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Da mesma forma, a pergunta “O que é o Fascimo?

” foi realizada em um diferente


recorte temporal, de 2016 até 2020. Visando a maior proximidade com a temática do
trabalho, os autores buscados foram figuras de grande proeminência na mídia e círculos
editoriais brasileiros e estrangeiros. Os principais autores utilizados foram Márcia Tiburi1 e
Jason Stanley.
O fascimo, segundo interpretações de Márcia Tiburi e também Jason Stanley, é uma
tecnologia política de conquista das massas através de um elemento odioso: a produção da
guerra contra um inimigo imaginário2. Ou seja, com essa definição, antes de tudo
entende-se que o fascimo é um movimento de massas, que através desse processo de
conquista - o qual funciona através da produção de símbolos e retórica particular por meio
de uma figura carismática3, como também se utilizam de elementos psicossociais e
psicopolíticos para incluir indivíduo por indivíduo da respectiva massa dentro de uma
personalidade fascista4 - busca produzir o conflito contra esse inimigo imaginário,
centralizando, devido a necessidade de sustentar o conflito, o poder político, sociocultural e
econômico.
Logo, a cooptação das massas e a transformação delas em organismos monolíticos,
ultranacionalistas e violentos, se utilizando da guerra contra o inimigo criado, são as bases
do fascismo.
É fundamental analisar que, por mais que a definição de fascimo conceituada por
teóricos de hoje em dia se aproximem muito da definição utilizada por pensadores da época
de 1920 até 1940, ainda existem diferenças importantes sobre os elementos do fascismo.
Apesar de também relacionar o fascismo a um movimento voluntarista, de massas,
ultranacionalista, baseado na luta contra um inimigo imaginário responsável pelas mazelas
da respectiva nação; existem outros elementos catalogados como estratégias para essa
sedução da sociedade. Entre eles, principalmente a questão de gênero, sendo argumentada
por autores de hoje em dia. De acordo com Tiburi e Stanley, o fascismo tem como uma de
suas características o poder patriarcal e instrumentaliza a questão de gênero tanto para
aumentar o medo contra o inimigo imaginário - relacionando-o com violência contra
1
Sobre Marcia Tiburi, existe uma distinção importante a ser ressaltada em suas obras e aparições públicas. No
livro “Como conversar com um fascista” e no seu canal de comunicação oficial “Marcia Tiburi | Filosofia em
Comum”, a forma com que a autora trata da temática fascista é muito mais conceitual e teórica, sendo
considerada por essa pesquisa como a forma mais adequada de responder a pergunta “O que é o Fascismo?”.
Entretanto, observando as suas posições em redes sociais e veículos de mídia no dia a dia, e também com o
seu último lançamento em 2020, “ Como derrotar o turbotechnomachonazifascismo”, no auge da pandemia no
Brasil e durante o governo Bolsonaro, parecemos ter posições distintas acerca do fascismo quando perguntado
“o que é o fascimo hoje em dia/no Brasil” - o que será abordado nessa pesquisa. Dessa forma, foi considerado
mais correto a utilização do primeiro grupo de obras e materiais para a definição de o que é fascimo de acordo
com os autores de hoje em dia.
2
Inimigo imaginário sendo essa classe, grupo de pessoas, etnia, responsabilizada pelos fascistas como a
responsável pela degeneração da nação. São definidos dependendo do contexto em que o fascismo atua - por
exemplo, podem ser judeus, ciganos, imigrantes, etc.
3
Na obra “Como funciona o fascismo: a política do nós contra eles” (Stanley, 2018), o autor descreve os
mecanismos e estratégias fascistas para a cooptação da massa para a transformação de diferentes grupos em
um só organismo e a chegada ao poder. Em 10 principais características, Stanley retrata como o movimento
fascista instrumentaliza uma percepção nostálgica e salvacionista da realidade para, através da utilização da
violência nas mais diversas instâncias, convencer as pessoas a operar dentro de uma lógica ultranacionalista e
de o nós - as massas cooptadas - contra eles - o inimigo responsável por colocar em perigo o modo de vida
daquela sociedade.
4
Inspirada em obras freudianas e no estudo psicoanalítico de Theodor W. Adorno sobre a personalidade
autoritária, a obra “Com conversar com um fascista” (Tiburi, 2015), observa que, no processo de cooptação das
massas por meio da luta contra o inimigo imaginário, são utilizados métodos de adulação das massas que
influenciam diretamente o comportamento do indivíduo. Dessa forma, analisando a transformação dos indivíduos
e sociedade em uma estrutura hierarquizada - onde existe a total submissão aos superiores e o completo
desprezo aos inferiores - , violenta e com repulsa ao diferente, incapaz de realizar um exame de consciência e
refletir sobre suas convicções frente ao contraditório, etc.
mulheres por exemplo - como também se utilizando da figura masculina como símbolo de
autoridade.
Entretanto, tanto a questão de gênero quanto outros elementos que inovam sobre a
extensão da definição de fascismo, são posicionados de forma subsidiária aos principais
elementos, aqueles considerados indispensáveis para a definição de fascismo. Esses
elementos indispensáveis, como também a definição do que é o Fascismo conceitualmente,
se aproxima muito da definição clássica de fascimo. Logo, apesar das diferenças, a primeira
hipótese alegando um possível descolamento da resposta sobre o que é Fascismo devido a
diferentes recortes temporais - i.e. a definição teórica e conceitual de fascismo mudou - ,
não se verifica.

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