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Bom dia, meu nome é Maria Luiza, sou aluna do 3 ano do ensino médio e o tema do meu

TCC é "A ascensão do neofascismo", orientado pelo professor Weslley Nogueira.

● Metodologia:

A metodologia do trabalho tem base em revisão bibliográfica, realizada em artigos


científicos e livros de cunho histórico.

● Justificativa:

A escolha desse tema se faz pelo evidente crescimento de grupos fascistas e


conservadores nas estruturas de poder e a importância de analisá-los.

● Objetivos:
● Evidenciar como o fascismo se expressa em cada um de seus movimento e
destacar o bolsonarismo como um movimento neofascista.
● Explicar a relação entre o projeto neoliberal e a ascensão do neofascismo.
● Destacar as características da mentalidade e perfil fascista.
● Introdução:

O século XX foi marcado por diversas formas de governos autoritários, como a escalada da
Itália fascista e a ascensão da Alemanha nazista. Porém, no século XXI, já é possível
observar novas referências e características fascistas em governos contemporâneos.

Primeiramente, neofascismo é um fenômeno político-ideológico que pode ser caracterizado


como o fascismo que se recicla com mudanças na nova realidade material. Para
compreender melhor esse fenômeno, é preciso primeiro identificar o que é fascismo:

"a forma mais reacionária e abertamente terrorista da ditadura do capital financeiro,


instaurada pela burguesia imperialista com o fim de esmagar a resistência da classe
operária e de todos os elementos progressistas da sociedade[...]" (ROSENTAL, IUDIN,
1959, p; 199)

O fascismo surge como uma resposta às crises econômicas e políticas, que se apresentam
de forma cíclica no capitalismo, como ocorreu em 1929 e 2008. As crises geram revolta,
principalmente nas classes operárias que as sentem de maneira mais acentuada, a partir
disso surge uma necessidade do Estado de controlar essas massas, utilizando a violência e
a repressão para isso, o que caracteriza o fascismo.

Este é um movimento em defesa do capitalismo, tentando reconstruí-lo da crise a partir da


superexploração da classe trabalhadora, manipulando e despolitizando a população à
extrema direita. Apesar disso, os governos contemporâneos não podem ser considerados
de fato fascistas, por isso a nomenclatura; neofascistas.

● O surgimento de uma onda de conservadorismo mundial:

O conservadorismo se apresenta como um instrumento ideológico para neutralizar e desviar


o foco das contradições sociais, promovendo a manutenção da ordem capitalista.
Nos últimos anos, a direita xenófoba de alguns países europeus como França, Dinamarca e
Reino Unido alcançaram mais de 25% de votos durante as eleições, algo inédito desde
1930. Dados como esse mostram como esses movimentos têm ganhado adesão com deus
discursos baseados no chauvinismo, racismo, misoginia, ódio aos imigrantes, como no caso
de Giorgia Meloni, dos Irmãos da Itália, e antissemitismo, como no caso do Aurora Dourada
na Grécia.

No Brasil, a onda conservadora pode ser melhor observada a partir de 2016, com discursos
de ódios sendo propagados dentro do congresso nacional , principalmente, pelas bancadas
evangélica, da bala e do boi, além das redes sociais.

Alguns movimentos conservadores que podem ser observados na atualidade são o


Movimento Escola Sem Partido e a volta da Marcha da Família com Deus pela Liberdade,
movimento de apoio ao golpe militar de 1964.

● A nova direita brasileira:

Com o avanço da ideologia conservadora no cenário político brasileiro, é possível observar


uma agitação nos planos da direita e extrema direita no país, adotando novos aspectos que
surgiram a partir do impeachment da ex presidente Dilma Rousseff.

Ao analisar o fenômeno, é possível dividi-lo em três campos semânticos: o antipetismo, o


conservadorismo moral e os princípios liberais. O antipetismo reúne características como o
discurso esvaziado anticorrupção e a crise econômica. O conservadorismo moral resgata
temas como a família tradicional, a fé cristã, patriotismo, anticomunismo e o combate às
cotas raciais. Já os princípios liberais apoiam ideias como o Estado mínimo, privatizações,
empreendedorismo, meritocracia e cortes de políticas sociais.

Esse movimento possui, ainda, lideranças como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra
Rua e Revoltados Online, além de figuras como Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Olavo de
Carvalho e Jair Bolsonaro. Além disso, suas ideias geralmente se manifestam através das
chamadas Think Tanks como o Instituto Liberal e a Brasil Paralelo.

● Neofascismo e neoliberalismo:

Assim como explica Michael Lowy, o neofascismo se afasta do fascismo clássico assim
como se aproxima; o fenômeno atual, por exemplo, não possui um partido de massas e
nem forças paramilitares como o fascismo clássico, além de possuir caráter elitista e o
discurso empreendedoristico no lugar do trabalho massificante.

Assim, entende-se que tudo que afasta o neofascismo de sua versão clássica, o aproxima
do neoliberalismo, podendo este ser entendido como a face econômica do neofascismo.

O neoliberalismo é um conjunto de contrarreformas utilizadas para superexploração dos


trabalhadores, é uma máquina de supressão de direitos que adere a lógica do lucro e tem
características como as privatizações, a desregulamentação da economia, a flexibilização
das leis trabalhistas e a repressão a qualquer insatisfação demonstrada pelas massas, a
partir da violência. Há assim, uma relação direta entre a ascensão do neofascismo e da
economia neoliberal.
● Movimentos Neofascistas:

O surgimento de movimentos de caráter fascista está ligado com o desemprego a a


ascendente xenofobia após um período de progresso nesses países, apesar de fazerem
parte do mesmo campo político, esses movimentos são são homogêneos e possuem
diferentes reivindicações.

O neonazismo pode ser considerado o movimento com maior adesão, conservando


algumas características do nazismo "tradicional", como a supremacia branca,
anti-semitismo, racismo, homofobia, nacionalismo e determinismo. O crescimento desse
fenômeno nos dias atuais está diretamente relacionado com a exclusão social de certos
grupos, pois muitos adeptos, em sua maioria jovens, praticam o neonazismo buscando por
um grupo com o qual eles possam de identificar e fazer parte, além de ser um refúgio para
jovens inseguros com o futuro e com as condições precárias de sua realidade.

Um grupo neonazista de bastante expressividade é o Nordic Resistance Movement, que


busca unificar os países nórdicos numa oposição às imigrações de refugiados que
acontecem por lá.

A Ku Klux Klan também é um movimento presente até hoje, estando presente inclusive no
ataque a Charlottesville, em 13 de agosto de 2017, quando grupos extremistas fizeram um
comício contra a retirada da estátua de Robert E. Lee, um escravocrata, de uma praça. Os
idealizadores do evento afirmaram que este fora uma manifestação "pró-brancos".

Já no Brasil, o neonazismo também se apresenta de maneira crescente, segundo a


antropóloga Adriana Dias, existem cerca de 334 células do movimento no país que de
concentram nas regiões sul e sudeste, houve também um crescimento no número de
páginas neonazistas na internet em 2020.

É importante lembrar, ainda, que o Brasil já teve o maior partido nazista fora da Alemanha
durante a década de 1930.

A Ação Integralista Brasileira (AIB) também é um movimento neofascista que, mesmo que
pequeno, possui adeptos. O movimento foi criado por Plinio Sagado na década de 1930,
apoiando ideais chauvinistas, anti-semitas, anticomunistas e antiliberalismo. Hoje em dia,
existem até mesmo membros dentro do congresso nacional que se consideram
neointegralistas.

Alguns outros movimentos que podem ser citados são; Front 88, Ultra Skins, Resistência
Nacionalista, Brigada Integralista, Terror Hooligans e White Power SP.

● Bolsonarismo: a cara do neofascismo brasileiro

Após as eleições de 2022, um fenômeno chamou a atenção de diversas partes do globo; no


dia 8 de janeiro de 2023 um grupo extremista de bolsonaristas invadiram a sede dos três
poderes, em Brasília, depredando tudo que viam pela frente. Essas manifestações já
estavam ocorrendo desde outubro do ano anterior, pedindo por intervenção militar em
protesto à eleição do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Tal acontecimento gerou espanto
na população, que poderia ter a certeza de que o bolsonarismo havia deixado um legado na
política brasileira. Este tópico busca analisar o fenômeno bolsonarista a partir do livro
"Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político" de João de Castro
Rocha.

● Bolsolavismo:

Como já citado, Olavo de Carvalho é considerado o principal ideólogo da nova direita, assim
como do bolsonarismo, nas palavras do próprio Eduardo Bolsonaro; "uma inspiração, e sem
ele Jair Bolsonaro jamais existiria". Algumas das características passadas pelo olavismo ao
movimento são; o anti-intelectualismo, o anticomunismo paranoico, as teorias da
conspiração unidas à astrologia, uso de bodes expiatórios e o discurso violento e agressivo,
com diversas palavras de baixo calão.

● Guerra Cultural e Retórica do ódio:

A tática de guerra cultural envolve criar um inimigo em comum ou uma certa pauta e
atacá-la a todo custo, tocando nos medos das pessoas e afirmando que aquilo pelo que
estas pessoas zelam está em risco; a família, a igreja, a liberdade. Já a retórica do ódio é
uma "técnica discursiva que pretende reduzir o outro ao papel de inimigo a ser eliminado".
Uma tática comum de retórica do ódio são os chamados dog whistles, comumente utilizados
por Bolsonaro e seus apoiadores, os apitos de cachorro são símbolos da extrema direita
usados para seus membros se identificarem, tal como o "ok" com as mãos, formando a sigla
"WP", "White Power" e o copo de leite, ambos são símbolos de supremacia branca.

● Psicologia de massas:

A complexidade do fenômeno bolsonarista obriga sua análise a passar para um novo


campo; o psicológico. É normal o questionamento acerca de como o fascismo consegue
cooptar pessoas de maneira tão eficaz à práticas tão irracionais; isso porque o fascismo
atua também na psique humana.

● Dissonância cognitiva:

Teorizada pelo psicólogo Leon Festinger, a dissonância cognitiva é a incoerência entre


crença e realidade, o distanciamento entre o que uma pessoa acredita e o que de fato é
real. Essa linha cognitiva é evidente, por exemplo, no fenômeno das fake news e das
teorias da conspiração, extremamente utilizadas pelo bolsonarismo. Durante as
manifestações golpistas, o público chegava até mesmo, a pedir ajuda de seres
extraterrestres, demonstrando que os níveis de dissonância cognitiva desses grupos são
imensuráveis.

● Ressentimento:

Teorizado por Friedrich Nietzche, o ressentimento é uma resposta do indivíduo a aquilo que
ele considera uma situação de opressão e dominação. O indivíduo cria um adversário moral
e passa a vê-lo como o mal, e a si, como o bem. O ressentimento causa progressivamente
um sentimento de raiva e vingança.

É possível observar que primeiramente, a adesão ao bolsonarismo vinha de diversas


frustrações e ressentimentos da população com governos anteriores e descrença nos
sistemas tradicionais de democracia, se tornando adepto a ideologias extremistas e
violentas.

● Identificação:

A teoria da identificação é formulada por Freud, afirmando que na criação de instituições de


poder tais como a igreja e o exército, as pessoas precisam de um líder com o qual elas
possam se identificar.

Theodor Adorno, ao entrar em contato com a teoria freudiana, faz suas próprias
considerações acerca de estudos sobre o Terceiro Reich; as figuras paternas, que seriam o
líder na teoria freudiana, são idealizadas pela política a partir da promessa do retorno de um
pai que elevará a nação, assim, forma-se o líder nacional, típico do fascismo e podendo ser
observado nas figuras de Adolf Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco, Getúlio Vargas e
Jair Bolsonaro.

● A radicalização dos jovens à direita

A nova direita ou alt-right possui diversas formas de tornar seu discurso popular, dentre
elas, a criação de uma nova estética, isso porque os símbolos extremistas tradicionais já
são facilmente reconhecíveis. Assim, a criação de novos símbolos e estéticas servem
principalmente, para atrair um novo público alvo; os adolescentes e jovens adultos.

Assim como citado anteriormente na teoria freudiana, os jovens estão constantemente


buscando por identificação, se tornando adeptos a discursos intolerantes a partir da
estetização da política e da estética do meme.

A extrema direita utiliza de um discurso "do contra", supostamente antissistêmico e de


superioridade ideológica, se apropriado do absurdo; o racismo, a misoginia e o neonazismo
para isso.

Um de seus símbolos mais famosos utilizados dessa forma é o chamado "Pepe the frog",
personagem criado na plataforma 4chan, popular por suas comunidades extremistas,
inicialmente de maneira ingênua, mas foi cooptado por grupos terroristas e tornado num
símbolo de ódio, sendo até mesmo utilizado pelo ex presidente dos EUA, Donald Trump, em
sua campanha.

Os Trolls fazem parte dessa nova estética, sendo pessoas que utilizam da ironia e humor
ácido para manifestar suas ideias intolerantes, misturando piada e discurso de ódio, usando
a guerra cultural para atacar seus opositores.

● O imaginário fascista da cultura pop:

Já na década de 1930, os líderes fascistas já compreendiam que não poderia haver poder
político sem primeiro haver poder ideológico, sobre as mentalidades dos indivíduos. Assim,
o cinema e outras manifestações midiáticas se apresentaram como maneiras eficazes de
garantir esse poder.

O Terceiro Reich investia consideravelmente em produções cinematográficas afim de


manifestar seus ideais, Leni Riefenstahl foi a maior responsável por estas produções.
Cineasta financiada pelo Ministério da propagando e para o esclarecimento do povo, Leni
produziu diversos filmes que tinham como objetivo apresentar de maneira didática os pilares
do nacional socialismo, assim como em "Triunfo da vontade" filme que gera imagens de
grandiosidade e heroísmo do Terceiro Reich.

O conceito de "estetização da política" é utilizado pelo filósofo Walter Benjamin para


elucidar uma estratégia utilizada pelo fascismo para apaziguar as massas, utilizando da
difusão de imagens – por meio do cinema – que as representassem ou que representassem
sua própria destruição, gerando a auto alienação desses povos.

Assim, os governos autoritários se apropriam da cultura para defender certos ideais ou


períodos reacionários a partir da semiótica, gerando efeitos de reprodução desses discursos
no público , mesmo que de maneira não intencional.

A série norte americana "The boys" é um exemplo disso, o enredo apresenta um realidade
onde super heróis existem e são utilizados como máquinas de guerra pelo governo, o
personagem principal "Homelander" ou "Capitão pátria" foi criado pelo idealizador da série,
Eric Kripke, para ser uma caricatura do que há de mais misógino, falso moralista, corrupto e
autoritário na política norte americana, porém, a série parece gerar um efeito contrário
quando utiliza de diversas armadilhas semióticas que deixam seu discurso confuso, assim,
The boys parece criticar um discurso narrativamente enquanto o glorifica semioticamente.
Assim o público acabou recebendo Capitão pátria como um verdadeiro anti-herói, e a
imagem do personagem foi utilizada até mesmo em protestos a favor da reeleição do ex
presidente Donald Trump.

O mesmo efeito acontece com a obra brasileira "Tropa de elite", o filme de José Padilha
narra a tentativa do Capitão Nascimento, líder do Batalhão de Operações Policiais
Especiais (BOPE), de sair do batalhão. O filme foi muito bem recebido pela população, e o
protagonista, que é representado como alguém instável e violento, foi ovacionado pelo
público.

As duas obras são demonstrações da espetacularização da violência na falha tentativa de


criticá-la, gerando no espectador o gosto pela estética da destruição.

É comum o questionamento acerca do poder de persuasão dos governos fascistas, e a


mídia é um grande exemplo de como isso acontece, o cinema e a arte são capazes de
domesticar mentalidades e gerar novos afetos a partir de suas imagens, direcionando o ódio
e insatisfação de um grupo de pessoas, essas representações não podem ser consideradas
de fato fascistas, mas são o reflexo de uma sociedade a gerar o fascismo.

● Considerações finais:

A conjuntura atual do Brasil e de outros países inseridos na lógica neoliberal, revela um


estado de profunda crise, essencialmente política. Casos como estes demonstram a falha
dos sistemas tradicionais de democracia, ou ainda, sua efetividade em manter um projeto
econômico e social.

As insatisfações da população com tais cenários acabam sendo cooptadas pelo fascismo e
transformadas numa narrativa simplificada e violenta que acaba sendo passada para as
classes médias e perpetuadas por estas, e seu poder de adentrar as estruturas de poder
não pode ser jamais subestimado.

Mesmo acontecendo atualmente, esses atentados à democracia não são algo inédito, e
sim, reencenações de períodos anteriores e a prova de que estes não foram superados; a
memória dos regimes totalitários perdura por todas as sociedades em que estes foram
implantados.

Nesse contexto, é imprescindível evidenciar que o fascismo não pode ser combatido por
vias democráticas, assim como já analisava Clara Zetkin na década de 1920. Isso pode ser
observado no episódio denominado "Batalha da Praça da Sé", quando um comício
integralista foi impedido de acontecer pela ação de grupos antifascistas, resultando na
chamada "fuga dos galinhas verdes", como eram chamados os integralistas.

No cenário atual, não se pode considerar que as características neofascistas da conjuntura


brasileira foram destituídas do poder após a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, essa é
uma luta constante, afinal, como inferiu Bertold Brecht: "a cadela do fascismo está sempre
no cio". Enquanto a lógica do capital for colocada sobre a lógica dos direitos, estaremos
sempre ameaçados por ideologias terroristas e teremos sempre na boca, o amargo gosto
do passado.

Constantemente o erro de considerar o fascismo um fenômeno histórico é cometido, este


não é uma estória, é uma arma que pode ser utilizada a qualquer momento e cabe às
massas armar-se contra, armar-se com conhecimento pois a consciência de classe é
imprescindível para derrotar o fascismo, uma população consciente de sua classe e de suas
verdadeiras reivindicações não será vítima de nenhum discurso coercitivo. Por isso, citando
Gramsci: Instrua-se, porque necessitaremos de toda a sua inteligência. Atue, porque
necessitaremos de todo o seu entusiasmo. Organize-se, porque necessitaremos de toda a
sua força”.

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