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BIBLIOLOGIA

INDICE
1. INTRODUÇÃO GERAL
2. COMPREENDENDO A REVELAÇÃO DE DEUS AOS HOMENS
1.1. REVELAÇÃO GERAL
1.2. REVELAÇÃO ESPECIAL

3. INTRODUÇÃO HISTÓRICA DA BÍBLIA


2.1. BÍBLIA, SUA ORIGEM E HISTÓRIA
2.2. COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA (ANTIGO E NOVO TESTAMENTO)
2.3. A REFORMA PROTESTANTE E O RETORNO AS ESCRITURAS
4. MANUSCRITOS E TEXTOS ORIGINAIS
4.1. MANUSCRITOS ANTIGOS DA BÍBLIA
4.2. CRÍTICA TEXTUAL E VARIANTES TEXTUAIS
4.3. AS LINGUAS ORIGINAS
1. O HERAICO
2. O ARAMAICO
3. O GREGO

5. OS MATERIAIS DA ESCRITA
5.1. OS INSTRUMENTOS DE ESCRITA
5.2. SUPORTES USADOS NO PROCESSO DE ESCRITURAÇÃO
5.3. FORMATOS DOS LIVROS
5.4. AS FERRAMENTAS DE ESCRITA
5.5. AS TINTAS

6. TRADUÇÕES DA BÍBLIA
6.1. PANORAMA HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS TRADUÇÕES DA BÍBLIA
7. O CÂNON BIBLICO
7.1. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
7.2. CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA DO ANTIGO TESTAMENTO
7.3. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
7.4. FATORES QUE INFLUENCIARAM A IGREJA NO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO
7.5. CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA DO NOVO TESTAMENTO
7.6. CRITÉRIOS PARA RECONHECER A CANONICIDADE DE UM LIVRO
7.7. O FECHAMENTO DO CÂNON

8. INSPIRAÇÃO, INERRÂNCIA, INFABILIDADE E ILUMINAÇÃO DA BÍBLIA:


6.1. O QUE SIGNIFICA A BÍBLIA SER INSPIRADA POR DEUS
6.2. A QUESTÃO DA INERRÂNCIA DA BÍBLIA
6.3. A ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS
9. DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS:
UMA PALAVRA AOS ALUNOS

Caros(as) alunos(as),

É com grande alegria e gratidão que dou as boas-vindas a todos vocês ao INTEB - Instituto
de Teologia Bíblica. Sejam bem-vindos a esta jornada de aprendizado e crescimento espiritual.
Neste lugar de estudo e reflexão teológica, estamos unidos pela busca do conhecimento das
Escrituras Sagradas, pela compreensão mais profunda da palavra de Deus e pelo aprofundamento na
fé. Aqui, a teologia se torna não apenas uma disciplina acadêmica, mas uma ferramenta para
fortalecer nossa relação com o divino.

Em nossos estudos, exploraremos os ensinamentos da Bíblia, mergulhando nas Escrituras


para compreender a vontade de Deus para nossas vidas. Lembrem-se de que a teologia não é apenas
sobre o que sabemos, mas como isso transforma nossas vidas e nos capacita a servir a Deus e aos
outros.

Nossa jornada será desafiadora, mas também recompensadora. A cada passo, vocês estarão
mais próximos de compreender a sabedoria divina. Este instituto é um ambiente de comunhão e
apoio mútuo, onde podemos crescer juntos na fé.

Portanto, convido cada um de vocês a se dedicar com paixão e diligência aos estudos, a se
envolver nas discussões teológicas e a buscar uma relação mais profunda com Deus.

Que este tempo no INTEB seja abençoado e que, ao final de sua jornada, vocês saiam daqui
não apenas com um diploma, mas com um coração transformado e um chamado divino mais claro.

Bem-vindos, queridos alunos, ao INTEB - onde a teologia se torna vida.

Que Deus os abençoe ricamente em sua jornada acadêmica e espiritual.

Pr. Madson Cabral


Diretor Acadêmico

APRESENTAÇÃO

📚 O que é a Disciplina Bibliologia?


A Disciplina Bibliologia é uma parte fundamental do curso de Bacharel em Teologia Livre
oferecido pelo INTEB. Ela se concentra no estudo aprofundado da Bíblia Sagrada, visando
compreender sua origem, autoridade, e relevância para a teologia cristã.

📖 Conteúdo e Abordagem
Nesta disciplina, os alunos irão explorar diversos aspectos da Bíblia, incluindo:
1. Introdução à Bíblia: Uma visão geral dos livros da Bíblia, sua história e
contexto.
2. Inerrância e Autoridade: Discussão sobre a inerrância das Escrituras e sua
autoridade na fé cristã.
3. Interpretação Bíblica: Técnicas e métodos para entender e aplicar os
ensinamentos bíblicos.
4. Teologia Bíblica: Como os temas e doutrinas se desenvolvem ao longo das
Escrituras.
5. Relevância Contemporânea: Como a Bíblia se relaciona com questões atuais e
desafios culturais.

🎯 Objetivos da Disciplina
 Desenvolver uma compreensão profunda da Bíblia como base da teologia cristã.
 Capacitar os alunos a interpretar e aplicar os ensinamentos bíblicos de maneira
significativa.
 Promover a reflexão sobre a relevância da Bíblia nas questões contemporâneas.

💡 Por que Estudar Teologia Bibliologia?


O estudo da Teologia Bibliologia é essencial para qualquer teólogo, pois a Bíblia é a fonte
primordial da fé cristã. Ela oferece insights valiosos sobre a natureza de Deus, a salvação e o
propósito da vida cristã.

No INTEB, a Disciplina Bibliologia é ministrada de forma dinâmica, com aulas interativas,


discussões em grupo e oportunidades de pesquisa. Prepare-se para mergulhar profundamente nas
Escrituras e fortalecer sua base teológica.

BIBLIOLOGIA
A DOUTRINA DAS ESCRITURAS

INTRODUÇÃO:

A disciplina de Bibliologia é de suma importância dentro do contexto teológico e religioso.


Sua definição e entendimento levam em conta não apenas seu conteúdo, mas também a etimologia
da palavra.

Definição Teológica da Bibliologia


A Bibliologia é a área da teologia que se dedica ao estudo das Escrituras Sagradas, ou seja,
da Bíblia. É uma disciplina fundamental para qualquer estudante de teologia, pois trata da origem,
autoridade, inspiração e interpretação das Escrituras.
2 Timóteo 3:16 (NVI) "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça."

Etimologia da Palavra "Bibliologia"


A palavra "Bibliologia" é formada a partir de duas raízes gregas: "biblion," que significa
"livro," e "logos," que significa "estudo" ou "palavra." Portanto, literalmente, "Bibliologia" se refere
ao "estudo dos livros" ou "estudo da palavra escrita."

Importância da Bibliologia na Teologia


A Bibliologia desempenha um papel central na teologia porque a Bíblia é considerada a
Palavra de Deus para os crentes. Ela é a base para a compreensão da fé cristã, doutrinas, moral e
ética.
O estudo profundo das Escrituras permite aos teólogos e estudiosos discernir a vontade
divina, compreender o plano de salvação e fornecer orientação espiritual para a vida cristã.
Além disso, a Bibliologia lida com questões complexas, como a inspiração divina da
Bíblia, sua autoridade sobre a vida dos crentes, a historicidade dos eventos registrados e a
hermenêutica (métodos de interpretação) das Escrituras.
Em resumo, a Bibliologia é o alicerce sobre o qual repousa toda a teologia cristã, pois se
concentra na revelação divina contida nas Sagradas Escrituras, guiando os estudantes de teologia na
compreensão profunda da fé cristã.

🌐 Fontes
1. solascriptura-tt.org - Bibliology, Hermeneutics, Dispensations
2. sbts-wordpress-uploads.s3.amazonaws.com - Biblical Authority and Textual Criticism
3. brill.com - The Hebrew Bible Manuscripts: A Millennium
I - COMPREENDENDO A REVELAÇÃO DE DEUS AOS HOMENS

1. Se Deus não tivesse se dado a conhecer, nós jamais o conheceríamos. Revelação é, portanto,
o processo pelo qual Deus se mostra e se comunica ao Homem. A possibilidade do estudo
do Deus verdadeiro se deve ao fato dEle ter permitido que os homens o conheçam. Esta
possibilidade do conhecimento, do caráter, vontade, desígnios e verdade de Deus se chama
“Revelação”.
2. O propósito de Deus ter-se revelado ao homem foi que o Homem O conheça, e aceite o
plano dEle para sua vida, a Revelação Especial que é Jesus Cristo. Seu Deus não tomasse a
iniciativa de se revelar ou manifestar ao homem, a criatura jamais conheceria seu criador, e
eternamente longe e perdido dEle andaria.
3. A Revelação, no entanto, pode ser tanto “geral” como “especial”.

2.1 Revelação Geral


1. É a Revelação de alguns dos atributos de Deus ao Homem de formas naturais ou não, e que
não possui caráter salvífico em si, ou seja, que não salva o homem.
2. A Revelação Geral mostra a solidão em que o homem se encontra e a necessidade de uma
busca ‘especial’ do plano de salvação que Deus elaborou, e também da sua verdade e vontade.
3. A Revelação Geral é comunicada a todo homem inteligente, por meio de fenômenos naturais
e não naturais, e também no decorrer da história.
4. A Revelação Geral é também encontrada na natureza na história e na consciência do homem.

A. Natureza
1. Muitos homens extraordinários apontam o universo como uma manifestação do
2. poder, glória e divindade de Deus. A perfeição da natureza deixa o homem sem desculpas
para buscar uma revelação mais ‘especial’ do criador.

“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas
mãos”. Salmo 19:1

B. História
1. Impérios nasceram e desapareceram; nações, povos e reinos passaram pela
2. história, e nela também Deus tem se manifestado com justiça. Na história o sistema cristão
encontra uma revelação do poder, da soberania e da providência de Deus.
“Por que não é do Oriente, não é do Ocidente, nem do deserto que vem o auxílio. Deus é o
Juiz: a um abate, a outro exalta”. Salmo 75: 6 – 7
“...de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo
fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a
Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de
nós” Atos 17: 26 – 27

C. Consciência
1. A consciência humana não inventa coisas; e sim, atua com base num padrão (certo X
errado). Essa ciência revela o fato de que há uma Lei absoluta no universo, e que há um
Legislador Supremo que baseia esta Lei em sua própria pessoa e caráter.

“... os gentios (...) não tendo leis servem eles de leis para si mesmos; eles mostram a norma
da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e seus
pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se” Romanos 2:14 – 15.

2.2 Revelação Especial


1. É a Revelação da pessoa de Deus em Jesus Cristo, com o objetivo ‘especial’ de dar ao
homem o único meio para sua salvação.
2. A Revelação Especial é encontrada nas “Escrituras” e em “Jesus Cristo”.

A. Jesus Cristo
1. Usamos aqui ‘Jesus Cristo’ para descrever o centro da história e da Revelação... Ele é a
melhor prova da existência de Deus, pois Ele viveu a vida de Deus entre os homens.
2. “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as
coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão
exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito
a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” Hebreus 1: 1 -
3.
3. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus
4. ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
5. Príncipe da Paz” Isaías 9: 6
6. “Disse-lhes Jesus: (...) Quem me vê a mim, vê o Pai...” João 14:9

B. Escrituras
1. Usamos aqui ‘Escrituras’ para descrever a Revelação mais clara e infalível na comunicação
de Deus ao Homem. Ela descreve o relacionamento de Deus com a sua criatura e a sua
iniciativa em revelar ao homem seu caráter, natureza e vontade.
2. “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo
as Escrituras.” 1 Coríntios 15: 3 – 4
3. A Revelação de Deus teve então uma incorporação por escrito na Bíblia. Ela é a
4. base do cristianismo e de todas as sua doutrinas. Portanto é a fonte suprema para a Teologia.
Por isso é muito importante um conceito certo e sua interpretação exata e correta.
A Revelação Bíblica é Deus tornando conhecidos os Seus pensamentos, Suas intenções, Seus
desígnios, Seus mistérios (Is.55:8-9, Rm.11:33-34, Ap.1:1). A Bíblia é a mensagem de Deus em
palavras humanas.
1. Etimologicamente, revelação vem do latim revelo, que significa descobrir, desvendar,
levantar o véu. Revelação significa, portanto, descobrimento, manifestação de algo que está
escondido.
2. Revelação é o ato pelo qual Deus torna conhecido um propósito ou uma verdade.
3. Por exemplo: Simeão disse: “...luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de
Israel” (Lc 2.32).
4. Paulo disse: “Faço -vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é
segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante
revelação de Jesus Cristo”. E ainda: “..pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer
o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente” (Ef 3:3 e Gl 1:11,12).
5. Revelação é o ato pelo qual Deus faz com que alguma coisa seja claramente entendida
– “Mas o seu coração é duro e teimoso. Por isso você está aumentando ainda
6. mais o castigo que vai sofrer no dia em que forem revelados a ira e os julgamentos justos
de Deus” (Rm 2.5 NTLH).
7. Revelação é, também a explicação ou apresentação de verdades divinas. O Salmista
disse: “A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento aos
8. simples” (119.130). Paulo: “Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo,
outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja
tudo feito para edificação” (1Co 14.26).
9. Revelação é a operação divina que comunica ao homem fatos que a razão humana é
insuficiente para conhecer. É portanto, a operação divina que comunica a verdade de Deus
ao homem.
10. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que
Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito;
porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus”
(1Co.2:10).

2.3 Provas da Revelação


1. O diabo foi o primeiro ser a pôr em dúvida a existência da revelação: "É assim que Deus
disse?" (Gn.3:1). Mas a Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus revelada.
Vejamos alguns argumentos:

A Indestrutibilidade da Bíblia:
 Uma porcentagem muito pequena de livros sobrevive além de um quarto de século, e uma
porcentagem ainda menor dura um século, e uma porção quase insignificante dura mil anos.
 A Bíblia, porém, tem sobrevivido em circunstâncias adversas por mais de três milênios.
 Em 303 d.D. o imperador Dioclécio decretou que todos os exemplares das Sagradas
Escrituras fossem queimados em praça pública. “As cinzas daquele crime tornou-se o
combustível da divulgação” (Agnaldo).
 A Bíblia já foi traduzida para mais de mil idiomas e dialetos, e ainda continua sendo o livro
mais lido do mundo.
A Natureza da Bíblia:
a) Ela é superior: Ela é superior a qualquer outro livro do mundo. O mundo, com sua
sabedoria e vasto acúmulo de conhecimento nunca foi capaz de produzir um livro que
chegue perto de se comparar a Bíblia.
b) É um livro honesto: Pois revela fatos sobre a corrupção humana, fatos que a natureza
humana teria interesse em acobertar.
c) É um livro harmonioso: Pois embora tenha sido escrito por uns quarenta autores
diferentes, por um período de 1.600 anos, ela revela ser um livro único que expressa um só
sistema doutrinário e um só padrão moral, coerentes e sem contradições.

Argumento da Analogia:
 Os animais inferiores expressam entre si, com gestos e sons, seus diferentes sentimentos.
 Entre os racionais existe comunicação direta de um para o outro, quer por meio das
expressões faciais e corporais, quer pela revelação de pensamentos e sentimentos.
Conseqüentemente é de se esperar que exista, por analogia, uma revelação direta de Deus e
o homem, uma vez que o homem é a imagem de Deus.
 Portanto, é natural supor que o Criador sustente relação pessoal com Suas criaturas
racionais.
Argumento da Experiência:
O homem é incapaz por sua própria força descobrir....
a) que Precisa ser salvo;
b) que Pode ser salvo;
c) como pode ser salvo;
d) se há salvação.
 Somente a revelação pode desvendar estes mistérios eternos. A experiência do homem tem
demonstrado que a tendência da natureza humana é degenerar-se, e seu caminho ascendente
se sustenta unicamente quando é voltado para cima em comunicação direta com a revelação
de Deus.
Argumento da Profecia Cumprida:
 Mais de 300 profecias a respeito de Cristo registradas nas Escrituras já se cumpriram
integralmente. E dentre essas profecias, a mais próxima do nascimento de Cristo foi
pronunciada 396 anos antes de seu cumprimento.
 Além disso, as profecias a respeito da dispersão de Israel também, se cumpriram (Dt.28;
Jr.15:4;l6:13; Os.3:4 etc); da conquista de Samaria e preservação de Judá (Is.7:6-8; Os.1:6,7;
1Rs.14:15); do cativeiro babilônico sobre Judá e Jerusalém (Is.39:6; Jr.25:9-12); sobre a
destruição final de Samaria (Mq 1:6-9); sobre a restauração de Jerusalém (Jr.29:10-14), etc.
·Reivindicações da Própria Escritura:
 A própria Bíblia expressa sua infalibilidade, reivindicando autoridade. Nenhum outro livro
ousa fazê-lo. Encontramos essa reivindicação nas seguintes expressões: "Disse o Senhor a
Moisés" (Ex.14:1,15,26; 16:4; 25:1; Lv.1:1; 4:1; 11:1; Nm.4:1;13:1; Dt.32:48) "O Senhor é
quem fala" (Is.1:2); "Disse o Senhor a Isaías" (Is.7:3); "Assim diz o Senhor" (Is.43:1).
Outras expressões semelhantes são encontradas: "Palavra que veio a Jeremias da parte do
Senhor" (Jr.11:1); "Veio expressamente a Palavra do Senhor a
Ezequiel" (Ez.1:3); "Palavra do Senhor que foi dirigida a Oséias" (Os.1:1); "Palavra do
Senhor que foi dirigida a Joel" (Jl.1:1), etc.
 Expressões como estas são encontradas mais de 3.800 vezes no Antigo Testamento. Portanto
o A.T. afirma ser a revelação de Deus, e essa mesma reivindicação faz o Novo
Testamento: “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é
que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como
palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está
operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts.2:13); “Aquele que crê no Filho de
Deus tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso, porque
não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho” (1Jo.5:10).

A Bíblia é a revelação escrita de Deus e, como tal, abrange importantes aspectos:


a) Ela é variada: Variada em seus temas, pois abrange aquilo que é doutrinário, devocional,
histórico, profético e prático.
b) Ela é parcial: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as
reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre...” (Dt.29:29).
c) Ela é completa: Naquilo que já foi revelado (Cl.2:9,10).
d) Ela é progressiva: (Mc.4:28).
e) Ela é definitiva: (Jd.3).

2.4 Por que era necessário um registro escrito?


Deus, em sua grande sabedoria, nos fornece um registro escrito de sua revelação. O teólogo
holandês Abraão Kuyper nota quatro vantagens de um registro escrito:
A – Por garantir maior inerrância na transmissão. São eliminados erros de memória e erros de
transmissão (“telefone sem fio”).
B – Pode ser divulgado universalmente através de traduções e reproduções.
C – Possui atributos de fixação e pureza. Facilita no aprendizado e memorização.
D – Recebe uma finalidade normativa (legislativa) que outras formas de comunicação não
conseguem alcançar.

II - INTRODUÇÃO HISTÓRICA DA BÍBLIA


2.1. BÍBLIA, SUA ORIGEM E HISTÓRIA
A Bíblia é um belo palácio construído com 66 blocos de mármore sólido - os 66 livros.
1. No primeiro capítulo de Gênesis, entramos no vestíbulo, cheio com os atos poderosos da
criação.
2. O vestíbulo dá acesso aos tribunais - os cinco livros de Moisés -pelos quais chegamos à
galeria dos quadros dos livros históricos.
3. Aqui, encontramos, penduradas nas paredes, cenas de campos de batalha, representação de
atos heroicos e retratos de homens eminentes pertencentes aos primeiros dias da história.
4. Além da galeria de quadros, encontramos a câmara do filósofo - o livro de Jó - e, passando
por ele, entramos na sala da música - o livro de Salmos - onde ouvimos as mais grandiosas
músicas que jamais entraram nos ouvidos humanos.
5. Então, chegamos ao escritório - o livro de Provérbios - onde, bem ao centro da sala,
encontramos o lema: A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos.
6. Do escritório, passamos para a capela - Eclesiastes, ou Cântico dos Cânticos com a rosa de
Sarom e o lírio dos vales, e todos os tipos de finos perfumes, frutas, flores e pássaros
canoros.
7. Finalmente, alcançamos o observatório - os Profetas, com seus telescópios fixados em
estrelas próximas e distantes, e todos voltados para “a brilhante estrela da manhã” , que, em
breve, se levantaria.
8. Atravessando o pátio, entramos na câmara de audiências do Rei - os Evangelhos - onde
encontramos quatro retratos vividos e realistas do próprio Rei. A seguir, passamos para o
estúdio do Espírito Santo - os Atos dos Apóstolos - e além deste, a sala da correspondência -
as epístolas - onde vemos Paulo, Pedro, Tiago, João e Judas ocupados em suas
escrivaninhas.
9. Antes de sair, paramos por um momento na galeria externa - o Apocalipse - onde olhamos
para alguns quadros marcantes dos julgamentos por vir, e as glórias a serem reveladas,
concluindo com uma impressionante e inspiradora imagem da sala do trono do Rei.

2.2 COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA (ANTIGO E NOVO TESTAMENTO)


A Bíblia é composta por 66 livros (39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento). Os
66 Livros não estão sequenciados em ordem cronológica, mas sim de forma temática:

1. Antigo Testamento
Lei
5 livros (Gênesis a Deuteronômio), também chamados de Pentateuco.
História
12 livros (de Josué a Ester), com a narração da história do Povo de Israel;
Poesia
5 livros (de Jó a Cantares de Salomão);

Profecia
17 livros, subdivididos em "profetas maiores" e "profetas menores" (esta designação versa
unicamente sobre o tamanho dos livros e não sobre a importância dos profetas).

Novo Testamento
Evangelhos
4 livros (Mateus, Marcos, Lucas e João), que descrevem a biografia de Jesus Cristo
História
1 livro (Atos), que narra a história da Igreja do I século.
Doutrina
21 livros (ou epístolas): cartas a Igrejas ou a pessoas.
Profecia
1 livro (Apocalipse).

a. OS LIVROS APOCRIFOS
1. O que são os livros apócrifos ?
Os livros apócrifos são aqueles que, embora a religião Católica Romana os aceite como
pertencendo ao cânone bíblico, não podem ser considerados como pertencentes à Bíblia, por serem
contraditórios ou e origem duvidosa. A religião Católica Romana aprovou os apócrifos em 8 de
abril de 1546 para combater a Reforma protestante. Nessa época, os protestantes opunham-se
violentamente às doutrinas romanistas do purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras,
etc.
A palavra apócrifo significa precisamente oculto, e foi o termo inicialmente utilizado por certas
seitas a respeito de livros seus, que eram guardados para seu próprio uso.
2. Livros apócrifos do Antigo Testamento
Estes livros não faziam parte do cânone hebraico, mas eram aceites pelos judeus de Alexandria
que liam o grego. Alguns deles são citados no Talmude.
 III Esdras: Relata factos históricos desde o tempo de Josias até Esdras, sendo a maior
parte da matéria tirada dos livros das Crônicas, de Esdras, e de Neemias. Foi escrito no
século I aC.
 IV Esdras: Série de visões e profecias, especialmente apocalípticas, que alegadamente
Esdras terá anunciado.
 Tobias: É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e alguns
milagres preparados pelo anjo Rafael. Apresenta a justificação pelas obras (4.7-
11;12.8), a mediação dos santos (12.12), superstições (6.5, 7.9,19) e um anjo engana
Tobias e o ensina a mentir (5.16-19).
 Judite: História da libertação de judeus do poder do general persa Holofernes, realçando
a coragem da heroína Judite, viúva e formosa que salva sua cidade enganando um
general inimigo e decapitando-o. Grande heresia é a própria história onde os fins
justificam os meios.
 Ester: Capítulos adicionados ao livro canônico de Ester, do século II a.C.
 Sabedoria: Livro escrito com finalidade exclusiva de lutar contra a incredulidade e
idolatria do epicurismo ( filosofia grega na era cristã). Apresenta o corpo como prisão
da alma (9.15), a doutrina sobre a origem e o destino da alma (8.19 e 20) e a salvação
pela sabedoria (9.19), todas contrárias à Bíblia.
 Eclesiástico: Ou "Sabedoria de Jesus, filho de Siraque". Coleção de ditados prudentes e
judiciosos, semelhante ao livro dos Provérbios. Apresenta, todavia, a justificação pelas
obras (3.33,34), o trato cruel aos escravos (33.26 e 30; 42.1 e 5) e incentiva o ódio aos
samaritanos (50.27, 28)
 Baruque: Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta Jeremias,
numa exortação aos judeus aquando da destruição de Jerusalém. Mas é de data muito
posterior, quando da segunda destruição de Jerusalém, no pós-Cristo. Tem, entre outras
doutrinas, a intercessão pelos mortos (3.4)
 II Daniel: Aditamento ao livro de Daniel, com "cântico dos três jovens" (o cântico dos
três jovens na fornalha), "história de Susana" (representando Daniel como justo juiz, em
que segundo esta lenda, Daniel salva Suzana num julgamento fictício baseados em
falsos testemunhos), "Bel e Dragão" (conta histórias sobre a necessidade da idolatria).
 Manassés: Oração de Manassés, rei de Judá, no seu cativeiro da Babilônia.
 I Macabeus: Descreve a história de três irmãos da família “Macabeus”, que no
chamado período inter-bíblico(400 a.C.- 3 d.C.) lutam contra inimigos dos judeus
visando a preservação do seu povo e da sua terra.
 II Macabeus: Não é a continuação de I Macabeus, mas um relato paralelo, cheio de
lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta a oração pelos mortos; culto e missa
pelos mortos; intercessão pelos santos e o próprio autor não se julga inspirado.
 III Macabeus: História fictícia de 217 a.C, enunciando as relações do rei egípcio
Ptolomeu IV, com os judeus da Palestina e Alexandria.
 IV Macabeus: Ensaio homilético, feito por um judeu de Alexandria, conhecedor da
escola estoica sobre II Macabeus.
 Livros dos Jubileus: Ou "Pequeno Gênesis", tratando de particularidades do Gênesis
duma forma imaginária e legendária, escrito por um fariseu entre os anos de 135 e 105
a.C.
 Testamento dos 12 Patriarcas: Livro de modelo de ensino moral.
 Oráculos Sibilinos: Descrições poéticas das condições passadas e futuras dos judeus.

3. Livros apócrifos do Novo Testamento


Sob este nome são algumas vezes reunidos vários escritos cristãos de data primitiva, que
pretendem dar novas informações acerca de Jesus Cristo e seus apóstolos, ou novas instruções
sobre a natureza do Cristianismo em nome dos primeiros cristãos. Eis a lista desses livros:
a. "Evangelhos"
1. Evangelho segundo os Hebreus;
2. Evangelho dos Egípcios;
3. Evangelho dos Ebionitas;
4. Evangelho de Pedro;
5. Protoevangelho de Tiago;
6. Evangelho de Tomé;
7. Evangelho de Filipe;
8. Evangelho de Bartomeu;
9. Evangelho de Nicodemos;
10.Evangelho de Gamaliel;
11.Evangelho da Verdade
b. "Epístolas"
1. I Clemente,
2. As Sete Epístolas de Inácio;
3. Aos Magnésios;
4. Aos Trálios,
5. Aos Filadélfeos,
6. Aos Esmirnenses e a Policarpo;
7. A Epístola de Policarpo
8. A Epístola de Barnabé
c. "Atos"
1. Atos de Paulo;
2. Atos de Pedro;
3. Atos de João;
4. Atos de André;
5. Atos de Tomé.
d. "Apocalipses"
1. Apocalipse de Pedro;
2. Pastor de Hermas;
3. Apocalipse de Paulo;
4. Apocalipse de Tomé;
5. Apocalipse de Estêvão

4. Observação sobre os livros apócrifos


Os chamados livros apócrifos não devem ser considerados como bíblicos por várias razões:
4.1. Tais livros nunca foram reconhecidos pelos judeus e esse facto é fundamental,
considerando a doutrina de Romanos 3:2. Os Judeus perceberam que a inspiração profética
terminara com Esdras.
 Esta é a conclusão a que chegamos através das palavras de Flávio Josefo: «Desde
Artaxerxes até os nossos dias, escreveram-se vários livros; mas não os consideramos
dignos de confiança idêntica aos livros que os precederam, porque se interrompeu a
sucessão dos profetas.
 Esta é a prova do respeito que temos pelas nossas Escrituras. Ainda que um grande
intervalo nos separe do tempo em que elas foram encerradas, ninguém se atreveu a
juntar-lhes ou tirar-lhes uma única sílaba; desde o dia de seu nascimento, todos os
judeus são compelidos, como por instinto, a considerar as Escrituras como o próprio
ensinamento de Deus, e a ser-lhes fiéis, e, se tal for necessário, dar alegremente a sua
vida por elas» (Discurso Contra Ápion, capítulo primeiro, oitavo parágrafo).
4.2. Nesses livros há muitos ensinos falsos, em contradição com os livros canónicos.
Exemplos:
Justificação pelas obras
 Em Eclesiástico 3:33 e Tobias 4:7-11 defende-se a justificação (salvação) pelas obras, o
que é negado por Efésios 2:8,9.
 Em Tobias 12:8,9 ensina-se que as ofertas caridosas podem expiar o pecado, mas lemos
em I Pedro 1:18,19 que não é com coisas corruptíveis, como prata ou ouro que somos
salvos, mas pelo precioso sangue de Cristo.
Mediação dos santos
 Em Tobias 12:12 narra-se a mediação dos santos, doutrina que é completamente
repudiada na Bíblia. Há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus
Cristo Homem (I Timóteo 2:5). Ele disse: "Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Ninguém vem ao Pai senão por Mim" (S.João 14:6).
Oração pelos mortos
 Em II Macabeus 12:44-46 doutrina-se a oração pelos mortos, o que a Bíblia não admite
(cfr. Hebreus 9:27 e S.João 3:18,36).
Superstições e feitiçarias
 Em Tobias 6:5-8 promove-se o ensino da arte mágica. Porém, coração de um peixe não
possui poder mágico e sobrenatural para espantar "toda a espécie de demônios". Satanás
não pode ser expulso por algum truque (cfr. Marcos 16:17 e Atos 16:18)
Pedido de desculpas
 Em II Macabeus 15:38,39, o autor do livro pede desculpas, algo que é completamente
inaceitável perante o texto bíblico inspirado por Deus (cfr. II Pedro 1:20,21) !
Ensino do Purgatório
 A Religião Católica baseia a sua crença no purgatório, particularmente devido ao livro
de Sabedoria 3:1-4. Porém, esse ensino aniquila completamente a expiação feita pelo
Senhor Jesus. Se o pecado pudesse ser extinguido pelo fogo do purgatório, não
tínhamos necessidade de Cristo, nem Ele tinha tido a necessidade de morrer na Cruz do
Calvário (I João 1:7).
Relatos impossíveis.
 Os apócrifos do Novo Testamento não constituem nenhum problema, porque são
rejeitados por todas as igrejas cristãs, face à fragilidade desses escritos. Basta citar o
exemplo do "Evangelho" de São Tomás: «Jesus atravessava uma aldeia e um menino
que passava correndo, esbarra-lhe no ombro. Jesus irritado, disse: não continuarás tua
carreira. Imediatamente, o menino caiu morto. Seus pais correram a falar a José; este
repreende a Jesus que castiga os reclamantes com terrível cegueira». Este relato, que
não se coaduna com a sublimidade dos ensinos de Cristo, é suficiente para provar que
este evangelho é espúrio.

4.3. O Senhor Jesus citou, por diversas vezes, as Escrituras do Antigo Testamento, porém,
nunca citou qualquer texto dos chamados livros apócrifos. Vejamos alguns exemplos das
citações que Jesus fez no Velho Testamento. Cfr., as seguintes citações do Antigo Testamento,
constantes em Lucas 24:27 e 44; Mateus 4:4; Mateus 4:7; Mateus 4:10; Mateus 19:4-5; Lucas
17:26-29; Mateus 12:40; Marcos 12:36 e João 5:46-47.

9.1. AUTORIA E AUTENTICIDADE DOS LIVROS DA BÍBLIA


1. Evidências Textuais 2.1
Novo Testamento O Novo Testamento é uma coleção de 27 livros, todos escritos originalmente
em um tipo de grego chamado “coinê”, que significa “comum”.
O grego coinê era a língua usada para comunicação entre os diversos países do império romano,
na época de Jesus e dos apóstolos. Nenhum dos escritos originais sobreviveu ao desgaste do tempo,
mas inúmeras cópias, oriundas de várias regiões distintas, chegaram até nós.
Além disso, traduções do N.T. em vários idiomas antigos também foram preservadas em várias
cópias. Os dados a seguir sintetizados servem de ilustração.
a. MANUSCRITOS DO N.T. EM GREGO (cópias completas, parciais ou fragmentos)
 Unciais 267
 Minúsculas 2.764
 Lecionários 2.143
 Papiros 88
 Achados recentes __ 47
 TOTAL 5.309

b. TRADUÇÕES ANTIGAS
 Vulgata >10.000
 Etiópico >2.000
 Eslavônico 4.101
 Armênio 2.587
 Siríaco > 350
 Copta 100
 Árabe 75
 Velha versão latina 50
O fragmento mais antigo do N.T. é um papiro encontrado nas grutas do Mar Morto (Qunrã),
datado do ano 70 d.c., contendo algumas palavras de cinco linhas do Evangelho de Marcos (o
papiro 5 da caverna 7 de Qunrã), a saber, Marcos 6:52-53.
Um encontro internacional de papirólogos confirmou a identificação. Mas alguns eruditos
liberais simplesmente se recusam a aceitar a identificação feita pelos especialistas. De modo que o
fragmento neotestamentário mais antigo, cuja identificação é indisputada, é um fragmento do
evangelho de João, encontrado no Egito, com datação aproximada por volta do ano 125 D.C.
Por esses motivos, incluímos a referência ao fragmento de Marcos encontrado em Qunrã
entre parêntesis na tabela apresentada adiante. Todos esses achados tornam o N.T. o texto antigo
mais bem documentado e atestado, quando comparado com outros escritos da antiguidade clássica.
Quadro Comparativo
OBRA/ DATA DO COPIA MAIS INTERVAL NUMERO DE
AUTOR ORIGINAL ANTIGA O EM ANOS COPIAS
N.T 40-100 d.C 125 d.C (70 d.C) 25 >5.000
Ilíada/Homero 900 a.C 400 a.C 500 643
Platão 427-347 a.C 900 d.C 1.200 7
Tácito 100 d.C 1.100 d.C 1.000 1000
Heródoto 480-435 a.C 900 d.C 1.300 8
Aristóteles 384-322 a.C 900 d.C 1.200 10

Vê-se facilmente que se alguém rejeitar a autenticidade histórica do N.T, então deverá, por
coerência, rejeitar a autenticidade histórica de todos os demais escritos antigos, pois o N.T. é, de
longe, o mais bem atestado, tanto pelo número de cópias existentes como pela proximidade em anos
da cópia mais antiga em relação ao original.
Nenhum outro escrito sequer chega perto do N.T. nesses critérios.
Temos então que perguntar: por que não são publicados artigos em jornais ou revistas
duvidando da existência de Heródoto, Aristóteles ou Platão?
Citações dos líderes da igreja nos três primeiros séculos
a. Clemente de Roma – foi discípulo de Pedro (95 d.c.). Fez citações de Mateus, Marcos,
Lucas, Atos, 1ª Coríntios, 1ª Pedro, Hebreus, Tito.
b. Inácio de Antioquia – conheceu pessoalmente os apóstolos (70-110 d.c.). Fez citações de
Mateus, João, Atos, Romanos, 1ª Coríntios, Efésios, Filipenses, Gálatas, Colossenses, Tiago,
1ª e 2ª Tessalonicenses, 1ª e 2ª Timóteo, 1ª Pedro.
c. Policarpo de Esmirna – discípulo do apóstolo João (70-156 d.c.). Também já citava diversos
livros do N.T. Morreu por causa do testemunho que deu de Jesus Cristo.

O Novo Testamento foi freqüentemente citado desde os primeiros séculos da história da


igreja. É possível reconstituir praticamente todo o N.T. a partir das citações dos pais da igreja dos
primeiros três séculos. Essas citações são confirmações importantes da preservação do texto
neotestamentário.
O Novo Testamento é o registro de Testemunhas Oculares
 Lucas 1:1-4 – literalmente: “foram testemunhas oculares”.
 João 19:35
 João 1:14 1ª
 João 1:1-3 2ª
 Pedro 1:16
 Atos 1:21-23

Esses textos mostram que os registros do N.T. sobre Jesus foram feitos por pessoas que
viram, ouviram e tocaram em Jesus. Até hoje, o depoimento de testemunhas oculares é prova válida
em processos judiciais.

Outras fontes históricas


Os trechos a seguir transcritos foram extraídos do livro Documentos da Igreja Cristã, H.
Bettenson, co-edição da ASTE e JUERP, 2ª edição, pp. 26/28.

Tácito – “A Perseguição de Nero”, 64d.c. (Annales, XV,44) “Mas os empenhos humanos, as


liberalidades do imperador e os sacrifícios aos deuses não conseguiram apagar o escândalo e
silenciar os rumores de ter ordenado o incêndio de Roma. Para livrar-se de suspeitas, Nero culpou e
castigou, com supremos refinamentos da crueldade, uma casta de homens detestados por suas
abominações e vulgarmente chamados cristãos. Cristo, do qual seu nome deriva, foi executado por
disposição de Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério.
Algum tempo reprimida, esta superstição perniciosa voltou a brotar, já não apenas na Judéia,
seu berço, mas na própria Roma, receptáculo de tudo de quanto sórdido e degradante produz
qualquer recanto da terra. Tudo, em Roma, encontra seguidores. De início, pois, foram arrastados
todos os que se confessavam cristãos; logo, uma multidão enorme convicta não de ser incendiária,
mas acusada de ser o opróbrio do gênero humano.
Acrescente-se que, uma vez condenados a morrer, sua morte devia servir de distração, de
sorte que alguns, costurados em peles de animais, expiravam despedaçados por cachorros, outros
morriam crucificados, outros foram transformados em tochas vivas para iluminar a noite. Nero, para
estes festejos, abriu de par em par seus jardins, organizando espetáculos circenses em que ele
mesmo aparecia misturado com o populacho ou, vestido de cocheiro, conduzia sua carruagem.
Suscitou-se assim um sentimento de comiseração até para com homens cujos delitos mereciam
castigos exemplares, tanto mais quanto se pressentia que eram sacrificados não para o bem público,
mas para satisfação da crueldade de um indivíduo.”

Suetônio – Vita Neronis, XVI. Sobre a perseguição de Nero, 64 d.c.


“Durante seu reinado, muitos abusos foram severamente castigados e outras tantas leis
promulgadas. Determinou-se um limite aos gastos; os banquetes públicos foram reduzidos só à
alimentação; as tabernas, que outrora forneciam toda classe de guloseimas, doravante venderiam
apenas legumes e verduras cozidas; castigou-se aos cristãos sectários, que aderiram a superstições
novas e maléficas; pôs-se um freio às pulhas e aos abusos dos cocheiros que, fortes de uma longa
imunidade, se arrogavam o direito de usar e abusar da gente, de se divertir roubando e defraudando;
foram banidas as pantomimas e companhias teatrais.” Plínio – Epp. X (ad Trajanem), XCVI .
Acerca dos cristãos de Bitínia, 112 d.c. “Tenho por praxe, Senhor, consultar Vossa Majestade,
nas questões duvidosas. Quem melhor dirigirá minha incerteza e instruirá minha ignorância? Nunca
tenho presenciado julgamentos de cristãos, ignoro, pois, as penalidades e instruções costumeiras, e
mesmo as pautas em uso. [2] Estou hesitando acerca de certas perguntas. Por exemplo, cumpre
estabelecer diferenças e distinções de idade? Cabe o mesmo tratamento a enfermos e a robustos?
Deve perdoar-se a quem se retrata? A quem foi sempre cristão, compete gratificar quando deixa de
sê-lo? Há de punir-se o simples fato de ser cristão, sem consideração a qualquer culpa, ou
exclusivamente os delitos encobertos sob este nome ? Entretanto, eis o procedimento que adotei nos
casos que me foram submetidos sob a acusação de cristianismo.
Aos incriminados pergunto se são cristãos. Na afirmativa, repito a pergunta segunda e terceira
vez, cuidando de intimar a pena capital. Se persistem, os condeno à morte. Não duvido que sua
pertinácia e obstinação inflexível devem ser punidas seja qual for o crime que confessem.
Alguns apresentam indícios de loucura; tratando-se de cidadãos romanos, os separo para os
enviar a Roma. Mas o que geralmente se dá é o seguinte: o simples fato de julgar essas causas
confere enorme divulgação às acusações, de modo que meu tribunal está inundado com uma grande
variedade de casos.
Recebi uma lista anônima com muitos nomes. Os que negaram ser cristãos, considerei-os
merecedores de absolvição; de fato, sob minha pressão, devotaram-se aos deuses e reverenciaram
com incenso e libações vossa imagem colocada, para este propósito, ao lado das estátuas dos
deuses, e, pormenor particular, amaldiçoaram a Cristo, coisa que um genuíno cristão jamais aceita
fazer.”

Fontes
O grande incêndio de Roma se deu no verão de 64 d.c.
Subdit: usou de fraudulenta substituição, ou de sugestão falsa. Tácito não cria na culpa deles.
Infanticídio, canibalismo, incesto, etc. foram acusações levantadas contra os cristãos. “Somos acusados de três
coisas: ateísmo, comermos nossos próprios filhos e haver entre nós relações sexuais entre filhos e mães” –
Atenágoras, Letatio pro Christianis, III, cf. pág. 17.

Flávio Josefo – um dos mais reconhecidos historiadores antigos, era judeu. No seu livro
“Antiguidades Judaicas”, livro XVII, capítulo 4, terceiro parágrafo, Josefo faz a seguinte descrição
de Jesus: “Nesse mesmo tempo apareceu Jesus, que era um homem sábio, se todavia devemos
considera-lo simplesmente como um homem, tanto suas obras eram admiráveis. Ele ensinava os que
tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não somente por muitos judeus, mas
mesmo por muitos gentios. Era o Cristo.
Os mais ilustres da nossa nação acusaram-no perante Pilatos e ele fê-lo crucificar. Os que o
haviam amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu ressuscitado e
vivo no terceiro dia, como os santos profetas o tinham predito e que ele faria muitos outros
milagres. É dele que os cristãos, que vemos ainda hoje, tiraram seu nome.” (História dos Hebreus,
ed. CPAD, 1992).

Talo e Flêgão – historiadores do primeiro século. Registraram a ocorrência das trevas


sobrenaturais relatadas nos Evangelhos quando Jesus foi crucificado (Mateus 27:45). Como a
crucificação se deu na lua cheia, era impossível ocorrer um eclipse. Portanto, as trevas que
aconteceram quando Jesus foi crucificado não tinham explicação natural. Por isso, chamaram a
atenção dos historiadores de então. Ver “Evidência que Exige um Veredito”, fls. 106/107.
2.2 – O Velho Testamento
O Velho Testamento é composto de 39 livros, escritos na sua quase totalidade em hebraico,
exceto alguns pequenos trechos em aramaico.
O aramaico é uma língua muito semelhante ao hebraico, uma espécie de hebraico popular, e
utiliza o mesmo alfabeto. Era a língua falada na Palestina na época de Jesus. A cópia mais completa
de que dispomos do Antigo Testamento data do ano 900 d.c. O último livro do V.T. a ser escrito foi
completado por volta do ano 400 a.c. Ou seja, a cópia completa mais antiga disponível é de 1.300
anos depois, o que, aparentemente, o colocaria na mesma situação que os outros escritos da
antiguidade clássica. Porém outras evidências demonstram o elevado grau de preservação e
confiabilidade do Antigo Testamento.
O Cuidado dos Judeus com seus escritos sagrados
A atitude de extremo cuidado e reverência em relação ao texto sagrado cultivada pelos Judeus
não encontra paralelo em nenhum outro povo. Flávio Josefo, historiador Judeu do primeiro século,
escreveu sobre isso: “ Temos dado provas visíveis da reverência para com nossas próprias
Escrituras. Pois, embora essas prolongadas eras já tenham passado, ninguém se aventurou a
acrescentar ou a remover ou a alterar uma sílaba; e desde o dia do seu nascimento existe um instinto
dentro de cada judeu de considera-las como decretos de Deus, de viver por elas e, caso necessário,
de corajosamente morrer por elas. No passado, repetidas vezes pessoas testemunharam o
comportamento de presos, os quais, em vez de pronunciar uma única palavra contra as leis e
documentos semelhantes, suportaram toda espécie de torturas e mortes nas arenas.” Josefo continua,
fazendo uma comparação entre o respeito dos hebreus para com as Escrituras e o dos gregos para
com sua própria literatura: “Qual grego suportaria tanto pela mesma causa? Mesmo para salvar da
destruição toda a coleção de escritos da sua nação, ele não enfrentaria o menor dano para si mesmo.
Pois, para os gregos, sua literatura são simples histórias inventadas de acordo com a fantasia de seus
autores; e eles estão plenamente certos nessa atitude diante de até mesmo os mais antigos
historiadores, pois vêem alguns contemporâneos se arriscando a descrever acontecimentos dos quais
não tomaram parte, sem ter o cuidado de se informar com aqueles que conhecem os fatos.”
(Evidência que Exige um Veredito, vol. 1, pg. 70) As seguintes regras, adotadas pelos Talmudistas
(sábios judeus que estudavam o Velho Testamento e faziam cópias do mesmo, no período de 100 a
500 d.c.), nos dão uma idéia da seriedade e do extremo cuidado dos judeus ao copiarem suas
Escrituras sagradas:
(1) o rolo de uma sinagoga deve ser escrito em peles de animais puros,
(2) preparados por um judeu para o uso específico da sinagoga.
(3) Essas peles devem ser presas por meio de barbantes feitos de animais puros.
(4) cada pele deve conter um certo número de colunas, o qual deve se manter igual por todo o
códice.
(5) O comprimento de cada coluna não deve ser inferior a 48 nem superior a 60 linhas e a
largura deve ser de trinta letras.
(6) deve-se primeiramente traçar as linhas de toda a cópia, e se três palavras forem escritas
sem linha, a cópia fica inutilizada.
(7) A tinta deve ser preta, e não vermelha, verde, nem qualquer outra cor, e deve ser preparada
de acordo com uma fórmula específica.
(8) Deve-se fazer uma cópia a partir de uma cópia autêntica, da qual o transcritor não deve se
desviar de modo algum.
(9) Não se deve escrever nenhuma palavra ou letra, nem mesmo um iode, de memória, isto é,
sem o escriba tê-lo visto no códice diante se si.....
(10) Além disso, o copista deve estar vestido com trajes judaicos a rigor,
(11) lavar o corpo todo,
(12) não começar a escrever o nome de Deus com uma pena recém-mergulhada na tinta, (13)
e, caso um rei se dirija a ele enquanto está escrevendo o nome de Deus, não deve dar atenção
ao rei.
Os Talmudistas tinham tanta certeza de que, ao terminarem uma cópia de um manuscrito, eles
tinham uma cópia exata, que eles atribuíam à cópia a mesma autoridade do original.
Finalmente, as cópias que não tinham sido feitas segundo essas regras eram queimados ou
enterrados, para evitar que, a partir deles, fossem produzidas cópias errôneas.
Posteriormente, no período de 500 a 900 d.c., o trabalho de copiar e preservar os escritos do
V.T. foi realizado pelos Massoretas, outro grupo de estudiosos judeus, que tinham seu centro de
atividades em Tiberíades.
O texto hebraico por eles produzidos, chamado de Texto Massorético, é hoje o texto hebraico
padrão. Eles também se esmeraram no cuidado de preservar cada letra do V.T. Por exemplo, eles
contavam o número de vezes que cada letra do alfabeto aparecia em cada livro; eles assinalavam a
letra que ficava exatamente no meio do Pentateuco e a que ficava exatamente no meio da Bíblia
toda; e faziam cálculos ainda mais minuciosos do que esses.
Os rolos do Mar Morto
Talvez o testemunho mais convincente do cuidado dos judeus ao copiar o antigo testamento
sejam os manuscritos encontrados no Mar Morto. Foram encontrados em cavernas próximas do Mar
Morto vários rolos contendo porções do Velho Testamento. Foi encontrada uma cópia completa do
livro de Isaías, cópia essa feita aproximadamente mil anos antes da cópia mais antiga até então
conhecida. Ao compara-las, verificou-se que a coincidência letra por letra é superior a 95%, e que a
maior parte desses 5% de diferenças são erros óbvios de ortografia.
O capítulo 53 de Isaías, por exemplo, tinha apenas uma palavras diferente, e que mesmo
assim não alterava o sentido da frase. Mil anos não foram suficientes para introduzir erros que
pudessem alterar o sentido do texto!

O Testemunho da Septuaginta
Por volta do ano 250 a .c., a língua grega era a língua franca no mundo, usada em
comunicações entre várias nações. Nesse período, um grupo de sábios judeus fez uma tradução
completa dos livros do Velho Testamento para o grego. Essa tradução recebeu o nome de “Versão
dos Setenta”, ou “Septuaginta” (LXX), porque teria sido feita em setenta e dois dias.
A Septuaginta teve uma linha de transmissão própria, independente da transmissão do texto
hebraico (Massorético). Contudo, para tristeza dos céticos e críticos, apresenta elevado grau de
concordância com o texto massorético, o que atesta a fidelidade da sua transmissão. Os cristãos dos
primeiros séculos fizeram uso freqüente da Septuaginta, e muitas vezes no Novo Testamento as
citações do Antigo Testamento estão mais próximas da Septuaginta do que do Texto Hebraico.
Descobertas Arqueológicas
Até o começo do século dezenove a arqueologia havia realizado poucas descobertas referentes
ao período de história coberto pelo antigo testamento. Esse quadro mudou drasticamente ao longo
da segunda metade do século dezenove e do século vinte.
Nesta seção, destacamos apenas algumas, dentre muitas, descobertas arqueológicas que
explicam e confirmam o pano de fundo histórico do antigo testamento.
Ao contrário do que alguns possam pensar, a arqueologia tem prestado papel decisivo na
confirmação da autenticidade história da Bíblia.
Abraão e as descobertas em Nuzu e em Mari (“Arqueologia do Velho Testamento”, por
Merril F. Unger, publicado pela Imprensa Batista Regular, 1985, pgs. 62/64)
A cidade de Nuzu foi escavada entre 1925 e 1941. Situada a sudeste de Nínive, produziu
milhares de documentos de importância vital para o estudo do Velho testamento. Nas tábuas ali
descobertas, estão descritos costumes vigentes na época de Abraão, os quais guardam notável
concordância com o relato bíblico.
Adoção – em Nuzu, cônjuges sem filhos freqüentemente adotavam uma pessoa livre ou
escrava para que tomasse conta deles quando envelhecessem, os sepultassem quando morressem e
herdasse as suas propriedades.
Abraão, que não tinha mais esperanças de ter um filho, refere-se a Eliézer como seu herdeiro,
e chama-o “herdeiro de minha casa”, isto é, seu herdeiro presuntivo (Gênesis 15:2).
Possivelmente Abraão havia adotado esse escravo de confiança, de acordo com o costume
vigente, para vantagem de ambos. Porém, rezavam os costumes de Nuzu que, se o adotante gerasse
um filho posteriormente, o filho adotivo cederia lugar ao herdeiro principal.
E foi exatamente o que aconteceu quando Isaque nasceu.
Leis matrimoniais – os costumes conjugais de Nuzu ilustram a ação de Sara, dando a seu
marido a serva egípcia Hagar como sua substituta, quando pensou que não mais poderia ter filhos.
As leis matrimoniais de Nuzu estipulavam que se uma esposa fosse estéril, devia providenciar
uma esposa escrava para seu marido.
Direitos de primogenitura – a venda da primogenitura, efetuada por Esaú (gênesis 25:27-34)
também é ilustrada. Em Nuzu existia um preceito legal para o qual os privilégios do primogênito
eram transferidos a outrem. Em um caso registrado, um irmão cedeu a primogenitura a outro em
troca de três ovelhas – um preço não muito diferente da refeição que Esaú recebeu. Tudo isso
confere peso ao argumento de que as narrativas da era patriarcal (referente a Abraão, Isaque, Jacó e
seus doze filhos) foram escritas à época de Moisés, pois só assim se explica a exatidão detalhada
com que os costumes daquela época estão refletidos na narrativa bíblica.
Mari foi uma antiga cidade do médio Eufrates. Escavações empreendidas ali, desde 1933,
trouxeram à luz mais de vinte mil tábuas dos arquivos do palácio real. Na época de Abraão (2.100
A.C.) Mari era uma das mais florescentes e brilhantes cidades do mundo mesopotâmico. Abraão e
seu pai, Terá, devem ter passado por essa metrópole, em seu caminho para Harã.. A cidade de Naor
(Gênesis 24:10) é mencionada freqüentemente nas correspondências encontradas em Mari. Uma
carta de Naor foi enviada ao rei por uma senhora daquela cidade, e diz o seguinte: “Ao meu senhor,
diz Inib-Sarrim, tua serva. Por quanto temo preciso eu ficar em Naor? A paz foi estabelecida, e a
estrada está desobstruída.

As muralhas de Jericó (“The Signature of God”, por Grant R. Jeffrey, 1998, pg. 81).
Durante as escavações de Jericó, entre 1930 e 1936, o Professor John Garstang encontrou uma
das mais incríveis confirmações dos registros bíblicos sobre a conquista da terra prometida. Os
resultados foram tão surpreendentes que ele tomou o cuidado de elaborar uma declaração por
escrito da descoberta arqueológica, assinada por ele e por outros membros da equipe. “Quanto ao
fato principal, então não há quaisquer dúvidas. As muralhas caíram no sentido para fora da cidade,
tão completamente que os atacantes seriam capazes de passar por cima delas apenas com as mãos e
os pés”. O que é surpreendente é que todas as cidades do mundo antigo que tiveram suas muralhas
derrubadas por invasores, o resultado era que as muralhas caíam para dentro da cidade, nunca para
fora.! O relato de Josué 6:20 é exato, e somente o poder sobrenatural de Deus poderia ter feito as
muralhas caírem para fora.

A casa de Davi e o Reino de Israel (idem anterior, pg. 78/79).


Descobertas arqueológicas recentes demoliram a posição daqueles que rejeitavam o relato
bíblico dos reis de Israel, tal como o rei Davi. Em 1993, arqueólogos escavando em Tel Dan na
Galiléia no norte de Israel, encontraram o fragmento de uma inscrição em pedra que claramente se
refere à “casa de Davi” e identifica Davi como “Rei de Israel”. Esta é a primeira inscrição fora da
Bíblia que confirma a afirmação Bíblica de que Davi era o rei de Israel no século nove antes de
Cristo. Muitos críticos da Bíblia, que rejeitavam o Rei Davi como um mito, ficaram aborrecidos em
descobrir que sua posição não mais poderia ser defendida.
Alguns críticos chegaram a sugerir que o fragmento era “falsificado”. No verão seguinte, dois
fragmentos adicionais à inscrição original foram descobertos e forneceram aos estudiosos a
inscrição completa, confirmando que se referia a Davi como rei de Israel. Além disso, outro erudito,
André Lemaire da Faculdade da França, descobriu outra inscrição de pedra do século nove A.C.
criada pelo Rei Mesa de Moab, que também se referia à “Casa de Davi”. Essas inscrições
surpreendentes, registradas um século depois da morte de Davi, confirmam que Davi era o rei de
Israel na época descrita pela Bíblia e que ele estabeleceu uma dinastia, a “Casa de Davi”.
Uma inscrição em pedra, do Egito, confirma que Israel era uma nação estabelecida em Canaã
séculos antes do reinado do Rei Davi, exatamente como a Bíblia assegura. A Pedra Mernepta é uma
inscrição em uma pedra de mais de dois metros de altura, descoberta no templo do Faraó Mernepta
em Tebas, no Egito. Eruditos determinaram que o Faraó Mernepta reinou no Egito de 1213 a 1203
antes de Cristo e confirmam que ele iniciou uma invasão na área de Canaã, derrotando os judeus
que habitavam aquela terra. Na segunda linha de baixo dessa inscrição se vangloria “Israel é
destruído, a sua semente não”.

O Decreto de Ciro, Rei da Pérsia (idem anterior, pg. 85).


Exploradores no Iraque no século passado encontraram um antigo cilindro de argila com
inscrições, o qual contém o verdadeiro decreto do Rei Ciro da Pérsia, permitindo as populações
nativas capturadas de muitas nações diferentes retornarem livremente para suas antigas terras natais.
Era política do Império Babilônico, predecessor do império Persa, desalojar populações inteiras,
como os judeus, e restabelecê-los em localidades distantes do império.
Contudo, o Rei Ciro da Pérsia, um monarca moderado e temente a Deus, reverteu a cruel
política babilônica. Imediatamente depois de conquistar o Império Babilônico, o Rei Ciro editou um
decreto permitindo os judeus retornarem livremente para sua terra natal em Israel, terminando assim
os setenta anos de cativeiro. O decreto do Rei Ciro começou com as seguintes palavras: “Eu sou
Ciro, rei do mundo, grande rei”. Depois de descrever suas conquistas e feitos, a inscrição no
cilindro continua, “eu reuni todos os antigos habitantes e os retornei às suas habitações.”
Nessa impressionante descoberta nós descobrimos a confirmação de um dos eventos mais
surpreendentes das páginas da Escritura. “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se
cumprisse a palavra do Senhor, por boca de Jeremias), despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei
da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: assim
diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra; e ele me
encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há dentre vós, de todo o
seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém, que é em Judá, e edifique a Casa do Senhor,
Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém.” Esdras 1:1-3.
9.2. A REFORMA PROTESTANTE E O RETORNO AS ESCRITURAS
Os primeiros quatro séculos da Igreja foram marcados por períodos de elevação e decadência.
Enquanto estavam vivos, os apóstolos mantinham a Igreja com os olhos fixos em Jesus — mesmo
em períodos conturbados de conflitos, decorrentes de ideias contrárias aos ensinamentos de Cristo e
dos apóstolos.
Paulo sabia que, tão logo ele fechasse os olhos, lobos vorazes penetrariam o rebanho; ele
sabia também que, de dentro do próprio rebanho, alguns se levantariam para enganar os cristãos:
“Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não
perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas
perversas, para atraírem os discípulos após si” (At 20.29,30). Foi exatamente o que aconteceu.
O DECLÍNIO DA IGREJA
A Igreja de Cristo, portanto, sofreu a influência de diversos movimentos, distanciando-se,
assim, das verdades legadas pelos apóstolos. Por outro lado, ela se fortalecia como instituição no
quarto século. Àquela altura, a igreja já tinha sua sede em Roma, e, com as interferências diretas do
imperador Constantino, essa sede foi transferida para Bizâncio, na Turquia, passando a ser chamada
de Constantinopla, em 11 de maio de 330 d.C. O nome da cidade (Constantinopla) deriva-se do
nome do imperador Cons-tantino. Desde então, o Estado e a Igreja uniram-se, sendo esta dominada
por ele.
Os interesses políticos e econômicos cresceram tanto que houve um tempo em que
Constantinopla era opulenta e rica, enquanto Roma era tão pobre que os clérigos — inclusive o
papa — sobreviviam de doações feitas pelo povo.
Dogmas com novas crendices foram criados. A idolatria imperava. O povo cristão não sabia
mais o que era o cristianismo bíblico. E assim a Igreja foi caminhando pela História. A Igreja não
sabia a diferença entre autoridade e liberdade. Nada se sabia sobre Cristo, conforme explicado nas
Escrituras, até que surge a Reforma, com Martinho Lutero.
É claro que Lutero não a fez sozinho. O processo histórico demandou muitos anos de
conflitos criados por grupos que, eventualmente, possuíam algum exemplar da Bíblia Sagrada.
Esses, comparando o cristianismo primitivo com o daquela época, insur-giram-se contra a
Igreja Romana por não enxergarem nela compatibilidade alguma com o padrão escriturístico.
Quando Lutero tenta apresentar suas inquietações contra a Igreja, propondo uma reforma segundo
os critérios do evangelho, não é ouvido pelas autoridades de Roma.
O clero romano estava com os ouvidos tapados para ouvir qualquer coisa que contrariasse o
seu modus vivendi. Cientistas, como Galileu Galilei, também foram silenciados pela Inquisição. Se
não fosse a Reforma, que ocorreu em 31 de outubro de 1517, quando Martinho Lutero fixou na
porta da catedral de Witten-berg suas 95 teses contra o sistema cristão vigente na Igreja Romana, o
cristianismo continuaria preso atrás dos muros do medievalismo, e o mundo não teria alcançado
todo o progresso científico e tecnológico que hoje conhecemos.
Lutero defendeu cinco pontos importantes, apresentando-os como obrigatórios para a
prática de um cristianismo autêntico:
1. Sola fide (só a fé);
2. Sola Scriptura (só a Escritura);
3. Solo Christi (só Cristo);
4. Sola gratia (só a graça) e
5. Soli deo Gloria (só a Deus glória).
A partir de Lutero, nasce o movimento protestante, que dará origem à Igreja Evangélica,
conforme a conhecemos hoje. As denominações históricas, como a luterana, a episcopal, a
congregacional, a presbiteriana, a metodista, a igreja reformada (e outras igrejas históricas
menores), em grande parte, preferem ser chamadas, até hoje, de igrejas protestantes.
Assim, a partir da Reforma Protestante, o cristianismo, conforme praticado no início da Era
Apostólica, começou a ser novamente erguido, tendo como base da sua liturgia e de todo o seu
discurso as Escrituras Sagradas, enquanto a Igreja Católica sempre se manteve fiel às encíclicas
papais.
Contudo, a partir do Concílio Vaticano II (1962— 1965), convocado pelo papa João XXIII,
a Igreja Católica mudou essa postura. Em 18 de novembro de 1965, por meio de um documento
intitulado “Constituição Dogmática Dei Verbum”, a Igreja Católica devolveu a Bíblia ao povo,
mandando editá-la em diferentes idiomas — o que não quer dizer que ela tenha se tornado bíblica
por causa disso.
A liberdade de se fazer uso da Bíblia não a tornou livro principal, como ela o é para os
evangélicos. A familiaridade com a Bíblia é diferente entre um evangélico e um católico romano.
“Qual foi a autoridade à qual Martinho Lutero apelou contra as mais altas autoridades
da Igreja e do Império? Foram razão, consciência, experiência religiosa, dogma, magistério, ou
foi a Escritura?
Nos dias de Lutero, havia muitas Bíblias na Alemanha na versão latina de Jeronimo; havia
também a Bíblia em alemão. O próprio Lutero era professor de exegese bíblica, tendo à mão os
textos hebraico e grego, respectivamente. A grande contribuição de Lutero foi dar a Bíblia em uma
linguagem acessível ao povo simples, como lavradores e aldeões. Com a descoberta da imprensa,
foi possível levá-la às massas.
Para Lutero, a autoridade da Escritura está baseada em dois fatos:
1. No testemunho que ela dá de Cristo
2. E na sua origem divina mediante a inspiração.
Dentre as reivindicações da Reforma, a importância dada a Bíblia e o seu retorno foram os
pontos mais altos. O fato de o povo comum ter livremente um exemplar da Escritura em linguagem
acessível — prefaciado por Lutero, incentivando sua leitura e estudo — garantiu a preservação do
passo inicial dado por ele diante de um sistema que o privava da verdade de Deus, conservando-o
na idolatria e na ignorância.
RESTRIÇÃO ÀS ESCRITURAS
O grande feito de Lutero — traduzir a Bíblia em linguagem popular, para que todo o povo
pudesse ter contato direto com a Palavra de Deus — vem de encontro a uma prática que se estendia
desde 1199, quando um decreto de Inocêncio III proibia não somente a posse da Bíblia, mas
também o seu uso; e isso aconteceu justamente em uma época em que sinais de heresias
começavam a aparecer em toda a Europa.
Para melhor se compreender esse período, faz-se necessário assinalar que houve quatro
períodos de pronunciamentos papais sobre a proibição das Escrituras, segundo afirma o historiador
David S. Schaff:
1) a época em que os heréticos Valdenses e os Cathari começaram sua obra, cerca de 1200;
2) a época da Reforma Protestante;
3) a época em que surgiu o Jansenismo na França, cerca de 1650;
4) a época das modernas Sociedades Bíblicas, a partir de 1800.
As heresias: conforme vistas e interpretadas pela Igreja Católica — consistiam no fato de que
grupos estavam traduzindo os Evangelhos e outras porções das Escrituras para a língua do povo, e
grupos de leigos e mulheres passaram a reunir-se em assembleias secretas para comunicar uns aos
outros o significado dos Evangelhos.
Com base na Lei Mosaica de que se um animal tocasse o monte santo devia ser apedrejado,
a Igreja Católica alegava que, sob a Lei cristã, a massa inculta não poderia tocar na sublime
Escritura Sagrada.
No Sínodo de Toulouse (1229), ficou decidido que os leigos não poderiam ter sequer um
exemplar da Bíblia Sagrada, nem mesmo partes dela. O distanciamento das Escrituras foi se
acentuando cada vez mais.
No Concílio de Tarragona, na Espanha, anos depois, os próprios sacerdotes foram proibidos
de possuir um exemplar da Bíblia Sagrada em tradução vernácula, sob pena de serem acusados de
heresia. Todas as traduções deveriam ser entregues ao bispo para serem queimadas.
John Wyclif, seguido pelos Lollardos na Inglaterra, e John Huss, pelos seus seguidores na
Boêmia (Alemanha), persistiram na tarefa de traduzir a Bíblia em linguagem popular e colocá-la
nas mãos do povo.
A segunda série de proibições ocorreu na Mogúncia, em 1485, pelo arcebispo Ber-tholdt.
Ele dizia que a língua alemã não poderia expressar com fidelidade as verdades sublimes das
Escrituras. Não era decente colocá-la nas mãos do povo inculto, especialmente de mulheres. A
multa para quem portasse uma Bíblia era de 100 florins--ouro. Colocá-la nas mãos de um leigo era
o mesmo que colocar nas mãos de uma criança uma faca de ponta.
Devido à insistência de reformadores como Lutero, Knox e Latimer, os legisladores
passaram a punir com pena de morte os portadores do livro sagrado.
Patrick Hamilton foi queimado em Santo André, na Escócia, em 1528, por favorecer
versões populares das Escrituras.
Thomaz Forret, enquanto estava sendo queimado em Glasgow, em 1540, tirou um Novo
Testamento do bolso e gritou: “Este é o livro que faz todo este barulho e divergência em nossa
Igreja”.
William Tyndale, preso pelos agentes de Henrique VIII, foi estrangulado e queimado em
Lillevorde.
Por ordem de Filipe II, em 1565, nos Países Baixos, os homens que lessem as Escrituras
deviam ser queimados, e as mulheres, enterradas vivas. Na Guerra dos Trinta Anos, os jesuítas
divertiam-se destruindo Bíblias. Um deles gabava-se de haver destruído mais de 60 mil exemplares.
Lutero e Tyndale foram acusados de alterar a tradução da Bíblia. Por exemplo, Lutero,
entusiasmado com a ideia da justificação pela fé, fez um pequeno acréscimo em Romanos 3.28:
“Concluímos que o homem é justificado só pela fé, sem as obras da lei”.
Realmente, este “só” não existe no texto. No entanto, Let-tledale encontrou verdadeiras
falsificações na versão católica de Rheims: “O tal, será salvo, todavia, como que pelo fogo do
purgatório” (1 Co 3.15).
Ou ainda: “O Espírito expressamente diz que, nos últimos dias, apostatarão alguns da fé
romana” (1 Tm 4.1). Estes são apenas alguns exemplos de distorções propositais entre muitos.
O terceiro período de proibição de leitura das Escrituras Sagradas veio na bula Unigenitus,
publicada em 1713 pelo papa Clemente XI.
Essa bula veio para contrariar Quesnel e os jansenistas, que tentavam garantir a circulação
das Escrituras de modo irrestrito. A proposição deles era a seguinte:
1) a Bíblia devia ser lida por todos;
2) um dos melhores modos de santificar o Dia do Senhor era pela Escritura e
3) a sua ocultação seria fechar a boca de Cristo.
Em 1804, foi fundada a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, e, em 1816, a
Sociedade Bíblica Americana. Não tendo mais como promulgar leis que coibissem o povo de
acessar a Bíblia, os Pontífices — a começar por Pio VII, em 1816 —, um após outro, têm-se
limitado a praguejar a publicação do livro santo. Pio VII considerou as Sociedades Bíblicas “a mais
astuta das invenções, pela qual se abalam os fundamentos da religião”. Outros as têm amaldiçoado
com pestes e doenças infecciosas. Leão XII, em 1824, comparou as versões feitas pelas Sociedades
Bíblicas de “pastagens venenosas”.
A tradução da Bíblia católica para o português foi feita pelo Padre Antonio Pereira de
Figueiredo. Aproveitando-se de um enfraquecimento da Inquisição, sem contar com o apoio da sua
igreja, ele traduziu o Novo Testamento (entre 1778 e 1781) e o Antigo Testamento (entre 1782 e
1790). Inicialmente, perfez um total de 23 volumes, sendo reduzido para sete. Em 1821, foi feita em
apenas um volume pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Sua tradução baseou-se na
Vulgata Latina de Jerônimo.
A tradução da Bíblia usada pelos evangélicos foi feita por João Ferreira de Almeida
(1628—1691). Ele converteu-se na Igreja Reformada Holandesa, aos 14 anos de idade. Naquela
época, Almeida havia deixado Portugal para viver em Málaca, na Malásia. Dois anos depois, ele
começou a traduzir a Bíblia do espanhol para o português, concluindo o Novo Testamento em 1645;
mas nunca foi publicada. Ele fez cópias à mão dessa tradução e enviou-a a Málaca, Batávia e Ceilão
(hoje Sri Lanka). A língua portuguesa era falada em partes da índia e no sudeste da Ásia.
Em 1651, transferiu-se de Málaca para Batávia, onde se tornou pastor. Acumulava as
funções de pastor, professor de português, tradutor das Escrituras e ainda ensinava catecismo a
professores de escolas primárias. Em 1656, assumiu o presbitério de Ceilão; depois, pastoreou em
Tuticorin, na índia, por um ano, mas, por onde quer que passasse, era perseguido pela Inquisição —
um retrato seu foi queimado em praça pública, em Goa.
Aos 35 anos, assumiu o pastorado em uma congregação de língua portuguesa, na cidade de
Batávia, onde permaneceu de 1663 a 1691. Retornou ao trabalho de tradução da Bíblia.
Nessa época, dominando bem a língua holandesa, dedicou-se aos estudos das línguas grega e
hebraica. Em 1676, concluiu a tradução do Novo Testamento, porém o presbitério de sua igreja
recomendou que fosse bem revisada antes de sua publicação.
Como o processo de revisão demorava, irritado, mandou para impressão. Passaram-se alguns
meses até que assentissem com ela. Informaram-lhe que a revisão havia sido feita, mas, depois de
publicada, veio a decepção: havia muitos erros no texto, a ponto de ser condenado. Um ano depois,
chegou a Batávia.
Depois de corrigir à mão, em 1693, foi feita, na Batávia, a segunda edição. Entretanto, por
ordem das autoridades holandesas, todo o estoque foi queimado. O trabalho de revisão durou ainda
dez anos, e somente em 1721 foi feita a terceira edição.
IV - MANUSCRITOS E TEXTOS ORIGINAIS
4.1. CRÍTICA TEXTUAL

1. Definição e propósito da crítica textual


A crítica textual do NT é o estudo dos textos bíblicos que aparecem nos manuscritos antigos,
com o objetivo de recuperar uma forma de texto que se aproxime o máximo possível do texto exato
dos escritos originais (chamados de ‫״‬autógrafos‫ )״‬assim como estes se apresentavam antes de
copistas introduzirem alterações e cometerem erros durante o processo de cópia.
Como observa Michael W. Holmes, esta tarefa envolve três aspectos principais:
1) A coleta e a organização do material ou da evidência;
2) o desenvolvimento de um método que permita avaliar e determinar o significado e as
implicações da evidência, para que se possa determinar qual das variantes textuais tem mais
chances de representar o texto original; e
3) a reconstrução da história da transmissão do texto, na medida em que o material disponível
permita tal reconstrução.
A crítica textual não se preocupa com a inspiração do Novo Testamento e não trata da
questão se os textos originais continham erros de conteúdo ou não. Os manuscritos originais não
existem mais. Os únicos manuscritos de que dispomos hoje são cópias de cópias.
O manuscrito mais antigo de um trecho do NT é um fragmento de papiro que contém uns
poucos versículos do Evangelho de João. Este fragmento, chamado de P52 de aproximadamente
125 d.C.
Convém notar igualmente que, embora a palavra ‫״‬crítica‫ ״‬apareça muitas vezes, em
linguagem corriqueira, num sentido negativo, os eruditos a empregam num sentido positivo,
como “avaliação (da evidência a favor do texto)‫״‬.
Há milhares de variantes textuais nos manuscritos antigos, mas a maioria delas não passa de
erros de grafia ou de outros erros de cópia bem evidentes, não tendo, portanto, nenhuma
importância para a tradução. Entretanto, convém notar que até mesmo entre as leituras que têm
significado para a tradução, isto é, que afetam a tradução, são poucas aquelas que são de fato
significativas para a teologia.
Considere, por exemplo, Mc 1.1, onde alguns manuscritos não têm as palavras (υίοΰ θεού =
Filho de Deus). No entanto, mesmo que estas palavras não sejam originais nessa passagem, o
autor com certeza acreditava que Jesus era o Filho de Deus (Mc 1.11; 3.11; 5.7; 15.39).
2. Os materiais da crítica textual
Existem três fontes que são utilizadas para reconstruir o texto original do NT. A mais
importante dessas fontes são os próprios manuscritos gregos. Existem vários milhares de
manuscritos, que datam desde o começo do segundo século até o século dezesseis. Igualmente
importantes são os manuscritos do NT em outras línguas. Por volta do final do segundo século e
começo do terceiro, o NT já havia sido traduzido para o latim e o siríaco.
Um pouco depois, foi traduzido para o copta e outras línguas antigas. Os críticos de texto se
referem a essas traduções como versões antigas. Uma terceira fonte para estudo são os escritos
de teólogos cristãos da Igreja Antiga, desde o segundo ao oitavo séculos, que escreveram em
grego e latim, e que citam trechos do Novo Testamento.
a. Manuscritos gregos
Esses manuscritos se dividem em dois grupos:
1) manuscritos de texto contínuo, que contêm o texto em ordem, por capítulos e
livros, do começo ao fim; e
2) manuscritos de lecionários, que contêm passagens de várias partes do NT
organizadas segundo a ordem em que aparecem na lista de leituras para os do-mingos e dias
festivos do calendário litúrgico ou eclesiástico. (Veja “Os Manuscritos Gregos”, pp. xiv-xxiv na
Introdução ao Novo Testamento Grego).
Os mais antigos documentos foram copiados em papiro. A partir do quarto século d.C.
aproximadamente, começou-se a fazer cópias em pergaminho, um material feito de peles de
animais. Fazer cópias desses escritos era um processo caro, por duas razões: o custo elevado do
material de escrita e o tempo necessário para fazer a cópia de um só livro.
Em média, para se fazer uma cópia manuscrita do NT em pergaminho eram necessárias as
peles de, pelo menos, 50 a 60 ovelhas ou cabras! O pergaminho foi usado até que começou a ser
substituído pelo papel no século doze.
Cada um dos manuscritos de papiro é identificado com a letra P (para “papiro”) e um
número. Por exemplo, P46 se refere a um manuscrito do terceiro século que contém trechos das
cartas paulinas. No começo do século vinte, sabia-se da existência de apenas nove manuscritos
de papiro. Hoje se conhece 116 manuscritos de papiro, embora muitos sejam bastante
fragmentários e contenham apenas uns poucos versículos. Na Introdução de O Novo Testamento
Grego aparece uma lista de 116 manuscritos de papiro.
O tipo de escrita usada até o nono século era a escrita uncial ou maiúscula.
Manuscritos copiados com esse tipo de letra são chamados de uncíais ou maiús-culos.
Existem 306 manuscritos uncíais, embora apenas um pouco mais do que dois terços desses
manuscritos tenham mais do que duas páginas de texto. Os manuscritos uncíais são identificados
com uma letra do alfabeto hebraico, latino ou grego, ou então com um algarismo arábico
antecedido por um zero.
Em alguns casos, o manuscrito é conhecido por uma letra e um número. O Códice Vaticano,
por exemplo, é um manuscrito do quarto século que, quase com certeza, continha originalmente
toda a Bíblia grega.
Geralmente ele chamado de Códice B, mas tem também o número 03. Os uncíais eram
copiados sem qualquer espaço entre as palavras e frases. Esse tipo de escrita é chamada de
scriptio continua (“escrita contínua”).
As divisões em capítulos que conhecemos e usamos hoje foram introduzidas no texto por
Estevão Langton, arcebispo de Cantuária, no século treze. A divisão em versículos teve início em
1551, numa Bíblia impressa por Roberto Stephanus.
A grande maioria dos manuscritos gregos de que dispomos em nossos dias (o número chega
a 2.856) são minúsculos, e a maioria deles data do período que vai do século onze ao catorze.
Além dos mais de 3000 manuscritos de texto contínuo, existem 2403 manuscritos de
lecionários. Esses manuscritos aparecem no aparato crítico e são identificados pela letra l em
itálico seguida de um número ou do símbolo coletivo Lec (veja “Os lecionários gregos”, pp.
xxiv-xxvi da Introdução ao Novo Testamento Grego).
Segundo a maioria dos críticos de texto, esses manuscritos gregos, em especial os papiros e
uncíais, são de grande importância para a tarefa de tentar recuperar o texto original dos livros do
NT. Entretanto, outros especialistas afirmam que os manuscritos gregos somente nos fornecem a
forma do texto que era conhecida no terceiro século. Em outras palavras, os manuscritos gregos
não dão acesso ao texto anterior ao terceiro século.
Segundo esses especialistas, para recuperar uma forma mais antiga do texto do NT, que
esteja mais próxima do original, também se precisa de um estudo cuidadoso dos escritos dos Pais
da Igreja (veja abaixo) e de um estudo das antigas traduções do NT para o copta, siríaco e latim.
b. Escritos dos Pais da Igreja antiga.
Importantes líderes da Igreja que viveram entre o segundo e o oitavo séculos e que
escreveram em grego e latim, com frequência citaram versículos do NT. Esses líderes são muitas
vezes chamados de Pais da Igreja ou, simplesmente, os Pais, e o que eles escreveram recebe o
nome de obras patrísticas (de pater, o termo latino para “pai”). Os escritos dos Pais da Igreja têm
valor especial para o estudo do texto do NT.
Alguns eruditos argumentam que os papiros e manuscritos uncíais só nos dão acesso ao
texto conhecido no terceiro século e que “se... realmente queremos... reconstruir um texto ‘o
mais próximo possível do original’, temos que nos valer das fontes patrísticas e levar a sério o
testemunho dessas fontes. E, diferentemente dos papiros, o uso da evidência patrística irá...
alterar significativamente a configuração do texto crítico”
2.1. VARIANTES TEXTUAIS
Variantes são alterações introduzidas num texto ao longo do processo de cópia do mesmo.
Um livro de nossos dias, caso tiver um erro de grafia em determinado lugar, mostrará esse erro em
todas as cópias impressas. Caso se fizer uma segunda edição, será possível corrigir o erro e todas as
cópias impressas apresentarão a referida correção. Com as cópias antigas da Bíblia a realidade é
bem diferente.
Acontece que cada cópia manuscrita era uma nova edição do texto. E como a cópia era feita
à mão, por escribas ou copistas que eram seres humanos como nós (e, muitos deles, também
teólogos), era inevitável que erros de cópia fossem entrando no texto durante o processo de
transmissão do mesmo. Assim, no NT, existem milhares de pontos de variação, considerados todos
os manuscritos.
Não há dois manuscritos que sejam totalmente idênticos, salvo, talvez, os minúsculos
fragmentos. No entanto, graças a Deus, a maioria dessas variações (seguramente mais de 95% dos
casos) é irrelevante quanto à doutrina ou ensino do NT. Em outras palavras, são fáceis de explicar e
são corrigidos pela ciência da crítica textual.
O teólogo alemão Eberhard Nestle (1815—1913), estimulou que existem cerca de 150.000
- 200.000 variantes no texto do Novo Testamento.
Bart D. Ehrman (1955—), um acadêmico minimalista bíblico norte-americano, afirma que
existem até 400.000 variantes.
Norman Geisler e Willian Nix acrescentam: “O Novo Testamento, então, não apenas
sobreviveu em maior número de manuscritos que qualquer outro livro da antiguidade, mas
sobreviveu em forma mais pura que qualquer outro grande livro – uma forma 99,5% pura”.
As variantes que modificam o texto abrange a milésima parte dele: somente umas 15
variantes têm certa importância; contudo, nenhuma delas toca a substância do dogma estabelecido
pelas passagens criticamente certas, sem termos a necessidade de lançar mão de textos duvidosos”.
Apenas para dar alguns exemplos, trata-se da troca da ordem de palavras (Cristo Jesus ou
Jesus Cristo), da substituição de uma palavra por um sinônimo (louvando em lugar de cantando),
da confusão entre (nós e vós), e assim por diante.

a. Acréscimos que são tirados do texto


No texto da ARA aparecem, em vários lugares do NT (a começar por Mt 5.22, e incluindo
Mt 6.13, At 8.37; Rm 3.22; 2Pe 1.21; 1Jo 5.7-8) palavras, versículos ou até mesmo trechos inteiros
(veja Jo 7.53—8.11) entre colchetes. Aqueles colchetes indicam que hoje se entende que o texto ali
inserido não fazia parte do original.
Essa conclusão se baseia na constatação de que os manuscritos mais antigos trazem, nesses
lugares, um texto mais breve, ao passo que os manuscritos copiados em data mais recente
apresentam um texto expandido. Um estudo dos manuscritos revela que a tendência dos copistas
bíblicos era inserir texto, ao invés de omitir algo.
Essas inserções podiam ser, por exemplo, anotações que um copista anterior havia inserido
na margem do manuscrito. Isso é até compreensível: os copistas não teriam jamais a intenção de
omitir um texto de propósito; ao contrário, tinham medo de omitir algo da palavra de Deus e, assim,
na dúvida, copiavam tudo que viam no manuscrito que tinham à sua frente.

b. Variantes involuntárias
Muitas variantes textuais que aparecem nos manuscritos gregos do NT se originaram de
forma involuntária ou acidental.
Assim como um leitor por vezes se confunde com a presença de palavras semelhantes ou
palavras com início ou final idêntico num mesmo parágrafo, também os copistas facilmente faziam
confusão numa situação dessas.
Era comum saltar linhas ou versículos que tivessem um final (ou começo) idêntico. Um
exemplo disso ocorreu com o copista original do Códice Sinaítico.
Uma vez que, em Lc 10, na história do bom samaritano, os versículos 31 e 32 terminam de
forma idêntica, com passou de largo, o copista, sem se dar conta, passou de largo um versículo, ou
seja, passou do final do v. 31 ao início do v. 33, omitindo, assim, o v. 32.
Houve momentos em que palavras com pronúncia semelhante confundiam os copistas.
Um exemplo disto é a confusão entre (nós e vós) ou (nos e vos) que, no grego, são tão ou
mais semelhantes entre si do que no português.
Um caso clássico e de difícil solução é 1Ts 2.7, onde tanto pode ter havido a duplicação de
uma letra (o “ni!” grego, que corresponde ao nosso “n”), ou o corte de um deles (supondo que,
originalmente, havia dois “nis”). Dependendo da presença de um ou dois “ni”s (a sequência grega é
EGENETHEMEN[N]EPIOI), o texto dirá brandos (EPIOI) ou crianças (NEPIOI).
ARA optou pela leitura EPIOI (nos tornamos carinhosos), e a NTLH traduz a leitura
NEPIOI (fomos como crianças). Felizmente, neste caso, a diferença de significado é mínima, pois,
em geral, as crianças são (ou eram) brandas ou carinhosas.

c. Variantes intencionais
Há também variantes ou variações que foram criadas deliberadamente pelos copistas. Muitas
delas, por excesso de piedade. Um exemplo é o “amém” que aparece ao final de Mateus (Mt 28.20)
e também no final de muitas das cartas do NT (2Coríntios, por exemplo).
Nesse grupo de variantes entra também, ao que tudo indica, aquela de Jo 7.8. Ali, há duas
possibilidades de texto, conforme os manuscritos gregos: “não” (em grego, OUK; pronunciado
“uk”) e “ainda não” (em grego, OUPO; pronunciado “upo”).
A questão é a seguinte: Jesus disse que “não” subiria àquela festa, mas acabou mudando de
ideia, conforme registra o v. 10, ou ele disse logo de saída que “ainda não” subiria, dando a
entender que mais tarde subiria? É um caso de difícil solução.
A leitura hoje aceita como original é a que traz “não”. Neste caso, a criação da variante se
deu pelo simples acréscimo de uma letra (de OUK para OUPO).
Mt 6.13 como variante intencional. A segunda metade de Mt 6.13 aparece entre colchetes,
na ARA. Isto traz consigo a clássica discussão: Como termina o Pai-Nosso? Seria com “mas livra-
nos do mal”, ou com “pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém”?
Tudo indica que seja com “mas livra-nos do mal”.
Isto porque a segunda metade do v. 13, conhecida como a doxologia, não aparece em
nenhum dos grandes manuscritos gregos antigos. Também não aparece na Vulgata Latina (e, por
conseguinte, não consta das traduções católicas). Isto indica que não fazia parte do texto grego
usado nos primeiros séculos.
O que muda ou está em jogo
Conforme indicado acima, a maioria das variantes é mais interessante do que importante. A
tradução muda um pouco aqui e ali, dependendo do texto que se adota como original. Mas a
mensagem permanece essencialmente a mesma.
Fontes

1. E. Nestle, Einführung in das Griechische Neue Testament. p. 23.


2. ↑ Bart D. Ehrman: Misquoting Jesus - The Story Behind Who Changed the Bible and Why, p. 90 (review)
3. ↑ Moorman, Jack, Forever Settled, A Survey of the Documents and History of the Bible, Johannesburg,
1985 (book)
4.2. AS LINGUAS ORIGINAIS
1. O HERAICO
O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, com algumas poucas exceções aparecendo em
aramaico.
São elas: Esdras 4.8—6.18; 7.12-26; Daniel 2.4—7.28; Jeremias 10.11.
O hebraico é uma língua semítica, uma variante do contínuo linguístico fenício-cananeu.
[1]. Na Bíblia lemos que “os hebreus não falavam língua judaica” (da tribo de Judá) (Neemias
13:24. “língua canaã” (Isaías 19:18).
Depois do exílio da Babilônia, o hebraico foi gradativamente deixado de ser falado, sendo
substituído pelo aramaico. Evidências arqueológicas indicam, contudo, que em contextos
religiosos e famílias em aldeias isoladas o hebraico continuou a ser usado no cotidiano até as
revoltas judias do século II d.C.
A primeira evidência escrita do hebraico, o calendário de Gezer, data do século X a.C., os
tempos dos reinados dos reis David e Salomão. O calendário de Gezer é escrito sem nenhuma
vogal, e não usa consoantes substitutas de vogais, as chamadas matre lectiones.
O escrito mais extenso escrito originalmente em hebraico é o Tanakh. As cópias existentes
mais antigas da Bíblia foram encontradas entre os manuscritos do Mar Morto, escritos entre o
século II a.C. e o século I d.C.
Por que Deus escolheu o hebraico? De acordo com Geisler e Nix, o hebraico é uma
língua tanto visual como pessoal:
1. É uma linguagem pictórica, falando com metáforas vividas e ousadas que desafiam e
dramatizam a história. A língua hebraica possui uma facilidade para apresentar
“imagens” dos acontecimentos narrados. “ O pensamento hebraico acontece por
imagens, e, consequentemente, seus substantivos são concretos e vividos. Não existe
nada parecido com o gênero neutro, pois, para o semita, tudo está vivo. Faltam palavras
compostas. [...] Não existe riqueza de adjetivos. [...]” A língua apresenta “vastos poderes
de associação e, portanto, de imaginação” . Como uma linguagem pictórica, o hebraico
apresenta uma figura vivida dos atos de Deus entre um povo que se tornou exemplo ou
ilustração para as gerações futuras (cf. 1 Co 10.11). Já que o Antigo Testamento teve a
intenção de ser um livro biográfico para cristãos, convinha que essas verdades fossem
apresentadas explicitamente em uma “linguagem visual”
2. O hebraico é uma língua pessoal. Ela atinge o coração e as emoções em vez de
simplesmente a mente ou a razão. Às vezes, até mesmo às nações são atribuídas
personalidades (cf. Ml 1:2,3). O apelo é sempre para a pessoa na realidade concreta da
vida, e não no abstrato ou teórico. O hebraico é uma língua pela qual a mensagem é
sentida, e não pensada. Ela era muito mais qualificada para registrar a percepção da
revelação na vida de uma nação do que codificar essa revelação
para a propagação entre todas as nações. {A General Introduction to the Bible. p.
328,329). Foi por essa razão que o Novo Testamento grego foi o meio mais útil para
expressar a verdade proposicional do Novo Testamento, enquanto o hebraico o foi para
expressar a verdade biográfica do Antigo Testamento. Como o grego possuía uma
precisão técnica não encontrada no hebraico, as verdades teológicas que foram expressas
de forma mais geral no hebraico do Antigo Testamento foram mais precisamente for-
muladas no grego do Novo Testamento.
1. Além disso, o grego era quase uma língua universal. A verdade de Deus no Antigo
Testamento, que foi inicialmente revelada a uma nação (Israel), foi devidamente
registrada na língua da nação (em hebraico). Mas a revelação plena dada por Deus no
Novo Testamento não ficou restrita a essa maneira. Nas palavras do Evangelho de Lucas,
a mensagem de Cristo deveria “ ser pregada em Seu nome a todas as nações” (Lc 24.47).
A língua mais apropriada para a propagação dessa mensagem foi naturalmente aquela
que era amplamente falada por todo o mundo. Assim era o grego comum (Koine), uma
língua totalmente internacional do mundo mediterrâneo do primeiro século. (Ibid., p.
329)
2. O ARAMAICO
O aramaico (e sua variante posterior, o siríaco) e hebraico são línguas semíticas e o grego, e
posteriormente o latim, são de origem indo-europeia.
O aramaico era a língua dos sírios (VI a.C) tornando-se a língua geral de todo o Oriente
Próximo a partir de sua adoção pelo Império Persa Aquemênida. Algumas passagens da Bíblia
foram escritas em aramaico: Esdras 4:8–6:18; 7:12-26 (67 versos); Daniel 2:4b–7:28 (200 versos),
Jeremias 10:11(1 verso); Gênesis 31:47 (1 verso).
O aramaico, como o latim, se dividiu e gerou várias línguas-filhas, como o mandaico, o siríaco e
o neo-aramaico.
3. O GREGO
Novo Testamento todo foi escrito em grego. Geisler e Nix veem o grego como uma língua
intelectual e universal:
1. O grego era uma língua intelectual. Era mais uma língua da mente do que do coração,
um fato ao qual os grandes filósofos gregos deram muitas evidências. O grego era mais
adequado para codificar uma comunicação ou refletir sobre uma revelação de Deus, a
fim de colocá-la em uma forma comunicável simples. Era uma língua que poderia mais
facilmente transformar o crível em inteligível do que o hebraico.
2. O grego era quase uma língua universal. A verdade de Deus no Antigo Testamento, que
foi inicialmente revelada a uma nação (Israel), foi devidamente registrada na língua da
nação (em hebraico). Mas a revelação plena dada por Deus no Novo Testamento não
ficou restrita a essa maneira. Nas palavras do Evangelho de Lucas, a mensagem de
Cristo deveria “ ser pregada em Seu nome a todas as nações” (Lc 24.47). A língua mais
apropriada para a propagação dessa mensagem foi naturalmente aquela que era
amplamente falada por todo o mundo. Assim era o grego comum (Koine), uma língua
totalmente internacional do mundo mediterrâneo do primeiro século.
Pode-se concluir, então, que Deus escolheu as línguas exatas para comunicar Sua verdade
que, em Sua providência, foram preparadas para expressar de forma mais efetiva o tipo de verdade
que Ele desejava naquele determinado momento, na revelação de Seu plano geral.
O hebraico, com sua vivacidade visual e pessoal, expressou bem a verdade biográfica do
Antigo Testamento. O grego, com sua potencialidade intelectual e universal, serviu bem para as
necessidades doutrinárias e evangelísticas do Novo Testamento.
V - OS MATERIAIS DA ESCRITA
Os textos bíblicos foram compostos, raras exceções, por escribas ou amanuenses. (Jeremias
36:4; Romanos 16:22). Nesse processo, boa parte dos textos circulavam (às vezes por gerações) de
forma oral até serem fixados em texto escrito, pelos escribas. (Êxodo 13:8,9, 14-16; Pv 25:1)
Na composição dos textos bíblicos, era comum incorporarem fontes anteriores e os escribas
tinham a liberdade de editar ou adicionar ao texto. Jeremias 36:28, 32
Os textos bíblicos que chegaram até o presente estão escritos em três escritas alfabéticas: a
fenício-cananeia, a escrita hebraica quadrada e o grego (uncial e cursivo). A representação da
linguagem por sinais gráficos iniciou-se com inscrições cuneiformes gravadas em plaquetas de
barro, na região da Mesopotâmia, por volta do ano 3200 a.C. Por volta do ano 3000 a.C. os egípcios
também desenvolveram a escrita, a qual era hieroglífica

Nos séculos XV a XIV a.C, no norte de Canaã, na cidade de Ugarit, se desenvolveu uma
forma simplificada de escrita cuneiforme com 30 sinais.

Por volta do século XVI a.C. aparecem no Sinai, em Canaã e no Sul do Egito formas
simplificadas da escrita hieroglífica egípcia que registravam acrofoneticamente só as consoantes.

No entanto, não era um sistema com sinais padronizados e era utilizado somente para fins de
epigramas (pichações, amuletos e marcar a propriedade de um objeto). Esses sinais evoluíram para
uma escrita plena quando cerca do ano 1100 a.C os fenícios sintetizam os sinais para 22 letras,
criando o alfabeto.

É criada assim a base do Alfabeto hebraico. Os fenícios eram o mesmo povo cananeu da
Bíblia, chamados pelos gregos de fenícios (vermelho = sangue) numa alusão a tintura
comercializada por eles.

Era a característica dos alfabetos fenícios, aramaicos e ugaríticos a não utilização das vogais
porque em toda a Antiguidade o texto era um mero auxílio à memória na recitação oral.

No século VIII a.C. o uso da escrita começou a se popularizar na região de Israel e Fenícia.

Os sinais se tornaram mais padronizados, o que indica a existência de escolas escribais.


Contudo, a adoção do papiro (que em média duravam 30 anos de uso) fez com que poucos textos
sobreviveram dessa época, exceto em inscrições monumentais e cópias posteriores dos livros
bíblicos. Nessa época, alguns trechos dos livros dos profetas, como Amós, Oseias, Miqueias e parte
de Isaías, bem como alguma versão com parte do Pentateuco foram vertidos em texto. O registro
linguístico era o antigo hebraico ou hebraico arcaico.

Durante o período helenista as tecnologias de produção textual desenvolvidas em


Alexandria e Pérgamo foram rapidamente adotadas nos textos bíblicos. Passaram a utilizar o couro
(pergaminho), a divisão em colunas, parágrafos e alguns sinais de separação de palavras e
pontuações. Seria nesse período que os restos dos Escritos (Ketuvim) atingiram sua estabilidade
canônica. O registro linguístico é o hebraico clássico tardio, cheio de aramaísmo e helenismo.

Nesse período, o grego ganhou adesão dos judeus da Diáspora e da Palestina e seria nessa
língua que a Bíblia seria traduzida na versão da Septuaginta e no Novo Testamento cristão.

A própria Torá foi influenciada pelas práticas editoriais gregas, sendo o Livro da Lei divido
em cinco livros (em grego, Pentateuco), mesmo que continuasse a ser antologizado em um só rolo.

A partir do século V d.C surgiram famílias de copistas, os massoretas (texto massorético),


que desenvolveram padrões para copiar com regras meticulosas e precisão o texto hebraico. Estes
criaram sinais para produzir as vogais curtas. Existiam três sistemas de pontuação: babilônico,
palestinense e tiberiano (de Tiberíades). As duas famílias que mais produziram textos entre os três
sistemas foram Ben Naftali e Ben Asher.

5.1. A TINTA E OS INSTRUMENTOS DE ESCRITA


O emprego do papiro como suporte para escrever representou um grande avanço, pois o
mesmo, por ser leve, fino e mais facilmente manuseável, originou o que hoje conhecemos como
“folha”. Os antigos egípcios dominavam a técnica de colar até 20 folhas seguidas, resultando em
rolos com até 40 metros de comprimento. Para desenhar os símbolos, os escribas recorriam a uma
varinha de caniço de 20 centímetros cuja tinta preta “era composta de uma mistura de pó de
fuligem e água, mais um fixador como a goma-arábica” (JEAN, 2002: 41).
Nessa época, os escribas contavam com o auxílio de cálamos, que seriam os “ancestrais de
nossas canetas-tinteiro e de nossas esferográficas” (JEAN, 2002: 15). Em seguida ao emprego da
pedra, do barro e da esteatita, aparece o papiro no Egito antigo, em forma de rolo, de couro ou linho
e que, ornado suntuosamente de vinhetas coloridas, eram utilizados para narrar os grandes
acontecimentos das dinastias faraônicas.
Com o passar do tempo, verificaram-se os inconvenientes do papiro: além de caro – o Egito
antigo, por exemplo, obtinha altos lucros com sua exportação –, ele caracterizava-se pela fragilidade
e dificuldade de transporte, obrigando os usuários a recorrerem tão somente a uma de suas faces e,
mesmo assim, com extremo cuidado. O pergaminho, a nova base da escrita que emergiria na Ásia
Menor, evitou algumas destas desvantagens, uma vez que, por ser feito de couro, aceitava registros
nos dois lados.
A escrita sobre o pergaminho, além de abrir espaço para criações artísticas antes
impensáveis, sendo:
1. A produção de iluminuras uma delas, trouxe duas inovações decisivas:
2. O aproveitamento da pena de ganso, em substituição ao agora defasado pincel de caniço
e a disposição desse material no aspecto de folhas, de maneira que fosse possível dobrá-
las e costurá-las.
Este arranjo forneceria o fulcro dos códices, a estrutura padrão sobre a qual os futuros livros
produzidos pela tecnologia impressa se fundamentariam.
5.2. SUPORTES USADOS NO PROCESSO DE ESCRITURAÇÃO
Segundo evidências internas da Bíblia (com algumas confirmações arqueológicas) os textos
bíblicos foram escritos nas seguintes superfícies:

 Tabletes de Argila, ou tabuinhas de barro, que eram usadas na antiga Suméria, já em


3.500ª.C. No AT há referência delas em Jeremias 17:13 e Ezequiel 4:1;
 Pedras foram usadas na Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, por exemplo, o código
de Hamurabi e as pedras de Roseta. Na bíblia há citação de seu uso em Êxodo 24:12;
32:15 e Deuteronômio 27:2,3;
 Pedras preciosas, como o ônix, referidos em Êxodo 39:6-14;
 Metal, em lâminas de ouro, cuja referência bíblica encontra-se em Êxodo 28:36;
 Cera foi referida em Isaías 8:1;
 Madeira, tábuas, em Habacuque 2:2.
 Óstracos, pedaços de restos de azulejos e cascas de crustáceos, referidos em Jó 2:8;
 Linho foi usado no Egito, Grécia e Itália, mas não tem referência bíblica.
 Papiro foi usado na antiga Gebal, ou Biblos, e no Egito por volta de 2100 a.C. Era
obtido através da prensa de cascas coladas. Desse material faziam-se rolos. Foi esse o
material utilizado por João, o discípilo de Cristo, para escrever o Apocalipse.
 Pergaminho, surgiu pela primeira vez em Pérgamo, cidade grega da Mísia, daí a origem
do seu nome. O uso desse material se expandiu devido ao monopólio imposto pelos
exportadores de Papiro. Havia dois tipos: o pergaminho e o velino, o primeiro era feito
com o couro de animais menores, como as ovelhas e cabras, e o segundo com bois e
antílopes, o que encarecia o produto, diminuindo a sua utilização. Paulo se refere ao
pergaminho em 2Timóteo 4:13;
 Palimpsesto, um pergaminho reutilizado, utilizado para escrever o Códice Efrainita em
345 d.C.

5.3. FORMATOS DOS LIVROS


Os manuscritos bíblicos se apresentaram em dois formatos de livros:
1. os rolos e
2. os códices, forma mais aproximada dos livros atuais.
Um livro nos tempos antigos constava de uma simples tira de papiro ou de pergaminho, que
usualmente se conservava enrolado em duas varas - e se desenrolava quando qualquer pessoa
desejava lê-lo. Era conhecido como rolo ou pergaminho. Na bíblia encontramos a palavra rolo em
Salmos 40:7; Jeremias 36:2-32; Ezequiel 2:9; Ezequiel 3:1-3; Zacarias 5:1-2; Hebreus 10:7 .
A diagramação na escrituração dos rolos antigos obedecia às medidas: largura = 1 mão e
altura = 1 côvado (medida antiga correspondente à distância do cotovelo à ponta do dedo médio).
Geralmente os rolos eram guardados em vasos e eram enrolados até o final de leitura do Shabat,
mostrando de onde começaria o seguinte. Os rolos de pergaminho e papiro foram utilizados no
Antigo Testamento, porém não foi encontrado nenhum manuscrito original, todos os livros
encontrados foram cópias manuscritas: os rolos das sinagogas e as cópias particulares.
Os rolos das sinagogas eram considerados “rolos sagrados”, pois eram submetidos a regras
rigorosas para a sua execução. O rolo principal continha a Torá (Lei) e parte dos Neviim (profetas);
em outros vinham os Ketuvim (Escritos) e os Megilloth para as festas anuais.
A origem da palavra vem de caules (caudex) = códice (codex).
Na igreja primitiva dos séculos II e III, as Escrituras eram executadas em material barato
como o papiro, daí não terem sido tão bem preservados quanto os rolos hebraicos encontrados nos
sítios arqueológicos. Ainda eram usados os rolos.
A partir do século IV o suporte de papiro foi substituído pergaminhos. E ao invés de
enroladas as folhas eram sobrepostas umas às outras e costuradas, da mesma forma dos livros
atuais. Para proteger a obra, era colocada uma capa de madeira, que depois foi substituída por
couro.
5.4. AS FERRAMENTAS DE ESCRITA

 Estilo ou Estilete simples – feitos em pedra talhadas, no formato de pontas de lanças, e


usados sobre tabuinhas de argila ou cera. Alguns autores bíblicos também a
denominavam pena.
 Estilete ponta resistente – ponta feita em ferro ou diamante, usados em material de
metal (Jr 17:1).
 Cinzel – ferramenta feita de ferro ou chumbo para escrever sobre pedra. Jó se refere ao
cinzel como pena de ferro (Jo 19:24).
 Canivete – Jeremias usa a expressão “canivete de escrivão” que era usado para
documentos oficiais.
 Caniços - para as escritas em papiros.
 Talos de bambus – para escritas em pergaminho.
 Cálamos – ou caniços.
 Penas – de aves como o ganso (3Jo13).

5.5. TINTAS

 Base de fuligem – fuligem de madeira com goma-arábica;


Base de Plantas – da Anileira (cor azul anil) e da Garança ou Ruiva (cores vermelha,

violeta e marrom);
 Base Cefalópode – polvo e lula (cor sépia);
 Base de Ferro – Criada pelos romanos e que perdurou até o século XIX. Também
conhecida como tinta ferrogálica. Mais durável.
VI - TRADUÇÕES DA BÍBLIA
6.1. PANORAMA HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS TRADUÇÕES DA BÍBLIA
A primeira tradução da Bíblia, chamada Septuaginta, surgiu antes mesmo da era cristã. Desde
lá, na medida em que a mensagem do Evangelho ganhou terreno no mundo, alcançando novos
povos e gerações para Jesus Cristo, a obra da tradução das Escrituras tem se ampliado mais e mais.
6.1.1. Antes de Cristo
1. Septuaginta (a partir de 280 a.C.).
Nos séculos 4 e 3 a.C., os judeus, especialmente os que viviam fora da Palestina, perderam a
fluência na língua hebraica. Para que pudessem continuar a se alimentar da palavra de Deus, foi
necessário que a Bíblia fosse traduzida.Começando em cerca de 280 a.C., o Pentateuco foi
traduzido para o grego, em Alexandria, onde havia uma grande população de fala grega, tanto de
judeus como de prosélitos (gentios convertidos ao Judaísmo). Era o início da tradução conhecida
como Septuaginta.
O nome Septuaginta (e LXX, a sigla pela qual essa versão ficou conhecida) vem da tradição
de que ela teria sido o resultado do trabalho de setenta homens (para ser exato, 72).
2. Targuns (últimos séculos a.C até o século 5 d.C.)
Nos últimos séculos a.C., muitos dos judeus que viviam na Palestina sentiam--se mais à
vontade com o aramaico do que com o hebraico. O aramaico foi herança trazida do cativeiro
babilônico.
Surgiu daí a necessidade e o costume de, depois da leitura das Escrituras hebraicas, na
sinagoga, um intérprete fazer uma paráfrase aramaica do texto, a fim de que o povo pudesse
entender o que se tinha lido.
Estas traduções ficaram conhecidas como Targuns (forma aportuguesada de targumim,
“interpretações”).
Embora às vezes muito livres, os Targuns obtiveram uma posição de grande autoridade e
alguns deles, datados do século 5 d.C., sobreviveram em forma escrita.
Há 4 Targuns importantes de ser mencionados:
1. Targum Palestiniano do Pentateuco (MS. Neofiti I), descoberto em 1987;
2. Targum Babilônico, composto na Palestina, mas editado na Babilônia (Parte I – o
Pentateuco também é conhecido por Targum de Ónkelos; Parte II – Targum de Jonathan,
que cobre os Profetas Anteriores e Posteriores);
3. Targum de Jerusalém – escrito tardio e parafrástico;
4. Targum Fragmentário (Jerusalém II) – traz apenas o Pentateuco.
O surgimento dos Targuns demonstra claramente a necessidade de a Bíblia ser traduzida para
que sua mensagem possa ser compreendida.
6.1.2. Depois de Cristo
Embora Jesus e os seus apóstolos normalmente falassem aramaico, que era a língua materna
dos judeus palestinianos daqueles dias, tanto os Evangelhos como os outros livros do NT foram
compostos em grego, que era a língua da cultura internacional no mundo mediterrâneo naquela
época.
Logo depois, porém, a mensagem do Evangelho foi levada por evangelistas e missionários
para outros povos que, embora certamente conhecessem um vocabulário básico de grego, preferiam
comunicar-se em sua própria língua materna. Assim, já no século 2 d.C., partes do Novo Testamento
foram traduzidas para o siríaco e para o latim e, durante o século 3 d.C., para o copta (língua
falada no Egito).
1. A tradução hiperliteralista de Áquila (c. 125 a 150 d.C.)
Áquila era um prosélito nascido em Ponto, na Ásia Menor, junto ao mar Negro. Após sua
conversão ao Judaísmo, tornou-se discípulo do Rabino Akiba (c. 50 a 135 d.C.).
No tempo de Áquila, a Septuaginta já havia sido adotada pela Igreja Cristã, e a tradução livre
de vários trechos favorecia a teologia cristã.
Querendo desprender-se da Septuaginta, Áquila determinou-se a fazer uma tradução grega
absolutamente fiel ao hebraico.
Realizou uma tradução totalmente literal-formal, que produziu um texto muito difícil de ser
compreendido. Procurou sempre traduzir o mesmo termo hebraico pela mesma palavra grega,
usando termos da mesma raiz grega para os derivados da mesma raiz hebraica, e expressando cada
palavra hebraica por uma mesma palavra grega.
2. A Vetus Latina ou Itala (a partir do século 2 d.C.)
Roma falava grego, e não latim. Isso explica por que as primeiras traduções da Bíblia para o
latim não foram feitas na capital do Império Romano, mas provavelmente no Norte da África, onde
o latim fora adotado pelos teólogos.
As primeiras tentativas ocorreram em algum momento do século 2 d.C., mas nenhum
manuscrito completo do Antigo Testamento nem trechos longos do Novo Testamento chegaram até
nós.
Havia um número considerável de pessoas dedicando-se a verter trechos do grego para o
latim, e a qualidade da tradução variava enormemente, pois em geral não era feita por peritos, mas
por ―qualquer um que quisesse, como reclama Agostinho, bispo de Hipona, cidade do Norte da
África, em seu escrito De Doctrina Christiana, II, xi, 16, escrito no final do século 4 d.C.
3. A Peshitta (século 4 d.C.)
Uma das traduções mais antigas dos Evangelhos para o siríaco era chamada de Diatessaron.
Era uma narrativa unificada (tecnicamente designada por ―harmonia‖) dos quatro Evangelhos,
preparada em cerca de 170 d.C. por um cristão chamado Taciano.
Outras traduções livres foram feitas por volta do ano de 200 d.C.
Todas estas, porém, foram substituídas pela Peshitta, no final do séc. 4.
Peshitta significa “simples ou pura”. O Antigo Testamento provavelmente baseou-se em
Targuns, tendo sido preparado por judeus ou judeus convertidos ao Cristianismo. Primeiramente,
fez-se a tradução do Pentateuco, seguida pela tradução dos demais livros. O Novo Testamento
(como até hoje adotado pela Igreja Ortodoxa Siríaca) contém apenas 22 livros, omitindo 2Pedro, 2 e
3João, Judas e Apocalipse.
A Peshitta foi traduzida do hebraico, mas é evidente que houve uma revisão a partir do texto
da Septuaginta. A qualidade da tradução varia muito, sendo que Crônicas é bastante parafrástico.
Revisões recentes continuam respeitando o caráter simples da linguagem da Peshitta, daí o
fato de a mesma ser usada até hoje pelos cristãos sírios.
4. A tradução de Úlfilas (c. 350 d.C.) para o gótico.
Era época das invasões dos ―bárbaros(povos germânicos: godos, visigodos, ostrogodos), que
vinham do Norte. Constantino era o Imperador de Roma, e foi por esse tempo (entre 320 e 330 d.C.)
que Úlfilas partiu para o Norte da Europa como missionário.
Aprendeu a língua gótica e desenvolveu um alfabeto para registrá-la. Em seguida, como parte
essencial de sua tarefa missionária, traduziu a Bíblia para o gótico.
5. A Vulgata de Jerônimo (c. 391-405 d.C.)
Tendo em vista que havia uma diversidade de traduções latinas e de qualidade questionável
(como observou Agostinho com relação à Vetus Latina), Dâmaso, o bispo de Roma, pediu que
Jerônimo fizesse uma versão padrão em latim para o uso das Igrejas do Ocidente.
Jerônimo começou sua tradução a partir do texto da Septuaginta (grego), chegando a concluir
a tradução dos Salmos (Saltério Romano, 383 d.C.) e uma revisão do mesmo (Saltério Galicano,
383-387 d.C.), além de Jó.
Foi por essa época que se convenceu de que obteria melhor resultado se traduzisse as
Escrituras diretamente do texto hebraico disponível.
Por esse tempo também se convenceu de que o Antigo Testamento dos cristãos devia conter
os mesmos livros que os judeus reconheceram como canônicos, a veritas hebraica. Alguns
estudiosos dizem que Jerônimo seguiu o cânon dos judeus à risca, omitindo qualquer livro que não
tivesse o endosso do Concílio de Jâmnia, c. 90 d.C.
Em 15 anos (391-405 d.C.), Jerônimo traduziu todo o Antigo Testamento para o latim
diretamente do texto hebraico conhecido em seu tempo.
6. A tradução de John Wycliffe para o inglês (c. 1329-1384)
John Wycliffe era um eminente teólogo de Oxford, na Inglaterra. Junto com John Purvey, seu
discípulo, foi o primeiro a traduzir toda a Bíblia para o inglês. Esse trabalho circulou apenas em
cópias manuscritas. Sua impressão completa só ocorreu séculos depois, em 1850.
A tradução de Wycliffe foi feita a partir da Vulgata, pois nem ele nem Purvey conheciam o
hebraico e o grego.
7. A tradução de Martinho Lutero para o alemão (Novo Testamento – 1522; Bíblia completa
– 1534)
Para levar a mensagem do evangelho ao povo alemão, Lutero se pôs a traduzir a Bíblia.
Sem dúvida alguma, o escrito mais importante de Lutero é a tradução da Bíblia para a língua
alemã.
O Antigo Testamento, cuja tradução levou cerca de 10 anos, foi feito a partir do hebraico
disponível na época. Para o Novo Testamento, Lutero utilizou o Novo Testamento Grego (Novum
Instrumentum) compilado por Erasmo de Roterdã poucos anos antes.
Lutero acreditava que todas as pessoas deveriam ter acesso às Escrituras, pois julgava que a
mensagem da Bíblia pertence a todos, ―clérigos e leigos, governantes e camponeses, homens e
mulheres, adultos e jovens. Por esse motivo traduzi a Bíblia para o alemão do povo, o alemão da
dona-de-casa e do lavrador. Por isso sou a favor de mais traduções para todas as línguas e dialetos.
8. A tradução de William Tyndale para o inglês (Novo Testamento – 1526)
Aos 30 anos, William Tyndale decidiu dedicar a sua vida a traduzir a Bíblia. Era mais um
teólogo de Oxford, na Inglaterra, formado em 1515. Quando foi atacado por aqueles que achavam
que só os clérigos eram qualificados a ler e a interpretar as Escrituras, Tyndale disse: “Se Deus
poupar a minha vida por uma boa porção de anos, farei com que um menino que corre atrás do
arado saiba mais das Escrituras do que vocês sabem.”
Na Alemanha, terminou a tradução do Novo Testamento em 1525, publicando-o em 1526.
Para a tradução do Novo Testamento, assim como Lutero fizera, Tyndale usou o texto grego de
Erasmo. O Novo Testamento em inglês de Tyndale foi o primeiro traduzido diretamente de um texto
grego.
Em 1535, Tyndale publicou sua revisão final do NT. Traduziu também porções do AT do
original hebraico, mas foi morto antes de poder completar a tarefa.
Tyndale não podia voltar para a Inglaterra, pois havia sido condenado e sua tradução foi
banida. Em maio de 1535, porém, foi preso e levado para Bruxelas, nos Países Baixos. Após um ano
na prisão, foi julgado e condenado à morte. Em 6 de outubro de 1536, Tyndale foi enforcado e seu
corpo foi queimado no pátio da prisão.
Suas palavras finais foram: “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra.”
9. A Bíblia de Genebra (Novo Testamento – 1557; Bíblia completa – 1560)
Assim como o Novo Testamento de Tyndale, a Bíblia de Genebra também foi uma edição
desenvolvida no exílio durante um período de forte perseguição à fé reformada na Inglaterra,
verificado especialmente sob o reinado da Rainha Maria, a Sanguinária, que reinou de 1553 a 1558.
Entre os que se viram forçados a deixar a Inglaterra naquela época estava William
Whittingham (c. 1524-1579), cunhado de João Calvino. Whittingham e mais alguns teólogos
refugiaram-se em Genebra, na Suíça, e ali produziram uma tradução de toda a Bíblia para o inglês,
baseada no latim, mas consultando sempre os textos em hebraico e grego. O Novo Testamento foi
lançado em 1557 e a Bíblia toda em 1560. Em 1599, a Bíblia de Genebra já estava disponível, ao
menos em parte, também em francês.
 A Bíblia de Genebra foi a primeira Bíblia inglesa a adotar a divisão do texto em versículos.
 Foi a primeira Bíblia a usar o tipo de letra romano, muito mais fácil de ler do que a letra
gótica;
 Foi a primeira Bíblia a usar letra itálica para aquelas palavras que os tradutores precisaram
usar para tornar

10. La Biblia del Oso (RVR, Casiodoro de Reina: 1569; revisão de Cipriano Valera: 1602 [Reina
y Valera]; outras revisões: 1909, 1960 e 1995)

A primeira tradução da Bíblia completa para o espanhol foi resultado de muitos anos de
trabalho de Casiodoro de Reina. Sua Bíblia ficou conhecida como “La Biblia del Oso”, assim
chamada pela figura de um urso no logotipo do impressor que teve a edição ao seu encargo.
Entre seus méritos, além de ser a primeira tradução integral das Escrituras Sagradas para o
castelhano, “La Biblia del Oso” também tem a seu favor o fato de Casiodoro de Reina tê-la
traduzido diretamente das línguas originais.
11. A Versão do Rei Tiago – King James Version (KJV, 1611)

Em 1536, pouco antes de seu martírio, Tyndale, que foi condenado à morte por ter traduzido o
Novo Testamento para o inglês, orou: “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra”.
Esta oração foi ouvida no início do século 17, quando o próprio rei da Inglaterra apoiou e
patrocinou a preparação de uma tradução bíblica que pudesse ser usada por todos os cristãos de seu
reino.
O rei determinou que a tradução fosse feita por professores universitários e que não tivesse
notas marginais, a fim de que pudesse ser aceita por tanto por anglicanos como por puritanos e
mesmo por qualquer outro grupo cristão que viesse a surgir na Inglaterra.
Em 1607, mais de 50 teólogos iniciaram o trabalho de tradução para o inglês.
A Bíblia foi lançada em 1611, com a presença do rei Tiago I e de representantes dos
anglicanos e puritanos. A tradução ficou conhecida como Versão do Rei Tiago (ou King James
Version, KJV).
Seu mérito principal foi ter capturado o melhor de todas as traduções anteriores existentes em
inglês e ter superado em muito todas elas.

12. A tradução de João Ferreira de Almeida (NT – 1681; Bíblia completa – 1753; um volume
único – 1819; Edição Revista e Corrigida, ARC – 1898; Edição revista e Atualizada, ARA –
1959; Revista e Atualizada, ARA 2ª Edição – 1993; Revista e Corrigida, ARC 2ª edição –
1995)
Almeida foi quem primeiro traduziu o Novo Testamento para o português, fazendo-o a partir
do Novo Testamento Grego compilado por Erasmo de Roterdã, possivelmente consultando também
outras traduções disponíveis em sua época (como Vulgata e a Reina-Valera, entre outras). O Novo
Testamento em português foi impresso na Holanda e lançado em 1681.
Almeida não conseguiu concluir a tradução do Antigo Testamento. Próximo de sua morte, em
1681, havia chegado a Ez 48.21. A obra foi concluída por Jacobus op den Akker, companheiro de
ministério de Almeida. A Bíblia completa em português só foi lançada em 1753, ainda em dois
volumes.
Apenas em 1819 a obra foi publicada num volume só, já pela Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira (a mesma que, em 1808, despachou para o Brasil o primeiro carregamento de Novos
Testamentos em português, segundo a tradução de Almeida).
A Edição Revista e Corrigida saiu em 1898, após revisão de uma comissão de tradutores, que
receberam a missão de “abrasileirar” o texto, retirando os lusitanismos presentes.
Para isso, a comissão consultou diversas traduções, entre as quais a do padre Antônio Pereira
de Figueiredo (feita a partir da Vulgata entre 1772 e 1790) e aceitou acréscimos que só estão na
Vulgata (por exemplo, Ap 22.14).
Em 1899, foram acrescentadas à edição datas, referências e textos alternativos nas margens.
Em 1995, a Edição Revista e Corrigida passou por atualização linguística e ganhou a sua 2ª
edição.
13. A Tradução Brasileira (TB – 1917)
A Tradução Brasileira foi a primeira Bíblia traduzida integralmente no Brasil. O projeto foi
desenvolvido ao longo de 15 anos (1902 a 1917), com fundos da Sociedade Bíblica Britânica e
Estrangeira e da Sociedade Bíblica Americana.
A tradução contou com dois coordenadores: William C. Brown (especialista em línguas
bíblicas) e Eduardo C. Pereira (linguista brasileiro). Além deles, trabalharam como consultores
linguísticos, entre outros, Heráclito Graça, José Veríssimo e Rui Barbosa.
A Tradução Brasileira é bastante literal e erudita. Os nomes próprios não foram
aportuguesados, mas transliterados, o que dificultava consideravelmente a leitura (especialmente a
leitura conjunta na igreja).
14. Tradução na Linguagem de Hoje (TLH, Novo Testamento – 1973; Bíblia completa – 1988;
Nova Tradução na Linguagem de Hoje, NTLH – 2000; Bíblia de Estudo Nova Tradução na
Linguagem de Hoje, NTLHE – 2005)
Na década de 1960, a Sociedade Bíblica do Brasil foi solicitada pelas igrejas a preparar uma
tradução bíblica em linguagem simples, que pudesse ser usada para evangelização e educação de
crianças e jovens no Evangelho. Aceito o desafio e constituída a Comissão Tradutora, o trabalho
iniciou em 1966.
O Novo Testamento foi lançado em 1973. Em 1988, foi lançada a Bíblia completa. Após uma
meticulosa revisão do texto a partir de sugestões das igrejas, no ano 2000 foi lançada a Nova
Tradução na Linguagem de Hoje.
A Nova Tradução na Linguagem de Hoje usa o princípio de equivalência funcional ou
comunicacional, que visa a transportar o sentido do texto original para o português falado no Brasil
hoje.

VII - O CÂNON BIBLICO


O que a palavra cânone significa em referência à Bíblia?
A palavra cânone {kanon, em grego) significa “uma regra, uma medida ou um padrão”.
Depois, ela foi usada para referir-se à lista de livros aceitos que eram aprovados com alguns
testes ou regras que eram considerados oficiais.
Em outras palavras, eles “tinham a medida certa” e eram considerados inspirados por Deus.
7.1. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
Por volta de 90 d.C., em Jamnia (ou Yavne, uma cidade próxima de Jope, Israel), um
concilio oficial de líderes judaicos ratificou o cânone do Antigo Testamento que já era aceito por
quase 500 anos.
As palavras do Salvador sugerem a delimitação do cânone: Para que desta geração seja
requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi derramado; desde o
sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o templo; assim, vos digo,
será requerido desta geração. Lucas 11.50,51
Terry Hall examina as palavras de Jesus e de Josefo acerca do Antigo Testamento: Jesus
disse que a revelação do Antigo Testamento iniciou-se em Gênesis, o primeiro livro da Bíblia
hebraica, que registra o assassinato de Abel, indo até 2 Crônicas, o último livro da Bíblia hebraica,
que registra o martírio de Zacarias.
Esse é o equivalente exato da referência que fazemos ao Antigo Testamento como “ de
Gênesis a Malaquias” .
Josefo, um respeitado historiador judeu e contemporâneo dos apóstolos do Novo Testamento
(37—95 d.C.), disse que nenhuma Escritura hebraica foi acrescentada após a época do rei Persa
Artaxerxes (464—424 a.C.), o tempo de Esdras, Neemias e Mala- quias. (How the Bible Became a
Book. p. 75) 2. Portanto, por volta de 300 a.C. (no final), todos os livros do Antigo Testamento
foram escritos, reunidos, reverenciados e reconhecidos como livros oficiais e canônicos.

7.2. A FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO TESTAMENTO


1. 100 d.C. — As epístolas de Paulo podem ter sido reunidas nessa data primitiva.
2. 150 d,C. — Policarpo, discípulo do apóstolo João, citou dois terços do Novo
Testamento em uma carta.
3. 170 d.C. — Irineu, discípulo de Policarpo, citou ou considerou 23 dos 27 livros
canônicos do Novo Testamento.
4. 200 d.C. — Nessa época, todos, exceto 11 versículos do Novo Testamento, foram
mencionados em mais de 36 mil citações dos pais da igreja.
5. 363 d.C. — O Sínodo da Laodiceia proibia a leitura de livros não canônicos em cultos.
6. 367 d.C.— Atanásio da Alexandria foi o primeiro a declarar canônicos todos os 27
livros do Novo Testamento.
7. 393 d.C. — O Concilio de Hipona reconheceu os 27 livros do Novo Testamento como
canônicos.
8. 397 d.C. — O Sínodo de Cartago afirmou que apenas os 27 livros do Novo Testamento
deveriam ser lidos nas igrejas.
9. 419 d.C. — O Concilio de Cartago reafirmou sua crença apoiando os 27 livros
canônicos do Novo Testamento.
Dessa forma, então, o cânone foi estabelecido.
Entretanto, é necessário entender que a Bíblia não é uma coletânea autorizada de livros, mas
uma coletânea de livros autorizados. Em outras palavras, os 27 livros do Novo Testamento não
eram inspirados pelo fato de o Concilio de Cartago tê-los declarado dessa forma, mas, em vez disso,
o Concilio declarou-os assim porque já haviam recebido inspiração.
Norman Geisler usa algumas metáforas para explicar o relacionamento entre a igreja e a Bíblia:
1. A igreja é a descobridora, não a determinadora do cânone.
2. Ela é a filha, não a mãe do cânone.
3. E a ministra, não a magistrada do cânone.
4. E a reconhecedora, não a reguladora do cânone.
5. E a testemunha, não a juíza do cânone.
6. E a serva, não a mestra do cânone. (A General Introduction to the Bible. p. 221)

7.3. QUE LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO FORAM MAIS CONTESTADOS E


POR QUÊ?
Cinco desses livros foram questionados no Concilio de Jamnia, em 90 d.C.
Terry Hall oferece uma visão geral dos problemas envolvidos: Durante as suas deliberações,
eles levantaram algumas novas questões sobre cinco livros do Antigo Testamento. Mas uma análise
mais profunda resolveu essas questões:
1. Ester. O Concilio debateu o motivo de Ester não mencionar o nome de Deus, o único
livro das Escrituras hebraicas que o omite. Ele decidiu que a presença, o poder e a
proteção divina eram evidentes no livro de Ester, quando os judeus foram salvos por
Deus do decreto de aniquilação de um rei persa.
2. Provérbios. Provérbios foi questionado por, talvez, ser autocontraditório. Por exemplo:
Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia, para que também te não faças
semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio
aos seus olhos (Pv 26.4,5). Mas esses provérbios, aparentemente contraditórios,
aplicam-se a diferentes situações. [...] Alguns tipos de tolos aceitam a correção; outros
não.
3. Eclesiastes. Eclesiastes foi o terceiro livro que parecia, realmente, ensinar ateísmo (Ec
9.5,10). Mas logo perceberam as duas expressões fundamentais que revelavam o
objetivo do livro:
 debaixo do sol (usada 30 vezes)
 e vaidade (ou vazio, insignificante, usada 37 vezes).
Em outras palavras, o rei Salomão foi levado a conduzir uma busca extensiva para encontrar
a resposta de uma questão bastante desconcertante: “ E possível que alguém, independente de sua
situação em vida, encontre propósito e verdadeira paz aqui embaixo [...], longe de Deus?” . A
resposta foi um enfático não, conforme a conclusão de Salomão (Ec 12.1,13,14).
Hall resume as dificuldades iniciais do Concilio acerca dos dois últimos livros do Antigo
Testamento.
4. Cântico dos Cânticos. O Cântico dos Cânticos foi desafiado por parecer enfatizar o lado
sensual do casamento, que não estava de acordo com a cultura judaica. Judeus orto-
doxos proibiam seus jovens de lerem Cântico dos Cânticos antes de completarem 30
anos de idade! Mas Deus criou a humanidade, com machos e fêmeas, e estabeleceu a
união sexual no casamento. Os judeus de Jamnia aceitaram o Cântico dos Cânticos
como um retrato do amor de Deus por Israel.
5. Ezequiel. A descrição que Ezequiel fez do templo judaico nos capítulos 40—48 é
diferente da que Moisés fez em Êxodo 25—40. Mas o templo de Ezequiel é uma
profecia sobre um templo permanente, que seria construído quando chegasse o Messias.
Moisés descreveu um tabernáculo portátil. Esse questionamento contribui para
assegurar-nos de que gerações posteriores, impensadamente, não aceitarão o que
receberam. Nenhum livro do Antigo Testamento foi removido da coleção sagrada, e
outros livros antigos foram categoricamente rejeitados em Jamnia. (How the Bible
Became a Book. p. 75-77)

7.4. QUE LIVROS DO NOVO TESTAMENTO FORAM MAIS CONTESTADOS E POR


QUÊ?

1. Hebreus, por causa da incerteza quanto à autoria do livro.


2. Tiago, porque parecia contradizer os ensinamentos de Paulo (compare Tg 2.20 com Ef
2.8,9).
3. 2 e 3 João, porque pareciam ser simplesmente duas cartas pessoais.
4. Judas, porque o autor refere-se a um livro do Antigo Testamento não canônico, o livro
de Enoque.
5. Apocalipse, por causa da incerteza quanto à autoria do livro e por causa de seus muitos
símbolos misteriosos.

7.2. CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA DO ANTIGO TESTAMENTO

7.10. FATORES QUE INFLUENCIARAM A IGREJA NO CÂNON DO NOVO


TESTAMENTO
Desde que a voz dos profetas e apóstolos começou a ser ouvida, na antiguidade, surgiu a
necessidade iminente de se estabelecer um Cânon Sagrado. Sob a condução divina, eles sabiam o
que era inspirado e o que não era. Mas, com a morte daqueles homens e o cessar da inspiração,
tornou-se necessário reunir os seus escritos, para saber qual foi a mensagem de cada um deles, bem
como preservá-la da corrupção. Outra razão para a formação do cânon era o perigo constante que
esses escritos corriam de sofrer alteração. Muitas obras literárias entraram na disputa, reivindicando
o reconhecimento de livros inspirados.
Surgiram, então, as perguntas inevitáveis: quais desses escritos são realmente inspirados?
Qual a extensão da literatura inspirada? Outra razão forte para a formação do Cânon estava no fato
de o louco imperador Diocleciano ter decretado, em 302 d.C, que todos os livros sagrados fossem
queimados.
Assim, a questão se levantou sobre quais livros mereciam o direito legítimo de serem
considerados inspirados.

7.11. CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA DO NOVO TESTAMENTO


O Novo Testamento está subdividido em seis categorias: Evangelhos, Livro Histórico, Epístolas
Paulinas, Hebreus, Epístolas Universais (ou Gerais) e Livro Profético.
a. Evangelhos
São quatro os Evangelhos. Eles narram a vida de Jesus: o nascimento, o anúncio das boas-novas,
a morte, a ressurreição e a ascensão ao céu. São eles: Mateus (destinado ao povo judeu para provar
que Jesus é o Messias prometido); Marcos (destinado aos romanos, apresenta Jesus como o servo
sofredor que veio ao mundo para morrer pelos pecados da humanidade); Lucas (destinado aos
gregos, apresenta Jesus como o homem perfeito que os gregos procuravam); e João (um Evangelho
universal, apresenta Jesus mais no Seu lado divino do que humano). Para João, Jesus é o Verbo (a
Palavra) que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14).
b. Livro Histórico
O Novo Testamento tem apenas um livro histórico: Atos dos Apóstolos. Esse livro descreve os
30 primeiros anos da Igreja primitiva, sua fundação e sua expansão até os dias finais de Paulo,
quando este está preso em Roma.
c. Epístolas Paulinas
O apóstolo Paulo deixou 13 cartas escritas, são elas: Romanos, 1 Coríntios, 2 Corindos, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, ITessalonicenses, 2 Tessalonicenses, Filemom. Essas cartas são
primordialmente doutrinárias. Três das epístolas paulinas são chamadas de Epístolas Pastorais, são
elas: 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito. As epístolas aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses e a
Filemom são chamadas de epístolas da prisão, pois foram escritas quando o apóstolo Paulo estava
preso.
d. Epístola aos Hebreus
O autor de Hebreus é desconhecido. Essa é uma carta de encorajamento para os judeus cristãos
que estavam sucumbindo às adversidades, devido às intensas perseguições que sofriam. Alguns
retornaram para o judaísmo e outros apostataram completamente da fé (Hb 6.4; 10.25-31). Nela, o
autor chama a atenção dos leitores para a importância da fé em Jesus. Ele é maior do que os anjos,
do que os sacerdotes, maior do que Moisés; Seu sacrifício é maior do que os sacrifícios de animais e
Ele é também maior do que o templo. Seu sacerdócio é segundo a ordem de Melquisedeque.
Aqueles crentes haviam feito grande progresso, no entanto, naquele momento, estavam mostrando
comportamento regressivo (Hb 5.13,14; 6.1; 10.32-39).
e. Epístolas Universais (ou Gerais)
As Epístolas Universais, também conhecidas como Gerais ou Católicas, são as seguintes: Tiago,
1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João, 3 João e Judas. Essas cartas são pequenas e acentuam um caráter
mais ético e encorajador para os crentes em tempos de oposição e aflição. Nelas, há instrução aos
crentes para os perigos doutrinários que rondam a vida deles, como, por exemplo, a intromissão dos
hereges gnósticos, dos judaizantes e dos antinomistas no seio da Igreja. Os apóstolos, por meio
desses escritos, previnem não apenas as igrejas dos seus dias, mas as igrejas que surgiriam no
futuro.
f. Livro Profético
O livro de Apocalipse, na sua primeira parte, traz uma breve mensagem a cada uma das sete
Igrejas da Ásia Menor e, em seguida, dedica-se a narrar os acontecimentos mundiais que sucederão
ao arrebatamento da Igreja.
Mesmo com a estrutura literária que tem, a Bíblia se faz entender a todos os que se aproximam
de Deus pela fé em Cristo Jesus. A mesma mensagem está reafirmada repetidas vezes, em
linguagem multiforme, através de estratégias diferentes, a partir de diferentes contextos e em
conformidade com o estilo literário de cada autor. Assim, Deus garantiu que, todos aqueles que
desejarem entender a Bíblia com um coração puro, vão entendê-la. Aqueles que, por exemplo,
tiverem dificuldade de entender a erudição de Isaías, não terão problemas em assimilar a paixão de
Jeremias, nem a praticidade de Ezequiel; quem não assimilar a mensagem do diplomata Daniel,
certamente compreenderá a palavra sem rodeios de Amós. O resultado de toda essa estrutura é o
livro glorioso que temos à mão, o qual revela o coração de Deus para a humanidade: a Bíblia
Sagrada.

7.12. CRITÉRIOS PARA RECONHECER A CANONICIDADE DE UM LIVRO

Além dos escritos que compõem o Novo Testamento, havia muita literatura circulante entre
as igrejas, entre as quais, as obras de Clemente, a epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas, mas
essas não eram as únicas. Os falsos mestres também usavam desse expediente para disseminar suas
heresias, o que dificultava o critério de reconhecimento.
Não obstante as muitas listas apresentadas ao longo da História, pelos Pais da Igreja, foram
estabelecidos critérios para aceitar os livros que comporiam o Cânon do Novo Testamento. Os
cristãos primitivos haviam aprendido a discernir os espíritos (1 Co 12.10), ou a prestar atenção a
algumas afirmações, como: “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”
(1 Jo 4.2), porque falsos mestres ensinavam coisas incompatíveis com os ensinos apostólicos.
a. Os sinais de Paulo
As cartas de Paulo circulavam pelas igrejas e já havia a suspeita de que algumas falsas cartas
que levavam o nome do apóstolo também estavam circulando. Por isso, o apóstolo, mesmo usando
amanuenses para escrever o que ele ditava, pegava a pena para fazer a saudação final e assinar suas
cartas: “Saudação da minha própria mão, de Paulo” (1 Co 16.21); “Vede com que grandes letras vos
escrevi por minha mão” (G1 6.11); “Saudação de minha mão, de Paulo” (Cl 4.18); “Saudação da
minha própria mão, de mim, Paulo, que é o sinal em todas as epístolas; assim o escrevo” (2 Ts
3.17).
b. Autoridade apostólica
Para ser considerado canônico, um texto deveria ter autoria apostólica ou ser escrito por
alguém que andou diretamente com um apóstolo. Paulo sempre citava o seu nome em suas cartas,
mas o mesmo cuidado não tiveram alguns autores do Novo Testamento. Por exemplo, tanto o
Evangelho de Lucas como o livro de Atos foram escritos pela mesma pessoa e endereçados a
Teófilo, mas o nome de Lucas não aparece (Lc 1.3; At 1.1). Nós aceitamos a autoria lucana por
causa da tradição. Alguns identificam Lucas como “aquele irmão cujo louvor no evangelho está
espalhado em todas as igrejas” (2 Co 8.18),17 e também pela menção que o apóstolo faz dele como
companheiro seu (Cl 4.14), sendo, portanto, alguém capaz de transmitir o que havia recebido
diretamente do apóstolo.
Quanto a Marcos, há uma menção de Papias dizendo que “Marcos registrou em forma
escrita o relato dos pronunciamentos de Jesus conforme proclamados por Pedro”. A tradição não
hesitou em dar reconhecimento a Mateus e a João como autores dos Evangelhos que levam seus
nomes. Eles aparecem na Lista Muratoriana, bem como nos escritos de Irineu e nos Prólogos
Antimarcionistas. A carta aos Hebreus - de todos os casos do Novo Testamento, a única que ficou
sem solução até os dias de hoje, sem ser discutida pela Igreja, é aceita com o mesmo nível de
canonicidade que qualquer outro livro do Novo Testamento. Na igreja de Alexandria, bem como
pela Igreja Católica, ela é aceita como sendo da autoria de Paulo.
Agostinho não hesitava em aceitá-la como escrito canônico, mas mantinha reserva quanto à
autoria.
c. Circulação universal
Alguns livros não foram aceitos porque não circularam, e outros foram aceitos tardiamente
devido à sua pouca circulação. Uma obra precisava ser conhecida não apenas de uma comunidade
evangélica local, mas pela maior parte da Igreja. Paulo endereçou suas cartas a sete igrejas; outras
foram cartas pessoais. Mas, o apóstolo recomendava que suas cartas não ficassem detidas tão
somente no destinatário imediato, mas que fossem repassadas: “E, quando esta epístola tiver sido
lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses; e a que veio de Laodiceia, lede-a
vós também” (Cl 4.16); “Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os santos
irmãos” (1 Ts 5.27). Essa circulação era uma forma de garantir sua catolicidade (ou universali-
dade), assegurando-lhe certa popularidade entre os irmãos.
d. Tradição
O teor dos escritos deveria ser compatível com tudo o que era aceito normalmente pelos
crentes. O que sempre foi crido era um importante fator de preservação da tradição. O cânon
Vicentino dizia: “O que foi crido em toda a parte, sempre, e por todos”.
Assim, qualquer escrito que destoasse dos ensinos genuinamente apostólicos não demorava
a ser notado, sendo imediatamente descartado.
e. Ortodoxia
Outro critério seguro de exame sobre a canonicidade de um escrito era sua ortodoxia, ou
seja, a fé apostólica exarada nele. Irineu foi quem apresentou esse critério, a fim de resguardar
também a Igreja de ser enganada pelos pseudônimos. A autoria de alguns livros foi atribuída a
apóstolos que não os escreveram. Um pseudo Evangelho de Pedro era lido na igreja em Rossus. Ao
saber disso, o bispo Serapião não ficou tão espantado até saber que aquele pseudoevangelho rezava
que Jesus não havia sofrido na Sua morte, conforme ensinavam os docéticos gnósticos.
Diante disso, achou por bem visitar aquela igreja, para certificar-se de que ela não havia se
deixado seduzir por aquela heresia.
f. Antiguidade
Como a preocupação pela formação do Cânon do Novo Testamento ocorreu depois da era
apostólica, período em que já havia muitos escritos, e alguns dos quais eram candidatos a pertencer
à lista dos canônicos, adotou-se como critério a antiguidade da escrita. O texto tinha de remontar,
necessariamente, à era apostólica. A própria Lista Muratoriana incluía o Pastor de Hermas, apesar
disso, ele não vigorou na lista dos canônicos por pertencer a uma época posterior ao período
apostólico.
g. Inspiração
Para um escrito pertencer ao Cânon Sagrado, era absolutamente necessário que ele fosse
inspirado, tal qual eram inspirados os livros do Antigo Testamento. Inspiração e canonicidade eram
fatos inseparáveis. Os apóstolos escreveram por inspiração do Espírito Santo.
Baseados no fato de que aqueles tinham o Espírito Santo e que também, pelo mesmo
Espírito, era dado o dom da profecia, conforme a lista dos dons espirituais de 1 Coríntios 12.8-10,
fazendo uma ilação entre o desejo externado por Moisés de que todo o povo de Deus fosse profeta
(Nm 11.29), alguns escritores, como Clemente de Roma e Inácio, reivindicavam também para si o
reconhecimento de que escreviam pelo Espírito.
Clemente de Roma reivindica igual autoridade de Paulo para a sua carta. Irineu, nem tanto.
Mostrou-se mais humilde ao dizer para os seus leitores que Pedro e Paulo eram apóstolos, e ele, um
condenado. Irineu foi o primeiro a alegorizar o Novo Testamento.
7.9. O FECHAMENTO DO CÂNON
No segundo século, nem todos os livros que hoje constam do Novo Testamento faziam parte
do Cânon. Os livros do Cânon eram: os quatro Evangelhos, 1 João e 1 Pedro e o Apocalipse. Além
desses, estavam também incluídos a epístola de Barnabé, as epístolas de Clemente e o Pastor de
Hermas.
No terceiro século, Orígenes foi o primeiro a aceitar a epístola de Tiago, além de aceitar
também a epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas.
No quarto século, o Cânon do Novo Testamento era quase igual ao de hoje.
O encerramento do cânon se deu depois de um longo e cansativo debate teológico que
objetivava estabelecer critérios confiáveis para definir se determinado livro era canônico ou não.
A perseguição do imperador Diocleciano em 302 d.C. produziu, por fim, um bom resultado
para a Igreja, porque, devido à ameaça desse imperador, queimando todos os livros sagrados, os
Pais da Igreja se despertaram para o crivo da canonicidade dos escritos do período da graça.
O primeiro escritor a apresentar a lista fechada dos livros do Novo Testamento, conforme
os temos em nossa Bíblia, foi Atanásio, na Páscoa de 367. Assim é o texto da sua lista:
h. Quatro evangelhos - segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas, segundo
João.
i. Depois destes vêm Atos dos Apóstolos e as sete epístolas dos apóstolos chamadas
católicas, como se segue: uma de Tiago, duas de Pedro, três de João e, depois destas,
uma de Judas.
j. A seguir, vêm as quatorze epístolas do apóstolo Paulo, escritas na seguinte ordem:
primeiro, a epístola aos Romanos, depois, as duas aos Coríntios, depois desta, a dos
Gálatas, e a seguir, a dos Colossenses e duas aos Tessalonicenses, e a epístola aos
Hebreus. Em seguida vêm as duas cartas a Timóteo, uma a Tito, e a última a
Filemom.
k. Além destes, o Apocalipse de João.
‘ Depois de algumas tentativas fracassadas de encerrar o Cânon, primeiro em 382 d.C., depois
em 405 d.C., e, ainda, em 1439, finalmente, no Concílio de Trento, realizado no dia 8 de abril de
1546, por 24 votos contra 15, com 9 votos a favor, e 16 abstenções, o Cânon do Novo Testamento
foi estabelecido.

https://1.bp.blogspot.com/-gPQ-g7nbkaM/UdsFRXRewcI/AAAAAAAALSw/D-5kRykdJ5w/s1600/Conc
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Apesar da definição do Concílio de Trento, na época da Reforma, o Cânon sofreu ainda mais
uma ameaça.
Os reformadores como Lutero, Zwinglio e Calvino apresentaram, cada um, uma opinião
sobre a lista dos livros que deveriam compor o Novo Testamento. Lutero rejeitou Tiago, por
defender a importância das obras, o que para ele era incompatível com a doutrina da salvação pela
graça mediante a fé, rejeitou Judas, por considerá-lo uma cópia inexata de 2 Pedro, e Hebreus, por
não ter origem apostólica, mas defendeu os demais livros atribuindo a eles valores diferentes.
Exaltou Romanos, Gálatas, Efésios e o Evangelho de João acima dos outros escritos. Zwinglio
rejeitou o livro do Apocalipse, e Calvino, diferentemente de Lutero, aceitou Tiago e Judas, aceitou
com reserva 2 Pedro, mas rejeitou 2 e 3 João e o Apocalipse.
O Espírito Santo, que inspirou os escritores sagrados, encarregou-se também de preservar os
livros que comporiam a Bíblia, bem como de reunir os textos inspirados para que tivéssemos a
revelação de Deus na medida certa, sem ter o que acrescentar ou tirar!
Quando uma pessoa abre as Escrituras, ela precisa compreender que está lidando com um
livro que foi submetido às mais tensas provas, para gozar de credibilidade e acatamento. Muita
gente teve de pagar um preço altíssimo, às vezes, de morte, para que a Bíblia chegasse às nossas
mãos em nossa própria língua. Hoje, podemos não apenas lê-la com liberdade, mas também pregá-
la sem reserva, para trazer vida a todos os que creem.

VIII - INSPIRAÇÃO, INERRÂNCIA, INFABILIDADE E ILUMINAÇÃO DA BÍBLIA:


8.1. O QUE SIGNIFICA A BÍBLIA SER INSPIRADA POR DEUS
A frase “toda a Escritura divinamente inspirada, 2 Timóteo 3:16” significa que ela foi
“inspirada” por Deus. O verbo “inspirar” provém do termo latino inspirare, “soprar”. As
Escrituras são o resultado do sopro divino. Foi através do sopro divino que Adão veio à
existência (Gênesis 2:7) e o Universo foi criado (Salmo 33:6).
O mesmo poder divino trouxe as Escrituras à existência. Nossa passagem diz que o
fenômeno da Escritura é resultado exclusivo da maravilhosa e insondável obra de Deus. Isto
torna a Bíblia singular em natureza e autoridade. Deus usou seres humanos, mas o apóstolo nos
diz que as Escrituras não podem ser creditadas a eles, mas a Deus. Desde que tudo nela se
origina nEle, ela é digna de confiança e credibilidade.
1. Extensão da inspiração. A frase “toda a Escritura” define a esfera em que “inspiração”,
qualquer que seja seu significado, atue. A palavra “escritura” é coerentemente usada no
Novo Testamento para se referir a toda a literatura bíblica. O termo singular “escritura” é
freqüentemente usado no Novo Testamento para designar uma porção específica do Antigo
Testamento (Lucas 4:21; João 19:37), mas há muitos casos em que o termo significa as
Escrituras como um todo (Gálatas 3:22; Tiago 4:5).
Uma prova de que essa passagem se refere à totalidade da Escritura é o uso da palavra
“toda”. A ausência do artigo definido tem levado alguns a concluir que a passagem deveria ser
traduzida “cada escritura”; isto é, cada porção das Escrituras em vez de “toda, a totalidade da
Escritura”. Na verdade, ambas as traduções são possíveis, e o significado é basicamente o
mesmo. Se cada parte específica das Escrituras é inspirada, então sua totalidade também o é.
2. Conexão entre inspiração e a Escritura. O termo grego traduzido por “é inspirada”
é theopneustos, e este é o único lugar no Novo Testamento em que esse termo é usado. Não
é um verbo, mas um adjetivo formado pela combinação de duas palavras
gregas: theos (“Deus”) e pneu (“fôlego”, “sopro”), às quais se acrescenta o adjetivo
verbal (tos). Pode ser traduzida de duas maneiras, significando (a) “sopro divino” (isto é,
provocantes pensamentos sobre Deus, cheios do sopro divino) ou (b) “Deus soprou”
(indicando que a Escritura é o resultado do sopro de Deus).
A maioria dos eruditos aceita a segunda acepção como mais apropriada porque o sufixo
ligado ao termo grego “tos” indica um significado na forma passiva. A relação entre esse termo e
a frase anterior “toda Escritura” é questionada por alguns eruditos.
Há duas possíveis formas de descrever essa relação:
(a) “Toda Escritura inspirada por Deus” ou
(b) “Toda a Escritura é inspirada por Deus”.
A primeira pode dar a idéia de que algumas partes da Escritura não são inspiradas por Deus,
ao passo que a segunda afirma que toda a Escritura é inspirada por Deus.
O argumento se baseia em aspectos técnicos pertinentes à ordem da palavra grega. A maioria
dos eruditos apoia a segunda tradução. O mais importante, porém, é o contexto. Ele sugere que o
apóstolo não tem interesse algum em fazer distinção entre o que é inspirado por Deus na Bíblia e
o que não é inspirado. Tal distinção é estranha ao Novo Testamento, e esse verso nega sua
validade.
3. O caráter sobrenatural da Bíblia
Pelo menos dez desses argumentos podem ser listados, os quais apontam para justificar o caráter
sobrenatural da Bíblia.
A. Sua impressionante unidade.
B. Sua indestrutibilidade.
C. Sua exatidão histórica.
D. Sua exatidão científica.
E. Sua exatidão profética.
F. Sua influência histórica.
G. Seu cuidado e cópia.
H. Sua impressionante circulação.
I. Sua absoluta honestidade.
J. Seu poder transformador de vidas.
4. O que significa a suficiência da Bíblia?
Dizer que a Bíblia é “suficiente” é dizer que ela contém todas as palavras necessárias para a
fé e a vida. Essa afirmação envolve dois aspectos.
a. A Bíblia é suficiente para a fé, com referência à doutrina (2 Tm 3.16).
A Bíblia é a infalível Palavra de Deus para nós. E o critério de tudo o que pode ser dito sobre Deus
e Sua forma de tratar- -nos. Ela pode não nos dizer tudo o que gostaríamos de saber, mas nos diz
tudo o que Deus deseja que saibamos. Toda doutrina verdadeira jorra dessa fonte da verdade.
b. A Bíblia é suficiente para a vida (SI 119.105).
A Bíblia contém tudo aquilo de que precisamos para a salvação e uma vida piedosa. Aquele que
meditar neste Livro se tornará perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra (2 Tm
3.17).
5. O que significa a autoridade da Bíblia?
O teólogo Millard J. Erickson escreve: Pela autoridade das Escrituras, queremos dizer
que a Bíblia, como a expressão da vontade de Deus para nós, possui o direito supremo de
definir em que devemos crer e como devemos conduzir-nos...
Outra questão surge neste momento: como Deus exerce essa autoridade? Será que Ele a
exerce direta ou indiretamente? Alguns afirmam que Ele faz isso diretamente. Aqui encontramos
o neo-ortodoxo. Para ele, a autoridade de Deus é exercida em um ato direto da revelação, uma
automanifestação que, na verdade, é um encontro imediato entre Deus e o homem.
A Bíblia em si não é a Palavra de Deus. É apenas um instrumento, um objeto, por
intermédio do qual Deus fala ou encontra as pessoas.
Nessas ocasiões, a autoridade não é a Bíblia, mas o Deus que se revela. Nenhuma
qualidade permanente foi anexada à Bíblia ou a ela infundida. Não houve delegação da
autoridade. (Christian Theology. p. 241-245).
Em essência, pode-se afirmar que a Bíblia tem a autoridade suprema sobre pelo menos cinco
áreas da vida do cristão:
a. Sobre a razão humana.
Deus deu-nos cérebros e deseja que os usemos! Isso é verdade para o não salvo (Is 1.18)
e para os salvos (Rm 12.1,2).
Todavia, existem momentos em que Deus deseja que submetamos nosso raciocínio
humano a Ele (Pv 3.5-7).
Normalmente, nosso raciocínio age da mesma forma como o de Naamã, que, quando foi
orientado a banhar-se sete vezes nas águas barrentas do Jordão, ficou irado: Porém Naamã muito
se indignou e se foi, dizendo: Eis que eu dizia comigo: Certamente ele sairá, pôr-se-á em pé, e
invocará o nome do SENHOR, seu Deus, e passará a sua mão sobre o lugar, e restaurará o
leproso (2 Rs 5.11).
Mas Eliseu não fez assim! Muitas vezes, os caminhos de Deus são diferentes dos nossos
caminhos (Is 55.8,9).
b. Sobre a Igreja.
O Novo Testamento está repleto de passagens que declaram que Cristo é a cabeça da
Igreja. (Veja Ef 1.22; 2.19,20; 4.15,16; 5.23-30; Cl 1.18; 2.9).
O Salvador, isso deve ser lembrado, deu à luz a Igreja, e não o contrário. (Veja Mt
16.18). Dessa forma, o cristão deve olhar para a Bíblia e não para qualquer igreja terrena para as
instruções finais. Houve vezes, em que até mesmo as igrejas locais mencionadas na própria Bí-
blia agiram de forma muito errada.
1. A igreja em Éfeso (Ap 2.4,5).
2. A igreja em Pérgamo (Ap 2.14-16).
3. A igreja em Tiatira (Ap 2.20).
4. A igreja em Sardes (Ap 3.1-3).
5. A igreja em Laodiceia (Ap 3.15-19).
c. Sobre a tradição.
Nesta era tecnologica em que vivemos hoje, quando as mudanças ocorrem à velocidade
da luz, é possível que muitos apreciem ainda mais algumas de nossas belas tradições do passado.
E fazem isso com razão. Mas as tradições, como as mudanças, podem estar erradas.
Se algo estava errado quando começou, ainda está errado independente dos séculos que
nos separam. Muitas vezes, no passado, dolorosas “tradições dos pais” infiltraram-se na igreja do
Deus vivo. Nosso próprio Salvador sofreu por causa de algumas tradições judaicas prejudiciais
(Mt 15.6). Mais tarde, Paulo também alertaria sobre esse assunto (Cl 2.8).
c. Sobre líderes religiosos (Hb 13.7,17).
Por mais importantes que esses versículos sejam, eles não ensinam que os líderes
espirituais devem tornar-se nossa fonte de autoridade. Pastores piedosos são realmente chamados
para serem modelos (1 Co 11.1; 1 Tm 4.12; 1 Pe 5.3), mas somente a Bíblia deve ser nosso guia e
padrão supremos.
d. Sobre nossos sentimentos e experiências.
Às vezes, os cristãos caem no erro porque “sentiram-se dirigidos” a fazer ou dizer certas
coisas. Todavia, precisamos aprender que, em alguns momentos, nossos sentimentos podem ser
traiçoeiros e totalmente não confiáveis. O salmista sempre falava sobre isso (S127.13; 42.5; 77.1-
10; 116.11).
Essa verdade não se aplica somente aos nossos sentimentos, mas também às nossas
experiências. Um dos três “ amigos” de Jó, Elifaz, baseou todo seu conselho sobre o sofrimento de
Jó na experiência (Jó 4.12- 16). Mais tarde, ele foi severamente repreendido pelo próprio Deus por
ter agido assim. (Veja Jó 42.7) Assim, por mais valiosas que as experiências pessoais possam ser,
elas não substituem a Palavra de Deus revelada.
8.2. QUAL É A DOUTRINA ORTODOXA DA INSPIRAÇÃO?
Quatro conceitos fundamentais descrevem de forma clara e breve a posição dos
ortodoxos em relação à Palavra de Deus.
a. O conceito verbal, que significa que cada palavra de cada versículo é inspirada.
b. O conceito da autoridade, que significa que ela está baseada e carrega todo o peso do
próprio Deus.
c. O conceito da inerrância, que significa que ela é sem falhas, perfeita, e livre de qualquer
erro.
d. O conceito da infalibilidade, que significa que ela é totalmente confiável, completamente
fidedigna e absolutamente segura.
Na verdade, as próprias Escrituras afirmam ser inspiradas no todo, em partes, em palavras e
em cada letra.
a. Inspiração do todo (Mt 5.17; 2 Tm 3.16).
b. Inspiração de partes (Jo 12.14-16).
c. Inspiração das palavras (Mt 4.4).
d. Inspiração de cada letra (Mt 5.18).
8.2.1. Dez conclusões básicas sobre a inspiração verbal e plenária?
1) A inspiração verbal e plenária não ensina que todas as partes da Bíblia são igualmente
importantes, mas somente as que são igualmente inspiradas. Por exemplo, Juizes 3.16 pode
não ser tão importante quanto João 3.16, mas os dois versículos foram inspirados por Deus.
2) A inspiração verbal e plenária não garante a inspiração de qualquer tradição bíblica moderna
ou antiga, mas refere-se apenas às línguas originais, o hebraico e o grego.
3) A inspiração verbal e plenária não permite qualquer ensino falso, mas permite o registro da
mentira de alguém. Por exemplo, Satanás distorce a verdade e mente para Eva (Gn 3.4).
Dessa forma, temos um registro exato das palavras do diabo. Ao ler a Bíblia, deve-se ter
cuidado para distinguir o que Deus registra e o que Ele sanciona. Dessa forma, mentira,
assassinato, adultério e poligamia são encontrados na Palavra de Deus, mas nunca foram
aprovados pelo Deus da Palavra.
4) A inspiração verbal e plenária não permite qualquer tipo de erro histórico, científico ou
profético. Ela admite que a Bíblia não é um manual científico, todavia aceita que toda
afirmação científica nas Escrituras é absolutamente verdadeira.
5) A inspiração verbal e plenária não proíbe a pesquisa pessoal (Lc 1.1-3).
6) A inspiração verbal e plenária não nega o uso de fontes extrabíblicas. Seguem alguns
exemplos.
 Em pelo menos duas ocasiões, Paulo cita autores pagãos (At 17.28; Tt 1.12).
 Judas cita um antigo livro hebraico não incluso na Bíblia (Jd 1.14,15).
7) A inspiração verbal e plenária não dominou a personalidade do autor humano. Os escritores
da Bíblia não experimentaram transes como acontece com alguns médiuns durante uma
sessão, mas, pelo contrário, sempre mantiveram suas faculdades física, mental e emocional.
Várias passagens confirmam isso. (Veja Is 6.1-11; Dan 12)
8) A inspiração verbal e plenária não exclui o uso da linguagem pictórica e simbólica. Isso quer
dizer que o Espírito Santo não exige que aceitemos cada palavra da Bíblia de forma legalista
e insensível. Por exemplo, não se deve imaginar que Deus tenha penas como um pássaro ao
referir-se ao Salmo 91.4. Nesse caso, a ideia é simplesmente que o cristão perseguido pode
fugir em direção ao seu Pai celestial em busca de proteção e calor.
9) A inspiração verbal e plenária não significa uniformidade em todos os detalhes dados para
descrever o mesmo acontecimento. Veja um exemplo do Antigo Testamento e um do Novo
Testamento.
Exemplo do Antigo Testamento: o perverso reinado do rei Manassés é vividamente descrito em
dois capítulos separados.
 São eles 2 Reis 21.1-18 e 2 Crônicas 33.1-20. Em 2 Reis, lemos somente a respeito de seus
atos pecaminosos, mas, em 2 Crônicas, podemos ler a respeito de suas orações por perdão e
subsequente salvação. A razão para isso pode ser porque Deus permitiu que o autor de 2
Reis descrevesse o reino a partir do ponto de vista terreno (ainda que o Senhor tenha inspira-
do a pena do autor), mas Ele guiou a pena do autor de 2 Crônicas para registrar o reinado de
Manassés do ponto de vista celestial. Somente Deus, é claro, conhece o verdadeiro
arrependimento quando o vê saindo do coração humano.
Exemplo do Novo Testamento: existem quatro relatos diferentes sobre a inscrição na cruz do
Calvário.
 Mateus diz - Este é Jesus, o rei dos judeus (Mt 27.37).
 Marcos diz - O rei dos judeus (Mc 15.26).
 Lucas diz - Este é o rei dos judeus (Lc 23.38).
 João diz - Jesus Nazareno, rei dos judeus (Jo 19.19).
Provavelmente, o título inteiro devia ser: “Este é Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”.
10) A inspiração verbal e plenária garante-nos que Deus incluiu todas as coisas necessárias que
Ele queria que soubéssemos, e excluiu as demais (2 Tm 3.15-17).
8.2.2. VISÕES FALSAS SOBRE A INSPIRAÇÃO?
Existem seis grandes visões errôneas sobre a natureza da inspiração:
a. A teoria natural. Ela afirma que Deus selecionou certos indivíduos dotados que nasceram
com percepções excepcionais para a Bíblia. Dessa forma, um Isaías ou um Moisés teria
recebido a mesma “ajuda divina” extra que um Shakespeare ou um Milton teria recebido.
Essa teoria é totalmente refutada pelo apóstolo Pedro (2 Pe 1:20,21).
b. A teoria mística. Ela aperfeiçoa a teoria natural, defendendo que Deus simplesmente
aumentou os poderes normais dos escritores da Bíblia. Esta visão, todavia, também é
rejeitada por Pedro (2 Pe 1.20,21).
c. O conteúdo (ou conceito) da teoria. Aqui, somos chamados a crer que somente a ideia
principal de um parágrafo ou capítulo é inspirada. Colocado de outra forma, Deus deu uma
série de declarações importantes para o escritor da Bíblia e, então, deu-lhe instruções para
que as detalhasse com suas próprias palavras. Davi (2 Sm 23.1,2) e Jesus (Mt 5.18),
todavia, falam contra essa visão.
d. A visão parcial. Esta afirma que somente certas “partes” da Bíblia são inspiradas. Paulo
denuncia essa teoria parcial (2 Tm 3.16). O Dr. Charles F. Baker conta a seguinte história:
Um certo bispo teria dito que acreditava que a Bíblia fora inspirada apenas em algumas
partes. Quando lhe perguntaram qual era sua base para tal declaração, ele citou Hebreus 1.1,
afirmando que tal passagem significava que Deus falou por diversas vezes em diferentes
graus. Assim, algumas partes foram totalmente inspiradas, outras foram apenas
parcialmente, e outras nem haviam sido inspiradas. O bispo ficou envergonhado quando um
leigo perguntou-lhe: “Como o senhor sabe que Hebreus 1.1, a única escritura sobre a qual
se baseia a sua argumentação, é uma daquelas partes totalmente inspiradas?”. (A
Dispensational Tbeology. p. 38)
e. A teoria da regra “somente o que é espiritual”. Ela afirma que a Bíblia pode ser consi-
derada como nossa infalível regra de fé e prática em todos os assuntos da esfera religiosa,
ética e espiritual, mas não em outros, como as declarações históricas e científicas
encontradas na Palavra de Deus. A falácia dessa teoria é que qualquer livro ou homem cujas
declarações científicas ou históricas estejam abertas ao questionamento certamente não
pode ser confiável em questões morais e pronunciamentos espirituais. Esta teoria é
profundamente refutada pelo próprio Jesus (Jo 3.12).
f. F. A teoria mecânica. Esta diz que Deus, fria e mecanicamente, ditou a Bíblia para seus
escritores, como um gerente em um escritório ditaria uma carta impessoal para sua
secretária. Pelo contrário, a Bíblia é a história do amor divino, e Deus pode ser qualquer
coisa, menos mecânico ou frio com ela. O Espírito Santo, então, nunca transgrediu os
limites do vocabulário do escritor. Assim, o letrado Paulo usa muitas palavras sofisticadas,
enquanto o menos educado João emprega palavras mais simples. Mas ambos os escritos
são igualmente inspirados por Deus. (Veja 2 Tm 3.16) O Dr. Charles Hodge argumenta que
a teoria mecânica interpreta mal a doutrina da inspiração: A Igreja nunca defendeu o que
tem sido estigmatizado como a teoria mecânica da inspiração. Os escritores sagrados não
eram máquinas. Suas consciências não foram suspensas; nem suas faculdades mentais fo-
ram suplantadas. Os homens santos falavam conforme eram movidos pelo Espírito Santo.
Foram homens, não máquinas; não instrumentos inconscientes, mas mentes vivas,
pensantes e dispostas, que o Espírito usou como Seus órgãos. [...] Os escritores sagrados
imprimiram suas peculiaridades em suas várias produções como se não fossem os objetos
de influência extraordinária. (Systematic Tbeology. vol. I. p. 157)
8.3. A QUESTÃO DA INERRÂNCIA DA BÍBLIA
A Inerrância é a doutrina segundo a qual a Bíblia não contém erro algum. Significa que ela é
verdadeira em tudo o que afirma. Desse modo, a Escritura é isenta de erros nos aspectos
doutrinários, espirituais, históricos, culturais, científicos e em todos os demais temas. O argumento
é irrefutável: Deus não pode errar, e, como a Bíblia é divinamente inspirada, ela não pode conter
erros. Assim sendo, a Inerrância, a infalibilidade e a inspiração estão entrelaçadas. Nesse sentido,
nossa declaração de Fé professa que “a Bíblia é a nossa única fonte de autoridade, a inerrante,
infalível, completa e inspirada Palavra de Deus” (SI 19.7; Jo 10.35).
O termo inerrância” não aparece na Bíblia, mas a ideia está presente nas páginas do texto
sagrado. No livro de Provérbios está escrito que “toda palavra de Deus é pura” (Pv 30.5); 0 salmista
afirma que “a palavra do Senhor é provada” (SI 18.30); Samuel assegura que “o caminho de Deus é
perfeito e a palavra do Senhor, refinada” (2 Sm 22.31). Cristo atestou a inerrância ao afirmar que
nem um jota ou um til se omitirá da lei (Mt 5.18); o Senhor igualmente ratificou que “a Escritura
não pode ser anulada” (Jo 10.35); e que a “Palavra é a verdade” (Jo 17.17) – Essas declarações
indicam que a Bíblia é plenamente confiável, sem nenhum a falsidade ou equívoco.
8.3.1 Objeções foram feitas à doutrina da inerrância?
Em discussões recentes, diversos desafios foram levantados contra a doutrina da inerrância. As
maiores objeções incluem as seguintes:
a. A inerrância é desnecessária, pois a Bíblia somente tem autoridade em questões de “ fé e
prática” . O propósito principal da Bíblia, diz-se, é comunicar verdades religiosas necessá-
rias para nossa salvação e prática de nossa fé. Como a Bíblia foi escrita em um contexto
antigo, para pessoas com uma visão de mundo pré-moderna, há muitas afirmações e
histórias que não podem ser consideradas factuais — por exemplo: referência aos quatro
cantos da terra; o sol nascendo e pondo-se; narrativas com detalhes contraditórios (como os
diferentes relatos nos Evangelhos acerca da inscrição colocada sobre Jesus na cruz) ou
histórias sobre Adão, Noé, Jonas e os milagres. A Bíblia nunca teve o objetivo de ensinar
história no sentido moderno, e não pretende ensinar ciência. Então, não precisamos forçar
o texto a eliminar esses problemas.
Embora a inerrância da Bíblia declare o que a Bíblia não é, a Escritura tem base em uma
verdade declarada. Autores bíblicos usaram outros textos bíblicos para afirmar sua inerrância. Cita-
se o que Jesus disse: Até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem
que tudo seja cumprido (Mt 5.18). Jesus também fez referências a pessoas e eventos do Antigo
Testamento, como personagens [e acontecimentos] históricos (Adão, Noé, o dilúvio, Abraão, Jonas
etc.). A Palavra de Deus é definida como perfeita e verdadeira (SI 119.96; Pv 30.5). Ela é
divinamente inspirada e totalmente proveitosa (2 Tm 3.16).
Mas a Escritura nunca distingue verdade “religiosa” de verdade “factual” . Tal como ocorre
com os julgamentos de Deus, que são verdadeiros e justos juntamente (SI 19.9).
b. É uma teoria recente, provavelmente originada pelo grande teólogo B. B. Warfield, em
Princeton, na última parte do século 19. Isso é falso, Na verdade, a doutrina da inerrância foi
aceita e propagada pelos primeiros pais da igreja.
c. O termo inerrância nem mesmo se encontra na Bíblia. Embora isso seja verdade, nem as
palavras Trindade e Bíblia encontram-se nas Escrituras! Portanto, talvez a inerrância seja uma
palavra não bíblica, mas não é, de forma alguma, antibíblica!
d. Mesmo que os manuscritos originais tenham sido inerrantes, isso é totalmente irrelevante,
pois não temos sequer um deles atualmente.
Essa objeção é problemática em vários níveis.
Primeiro, a doutrina da inerrância não se refere a cópias que foram feitas por meio dos
séculos. Ela refere-se ao que Deus fez ao revelar a verdade e supervisionar sua composição original.
A inerrância tem a ver com a natureza da revelação divina escrita não com o que foi feito por ela. Se
a Bíblia foi produzida por inspiração divina e foi (2 Tm 3.16), então, é completamente relevante
perguntar se essa revelação divina incluía erros factuais.
Segundo, por causa da inerrância, discernir o texto original dos manuscritos disponíveis é
vital e muito relevante. Na medida em que os originais podem ser reproduzidos, eles contêm a
inerrante Palavra do Deus vivo. É por esse motivo que levamos essa tarefa tão a sério.
8.4. COMO OS PAIS DA IGREJA VIAM A DOUTRINA DA INSPIRAÇÃO E DA
INERRÂNCIA?
Acredita-se que a crença a respeito da inspiração e da inerrância seja bem recente, prova-
velmente instituída pelo grande teólogo presbiteriano B.B. Warfield (1851-1921), no final do século
19.
Os fatos, todavia, refutam totalmente essa afirmação. Pelo contrário, praticamente todos os
líderes importantes da Igreja, ao longo dos séculos, têm manifestado seu forte comprometimento
com essas doutrinas preciosas.
a. Atanásio (293-373) - Bispo de Alexandria.
A Sagrada Escritura é mais poderosa que todos os sínodos. [...] A Bíblia é um livro totalmente
inspirado por Deus, do começo ao fim [...] Cada Salmo foi falado e composto pelo Espírito Santo.
[...] Que nenhum homem adicione nada a esses [66 livros], nem permita que se tire alguma coisa
deles.
b. Agostinho (354-430) - Bispo de Hipona.
Aprendi a [...] respeitar e honrar somente... aos livros canônicos das Escrituras: somente a
respeito destes creio firmemente que seus autores foram completamente livres de erros. E, se nesses
escritos fico perplexo por qualquer coisa que me pareça oposta à verdade, não hesito em supor que
o problema está no manuscrito, que o tradutor não captou o significado do que foi dito, ou que eu
mesmo falhei em compreendê-lo.
Aprendi a considerar como inerrante somente as Escrituras. Não sigam meus escritos como se
pertencessem às Escrituras Sagradas. Quando você encontrar na Bíblia algo em que não cria antes,
creia nisso sem dúvida; mas em meus escritos, não confie que esteja tudo certo.
Vamos render-nos e ceder nosso assentimento à autoridade das Santas Escrituras, que não
sabem como enganar ou ser enganadas. Parece, para mim, que as conseqüências mais desastrosas se
seguirão se crermos que qualquer falsidade seja encontrada nos livros sagrados: isso significa
afirmar que os homens pelos quais as Escrituras chegaram até nós e comprometeram-se a escrevê-la
nela acrescentaram qualquer coisa falsa. Se, apenas uma vez você admitir que existe uma
declaração falsa nesse alto santuário de autoridade, não restará uma única sentença nesses livros
que, se parecer difícil de ser praticada ou acreditada, não possa, pela mesma regra fatal, ser afastada
como uma afirmação na qual, intencionalmente, o autor declarou que não era verdade.
c. João Calvino (1509-1564) - O maior teólogo entre os reformadores e líder religioso em
Genebra.
Este é um princípio que distingue nossa religião de todas as outras, que sabemos que Deus
nos falou, e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si mesmos, mas
que, como órgãos do Espírito Santo, apenas proferiram o que foram dos céus comissionados para
declarar. Quem quiser beneficiar-se das Escrituras precisa, antes de mais nada, tomar isso como um
fato estabelecido, que a Lei e os Profetas não são uma doutrina entregue de acordo com a vontade e
o prazer dos homens, mas ditados pelo Espírito Santo. [...] Devemos às Escrituras a mesma
reverência que devemos a Deus: porque elas procederam somente dele, e não há nelas nada mis-
turado que pertença ao homem. Porque, se nós consideramos como é escorregadia a mente
humana... Como é propensa a todos os tipos de erro... Podemos perceber como é necessário um
repositório da doutrina celestial, que nunca perecerá pelo esquecimento nem desaparecerá pelo erro,
nem será corrompida pela audácia dos homens.
As Escrituras são a escola do Espírito Santo, onde nada que seja necessário e útil de ser
conhecido é omitido, assim, tudo o que é ensinado traz benefícios no saber.
d. João Crisóstomo (345-407) - O maior pregador da igreja oriental e arcebispo de
Constantinopla.
A Bíblia apresenta-nos a história verdadeira e, a menos que... esse princípio seja
honestamente reconhecido, é inútil ensinar a doutrina e as lições espirituais contidas nas palavras,
pois ela deve ser utilizada na construção de uma superestrutura em uma fundação precária e louca.
e. Clemente de Alexandria (150-215) - Acadêmico que desenvolveu uma das escolas
religiosas mais proeminentes no Egito de sua época.
Desde minha infância fui ensinado a reverenciar cada letra da Bíblia grega. [...] E Cipriano
(200-258)—Professor distinto e bispo de Cartago.
Os nomes dados para as Escrituras testificam delas: Escrituras divinas Preceitos do
evangelho Mandamentos divinos Escrituras Sagradas Escrituras dos céus Preceitos da lei divina
Fontes da plenitude divina Vozes do Senhor
f. Gregório de Nazianzo (325-389) - Padre na igreja oriental e patriarca da Constantinopla.
Nada está desprovido de desígnio na Escritura. Cada traço e cada letra têm seu significado
especial. Seguimos a precisão do Espírito em detalhes para cada traço e letra em separado; por isso
é uma blasfêmia supor que cada dor foi captada pelos compiladores dos livros, ou que mesmo as
menores letras não têm um desígnio...
Nem uma única sílaba dos escritos sagrados deve ser negligenciada. Cada palavra ou ação
precisa ser aceita no testemunho da Escritura inspirada.
g. Ireneu (142-200) - Discípulo de Policarpo, grande defensor da fé que escreveu contra as
heresias religiosas de seus dias.
Devemos estar mais apropriadamente seguros de que as Escrituras são realmente perfeitas,
já que foram proferidas pela Palavra de Deus e Seu Espírito. Se, porém, não somos capazes de
encontrar explicação para todas as coisas nas Escrituras que se tornam objeto de investigação, nem
por isso buscaremos outro Deus além daquele que realmente existe. Pois essa seria a maior
iniqüidade. Devemos deixar esse tipo de coisa com o Deus que nos criou, e estar mais
apropriadamente seguros de que as Escrituras são realmente perfeitas, já que foram proferidas pela
Palavra de Deus e Seu Espírito; mas nós, uma vez que somos inferiores e viemos à existência de-
pois que a Palavra de Deus e Seu Espírito, estamos por essa razão destituídos do conhecimento de
Seus mistérios.
h. Jerônimo (340-420) - Tradutor da Vulga- ta latina.
Nas Santas Escrituras, até mesmo a ordem das palavras tem um significado sagrado [...]
Foram escritas e editadas pelo Espírito Santo.
i. Justino Mártir (100-165) - Um dos primeiros e mais capazes defensores da fé.
Os autores receberam de Deus o conhecimento com o qual ensinaram. Esse conhecimento
era grande demais para ter sido adquirido de outra forma que não fosse o dom divino que desceu
sobre os homens, cuja única função foi de ‘apresentarem-se puros para a energia do Espírito
divino...’ Quando você escuta as palavras dos profetas como se fossem ditas por eles mesmos, você
não deve achar que foram proferidas pelos próprios homens inspirados, mas pela Palavra divina que
os move.
j. Martinho Lutero (1483-1546) - Ex-padre católico romano, cujo versículo-chave, após sua
salvação (o justo viverá da fé, Rm 1.17), ajudou a iniciar a Reforma Protestante.
Certamente, nenhum outro teólogo na história da Igreja falou com maior persistência ou
paixão sobre o assunto da iner- rância bíblica do que Lutero, testemunhando sobre as Escrituras em
mais de mil ocasiões em seus escritos! Seguem alguns exemplos: Precisamos fazer uma grande
diferença entre a Palavra de Deus e a palavra do homem. A palavra do homem é um som baixinho,
que ecoa pelo ar e logo desaparece; mas a Palavra de Deus é maior do que céus e terra... pois ela
forma parte do poder de Deus, e dura eternamente; devemos, portanto, estudar diligentemente a
Palavra de Deus, saber e crer com certeza que o próprio Deus fala conosco. Acima de todas as
declarações dos padres e de todos os homens, sim, acima das palavras dos anjos e dos demônios, eu
coloco as Escrituras. Tenho
aprendido a conceder a honra da infalibilidade somente aos livros que são aceitos como
canônicos. Estou profundamente convencido de que nenhum desses autores jamais errou. As
Escrituras, apesar de terem sido escritas por homens, não são dos homens nem deles provêm, mas
de Deus.
Imploro e, com fé, alerto cada cristão piedoso a não sucumbir diante da simplicidade da
linguagem e das histórias com as quais se deparará. Ele não deve duvidar que por mais simples que
possam parecer, elas são exatamente as palavras. Obras, julgamentos e feitos da grande majestade,
poder e sabedoria de Deus. E certo que a Bíblia não pode discordar de si mesma. [...] E impossível
que as Escrituras se contradigam, ainda que assim pareça acontecer aos insensatos e hipócritas
obstinados. [...] Um único pequeno ponto de doutrina significa mais do que o céu e a terra, por isso
não podemos tolerar que uma única palavra seja violada. Pois está estabelecido pela Palavra de
Deus que Ele não mente, nem Sua Palavra. As Escrituras são divinas; nelas, Deus fala, e são Sua
Palavra. Ouvir ou ler as Escrituras não é nada mais do que ouvir Deus.
k. Policarpo (69-156) - Bispo de Esmirna e discípulo do apóstolo João.
As Escrituras são os oráculos do Senhor, e todo aquele que as perverter é filho de Satanás.
l. John Wesley (1703-1791) - Fundador da Igreja Metodista.
Não, se houver qualquer erro na Bíblia, então pode muito bem haver milhares. Se existir
qualquer falsidade naquele livro, então ele não veio do Deus da verdade.
A Bíblia deve ser invenção de homens bons ou de anjos, de homens maus ou de demônios,
ou de Deus. Portanto:
1. Ela não pode ser invenção de homens bons ou de anjos, pois eles não criariam nem
poderiam criar um livro, dizer mentiras o tempo todo em que o escreveram, dizendo Assim diz o Se-
nhor, quando na verdade tudo era invenção deles.
2. Ela não pode ser invenção de homens maus ou de demônios, pois eles não criariam um
livro que ditasse os mandamentos, proibisse os pecados e condenasse suas próprias almas ao inferno
por toda eternidade.
3. Dessa forma, chego a esta conclusão, de que a Bíblia deve ter sido dada pela inspiração
divina.
8.3. A ILUMINAÇÃO DAS ESCRITURAS
A Iluminação é o ato pelo qual o Espírito Santo capacita aos que lêem a Bíblia com o
objetivo de entendê-la e aplicá-la as suas vidas (I Co 2. 12; Lc 24. 32, 45). A Iluminação admite
graus, podendo alguém ter muita iluminação ou pouca (Ef 1. 16-18; 4. 23; Cl 1. 9).
a. A Iluminação não se limita apenas a questões comuns, mas pode atingir as coisas
profundas de Deus (I Co 2. 10), porque o Espírito Santo que conhece todas as coisas de Deus,
está no coração do crente. Não é uma voz falando audível e exteriormente, mas o despertar da
mente e do coração, para a compreensão das Escrituras (I Co 2. 16).
b. Este despertamento do Espírito pode ser prejudicado pelo pecado, pois é dito que o
cristão que é espiritual discerne todas as coisas (1 Co 2. 15), ao passo que aquele que é carnal
não pode receber as verdade mais profundas de Deus, que são comparadas ao alimento sólido (I
Co 2. 15; 3. 1-3; Hb 5. 12-14).
8.3.1. A Iluminação, a Inspiração e a Revelação, estão intrinsecamente ligadas, porém, podem
ser independentes, pois pode haver:
a. Inspiração sem revelação (Lc 1; 1-3; I Jo 1. 1-4) e inspiração com revelação (Ap 1. 11).
b. Inspiração sem iluminação (I Pe 1. 10-12) e iluminação sem inspiração (Ef 1. 18) e sem
revelação (I Co 2; 12; Jd 3).
c. Revelação sem iluminação (IPe 1. 10-12) e sem inspiração (Ap. 10. 3-4; Êx 20. 1-22).
d. O apóstolo Paulo menciona os três conjuntamente, numa só passagem (I Co 2. 9-13).
 Revelação (v. 10).
 Iluminação (v. 11).
 Inspiração (v. 13).

IX - DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS:

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