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Bom dia, meu nome é Maria Luiza, sou aluna do 3 ano do ensino médio e o tema do meu

TCC é "A ascensão do neofascismo", orientado pelo professor Weslley Nogueira.

● Metodologia:

A metodologia do trabalho tem base em revisão bibliográfica, realizada em artigos


científicos e livros de cunho histórico.

● Objetivos:
● Evidenciar como o fascismo se expressa em cada um de seus movimentos e
destacar o bolsonarismo como um movimento neofascista.
● Explicar a relação entre o projeto neoliberal e a ascensão do neofascismo.
● Destacar as características da mentalidade e perfil fascista.

● Introdução:

Primeiramente, neofascismo é um fenômeno político-ideológico que pode ser caracterizado


como o fascismo que se recicla com mudanças na nova realidade material. Para
compreender melhor esse fenômeno, é preciso primeiro identificar o que é fascismo:

"a forma mais reacionária e abertamente terrorista da ditadura do capital financeiro,


instaurada pela burguesia imperialista com o fim de esmagar a resistência da classe
operária e de todos os elementos progressistas da sociedade[...]" (ROSENTAL, IUDIN,
1959, p; 199)

O fascismo surge como uma resposta às crises econômicas e políticas, que se apresentam
de forma cíclica no capitalismo, como ocorreu em 1929 e 2008. As crises geram revolta,
principalmente nas classes operárias que as sentem de maneira mais acentuada, a partir
disso surge uma necessidade do Estado de controlar essas massas, utilizando a violência e
a repressão para isso, o que caracteriza o fascismo.

Este é um movimento em defesa do capitalismo, tentando reconstruí-lo da crise a partir da


superexploração da classe trabalhadora, manipulando e despolitizando a população à
extrema direita. Apesar disso, os governos contemporâneos não podem ser considerados
de fato fascistas, por isso a nomenclatura; neofascistas.

● O surgimento de uma onda de conservadorismo mundial:

O conservadorismo se apresenta como um instrumento ideológico para neutralizar e desviar


o foco das contradições sociais, promovendo a manutenção da ordem capitalista.

Nos últimos anos, a direita xenófoba de alguns países europeus como França, Dinamarca e
Reino Unido alcançaram mais de 25% de votos durante as eleições, algo inédito desde
1930. Dados como esse mostram como esses movimentos têm ganhado adesão com deus
discursos baseados no chauvinismo, racismo, misoginia, ódio aos imigrantes, como no caso
de Giorgia Meloni, dos Irmãos da Itália, e antissemitismo, como no caso do Aurora Dourada
na Grécia.
No Brasil, a onda conservadora pode ser melhor observada a partir de 2016, com discursos
de ódios sendo propagados dentro do congresso nacional , principalmente, pelas bancadas
evangélica, da bala e do boi, além das redes sociais.

Alguns movimentos conservadores que podem ser observados na atualidade são o


Movimento Escola Sem Partido e a volta da Marcha da Família com Deus pela Liberdade,
movimento de apoio ao golpe militar de 1964.

● A nova direita brasileira:

Com o avanço da ideologia conservadora no cenário político brasileiro, é possível observar


uma agitação nos planos da direita e extrema direita no país, adotando novos aspectos que
surgiram a partir do impeachment da ex presidente Dilma Rousseff.

Ao analisar o fenômeno, é possível dividi-lo em três campos semânticos: o antipetismo, o


conservadorismo moral e os princípios liberais. O antipetismo reúne características como o
discurso esvaziado anticorrupção e a crise econômica. O conservadorismo moral resgata
temas como a família tradicional, a fé cristã, patriotismo, anticomunismo e o combate às
cotas raciais. Já os princípios liberais apoiam ideias como o Estado mínimo, privatizações,
empreendedorismo, meritocracia e cortes de políticas sociais.

Esse movimento possui, ainda, lideranças como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra
Rua e Revoltados Online, além de figuras como Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Olavo de
Carvalho e Jair Bolsonaro. Além disso, suas ideias geralmente se manifestam através das
chamadas Think Tanks como o Instituto Liberal e a Brasil Paralelo.

● Neofascismo e neoliberalismo:

O neofascismo se afasta do fascismo clássico assim como se aproxima; o fenômeno atual,


por exemplo, não possui um partido de massas e nem forças paramilitares como o fascismo
clássico, além de possuir caráter elitista.

Assim, entende-se que tudo que afasta o neofascismo de sua versão clássica, o aproxima
do neoliberalismo, podendo este ser entendido como a base econômica do neofascismo.

O neoliberalismo é um conjunto de contrarreformas utilizadas para superexploração dos


trabalhadores e tem características como as privatizações, a desregulamentação da
economia, a flexibilização das leis trabalhistas e a repressão a qualquer insatisfação
demonstrada pelas massas, a partir da violência. Há assim, uma relação direta entre a
ascensão do neofascismo e da economia neoliberal.

● Movimentos Neofascistas:

Apesar de fazerem parte do mesmo campo político, os movimentos neofascistas não são
homogêneos e possuem diferentes reivindicações.

O neonazismo pode ser considerado o movimento com maior adesão, conservando


algumas características do nazismo "tradicional", como a supremacia branca,
anti-semitismo, racismo, homofobia, nacionalismo e determinismo. Nos últimos anos, foi
observado um crescimento de células neonazistas no Brasil, que se concentram nas
regiões sul e sudeste.

A Ku Klux Klan também é um movimento presente até hoje, estando presente inclusive na
manifestação de supremacia branca em Charlottesville, de agosto de 2017.

A Ação Integralista Brasileira (AIB) também é um movimento neofascista, foi criado por
Plinio Sagado na década de 1930, apoiando ideais chauvinistas, anti-semitas,
anticomunistas e antiliberalismo. Hoje em dia, existem até mesmo membros dentro do
congresso nacional que se consideram neointegralistas.

Alguns outros movimentos que podem ser citados são; Front 88, Ultra Skins, Resistência
Nacionalista, Brigada Integralista, Terror Hooligans e White Power SP.

● Bolsonarismo: a cara do neofascismo brasileiro

Após as eleições de 2022, um fenômeno chamou a atenção de diversas partes do globo; no


dia 8 de janeiro de 2023 um grupo extremista de bolsonaristas invadiu a sede dos três
poderes, em Brasília, depredando tudo que viam pela frente e pedindo por intervenção
militar. Tal acontecimento gerou espanto na população, que poderia ter a certeza de que o
bolsonarismo havia deixado um legado na política brasileira. Este tópico busca analisar o
fenômeno bolsonarista a partir do livro "Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um
Brasil pós-político" de João de Castro Rocha.

● Bolsolavismo:

Como já citado, Olavo de Carvalho é considerado o principal ideólogo da nova direita, assim
como do bolsonarismo, nas palavras do próprio Eduardo Bolsonaro; "uma inspiração, e sem
ele Jair Bolsonaro jamais existiria". Algumas das características passadas pelo olavismo ao
movimento são; o anti-intelectualismo, o anticomunismo paranoico, as teorias da
conspiração unidas à astrologia, uso de bodes expiatórios e o discurso violento e agressivo,
com diversas palavras de baixo calão.

● Guerra Cultural e Retórica do ódio:

A tática de guerra cultural envolve criar um inimigo em comum ou uma certa pauta e
atacá-la a todo custo, tocando nos medos das pessoas e afirmando que aquilo pelo que
estas pessoas zelam está em risco; a família, a igreja, a liberdade. Já a retórica do ódio é
uma "técnica discursiva que pretende reduzir o outro ao papel de inimigo a ser eliminado".
Uma tática comum de retórica do ódio são os chamados dog whistles, comumente utilizados
por Bolsonaro e seus apoiadores, os apitos de cachorro são símbolos da extrema direita
usados para seus membros se identificarem, tal como o "ok" com as mãos, formando a sigla
"WP", "White Power" e o copo de leite, ambos são símbolos de supremacia branca.

● Psicologia de massas:

A complexidade do fenômeno bolsonarista obriga sua análise a passar para um novo


campo; o psicológico. É normal o questionamento acerca de como o fascismo consegue
cooptar pessoas de maneira tão eficaz à práticas tão irracionais; isso porque o fascismo
atua também na psique humana.
● Dissonância cognitiva:

Teorizada pelo psicólogo Leon Festinger, a dissonância cognitiva é a incoerência entre


crença e realidade, o distanciamento entre o que uma pessoa acredita e o que de fato é
real. Essa linha cognitiva é evidente, por exemplo, no fenômeno das fake news e das
teorias da conspiração, extremamente utilizadas pelo bolsonarismo. Durante as
manifestações golpistas, o público chegava até mesmo, a pedir ajuda de seres
extraterrestres, demonstrando que os níveis de dissonância cognitiva desses grupos são
imensuráveis.

● Ressentimento:

Teorizado por Friedrich Nietzche, o ressentimento é uma resposta do indivíduo a aquilo que
ele considera uma situação de opressão e dominação. O indivíduo cria um adversário moral
e passa a vê-lo como o mal, e a si, como o bem. Causando progressivamente um
sentimento de raiva e vingança.

É possível observar que primeiramente, a adesão ao bolsonarismo vinha de diversas


frustrações e ressentimentos da população com governos anteriores e descrença nos
sistemas tradicionais de democracia, se tornando adepto a ideologias extremistas e
violentas.

● Identificação:

A teoria da identificação é formulada por Freud e Theodor Adorno, afirmando que na criação
de instituições de poder tais como a igreja e o exército, as pessoas precisam de um líder
com o qual elas possam se identificar.

Assim, forma-se o líder nacional, típico do fascismo e podendo ser observado nas figuras de
Adolf Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco, Getúlio Vargas e Jair Bolsonaro.

● A radicalização dos jovens à extrema direita:

Assim como citado anteriormente na teoria freudiana, os jovens estão constantemente


buscando por identificação, assim se tornando adeptos a discursos intolerantes a partir da
estetização da política e da estética do meme, a nova direita necessitou da criação de uma
nova estética pois os símbolos fascistas tradicionais já são facilmente reconhecíveis. Esses
grupos utilizam símbolos para perpetuar o absurdo; o racismo, a misoginia e o neonazismo.

Um de seus símbolos mais famosos utilizados dessa forma é o chamado "Pepe the frog",
personagem criado na plataforma 4chan e que foi cooptado por grupos terroristas e tornado
num símbolo de ódio, sendo até mesmo utilizado pelo ex presidente dos EUA, Donald
Trump, em sua campanha.

Os Trolls fazem parte dessa nova estética, sendo pessoas que utilizam da ironia e humor
ácido para manifestar suas ideias intolerantes, misturando piada e discurso de ódio, usando
a guerra cultural para atacar seus opositores.

● O imaginário fascista da cultura pop:


Já na década de 1930, os líderes fascistas já compreendiam que o cinema e outras
manifestações midiáticas poderiam ser maneiras eficazes de garantir o poder sobre as
mentalidades dos indivíduos.

O Terceiro Reich investia consideravelmente em produções cinematográficas afim de


manifestar seus ideais, como os filmes de Leni Riefenstahl, cineasta que produzia obras
com os pilares do nacional socialismo, como o chamado "Triunfo da vontade".

Assim, os governos autoritários se apropriam da cultura para defender certos ideais ou


períodos reacionários a partir da semiótica, gerando efeitos de reprodução desses discursos
no público , mesmo que de maneira não intencional, e produzindo aquilo que foi chamado
por Walter Benjamin de "estetização da política".

Exemplos disso são a série norte americana "The boys" e o filme brasileiro "Tropa de Elite",
sendo ambas obras com personagens agressivos em defesa de ideais reacionários, mas
que foram bem recebidos pelo público como verdadeiros "anti-heróis". No caso de "The
boys", o personagem "Capitão Pátria" foi utilizado até mesmo em protestos a favor do ex
presidente Donald Trump.

As duas obras são demonstrações da espetacularização da violência na falha tentativa de


criticá-la, gerando no espectador o gosto pela estética da destruição.

O cinema e a arte são capazes de domesticar mentalidades e gerar novos afetos a partir de
suas imagens, direcionando o ódio e insatisfação de um grupo de pessoas, essas
representações não podem ser consideradas de fato fascistas, mas são o reflexo de uma
sociedade a gerar o fascismo.

● Considerações finais:

A conjuntura atual do Brasil e de outros países inseridos na lógica neoliberal, revela um


estado de profunda crise, essencialmente política. Casos como estes demonstram a falha
dos sistemas tradicionais de democracia, ou ainda, sua efetividade em manter um projeto
econômico e social.

Mesmo acontecendo atualmente, esses atentados à democracia não são algo inédito, e
sim, reencenações de períodos anteriores e a prova de que estes não foram superados; a
memória dos regimes totalitários perdura por todas as sociedades em que estes foram
implantados.

Afinal, como inferiu Bertold Brecht: "a cadela do fascismo está sempre no cio". Enquanto a
lógica do capital for colocada sobre a lógica dos direitos, estaremos sempre ameaçados por
ideologias terroristas e teremos sempre na boca, o amargo gosto do passado.

Constantemente o erro de considerar o fascismo um fenômeno histórico é cometido, este


não é uma estória, é uma arma que pode ser utilizada a qualquer momento e cabe às
massas armar-se contra, armar-se com conhecimento pois a consciência de classe é
imprescindível para derrotar o fascismo, uma população consciente de sua classe e de suas
verdadeiras reivindicações não será vítima de nenhum discurso coercitivo. Por isso, citando
Gramsci: Instrua-se, porque necessitaremos de toda a sua inteligência. Atue, porque
necessitaremos de todo o seu entusiasmo. Organize-se, porque necessitaremos de toda a
sua força”.

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