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Uma CTTro é um espaço quilombola que mantém saberes ancestrais de origem africana
que são parte da identidade nacional. Um espaço de existência, resistência e
(re-)existência. Um espaço político. Território de deuses e entidades espirituais pretas,
por meio dos quais se busca a prática de uma religiosidade, a um só tempo terapêutica e
sócio-histórico-cultural, que se volta para o continente africano, berço do mundo no
Novo Mundo. (p.15)
intolerância religiosa é um termo que descreve a atitude mental caracterizada pela falta
de habilidade ou vontade em reconhecer ou respeitar diferenças ou crenças religiosas de
outros. Em muitos casos, a intolerância pode resultar em perseguições religiosas que
têm sido comuns na nossa história. Perseguições, nesse contexto, podem referir-se a
julgamentos parciais, prisões ilegais, espancamentos, torturas, execuções sumárias,
negação dos direitos e da liberdade civil. (p.24)
Frantz Fanon
Estudos pós-coloniais e a obra de Fanon: ruptura com a noção essencialista de
identidade, rumo a uma noção aberta aos jogos fluidos da identificação
- racismo e racialização como processo de dominação
- guerra colonial como processo de acumulação de riquezas (escravização)
racismo epistêmico:
colonialidade é direcionada para a dessacralização ou restrição da expressão do
fenômeno do sagrado na territorialidade (relação com o espaço) e da temporalidade
(relação com o tempo). Aspectos esses que incidem perversamente, conforme Walsh
(2008), em comunidades e movimentos ancestrais, cujas cosmovisões têm seus saberes
desqualificados e seu ser confrontado, seja militar, seja pedagogicamente (p.29)
As ações que dão corpo à intolerância religiosa no Brasil empreendem uma luta contra
os saberes de uma ancestralidade negra que vive nos ritos, na fala, nos mitos, na
corporalidade e nas artes de sua descendência. São tentativas organizadas e
sistematizadas de extinguir uma estrutura mítico-africana milenar que fala sobre modos
de ser, de resistir e de lutar. Quilombo epistemológico que se mantém vivo nas
comunidades de terreiro, apesar dos esforços centenários de obliteração pela
cristandade.
Trata-se de epistemicídio de práticas e saberes de resistência que compõem a memória
africana da diáspora. Os espaços do sagrado negro são locus enunciativos que operam
na recomposição dos seres alterados pela violência colonial. Assim, esses saberes
emergem como ações decoloniais, resilientes e transgressivas (RUFINO, 2017),
assentes e perspectivadas por valores éticos outros (ancestralidade), estranhos às lógicas
do pensamento cristão ocidental. Portanto, o racismo religioso tem como alvo um
sistema de valores cuja origem nega o poder normatizador de uma cultura eurocêntrica
hegemônica cristã.
(p.29-30)
Tolerância:
A expressão, aparentemente,
progressista e bem-intencionada, desperta a indignação de alguns tolerados. Não, não é
preciso tolerar ninguém. “Tolerar” significa algo como “suportar com indulgência”, ou
seja, deixar passar com resignação, ainda que sem consentir expressamente tal conduta.
Quem tolera não respeita, não quer compreender, não quer conhecer. É algo feito de
olhos vendados e de forma obrigatória.
(...) esse tipo de discurso, no fundo, nega o direito à existência autônoma do que é
diferente dos padrões construídos socialmente. Há uma linha entre o mais e o menos
aceitável. A realidade da tolerância funciona como um expediente do desejo de quem se
considera ao lado do mais aceitável para estigmatizar o diferente e manter este às
margens da cultura hegemônica, que, outra vez, traça a tênue linha divisória entre o
normal e o anormal. (p.31)