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Santo Agostinho e Doutrina Espírita

Parte 1

Numa decisiva manhã de verão, no final de maio do ano 33, reuniram-se no Templo de
Jerusalém cerca de 120 seguidores de um mestre judeu chamado Jesus. O ambiente dessa
reunião estava pleno de excitação pelo dia de Pentecostes, uma festa da colheita do trigo e da
cevada, celebrada cinquenta dias depois da Páscoa.

É oportuno lembrar que a Páscoa é uma das três grandes festas judaicas, que na Antiguidade
era conhecida como Festa das Semanas, por durar sete semanas, ou Festa da Colheita, pois
começava com a colheita da cevada e terminava com a colheita do trigo, mas que, com o
domínio grego, passou a ser conhecida como Pentecostes, que significa cinquenta.

Subitamente, algo inesperado surgiu entre eles. Havia o ruído de um vento, como uma forte
tempestade vinda dos céus, e viram algo que se assemelhava a fachos de luz que se dividiam e
envolviam a cada um deles. Mais importante que isto, sentiram uma força dentro de si à
medida que a luz os envolvia. Impressionados com o que acontecia, sabiam de alguma maneira
que as suas vidas iriam mudar. E eles tinham razão.

Como está registrado nos Atos dos Apóstolos, este grupo centrava-se em torno dos onze
apóstolos de Jesus. O apóstolo que faltava, Judas, morrera no famoso Campo de Sangue em
Jerusalém e foi substituído por Matias.

O grupo ainda contava com dezenas de outros discípulos que se juntaram aos apóstolos em
contínua oração. A maioria é desconhecida, entretanto Maria, mãe de Jesus, encontrava-se
presente, com Maria Madalena e Joana de Cusa.

Inspirados por uma força especial, saíram, então, ao encontro da multidão crescente de
peregrinos curiosos, que notaram o acontecido e foram para o átrio dos gentios do Templo. Os
discípulos começaram a falar como nunca haviam feito antes e aqueles que os ouviam podiam
entendê-los como se cada um lhes falasse na sua própria língua.

Nos Atos dos Apóstolos não se relata o que os discípulos disseram, mas a forma como a
mensagem se adaptava à ocasião, através da mediunidade de psicofonia.

Entre os peregrinos havia judeus de todo o mundo mediterrâneo, pois cerca de dois terços
residiam fora e um terço em Jerusalém.
Assim, os discípulos se expressavam em línguas faladas na Capadócia, Panfilia, no Egito, Ponto,
na Frígia, pelos romanos e habitantes da Mesopotâmia.

Simbolicamente o acontecimento, que marcaria o início da divulgação e do crescimento do


Cristianismo, significava que as divisões da humanidade, principalmente pela língua, seriam
ultrapassadas pelo Cristo. Além disso, nos mostra que a estratégia do Alto para divulgação do
Cristianismo passava pelos judeus da diáspora, de mentalidade mais aberta e longe do
dogmatismo religioso de Jerusalém.

Evidentemente, no átrio do Templo, alguns caçoaram do que acontecia, afirmando que os


discípulos tinham tomado vinho doce, dando ensejo para que Pedro, exercendo a sua
liderança, respondesse aos ataques em voz alta para todos. A multidão se calou e para muitos
as palavras de Pedro fizeram sentido. Segundo os Atos, cerca de três mil pessoas se
interessaram.

Foi um começo vigoroso. Nos cinco anos seguintes, após a morte de Jesus, a igreja de
Jerusalém se formou e algumas outras missões na Palestina. No início até utilizavam as
dependências do templo todos os dias; às três horas, quando se reuniam para orar. Até que
certo dia, na porta chamada Formosa, havia um aleijado que pedia moedas. Ao ver Pedro e
João, fez o pedido para aqueles homens bons.

Pedro, então, responderia: “Olha para nós. Não temos prata nem ouro, mas aquilo que temos
isso te damos: levanta-te e anda”.

É compreensível que, neste início, a flor tenra do Cristianismo nascente sofresse uma série de
dificuldades e perigos. Um novo sistema de ideias e valores fora exposto e as reações eram
naturais. Alguns homens e mulheres tiveram participação especial neste desenvolvimento.
Certamente, Paulo de Tarso foi o primeiro desses pioneiros e o de maior destaque. Por sua luta
incansável, o bom combate, evitou que o Cristianismo se tornasse uma seita judaica e levou a
mensagem cristã para o mundo gentio. O segundo foi Santo Agostinho, que, por sua
participação na codificação da Doutrina Espírita, nos faz afirmar que ele ajudou em duas das
três revelações, a saber: o Cristianismo e o Espiritismo. Por essa razão, em artigo próximo,
pretendemos apresentar o pensamento de Agostinho, como bispo cristão no norte da África
no século V e como Espírito no século XIX participando das Obras de Allan Kardec.

Parte 2

Agostinho nasceu em 354, no norte da África romana, na Numídia, e viveu 76 anos, dos quais
43 dedicados ao Cristianismo. Um espírito marcante nas duas das três revelações: na formação
do pensamento cristão e na codificação do Espiritismo.
E por que no Espiritismo? Em 1863, em mensagem recebida em Paris, Erasto afirmou que
Santo Agostinho seria um dos maiores divulgadores da Doutrina Espírita. Esta condição denota
o seu entusiasmo e amor pelo Espiritismo. E quem foi Erasto? Como afirma Allan Kardec, em
“O Livro dos Médiuns”, no capítulo 5, seria discípulo de Paulo de Tarso.

Paulo faz referência a ele na segunda epístola a Timóteo. Na epístola aos romanos,
encontramos, nas saudações finais, o relato de que Erasto tinha um cargo público em Corinto,
provavelmente tesoureiro. Em 1947, a arqueologia obteve indícios que confirmam tal posição.

Várias mensagens de Erasto foram incluídas em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, onde


destacamos a famosa “A missão dos espíritas”. Melhor referência para Santo Agostinho não
poderíamos encontrar.

Quanto ao Cristianismo, depois de Paulo foi quem mais o influenciou. A sua importância foi dar
corpo ao Cristianismo, universalizá-lo quanto possível, independentemente do Império
Romano, que começava a desabar no século V, invadido pelos bárbaros. Para dar corpo, era
preciso unificá-lo já que na sua época existiam dezenas de cristianismos, cada um dos quais
afirmando ser a mensagem autêntica do Cristo. Assim, existiam cristãos maniqueus,
pelagianos, donatistas, gnósticos, monofisistas, nestorianos, atólicos, católicos romanos, entre
outros. Agostinho, a despeito de tantas teologias cristãs em litígio, rompeu o caminho rumo ao
Cristo.

Atualmente o foco de atenção do agostianismo é a sua preocupação com a alma. Agostinho foi
o primeiro a estudar a alma, a ponto de muitos o considerarem o precursor de Freud, que
viveria cerca da 16 séculos depois. Foi ele o primeiro a discernir no fundo do nosso ser as
forças obscuras que fora da consciência clara e do livre exercício da vontade podem
determinar nosso comportamento, o que Freud chamou de inconsciente. A psicologia de
Agostinho é introspectiva quando ele afirmava que o fundamento da alma é sua contínua
autoconsciência.

Assim Agostinho tinha um coração inquieto pela busca incessante do conhecimento.Na


juventude seguiu o maniqueísmo, filosofia que misturava elementos do Cristianismo com o
mazdeísmo Persa. Depois, tornou-se neoplatônico, para, finalmente, converter-se ao
Cristianismo.

Por fim, o que mais nos aproxima dele é a sua luta contra os seus defeitos. É certo que
estamos mais próximos de Agostinho do que de Paulo, um espírito amante das virtudes. É
famosa a frase de Agostinho: “Senhor, dai-me a castidade, mas não agora”.
Parece-nos que Agostinho, no século V, formulou questões que somente seriam respondidas
pela Doutrina Espírita com a sua participação como Espírito. Quando Mônica, sua mãe,
desencarnou em Óstia, após haver cumprido sua missão de tornálo cristão, Santo Agostinho
iria afirmar: “Estou certo que minha mãe virá visitarme e dar-me conselhos, revelando-nos o
que nos espera na vida futura”. Esta frase é de um espírita no século V.

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