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06/11/2022 16:20 A guerra contra as religiões – SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA

SAPIENTIAM AUTEM NON VINCIT MALITIA

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A guerra contra as religiões


Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 23 de janeiro de 2006

Embora desde a Revolução Francesa o grosso da violência militante tenha se originado sempre nas
ideologias materialistas e escolhido como vítima preferencial a população religiosa; embora a perseguição
aos católicos, ortodoxos, protestantes e judeus tenha matado mais gente só no período de 1917 a 1990 do que
todas as guerras religiosas somadas mataram ao longo da história universal; embora nas duas últimas décadas
o morticínio de cristãos tenha voltado a ser rotina nos países comunistas e islâmicos, chegando a fazer 150
mil vítimas por ano; embora todos esses fatos sejam de facílima comprovação e de domínio público (v. nota
no fim deste artigo); e embora nas próprias nações democráticas o acúmulo de legislações restritivas exponha
os religiosos ao perigo constante das perseguições judiciais, — a grande mídia e o sistema de ensino na
maior parte dos países insistem em continuar usando uma linguagem na qual religião é sinônimo de violência
fanática e na qual a eliminação de todas as religiões é sugerida ao menos implicitamente como a mais bela
esperança de paz e liberdade para a humanidade sofrida.

A mentira gigantesca em que se sustenta essa campanha é tão patente, tão ostensiva, tão cínica, que combatê-
la só no campo das discussões públicas é o mesmo que querer parar um assassino, ladrão ou estuprador
mediante a alegação polida de que seus atos são ilegais. Os mentores e autores da campanha anti-religiosa
universal sabem perfeitamente que estão mentindo. Não precisam ser avisados disso. Precisam é ser detidos,
desprovidos de seus meios de agressão, reduzidos à impotência e tornados inofensivos como tigres
empalhados.

A propaganda insistente contra uma comunidade exposta a risco não é simples expressão de opiniões: é ação
criminosa, é cumplicidade ostensiva ou disfarçada com o genocídio. Aqueles que a praticam não devem ser
apenas contestados educadamente, como se tudo não passasse de um pacífico debate de idéias: devem ser
responsabilizados judicialmente por crimes contra a humanidade. A jurisprudência acumulada em torno das
atrocidades nazistas, unânime em condenar a cumplicidade moral mesmo retroativa, fornece base mais que
suficiente para condenar, por exemplo, um Richard Dawkins quando sai alardeando que o judaísmo e o
cristianismo são “abuso de menores”, como se a noção mesma da proteção à infância não tivesse sido trazida
ao mundo por essas religiões e como se elas não fossem, hoje, o último obstáculo à erotização total da
infância e à subseqüente legalização universal da pedofilia (já praticamente institucionalizada no Canadá, um
dos países mais ateus do universo).

Quando o sr. Dawkins se diz avesso ao uso de meios violentos para extinguir as religiões, mas propõe os
mesmos objetivos ateísticos que há dois séculos buscam realizar-se precisamente por esses meios, ele sabe
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perfeitamente que a ênfase do seu discurso, e portanto seu efeito sobre a platéia, está na promoção dos fins e
não na seleção dos meios. Voltaire, quando bradava “esmagai a infame”, negava estar incitando quem quer
que fosse à violência física contra a Igreja Católica. Mas, quando os revolucionários de 1789 saíram
incendiando conventos, destripando freiras e decapitando bispos, era esse grito que ecoava nos seus ouvidos
e saía pelas suas bocas. Se a religião é, segundo o sr. Dawkins, “o maior de todos os crimes”, a matança de
todos os religiosos terá sempre o atenuante da gravidade menor e o da sublime intenção libertadora. Quando
no começo do século XX Edouard Drumont escrevia “ La France Juive”, ele não tinha em mente nenhuma
crueldade a ser praticada coletivamente contra os judeus. Mas é impossível ler hoje suas páginas sem sentir o
cheiro das câmaras de gás. Uma única e breve página vagamente anti-semita escrita por Winston Churchill
na juventude precipitou-o numa tal crise de arrependimento, diante da ascensão do nazismo, que isso decidiu
o restante da sua vida de líder e combatente. Drumont, que morreu em 1917, não poderia ter adivinhado o
destino que os leitores dos seus livros dariam aos judeus. Mas o sr. Dawkins não precisa adivinhar o futuro
para calcular o efeito de suas palavras: ele conhece a história do século XX, ele sabe a que resultados levam
não somente as propostas explícitas como a de Lênin, “varrer o cristianismo da face da Terra”, mas também
o anticristianismo mais sutil, mais sofisticado de um Heidegger, que, pretendendo expulsar Deus para fora da
metafísica, convocou Adolf Hitler para dentro da História. O homem que, sabendo de tudo isso, se oferece
para gravar programas de TV que apresentam a religião como a raiz de todos os males, como se os mais
amplos morticínios da História não fossem males de maneira alguma, esse homem é simplesmente um
apologista do genocídio, um criminoso vulgar como qualquer neonazista de arrabalde.

O sr. Dawkins já ultrapassou aquele limite da truculência mental e do desprezo à verdade, para além do qual
toda a discussão de idéias se torna inútil. Não se trata de provar nada para o sr. Dawkins. Trata-se de provar
seu crime perante os tribunais. O dele e o de inumeráveis organizações militantes, subsidiadas por fundações
bilionárias, dedicadas a fomentar por todos os meios o ódio às religiões.

Todas as organizações religiosas que não se mobilizarem para a defesa comum não só no campo midiático,
mas no judicial, devem ser consideradas traidoras, colaboracionistas e vendidas ao inimigo. E não espanta
que usem para legitimar sua covardia abominável o pretexto do perdão e da caridade, prostituindo o sentido
da mensagem evangélica que manda cada um de nós perdoar as ofensas feitas a ele próprio, nunca pavonear-
se de cristão mediante o expediente fácil de perdoar crimes cometidos contra terceiros, que aliás nunca lhe
deram procuração para isso. Não é um discípulo de Jesus aquele que, vendo seu irmão ser esbofeteado, se
apressa em cortejar o agressor ofecendo-lhe a outra face da vítima.

Fundamentalismo?

O mais extraordinário é que as forças anticristãs e antijudaicas, mal escondendo seu apoio à ocupação
islâmica do mundo ocidental, prevalecem-se da própria imagem sangrenta do radicalismo islâmico para
projetá-la sobre todas as comunidades religiosas, sobretudo aquelas que são vítimas usuais da violência
muçulmana, e transmitir ao mundo a noção de que todas são, no fundo, terroristas. O manejo astuto do termo
“fundamentalismo” tem servido para esse ardil, que desonra qualquer língua culta. Esse termo designava
originariamente certas seitas protestantes afeitas a uma leitura literal da Bíblia ou, mais genericamente,
qualquer comunidade religiosa decidida a conservar o apego às suas tradições (um direito que hoje se reserva
para muçulmanos, índios, africanos e seus descendentes, negando-o a todo o restante da espécie humana). Ao
transferir o uso desse qualificativo para os terroristas islâmicos, a grande mídia e os intelectuais ativistas que
a freqüentam cometeram uma impropriedade proposital. De um lado, esse uso camuflava o fato de que esses
radicais não eram de maneira alguma tradicionalistas: eram revolucionários profundamente influenciados
pelas ideologias de massa ocidentais – comunismo e nazifascismo –, bem como pelo pensamento
“vanguardista” de Heidegger, Foucault, Derrida e tutti quanti. De outro lado, e por isso mesmo, o termo
assim empregado ia-se imantando de conotações repugnantes, preparando seu uso futuro como arma de
guerra psicológica contra as mesmas comunidades religiosas que o radicalismo islâmico tomava e toma
como suas vítimas preferenciais: os cristãos e os judeus. Numa terceira fase, o qualificativo passou a ser
usado ostensivamente contra essas comunidades, ao mesmo tempo que se espalhava pelo mundo a campanha
de difamação anti-religiosa da qual o sr. Richard Dawkins é agora o mais espalhafatoso garoto-propaganda.
Durante a invasão do Iraque, rotular como “fundamentalistas” o presidente Bush (cristão) e o secretário
Rumsfeld (judeu) tornou-se repentinamente obrigatório em toda a mídia chique, com uma uniformidade que
comprova, uma vez mais, a presteza da classe jornalística em colaborar com a reforma orwelliana do
vocabulário.

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Realizando um sonho de infância

Desde pequenos, os membros da futura Comissão de Desconstituição e Injustiça da Câmara Federal nutriam
profunda revolta contra as palmadas que levavam de seus progenitores em represália ao exercício de direitos
humanos fundamentais, como o de tentar furar os olhos de seus irmãozinhos, atear fogo à casa, esganar os
periquitos da vizinha, esticar um barbante entre os degraus da escada só para ver a vovó rolando ou praticar
qualquer outra daquelas truculências encantadoras que prenunciam uma brilhante maturidade de discípulos
de Che Guevara.

Na adolescência, ainda parcialmente oprimidos sob a autoridade familiar, comoviam-se até às lágrimas com
a perspectiva de tornar-se, à imagem do mestre, “eficientes e frias máquinas de matar” e sair massacrando
padres, burgueses, pais, mães e demais autoridades, “pero sín perder la ternura jamás”.

O sonho kitsch do morticínio meigo encantou sua juventude e tornou-se o ideal orientador de sua formação
moral. Infelizmente, durante todo esse longo período, nada puderam fazer de substantivo contra a autoridade
opressora, da qual dependiam para seu sustento, vestuário, educação, lazer e outras maldades a que se
submetiam com paciência de verdadeiros mártires do socialismo. Em segredo, juravam que um dia iam
acabar com toda aquela injustiça capitalista.

Agora, crescidinhos, tiveram finalmente uma oportunidade da vingança redentora contra papai & mamãe.
Ainda não puderam mandá-los para a cadeia, mas já quebraram a espinha dorsal da sua autoridade.
Aprovaram, em caráter conclusivo, o Projeto de Lei 2654/03, que proíbe qualquer forma de castigo físico em
crianças e adolescentes. O projeto será encaminhado ao Senado, sem precisar ser votado pelo Plenário da
Câmara.

O incentivo direto e indireto à delinquência infanto-juvenil tem sido, há quase um século, um dos
instrumentos fundamentais usados pelos ativistas de esquerda para minar a ordem social capitalista, gerando
dentro dela um caos infernal para em seguida poder acusá-la de ser precisamente isso e propor a salvação
geral mediante o acréscimo de controles estatais e burocráticos, exercidos, é claro, por eles mesmos.
Intimamente associada a essa estratégia, a transferência progressiva de todas as formas de controle social
para o grupo politicamente ativo é também um objetivo constante da subversão comunista. Todos os meios
são usados para isso, sempre sob pretextos edificantes que colocam o eventual adversário na posição
incômoda de parecer um defensor do mal. As mães que derem uma palmada no bumbum de seus filhos, por
exemplo, serão agora encaminhadas compulsoriamente a um “programa comunitário de proteção à família”.
Quem pode ser contra a proteção à família? Na URSS, os dissidentes eram encaminhados à “assistência
psiquiátrica gratuita”. Quem pode ser contra o tratamento gratuito dos doentes mentais?

Nos EUA, já se tornou impossível ignorar o vínculo de causa e efeito entre as reformas educacionais
“progressistas” adotadas desde John Dewey (1859-1952) e o crescimento avassalador da delinqüencia
infanto-juvenil, um problema que o Estado já desistiu de eliminar, contentando-se agora em dedicar-se ao
“gerenciamento de danos”, isto é, em adestrar a sociedade para que aceite o estado de coisas como fatalidade
inevitável. (Sugiro, quanto a esse ponto, a leitura de Joel Turtel, Public Schools, Public Menace : How
Public Schools lie to Parents and Betray our Children , Charlotte T. Iserbyt, The Deliberate Dumbing Down
of America , Berit Kjos, Brave New Schools: Guiding Your Child Through the Dangers of the Changing
School System , Brenda Scott, Children No More: How We Lost a Generation, Bob Whitaker, Why Johnny
Can’t Think e John Taylor Gatto, Dumbing Us Down: The Hidden Curriculum of Compulsory Schooling.
Todos esses livros podem ser encontrados pelo site www.bookfinder.com.) Simultaneamente, a
intelectualidade ativista tira proveito da situação que ela própria criou, imputando a violência adolescente,
por exemplo, às fábricas de armas, que já existiam no tempo em que as crianças se contentavam com
traquinagens domésticas inofensivas.

A relatora do projeto na Comissão, Sandra Rosado (PSB-RN), justificou a nova lei afirmando que “educar
pela violência é uma abominação, incompatível com o atual estágio de evolução da sociedade”. Decerto:
quando um país, governado pelos gangsters do Mensalão intimamente associados aos narcotraficantes das
Farc, chega aos 50 mil homicídios por ano e ainda se preocupa mais em amarrar as mãos dos policiais do que
em deter os criminosos, isso é um estágio de evolução incompatível com palmadas educativas nos bumbuns
das crianças travessas. O tempo de tentar educar as safadinhas já passou: elas já estão todas na Câmara
Federal.

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Somada às demais medidas concomitantes tomadas pelo Estado-babá para a proteção dos delinqüentes e a
criminalização de todas as formas tradicionais de autoridade, a nova lei promete ter efeitos culturais que
farão Antonio Gramsci e os fundadores da Escola de Frankfurt ter orgasmos no túmulo. Deve ser – por fim!
— a liberação sexual dos mortos.

Fontes sobre a perseguição anti-religiosa

Livros:

· David Limbaugh, Persecution: How Liberals Are Waging War Against Christianity (Washington, Regnery,
2003).

· Roy Moore, So Help Me God: The Ten Commandments, Judicial Tyranny, and The Battle for Religions
Freedom (Nashville, Tennessee, Broadman & Holman, 2005).

· Janet L. Folger, The Criminalization of Christianity (Systers, Oregon, Multnomah, 2005).

· Rabbi David G. Dalin, The Myth of Hitler’s Pope (Washington DC, Regnery, 2005).

· David B. Barrett & Todd Johnson, World Christian Trends, Ad 30-Ad 2200: Interpreting the Annual
Christian Megacensus. William Carey Library, Send the Light Inc, 2003.

· E. Michael Jones, Libido Dominandi: Sexual Liberation and Political Control (South Bend, Indiana, St.
Augustine’s Press, 2000).

Internet:

· http://www.christianpersecution .info/

· http://zbh.com/links/martyred .htm

· http://www.freedomhouse.org /religion/

· http://www.christianmonitor .org/

· http://www.worship.com/help/

· http://www.wayoflife.org/fbns /state.htm

· http://www.thegreatseparation .com/newsfront/christian _persecution/

· http://www.persecution.com/

· http://www.jews4fairness.org /index.php

· http://www.wnd.com (site de notícias em geral, acompanha regularmente as notícias de perseguição


religiosa no mundo).

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Olavo de Carvalho
1 dia atrás

Relembrando sábias palavras do Professor.


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2 dias atrás

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