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Fascismo: é possível caracterizar

governos como fascistas na atualidade?


O conceito “fascismo” vem sendo muito utilizado no mundo político nos últimos anos,
entenda a origem deste termo.

Bianca Dias
Universidade Estadual do Piauí
História Contemporânea II – bloco VII
Docente: Makchwell Coimbra Narcizo
04 de novembro de 2023.

O fascismo tem sua origem na Itália no ano de 1922 com Benito


Mussolini no contexto de Pós-Primeira Guerra Mundial. O líder do partido fascista, que
contava com o apoio dos camisas negras, chega ao poder após diversos atos violentos
por toda a Itália, que culminou com a Marcha Sobre Roma, em 1922, e posteriormente a
nomeação de Mussolini como chefe de governo pelo Rei Vitor Emanuel III. Mussolini
derruba o poder real e passa a governar mediante uma ditadura totalitária.
No entanto, é importante observar as características desse movimento e o porquê
de ele ter ganhado tantos adeptos, inspirando outros governos totalitários pela Europa e
até mesmo no Brasil, com o Integralismo. Primeiramente, Mussolini cresce em meio a
um contexto de instabilidade econômica e social do pós-guerra. A Itália, mesmo
trocando de lado, não consegue os territórios que aspirava e ainda sai quebrada, tendo
que se reconstruir. Esse cenário possibilitou a ascensão de políticos de esquerda no
parlamento italiano, que prometiam mudanças profundas para o povo italiano. A
ascensão da esquerda na política e o medo de que uma revolução como a que aconteceu
na União Soviética em 1917 aconteça na Itália, acaba mobilizando a oposição e faz com
que ideologias de extrema direita passem a adentrar no parlamento e na sociedade civil.
Além disso, para uma população que estava destruída e enfrentando uma crise, a
ideia de uma salvação era animadora. O ressentimento do pós-guerra fez com que
figuras como Mussolini crescesse e ganhasse o apoio popular por meio de uma
ideologia que prometia tornar a Itália uma grande nação. Nesse sentido, o nacionalismo
se fazia muito presente nos discursos fascistas. O uso de hinos, de bandeiras, do
pensamento de superioridade nacional, foram algumas das formas utilizadas para
garantir o apoio popular.

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Outra característica importante do fascismo é o culto ao líder. Dessa forma, a
figura de Benito Mussolini se torna a referência de salvação, ele seria o homem a fazer a
mudança e o renascimento que a Itália precisava diante da humilhação sofrida, diante do
abandono em que ela se encontrava. A mesma coisa acontece com Hitler na Alemanha, a
figura de um líder forte que lutaria pela ascensão da nação se torna um gás para que as
pessoas acreditassem na mudança.

O totalitarismo também é característico do fascismo. Diante disso, defendia-se


a superioridade do Estado e, além disso, o unipartidarismo, tendo forte propaganda
antidemocrática. Nos governos totalitários os direitos individuais se tornam menos
importantes ou mesmo insignificantes, a vontade e os interesses do Estado prevalecem
diante das vontades da população. A perseguição a qualquer tipo de oposição se faz
presente e é algo que marca os governos fascistas. Mussolini e Hitler, assim que entram
no poder, começam a perseguir seus “inimigos” políticos, tornando-os verdadeiros
inimigos da nação.
A partir dessa ideia de perseguição, podemos destacar um inimigo em especial
que se torna um dos motivos para a disseminação dos ideais fascista, o comunismo. O
anticomunismo se fez forte tanto na Itália, quanto na Alemanha. A ameaça comunista
não rondava só os governos totalitários, mas também os governos democráticos pela
Europa e também na América. Além da caça aos comunistas, os movimentos sindicais
também passam a ser perseguidos na Itália e a luta de classes cada vez mais oprimida.
Na Alemanha havia um fator a mais de perseguição e violência, o antissemitismo, que
era o ódio aos judeus e característica que ajuda a diferenciar o nazifascismo.

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O militarismo foi amplamente utilizado nos governos fascistas do século XX.
Tanto na Alemanha quanto na Itália havia um apelo ao militarismo, tanto que os dois
líderes, Mussolini e Hitler, eram militares que lutaram na Primeira Guerra. Desse modo,
o apelo a luta pela nação era muito forte. Existiam várias propagandas incentivando as
pessoas, principalmente os homens, a adentrarem no exército.

O uso da propaganda também foi marcante na ideologia fascista. Nesse sentido,


tanto Mussolini quanto Hitler utilizavam uma propaganda maciça para difundir os ideais
do nacionalismo, do anticomunismo, do militarismo e também para o reforço da
imagem do líder. Pode-se observar vários cartazes, produções culturais e
cinematográficos que enalteciam todos os valores fascistas e a propaganda com certeza
foi essencial para que os ideais alcançassem a maior parcela possível da população, já
que se utilizavam de uma linguagem mais simples e imagens chamativas.

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Mas então, como podemos perceber o fascismo na atualidade?

Por mais que Hitler e Mussolini tenham morrido no final da Segunda Guerra
Mundial, a ideologia nazifascista continua viva e ainda é disseminada, principalmente
na internet com o compartilhamento desses ideais em fóruns, redes sociais e
comunidades online. Não só na internet podemos observar vestígios do fascismo, mas
também é possível enxergar no meio político, se formos bem atentos. Ainda há uma
discussão no meio historiográfico sobre a utilização do termo fascismo na atualidade,
mas o fato é que podemos encontrar semelhanças. Ou seriam coincidências?

No Brasil o termo é utilizado muitas vezes sem o devido conhecimento devido a


recente popularização dele. O governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, é
classificado por muitos como um governo fascista. É claro que não podemos comparar o
fascismo de meados do século XX com o “fascismo” do século XXI, houveram
modificações, isso é certo. Diante disso, devemos analisar as semelhanças presentes no
governo Bolsonaro com o fascismo difundido na Itália e tirar nossas próprias
conclusões, mesmo que não haja um consenso acadêmico.
O movimento da extrema direita ganhou muita força no Brasil de 2013 para cá.
Diante da crise econômica e a descrença política, figuras como Jair Bolsonaro surgem
como a solução para o problema de corrupção e de crise do país. E é exatamente com

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esse discurso que ele ganha força política e um grandioso apoio popular, sendo eleito
em 2018 com 46,03% dos votos.
Temos até agora uma das características; o culto ao líder. Jair Bolsonaro se torna
então um verdadeiro exemplo de honestidade, de homem forte, moral e capaz de
solucionar os problemas deixados pelos anos dos governos de esquerda. Ele ganha
muitos seguidores com seus discursos carregados de nacionalismo, anticomunismo,
militarismo e tradicionalismo.

Há também a perseguição do inimigo comum que, no caso do governo Bolsonaro,


foi o petismo – que, para seus seguidores, não se diferenciava do comunismo –, gerando
um ódio com tamanha força que ocasionou assassinatos cometidos por seus seguidores.
Onde mais observamos isso? Ah, sim, no nazifascismo do século XX. Coincidência, né?
Ademais, o militarismo ganha muita força. Bolsonaro era chamado de “capitão”
pelos seus seguidores, devido a função militar que exerceu há alguns anos, antes de
entrar na política. Logo, o ex-presidente era um grande apoiador das forças armadas e
dos militares, dando diversos privilégios e cargos políticos para esta classe. Durante o
ato antidemocrático de 08 de janeiro de 2023, quando milhares dos seus seguidores
invadiram a sede dos três poderes em Brasília, diversos cartazes pediam a intervenção
das forças armadas ou clamavam um “AI-5”.
O bolsonarismo, classificação dada aos seguidores de Jair Bolsonaro, tem suas
peculiaridades. Algumas de suas características são: o ódio ao petismo (esquerda) e,
inclusive, uma possível ameaça comunista, o militarismo e o uso de armas,
tradicionalismo e o temor às mudanças da família tradicional, o uso do cristianismo, o
liberalismo, o negacionismo e a luta “contra a corrupção”, entre outras. Todas essas
características também podem ser observadas no fascismo do século XX, até mesmo no
fim do governo, com os atos antidemocráticos por parte dos bolsonaristas a partir do
silêncio do seu líder.
Todas essas semelhanças fazem com que muitos caracterizem Jair Bolsonaro como
fascistas, mas não há um consenso em relação a isso. O fato é que há sim uma
aproximação da ideologia bolsonarista com a ideologia fascista, como ficou claro com
os exemplos acima. No entanto, é necessária a análise critica do uso de certos conceitos
na atualidade.

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