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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 4

A ENTREGA A DEUS

Frequentemente ensino as pessoas a entregar completamente


suas aflições a Deus. O que quero dizer é que, independentemente
do que ocorra, não devem se preocupar. Parece algo simples que
conseguimos realizar sem nenhuma dificuldade, mas na realidade
não o é. Eu mesmo, quando me vejo nessa situação, faço um grande
esforço para entregar tudo a Deus; entretanto, as preocupações
começam a me rondar. Afinal, neste mundo cheio de perversidades, é
quase impossível conseguir isso. Por outro lado, a pessoa de fé é
diferente das demais: tão logo lhe surge uma preocupação, lembra-se
de entregá-la a Deus e sente grande alívio.

Gostaria de salientar um ponto que as pessoas não percebem.


Se interpretarmos espiritualmente, veremos que o pensamento
[sonen] de preocupar-se é uma espécie de apego. Ou seja, o apego à
preocupação é como um mal que influencia negativamente todas as
coisas.

Geralmente, quando se fala em apego, pensa-se no apego que


se liga ao desejo de ter sucesso, de obter dinheiro, de viver no luxo e
de satisfazer todas as vontades. Há, ainda, outro tipo de apego, de
caráter maligno, que se manifesta em desejos como: “Aquele sujeito
é um insolente, um atrevido, e eu o odeio! Vou lhe dar uma boa lição.”

Entretanto, o apego ao qual me refiro não é aquele tão óbvio. É


um apego que geralmente passa despercebido. Trata-se da
preocupação com o presente ou da ansiedade excessiva. Refiro-me
também ao sofrimento pelo que ficou no passado. Quando se trata de
um fiel, embora Deus queira conceder-lhe graças, o apego acaba
formando espiritualmente um obstáculo e, quanto mais forte ele for,
mais fraca é a proteção divina e, por esse motivo, as coisas não
correm a contento.

Um bom exemplo disso é que, à proporção que se deseja


muito alguma coisa, mais difícil é consegui-la. Qualquer um já teve a
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experiência de ver concretizar seu desejo quando já tinha desistido


dele.

Às vezes, quando almejamos muito fazer isso ou aquilo, nada


se concretiza. No entanto, esse desejo se realiza quando já o
tivermos esquecido.

Na prática do Johrei, dá-se o mesmo. À medida que a vontade


do ministrante de curar alguém se intensifica, fazendo-o pensar:
“Quero curá-lo de qualquer maneira”, o restabelecimento será mais
demorado. Entretanto, quando o Johrei é ministrado com
desprendimento ou até mesmo com um pouco de dúvida: “Não sei se
esta pessoa se restabelecerá ou não, mas em todo caso vou
ministrar-lhe Johrei”, para surpresa geral, o doente se recupera mais
facilmente.

Em outra situação, apesar de os familiares e amigos próximos


ansiarem pela cura, o doente em estado grave que parecia estar se
recuperando não se restabelece e, muitas vezes, acaba morrendo.
Ao contrário, observa-se que a recuperação advém de forma
relativamente fácil e rápida quando o enfermo fica um tanto
indiferente ante a ideia da vida e da morte, e seus familiares parecem
não se preocupar muito.

Temos, ainda, casos de doentes e seus familiares que


desejam a salvação a todo custo. Contudo, a doença se agrava, até
chegar ao ponto em que, ante a perspectiva do inevitável desenlace,
todos acabam desistindo. É então que sobrevêm melhoras rápidas, e
firma-se a cura. É um fato curioso, mas há enfermos que insistem,
dizendo: “Não posso morrer com uma doença tão simples como essa.
Mostrarei que sou capaz de curá-la pela minha força mental.”
Geralmente, tais pessoas acabam morrendo, e a causa principal está
no apego à vida.

Creio que puderam compreender, por meio desses exemplos,


quão pavoroso é o apego.
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Assim sendo, em casos de doentes sem qualquer chance de


salvação, primeiramente deve-se deixar subtendida a improbabilidade
de cura e dizer que rogaremos a Deus que lhes conceda a salvação
no Mundo Espiritual. É bom deixá-los bem cientes disso, bem como
comunicar os familiares. A partir de então, com a ministração de
Johrei, muitas vezes, o estado de saúde começa a melhorar.

Embora o assunto seja diferente, constatamos que situação


semelhante se manifesta no relacionamento entre pessoas de sexos
opostos. O demasiado interesse de uma pode afastar a outra,
causando-lhe repulsa. Pode parecer extremamente irônico, mas é o
apego de um que esfria o coração do outro. Aliás, os fatos deste
mundo, na sua maioria, têm, realmente, caráter irônico. Por esse
motivo, são complicados e também interessantes.

Pelo exposto, creio que puderam compreender que quase


sempre o apego é a causa do insucesso. É nesse sentido que digo
frequentemente para visarem ao efeito contrário: é a ironia das ironias,
mas é a pura verdade.

Jornal Eiko nº 132, 28 de novembro de 1951

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