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Tem influência

nos atos
Terroristas?

João Flávio Martinez


Tem influência
nos atos
Terroristas?

João Flávio Martinez


s
Mar nez Publicações

8817.8448

1000

/ Pedro Carbone

Islã ‐ Tem Influência nos atos Terroristas?


1. História 2. Islamismo 3. Religião

Martinez Edições
SUMÁRIO

11 PRÓLOGO

17 O TERRORISMO
Uma Abordagem

21 O CASO OSAMA BIN LADEN


Um Terrorista Sangrento ou um Fiel Muçulmano?
Uma Fé Sem Limites

27 AS FORMAS DE TERRORISMO ISLÂMICO:


A Apocalíptica e a Política
Quem são os Terroristas Internacionais?
A Fonte do Hodierno Terrorismo

35 MAOMÉ – UM BOM OU MAU EXEMPLO PARA OS TERRORISTAS?


A Jihad na Hagiografia de Maomé

39 O CONCEITO DE GUERRA SANTA


A Sistematização do Conceito de Guerra Santa
O Conceito de Guerra Santa na ótica Islâmica

53 POR SALMAN RUSHDIE E PELA LIBERDADE

65 CONCLUSÃO
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 13

O Islã me fascina!

Isso antes mesmo dos atentados de 11 de setembro de 2001


às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York.
Após o choque resultante do morticínio cometido em
nome de Alá, o mundo islâmico foi-me repentinamente
aclarado e comecei a estudá-lo profundamente; eu queria
tentar entender o que estava acontecendo. Acredito que
nunca uma civilização foi tão escrutinada como a
muçulmana está sendo nos dias atuais. Todos querem
compreender essa problemática. Para elevar ainda mais o
grau de importância da pesquisa em lide, descobrimos que
os últimos estudos realizados ao redor do globo têm
mostrado que o islamismo é a religião que mais cresceu nas
últimas décadas, e que essa tendência não mudou depois do
dia fatídico de 11 de setembro. Segundos dados da
“Revista Veja”, em 1973, havia 36 países com maioria
muçulmana no planeta; exatos trinta anos depois, eles já
eram 47. Também no início dos anos 70, o islamismo
reunia cerca de 370 milhões de fiéis. Depois de pouco mais
de três décadas, eles chegaram a 1,3 bilhão. Hoje, quase
20% da população do mundo é muçulmana, e estima-se
14 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

que, em 2020, de cada quatro habitantes do planeta um


seguirá a religião do profeta. Essa explosão demográfica -
em parte provocada pela proibição religiosa do uso de
métodos contraceptivos e por métodos coercitivos - está *Revista Veja;
Editora Abril;

devolvendo ao islamismo uma força considerável tanto na Edição 1721.

esfera da religiosidade, quanto no cunho político.


Com o liberalismo religioso da maior parte do
Ocidente, os muçulmanos também se espalham com
alguma facilidade em todo o mundo. Só na Europa existem
20 milhões de muçulmanos, e quase metade deles está
instalada na Europa Ocidental. Há mesquitas até em
Roma!
Outro fator que emprestou maior visibilidade aos
países islâmicos está em sua imensa riqueza estratégica: são
donos das mais abundantes reservas de petróleo do mundo.
O crescimento do rebanho e a fartura do petróleo, no
entanto, produziram um barril de pólvora. Em geral, os
regimes dos países islâmicos são ditaduras teocráticas e a
riqueza é concentrada nas mãos de uma oligarquia
religiosa, deixando a maior parte da população relegada à
miséria total. É dentro desse caldeirão paradoxal que
ressurgiu a força da religião, em especial depois da
Revolução Islâmica no Irã, em 1979, estribada na figura
mitológica do aiatolá Khomeini. Para se ter ideia da
problemática, o Islã até hoje não produziu um só país
democrático e desenvolvido.
Ainda conjeturando, há mais uma coisa que nos
chama a atenção – o teor religioso e espirituoso dos
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 15

homens bomba! Problematizando a questão, poderíamos


perguntar: Teriam eles realmente bases teológicas
alcorânicas para cometerem atos terroristas? Será que todos
os que se dizem terroristas islâmicos possuem a mesma
visão ideológica? E se a religião realmente tiver alguma
culpa, seus líderes espirituais não deveriam assumir uma
parte da responsabilidade na luta contra esse tipo de
terrorismo? Não quero com isso colocar o mundo islâmico
no banco dos réus, apenas procurarei as bases religiosas de
como esses terroristas muçulmanos concebem o seu
sistema de ideias. São essas e outras questões que
tentaremos abordar neste trabalho.
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 17

O Terrorismo

Uma Abordagem Sobre o Terrorismo

Em suas muitas faces, o terrorismo é um dos


pesadelos do mundo hodierno, por seu componente de
obtusidade, amplitude de suas consequências e
impossibilidade de prevenção. Sua motivação varia da
genuína convicção política ou religiosa à ânsia pessoal de
afirmação, mas o resultado é sempre a morte de pessoas
inocentes.
18 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

Terrorismo é a denominação contemporânea e a


configuração moderna da guerra deliberadamente travada
contra civis, com o propósito de lhes demolir a disposição
de apoiar líderes ou políticas que os agentes dessa violência * Carr, Caleb;
“A

consideram inaceitáveis. * Assustadora


História do

Na esfera política, o uso do terror foi abertamente Terrorismo”;


Editora

defendido por Robespierre como forma de incentivar a Prestígio, Rio


de Janeiro –

virtude revolucionária durante a revolução na França em RJ; 2002.

1789 d.C., o que levou o período em que teve o domínio


político a se chamar reino do terror. Já os estadunidenses
sulistas, inconformados com a derrota na guerra civil (1861
d.C.), criaram a organização terrorista Ku Klux Klan para
intimidar os negros e os partidários da reconstrução do país.
No século XX, ocorreram grandes mudanças no
uso e prática do terrorismo, que se tornou a característica
de movimentos políticos de todos os tipos, desde a extrema
direita à esquerda mais radical. Instrumentos precisos,
como armas automáticas e explosivos detonados a distância
por dispositivos elétricos ou eletrônicos, deram aos
terroristas uma nova mobilidade e tornaram mais letais suas
ações. O terrorismo foi adotado como virtual política de
Estado, embora não reconhecida oficialmente, por
regimes totalitários como os da Alemanha de Hitler e a
União Soviética de Stalin. Nesses países, os métodos de
prisão, tortura e execução foram aplicados sem restrições
ou fundamento legal, para criar um clima de medo e
encorajar a adesão à ideologia nacional e aos objetivos
sociais, econômicos e políticos do regime. Os progressos
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 19

tecnológicos e a difusão dos conhecimentos técnicos


possibilitam a realização de atos terroristas com o uso de
armas químicas, bacteriológicas ou biológicas, que podem
*Encyclopaed
ia Britannica
disseminar a morte ou a contaminação de doenças em
do Brasil
Publicações
massa nos grandes centros urbanos de qualquer país. As
Ltda
razões ideológicas aparentemente deram lugar ao
fanatismo religioso, especialmente dos seguidores de
líderes islâmicos que divulgam ideias apocalípticas ou
salvacionistas radicais.*
No âmbito religioso, poderíamos citar a
Inquisição, a qual valeu-se da prisão arbitrária, tortura e
execução para punir o que considerava heresia religiosa. Já
o Terrorismo Islâmico seria aquela maneira de terror em
que os infiéis seriam coagidos pela guerra ou jihad a se
submeterem ao Islã. Baseado neste princípio, o Islã dividiu
o mundo em duas partes: o Dhar-ul-Islam e o Dhar-ul-
Harb, isto é, o território do Islã e o território de guerra! A
guerra santa não apenas tinha o objetivo de amealhar bens,
mas também de conquistar os vencidos para a religião.
Entretanto, em tese, os islâmicos ocidentais arvoram que
hoje tal guerra já não se faz pela espada, mas pela aplicação
de donativos de países muçulmanos em países pobres,
como forma de atraí-los ao Islã e uma maciça
evangelização dos não religiosos através de literaturas.
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 21

O Caso Osama Bin Laden

Fanático ou Fiel?

Antes de falarmos do falecido Bin Laden,


conjecturemos sobre a problemática sócio-religiosa
envolvendo a nossa sociedade ocidental. Afinal de contas,
ainda que em menor grau, a sociedade cristã convive com
os seus radicais. É comum em nossos dias encontrarmos
pessoas praticando verdadeiras loucuras em nome da
religião e da fé: pais, que mesmo que seus filhos precisem
de uma transfusão de sangue, não admitem nem a
possibilidade de que seja feito tal procedimento em suas
crianças, mesmo que isso venha custar a vida de alguém da
sua família; trabalhadores, que mesmo vivendo com parcos
recursos, vendem tudo o que possuem e que lhe serviriam
de suprimento e dão ao líder da seita; mulheres e homens
que deixam tudo e seguem um indivíduo que alega ser a
reencarnação de Cristo; religiosos que gastam valores
exorbitantes para adquirir algum objeto mágico,
acreditando que aquilo lhes trará proteção contra algum
mau agouro; pessoas que preferem perder seus empregos e
passar necessidades a ter que trabalhar em um dia
consagrado pela seita como dia santo... Enfim, os casos são
22 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

muitos e fazem parte de nossa realidade. Agora, a grande


questão: seriam essas pessoas uma turba de ignorantes
fanáticos ou indivíduos fiéis praticantes dos ensinos de suas
religiões? A resposta a esse questionamento é complexa e
cheia de curvas sinuosas. A verdade é que ninguém pode
acusar esses indivíduos de estarem vivendo uma fé
subjetiva, pois eles não estão equivocados em seus dogmas
e cumprem o que lhes foi ensinado no dia a dia. Quem
pode condená-los por isso? Não seria mais correto
julgarmos a religião como, pelo menos, cúmplice no erro
desses indivíduos?
Acredito que o caso Bin Laden, apesar de
muito mais complicado e cheio de fatores que extrapolam a
ideologia apenas religiosa, é muito parecido com a nossa
realidade citada nos exemplos acima. Simplesmente julgar
Bin Laden como um terrorista insano, belicoso e sem
respeito pelos direitos humanos é no mínimo injusto.
Afinal de contas, a guerra santa, os atentados suicidas
sempre fizeram parte dos anais do Islã – e isso é factual!

Uma Fé Sem Limites

Os ocidentais sempre ficam chocados ao constatar a


alegria islâmica quando um atentado jihádico tem seu
objetivo destrutivo atingido, e foi isso que aconteceu após
os atentados ao World Trade Center, nos EUA em 2001.
Outro espanto é quando verificamos que, em diversos
países do Oriente Médio, Laden é considerado um
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 23

verdadeiro herói – Ele é o Che Guevara do mundo


islâmico! O fascínio por ele é tão significativo que o
terrorista tem seu rosto estampado em pôsteres e camisetas,
vendendo tanto quanto o de um jogador de futebol
famoso! Laden foi ampliando sem parar seu círculo de
veneradores desde 1979. Naquele ano, ele deixou a Arábia
Saudita, onde gozava de confortos como integrante de
uma das famílias mais ricas do país, para lutar no
Afeganistão ao lado dos guerrilheiros muçulmanos que
combatiam os invasores e infiéis soviéticos. Seus atos de fé e
coragem ajudaram os afegãos a expulsarem os invasores
daquele país, deixando Laden como um herói
internacional e admirado em todo o mundo islâmico.
Outro fato que já havia marcado terminantemente a
vida de Laden foi, nos anos 70, a incumbência que a sua
família recebeu de restaurar o santuário da Caaba, em
Meca, o principal centro de peregrinação muçulmano –
isso havia causado um surto místico no jovem Osama.
Em 1990 Laden exigia que o rei Fahd, da Arábia
Saudita, expulsasse os infiéis americanos do território santo
da Arábia que abrigava as cidades sagradas de Meca e
Medina. Fahd, no entanto, ignorou seus apelos contra os
americanos. Devido à insistência de Laden, ele foi
convidado a deixar o país em 1991. Sua primeira base de
operações foi o Sudão, onde permaneceu por cinco anos,
até ser banido por pressão americana e transferir-se para o
Afeganistão. Naquele país Laden assumiu a organização da
Al Qaeda (A Base), de onde foram arquitetados os
atentados de 11 de setembro.
24 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

Apesar de parecer coisa de uma mente delirante,


dos gênios do mal caricaturados no cinema ou nas histórias
de quadrinhos, a forma aberrante de fanatismo religioso
pregada por Laden tem raízes bem fincadas na história da
religião muçulmana, constantemente marcada por esse
desejo de mergulhar na fonte original, de beber da palavra
mais pura e literal do Alcorão, de viver um passado místico.
Na ótica islâmica, a união da religião e do estado é um ideal
ordenado por Alá – e sua separação, uma invenção
ocidental que provocou o declínio do mundo
muçulmano. Segundo Laden, para retornar ao “verdadeiro
Islã”, todas as sociedades muçulmanas devem se unir numa
comunidade única (a umma). Tudo isso sob o signo da
sharia, a lei alcorânica, tal como foi estabelecida há quase
1400 anos, com os seus devidos castigos coerentes com a
sociedade tribal da época do profeta. Esse modelo a ser
seguido é o que vigorou também no tempo dos quatro
califas, como são chamados os primeiros sucessores do
profeta Maomé. Esse passado idílico é um ideal comum às
correntes messiânicas islâmicas. Apesar de que, na verdade,
três dos quatro califas foram assassinados nas violentas lutas
sucessórias e de idílico esse passado tem quase nada!
Chegamos, assim, àquilo que distingue pessoas
como Bin Laden dos demais islâmicos. O recurso à
violência como meio de expansão da religião é ainda uma
ferramenta para o Islã? Ancorados em textos do Alcorão e
nos ensinamentos do profeta (Hadiz), evidentemente
interpretados de maneira mais literal, os fundamentalistas
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 25

possuem realmente uma teologia do terror. O Alcorão diz


– “Matem todos os infiéis onde quer que os encontreis”
(Surata 9.5), portanto, quando Osama Bin Laden diz que
*Revista Veja;
Editora Abril;
“matar americanos e seus aliados, civis e militares, é um
Edição 1721.
dever individual de todo muçulmano que tenha condições
de fazer isso, em qualquer lugar onde seja possível”, ele está
seguindo exatamente o raciocínio alcorânico. Agora,
poderíamos condenar Laden por ser tão literal quanto à
interpretação do seu livro sagrado? Como já disse, essa é
uma questão extremamente complicada para que a resposta
seja dada por quem quer que seja!
Agora, gostem ou não os muçulmanos ocidentais, a
verdade é que Osama Bin Laden foi um autêntico e leal
islâmico, ainda que extremado, ele só agiu de maneira fiel
aos ensinamentos da sua religião. Se não for assim, então
que os ulemás, imãs, sheiks e líderes islâmicos de maneira
geral propaguem pelo mundo que o Islã mudou, que hoje
existe uma nova concepção de encarar a religião do profeta
e de interpretar o Alcorão sagrado. Essa seria a proposta
mais coerente de ser assumida pelo Islã de maneira geral. *
Bin Laden morto
pelas tropas dos EUA
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 27

As Formas de
Terrorismo Islâmico

A Apocalíptica e a Política
"Há dois tipos de grupos principais de terroristas
islâmicos. Primeiro; há um grande número, embora
desconhecido, de membros da Al Qaeda e de simpatizantes
de seus objetivos globais, como aqueles que compõem o
Jemaah Islamiah indonésio", explicou Jonathan Stevenson,
do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos
(Washington). "Segundo, há diversos grupos terroristas
islâmicos que não são ligados à Al Qaeda e têm metas mais
limitadas geográfica e politicamente. Deve-se ressaltar,
contudo, que eles também aplicam métodos radicais de
Dave Hunt,
TBC terrorismo islâmico, embora não sejam tão espetaculares
11/01/2002 -
http://www.b quanto à Al Qaeda”. Magnus Ranstorp, diretor do Centro
ethshalom.co
m.br/ de Estudos sobre Terrorismo e Violência Política da
Universidade de St. Andrews (Reino Unido), define as
duas formas como "apocalíptica" ou "jihadista" e
"tradicional" ou "política". “A Al Qaeda e todos os grupos
diretamente ligados a ela constituem a ala apocalíptica do
terrorismo islâmico, com seu discurso jihadista repleto de
referências à guerra santa, pois buscam desencadear um
28 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

choque de civilizações por meio de ações gigantescas e


cinematográficas. Já as organizações palestinas, como o
Hamas e o Jihad Islâmico, por exemplo, se inserem no
contexto do terror tradicional. Com frequência, este tem
origem no que é visto como uma ocupação, avaliou
Ranstorp. Também fazem parte de sua categoria
Apocalíptica o Tawhid e Jihad, liderado pelo jordaniano
Abu Musab al-Zarqawi, o homem mais procurado pelos
EUA no Iraque, o Jemaah Islamiah indonésio, que
cometeu o atentado a uma boate em Bali, em 2002,
assassinando 202 pessoas, e o grupo responsável pelas
explosões ocorridas em Madri, em 11 de março de 2004,
que mataram 191 inocentes. Olivier Roy, do Centro de
Estudos e de Pesquisas Internacionais (Paris), concorda
com Ranstorp e afirma que "o terrorismo da Al Qaeda é
apocalíptico". "Provocando um choque de civilizações,
Bin Laden quer pôr fim à atual ordem global para erigir
estruturas sociais condizentes com sua interpretação radical
do Islã. Ele não preconiza a morte por si só, sem outras
metas”. Para Rohan Gunaratna, do Instituto de Defesa e de
Estudos Estratégicos de Cingapura, "a doutrina
apocalíptica é difundida nas madrassas paquistanesas
[escolas de religião] ou nos centros wahabistas sauditas, e
seus métodos começam a ser exportados para regiões antes
mais interessadas em secessão do que em terror". Entre as
organizações islâmicas adeptas do terrorismo tradicional ou
político, que, geralmente, envolvem causas étnicas ou
nacionalistas, também estão, entre outros grupos, o Abu
Sayyaf filipino, que combate o controle de Manila
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 29

sobre a ilha de Mindanao, e o Grupo Islâmico Armado


argelino, que busca criar um Estado muçulmano no país
magrebino. É vital, contudo, salientar que tem ocorrido
*Jornal “Folha
de São
uma perigosa infiltração do terror apocalíptico, cujas redes
Paulo”;
26 /09/2004.
são transnacionais, em movimentos islâmicos regionais,
como o tchetcheno. "Além de abrir caminho para novas
fontes de financiamento, a radicalização existe porque
inúmeros muçulmanos creem que o Ocidente seja injusto
com outros seguidores do Islã nos territórios palestinos ou
no Iraque", apontou Gunaratna*

Ato Terrorista na África


30 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

Quem São os
Terroristas Internacionais?

"A dolorosa verdade: todos os terroristas do mundo


são muçulmanos", assim foi denominado o artigo escrito
por Abdul Rahman al Rashed, diretor-geral da rede de TV
Al Arabiya, publicado pelo jornal pan-árabe "Asharq al
Awsat", após o trágico desfecho do sequestro na escola de
Beslan, na Rússia em 2004. Este deixou mais de 300
mortos, incluindo várias crianças. Em termos estritos, o
título do texto não corresponde à verdade. Por exemplo, as
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o 17 de
Novembro grego também cometem atentados terroristas,
muitas vezes com vítimas. Tudo indica, porém, que Al
Rashed quis dizer que, há algum tempo, os ataques mais
sangrentos e frequentes vêm sendo realizados por
muçulmanos e que a barbárie dos "combatentes da guerra
santa" cresce em ritmo acelerado no Iraque, na
Tchetchênia, no Afeganistão etc. Com efeito, o terrorismo
islâmico é, de longe, o mais ativo e feroz existente no
planeta atualmente, isso segundo o que nos informam os
analistas consultados pelo Jornal a “Folha de São Paulo” de
26 de setembro de 2004. Dos 25 maiores grupos terroristas
do planeta, 18 são islâmicos.
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 31

Veja a tabela abaixo:

A fonte do hodierno Terrorismo Islâmico


O Ocidente ainda não entendeu a complexidade
do Islã. Os movimentos terroristas islâmicos nascem de
uma tradição que é radicada desde o primeiro século da
história islâmica. No Islã, sempre houve um confronto
*Hourani, A.;
“Uma História entre o poder constituído e uma série de movimentos que
dos Povos
Árabes”; o contestam em seu nome, afirmando que quem está no
Editora Cia
Letras, 2º Ed. poder não representa o verdadeiro Islã.* Portanto, por
de 1991;
São Paulo – exemplo, não é exato afirmar simplesmente que o
SP.
extremismo islâmico nasceu em contraposição ao
Ocidente. Os wahabitas da hodierna Arábia Saudita
nasceram no século XVIII para contestar o poder dos
otomanos, antes mesmo do início do colonialismo no
Oriente Médio. Assim, os terroristas de hoje atacam
32 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

os regimes dos países árabes amigos do Ocidente em nome


do retorno de uma suposta pureza do Islã primitivo que
nunca existiu. Os maiores ideólogos são egípcios. Em
especial, *Sayyid Qutb, o ideólogo dos “Irmãos
Muçulmanos”, condenado à morte por Nasser (Presidente *Sayyid Qutb:
fez a releitura
do Egito) em 1966, representa uma fonte de referência para revolucionária
do Alcorão.
a rede terrorista de Al-Qaeda. Poucos sabem que o termo Ninguém
marcou tanto a
foi provavelmente retomado por Bin Laden de um livro do Fraternidade
Muçulmana
escritor Qutb. Da aliança entre os fundamentalistas quanto Sayyid
Qutb (1906-
egípcios e os Wahabiti sauditas nasceu o hodierno 1966). Ele
representou
terrorismo islâmico. Uma aliança que o Ocidente ignorou para o
fundamentalis
ou até mesmo encorajou nos tempos da invasão soviética mo o que o
italiano
do Afeganistão. Quem se empenhou para expulsar os Gramsci foi
para o
soviéticos do Afeganistão como combatentes foram os comunismo.
Fez com
islâmicos, sendo ignorado pelos ocidentais que os Maomé o que o
pensador
fundamentalistas têm uma agenda antiocidental. Nos peninsular fez
com Marx: uma
escritos de Qutb, aparece com todas as letras a declaração releitura
revolucionária.
de guerra ao Ocidente. Sobre o futuro, podemos concluir Qutb revestiu
de palavreado
que, ou o Islã consegue desassociar a religião da política, ou alcorânico as
utopias
então a questão islâmica irá tornar-se um grave problema revolucionárias
ocidentais. É
também dentro da própria Europa e em todo o Mundo. preciso,
segundo ele,
No Islã atual, religião e política estão intrinsecamente que o Islã volte
à sua essência
interligadas. Crescerão, portanto, os pedidos por parte dos primeira, aos
seus
muçulmanos imigrados para adotar leis estatais que fundamentos. E
reformulou tais

admitam os preceitos do Sharia. É como se os hindus fundamentos,


parafraseando

quisessem impor o sistema das castas na Europa ou na a doutrina


anárquica da

América. O problema é que no Islã sunita, ao qual aderem a desalienação


(ninguém deve

maioria dos fiéis muçulmanos, não existe uma autoridade estar submisso
a ninguém).

definida, capaz de uma revisão do Sharia, que leve em


Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 33

consideração os direitos humanos e os conceitos de


democracia. Portanto é difícil, em um período curto de
tempo, prever o aparecimento de correntes
*Mantran, R.;
“Expansão
suficientemente fortes e representativas, capazes de
Muçulmana”;
Editora
conciliar o Islã com a democracia e de desassociá-lo com o
Pioneira; São
Paulo – SP;
terrorismo.*
1977
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 35

Maomé
Um Bom ou Mau
Exemplo para os
Terroristas?

A Jihad na
Realmente, tendes no
Hagiografia
Profeta de Deus
de Maomé
um excelente exemplo
para aqueles “Alá me ordenou a lutar
que esperam contra os idólatras, até que
contemplar Deus. prestem testemunho de que
(Alcorão - Surata 33.21)
não há outra divindade
além do único Deus, e de que Maomé é o mensageiro de
**Zakat: Alá; que realizem as orações e paguem o *zacat. Se
Contribuição
obrigatória. cumprirem isso, terão salvaguardado suas vidas e seus bens
*El Hayek, de mim” – Hadiz do Profeta Maomé.*
Samir; “Ditos
e Práticas de Algo, no mínimo curioso, que pode ser percebido
Mohammad –
o Mensageiro claramente nos relatos da vida de Maomé, e que demonstra
de Deus”;
Editado pelo suas habilidades estratégicas em liderar e dissimular, é que,
Centro de
Divulgação
do Islã para a
América
Latina.
36 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

apesar da violência constante dos habitantes de Meca


contra ele e seus seguidores por um período de
aproximadamente 13 anos, não vemos em sua hagiografia a
descrição de nenhuma ação contra os seus inimigos, a não
ser quando chegou a Medina, onde possuía mais seguidores
dispostos a seguí-lo na guerra (jihad).
Apesar de ouvirmos dos islâmicos a constante
afirmativa de que só agem em defesa própria, a história do
profeta demonstra que não foi bem assim. Maomé revidou
aos agressores quando veio a possuir um número suficiente
de soldados que atentassem para a sua causa, saqueou e
pilhou quanto pôde, impetrando um completo terror nas
caravanas que percorriam a Arábia. Os analistas árabes
interpretaram o fato apenas como uma guerra santa contra
os inimigos de Alá. Na realidade, essas expedições foram
atos de pilhagem, na tradição dos árabes pré-islâmicos. Aos
olhos dos árabes, tais práticas engrandeceram o prestígio do
profeta e da umma (comunidade), e obrigaram certas tribos
a concluírem um acordo forçado com o profeta.
Sobretudo, permitiram sustentar contra Meca a atividade
dos fiéis proporcionando-lhes o produto do saque. Além
disso, Medina estava em posição geográfica privilegiada, na
rota das caravanas de Meca para Síria. Daí as facilidades de
ação e uma ameaça de terror cada vez mais pesada sobre o
comércio e dos comerciantes de Meca. O profeta ensinou
aos seus seguidores que judeus e cristãos deveriam pagar a
“jizya” – uma taxa imposta aos não muçulmanos para que
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 37

pudessem viver sob a proteção do Islã, caso contrário


sofreriam as consequências. Os não muçulmanos eram
obrigados a pagarem essa quantia estipulada para que
pudessem ter seus direitos mantidos. O profeta ensinava
seus súditos que, como muçulmanos, eram superiores aos
demais de outras religiões. Aos que duvidavam dessa
superioridade, a revelação alcorânica fornecia uma
resposta: “Não agradarás nem aos judeus nem aos cristãos
até que adotes seus credos” (Surata 2.120); “Ó fiéis, não
tomeis por confidentes os judeus nem os cristãos; que sejam
confidentes entre si. Porém, quem dentre vós os tomar por
confidentes, certamente será um deles; e Deus não
encaminha os iníquos” (Surata 5.51). Obviamente que, ao
impor essas sanções o profeta arrumou inimigos, e entre
esses inimigos os piores eram os ricos comerciantes judeus
que não gostaram nada de ter que pagar a jizya. Então,
Maomé multiplicou suas ações contra os judeus, e os
versículos da revelação começaram a emanar de forma a
mostrar que esses judeus se desviaram do caminho traçado
por Alá (Surata 5.82); os muçulmanos, por outro lado,
receberam a verdade eterna. Por isso, não se podia tolerar
que esses judaizantes continuassem a difundir o erro. A
tribo judaica dos banu nadhir, comprometida com a tribo
dos qorayshitas, foi a vítima desta reação; teve de
abandonar Medina e mudar-se para Khaybar, deixando
bens e armas que foram distribuídos entre os emigrados
daquela região. Ele também decidiu eliminar a última tribo
judaica de Medina que, segundo o parecer de um árbitro,
Sad ibn Moadh, foi condenada à exterminação total:
38 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

os homens foram decapitados, as mulheres e crianças


reduzidas à escravidão. Foi com táticas de terror parecidas
com estas que o profeta mostrou força e convicção no
início e expansão da sua recém-criada religião. É bem
verdade que, para aqueles que aceitavam a “conversão”,
havia vantagens ímpares e possibilidades reais de grande
prosperidade. A proposta era clara: fé no Islã e, como
resultado, vida abundante, ou morte, humilhação e terror
aos infiéis. Negar que Maomé impôs o terror aos povos da
Arábia é negar os fatos correlatos da hagiografia do profeta.
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 39

O Conceito de Guerra Santa

A Sistematização do Conceito

Ironicamente, não foram os muçulmanos que


desenvolveram e sistematizaram o conceito de guerra em
prol de uma causa justa ou santa, mas teólogos cristãos. A
História nos conta que o Bispo de Hipona, Agostinho, ao
tomar conhecimento do saque da própria Roma, em 410,
por Alarico, rei dos godos, resolveu escrever um tratado
que enumeraria as alarmantes discrepâncias entre a “cidade
dos homens” e a “cidade de Deus”. Suas reflexões
abrangiam a condução da guerra internacional e
apresentavam um dos mais importantes conceitos da
história da filosofia militar – o da “Guerra Justa”. A
semente intelectual que ele plantara – a noção de que
guerras deveriam ter causas justas e que os homens
deveriam controlar seu comportamento nessas guerras,
tanto por razões práticas, preservar uma paz proveitosa e
agradável, quanto por razões idealistas – se mostraria
resistente e germinaria no mundo cristãos nos séculos
vindouros de trevas na Europa. A violência perpetrada em
40 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

nome da fé cristã, portanto, era implicitamente justa, e um


dos resultados involuntários de suas teorias foi uma
racionalização para a guerra santa contra os infiéis. Temos
plenos testemunhos que a ideia principal de Agostinho não *Silva, Pedro;
“História e
era essa, mas seus conceitos adquiriram vidas e pernas Mistérios dos
Templários”;
próprias no processo histórico que levaria a Europa a Editora
Ediouro; Rio
mergulhar em trevas latentes ecoando até na distante de Janeiro –
RJ; 2001.
Arábia.
Com a evolução da doutrina agostiniana sobre a
guerra, as célebres Cruzadas passaram a serem apoiadas por
todos os líderes da Igreja Católica Romana contra os infiéis
muçulmanos. Votos de castidade, bênçãos de armas e
promessas de descanso eterno, caso morressem na defesa de
um ideal, eram algumas das indulgências concedidas ao
cavaleiro cristão. O Papa Gregório VII até mesmo criou
um exército papal chamado Militia Sancti Petri, com o
objetivo de deputar uma guerra santa. Nesses cavaleiros
estava incutida a ideia de que matar em nome de Deus era
justificável e de que morrer por Ele, santificável.*
Em 1511, o humanista protestante, Erasmo de
Roterdã antecipava mudanças na ideologia cristã,
escrevendo duramente sobre a sociedade em geral e sobre
os clérigos belicosos e exploradores – “Além do mais, uma
vez que a Igreja Católica Romana foi fundada sobre o
sangue, fortalecida pelo sangue e ampliada pelo sangue,
eles continuaram a tratar seus negócios pela espada, como
se Cristo tivesse perecido e não mais pudesse proteger seu
próprio povo à sua maneira. A guerra é algo tão
monstruoso que condiz com as feras selvagens e não com os
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 41

homens, tão insana que os poetas até imaginam que é


deflagrada pelas fúrias, tão mortal que se espalha como
praga pelo mundo, tão injusta que é mais bem conduzida
pelos piores tipos de bandidos, tão ímpia que é totalmente
estranha a Cristo”. O Cristianismo, de maneira geral, não
tinha como resistir a tamanhas críticas, passando assim por
movimentos de modernização, em que se opôs a essa
ideologia sanguinária e terrorista do período medieval. O
catolicismo viveu a reforma e a Contrarreforma, e com isso
adaptou-se a situações cambiantes, sendo forçado a aceitar
o pacifismo do cristianismo primitivo –“... se alguém te
bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt
5.39)

O Conceito de Guerra Santa na Ótica Islâmica

O teólogo islâmico
As portas do paraíso
estão sob a sombra das Hamidullah explica o
espadas... Levai a efeito seguinte sobre a Jihad:
a luta (jihad) contra os infiéis...“Sendo o Islã um
é um mártir aquele que
conceito de vida, uma
morre enquanto luta pela
causa de Alá. luta justa não pode ser
Profeta Maomé senão um ato sagrado.
Toda forma de guerra é
proibida pelo Islã, a não ser que seja por uma causa justa e
ordenada pela lei Divina. A vida do profeta nos
proporciona precedentes de somente três tipos de guerra:
defensiva, punitiva e preventiva... Essa é a guerra (jihad)
santa dos muçulmanos, aquela que não é empreendida com
42 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

o propósito de exploração, mas num espírito de sacrifício,


seu único objetivo sendo o de fazer prevalecer a Palavra de
Deus. Tudo mais é ilícito. Não há absolutamente razão
para se engajar em guerras para compelir outrem a se
converter ao Islã; tal seria uma guerra profana”.
Outro teólogo islâmico, Aminiddin Mohamad
argumenta o seguinte – “O Alcorão considera a sedição um
crime maior do que o assassínio, por isso é direito de cada
um que enfrenta isso, pegar em armas pela causa de Alá e
pôr fim a isso, individual ou coletivamente. Aí os
orientalistas levantam os gritos a dizerem que a religião
islâmica chama as pessoas à guerra (jihad) e acham que isso é
para forçar as pessoas a se converterem ao islamismo.
Chamam isso no tempo moderno de fanatismo, e logo
apresentam o cristianismo para comparação, dizendo que o
cristianismo recusa a violência, condena a guerra e chama a
paz e tolerância e une os homens nos laços da irmandade
em Deus e em Cristo. A guerra no Islã é permitida, não para
forçar os outros a entrarem no islamismo, mas sim para
defender a liberdade de expressão (islâmica). Quando há
homens que colocam obstáculos no caminho de Alá, ou
são corruptos e querem contagiar com a sua corrupção a
outrem ou não creem e querem impedir os outros de
crerem em Deus (e na religião do profeta). Todos os
materiais utilizados pelos agressores podem ser utilizados
contra eles, da mesma forma. Mas se ninguém utilizar a
perseguição, ou qualquer outro meio ilícito, para impedir a
outro do caminho direito, então, ninguém pode também
impedi-lo disso, exceto respondendo verbalmente aos seus
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 43

argumentos. Mas, se ele utilizar a força para impedir


alguém de ter uma ideia ou crença, então, é necessário
responder o poder armado dele com força igual. É isto que
o Islã defende, porque a vida de convicção é o que
distingue o homem dos restantes animais, porque se ela
consistir só em comer, beber e crescer, então, não há
diferença nenhuma com o animal. Os cristãos dizem que o
Cristianismo condena totalmente a guerra. Aqui não
vamos analisar, se é verdade ou não. Mas na História do
cristianismo, desde os primórdios, até hoje, todos os países
do mundo estão mergulhado em sangue, em nome de Jesus
Cristo, não falando dos antigos romanos e bizantinos assim
como dos europeus modernos que são culpados do
derramamento de tanto sangue em todas as partes do
mundo. As cruzadas foram lançadas pelos cristãos, há
centenas de anos. E as inquisições na Europa? Em África, na
Ásia e em todo o mundo, os papas, os bispos e os que
reivindicavam ser vigários de Jesus Cristo, abençoavam e
encorajavam essas tropas. Será que esses papas são todos
heréticos? Ou seu cristianismo era fraudulento? Ou cada
um deles estava a fingir ou era ignorante e não sabia que o
Cristianismo condena absolutamente a guerra? Mesmo
hoje, na era da alta civilização humana, várias potências
cristãs têm percorrido grandes distâncias para atacar
pequenos países e matar mulheres, crianças e velhos,
concorrendo na fabricação de armas ultra ultrasofisticadas.
Para que esse armamento todo? Não é para a matança? Para
a destruição, bombas atômicas contra o Japão, no Vietnam
milhares de pessoas aniquiladas, tudo isso feito por
44 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

potências de países cristãos e não muçulmanos. O Islã é


uma religião natural e veio para aperfeiçoar o homem.
Uma vez que também é da natureza do homem lutar, lutar
para defender os seus direitos, a sua fé (islâmica) e liberdade *Mohamad,
Aminuddin;
de expressão, o Islã veio para disciplinar essa natureza de “Mohamed –
O Mensageiro
luta”.* de Deus”;
Editado pelo
Ao fazermos uma analogia entre as maiores religiões Centro de
Divulgação
monoteístas do mundo – Judaísmo, Cristianismo e do Islã para a
América
Islamismo; podemos ver uma diferença ideológica junto Latina; S.
Bernardo do
aos seus relatos de fundação que elucidam algumas das Campo – SP;
1989.
argumentações teológicas do sr. Aminiddin Mohamad.
Os filhos de Israel fugiram do cativeiro e vagaram por 40
anos no deserto antes que lhes fosse permitido entrar na
terra prometida. Seu líder Moisés apenas a vislumbrou de
longe, e a ele mesmo não foi permitido entrar nela. Jesus foi
humilhado e crucificado, e seus seguidores sofreram
perseguição e martírio por séculos, antes de finalmente
conseguir conquistar o governo e adaptar o Estado, a
língua e as instituições dele aos seus propósitos (e isso
contrário ao que ensinou o seu fundador Jesus Cristo). Já
*Lewis B., O
Maomé alcançou vitória e triunfou durante sua própria Que Deu
Errado No
vida. Conquistou sua terra prometida e criou seu próprio Oriente
Médio?, 1º
Estado, do qual ele mesmo foi soberano supremo. Como Edição,
Editora J.
tal, promulgou leis, ministrou justiça, arrecadou imposto, Zahar, Rio de
Janeiro, 2002.
recrutou exércitos, fez a guerra e fez a paz. Numa palavra,
governou, e a história de suas decisões e ações como
governante está santificada na escritura muçulmana e
ampliada na tradição”.*
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 45

Pelas nossas pesquisas, ainda que de maneira


confusa, em alguns capítulos o Alcorão parece condenar a
guerra e a conversão forçada – “não haverá coerção em
*Rushdie, S.; matéria de fé. Pois se já separou a verdade do erro...”
“Versos
Satânicos”; (Surata 2.256). Já em outras partes do Alcorão encontramos
Editora Cia
das Letras; 3 textos duros e belicosos, em que a ordem era e é simples:
Ed. de 2000;
São Paulo - “Mate-os” (Surata 9.5). Essa problemática de ordem
SP.
“jihádica” deixava e deixa a cabeça dos herdeiros do
profeta em ebulição e confusão. Quando devemos ser
piedosos? E qual o momento certo de se fazer a Jihad por
amor a Deus? Quem são os infiéis que devem ser mortos?
Para alguns estudiosos do assunto, o profeta escreveu
suratas contraditórias, em que o intuito era servir o
momento histórico vivido (entre esses estudiosos
encontramos o escritor Salman Rushdie.)* Parece que a
discrepância se explica devido ao fato de que quando a
nova religião do profeta estava sendo lançada e o islamismo
era muito fraco para obrigar qualquer um a segui-lo, então
textos de tolerância eram emanados. Porém, mais tarde, ele
recebeu outras revelações, não somente sobre o uso da
força, mas também de terrorismo para fazer o mundo
inteiro submeter-se ao Islã. A espada era o instrumento dos
violentos propagadores do islamismo. Alguns teólogos
islâmicos oferecem duas explicações diferentes para essa
contradição em especial. Existem aqueles que arvoram que
tais versos pacifistas, como a Surata 2.256, foram ab-
rogados por revelações posteriores, tais como: "E quem
seguir outra religião senão a da submissão (O Islã) não será
por Ele aceito e, no além, estará entre os derrotados...”
46 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

(Surata 3.85); - “E quando vos enfrentardes com os


incrédulos golpeai-lhes os pescoços, até que os tenhais
dominado, e tomai os sobreviventes como
prisioneiros”.(Surata 47.4); “profeta, luta contra os
descrentes e hipócritas e sê duro para com eles...” (Surata
9.73), etc. Outros admitem que "não haver compulsão
religiosa" era uma revelação temporária, em razão das
condições do momento, que ainda hoje pode ser aplicada
nos lugares, momentos e circunstâncias em que o
islamismo não é forte o suficiente para se impor. Portanto,
no Ocidente o islamismo apresenta uma fachada de paz –
quando, porém, tornar-se suficientemente forte, apelará
para a guerra. Dentro dessas conjecturas podemos entender
como o Alcorão fortalece as convicções dos crentes
islâmicos mais radicais e fornece subsídios para os terroristas
agirem embasados nessa fé fundamentalista.
Notemos que, mesmo para os experientes teólogos
islâmicos em lide, explicar a cosmovisão maometana cria
toda uma bruma problemática de conceitos redundantes
que pouco elucidam os textos alcorânicos. Na verdade,
todas as argumentações dos teólogos islâmicos mais
procuram justificar as passagens belicosas do Alcorão do
que interpretá-las sob uma ótica pacifista. Isso fica ainda
mais relevante quando entendemos que para os islâmicos, a
idéia de que algum grupo de pessoas, algum tipo de
atividade, alguma parte da vida humana estaria em algum
sentido fora da esfera da lei e da jurisdição religiosa era e é
estranha ao seu pensamento. Não havia e não há, por
exemplo, nenhuma distinção entre direito canônico e
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 47

direito civil, entre a lei da Igreja e a lei do Estado. Sempre


houve apenas uma única lei, o sharia, que é aceito até hoje
pelos muçulmanos como de origem divina e fonte que
regula todos os aspectos da vida humana: civil, comercial,
criminal, constitucional, bem como matérias que dizem
respeito mais especificamente à religião. Atualmente o
secularismo vai de mal a pior no Oriente Médio, por
exemplo, dos estados da região que possuem constituições
escritas, apenas dois não têm religião oficial.
O Islã deve definitivamente reinterpretar essas
passagens contextuais e anacrônicas do Alcorão, necessárias
à sobrevivência da fé na Arábia dos séculos VII e VIII, mas
que agora, verdadeiramente, incitam homens e mulheres a
realizar atos de terror contra civis inocentes e indefesos.

Ato Terrorista na África


Execução por apedrejamento
De todos os lados, as pedras voavam contra o poste, a
maioria acertava o alvo. A mulher não gritou, mas logo
se levantou entre a multidão um homem forte. Tinha
encontrado uma pedra especialmente grande e
angulosa, e jogou com toda a sua força, após ter
mirado cuidadosamente o seu corpo. Acertou-a na
barriga com tanta força que o primeiro sangue desta
tarde se mostrou através da burca. Foi o que fez a
multidão exultar. Uma outra pedra do mesmo
tamanho acertou o ombro da mulher. Provou sangue
e aplausos.

James Michener, Caravanas


O livreiro de Cabul, Asne Seirstad, Edições BestBolso
Ato de protesto contra
o apedrejamento
Agredida com Ácido
no rosto pelo marido
Muçulmano
Execução por apedrejamento
na Somália
Mulheres de Burca
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 53

Por Salman Rushdie e


pela Liberdade

A Questão da Liberdade de Expressão

Resolvi escrever um apêndice a esta obra após ler o


segundo livro de/sobre Salman Rushdie (Joseph Anton
Memórias de Salman Rushdie). Digo isso pelo fato de saber
que o autor sempre se mistura com os protagonistas de suas
obras. A bem da verdade, acho que todo escritor mistura
suas realidades com suas ficções, e com Rushdie não
poderia ser de outro jeito. Já faz uns dez anos que, pela
54 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

primeira vez, entrei em contato com o autor e desde então


sempre leio ou acompanho alguma notícia sobre ele. O
livro “Versos Satânicos” foi muito empolgante pra mim e
as verdades daquela crônica mexeram muito comigo,
corroborando o que eu já sabia da religião do profeta
beduíno.
Meu envolvimento com a teologia islâmica
começou pra valer em 11 de setembro de 2001. Lembro-
me bem daquela fatídica manhã de terça-feira. Estávamos
reunidos em uma igreja para orar pela nossa comunidade.
O nome da igreja era promissor – “Projeto Vida”. Nossas
orações eram pela paz, pela recuperação econômica e pela
comunhão dos irmãos. De repente, entra pela porta da sala
de oração uma irmã toda descabelada e esbaforida gritando:
“Misericórdia, irmãos, os EUA foram atacados
militarmente e foi agora. As Torres do World Trade
Center foram atingidas por mísseis – ai Jesus”.
Imediatamente fomos conduzidos para a sala de televisão e
o que dali se assistia marcou pra sempre a minha vida. Eu,
um simples homem do interior, nunca pensei ver uma cena
tão chocante como aquela em minha singela existência.
Quando na roça, tinha no máximo medo de
cobras. Mas agora, as piores serpentes do mundo estavam
usando aviões como mísseis contra prédios residenciais e
comerciais e, pior, contra civis que nada tinham a ver com
aqueles beduínos do deserto da Arábia. Juntos, oramos e
clamamos. Foi uma manhã inesquecível e traumática.Sai
dali disposto a saber por que eu falara tão pouco contra
aquele mal até aquela ocasião. Pra mim, eu não precisava
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 55

falar daquela religião distante, de um profeta barbudo e sem


cultura que se aproveitou de uma viúva rica para fazer uma
religião sincrética entre cristianismo, judaísmo e o
animismo arábico. Uma religião sanguinolenta e violenta,
pra que saber mais daquilo? Imediatamente consultei
minha biblioteca, li os poucos livros que tinha. Fui às
livrarias do centro da cidade e comprei o Alcorão, livros
especializados e tudo o que tínhamos por ali.
Sinceramente, encontrei pouca coisa interessante. Pela
internet encontrei outras obras de Albert Hourani, Bernad
Lewis, Mantran, Naipaul, Said e Salman Rushdie.
Também entrei em contato com a “Juventude Islâmica
para a América Latina” (Nem imaginava que tal instituição
existisse) e consegui alguns livros. Na verdade, quem me
ajudou mesmo foi um Sheik ou Imã (não me lembro)
chamado Kamal Osman (pois debatíamos pela internet
sobre a problemática). Esse, em retribuição a uma literatura
que lhe enviei, me mandou muitos livros de teologia
islâmica. Aqui faço uma pausa para um comentário satírico
sobre esse acontecimento. É que naqueles dias havia se
iniciado o envio de cartas-bombas ou contaminadas. E o
pó químico e contagioso (antraz) estava fazendo muitas
vítimas. Numa certa tarde escuto um grito dentro de casa
(meu escritório ficava no fundo da casa). Era a minha esposa
em desespero com uma enorme caixa na mão. Num choro
reclamante e com um tom de advertência maternal me
exortava: “Tá vendo, fica mexendo com esses fanáticos
religiosos e agora olha aí… uma bomba”. Não era uma
bomba, mas uma caixa do sul do País (onde ficam as
56 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

maiores comunidades islâmicas) direcionada a mim. Por


via das dúvidas, isolei o pacote e, com alguns apetrechos,
consegui abrir a caixa, e com toda a segurança (estava
usando uma máscara) examinei os livros. Pra minha sorte,
era só livro mesmo. Naqueles dias devorei aquelas
literaturas. Mas um alfarrábio me chamou a atenção mais
que os outros – Versos Satânicos– que título era esse?! Eu
precisava lê-lo e sabia que aquele conteúdo seria relevante.
Depois de ler livros distintos e técnicos sobre o assunto, por
que não um romance sobre essa religião? A leitura me
arrebatou e quando gosto de um livro, leio tudo e o tempo
todo. Três dias apenas foram necessários, e a leitura estava
encerrada. Ninguém, na minha visão, foi tão exato na
opinião sobre “aquela religião dos infernos” como
Rushdie. Sim, aquelas eram verdades que precisavam ser
ditas e reeditadas sempre e com toda a liberdade.
O nome, apesar de forte, tem uma explicação
técnica, como é elucidado no recém-lançado “Joseph
Anton Memórias de Salman Rushdie”: “o profeta desceu
da montanha certo dia e recitou a Sura (número 53 do
Alcorão) chamada Na-Najm, a Estrela. Continha as
seguintes palavras “Ouvistes falar de al-Lat, de al-Uzza e de
al-Manat, a terceira, a outra? Elas são aves excelsas, e sua
intercessão é muito desejada”. Em data posterior – teriam
passado dias, semanas ou meses? – ele (Maomé) voltou à
montanha e desceu desconcertado, dizendo que tinha sido
ludibriado em sua visita anterior. O diabo lhe aparecera,
disfarçado de arcanjo, e os versos que ele recebera não eram
divinos, mas satânicos, e era preciso expurgá-los do
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 57

Alcorão sem demora. Nessa ocasião, o anjo trouxera novos


versos, enviados por Deus, para substituir os versos
satânicos no grande livro: “Ouvistes falar de al-Lat e al-
Uzza. E de outra, a terceira, Manat. Tais (divindades) não
são mais do que nomes, com que vossos antepassados, as
denominaram, e não há nelas verdade alguma. Por
ventura, teria Deus filhas, enquanto vós tendes filhos? Tal
seria uma partilha injusta” (Pg. 49).
Claro, não estou escrevendo o presente artigo pra
falar em si do livro “Versos Satânicos”, isso eu já fiz em
2001, mas para externar meus sentimentos sobre o escritor
que viveu mais de 20 anos diante de uma sentença de morte
(fatwa) e até hoje sofre restrições por causa de um senil
caquético que pensava ser deus. No livro “Joseph Anton
Memórias de Salman Rushdie” nos é contado como a vida
desse autor tornou-se um inferno e como a liberdade de
expressão no mundo todo foi rechaçada.
“A liberdade não tem que ser ganha, mas
conquistada”. Rushdie é símbolo não de uma editora, mas
da resistência em favor da liberdade e por que não, da
própria expressividade de culto por todas as nações e
religiões. Sim, os mesmos mentecaptos que condenaram o
“Rushdie ateu” poderiam ter censurado um “Rushdie
religioso”. Nada e nem ninguém pode se achar
incriticável. As boas ideias nunca deixarão de sê-las por
causa de uma crítica. O Ocidente não pode ceder a
chantagistas e terroristas desse tipo. O rechaçamento à
liberdade do livro “Versos Satânicos” é o estrangulamento
58 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

das conquistas mais raras e caras de nossa civilização.


Lembro-me do Sheik Jihad Hassan e seu colega
Sheik Mohamed falando de paz na rádio em Campina
Grande na Paraíba em 2006 (época das charges do profeta).
Até a voz do religioso era sedosa, mas quando lhe coloquei
na parede com uma pergunta sua expressão se decompôs.
O que eu disse? Nada de mais; apenas queria saber como
aqui no Brasil o Sheik Jihad (Sunita) se dava tão bem com o
Sheik Mohamed (sufita) e nos países islâmicos um matava o
outro. Pronto! O homem ficou uma fera e arremeteu
contra mim articulando que eu era um homem sem ética
por fazer tão deselegante pergunta. Por quê? Em tom
conciliador, o Sheik Mohamed intrometeu-se entre nós e
propôs que eu e o outro professor falássemos primeiro e
depois eles discorreriam suas argumentações. Mas a minha
pergunta, até hoje não foi respondida. É assim que eles
agem. Cometem as mais pervertidas barbaridades pelo
mundo e quando um mísero pecador ocidental questiona,
somos deselegantes. Eles podem falar o que quiserem do
satã do ocidente e da cristandade perniciosa, mas nós não
temos o direito de falar nada do beduíno barbudo que
deflorava pequenas, roubava caravanas e manipulava
mentes em nome de Deus.
“Uma nova palavra havia sido criada para ajudar os
cegos a continuarem cegos: a islamofobia. Criticar a
estridência militante dessa religião em sua encarnação
contemporânea era ser preconceituoso. Uma pessoa fóbica
era extremada e irracional em suas posições, então a culpa
era dessas pessoas e não do sistema de crenças que se
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 59

orgulhava de ter mais de 1 bilhão de seguidores no mundo


todo. Um bilhão de crentes não podia estar errado,
portanto os críticos é que deviam ser os que espumavam
pela boca…” (Pg. 337)
Paul Johnson disse o seguinte em uma de suas
entrevistas: “Quando falamos de fundamentalismo
islâmico, estamos usando uma expressão enganosa. Todo o
Islã é fundamentalista na essência… A palavra Islã não
significa paz, mas submissão”. E é essa submissão ou
coerção que os muçulmanos inventaram de empurrar
goela abaixo. Virou moda agora, por qualquer coisa que
faça com que se sintam “ameaçados”, partirem pra
ignorância. O chargista fez uma charge antimaometana –
morte ao chargista. O cineasta fez um filme, mesmo que
positivo ao Islã, mas como mostrou uma suposta imagem
do profeta – morte ao cineasta. Um apologista cristão
elaborou um texto teológico contra a teologia islâmica –
morte ao cristão imundo. Aliás, certo dia um desses
retardados me ligou (devido a um artigo em nosso site de
apologética). Ofegante e cheio de ódio vociferou ao
telefone: “É o infiel Prof. Martinez?” “Sim, Prof. Martinez
falando”, respondi. “Você vai morrer, seu porco infiel.
Vou dar sua carne pras porcas comerem. Vou te picar em
pedacinhos…”. Pensei comigo, deve ser trote, mas não
era. Aquele débil queria me fazer de ração pra porcos. Eu
sinceramente penso que os porcos mereçam coisa melhor.
Mas naquele dia pude perceber que com gente desse tipo
não tem argumentação. Por mais que eu tentasse me voltar
pra ele e explicar os fatos, ele só conseguia ficar com mais
60 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

raiva e ódio. Acho que o que fez ele desistir e desligar foi o
fato de eu ter lhe dito que, apesar de não ser islâmico, era
um fundamentalista cristão e, a despeito de não matar
ninguém, não via problema em perder a minha vida por
uma verdade. Além do que, seria bom para que o povo
brasileiro acordasse e fechasse as portas para aquela religião
obtusa! Ele desligou o telefone e eu, por precaução,
registrei um boletim de ocorrência. Por isso, sou solidário a
tudo que Rushdie viveu e está vivendo, por isso indico e
recomendo que todos os que puderem leiam os livros dele
e de preferência “Versos Satânicos”.
Quanto à pecha de ateu, penso que Rushdie não
mereça tal, principalmente pelos seus livros. Claro, não
quero aqui sacramentar o autor, nem fazê-lo assinar um
atestado de crendice como alguns já tentaram, não é isso. É
que ateu, principalmente nos dias atuais, é mais do que uma
pessoa que não acredita em Deus, é mais do que alguém
que desnuda uma religião com a verdade dos fatos. Ateu
hoje é algo mais complexo e até credo esse ateu moderno
tem, aliás até igreja (não posso me conter, preciso rir –
hahahahaha). Conta-se que o primeiro ateu da história foi
Sócrates. Ele, segundo alguns, não aceitava o panteão de
deuses de Atenas. Era aos seus olhos algo truanesco e
absurdo. Tanto é que quando foi condenado a tomar
cicuta, ironicamente olha de lado e brinda a Esculápio – “a
Esculápio” – o deus da medicina ou da saúde. Platão
acreditava que Sócrates na verdade cria em um Deus
transcendental e não naquele territorial pregado e crido
pelos atenienses, mas esse não é o fato. O fato é que daí
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 61

nasceu a conjectura do que seria o ateu – aquele que é


contra os deuses de Atenas. Não seria o caso de Rushdie,
mas talvez o caso de Karen Armstrong ou Richard
*Armstrong, Dawkins (que fazem campanhas e seminários contra a ideia
K; “Em Nome
de Deus”; de um Deus). Esses gostam de bater forte no Cristianismo,
Editora Cia
das Letras; mas são tímidos pra falar do Islã. Acho que o medo da fatwa
São Paulo –
SP; 2001. deve ser grande entre eles. Então é melhor ser um ateu
direcionado só para os cristãos, que hoje não matam mais
ninguém. Mas fechando o raciocínio, é que Salman não
age dessa maneira militante. Pra mim ele poderia ser
adjetivado de no máximo um agnóstico e nunca de ateu.
Já sobre a satanização de Rushdie pelo Islã, acho
que até foi fácil pra eles fazerem isso. O pobre autor não é,
digamos assim, nem razoavelmente formoso. Pra piorar,
aquele cavanhaque e os olhos caídos cooperam para uma
aparência de Satã (pura brincadeira minha). O Aiatolá
Khomeini, devido aos seus muitos fracassos
administrativos, naquele momento, (a Guerra Irã/Iraque
havia deixado sequelas nos dois países), precisava de um
bode expiatório e ele foi o ideal. Acho que o caquético
Aiatolá nem imaginava que a fatwa viraria o que virou. Mas
como o próprio Salman advertiu, aquele momento foi
mais do que uma revolução contra um bucólico autor.
Aquilo foi o início da diminuição da nossa liberdade de
expressão em nível internacional. Em entrevista recente,
Salman afirmou que o seu livro não seria publicado hoje
devido a essa covardia ocidental impetrada naqueles dias
iniciais da crise. Na minha visão, a pusilanimidade daquela
época do caso do livro “Versos Satânicos” foi o começo
62 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

da derrocada. A semente da omissão dos líderes da década


de 90 são os frutos que colhemos hoje. Na verdade quem
virou um grande satã para o mundo civilizado foi o próprio
Islã – uma religião que não sofreu o devido efeito de
atualização operacional de sua plataforma. Paul Johnson
comenta que as grandes religiões, na sua maioria, se
atualizaram, mas o Islã retrocedeu após a 2ª Guerra e
fermentou sem que percebêssemos, transformando-se na
ameaça que temos hodiernamente.
“O que Rushdie revelou muito claramente a todo
mundo é que o Islã demonstra sua incapacidade de passar
impune por qualquer exame sério”.
Aiatolá Khomeini
Islã - Tem influência nos atos Terroristas? 65

Conclusão
Esta literatura não foi elaborada com a ideia de se fazer
uma nova cruzada contra o islamismo, mas para que o leitor
possa estar ciente das raízes ideológicas do Islã. É verdade
que alguns da cristandade realizaram muitas coisas
perversas em nome de Cristo, mas nunca puderam
justificar seus atos com bases neotestamentária bíblicas,
pois estariam traindo os ensinamentos de Jesus. Entretanto,
quando os islâmicos praticam, por exemplo, atos de
violência e terrorismo, podem legitimar tais atitudes com
base nos mandamentos de Alá escritos no Alcorão e na
Hagiografia do profeta. Como já comentamos, muitos
versos do Alcorão falam de prêmios e recompensas pelo
martírio em atos de terror. Interessante notarmos que o
muçulmano, por mais fiel que seja, não tem certeza da
*Alcorão, salvação da sua alma, mas quando ele morre em um ato de
Mansou
Challita jihad contra o infiel, lhe é garantido o paraíso com lindas
virgens (surata 2.216,218; 3.15; 8.111 e 52.20; ). A
mentalidade básica do Islã é simples e objetiva – Alá enviou
seu profeta Maomé e através dele deu o Alcorão sagrado
para toda a humanidade. Esse livro é perfeito, a mensagem
dele é fidedigna e imutável e deve ser cumprida
integralmente. Por isso, os islâmicos se justificam com
bases nesses escritos e acreditam ser o flagelo de Alá
66 Islã - Tem influência nos atos Terroristas?

contra os infiéis.
Segundo o escritor Abdul Saleeb – “a violência no
islamismo não se restringe aos ataques suicidas com bomba
ou com aviões contra edifícios. A violência do islamismo *Sproul &
Salleb; “O

tem muitas formas de expressão. A vasta maioria dos casos Outro Lado
do Islã”;

de perseguição a cristãos hoje ocorre no mundo islâmico. Editora CPAD;


1o ed. De

Devido a sua fé, os cristãos do sul do Sudão, por exemplo, 2004; Rio de
Janeiro – RJ.

têm sido terrivelmente perseguidos pelo governo


muçulmano no norte do país. Um outro exemplo da
violência islâmica é a lei do Paquistão, que pune com
morte qualquer pessoa que insultar o profeta Maomé. As
raízes desta lei estão nos ensinos primários do próprio
islamismo. A Lei da apostasia declara que qualquer pessoa
que se converta do islamismo a uma outra religião comete
um crime cuja punição deve ser a morte”.
Apesar de todas as evidências de que o Alcorão incita
a violência, ouvimos de várias fontes que o Islã é uma
religião de paz e de amor. Acredito que quem arvora tal
argumentação em favor do Islã não conhece a fundo o
mundo islâmico. Um dos prêmios nobéis de literatura, o
*Naipaul;
Dr. Naipaul, narra com precisão a realidade hodierna do “Entre os
Fiéis”; Editora
mundo muçulmano. Seus dois livros: “Entre os Fiéis” e Cia Letras; 2o
Ed. de 2001;
“Além da Fé” são verdadeiras obras-primas e corroboram São Paulo –
SP.
muitas das coisas que falamos aqui neste livrete.
Esperamos que as informações disponibilizadas
aqui possam servir de objeto de estudo e aprendizado a
respeito do povo islâmico, tão sofrido e carente da devida
atenção dos ocidentais.
Reza Islâmica

EM NOME DE DEUS, O CLEMENTE, O


MISERICORDIOSO
Em Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso
Louvado seja Deus, Senhor do Universo
O Clemente, O Misericordioso
Senhor do Dia do Juízo
Só a Ti adoramos, e só de Ti imploramos ajuda
Guia-nos à senda reta,
À senda dos que agraciastes,
Não à dos abominados, e nem à dos extraviados

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