 70% dos casos de discriminação, 84% das
agressões verbais.

Leis envolvendo os muçulmanos


● As leis envolvendo religião na França tendem a assumir um caráter neutro, fazendo
uso de discursos liberais como secularismo e igualdade de gênero. Mas na prática
elas possuem um caráter islamofóbico, ligado à demonização do véu e ao
estabelecimento de uma conexão ambígua entre Islã e terror.
● São leis que afetam sobretudo a comunidade muçulmana.
● Tirania da maioria: largo apoio popular às leis prejudiciais aos muçulmanos
● Radicalização do ideal rousseauniano de liberdade através do estado
○ Autoridade pública é fundada por meio da proteção da dignidade do
indivíduo, se necessário, indo contra a vontade da pessoa em questão

Resultado: Articulação entre liberalismo e não-liberalismo na Islamofobia


● Ataque à propriedade: maior presença do não-liberalismo
○ 25%: simbologia da extrema-direita e/ou vandalismo com porcos
● Agressões físicas: interconexão entre liberalismo e não-liberalismo
○ 20% tentativa forçada de remoção do véu → desejo de “libertar” o outro
● Agressões verbais e discriminações: presença do liberalismo
○ 20% discriminação: termos liberais (liberdade de expressão, secularismo)
● Descriminação: tipo mais comum de islamofobia, poder público como principal
agente

Contribuição da tese: Novo conceito de Islamofobia


● Exame empírico, do caso francês evidencia a islamofobia como um: processo iliberal
que viola os direitos fundamentais dos muçulmanos:
○ direito à vida: assaltos físicos
○ direito à igualdade: descriminação
○ direito à liberdade: agressões verbais
○ direito à propriedade: ataques à propriedade
11 de Setembro e o Brasil

Havia, antes do atentado, uma perspectiva levemente ingênua do estabelecimento de uma era
pacífica nas Relações Internacionais, representada, por exemplo pela tese de “fim da
História” estabelecida por Fukuyama.

Na ocasião, Celso Lafer fez uso da carta de assistência interamericana, oferecendo ajuda
militar em uma possível guerra.

Os EUA fizeram uso do C. de Segurança para invadir o Afeganistão, entendido como o


santuário da Al-Qaeda. Eles lideraram uma grande coalizão com o argumento da
legitimidade.

A Segunda Guerra do Golfo não foi aceita pela ONU, mas os EUA mandaram as tropas da
mesma forma.

O 11/9 representou um redirecionamento radical na política externa americana: de uma visão


globalista para uma visão militarista, que buscava tornar os EUA senhor da região do Oriente
Médio

O atentado deixou a América do Sul descuidada, visto que os EUA viraram os seus olhos

para o Oriente Médio. Esse período entre 11/9 e Donald Trump foi um período em que a

América Latina conseguiu esboçar alguns ensaios de autonomia, na medida em que a

permissividade ficou maior → O Brasil consegue ocupar, efetivamente, espaços, por meio

de arranjos internacionais como a Unasul.


● Com os olhos do mundo voltados para o Oriente Médio e, cada vez mais, para o
extremo oriente, a América Latina ficou livre para desenhar novas possibilidades de
integração.

Outra coisa aconteceu em termos internos. Em 2001, vivia-se os anos finais do governo

FHC, no qual o Brasil já ensaiava um novo compromisso na América do Sul, e a ideia de


região estava sendo repensada pelos formuladores de política externa → América do Sul

como nossa casa, o Brasil como líder da América do Sul

A chegada de Lula e Celso Amorim torna patente a mudança de perspectiva na América


Latina.

O Brasil dava sinais de que poderia decolar, engajando-se de maneira ativa na construção

do sistema internacional → O Brasil chegava ao palco internacional como uma economia

pujante e como um líder nacional, especialmente em um momento de trepidação dos

EUA e dos países do norte global de um modo geral (crise de 08)


● Brasil como um reservatório de ideias e de boa-fé.
● FHC chegou a chamar o Brasil de uma potência de Soft-power, que poderia chegar
aos seus objetivos não por meio do poder militar ou econômico, mas por meio da
força de suas ideias e de sua simbologia.

O sonho de um Brasil potência foi curto.De um lado, por que o país quis dar passos maiores
que as próprias pernas; do outro, por que a própria estrutura do sistema internacional mudou.
● O abandono internacional da região foi superado, mas, dessa vez, o ator internacional
foi a China.

Há, a partir de Trump, uma tentativa de retomada de controle das Américas, e isso não há

de mudar com Biden → A ideia de Build Back Better ainda possui algum eco trumpista,

sendo uma tentativa democrata de dialogar com o eleitor de classe média que fora

perdido para à direita.

Em termos de América Latina, a principal questão para os EUA é a imigração.

Após 11/9, há um aumento no número de militares na América Latina, sobretudo no


Paraguai.

Em certo momento, há a suspeita de que havia uma célula terrorista da Al-Qaeda na fronteira
brasileira. Isso incomoda a política externa do Brasil.
Os EUA estabeleceram uma espécie de estado de exceção no SI, legitimado pela guerra ao
terror, e a América Latina entra nisso.

Os anos 2000 foram um momento de maior insegurança no sistema internacional. O 11/9


marcou o fim da festa dos anos 90.

Você também pode gostar