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Duas lógicas cívicas a serem discutidas:

1ºSurgiu recentemente com o bolsonarismo;


2º Integra a cultura institucional do presidencialismo brasileiro desde pelo menos o governo
Sarney
TEXTO: O movimento bolsonarista e a americanização da política brasileira: causas e
consequências da extrema direita no poder- Guilherme Casarões
● Objetivo do artigo: análise da ascensão da extrema direita contemporânea no Brasil e
situamento dela no contexto da americanização da política brasileira
● Americanização da política brasileira- ascensão do bolsonarismo
● Bolsonarismo
❖ movimento transnacional;
❖ Eua é o seu principal horizonte na formatação ideológica e na construção de
uma nova realidade política
❖ Diferencia-se de outros grupos por ser maleável ideologicamente e
programaticamente, e por operar, pelo menos teoricamente, dentro dos limites
do jogo democrático
❖ Movimento que relação a arroubos golpistas e autoritários por parte de
Bolsonaro, chancelados por frações de seu entorno polítioc e de sua base
social, oferece uma visão deturpada e nebulosa de democracia. Pretende-se
democrático, até quando não é
❖ Compartilha da ideologia de extrema direita de Mudde (2019): combinação de
nativismo e autoritarismo
❖ Nativismo: nacionalismo religioso e anticomunismo
❖ Cristianismo- principal traço de pertencimento ao grupo
❖ Temor comunista: senso de permanente ameaça interna e externa e projeta a
fusão entre cristianismo e nacionalismo como única alternativa a ameaça dos
valores tradicionais: Deus, pátria e família
❖ Autoritarismo: desejo de concentrar o poder nas mão do presidente como
forma de fazer valer realmente a vontade popular- “supremo é o povo”, “eu
autorizo presidente”; luta permanente contra a imprensa e a sociedade civil
❖ Populismo- democracia iliberal
❖ Caráter messianico do líder- messias, mito
❖ Fusão entre povo, fé e lider- neofascismo
❖ Base evangélica
● Desde a ascensão de Bolsonaro, se observa dois movimentos no Brasil: insistente
tentavia bolsonarista em legitimar-se a partir das conquistas políticas do “trumpismo”;
e a transformação do Brasil no bastião da guerra cultural daqueles que defendem o
Ocidente
● EXTREMA DIREITA BRASILEIRA: de ufanistas autoritários vinculados a Enéas
Carneiro a ultra católicos do Centro Dom Bosco, skinheads e neonazistas- ampla,
plural e complexa. O bolsonarismo está na categoria de direita radical, pois aceita os
pressupostos essenciais da democracia
● O sucesso e força do bolsonarismo se explica para além da ideologia de extrema
direita e por oferecer critérios de pertencimento, o movimento teve capacidade de :
identificar e reproduzir práticas e performances de sucesso de movimentos globais de
extrema direita, principalmente nas redes sociais, e também no campo da comunicação
política pensada amplamente; articular-se com grupos internacionais específicos que
pudessem prover suporte ideológico, societário ou material a eles; alinhar narrativas
domésticas e estrangeiras, tanto na internalização e legitimação de pautas e
movimentações bolsonaristas, na amplificação de causas anteriormente negligenciadas
no debate público, quanto na fomentação de percepções a respeito de inimigos
internos e externos, compartilhadas com outros grupos além-fronteiras
● O bolsonarismo importou dos EUA a gramática, a substância e o estilo de ação dos
quatro grupos que o compõem:
❖ Templários digitais: constroem narrativas políticas; identificados com a all-
right dos Eua; representados por Olavo de Carvalho; nascido em fóruns
virtuais e redes; criaram um ambiente social de medo e ódio. Se opõem a
ameca do marxismo cultural
❖ Pastores patriotas: articulam os valores cristãos e o projeto nacionalista cristão
junto a sociedade; seguem o exemplo da direita religiosa norte americana;
empreendem uma guerra cultural a longo alcance
❖ Libertários tropicais: defendem uma agenda ultraliberal desde a economia à
educação e à liberdade incondicional de expressão, sempre orientados pelos
valores sociais conservadores, semelahnte ao paleolibertarianismo dos EUA
❖ Conservadores em armas: inspirados na Segunda Emenda à Constituição dos
EUA; olavistas, cristãos conservadores e ultraliberais defendendo o armamento
amplo e irrestrito da população
● A grande força do bolsonarismo esta na sua capacidade de amarrar múltiplos grupos
de interesses e correntes de pensamento liberais e conservadoras em um mosaico
político-ideológico minimamente coerente. Isso foi possível graças a construção de
uma narrativa comum unificadora que representasse, de algum modo, os anseios
coletivos de um grupo considerável de brasileiros que não se sentiam representados
pela “velha política”
● Antiglobalismo e nacionalismo cristão
● Fenômeno ALT-RIGHT– teorias da conspiração; linguagem violenta; memes de
grande poder viralizatorio; antigloblaismo; defendem uma identidade branca –
nacionalismo/supremacismo branco –; membros menos radicais defendem maior
controle migratório e maior liberdade para a defesa de políticas ideias de vies
racialistas, assegurando a dominação branca numa sociedade multirracial ou
muiticultural; os mais radicais tem objetivos semelhantes do ideal nazista de pureza
racial; rejeita abertamente os valores da democracia liberal; se opõe aos movimentos
feminista e antirracista, pois a igualdade civil é algo indesejáve; linguagem agressiva,
virulenta, irônica e preconceituosa;
● Olavo de Carvalho: pai intelectual dos templários brasileiros, responsável pela
tradução para a realidade brasileira de teses e argumentos da guerra cultural que
circulavam desde os anos 1970 nos EUA; denso repertório crítico á esquerda e uma
linguagem debochada e agressiva; articulou uma estrutura digital para difundir suas
ideias ao longo dos anos 2000
● A frustração com o governo Dilma Rousseff juntamente das grandes manifestações
antipetistas que ganharam força após 2013 proporcionaram um contexto cultural ideal
para que uma nova direita acendesse no Brasil
● A combinação entre recessão econômica, conflitos entre presidente e Congresso, e
escândalos de corrupção, potencializados pela Operação Lava Jato, deu abertura a um
vácuo político-partidário que foi ocupado por grupos liberais economicamente e
conservadores nos costumes como MBL, Vem Pra Rua e Partido Novo
● Nas manifestações que resultaram no impeachment da Dilma, Olavo se consolidou
como grande ideólogo da nova direita brasileira, passando a reproduzir acriticamente
as teses do “marxismo cultural” e “ globalismo”. Muitas pessoas que foram as ruas
estavam revoltadas contra o governo PT e contra o inimigo invispivel que o
sustentava, a hegemonia cultural de esquerda (p. 21)
● Também se importou da all-right o ecossistema da guerra informacional, viabilizador
da vitória eleitoral de Bolsonaro e da formação “amálgama” bolsonarista
● “gabinete do ódio”: maquina institucionalizada de desinformação, com sede no
Planalto, liderada pelo Carlos e Eduardo Bolsonaro, financiada por empresários
bolsonaristas
● Jovem Pan- oferece mais uma camada de legitimidade às teorias da conspiração e
narrativas interessantes a extrema direita transnacional e brasileira
● “IRMÃO VOTA EM IRMÃO”
● Frente parlamentar evangélica
● Teologia do domínio- ocupar espaços sociais visando construir uma nação
genuinamente cristã
● No governo Dilma, o relacionamento entre a presidente e os evangélicos se esgarça de
modo rápido, logo muitos deles aderiram ao impeachment. Naquele momento, a
organização política deles já se mostrava uma direita cristã brasileira
● A guinada da bancada evangélica de “centro fisiológico” para “direita ideológica” a
partir de 2013, se deu quando deputado Marcos Feliciano (da Assembleia de Deus)
assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
passando a pautar ativimanete os direitos de modo mais conservador
● Disposição dos evangélicos de conformar a moralidade pública da sociedade brasileira
a partir do entendimento da construção por eles de uma “maioria moral”. Essa
moralidade se articula:
❖ Economia– discurso meritocrático e emprendedor alinhado a teologia da
prosperidade
❖ Moral– regulação do comportamento individual, das identidades de gênero e
da noção de família
❖ Securitária– políticas de repressão e punição ( redução da maioridade penal e
criminalização das drogas)
❖ Internacional– construiu entre eles a perspectiva de demonização das opiniões
discordantes
● Bolsonaro aos poucos foi se cercando de lideranças evangélicas formando uma

espécie de frente híbrida→ pan-cristianismo: construção de um projeto nacionalista

cristão, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” → fusão entre nacionalismo e

cristianismo→ união dos templários digitais e pastores patriotas →fusão de


nacionalismo e cristianismo, pilar da democracia majoritarista propugnada pela
extrema direita
❖ Entendimento da Biblia como único parâmetro moral da sociedade
● Mesmo Bolsonaro tendo abraçado o cristianismo de modo oportuno, o apoio recebido
se dá pela defesa das pautas morais na esfera de políticas públicas, pela promessa de
uma nação cristã e pelo empoderamento político de figuras e instituições religiosas.
● O vínculo com a direita religiosa se dá também por organizações internacionais como
a Capitol Ministries
● Os libertários tropicais possuem conexões mais diretas e orgânicas com movimentos
semelhantes norte-americanos
● Bolsonaro sela a aliança política e eleitoral com os libertários ao indicar Paulo
Guedes , economista ultra liberal, como seu futuro ministro da Economia
● Entre as pautas unificadoras da ala libertária estavam: reformas administrativa e da
previdência e privatizações
● Os libertários tropicais aderem à extrema direita devido a defesa da liberdade em
todas as esferas por esta.
● A liberdade passa a ser prioridade do programa de governo do Bolsonaro com a

eclosão da pandemia → “Bolsonaro levou seu populismo sanitário às últimas

consequências “(p.30)

● Médicos pela vida→ defendiam o “tratamento precoce” da covid 19; teorias da

conspiração; anti-vacina; →Rede de alt-science brasileira→ inspirada nos EUA

● Conservadores em armas → Segunda Emenda à constituição americana que os

proporciona

→ Pelo direito de se armas

→ Ligação de Bolsonaro e seus filhos à armamentistas dos EUA

→ Está em aliança com os outros setores bolsonaristas

→ Movimento Proarmas
● Bolsonarismo poderá reproduzir a invasão do Capitólio após os resultados das eleições
por meio da americanização da política brasileira e ascensão da extrema direita.
O bolsonarismo, apesar de ser um movimento vinculado à extrema direita e que conta com
declarações golpistas de Jair Bolsonaro, consegue operar dentro dos limites do jogo
democrático, tendo uma visão de democracia deturpada . Baseia-se na realidade política
estadunidense, operando as táticas da extrema direita dos Estados Unidos no contexto
brasileiro, tendo uma ideologia baseada na junção de nativismo e autoritarismo. No
nativismo, inclui-se o forte anticomunismo e o nacionalismo cristão, ideia de que todos são
irmãos em Cristo, logo a identidade deles é serem cristão, o pertencimento ao grupo se dá
pelo cristianismo. O autoritarismo é a ideia de concentrar o poder “nas mãos" do chefe do
Executivo, para que este possa verdadeiramente fazer valer a vontade popular, pois o
presidente é o representante do povo e não instituições como o Supremo Tribunal Federal. O
bolsonarismo se alimenta do pânico moral que assola a população, a ideia de fins dos tempos,
do fantasma do comunismo que assombra o povo brasileiro e ameaça a família, se aqueles que
o movimento se diz representar são os “cidadãos de bem”, é porque existe um mal à espreita
ameaçando os valores tradicionais : Deus, pátria e família.
Populista, o movimento bolsonarista é sustentado por quatro grupos que o formam:
templários digitais, pastores patriotas, libertários tropicais e templários digitais (CASARÃO,
2022). Com esses grupos, o movimento produz narrativas políticas, construídas a partir dos
all-rght estadunidenses e de Olavo de Carvalho; articula um projeto de nação cristã,
conquistando votos em nome dos valores cristãos; defende uma agenda ultraliberal na
economia e na liberdade de expressão, mas conservadora nos costumes; e defende o acesso às
armas de fogo. Olavo de Carvalho é uma figura que teve papel central no bolsonarismo, se
consolidando como “intelectual” da direita após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016
que é marcado pela ascensão de uma nova direita no Brasil. Essa nova direita abarca
conservadorismo, libertarianismo e reacionarismo, flertando com o nazifascismo
(CARAPANÃ, 2018) e é fruto da “herança” deixa pela anistia que houve pós ditadura militar.
Bolsonaro não se elege à presidência dando ênfase a todas essas características, mas as adere
ao seu discurso no decorrer do seu mandato. Jair Bolsonaro surge potencializado em 2018
pelo antipetismo, como uma alternativa em meio à destruição econômica e moral que o
Partido dos Trabalhadores deixou no país, como o “messias”.
Diante disso,a lógica cívica brasileira é outra após a ascensão do bolsonarismo e
quatro anos de governo de Jair Bolsonaro. Ao se inspirar nos Estados Unidos, o bolsonarismo
provocou uma americanização da política brasileira. Atualmente, a política brasileira, além de
americanizada, tem suas instituições democráticas aparelhadas e fragilizadas – ainda mais
com a o questionamento da segurança das urnas eletrônicas pelo Partido Liberal e outros
setores- ,e a quase fundição do Executivo com o Legislativo, a presença de uma extrema
direita que não foi derrotada nas urnas e a perda de parâmetro mínimos democracia, tolerância
e pluralidade
A cultura institucional brasileira presidencialista, é integrada pela lógica civil do
presidencialismo de coalizão. Há uma tradição de democracia representativa multipartidária
no país, com um sistema de três poderes e clivagens– espécie de rachaduras. No Brasil, as
clivagens são muito originárias e possuem uma base relativamente móvel e uma dinâmica
muito complexa, são as condicionadoras da existência de vários partidos. A coalizão é um
movimento básico da política, realizar coalizões necessárias é a lógica dos regimes
representativos contemporâneos. O presidencialismo de coalizão provoca uma aproximação
entre Executivo e Legislativo, pois quem irá governar não o faz sem coalizões com o
Congresso ( especialmente, o centrão) , trata-se do funcionamento do sistema político
brasileiro.
Ao comparar essas duas lógicas é possível concluir que apesar da lógica bolsonarista
vigente ter provocado mudanças na política brasileira, Bolsonaro soube realizar coalizões,
mantendo o “centrão” como aliado, uma vez que teve diversos pedidos de impeachment
engavetados.

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