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BÍBLICAS
BÁSICAS
1. EMENTA DA DISCIPLINA
A disciplina consiste na apresentação dos principais assuntos teológicos e doutri-
nários de nossa fé cristã, apresentados de forma lógica e sistematizada, fundamenta-
dos nas Escrituras Sagradas.
2. OBJETIVOS GERAIS
Com a disciplina Doutrinas Bíblicas Básicas pretende-se que o aluno seja capaz
de:
tFormular os principais conceitos da doutrina bíblica e da fé cristã.
tRefletir, analisar problemas teológicos e encontrar soluções.
tTraduzir a terminologia bíblica e técnica dos conceitos doutrinários.
tAplicar as doutrinas à sua vida prática.
3. CONTEÚDO
Unidade 01 – Bíblia ................................................................................ 10
Unidade 02 – Deus ................................................................................. 15
Unidade 03 – Criação ............................................................................ 20
Unidade 04 – Ser Humano ..................................................................... 25
Unidade 05 – Pecado .............................................................................. 29
Unidade 06 – Cristo ............................................................................... 31
Unidade 07 – Salvação ............................................................................ 35
Unidade 08 – Espírito Santo ................................................................... 38
Unidade 09 – Igreja ................................................................................ 43
Unidade 10 – Últimas Coisas .................................................................. 48
4. AUTORIA
Claiton André Kunz - Bacharelado em Teologia pelo Seminário Teológico
Batista de Ijuí, atual Faculdade Batista Pioneira, e Bacharelado em Filosofia pela
Unijuí. Mestre em Novo Testamento pela Faculdade Teológica Batista de São Pau-
lo. Mestre e Doutor em Teologia (Bíblia) pela Escola Superior de Teologia de São
Leopoldo. Diretor, Coordenador Acadêmico e professor da Faculdade Batista Pio-
neira, e professor convidado do Mestrado Profissional em Teologia da Faculdade
Batista do Paraná. Pastor auxiliar e coordenador de Evangelismo e Missões da Pri-
meira Igreja Batista em Ijuí. Casado com Marivete Zanoni Kunz e pai de Hannah
Zanoni Kunz.
5. DIREITOS
Este texto é parte integrante do Manual de Capacitação Ministerial. Todos os
direitos reservados à Faculdade Batista Pioneira. Fica vedada a reprodução total ou
parcial sem autorização da instituição.
UNIDADE 01 - BÍBLIA
OBJETIVO
Compreender a origem, a natureza e a importância da Bíblia como Palavra de
Deus.
CONTEÚDO
A palavra “Bíblia” deriva da palavra grega biblion (rolo ou livro). Mais exatamen-
te, um biblion era um rolo de papiro (uma planta semelhante a uma taquara, cuja
casca interna era secada para se tornar um material de escrita de uso generalizado
no mundo antigo). Hoje a palavra tem uma conotação mais significativa: refere-se
ao Livro por excelência, o registro conhecido da revelação divina.
1.1 Revelação
No livro de Jó, vemos uma pergunta muito interessante: “Pode alguém conhecer
a Deus em profundidade?” (Jó 11.7). Vejamos:
tDEUS: é Criador (Gn 1.1), existe livremente, separado da existência do ho-
mem, é onisciente, é onipotente, etc.
tSER HUMANO: foi criado (Gn 1.27), é limitado em poder, em conheci-
mento e está em completa dependência de Deus.
Há, portanto, grandes diferenças entre Deus e o ser humano: diferença de exis-
tência, de conhecimento (só Deus conhece verdadeiramente a Si mesmo; nosso au-
toconhecimento não inclui o conhecimento de Deus) e também no aspecto moral/
espiritual.
Desta forma, como poderia o ser humano conhecer a Deus? Existe uma única
solução para este problema: Deus precisa se revelar!
t%B)JTUØSJB %O
F
t%BDPOTDJÐODJB (O3N+P
Leia os textos indicados e veja como esta revelação acontece.
A revelação geral:
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t%ÈCBTFQBSBBWJEBNPSBMEBTPDJFEBEF 3N
t5PSOBPIPNFNDVMQBEPEJBOUFEF%FVT 3N
F
t'BWPSFDFPFOUFOEJNFOUPEBSFWFMBÎÍPFTQFDJBM
1.2 Inspiração
Inspiração é a “influência sobrenatural, exercida pelo Espírito Santo, sobre homens divina-
mente escolhidos, em virtude da qual seus escritos tornaram-se fidedignos e autoritários” (Carl
F. H. Henry). Podemos afirmar que enquanto a revelação é o conteúdo, a inspiração é
o meio. Dois textos são extremamente importantes para este tema: leia 2Tm 3.16 e
2Pe 1.21.
1.3 Canonização
Por canonização das Escrituras queremos dizer que, de acordo com “padrões”
determinados e fixos, os livros incluídos na Bíblia são considerados partes integran-
1.4 Preservação
É a operação divina que garante a permanência da Palavra Escrita, com base na
aliança que Deus fez acerca de Sua Palavra eterna (Sl 119.89,152; 1Pe 1.23). Os
céus e a terra passarão (2Pe 3.10), mas a Palavra de Deus permanecerá (Mt 24.35;
Is 40.8).
Quando pensamos no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável per-
seguição, a maravilha da sua sobrevivência transforma-se em milagre. Por dois mil
anos, o ódio do homem pela Bíblia tem sido persistente, determinado, incansável
e assassino. Todo esforço possível tem sido feito para corroer a fé na inspiração e
autoridade da Bíblia, e inúmeras operações têm sido levadas a efeito para fazê-la
desaparecer. Decretos imperiais foram passados ordenando que todas as cópias exis-
tentes da Bíblia fossem destruídas, e quando essa medida não conseguiu exterminar
e aniquilar a Palavra de Deus, ordens foram dadas para que qualquer pessoa que
fosse encontrada com uma cópia das Escrituras fosse morta (Ver Jr 36.27-32).
Hoje a estratégia de Satanás sobre a Palavra de Deus é diferente, pois já que ele
não consegue destruí-la, procura desacreditá-la (negando sua inspiração) e cor-
rompê-la com interpretações pervertidas da verdade (1Tm 4.1,2; 2Tm 4.3-4; 2Ts
2.9-12). A nós, pois, como igreja, cabe a responsabilidade de defender e preservar a
verdade (1Tm 3.15; 2Tm 2.15).
1.5 Iluminação
É a influência ou ministério do Espírito Santo que capacita todos os que estão
num relacionamento correto com Deus para entender as Escrituras (1Co 2.12; 1Jo
2.27). Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é
dito que o cristão que é espiritual discerne todas as coisas (1Co 2.15), ao passo que
aquele que é carnal não pode receber as verdades mais profundas de Deus que são
comparadas ao alimento sólido (1Co 3.1-3).
1.6 Interpretação
É a explicação do sentido das palavras ou frases de um texto, para torná-los com-
preensíveis. O estudo da interpretação é chamado de hermenêutica, e, em razão de
sua abrangência, será trabalhado em uma disciplina específica.
Aplicações
Compreendendo que Deus se revelou, que as Escrituras foram inspiradas, cano-
nizadas e que foram preservadas durante a história, queremos destacar algumas das
principais características da Bíblia:
a) Autoridade: a autoridade das Escrituras significa que todas as palavras nas
Escrituras são palavras de Deus, de modo que não crer em alguma palavra da Bíblia
ou desobedecer a ela é não crer em Deus ou desobedecer a Ele.
b) Credibilidade: um livro tem credibilidade se relatou veridicamente os assun-
tos como aconteceram ou como eles são; e quando seu texto atual concorda com o
escrito original.
c) Inerrância: significa que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas
no sentido em que foram empregadas e no sentido que realmente se destinavam a
ter, não expressam erro algum. A inspiração garante a inerrância da Bíblia. Inerrân-
cia não significa que os escritores não tinham faltas na vida, mas que os seus ensinos
foram preservados de erros.
d) Suficiência: dizer que as Escrituras são suficientes significa dizer que a Bíblia
contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada estágio da
história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que precisamos
para a salvação, para que, de maneira perfeita, nEle possamos confiar e a Ele obede-
cer. A suficiência das Escrituras nos:
tIncentiva a tentar descobrir aquilo que Deus quer que pensemos e façamos.
tLembra de que não devemos acrescentar nada à Bíblia nem equiparar algum
outro escrito ou revelação moderna à Bíblia.
tDiz que Deus não exige que creiamos em nada sobre si mesmo ou sobre sua
obra redentora que não se encontre na Bíblia.
tDiz que Deus nada exige de nós que não esteja determinado explícita ou im-
plicitamente nas Escrituras.
SUGESTÕES DE LEITURA
ANGUS, Joseph. História, doutrina e interpretação da Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Pu-
blicadora Batista, 1971. 302 p.
COMFORT, Philip W. (Edit.) A origem da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
440 p.
CRISWELL, W. A. A Bíblia para o mundo de hoje. Rio de Janeiro: CPB, 1968. 149 p.
EKDAHL, Elisabeth Muriel. Versões da Bíblia: Por que tantas diferenças? São Paulo:
Vida Nova, 1993. 136 p.
GEISLER, N.; HOWE, T. Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bí-
blia. São Paulo: Mundo Cristão, 1999. 578 p.
GEISLER, N.; NIX, W. Introdução bíblica. Trad. Osvaldo Ramos. São Paulo: Vida,
1997. 253 p.
MEIN, John. A Bíblia e como chegou até nós. Rio de Janeiro: JUERP, 1972. 123 p.
STOTT, John R. W. A Bíblia: o livro para hoje. São Paulo: ABU, 1993. 102 p.
UNIDADE 02 - DEUS
OBJETIVO
Conhecer e compreender sobre Deus, seus atributos e sobre a Trindade.
CONTEÚDO
“Sendo Deus um ser infinito, é impossível que qualquer criatura o conheça exa-
tamente como ele é... Conhecer a Deus em sua plenitude seria tão difícil como
encerrar o Oceano Atlântico numa xícara. Mas Ele se tem revelado a Si mesmo o
suficiente para esgotar a nossa capacidade” (Myer Pearlman).
O texto de Is 40.25-31 engrandece e revela o caráter de Deus. Mas esta não é
senão apenas parte de um capítulo do AT. Somando-se todo o AT e o NT, tem-se
uma fonte rica e viva de informações sobre nosso Deus.
Conclusão
É completamente impossível querermos conhecer a Deus em Sua plenitude. A
melhor definição ainda é que “Deus é Deus”, ou, em Suas próprias palavras: “Eu
SOU o que SOU” (Êx 3.14).
SUGESTÕES DE LEITURA
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GUTZKE, M. G. Manual de doutrina: temas centrais da fé cristã. São Paulo: Vida
Nova, 1990.
LLOYD-JONES, M. Deus o Espírito Santo. São Paulo: PES, 1998.
______. Deus o Pai, Deus o Filho. São Paulo: PES, 1997.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
STOTT, J. R. W. Cristianismo básico. São Paulo: Vida Nova, 1991.
UNIDADE 03 - CRIAÇÃO
OBJETIVO
Conhecer sobre a criação divina, sobre os processos de preservação, cooperação
e governo e também sobre a criação celeste.
CONTEÚDO
3.1 A criação de Deus
O termo “criar” nas Escrituras é usado em dois sentidos:
Criação Imediata: é o ato livre de Deus pelo qual no princípio e para a sua gló-
ria, sem usar materiais preexistentes ou causas secundárias, Ele fez surgir, imediata
e instantaneamente, todo o universo visível e invisível (Hb 11.1; Gn 1.1).
Criação Mediata: aqueles atos de Deus que são também denominados cria-
ção, mas que não dão origem ad nihilo (a partir do nada) às coisas; ao invés disso,
eles moldam, adaptam, combinam ou transformam materiais já existentes (Gn 2.7;
2.21-22).
Alguns aspectos podem ser observados:
tA Criação é distinta de Deus, mas dele dependente: Deus não faz parte da terra, Ele
a criou e a governa (transcendência). Mas Ele está sobremaneira envolvido na criação
(imanência).
tDeus criou o universo para revelar a sua glória: a Criação mostra o poder e a sabe-
doria de Deus, bem acima de qualquer coisa que qualquer criatura possa imaginar
(Is 43.7; Rm 9.17; 11.36).
tO universo que Deus criou era “muito bom”: ao final de cada estágio da Criação,
Deus via que o que fizera era “bom” (Gn 1.4,10,12,18,21,25). Ao final dos seis dias
da criação, “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1.31). Portanto,
nada do que Deus criou é intrinsecamente mau.
que ele os criou; (2) coopera com as coisas criadas em cada ato, dirigindo as suas
propriedades características a fim de fazê-las agir como agem; e (3) as orienta no
cumprimento dos seus propósitos” (Wayne Grudem).
3.2.1 Preservação
Preservação é Deus mantendo a existência de sua Criação (Ne 9.6; Cl 1.17;
Hb 1.3).
Assim, tanto a origem como a continuação de todas as coisas estão sujeitas à von-
tade e à atividade divina. Entretanto, não devemos conceber a preservação como
uma criação contínua.
3.2.2 Cooperação
Deus dirige as coisas criadas, a fim de fazê-las agir como agem.
tA criação inanimada: há muitas coisas que concebemos como naturais, mas, na
verdade, é Deus quem as faz acontecer (Sl 148.8; Jó 37.6-13), segundo a ordem pela
qual as criou.
tOs animais: também é Deus quem os sustenta (Mt 6.26) e controla suas vidas
(Mt 10.29).
tO homem: é Deus quem está por trás do nosso sustento (Mt 6.11), do supri-
mento das necessidades (Fp 4.19), de nossas ações (At 17.28), do querer e do realizar
(Fp 2.13), do sucesso e do fracasso (Sl 75.6-7), etc. Entretanto, em certo sentido po-
demos dizer que os eventos são totalmente (100%) causados por Deus e totalmente
(100%) também causados pelo homem.
tA Humanidade: da mesma forma, é Deus quem rege os acontecimentos que
envolvem a humanidade como um todo (Sl 22.28; Dn 2.21), embora seja o homem
quem os realize.
3.2.3 Governo
Com soberania de Deus queremos dizer que, como Criador de todas as coisas
visíveis, Deus é dono de tudo; que Ele, portanto, tem direito absoluto de governar
tudo (Mt 20.15) e que Ele verdadeiramente exerce esta autoridade no universo (Ef
1.11).
A extensão do governo de Deus é universal, alcançando todas as coisas. Seu mé-
todo é por meio de: leis físicas (Sl 104.8-9; 148.6), leis morais (Rm 2.14-15) e leis
espirituais (Ez 36.27; 18.4; Rm 1.16-17; At 16.31).
Hoje habitam na presença de Deus (Is 6.1-6), nos lugares celestiais (Ef 3.10). Seu
destino será estar na presença de Deus e na presença de Cristo no seu reino (Ap
21-22).
3.3.3 Satanás
Satanás ou Diabo é o chefe dos anjos caídos. É descrito como sutil (Gn 3.1),
provocador (1Cr 21.1), assassino e mentiroso (Jo 8.44), cheio de todo o engano e
de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, aquele que perverte os retos caminhos
do Senhor (At 13.10). Tem poder, sinais e prodígios da mentira (2Ts 2.9). Pecador
desde o princípio (1Jo 3.8), sedutor de todo o mundo (Ap 12.9). Pode aparecer
como um anjo de luz (2Co 11.14).
Sua atividade pode ser descrita da seguinte forma: ele incita (1Cr 21.1), passeia
pela terra (Jó 1.7), pode cegar pessoas (Lc 13.16), cega espiritualmente os incrédulos
(2Co 4.4), lança dardos inflamados (Ef 6.16), impede (1Ts 2.18), condena e prende
(1Tm 3.6-7), procura devorar (1Pe 5.8), arrebata a Palavra de Deus semeada (Mt
13.19), etc. Alguns exemplos específicos: tentou Jesus (Mt 4.1), quis peneirar Simão
Pedro (Lc 22.31), entrou em Judas e o persuadiu a trair Jesus (Jo 13.2,27), etc.
Satanás é um ser limitado. Precisa receber permissão de Deus (Jó 1.12), pode ser
resistido (Tg 4.7), pode ser vencido (1Jo 2.13), será vencido pelo sangue do Cordei-
ro (Ap 12.11) e não pode tocar os que são nascidos de Deus (1Jo 5.18).
Seu destino já está traçado. Ele foi expulso do céu (Lc 10.18), julgado por Deus
(Jo 16.11), sua cabeça foi esmagada por Cristo (Gn 3.15), seu poder da morte foi
destruído por Jesus (Hb 2.14), suas obras são destruídas pelo Filho de Deus (1Jo
3.8), preso por mil anos (Ap 20.2), lançado no abismo (Ap 20.3), solto após os mil
anos para seduzir as nações (Ap 20.7-8), lançado no lago do fogo eterno (Ap 20.10;
Mt 25.41).
SUGESTÕES DE LEITURA
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
KENNEDY, D. James. Por que creio. Rio de Janeiro: JUERP, 1990.
LOURENÇO, Adauto. Como tudo começou. São José dos Campos: Fiel, 2007.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
OBJETIVO
Entender sobre a origem do ser humano, a imagem de Deus no ser humano, sua
constituição e sobre sua queda.
CONTEÚDO
4.1 A origem do ser humano
A criação do ser humano é decretada em Gn 1.26 e declarada em Gn 1.27. Em
Gn 2.4-8 é detalhada a criação do homem e em Gn 2.18-25, a criação da mulher.
Somos criaturas de Deus, feitas à imagem de Deus. Deve-se entender que a hu-
manidade não se originou de um processo evolutivo aleatório, mas de um ato cons-
ciente e proposital de Deus. Portanto, a existência humana tem um motivo, uma
razão que repousa na intenção do Ser Supremo.
A imagem de Deus é intrínseca à humanidade. Não seríamos humanos sem ela.
De toda a criação, somente nós somos capazes de ter um relacionamento pessoal
consciente com o Criador e de reagir a Ele.
Deus não precisava criar o ser humano, mas nos criou para a sua própria glória e
essa é a nossa meta: glorificá-Lo (Is 43.7; Ef 1.11-12).
É a imagem de Deus que nos diferencia dos outros animais. É ela que nos iden-
tifica como seres humanos. Fomos todos criados à imagem e semelhança de Deus
(Gn 1.26-27; 5.1; 9.6), mas devido à queda do homem precisamos falar de rege-
neração (Rm 8.29; 2Co 3.18; Cl 3.10), na qual somos feitos à imagem de Cristo.
Assim, todos foram criados à imagem de Deus, mas os regenerados foram feitos à
imagem de Cristo.
corpo físico. A natureza física é algo que temos em comum com os animais e as
plantas. O segundo elemento é a alma. É o elemento psicológico, a base da razão, da
emoção, das relações sociais, etc. E o terceiro elemento é o espírito. Esse elemento
religioso permite aos homens perceber questões espirituais e reagir aos estímulos
espirituais. É o centro das qualidades espirituais do indivíduo, visto que os traços
da personalidade residem na alma. As passagens clássicas em apoio a esta teoria são:
1Ts 5.23 e Hb 4.12.
4.3.2 Dicotomia
Conforme esta concepção, os homens são compostos de dois elementos: um as-
pecto material, o corpo; e um componente imaterial, a alma ou espírito. O corpo é
a parte que morre. A alma, por outro lado, é a parte imaterial que sobrevive à morte.
4.3.3 Monismo
O monismo insiste no fato de que não se pode, de maneira nenhuma, pensar em
nós como seres compostos de partes ou entidades distintas, mas, antes, como uma
unidade radical. No pensamento monístico, a Bíblia não vê o ser humano como
corpo, alma e espírito, mas simplesmente como pessoa. Ser homem é possuir um
corpo. Não há possibilidade de existência desencarnada após a morte. Para os mo-
nistas, a imortalidade da alma é completamente inaceitável.
Para a Humanidade:
tA terra foi amaldiçoada para não produzir apenas o que é bom, exigindo traba-
lho laborioso por parte do homem.
tResultou em tristeza e dor para a mulher no parto, bem como sua sujeição ao
homem.
tTodos os homens são pecadores e estão debaixo da condenação.
tResultou na morte física e espiritual, dentro do tempo, e na penalidade amea-
çada da morte eterna.
tA imagem de Deus no homem se distorce, mas não se perde.
tO homem não perdeu a liberdade de escolha (livre-arbítrio - Gn 4.7).
SUGESTÕES DE LEITURA
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
KENNEDY, D. James. Por que creio. Rio de Janeiro: JUERP, 1990.
LOURENÇO, Adauto. Como tudo começou. São José dos Campos: Fiel, 2007.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
UNIDADE 05 - PECADO
OBJETIVO
Conceituar o que é pecado e compreender sobre a sua origem, sua natureza e
suas consequências.
CONTEÚDO
5.1 Definição de pecado
Pecado é deixar de se conformar à lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude,
seja em natureza (Wayne Grudem). Pecado é transgressão da Lei, omissão da Lei de
Deus, revolta ou rebelião contra o Legislador, infidelidade ou traição a Deus, rom-
pimento do relacionamento com Deus, inimizade contra Deus, troca da verdade de
Deus pela mentira ou rejeição do conhecimento. Ver 1Jo 3.4; Tg 2.8-12; 4.17; Gl
3.10-12; Rm 1.18-32; 4.15; 7.7-13; Ef 2.5; 2Tm 2.16; Mt 6.12.
SUGESTÕES DE LEITURA
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Batista Re-
gular, 1997.
UNIDADE 06 - CRISTO
OBJETIVO
Conhecer sobre a pessoa de Cristo, sua preexistência, sua natureza, seus ofícios
e sua obra.
CONTEÚDO
6.1 Preexistência de Cristo
Muitos imaginam que Cristo surgiu há apenas 2000 anos e não se lembram da
sua preexistência. Entretanto, ela pode ser observada por meio de muitos modos:
tAntigo Testamento: Mq 5.2; Is 9.6 (Pai da Eternidade);
tNovo Testamento: Jo 1.1,14; Jo 8.58; Fp 2.6; Cl 1.15;
tPelas suas obras: algumas de suas obras exigem sua preexistência (ex.: criação –
Cl 1.16)
tPor aparições: Gn 22.11; Nm 22.23-24; Jz 6.11; 13.3, etc.
=> Uma observação lógica pode ser feita aqui. A Bíblia é clara ao afirmar a eter-
nidade do Pai (Sl 90.2). Para que alguém possa ser Pai é preciso que tenha um filho.
Logo, se Deus é Pai eterno, é necessário que Ele tenha um Filho igualmente eterno.
Ladd afirma: “No próprio princípio do passado da eternidade a Palavra já existia”.
c) Prerrogativas divinas: exerce atribuições que só cabem a Deus (Mc 2.10 – perdo-
ar; Mt 5.21 – alterar a Lei; Jo 8.34-36 – salvar os homens; etc).
d) Testemunho dos apóstolos: para eles Jesus é Deus (Jo 1.1; 20.28).
9.26); há a redenção da maldição da lei (Gl 3.13); perdão dos pecados (Ef 1.7); re-
conciliação com Deus (Rm 5.10); filiação (Gl 4.3-5); etc.
c) Em relação a Satanás e aos poderes das trevas: Satanás é expulso (Jo 12.31-33)
e destruído (provisoriamente tornado ineficaz - Hb 2.14); e os principados e pode-
res são derrotados (Cl 2.14-15).
SUGESTÕES DE LEITURA
CULLMANN, Oscar. Cristologia no Novo Testamento. São Paulo: Custom, 2002.
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Batista
Regular, 1997.
UNIDADE 07 - SALVAÇÃO
OBJETIVO
Conhecer e saber conceituar os diversos aspectos do processo da salvação: cha-
mada, conversão, regeneração, justificação, santificação, perseverança, glorificação,
entre outros.
CONTEÚDO
Salvação, numa definição breve, é a aplicação da obra de Cristo na vida do
indivíduo. O seguinte esquema pode facilitar a compreensão daquilo que está en-
volvido no processo de salvação.
7.1 Antecedentes
* Chamada: o homem é um ser pecador e somente mediante a iluminação
do Espírito Santo poderá compreender o significado do Evangelho (Jo 16.7-11). É
transparente em toda a Bíblia a vontade divina de que todos sejam salvos: 2Pe 3.9;
Jo 3.16-18; Rm 2.11; Ez 18.23; 18.32; 33.11; 1Tm 2.4; At 17.30-31; Mt 11.28-30;
2Co 5.19-20; Ap 22.17; Rm 5.18; 1Jo 2.2; Tt 2.11; Mt 28.18-20; Mc 16.15-16 e
Lc 24.46-47. Entretanto, da mesma forma a responsabilidade humana também é
ressaltada: Jo 3.36; Ap 2.5; Lc 18.18-23; Mc 8.38 e Lc 9.23-26.
7.2 Início
* Conversão: é o ato de deixar o pecado em arrependimento (At 2.38; 3.19; Lc
13.2-5; At 26.20) e voltar-se para Cristo em fé (Ef 2.8; Tg 2.14-26; Mc 16.16; At
16.31). Em 1Ts 1.9-10 vemos os dois lados da conversão: somos salvos de (dos ído-
los, da ira vindoura, etc.) e salvos para (servir ao Deus vivo e verdadeiro e aguardar
dos céus o seu Filho).
Conversão é a resposta humana à iniciativa divina. É a mudança conforme vista
da perspectiva humana.
* União com Cristo: significa tornar-se um com Cristo (Jo 17.21-23). Conse-
quentemente, o indivíduo irá compartilhar: sofrimentos (Rm 8.17), crucificação
(Gl 2.20), morte (Cl 2.2); sepultamento (Rm 6.4), revitalização (Ef 2.5), ressurrei-
ção (Cl 3.1), glorificação e herança (Rm 8.17). O crente também tem a promessa
de que irá reinar com Cristo (2Tm 2.12; Lc 22.30).
7.3 Continuação
* Santificação: processo de transformação real do caráter e da condição da pes-
soa (2Co 3.18). É estar separado das coisas do mundo, estando assim ligado a um
novo caráter moral e espiritual. É uma busca da perfeição (Mt 5.48).
O autor do livro de Hebreus exorta a que se deve seguir a santificação, pois sem
a mesma o indivíduo não verá o Senhor (Hb 12.14). Em 1Pe 1.15-16 a ordem do
Senhor é clara: “Sede santos porque eu sou santo”.
7.4 Consumação
* Glorificação: olha para o mundo vindouro, quando será concluído o processo
da salvação (Fp 3.20-21). É quando a perfeição moral e espiritual é atingida (1Jo
3.2; Fp 3.20-21).
SUGESTÕES DE LEITURA
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HORTON, Michael. A favor do calvinismo. São Paulo: Reflexão, 2014.
OLSON, Roger. Contra o calvinismo. São Paulo: Reflexão, 2013.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Batista Re-
gular, 1997.
OBJETIVO
Compreender quem é o Espírito Santo, saber como ele atuava no Antigo Testa-
mento, como ele foi derramado sobre todos os que creem e como atua nos dias de
hoje.
CONTEÚDO
O Espírito Santo é o ponto em que a Trindade torna-se pessoal para o que crê.
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Todas estas coisas são próprias e exclusivas de Deus. Sendo assim, o Espírito
Santo é Deus.
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b) Suas ações
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veio ocupar o lugar de Jesus e continuar a obra de redenção. A palavra grega usada
para “outro” (aölloj) indica que Ele é da mesma natureza do primeiro, Jesus Cris-
to, ou seja, um ser pessoal.
SUGESTÕES DE LEITURA
BRUNER, Frederick Dale. Teologia do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 1983.
CRANE, James. O Espírito Santo na experiência cristã. Trad. José dos Reis Pereira.
Rio de Janeiro: JUERP, 1978.
EDWARDS, Jonathan. A verdadeira obra do Espírito Santo: sinais de autenticidade.
Trad. Valéria Fontana. São Paulo: Vida Nova, 1992.
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
GRAHAM, Billy. O poder do Espírito Santo. Trad. Hans Udo Fuchs. São Paulo:
Vida Nova, 1995.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
HARBIN, Byron. O Espírito Santo: na Bíblia – na história – na igreja. Rio de Ja-
neiro: JUERP, 1995.
KORNFIELD, David. Desenvolvendo dons espirituais e equipes de ministério. São Paulo:
SEPAL, 1998.
ROBINSON, Darrell W. Igreja: celeiro de dons. Rio de Janeiro: JUERP, 2000.
SCHWARZ, Christian A. As 3 cores dos seus dons. Curitiba: Esperança, 2003.
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática. Curitiba: A. D. Santos, 1999.
STOTT, John R. W. Batismo e plenitude do Espírito Santo. Trad. Hans Udo Fuchs.
São Paulo: Vida Nova, 1993.
UNIDADE 09 – IGREJA
OBJETIVO
Entender o conceito de igreja, seu governo, o funcionamento da disciplina e o
significado da ceia e do batismo.
CONTEÚDO
9.1 Definição
O conceito de igreja já existia no início do período do Novo Testamento, pois
Estevão aplica o termo ekklesia a Israel (At 7.38). O próprio Senhor Jesus, ao intro-
duzir o termo, também não o explica, apenas afirma “edificarei a minha igreja” (Mt
16.18).
O termo ekklesia significa “assembleia, congregação, reunião”, ou então “cha-
mados para fora”. A novidade em Jesus é que estava por edificar a “Sua” igreja (Mt
16.18), a qual Ele amou e se entregou por ela (Ef 5.25).
O início desta igreja parece ter se dado no dia de Pentecostes quando 120 pessoas
estavam reunidas (At 1.15) e receberam a presença permanente do Espírito Santo
(At 2.1-4). Naquele mesmo dia, quase três mil pessoas foram acrescidas (At 2.41)
e perseveravam na comunhão (At 2.42), tinham tudo em comum (At 2.44) e dia a
dia o Senhor lhes acrescentava os que iam sendo salvos (At 2.47).
Dentro do conceito de igreja, deve-se ainda fazer menção à Igreja Universal e à
Igreja Local.
tIgreja Universal é a reunião de todos os salvos de todos os tempos e em todos
os lugares do mundo, da qual Cristo é o cabeça, o chefe Supremo, a pedra angular
(Mt 16.18; Cl 1.18; Hb 12.22-24; Ef 1.22-23; 3.8-11; 5.25-27; Jo 10.16; 1Pe 2.4-8;
At 9.31). Esta Igreja jamais será destruída (Mt 16.18).
tIgreja local é a comunidade de pessoas regeneradas; é a manifestação da igreja
ideal (o Corpo de Cristo) no tempo e no espaço. Porém, nem sempre tem cumpri-
do seu papel de manifestação da igreja ideal (Rm 2.24). Na maioria das vezes em
que o termo ekklesia é mencionado no Novo Testamento refere-se a esta manifesta-
ção local (1Co 15.9; Gl 1.13; 2Co 1.1; 1Co 1.2,11,16, etc.)
Funções da Igreja:
tAdoração: exaltar e glorificar o nome de Deus (Lc 10.27a; At 2.46), que é a
razão da existência do próprio ser humano (Ef 1.6,12).
tEvangelização: levar o evangelho a todas as criaturas, apresentando a oferta da
salvação (Mc 16.15), cujo resultado é o acréscimo daqueles que vão sendo salvos (At
2.47). Para esta missão, a igreja é dotada de um poder especial (At 1.8).
tDiscipulado: evangelizar é apenas um dos passos em relação às pessoas. Possibi-
litar um crescimento por meio da perseverança na sã doutrina (At 2.42) e da instrução
(Mt 28.19-20) é a continuação deste trabalho.
tComunhão: proporcionar um ambiente onde o convertido possa desenvolver
sua vida cristã de uma forma sadia, junto com outros irmãos (At 2.44).
tServiço: dar assistência aos irmãos na fé auxiliando-os nas dificuldades (At
2.45). Servir uns aos outros com o dom que cada um recebeu (1Pe 4.10).
9.2 Governo
Como descrito acima, o cabeça da Igreja é Cristo (Cl 1.18), e isto deve se mani-
festar também na igreja local. Entretanto, é necessário que a igreja local se organize a
partir das pessoas que fazem parte da mesma. Conforme a prática atual das diversas
denominações, são conhecidas três formas de governo: episcopal, presbitério e con-
gregacional.
Observando a prática eclesiástica do Novo Testamento, verifica-se que cada igreja
elegia seus próprios oficiais (At 1.23,26; 6.1-6; 15.2-3), tinha poder para exercer sua
própria disciplina (Mt 18.17,18; 1Co 5.13; 2Ts 3.6,14,15), tomava suas decisões (At
15.22) e enviava representantes (2Co 8.19) e missionários (At 13.2,3). Estas e outras
observações parecem indicar que a igreja é autônoma e deve tomar suas decisões de-
mocraticamente. Assim sendo, o modelo congregacional reflete melhor a prática da
igreja primitiva.
Dentro desta forma de organização existem duas classes de oficiais:
a) Pastores, bispos e presbíteros: estes três termos denotam um único cargo. Seu dever
é supervisionar (1Tm 3.1), presidir (1Tm 5.17), defender a sã doutrina (Tt 1.9) e
pastorear (1Pe 5.2-4). Suas qualificações são descritas por Paulo em dois textos: Tt
1.7-9 e 1Tm 3.1-6.
b) Diáconos: esta função vem do termo “diakonia”, que significa servir. É exatamen-
te para esta função que eles são escolhidos (At 6.1-6). Quanto às qualificações dos
diáconos, Paulo também faz referência em sua carta a Timóteo (1Tm 3.8-10,12-13).
9.3 Disciplina
O Senhor da Igreja que ordenou o amor ao próximo é o mesmo que ordenou o
exercício da disciplina eclesiástica. A disciplina apropriadamente executada é uma
profunda exibição de amor cristão. Uma definição de disciplina pode ser: “Todos
os meios e medidas pelos quais a igreja busca a sua santificação e boa ordem neces-
sária para a edificação espiritual e eliminação de tudo que ameaça seu bem-estar”.
A disciplina bíblica deve favorecer o crescimento da igreja porque cria o clima e
prepara o solo de tal maneira que o crescimento surge espontaneamente.
Biblicamente, a disciplina na igreja tem um triplo propósito:
1. Restabelecer o pecador (Mt 18.15; 1Co 5.5; Gl 6.1);
2. Manter a pureza da igreja (1Co 5.6-8) e
3. Dissuadir outros (1Tm 5.20).
Este triplo propósito é que deve orientar a aplicação correta da disciplina eclesiás-
tica.
A partir destes conceitos, que devem apontar para os passos a serem seguidos
numa aplicação correta da disciplina, podemos descrever assim o processo, baseado
em Mateus 18.15-18:
a) Abordagem individual: mesmo sendo arriscado confrontar alguém, pois
não podemos prever sua reação, Jesus dirige nossa atenção para a alegre possibili-
dade de que tal irmão nos ouça. O versículo 15 (Se teu irmão pecar vai argui-lo entre ti
e ele só...) ensina que a confrontação é uma tarefa cristã. A melhor coisa a fazer por
um irmão em pecado é confrontá-lo em amor (Pv 27.5-6).
b) Admoestação privada: no caso de o ofensor não atender à confrontação
individual, Jesus ordena que haja admoestação privada (v. 16). Nesse caso, um nú-
mero maior de pessoas é envolvido. Nosso pecado traz consequências pessoais e
coletivas, portanto o ofensor precisa ser conscientizado quanto aos prejuízos de sua
atitude para com a comunidade do corpo de Cristo.
Além disso, estas outras pessoas envolvidas no processo serão testemunhas (talvez
uma alusão à prática veterotestamentária de não condenar alguém com base apenas
em opinião pessoal – Nm 35.30 e Dt 19.15). Com isso diminui a chance de injus-
tiça para com o ofensor.
c) Pronunciamento público: (v. 17) tal proceder nunca é violação de segredos,
pois o ofensor deliberadamente recusou os caminhos prévios ao arrependimento.
Diante disso, cada membro do corpo de Cristo deve orar pelo pecador, evitar co-
mentários desnecessários (2Ts 3.14-15) e vigiar a si próprio (1Co 10.12).
Cada um desses passos envolve dor, tempo, amor e transparência. Nenhum deles
é agradável e eles só prosseguem diante da dureza de coração do ofensor, ou seja, a
recusa ao arrependimento. Há, porém, o conforto de saber que a presença e o po-
der de Jesus são reais mesmo no contexto desse processo (Mt 18.19-20). Assim, a
disciplina não é uma atividade a ser realizada facilmente, mas algo a ser conduzido
na presença do Senhor.
9.4 Batismo
O batismo e a Ceia do Senhor são duas ordenanças da igreja estabelecidas pelo
próprio Jesus Cristo, sendo ambas de natureza simbólica (Mt 3.5,6,13-17; 26.26-
30; 28.19; Jo 3.22, 23; 4.1,2; 1Co 11.20, 23-30). O batismo consiste na imersão
do crente em água, após sua pública profissão de fé em Jesus Cristo como Salvador
único, suficiente e pessoal (At 2.41,42; 8.12,36-39; 10.47,48; 16.33; 18.8).
Ele simboliza a morte e o sepultamento do velho homem e a ressurreição para
uma nova vida em identificação com a morte, o sepultamento e a ressurreição do
Senhor Jesus Cristo e também como prenúncio da ressurreição dos remidos (Rm
6.3-5; Gl 3.27; Cl 2.12; 1Pe 3.21). O batismo, que é condição para ser membro
de uma igreja, deve ser ministrado sob a invocação do nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (Mt 28.19; At 2.38,41,42; 10.48).
9.5 Ceia
A Ceia do Senhor é uma cerimônia da igreja reunida, comemorativa e proclama-
dora da morte do Senhor Jesus Cristo, simbolizada por meio dos elementos utiliza-
dos: o pão e o vinho (Mt 26.26-29; 1Co 10.16,17-21; 11.23-29). Nesse memorial
o pão representa o seu corpo, dado por nós no Calvário, e o vinho simboliza o seu
sangue derramado (Mt 26.29; 1Co 11.26-28; At 2.42, 20.4-8). A Ceia do Senhor
deve ser celebrada pelas Igrejas até a volta de Cristo e sua celebração pressupõe o
batismo bíblico e o cuidadoso exame íntimo dos participantes.
SUGESTÕES DE LEITURA
DEVER, Mark. Nove marcas de uma igreja saudável. São José dos Campos: Fiel, 2007.
307 p.
GETZ, Gene A. Igreja: forma e essência. São Paulo: Vida Nova, 1994.
SHEDD, Russell P. Disciplina na igreja. São Paulo: Vida Nova, 1983.
SHELLEY, Bruce L. A igreja: o povo de Deus. Trad. Neyd Siqueira. São Paulo:
Vida Nova, 1984.
OBJETIVO
Compreender os principais conceitos das coisas que ainda estão por vir, como a
volta de Cristo, a grande tribulação, a ressurreição, o arrebatamento, o juízo final e
o estado eterno.
CONTEÚDO
10.1 Volta de Cristo
A Volta de Cristo é a profecia mais enfatizada no NT:
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Tt 2.13; Tg 5.7-8; 2Pe 3.9-10).
A Volta de Cristo será pessoal, exterior, visível e gloriosa. Cristo voltará pessoal-
mente, e não apenas seu Espírito ou sua influência poderosa (Jo 14.3; At 1.10-11).
Será uma vinda exterior, e não apenas subjetiva (Mt 24.30). Será visível a todos, e
não de maneira oculta, espiritual ou invisível (Hb 9.28; Fp 3.20; Ap 1.7). Ele virá
em resplendor de glória (Mt 16.27; 25.31) e de modo repentino (Mt 24.42; 25.13).
A Bíblia afirma que o tempo da Volta de Cristo é desconhecido, até mesmo
por Cristo (Mt 24.36-39), de modo que a sua vinda será repentina (Mt 24.44-45;
25.13; Lc 12.45-46; 1Ts 5.2-3; 2Pe 3.10). Durante a história do cristianismo, al-
gumas pessoas e alguns grupos calcularam a volta de Cristo, mas todos fracassaram.
Jesus mesmo afirmou que “não nos compete conhecer tempos e épocas que o Pai
reservou para a sua exclusiva autoridade” (At 1.7).
Diante da certeza da Sua volta e da incerteza quanto ao tempo da mesma, a ati-
tude correta do cristão deve ser a vigilância (Mt 24.42,44,46; 25.13).
10.3 Ressurreição
A ressurreição dos mortos deve ser distinguida das ressuscitações, ou restabele-
cimento da vida humana normal. No Antigo Testamento há três casos de ressusci-
tações (1Rs 17.17-23; 2Rs 4.18-36; 2Rs 13.20-21) e no Novo Testamento, cinco
casos (Mc 5.35-42; Lc 7.11-15; Jo 11.1-44; At 9.36-42; At 20.9-12). Entretanto,
ressuscitação é a restauração da vida que se deixou. Já ressurreição é a entrada num
novo estado de existência.
No Antigo Testamento há poucos indícios de uma ressurreição futura (Jó 14.13-
15; Sl 49.15; 73.24; Is 26.14,19; Dn 12.2). Entretanto, Jesus ensinou claramente
uma ressurreição geral de justos e injustos (Mt 22.23-33; Mc 12.18-27; Lc 20.27-
38; Jo 5.28).
A ressurreição será literal e corpórea. É o corpo físico que ressuscita (1Co 15.42).
Assim como a ressurreição de Jesus foi literal e foi o seu corpo que ressuscitou, as-
sim também será a nossa ressurreição, pois Ele é a primícia dos que dormem (1Co
15.20).
10.4 Arrebatamento
É a expressão usada para se referir à união da Igreja com Cristo na Sua segun-
da vinda. A principal passagem bíblica na qual este ensinamento é baseado é 1Ts
4.15-17: “15 Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos,
os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dor-
mem. 16 Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do
arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro; 17 depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim,
estaremos para sempre com o Senhor”.
Rm 2.5-11; Hb 9.27; 2Pe 3.7; Ap 20.11-15). Este julgamento não pode ser equi-
parado aos julgamentos parciais e temporais de Deus sobre as pessoas e nações na
história.
O julgamento final é obra da Trindade. Dentro dela, o poder de julgar é dado
ao Filho (Mt 25.31,32; Jo 5.27; At 10.42; Fp 2.10; 2Tm 4.1). A Bíblia ensina que
todos serão julgados, justos e ímpios (Mt 25.31-46; 1Co 3.12-15; 2Pe 2.4-10; Ap
20.12-13). Quando Jesus declara que os justos não entram em juízo (Jo 5.24), cer-
tamente está dizendo que não entram em condenação.
No julgamento serão considerados alguns elementos:
a) Responsabilidade individual:
Cada pessoa deverá prestar contas de seus atos diante de Deus (Ez 18.2-4; Rm
14.12; Hb 4.13; 1Pe 4.5).
b) Conhecimento da revelação:
No julgamento final será levado em conta o grau de conhecimento que cada um
recebeu de Deus (Rm 1.19-20; 2.18).
c) Obras humanas:
O julgamento levará em conta as obras de cada um (Mt 25.31ss; Jo 5.29; 1Co
3.12-15; Ap 20.13). Não é a fé em si que será julgada, mas as obras como produto
da fé.
O Juízo final não será o momento de descobrir a verdade, mas, sim, de declarar
toda a verdade. Também será o momento de separação entre o bem e o mal (Mt 13.24-30;
25.31ss) e de retribuir a cada um conforme as suas obras (1Co 3.12-16; 2Co 5.10). O
julgamento também significa glorificação a Deus.
SUGESTÕES DE LEITURA
CLOUSE, Robert G. Milênio: significado e interpretações. Campinas: LPC, 1985.
ERICKSON, Millard J. Opções contemporâneas na escatologia. São Paulo: Vida Nova,
1982.
EWERT, David. Então virá o fim: uma escatologia bíblica. Trad. João Marques Ben-
tes. São Paulo: Cristã Unida, 1994.
GONÇALVES Jr., Almir dos Santos. Quando a morte chegar: a realidade da morte e
a necessidade do preparo para enfrentá-la. Rio de Janeiro: Juerp, 1991.
HOEKEMA, Antonio A. A Bíblia e o futuro. São Paulo: Cultura Cristã, 1989.
PENTECOST, J. Dwight. Manual de escatologia: uma análise detalhada. Trad. Car-
los Osvaldo Pinto. São Paulo: Vida, 1998.
SCHALY, Harald. Breve história da escatologia cristã. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP,
1992.
SHEDD, Russell P. A escatologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1983.
______; PIERATT, Alan. Imortalidade. São Paulo: Vida Nova, 1992.