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Branquitude e suas interfaces:

recusar e constranger privilégios, brancos

(Org.)
Prof. Dr. ALEXANDRE FERNANDES (IFBA)
Profa. Dra. ANA HELENA ITHAMAR PASSOS (USP / Diversitas)
Prof. Dr. RICHARD SANTOS (UFSB)

O conjunto de textos que ora chega ao desaprender, reaprendendendo de outro


leitor da Revista Espaço Acadêmico modo, a saber, decolonizando o corpo e
(REA), ao pautar a branquitude e suas a episteme, questionando a mídia, a
interfaces, discute e reconhece os Academia, a meritocracia e o privilégio
padrões destrutivos do racismo branco (simbólico e material).
estrutural. Denuncia a fobia que Se por um lado, o letramento crítico
alimenta a projeção do branco sobre o implica em reflexões em torno de
negro, tanto quanto problematiza conceitos e correlações fundamentais,
discursos de inferiorização racial, com quais sejam, branquitude e psicanálise;
vistas a rasurar pactos narcísicos
inconsciente, construção identitária da
moldados e mantidos por toda uma
branquitude e formação de
gama de instituições, discursos e
subjetividades (anti)racistas; ideologia
práticas – jurídicas, midiáticas,
do branqueamento, estruturas de
científicas –, que sedimentam um
poder/saber e colonialidade, por outro
projeto de nação violento, desigual,
lado, nos convoca à uma prática
autoritário e antidemocrático. insurgente a contestar instituições –
Ao abordar a herança branca da universidade, escola, família,
escravização e o lugar da branquitude propriedade privada –, as quais
como depositária de um sistema fundamentam a supremacia branca,
histórico que insiste em inviabilizar a constituem corpos, imaginários e
ascensão de negros na sociedade, os 14 mentalidades racistas, capazes de
textos aqui presentes, convidam o leitor considerar como dentro da
a se desprender de ficções naturalizadas “normalidade” a gritante desigualdade
pela matriz colonial de poder. brasileira.
Em conjunto com estudos da área, Intitulado “Branquitude e suas
concorre para se configurar como interfaces”, o presente dossiê está atento
material fundamental para o letramento à atemporalidade do racismo cotidiano,
racial crítico, haja vista que, por um por isso, não se silencia diante de
lado, vai na contramão dos estereótipos, pilhagens e genocídios epistêmicos, de
signos e códigos manipulados para a violências das mais diversas e
subalternização de grupos minorizados; corriqueiras, como policiais e suas
por outro, é estímulo a aprender a práticas de guerra, tortura e balas

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supostamente perdidas, paradoxalmente, nenhum grupo, que ousa sonhar outro
atirando bem na cabecinha, sabe-se de mundo possível, aqui e agora. Para
quem. tanto, busca compreender identidades
étnico-raciais brancas, agregando ideias
Respaldando-nos em uma das
e percepções acerca do emergente
características fundamentais dos estudos
combate à branquitude no mundo;
críticos da branquitude, qual seja, a
tensiona a branquitude com fins à
quebra da narrativa hegemônico-
dignidade humana, buscando um
colonial-branco-patriarcal-judaico-
reencontro com pertenças, experiências
cristã, o presente dossiê contribui para
ancestrais e a valorização de conquistas
atualizar a discussão sobre o tema dos
estudos críticos da branquitude. Os e lutas historicamente travadas pelos
povos subalternizados; enfrenta a
estudos aqui dispostos resultam de
pesquisas teóricas e/ou empíricas, são permanente reificação da branquitude e
seu desejo de supremacia; pensa a
frutos de metodologias
interdisciplinares, e tem como foco dinâmica racial da sociedade brasileira,
as discrepâncias e violências; traz a
distintas temáticas, na contramão da
sanha capitalista e racista que modela identidade racial branca ao centro das
subjetividades com fantasias, fobias e discussões sobre o racismo, desta vez
padrões assentados em ficções “marcada”, nomeada, produzida em
coloniais. contraste, problematizada por não
brancos; combate ideias frágeis como
Em harmonia com escritos críticos e meritocracia e aponta privilégios e
pesquisas fundamentais de intelectuais vantagens raciais de pessoas brancas,
negros e negras ao que chamamos de sustentados vergonhosamente por um
branquitude, cujas pesquisas e escritos legado colonial e escravocrata.
tiveram lugar ao longo do século XX no
Brasil, nas Américas e Caribe, o que se Nesse dossiê, o branco é o centro, mas
oferta nesse dossiê é de alta monta. às avessas. Isso não quer dizer que se
Contra o silêncio, a omissão e a deva tomá-lo como abjeto – isso quem
pequenez cognitiva, contra a falta de faz e fez é, precisamente, o discurso
empatia e a favor do exercício da branco, racista, misógino, patriarcal,
alteridade, os escritos dispostos no judaico-cristão, europeu –, mas que,
presente número da REA, tem a ver dessacralizado o branco de uma suposta
com uma agência teórico-prática, universalidade, desça do pedestal e
decolonial, negro-diaspórica e, portanto, colabore no combate a preconceitos e
subversiva e insurgente. Estados necropolíticos, fortalecendo a
luta para ampliar a Vida. Esse
Trata-se de material atento contra movimento não poderá ser feito, como
formas de conhecer estereotipadas, que se sabe, sem recusar e constranger
não se coaduna com a sujeição de privilégios, brancos.

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