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~~~ E-book ~~~

Ernesto Henrique Fraga Araújo

Globalismo, Metapolítica e o Brasil


Artigos reunidos de Ernesto Araújo

Os artigos reunidos nesse e-book


foram retirados do website do
diplomata brasileiro Ernesto Araújo.
Aqui o leitor encontrará em ordem
cronológica todos os artigos
publicados até o dia 16/11/2018.

Lucas Mendes (organizador)


Sumário

Os ignorantes e os instruídos....................................................................................................... 3
Viva a polarização.......................................................................................................................... 4
O que está em jogo........................................................................................................................ 7
O povo contra o sistema............................................................................................................... 8
“Nosso país, a Venezuela”........................................................................................................... 11
Linha de transmissão..................................................................................................................... 12
Acorda e Luta................................................................................................................................. 13
A esquerda: de Robespierre ao PT.............................................................................................. 14
Mas se ergues da justiça a clava forte.......................................................................................... 16
Teses sobre Fernando Haddad......................................................................................................17
Um registro...................................................................................................................................... 21
Quando o povo sente..................................................................................................................... 21
Virtudes e virtudes.......................................................................................................................... 22
Libertar o logos.................................................................................................................................. 23
Em 1717, três pescadores............................................................................................................... 24
Falando de valores........................................................................................................................... 25
Provas de democracia...................................................................................................................... 27
Quem tem medo de fake news....................................................................................................... 28
Sequestrar e perverter...................................................................................................................... 30
A Elbereth Gilthoniel...................................................................................................................... 31
Maremoto e Tsunami? .................................................................................................................... 32
Nascer................................................................................................................................................ 34
A Nação está voltando.................................................................................................................... 36
Pelo diálogo....................................................................................................................................... 38
Eu vim de graça................................................................................................................................ 40
Todo o poder emana....................................................................................................................... 41
História e Mito..................................................................................................................................43
Antes da batalha................................................................................................................................45
Querer grandeza................................................................................................................................46
Psicomaquia.......................................................................................................................................48

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Os ignorantes e os instruídos
22/09/2018

O povo é muito mais são e sábio do que a classe instruída.


Talvez justamente por não passarem por uma escolarização emburrecedora, destinada
a embotar as capacidades cognitivas do ser humano, os brasileiros sem instrução enxergam
a realidade, inclusive e sobretudo a realidade política, com muito mais clareza do que as
pessoas com "nível universitário" e são muito mais capazes de identificar os reais interesses
do país e posicionar-se em sua defesa.
Talvez por não haverem sido moídos por uma educação cínica e anti-patriótica onde
se ensina uma história sem heróis e onde professores sub-marxistas tentam criar pequenos
militantes facilmente manobráveis, os brasileiros sem instrução têm amor ao Brasil, um amor
incondicional e absurdamente esperançoso, ao contrário das classes intelectualizadas, que se
acham muito inteligentes ao repetirem a sua "preocupação" com o nacionalismo e o
populismo e para as quais os símbolos nacionais são coisa de "fascismo" e de "regime
autoritário". Os intelectuais não sentem amor e, como não conseguem entender o amor que
os outros sentem, atribuem o nacionalismo ao “medo” ou à “xenofobia”.
Para os pobres, a nação brasileira e a fé cristã são tudo o que possuem para ligá-los a
uma realidade melhor, superior, mais autêntica. Os instruídos não precisam de pátria nem de
Deus, para eles tanto faz, nada os liga a nada, em sua permanente autossatisfação e
sentimento de superioridade.
Os "ignorantes" podem não entender a sintaxe do hino nacional, mas entendem
perfeitamente o sentido inspirador e a beleza profunda quando cantam "Brasil, um sonho
intenso, um raio vívido de amor e de esperança à terra desce". Os instruídos talvez entendam
a gramática (na hipótese de que, em suas escolas, a aula de análise sintática não tenha sido
substituída por doutrinação ideológica), mas não fazem a menor ideia do que essas palavras
significam.
Na campanha eleitoral brasileira, hoje, vemos os instruídos preocupados unicamente
com duas ou três frases pronunciadas por Bolsonaro ou pelo General Mourão. Repetem
essas frases nos seus restaurantes e teatros e competem para ver quem mais se indigna. (Só
não se dão ao trabalho de analisar o contexto das frases, é claro, porque analisar uma
expressão no seu contexto é tarefa complexa, a exigir as faculdades cognitivas que os vários
níveis de educação lhes retiraram.) Dizem que jamais votariam num candidato que disse isto
ou aquilo sobre "as mulheres" ou "os gays". Para eles, mulheres ou gays não são indivíduos
realmente existentes, mas categorias políticas, personagens chapados numa novela
esquerdista com um enredo absolutamente primário, que jamais satisfaria qualquer pessoa
dotada de boa-fé e curiosidade intelectual.
Os instruídos não têm culpa, foi o sistema que os fez assim. Muitos estão saindo da
caverna, olhando o mundo pela primeira vez à luz do sol, percebendo que tudo o que
aprenderam até hoje era um mecanismo de controle mental a serviço de um projeto torpe de
poder.

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O povo já saiu da caverna. O povo não sabe quem é Platão mas entende Platão e vive
ao sol da verdade. Os instruídos até ouviram falar em Platão, mas preferem viver no escuro.
O povo entende que qualquer expressão tem um contexto, compreende que a realidade é
algo muito mais complexa do que um slogan politicamente correto.
O povo escolhe seu candidato pensando no futuro da nação, essa nação que ele ama e
em cuja construção deposita sua convicção de que a vida apesar de tudo tem um sentido para
além da materialidade presente. Possui um sentimento intuitivo da história infinitamente mais
vigoroso e intelectualmente penetrante do que os instruídos.
Os instruídos vão votar por sua repulsa a uma frase. O povo vai votar por seu amor
ao Brasil.
Os instruídos estão presos no calabouço mental nominalista que a pós-modernidade
liberal-marxista criou. Organizam seu pensamento em torno de palavras que só existem em
um universo fechado onde a realidade não entra. Não sabem usar a linguagem para comparar,
estabelecer nexos entre fenômenos diferentes, investigar a realidade. São desprovidos de
racionalidade ou curiosidade intelectual. Fazem o que aprenderam por reflexo condicionado:
diante de cada palavra, apresentam uma determinada reação emocional mandatória. Mostram
a indignação ou a admiração que são instruídos a mostrar. "Dizem aquilo que acham que
devem sentir", como dizia Fernando Pessoa ao criticar os poetas medíocres, aos quais opõe
o poeta superior, que simplesmente "diz o que sente".
O povo diz o que sente, não o que aprendeu que deve sentir. O povo pensa. O povo
está ainda livre do paupérrimo jogo de palavras nominalista. O povo se relaciona com a
realidade, não com as palavras, e sua reação aos fatos e fenômenos resulta de sua experiência
e de sua razão, de uma complexa interação entre vida exterior e vida interior.
Os instruídos são todos eles materialistas, pois ensinaram-lhes que não existe nenhuma
realidade transcendente. O povo "ignorante", ao contrário, sabe que existe a vida do espírito,
sabe que existe a alma, inclusive a alma de uma nação, e nisso está em companhia de todos
os grandes pensadores da história humana.
Os instruídos, manipulados pelo vírus mental que a esquerda plantou em suas cabeças,
roboticamente votarão – por causa de uma ou duas frases – para devolver ao poder um
sistema de roubo sistemático e crime organizado que destrói o Brasil. O povo – porque pensa
e sente – votará em Bolsonaro.

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Viva a polarização
23/09/2018

Toda a realidade, seja humana ou natural, está estruturada de maneira polarizada, com
dois polos binários, que se resolvem no logos incarnado. O logos incarnado não é um tertius,
nem um termo médio, nem uma solução de compromisso, nem mesmo uma mistura, porém
um mistério. Podemos assim falar de uma estrutura ternária da vida e do mundo físico e
espiritual, mas não se trata de uma estrutura tripolar, senão sempre bipolar, pois apenas a
tensão entre os polos, permite a transcendência por meio do logos – e somente a
transcendência da realidade permite a sustentação da própria realidade. Sem o logos, os polos
se aniquilariam mutuamente ou se diluiriam em uma massa disforme, o que vem a ser o
mesmo. Somente numa estrutura binária e polarizada, graças ao logos, existe energia e
matéria, pensamento e emoção. Tudo existe graças ao logos, enquanto princípio mantenedor

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e também criador. Pelo logos todas as coisas foram criadas, foi ele que as instaurou em sua
duplicidade eterna e ele guarda o segredo de sua eterna superação. Criar implica dispersar a
unidade indistinta anterior à origem – e o Big Bang constitui, mais do que um fato científico,
uma metáfora dessa criação por dispersão da unidade primitiva, que cria a vida e ao mesmo
tempo a nostalgia do sono indistinto anterior. O impulso de viver individualmente e o
impulso de reintegrar-se ao todo constituem assim a primeira polarização da aventura criada.

A polarização é a forma que a realidade dispersa adquire para chamar de volta o logos.
Sem polarização – sempre em dois polos, logicamente – não haveria a possibilidade de um
sentido ou de um futuro, haveria apenas uma coleção tautológica de átomos e mônadas
irrelacionadas. A polarização permite que a realidade se organize em busca da unidade
perdida, mas sem perder sua contradição íntima de querer a unidade do princípio antes do
início sem renunciar à existência na história. Tempos aí o ser e o tempo – outra maneira de
expressar a estrutura de tudo – onde o logos aparece, na filosofia de Heidegger, sob a figura
do Dasein, que é ao mesmo tempo Sein, a unidade primeva, e Da, a situação no tempo-
espaço, na história e na dispersão. O homem é esse logos eterno incarnado no precário
presente, o que sugere que podemos identificar o Dasein com o Cristo, que se chamava a si
mesmo “o filho do homem”, significando talvez a superação transcendente dessa duplicidade
entre a eternidade ausente do Sein e a presença dolorosa e exilariante no Da, assim como o
filho é a superação transcendente da duplicidade entre a mãe e o pai. (Nessa hipótese, o ser
humano se organiza sobre os polos da ausência e da presença, nostalgia e aventura, mãe e
pai, para poder dar nascimento ao logos, ao qual cabe então chamar o filho do homem.)
Vemos portanto que é um absurdo enxergar em qualquer aspecto da realidade,
inclusive na política, uma situação unipolar ou multipolar. Ambas as expressões não passam
de fantasias ou artifícios verbais (mas que, entretanto, involuntariamente criam uma
bipolaridade entre, de um lado, a própria bipolaridade, e, de outro, a sua negação sob a forma
da unipolaridade ou da multipolaridade).
Na política, o discurso bem-pensante oficial de hoje exige que se condene a
polarização. A polarização ameaça destruir a sociedade, segundo esse pensamento, e deve
ceder o lugar à moderação centrista, à amenização das diferenças, ao abandono de posições
extremas em benefício da unidade.
Quem condena a polarização condena a existência. Condena a história, não enquanto
sucessão de acontecimentos, pois esta nada significa, mas a história em termos de destino,
que equivale ao que se chama a história da salvação.
Não há nenhuma salvação possível em recusar a polaridade fundamental do universo:
daí só decorreria salvação por destruição e indiferença. O espírito humano, assim como toda
a arquitetura do cosmo, vive na diferença e da diferença, da diferenciação. Pensar é
diferenciar, distinguir, e quem diferencia necessariamente polariza. Ao mesmo tempo, a
polarização não é uma simples separação: os dois polos que se distinguem mantêm algo em
comum, pois são polarizadamente distintos em função de algum critério que os mantém
estruturalmente conectados. A simples separação conduz à dispersão na indiferença, a uma
realidade sem nexos e sem pensamento além da mera tautologia. A polarização preserva a
realidade organizada em torno de um sentido, permite que todo o cosmo continue
comunicando-se consigo mesmo, pensando. Pensar é polarizar, em última instância.
A salvação não virá pousar sobre a indiferença, mas sobre a polaridade.
A polaridade mais dramática é aquela entre o bem e o mal. Bem e mal se distinguem
pelo critério mais cortante. Diante desse critério, qual a tarefa do homem, jogado diante do
abismo mas que recusa a dispersão na frialdade infinita? Lutar pelo bem. Somente assim pode

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manter-se a polaridade entre o bem e o mal à espera da salvação. Esse dever de lutar pelo
bem constitui talvez o Katechon mencionado por São Paulo na epístola aos Tessalonicenses,
a força que retarda o fim dos tempos enquanto não chega o seu sinal.
O mal triunfa se triunfar o mal, mas também triunfa se triunfar a indiferença, a
despolarização, a conformidade que descamba para a inexistência. Talvez o mal saiba que
jamais triunfará sobre o bem num combate direto, então sua estratégia é pregar a moderação,
a pacificação dos extremos. Não vamos polarizar, gente, vamos encontrar um modus vivendi,
vamos falar de crescimento econômico, nada de grandes categorias morais.
(Por outro lado, as mesmas pessoas que dizem detestar a polarização querem apelar a
um certo moralismo puramente verbal no atual debate político. Sustentam que algumas frases
que Bolsonaro pronunciou a respeito de mulheres, gays ou negros, transformam a eleição
numa questão moral. O saque da Petrobras, o mensalão, o achincalhamento das instituições,
o assassinato de Celso Daniel e a tentativa de assassinato de Bolsonaro, nada disso acaso são
questões morais?)
Claro que não há pessoas inteiramente boas e pessoas inteiramente más – embora
algumas se esforcem bastante num sentido ou no outro –, mas isso não significa que se deva
proibir as pessoas de defenderem o bem se não apresentarem certificado de santidade. Se
você chega para tentar impedir uns sujeitos de agredirem uma criança e eles lhe dizem: “mas
na semana passada você deu um peteleco na sua irmã”, você recua e admite: “de fato, não
tenho direito de intervir”? Se alguns países pretendem organizar através da OEA uma
intervenção humanitária na Venezuela, devem deter-se pensando: “ah, mas em 1965 a OEA
interveio na República Dominicana lesando o processo democrático daquele país”? Assim
nunca ninguém faria nada em defesa do bem, assim o bem desapareceria em favor da
moderação, do juízo isento, da cautela. Se as pessoas desejosas de combater pelo bem se
acovardarem e se envergonharem porque não são perfeitas, quem lutará? E se, ao levantarem
a mão contra o mal virem-se contestadas aos gritos de “Peraí! Não vamos radicalizar! Não
vamos polarizar!”, vão recuar?
Os maus querem que os bons não lutem porque não são inteiramente bons. Ou então
querem que os bons não lutem para não polarizar. Em qualquer caso, os maus ficam com o
terreno todo para eles, pois não têm nenhum problema de consciência, e não precisam de
uma situação polarizada, já que o centro moderado é deles e os favorece do mesmo jeito.
Entre saúde e doença deve haver moderação e equilíbrio? Entre a justiça e o crime
deve haver paz e união?
Querem uma sociedade sem polos, sem energia correndo. Uma geleia geral de
“centro”. O problema é que o centro está dominado pelo complexo liberal-marxista. O
centro é o complexo liberal-marxista. O centro defende alguns aspectos de pretensa
racionalidade econômica que o fazem parecer liberal e engravatadinho, mas por trás é
manobrado pela tirania dos valores esquerdistas que controlam o pensamento das pessoas e
as fazem crer que uma frase mal-interpretada sobre mulheres ou gays é mais importante do
que a corrupção devastadora ou o crime organizado. A esquerda se dá bem se o poder estiver
na esquerda ou se o poder estiver no centro – porque a esquerda enxertou todo o seu
marxismo pós-moderno no centro liberal.
(O ateísmo virou centro, enquanto a fé virou extrema direita. Por quê? Desde quando?
Por que o ateísmo virou a posição-padrão? Por que o aborto virou o critério para definir se
uma pessoa é um cidadão civilizado e racional, se o defende, ou um boçal troglodita, se o
rejeita?)
A esquerda não quer polarização porque não quer nenhuma concorrência ao seu polo
totalizante, que ocupa todo o espectro do centro moderado até o stalinismo (veja-se, para

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exemplificá-lo, a perspectiva de uma aliança do PT, cuja candidata a vice-presidente pertence
ao PC do B stalinista, com o PSDB liberal reformista, cuja candidata a vice-presidente
pertence ao PP, partido herdeiro da ARENA: assim, o centro moderado no Brasil vai de
Stalin a Geisel, passando por Lula e FHC). Não há nenhum posicionamento ou proposta do
centro moderado que prejudique os interesses da esquerda, nada no centro deixa a esquerda
desconfortável. A moderação só favorece o poder dominante: na cultura, na política, na
economia, o poder dominante hoje é o liberal-marxismo, que tende à construção de um
esquema totalitário se não for combatido mediante a polarização da sociedade.
A condenação da polarização parte do pressuposto de uma equivalência moral entre
os polos. Esse pressuposto está inteiramente errado no Brasil de hoje. Há um polo que
representa o futuro do país e um polo que representa o crime.

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O que está em jogo


25/09/2016

É um equívoco dizer que o eleitor brasileiro não se interessa por política externa e que
por isso as relações internacionais não aparecem como tema de campanha eleitoral.

O que há é diferente: o complexo midiático bem-pensante não quer que o eleitor se


interesse por política internacional. O sistema não quer que o brasileiro saiba que o Brasil
está, hoje, chamado a participar de uma gigantesca luta mundial, que se desdobra em vários
aspectos:
· A luta pela preservação do princípio nacional e da própria nação como locus da vida
social e espiritual do ser humano, contra a emergência de um mundo globalizado, sem
fronteiras e sem identidades.
· A luta pela liberdade de pensamento, de crença e de expressão contra a ideologia
globalista e materialista dos "valores", que tende a destruir a conexão do ser humano consigo
mesmo e com toda a aventura intelectual da humanidade, em nome de alguns princípios
politicamente corretos.
· A luta pela soberania econômica e política dos países, contra o domínio das cadeias
produtivas de bens e contra o monopólio da circulação de informações por uma elite
transnacional niilista, contra uma economia globalizada maoísta-capitalista centrada na
China.
· A luta pela democracia efetiva e contra a reemergência do bolivarianismo na América
Latina, o sistema regional de implantação do "Socialismo do Século XXI".
Se os brasileiros soubessem que tudo isso está em jogo em nossas eleições, estariam
interessadíssimos em política externa.
Mas o cardápio de política externa servido pela mídia resume-se aos pratos mais
insípidos e insignificantes para o futuro do país e do mundo. Fazem o brasileiro achar que
política externa é um simples exercício retórico destinado a dizer, de mil maneiras diferentes,
as mesmas obviedades e superficialidades a respeito da paz e cooperação – e aí concluem:
"olha só, o brasileiro não se interessa por política externa".
As opções reais de política externa são: ou aliar-se aos países e forças que lutam contra
o globalismo, ou deixar que o Brasil, junto com todas as nações, desapareça na geleia geral

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de um mundo desnacionalizado e desespiritualizado (a nação é a casa do espírito!) e torne-se
uma província da "pátria grande" socialista.
Em contraste, as opções que são oferecidas pela mídia e pelos especialistas são:
nenhuma. Só é permitido discutir se vamos dizer que "o diálogo favorece a solidariedade"
ou "a abertura ao outro favorece a tolerância". O caminho rumo à destruição da identidade
nacional e à globalização econômica não é jamais questionado. Uma política cujo conteúdo
central e objetivo último não pode ser discutido não é política, é apenas uma cortina de
fumaça para continuar cedendo a cada dia um pedaço de soberania, um pedaço de orgulho,
um pedaço de sentimento, cada dia mais um símbolo que não pode mais ser usado ou uma
palavra que não pode mais ser dita sob pena de "xenofobia".
A esquerda, juntamente com o centro que não é centro porque na hora H faz sempre
o que favorece a esquerda, usa o seu controle da mídia e da academia para ocultar ao brasileiro
o que está em jogo nas eleições, em relação à nossa inserção internacional: se o Brasil
combaterá por um mundo de nações e de pessoas livres, ou se continuará deixando-se levar
para um império global sem amor e sem apego, onde impera um programa de controle
político-mental que aniquila a personalidade de pessoas e povos para melhor dominar.
Se o brasileiro acha que política externa é discurso na ONU, não admira que não se
interesse por isso. Mas ao perceber que a política externa é a luta pelos rumos da humanidade,
onde o Brasil com seu tamanho e sua população tem a obrigação de posicionar-se, o
brasileiro não ficará indiferente. Pois o brasileiro é um povo corajoso, rebelde, forte,
impetuoso e, se lhe mostrarem a batalha titânica que está sendo travada, ele jamais ficará de
fora.

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O povo contra o sistema


26/09/2018

No final dos anos 70 e primeira metade dos anos 80, o debate esquerda-direita no
Brasil era um debate político entre liberdade e ordem, onde basicamente a esquerda queria a
abertura política com eleições diretas, fim da censura e mais poderes para o legislativo frente
ao executivo, enquanto a direita defendia a primazia da estabilidade e a tutela de um executivo
forte sobre as instituições e sobre a sociedade civil para evitar a anarquia que levara ao
movimento de 1964. Nessa época, quem era de centro defendia maneiras de combinar as
vantagens da abertura política com as da estabilidade, acreditando que era possível ter um
governo forte para promover "ordem e progresso", e ao mesmo tempo democrático,
aumentando a participação da sociedade civil na vida pública, num clima de boa convivência
e responsabilidade.
As posições da esquerda prevaleceram com a redemocratização a partir de 1985, mas
em função de um amplo consenso social em favor das liberdades políticas, sem demonizar o
lado que privilegiava a ordem. O bom-senso e a existência de um amplo espectro de centro
permitiram a transição pacífica e ordenada de que nos gabamos.
Na segunda metade dos anos 80, o debate esquerda-direita tornou-se uma questão
econômica onde, basicamente, discutia-se a questão de mais Estado ou menos Estado como
instrumento de desenvolvimento. De um lado os proponentes de um Estado produtor e
regulador da economia, com pesados investimentos públicos mesmo sob o risco de aumento
da inflação, e barreiras comerciais altas para promover a indústria doméstica. Do outro lado,
os que preferiam retirar o Estado da economia e liberar as forças de mercado para favorecer
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o crescimento, privilegiavam a estabilidade econômica e o equilíbrio fiscal por sobre o
investimento público e advogavam pela abertura comercial. Também neste caso, os dois
lados tinham argumentos válidos e permitiam a existência de posições razoáveis de centro
que procuravam combinar fatores positivos dos dois modelos.
Já neste debate, foi a direita que prevaleceu, a partir do início dos anos 90 e
principalmente depois do plano real, com a adoção de um modelo moderadamente liberal
consubstanciado na prioridade da estabilidade macroeconômica, privatizações, abertura
comercial. Contudo, da mesma maneira que ocorrera com o triunfo da esquerda no debate
anterior, também aqui o triunfo, agora da direita, foi bastante moderado, equilibrado e com
colorações centristas. O Estado não se retirou tanto assim da economia (preservou a
Petrobras, outras estatais, e conservou enorme capacidade de investir e direcionar
investimentos através do BNDES e outros instrumentos), a abertura comercial não foi assim
tão profunda, retendo-se instrumentos de proteção tarifária e não-tarifária e mecanismos de
política industrial, enquanto a vitória dos proponentes da estabilidade não foi absoluta e
deixou muitos bolsões de desenvolvimentismo fiscal.
Assim, nos dois casos, não houve tanto o triunfo da direita ou da esquerda, mas o
triunfo de um certo consenso político, pendendo para um lado ou outro mas com
flexibilidades e acomodações de todo tipo.
(É apenas curioso observar que a mão política dos conceitos de "liberdade" e "Estado"
se inverteu entre os anos 70-80 e 80-90: no debate político dos anos 70-80, a esquerda era
fundamentalmente a campeã da liberdade e a direita a campeã do Estado, enquanto no debate
econômico dos anos 80-90 a direita tornou-se a defensora da liberdade e a esquerda a
defensora do Estado.)
O esquema de poder montado pelo PT a partir de 2002 surgiu daqueles dois triunfos
– em sentidos aparentemente opostos – das décadas anteriores. De fato, o triunfo político
da esquerda na redemocratização foi capturado e administrado fundamentalmente pelo
PMDB, enquanto o triunfo econômico da direita com o Plano Real e outros avanços dos
anos 90 foi montado em torno do PSDB. O PT herdou e incorporou a estabilidade política
criada pelo primeiro grande consenso e a estabilidade econômica criada pelo segundo, mas
passou a controlá-las e aparelhá-las para servir ao seu projeto de poder perpétuo. Na
dimensão política, essa reengenharia se deu pela adesão do PMDB – competente gerenciador
do complexo e profundo conluio das oligarquias políticas – ao projeto do PT. Na dimensão
econômica, o PT manteve a estrutura tucana que permitira a estabilização e cooptou as elites
empresariais – já que o triunfo econômico liberal dos anos 90 não chegara nem perto de
retirar ao Estado as principais ferramentas dessa cooptação: BNDES, Petrobras, obras
públicas. Quando os interesses empresariais se bandearam para o PT, o PSDB perdeu
qualquer base de sustentação própria e deixou-se transformar pelo PT numa espécie de
oposição doméstica e inofensiva, tarefa tanto mais fácil quanto os próceres do PSDB não
tinham nenhuma divergência ideológica frente ao PT, muito pelo contrário.
O PT assumiu assim, sem maior dificuldade, o completo controle do país. Atribuiu ao
PSDB o papel de "direita" e governou confortavelmente por 13 anos. O debate esquerda-
direita desapareceu, pois a esquerda ocupava todo o espectro político e não parecia haver
mais qualquer divergência sobre os rumos do país. Empresários e povo estavam satisfeitos
com as benesses que recebiam. (No meu caso, confesso que acreditei que o Brasil havia
encontrado a chave dourada que abria a porta tripla da democracia, justiça social e
crescimento econômico.) O sistema parecia perfeito e inquebrantável.
Esse regime tão eficiente e popular só se esqueceu de colocar uma coisa em sua
equação: o povo. O povo enquanto agente histórico dotado de personalidade e vontade

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própria. O povo ressurgiu nos protestos de 2013, indignou-se diante da manipulação eleitoral
de 2014 e tomou as ruas em 2015-2016 para exigir o impeachment.
O impeachment que o povo queria não era apenas o impeachment de Dilma Rousseff, era
a destruição de todo regime de dominação montado a partir de 2002 com suas raízes nos
dois grandes consensos dos anos 80 e 90. O sistema político só entendeu, ou fingiu que só
entendeu, uma parte do recado do povo e deu-lhe o impeachment em senso estrito, a destituição
de Rousseff. O sistema achou que, entregando ao povo a cabeça de Dilma, conseguiria
manter o seu próprio poder nas sombras e salvar o principal, o grande esquema que
dominava todo o espectro político e controlava a sociedade e a economia há décadas.
Formou-se assim um governo composto pelos dois atores secundários do esquema petista,
PMDB e PSDB, enquanto o protagonista, o próprio PT, entrava numa espécie de licença
sabática para se recompor e voltar mais adiante. (Símbolo claro disso foi a decisão
inconstitucional do Senado, na sessão em que votou o impeachment, sob inspiração do
presidente peemedebista da casa, de manter os direitos políticos de Dilma).
O sistema achou que o circo do impeachment satisfaria o povo. PMDB e PSDB
imaginaram talvez que poderiam ficar como gestores temporários do sistema, dando uma
ajeitada na economia até tudo voltar ao normal com a eleição de um deles para a presidência
em 2018 ou, melhor ainda, com a volta de Lula.
Mas o povo queria a cabeça do sistema, não apenas de Dilma ou do PT. O povo
continuou exigindo a continuação da Lava-Jato e a limpeza do país. A agenda do povo incluía
o julgamento e punição de Lula e seu afastamento da vida pública, mas novamente aqui não
se esgotava nisso. O povo entendeu que o projeto de poder corrupto era muito mais amplo
e profundo, e continuou querendo a aniquilação completa do projeto, não bastando a prisão
do chefe supremo.
Dessa agenda do povo brasileiro nasceu a candidatura de Bolsonaro. Todos sabem que
Bolsonaro é o único candidato anti-sistema. Mas muitos, principalmente alguns analistas
muito sofisticados, não sabem ao certo o que é o sistema contra o qual ele se levanta, como
se a postura anti-sistema fosse uma espécie de implicância. Na verdade, sua candidatura é o
único projeto político que atende ao anseio mais profundo do povo brasileiro.
Trata-se de uma candidatura de direita, certamente, e não poderia ser de outra forma
já que todo o espectro político do sistema foi ocupado pela esquerda. Mas a dicotomia direita-
esquerda que se estabelece nesta campanha eleitoral nada tem a ver com os debates direita-
esquerda dos anos 70, 80 e 90. A esquerda agora não representa nada, não representa um
determinado conjunto de ideias e propostas bem-intencionadas que se possam confrontar
com outras ideias e propostas bem-intencionadas de outra corrente. A esquerda só representa
seu próprio projeto de poder baseado na gestão do país pelas oligarquias de sempre sob a
sustentação de um sistema corrupto de circulação de dinheiro e favores – tendo no horizonte
um sonho, nunca abandonado, de socialismo continental bolivariano.
Tudo o que é decente e bom, hoje, está na direita, simplesmente porque a direita é,
hoje, o único lugar que acolhe tudo o que é bom e decente. Na direita está o amor à pátria e
à família, a fé em Deus, o bom-senso e o entusiasmo, a liberdade para todos e a prisão para
os criminosos, a certeza de que as palavras significam algo na realidade e não são mero
instrumento de manipulação política, a união nacional, o império da lei, o Estado para
garantir a ordem e não para direcionar recursos públicos aos amigos do governante, a
igualdade de direitos para todos, a atuação internacional para promoção da democracia por
exemplo na Venezuela, um mundo de alegria e orgulho em ser quem se é.
E o que está na esquerda? Esquerda é condenar o sentimento nacional e a família
dizendo que é tudo "fascismo" e "patriarcado", esquerda é o materialismo que reduz o ser

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humano a um aglomerado de átomos, esquerda é liberdade para os criminosos
(principalmente o seu grande mestre, Lula) e prisão ideológica ou real para os opositores,
esquerda é a obsessão pelo poder a qualquer custo, esquerda é o arcabouço nominalista onde
as palavras são transformadas em instrumentos de controle mental, esquerda é um modelo
econômico onde o Estado existe para servir os amigos e o capitalismo selvagem para o resto,
esquerda são os falsos "valores" controlados pela elite intelectual mal-intencionada, esquerda
é a compartimentação da sociedade em grupos antagônicos artificialmente criados, esquerda
é bajular descaradamente a ditadura da Venezuela, esquerda é um mundo organizado como
permanente militância em favor do ódio e da vergonha. Não por acaso a esquerda se agarra
às falsas bandeiras do feminismo, da questão racial e da ideologia de gênero: porque não
pode expor suas verdadeiras ideias para o futuro do país.
Nesse quadro, evidentemente, não pode haver centro. O que seria o centro? Um ponto
de equilíbrio entre o crime e a justiça? Um modelo que conjugasse as vantagens da corrupção
e as da honestidade? Ao contrário dos debates de décadas passadas, desta vez não há um
terreno de convergência, não há duas correntes legítimas defendendo alternativas diferentes
para o bem-comum. Há simplesmente uma corrente pelo sistema e outra pelo povo (este
povo que é muito mais do que a soma de seus indivíduos, este povo no qual corre uma
centelha divina). Todos as boas ideias do antigo debate, fossem de esquerda ou de direita,
estão hoje do mesmo lado: liberdade política e ordem, liberdade econômica e
responsabilidade do Estado, justiça social e eficiência, individualismo e unidade coletiva da
nação, todos estão agora deste lado que representa o povo contra o sistema.
A campanha eleitoral mostra-o claramente: os candidatos presidenciais ditos de centro
podem até não gostar do PT, mas todos adoram o sistema, e alinham-se, de diferentes
maneiras, com a defesa do sistema, contra o único candidato que promete liquidar o sistema.
Por isso, muitas pessoas que se consideram centristas e muitos políticos autênticos estão
abandonando os candidatos presidenciais ditos de centro e entendendo que a única casa sob
cujo teto podem abrigar suas ideias e suas esperanças é a campanha de Bolsonaro.

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"Nosso país, a Venezuela"


27/09/2018

Do discurso do Presidente Michel Temer na abertura da Assembleia Geral das Nações


Unidas (Nova York, 25/10/2018):
“Na América do Sul, os senhores sabem, estamos em meio a uma onda migratória de
grandes proporções. Estima-se que mais de 1 milhão de venezuelanos já deixaram o seu país
em busca de novas condições de vida. O Brasil tem recebido todos os que chegam ao nosso
território. São dezenas de milhares, a quem procuramos dar toda a assistência. Com a
colaboração do Alto Comissariado para Refugiados, construímos abrigos para ampará-los da
melhor maneira. Temos promovido também, senhoras e senhores, sua interiorização para
outras regiões do país. Emitimos documentos que os habilitam a trabalhar no país.
Oferecemos escola para as crianças, vacinação e serviços de saúde para todos. Mas sabemos
que a solução para a crise virá quando, na verdade, o nosso país, a Venezuela,
reencontrar o caminho do desenvolvimento.”
Video: https://www.youtube.com/watch?v=1nYdOEM6D1M

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(Minuto 11:17 para a frase em destaque.)
Do discurso do Presidente Donald Trump na mesma ocasião:
“Atualmente estamos testemunhando uma tragédia humana, por exemplo, na
Venezuela. Mais de 2 milhões fugiram do desespero infligido pelo regime socialista de
Maduro e seus patrocinadores cubanos.
Não muito tempo atrás, a Venezuela era um dos países mais ricos do mundo. Hoje, o
socialismo levou à falência essa nação petrolífera e conduziu seu povo a uma pobreza abjeta.
Em praticamente qualquer lugar onde tenha sido testado, o socialismo ou o
comunismo produziu sofrimento, corrupção e decadência. A sede de poder do socialismo
leva à expansão, incursão e opressão. Todas as nações do mundo deveriam resistir ao
socialismo e à miséria que ele traz para todos.
Nesse espírito, pedimos às nações aqui reunidas que se somem a nós no chamamento
pela restauração da democracia na Venezuela. Hoje, estamos anunciando sanções adicionais
contra o regime repressor, tendo por alvo o círculo íntimo de Maduro e seus assessores
próximos.”
“Currently, we are witnessing a human tragedy, as an example, in Venezuela. More than 2 million
people have fled the anguish inflicted by the socialist Maduro regime and its Cuban sponsors.
Not long ago, Venezuela was one of the richest countries on Earth. Today, socialism has bankrupted
the oil-rich nation and driven its people into abject poverty.
Virtually everywhere socialism or communism has been tried, it has produced suffering, corruption,
and decay. Socialism’s thirst for power leads to expansion, incursion, and oppression. All nations of the world
should resist socialism and the misery that it brings to everyone.
In that spirit, we ask the nations gathered here to join us in calling for the restoration
of democracy in Venezuela. Today, we are announcing additional sanctions against the repressive
regime, targeting Maduro’s inner circle and close advisors.”

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Linha de transmissão
27/09/2018

Haddad é o poste de Lula.


Lula é o poste de Maduro, atual gestor do projeto bolivariano.
Maduro é o poste de Chávez.
Chávez era o poste do Socialismo do Século XXI de Laclau.
Laclau e todo o marxismo disfarçado de pós-marxismo é o poste do maoísmo.
O maoísmo é o poste do inferno.
Bela linha de transmissão.

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Acorda e luta!
28/09/2018

Acorda, liberal!
Sai da cama, conservador!
Você pretende ficar neutro, assistindo à batalha pelo futuro do Brasil e comendo
pipoca, como se estivesse vendo Croácia x Dinamarca?
Você tem algo mais importante a fazer do que salvar o seu país?
Quem se diz liberal e não está com Bolsonaro é porque não se importa com a liberdade,
mas apenas com a sua própria imagem.
Quem se diz conservador e não está com Bolsonaro é porque só quer conservar sua
própria convicção de superioridade moral.
O PT (Partido Terrorista) está se preparando para tomar o poder no Brasil.
Na véspera da I Guerra Mundial, o Secretário do Exterior britânico, Edward Grey,
prevendo a catástrofe, disse a um amigo: “As luzes estão-se apagando em toda a Europa.
Não as veremos novamente em nossas vidas.”
No Brasil, se o PT ganhar, vai extinguir todas as luzes da decência e da liberdade, e
não as veremos acesas novamente em nossas vidas.
Sim, em nossas vidas. Vocês acham que o PT vai largar o poder depois de quatro anos?
Oito? Desesseis? Não largará nunca. Não será um novo governo, será um novo regime, um
império do crime, apoiado no conluio entre as oligarquias nacionais e num novo eixo
socialista latino-americano, sob os auspícios da China maoísta que dominará o mundo.
Nesse mundo, você acha que vai conseguir educar seus filhos de acordo com seus
próprios valores, conservador? Acha que um jovem empreendedor vai ter espaço para abrir
o seu negócio sem pagar propina ao Partido, liberal?
Vai ser um regime de partido único, ditatorial, um governo que controlará todo o
tecido político, social e econômico, que controlará sua vida a partir da educação pré-escolar,
que administrará sua família, que controlará o que você pensa e diz, que racionará aquilo em
que você crê, que ditará o que você é! Um governo que matará de fome quem não tiver na
testa a marca da besta.
“Está maluco! Isso é impossível! Temos instituições sólidas!”
Temos? Vocês acham mesmo que esse Congresso e esse Supremo Tribunal Federal
vão colocar limites ao novo regime do PT?
Liberal, conservador, por favor explique por qual razão, debaixo dos céus, você não
está com Bolsonaro. Porque não é chique? Porque você acha que ele não é um verdadeiro
liberal? Ou porque é liberal demais?
O que significa o teu liberalismo se tu contemplas sem arrepio o abismo de
bolivarianismo e capitalismo de Estado corrupto que te espera se o PT vencer?
O que significa o teu conservadorismo se tu admites entregar o poder à máfia da
ideologia de gênero?

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Você está preocupado porque os comunistas chamam Bolsonaro de fascista, e você
não pode jamais admitir que isso ocorra com você, não é? Você morre de medo que o
chamem de fascista. É esse o grande valor moral que te domina. O medo de ser chamado de
fascista. Quando você começa a admitir o lampejo de uma opinião favorável a Bolsonaro,
imediatamente aparece na sua cabeça a imagem de Ciro Gomes ou Camila Pitanga te
chamando de fasc... e antes que esse seu vigia ideológico internalizado termine a palavra,
você já está pedindo desculpas e recuando assustado de volta ao seu curral mental.
Larga o medo.
Você nunca estudou nada sobre o comunismo na União Soviética, sobre a história do
maoísmo na China, sobre o regime de Pol Pot no Camboja, sobre Cuba ou sobre a
Venezuela? Não sabe que “fascista” nesses regimes significava qualquer pessoa, ideia, animal
ou planta que se opusesse ao poder ditatorial do partido único? Não sabe que os genocídios
em todos esses lugares foram perpetrados – ou estão sendo – em nome do combate ao
“fascismo”, ou à “extrema direita”? Quando um agente do aparato de repressão venezuelano
mata um estudante que protestava numa rua de Caracas, você acha que ele chama o estudante
de quê, enquanto arrasta o corpo para a calçada antes de matar outro? De fascista. E quando
um candidato brasileiro disposto a enfrentar o sistema criminoso do PT é esfaqueado e quase
morto, aqueles que o esfaqueiam o chamam de quê? De fascista.
Afaste por um momento o seu Ciro Gomes ou a sua Camila Pitanga interior, só por
um momento, e tente entender as coisas com a sua própria cabeça liberal ou conservadora.
Fascista é o nome dado pelos comunistas a qualquer inimigo do regime de terror que
o PT pretende instaurar ou reinstaurar no Brasil.
A sobrevivência do Brasil depende de você perder o medo de ser chamado de fascista.
Acorda, sai da cama e vem para a luta! É o Brasil que está jogando o jogo mais
importante da sua vida.

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A esquerda: de Robespierre ao PT
29/09/2018

Desde a Revolução Francesa, a esquerda, em suas várias configurações sucessivas, teve


como fio condutor e estratégia central a tomada de causas nobres e sua transformação em
instrumentos de dominação e controle. (A esquerda é, fundamentalmente, um programa de
dominação e controle social e mental da espécie humana.)
Inicialmente, os revolucionários franceses (inspirados no fanatismo anticristão de
Voltaire e dos “iluministas” ou “iluminados” – embora Voltaire pareça ter-se arrependido no
leito de morte) tomaram as causas da igualdade, liberdade e fraternidade, muito justas diante
dos desmandos da aristocracia e da miséria do povo, e criaram o regime que ficou conhecido
simplesmente como “o Terror”. Cerca de 40.000 pessoas foram guilhotinadas ou executadas
de outra maneira, sob qualquer pretexto de deslealdade ao regime. O tecido social da França,
até então o país mais poderoso da Europa, foi rasgado e enxovalhado. Os camponeses da
região da Vendeia, fiéis à fé católica, que se revoltaram contra o novo regime anticristão,
foram massacrados: 300.000 pessoas, dos 800.000 habitantes da região, foram mortas pelas
forças do governo revolucionário, inaugurando o que viria a ser uma longa tradição de
genocídios perpetrados pela esquerda. (Você nunca ouviu falar do genocídio da Vendeia, não

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é? Será que isso deve suscitar a vaga, muito vaga suspeita de que a esquerda domina toda a
mídia e o ensino de história?)
Mas o pior é que toda essa violência brutal foi perpetrada em nome de valores elevados.
Tudo em nome da virtude e da justiça. Aí reside o problema visceral da esquerda e o segredo
de sua perpetuação malévola ao longo da história. Fazer o mal em nome do bem. Se fosse
simplesmente chegar, matar todo mundo, escravizar, humilhar, destruir, sem nenhuma
pretensão de ser outra coisa, tudo ficaria muito óbvio e nenhum sistema esquerdista jamais
voltaria a aparecer. Mas a esquerda chega, mata, escraviza, humilha e destrói sempre
arvorando os melhores princípios, sempre dizendo que é por amor e compaixão, por justiça
e equidade, tudo para a construção de um futuro radiante.
O líder do regime revolucionário, Robespierre, afirmou em um discurso em 1794: “A
alavanca do governo popular na revolução é, ao mesmo tempo, a virtude e o terror (...) O
terror não é outra coisa senão a justiça rápida, severa, inflexível. O terror é, portanto, uma
emanação da virtude (...), uma consequência do princípio geral da democracia.”
Observa-se que, na época, os líderes esquerdistas eram um pouco mais sinceros do que
hoje. Violência era, admitidamente, parte integrante do programa. Mas você acha que esse
pensamento desapareceu? Veja então o principal teórico marxista da atualidade, Slavoj Zizek,
que tem um livro intitulado justamente Virtude e Terror, onde lamenta que a esquerda tenha-
se tornado muito frouxa e recomenda a volta ao bom e velho terror de Robespierre como
instrumento de libertação das massas.
A virtude pelo terror, o terror em nome da virtude, esse tornou-se o programa da
esquerda ao longo do tempo.
No Século XIX a esquerda agarrou uma nova causa justa, a defesa dos trabalhadores
industriais espoliados pelo capitalismo selvagem, e criou a doutrina marxista clássica, que
viria a triunfar na Rússia, sob a forma do sistema soviético que matou dezenas de mihões de
pessoas na coletivização forçada da agricultura e no Gulag, sob o princípio leninista de que,
se a realidade conflita com a teoria, tanto pior para a realidade.
Ao longo do Século XX a esquerda penetrou os legítimos movimentos pela
descolonização, distorceu-os e os transformou em regimes ditatoriais corruptos e genocidas
em dezenas de países na África e na Ásia, chegando ao paroxismo no Camboja de Pol Pot,
que matou algo entre 2 e 3 milhões de pessoas.
Nos anos 40 esquerda conquistou a causa do nacionalismo chinês que, com toda a
razão, lutava para reconstruir uma China forte após um século de humilhações nas mãos do
ocidente, e criou o regime maoísta que dizimou a população na Grande Fome artificialmente
criada e instaurou a pior ditadura da história na forma da Revolução Cultural, um sistema de
dominação que permanece até hoje, disfarçado de pragmatismo e abertura econômica.
Nos anos 70 a esquerda tomou o movimento democrático do Irã, que se erguia contra
o autoritarismo do Xá, e o metamorfoseou no horrível fundamentalismo islâmico que veio a
contaminar todo o Oriente Médio, oprimindo, perseguindo e assassinando milhões de
pessoas, destruindo comunidades milenares, sem que ninguém possa falar nada porque todos
os crimes islamistas ficam protegidos atrás do muro da “tolerância” erigido pela esquerda.
A esquerda, a partir dos anos 60, infiltrou-se na causa muito digna dos direitos dos
imigrantes e criou a ideologia da imigração ilimitada que está hoje a ponto de destruir as
sociedades europeias e a norte-americana.
Também nestas últimas cinco décadas, principalmente nos países ocidentais, a
esquerda capturou a causa da igualdade racial, sugou a seiva vital desse movimento legítimo
e o usou para criar um terror mais sutil, o terror da reprogramação psicolinguística das

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pessoas. Assim, a esquerda transformou o combate ao racismo e a luta pelos direitos civis
dos negros na ideologia racialista, um novo apartheid onde as pessoas são divididas em grupos
antagônicos de acordo com sua cor, onde o indivíduo não pode ter ideias próprias, por
exemplo sobre a nação como entidade mais profunda do que as diferenças de grupo, porque
isso é atentado à diversidade, onde dizer “eu gosto do meu país” é considerado um ato de
supremacia branca. O aparato midiático-intelectual controlado pela esquerda estabelece o
que é racista dizer, o que não é, segundo seus próprios critérios totalmente politizados, e com
isso vai assassinando a liberdade de expressão e de pensamento, levando à guilhotina Platão
e Aristóteles, hoje banidos do currículo de grandes universidades americanas junto com
todos os grandes pensadores do passado porque suas obras, alegadamente, "criam ambiente
negativo para pessoas de cor".
E, por último, a esquerda transformou a luta nobre e necessária pela igualdade de
direitos entre homens e mulheres em um feminismo torpe, onde a mulher já não é mais um
indivíduo, mas apenas um objeto político, um pretexto para obrigar as pessoas a votarem em
candidatos de esquerda. Esse feminismo – que não tem nada de feminismo autêntico, mas
constitui apenas uma ponta de lança dos movimentos esquerdistas – rebaixa a mulher a um
nível de subserviência e desempoderamento jamais visto. No quadro armado por esse
femarxismo, a mulher não pode pensar nos seus próprios interesses, no seu país, na sua
família, na segurança, na integridade, na economia, na liberdade de crença e pensamento, e
tentar identificar qual o candidato que defende tudo isso. A mulher do feminismo esquerdista
é um autômato, está o obrigada a comportar-se unicamente como marionete política e rejeitar
o candidato que a esquerda manda rejeitar. Essa mulher é um ser unidimensional, com uma
função única na vida: levar o PT ao poder.
Em nome da virtude dos direitos iguais para a mulher, a esquerda quer instalar de volta
o terror petista, parte integrante do terror globalista no qual as pessoas já não se revoltarão
porque todas as palavras, pensamentos e sentimentos necessários para a revolta e para o
desejo de liberdade terão sido extintos.

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Mas se ergues da justiça a clava forte
30/09/2018

Algumas reflexões sobre a carreata pró-Bolsonaro em Brasília, com 25.000 carros, em


30 de setembro:
Não vi ódio em ninguém, em nenhum instante. O movimento popular por Bolsonaro
não se nutre de ódio, mas de amor e de esperança. As pessoas sorriem e celebram. Há um
clima de congregação, uma energia coletiva impressionante, uma presença. Só me lembro de
uma atmosfera cívica desse tipo em duas ocasiões: a campanha das Diretas Já em 1984 e o
movimento pelo impeachment em 2016. É a primeira vez, portanto, que este oceano
profundo, obscuro, poderoso de sentimento coletivo, ruge desta maneira em uma situação
eleitoral. Isso significa que se trata de muito mais do que uma eleição, de uma escolha entre
diferentes projetos para a pátria. Trata-se de uma luta pela sobrevivência da pátria.
Por isso, se é verdade que não há ódio, sente-se por outro lado uma tensão no ar. Uma
angústia, calada, difícil de expressar: será possível que podem roubar esta eleição ao povo
brasileiro? Uma angústia que nasce talvez da noção clara de que só temos esta chance. Não
há aquela leveza que proviria de pensar: “bem, se perdermos esta, daqui a quatro anos tem
outra”. As pessoas sabem que não tem outra.

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O principal símbolo da campanha de Bolsonaro é a bandeira nacional, muito mais do
que as bandeiras, faixas ou camisas do próprio candidato. As campanhas-mortadela da
esquerda não usam a bandeira nacional, ou quando raramente a usam é com nojo e por
cálculo político. O ser humano vive de símbolos, não só de pão, e as pessoas sabem que
morrerão de fome simbólica (e muitas também de fome real, como na URSS de Stalin, na
China de Mao e na Venezuela de Maduro) se o outro lado triunfar. Sabem que a bandeira, o
nome e o amor do Brasil serão arrancados de sua mão, de sua boca, de seu coração se o PT
vencer. A bandeira nacional é o símbolo da campanha de Bolsonaro não por acaso, mas
porque as pessoas sabem que a luta não é entre dois partidos, é entre a pátria de um lado, a
pátria livre, e a negação da pátria de outro, a escravidão política e ideológica, os grilhões que
os criminosos do PT, soltos ou encarcerados, nos preparam.
Assim, não há ódio, mas há luta. O cristão não deve odiar os seus inimigos, são
pecadores como nós, mas isso não significa que não deva odiar e combater o mal. Vi muita
gente fazendo com as mãos o gesto de atirar. Sorrindo, mas sabendo que, no fundo, estão
no momento mais sério de sua vida cidadã. Isso não significa que queiram matar ninguém.
Significa que queremos lutar pela liberdade. Podem dizer o que quiserem. Significa o desejo
de reassunção do poder pelo povo brasileiro, através do projeto político que hoje o
representa – e a arma, desde toda a eternidade, é um símbolo do poder, da segurança e da
justiça. A justiça tem numa das mãos a espada. Não quer dizer que a justiça vai sair decepando
cabeças. Significa: o poder é meu. Não adianta a balança da equidade na mão esquerda sem
a espada flamejante na mão direita. O hino nacional fala de bosques e campos floridos e de
uma vida serena, mas em certo ponto interrompe todo esse aconchego e proclama: “mas se
ergues da justiça a clava forte, verás que o filho teu não foge à luta”. A mão fazendo o gesto
de atirar é a pátria-mãe erguendo a clava forte! E não esqueçamos que Jesus, o príncipe da
paz, disse em alto e bom som: “não vim trazer a paz, mas a espada”.
Arma só é símbolo de violência na mão de bandido. Na mão de pessoas de bem, arma
é símbolo de orgulho, confiança, determinação e justiça.
Vi pessoas de todos os níveis de renda, de todos os tons de pele. Vi homens e muitas
mulheres, se bobear mais mulheres do que homens. Pensei na cena final do Fausto de
Goethe: Das Ewig-Weibliche zieht uns hinan. “O eterno feminino nos eleva ao alto.” A
Virgem e a pátria-mãe gentil estão conosco.
Alegria por poder participar de algo tão grande, angústia por saber que não temos a
opção de perder diante de um inimigo tão pérfido, confiança na justiça e no poder mais alto.
A carreata continua até salvarmos o Brasil.

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Teses sobre Fernando Haddad


01/10/2018

Em 1998, o então professor de Ciência Política da USP Fernando Haddad publicou,


na revista Estudos Avançados, um breve texto intitulado "Teses sobre Karl Marx", que na
verdade consiste em observações sobre o projeto marxista, ou "socialista" para usar a
designação empregada ali pelo professor Haddad (por algum motivo, "socialismo" soa
melhor aos ouvidos brasileiros do que "marxismo" ou "comunismo", que é do que ali se
trata). O título e estrutura do texto fazem referência às famosas "Teses sobre Feuerbach",
que Karl Marx publicou em 1845 e que – também em número de 11, assim como as teses de

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Haddad – são consideradas o resumo da visão de mundo e plano de ação que Marx
inaugurou.
Dando continuidade, digamos, a essa linha, apresento a seguir algumas teses (onde
utilizarei "socialismo" como sinônimo de marxismo e comunismo, tal qual Haddad). Só que
não consegui ficar em 11. São 17.

Teses sobre Fernando Haddad


I
O socialismo já não se exerce prioritariamente no campo econômico, mas sobretudo
no campo cultural, através do qual pretende assumir o poder político, que por sua vez
proporciona o poder econômico.
II
O socialismo se metamorfoseia continuamente e transforma-se por vezes no contrário
do seu desenho original, permanecendo, contudo, sempre fiel à sua misteriosa essência.
III
A essência do socialismo coincide com o "Mysterium Iniquitatis", o mistério do mal,
de que fala São Paulo na II Epístola aos Tessalonicenses. No original grego é o "Mysterion
tes Anomías", onde essa "anomia" evoca tanto a ausência de lei, o desregramento completo,
quanto a ausência de nações, já que nomos pode significar uma terra politicamente
estruturada. Assim o mistério da anomia significa a dissolução completa de toda ordem e
estrutura do cosmo criado, cujo eixo central é a ligação entre o homem e Deus.
IV
O objetivo do socialismo não é combater a pobreza – nem a pobreza material, nem a
pobreza de espírito. Ao contrário do que diz a tese III de Haddad, segundo o qual "os
socialistas querem erradicar do mundo a pobreza de espírito", na verdade os socialistas
querem erradicar do mundo o espírito. E, como a matéria não faz sentido senão sob o sopro
do espírito, querem erradicar também a matéria. O socialismo não é nem materialista nem
espiritualista. O socialismo quer erradicar a criação divina.
V
O socialismo quer extinguir a história e liquidar qualquer contradição. Justamente a
contradição, pois é ela que dá vida ao pensamento e sustenta a aventura humana. O universo
sem contradição é o universo sem pensamento e sem vida, objetivo do socialismo. A
contradição entre homem e natureza só pode ser abolida por um gesto totalitário, que
escraviza a ambos. A liberdade humana só é possível em sua perplexidade diante da natureza.
A liberdade da natureza só é possível quando iluminada pelo olhar humano.
VI
O socialismo é o cinismo, com o objetivo de enlouquecer os homens e destruir sua
faculdade de pensamento. A tese V de Haddad, por exemplo, diz que "o socialismo é a
exuberância dos indivíduos de uma vez por todos libertos dos valores prescritos". A esquerda
socialista hoje constitui-se numa permanente prescrição de valores, administrados pela casta
sacerdotal da grande mídia, cujos integrantes vivem em torno de um buraco fumegante do
qual, cada dia, emana um oráculo, que eles imediatamente repetem pelo mundo – e no dia
seguinte repetirão o novo oráculo, mesmo que este diga o oposto do que o oráculo da
véspera. O socialismo, ao obrigar diariamente seus adeptos e escravos a repetirem coisas
flagrantemente contrárias à realidade e incompatíveis entre si, enlouquece-os.

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VII
O socialismo quer destruir a identidade de todos os povos da terra. O socialismo, sob
a forma atual do globalismo, quer impor o culto à "diferença" e ao mesmo tempo o culto à
"igualdade". Ambos, embora incompatíveis, convergem para destruir a nação, o povo, a
comunidade viva. A afirmar que "o socialismo é (...) o desentrave do processo de formação
de uma comunidade internacional que preserva as diferenças entre os povos", Haddad
mostra que o real objetivo é o oposto, uma vez que, na prática do globalismo, o culto à
diferença somente é utilizado para impedir qualquer povo de manter a sua própria identidade
nacional. O socialismo não é desentrave de nada, o socialismo é o entrave da nação.
VIII
O socialismo percebeu que o consumismo é o melhor caminho para o comunismo. O
socialismo capturou a globalização econômica, com seu potencial de apagar fronteiras e
destruir identidades, e passou a pilotá-lo para os seus próprios fins.
IX
O socialismo é um programa de controle psíquico. O socialismo admite que seu campo
de ação é o ser humano e seu objetivo é transformá-lo. Transformá-lo em quê? O ser humano
acaso deu autorização ao socialismo para ser transformado? E o que é tal "transformação do
mundo" para a qual é necessário transformar o homem? Para onde vai? Quem a determinou?
A elite intelectual socialista, evidentemente. Só ela sabe em quê vai transformar o mundo, em
quê vai transformar o homem. Por isso diz Haddad, em sua tese VIII, que para transformar
o mundo é preciso transformar os homens, e para transformar os homens é preciso um "salto
psicoterapêutico". Um salto para onde? Para dentro de um abismo em chamas, no qual o
homem, enlouquecido pela "psicoterapia" socialista, se joga achando que está caindo numa
piscina de justiça e igualdade.
X
O socialismo é uma máquina de transformar virtude em terror. O socialismo apanha
causas e conceitos legítimos, instala-se em seu ventre, escraviza-os, suga toda a sua energia e,
como o monstro do filme "Alien", um dia finalmente irrompe com sua cara feroz e horrenda.
Esse é o caso da democracia. O socialismo diz, na tese VIII de Haddad, que pretende destruir
a "dominação orquestrada democraticamente". Isso significa: quer usar a democracia para
chegar ao poder e em seguida destruí-la.
XI
Segundo a tese IX de Haddad, "o lógico é tão-somente o histórico que se impôs". Para
o socialismo, portanto, não há uma lógica independente da força bruta. Toda a lógica está
submetida ao processo histórico e se sujeita a quem conquista e exercita o poder. Não há no
socialismo, portanto, nenhum espaço para o logos, a razão humana, essa maravilha que é a
linguagem e que permite ao homem comunicar-se com o cosmo e com Deus. A lógica é
ditada por quem tem o poder – desde que sejam os socialistas, evidentemente, pois se
atribuem o monopólio do processo histórico. Quando essa lógica do poder socialista disser
que escravidão agora se chama liberdade, você tem que aceitar.
XII
O socialismo sempre constrói aquilo que condena. Marcuse condenou o homem
unidimensional, vem o globalismo socialista e cria o homem unidimensional. Foucault
denunciou o biopoder, vem o globalismo socialista e institui o poder do estado sobre o que
há de mais biológico, a definição do gênero. Todos os socialistas denunciam a
"fantasmagoria" da ideologia burguesa, vem o socialismo e institui um mundo de fantasmas,

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atores estereotipados como "a mulher", "o negro", "o homem branco", "o fascista", que
vivem em conflito num teatro de sombras onde não há realidade nem lei, mas apenas
"valores" que a elite socialista administra arbitrariamente, pois sempre encontrará um valor
para condenar seus adversários e um outro valor – ou talvez o mesmo, não importa – para
absolver e enriquecer seus amigos.
XIII
O socialismo é uma anti-alquimia, uma alquimia do mal, que vai mexendo na alma
humana e humilhando-a tanto, tanto, passando-a por ácidos e fervuras e rupturas de toda
sorte por tanto tempo que, um dia, espera ver aparecer a pedra do mal, que destruirá o
coração humano, onde radica o poder de Deus, que é o amor (ver a tese IV de Marx).
XIV
O socialismo perverte o homem a tal ponto que ele já não sabe quem é e perde a
vontade de ser, pois o socialismo lhe ensinou a olhar para todos os lados e nunca ver
nenhuma realidade boa, pura ou justa, ensinou-a substituir a realidade pelos nomes e os
nomes pela loucura. O socialismo perverte o senso de justiça do ser humano, perverte a
lealdade ao grupo, o orgulho do que se é, a ligação com o passado, perverte a família (com o
simples uso do adjetivo "patriarcal"), perverte o milagre da concepção com a ideologia do
aborto, perverte o sexo com a ideologia de gênero e o feminismo, a ponto de acabar com o
prazer e a alegria do sexo, perverte a fé cristã transformando-a numa pregação político-
eleitoral. O socialismo amarra o homem em mil cordas e correntes de seu próprio
pensamento desvirtuado e joga a chave fora.
XV
O socialismo sempre te persegue. O socialismo nunca te deixa em paz. Quando você
acha que o socialismo ficou lá fora, lá no coletivismo por exemplo, e você entra, ainda
ofegante da fuga, dentro do individualismo, fecha a porta e respira aliviado pensando "enfim
me livrei do socialismo", de repente você ouve às suas costas, como num filme de terror, a
voz do socialismo dizendo: "eu estou aqui dentro, eu sou o 'desentrave definitivo do processo
de individuação' como diz Fernando Haddad em sua tese V, e eu vou te pegar". Você nunca
escapará. Se você acha que o socialismo ficou no materialismo e tenta refugiar-se no espírito,
você escuta a voz de Haddad dizendo que "os socialistas querem erradicar do mundo a
pobreza de espírito". Deixem o espírito em paz! Mas não deixam. Quando você tenta fugir
do deserto sem alma da globalização revalorizando o sentimento nacional, vem o socialismo
e te arranca para fora te xingando de xenófobo. Deixem a nação em paz! Mas não deixam.
XVI
Na tese VI de Marx, diz ele que a essência humana está nas relações sociais. Ora, se é
assim então não existe essência humana. Você não tem a si mesmo dentro de si e só existe
em função dos outros – mas os outros tampouco existem em si mesmos. Ninguém existe de
maneira livre, só existem as relações sociais que são administradas pela elite socialista que
detém o poder. O socialismo te diz: "você não existe, você é as relações sociais, e sou em
quem diz o que são as relações sociais, portanto sou eu que digo quem você é".
XVII
O marxismo é um projeto para destruir o cristianismo, não o capitalismo. O
capitalismo é visto por Marx simplesmente como um meio capaz de acelerar, pela
desagregação que promove na sociedade tradicional, seu projeto anticristão. As 11 teses de
Marx, centrais na sua obra, se referem especificamente ao livro de Feuerbach "A Essência
do Cristianismo", que Marx considerou uma crítica fundamental, mas incompleta, do
cristianismo. O marxismo nasce da percepção de Marx de que Feuerbach não tinha ido longe

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o suficiente. Veja-se o final da tese IV de Marx: "Depois que a família terrena é descoberta
como o segredo da sagrada família, aquela precisa agora ser aniquilada na teoria e na prática."
Ou seja, a família humana é o segredo da sagrada família, na qual nasceu o salvador. O
homem é o segredo de Deus. A tarefa então é aniquilar a família humana, destruir o homem,
para poder aniquilar o salvador que é Deus. Isto não está em alguma nota de pé de página
ou em algum rascunho de Marx, está no centro do texto que os marxistas consideram a
essência de sua obra. Esse é o marxismo ou o socialismo que, com Haddad, pretende tomar
o Brasil.

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Um registro
02/10/2018

Quero aqui agradecer e enaltecer as altas chefias do Itamaraty por seu compromisso
com a liberdade de expressão e com o pluralismo, que me dá a oportunidade de compartilhar
estas reflexões.
Não sei se esses princípios sobreviverão se o PT “tomar o poder”.
Dizia Simone de Beauvoir, pensadora marxista francesa, num texto de 1955: “A
verdade é única, apenas o erro é múltiplo. Não é por acaso que a direita professa o
pluralismo.”*
De fato, não é por acaso. A verdade pode ser única, mas precisamos da liberdade de
errar para tentar encontrá-la. Isso exige que jamais deixemos chegar ao poder um partido que
use o nome sagrado da verdade para oprimir e totalizar. Diz o Cristo: "Conhecereis a verdade
e a verdade vos libertará." Verdade e liberdade são indissociáveis. Não é por acaso que a
esquerda as quer separar, para poder destruí-las a ambas.
*“La vérité est une, seule l’erreur est multiple. Ce n’est pas un hasard si la droite
professe le pluralisme.” Publicado na revista Les Temps Modernes, no. 109 a 115.

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Quando o povo sente


03/10/2018

Quando o povo começou a tornar-se um problema para a esquerda, a esquerda


começou a chamar os seus inimigos de populistas.
Análises sobre o “fenômeno do populismo” estão agora por toda a parte na grande
mídia e nos meios acadêmicos. Veja-se por exemplo esta definição que aparece no livro “El
Porqué de los Populismos”*: o populismo “usou todas as ferramentas retóricas destinadas à
formação da solidariedade de massa, tais como uma comunicação política baseada nos afetos,
nos sentimentos, nas necessidades primárias e numa clara simplificação da mensagem
identitária”.
Observe-se incialmente que o chamado populismo é ali considerado apenas um
exercício retórico, não lhe sendo atribuída qualquer dignidade de pensamento político

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consistente. A seguir, repare-se que tal exercício retórico destina-se, nessa linha de
argumentação, “à formação da solidariedade de massas”, como se essa solidariedade não
existisse antes, como se nada unisse as pessoas naturalmente (pátria, família, fé, história,
cultura) e simplesmente chegasse uma retórica tentado criar artificialmente uma
solidariedade. (“Acuse-os do que você faz”, velha tática da esquerda, está em ação aqui. Na
verdade é a esquerda que, por meio do controle e manipulação da linguagem, isto é, retórica,
tenta criar algo inexistente, uma anti-solidariedade, uma não-sociedade fracionada em
diferentes grupos sem nada em comum e onde todo mundo passa o tempo todo acusando
alguém de algum “ismo” ou “fobia”.)
Por último, veja-se que, nessa concepção, o populismo é algo que apela aos “afetos,
sentimentos, necessidades primárias e clara simplificação da mensagem identitária”. Há
vários problemas aqui. Primeiro, salta aos olhos a associação implícita entre a ideia de
primarismo e os afetos ou sentimentos. Ora, os afetos de sentimentos pertencem ao que há
de mais nobre e elevado no ser humano. Um sistema político que se baseie nos afetos e
sentimentos parece mais evoluído e respeitável do que um sistema baseado em... em quê?
Que fundação pode ser melhor para alicerçar uma sociedade autêntica e saudável do que
afetos e sentimentos? O interesse? Uma associação fundada sobre sentimentos não parece
mais sólida e capaz de proporcionar sentido e felicidade do que uma associação fundada
sobre o interesse?
Depois, o que se entende por “necessidades primárias”. Comer, trabalhar, abrigar-se?
Um regime que não atente para essas necessidades não seria um regime frio e desalmado? É
isso que os críticos do populismo querem?
E quanto à simplificação da mensagem política, cabe perguntar: a mensagem política
do discurso tecnocrático ou do discurso esquerdista, diferentes vertentes do globalismo,
acaso é muito sofisticada? O ambiente político produzido pelos partidos e correntes políticas
“tradicionais”, ao redor do mundo, concede cada vez menos espaço para a discussão de ideias
vivas, para a discussão do que importa mais profundamente às pessoas, do que realmente dói
ou alegra, que são os afetos e sentimentos. O que os globalistas denominam “populismo” é
uma tentativa justamente de sofisticar e aprofundar o debate político, vinculando-o à
integridade do ser humano.
Não há nada mais simplista do que a crítica globalista ao populismo. Essa crítica
consegue esconder cada vez menos que, em seu âmago, está uma revolta dos controladores
do sistema contra o povo e, mais no fundo ainda, uma revolta contra o sentimento e a vida.
*Fran Carrillo (org.), El Porqué de los Populismos. Barcelona, Deusto, 2017. (Tradução
minha)

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Virtudes e virtudes
04/10/2018

A tolerância não construiu as catedrais, quem construiu foi a fé.


Tolerância está muito bem, mas você precisa primeiro ser você mesmo para poder
tolerar o outro.
Tolerância não deveria significar que você deva esvaziar-se de sua essência.

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Há virtudes positivas e negativas. Precisamos das duas, mas as positivas são
fundamentais, as negativas vêm depois, para regulá-las. Virtudes positivas são o amor, a
vontade, a ambição, o desejo, o orgulho, a coragem, o espírito de luta, a determinação, a fé,
a esperança, a caridade (que significa amor) e tantas outras. Virtudes negativas, ou
regulatórias para chamá-las assim, são a tolerânia, a prudência, a temperança, a moderação, a
humildade, a serenidade, a concórdia. As positivas concebem e erguem o edifício, as
negativas o administram e mantêm. As positivas afirmam, as negativas evitam que as
primeiras se percam no excesso e desmesura, na obsessão ou na temeridade. A prudência
regula a coragem, a humildade regula o orgulho, e assim por diante.
Hoje, nesta era pós-moderna, a cultura globalista dominante despreza as virtudes
positivas e absolutiza as virtudes negativas ou regulatórias, as quais prefere inclusive
denominar “valores” e não virtudes, talvez porque a palavra “virtude” venha de vis, força, e
por essa etimologia evoque mais o universo das virtudes positivas do que das regulatórias. O
globalismo erige assim um edifício de vento, sem estrutura, um edifício que apenas se nega
e se vigia o tempo todo, mas que não existe concretamente, porque foram apagadas e banidas
as virtudes capazes de o construir. Não adianta chamar as virtudes negativas de “valores” e
ficar repetindo “valores, valores, valores”. Cada vez que se aponta no globalismo o seu
materialismo primário, sua concepção mecânica do ser humano, sua falta de sangue nas veias,
o globalismo se defende indignado, invocando os “valores”. Caro globalismo, os “valores”,
tais como tu os concebes e praticas, não têm consistência, são roupas penduradas no armário
sem ter ninguém de carne e osso que as vista. Pior, os teus valores sufocam as virtudes.
Quando alguém começa a amar, por exemplo a amar o seu país, chegas logo tu, globalismo,
e ordenas que ela pare com isso, em nome da tolerância. Se a pessoa insiste, tu a acusas de
xenofobia. És tu, globalismo, és tu que não toleras nada, não toleras ver despontar no chão
algo de bom e puro e que aspire ao alto, mas vens imediatamente para jogar cimento em
cima.
O globalismo – ou seja, a configuração atual do marxismo – é uma enorme empresa
de desmatamento da alma.

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Libertar o logos
05/10/2018

Estamos quebrando o monopólio do globalismo sobre a palavra.


A verdadeira batalha pelo futuro do mundo não se dá no terreno dos recursos naturais
ou do comércio, ou do poder militar, mas no terreno da palavra. A palavra é infinitamente
mais poderosa do que as armas ou do que as indústrias ou do que o minério, porque a palavra
determina o conteúdo da mente humana. "En archê ên ho logos", como diz a abertura do
Evangelho de S. João. No princípio era o verbo, a palavra. Isso não significa apenas que no
começo dos tempos estava lá a palavra criadora, mas que a palavra é a força estruturante de
todo o mundo e de toda a vida, em cada momento. Archê significa "princípio", tanto no
sentido temporal quanto no sentido lógico e vital, no sentido de algo que coordena e organiza
e de onde emana toda a realidade.
A palavra, o verbo, o logos é liberdade e luz, o logos faz parte da dimensão divina e o
próprio Deus se assume como logos. Prossegue S. João: "Kai ho logos ên pros ton theón, kai theós
ên ho logos". E o logos estava junto de Deus, e Deus era o logos.

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As forças inimigas, claro, sempre tentaram raptar a palavra, obscurecê-la e pervertê-la.
Criaram as "palavras de ordem", criaram ideologias maléficas onde tudo significa o contrário
do que deveria ser, assumiram controle do discurso para julgar o que é politicamente correto
ou incorreto dizer, criaram uma usina geradora de frases feitas que se espalham pelo mundo
matando o pensamento autêntico, conspurcaram a inocência de cada palavra, arrancaram o
significado de cada palavra como um coração sangrento num horrível ritual de sacrifício e
deixaram apenas o corpo sem vida de conceitos-zumbis. No lugar do significado, coração do
logos, colocaram a pedra do direcionamento político, tudo orquestrado rumo ao poder.
Popuseram-se a matar o logos, porque o logos é a linha de comunicação entre o homem e Deus.
Estamos vivendo um capítulo decisivo da saga humana em busca da libertação da
palavra. Está surgindo uma espécie de Frente Universal pela Libertação do Logos. Estamos
numa reconquista. Estamos abrindo as jaulas onde as palavras eram mantidas cativas,
famintas de sentido, escravizadas a um projeto de dominação anti-humano. Estamos
deixando que as palavras voltem a ter significado e que vivam na realidade do pensamento,
na criatividade da alma profunda, que as palavras voltem a ser janelas para imaginar e não
correntes para culpar e punir. Estamos libertando os símbolos, as metáforas, estamos
permitindo que as palavras – como a palavra "nação" ou a palavra "pátria", entre tantas outras
- voltem a expressar esperança e alegria.
A humanidade, por milênios, foi materialmente pobre, sujeita a todo tipo de escassez
e doença, sob pragas e tiranias, não tinha antibióticos nem eletricidade, mas sobreviveu e
cresceu e produziu obras milagrosas do engenho e espírito – porque tinha o logos. Uma
humanidade muda, roubada do logos, pode ter todas as tecnologias, mas não chegará a lugar
algum.

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Em 1717, três pescadores


06/10/2018

No ano de 1717 (sim!), perto de Guaratinguetá, três pescadores encontraram a imagem de


Nossa Senhora Aparecida, que viria a ser proclamada padroeira e rainha do Brasil. Que ela
proteja e ilumine a todos os brasileiros neste momento decisivo.
Ave, estrela do mar serena,
Salve mãe da noite profunda.
O Cristo-sol já está descendo aonde
Ninguém mais iria,
Até o último confim da maldição,
A libertar a última criatura.
Onde imperava a treva e angústia já não reina
Senão o filho.
Salve mãe do Brasil imenso,
Majestoso e humilde, coroado
De amor e espinhos.
Tu guiaste as naus em cujas velas
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Resplandecia a cruz
E avistaram a terra, à mesma hora
Em que as mulheres encontraram o sepulcro vazio.
Tu inspiraste as bandeiras mata adentro.
Tu sorriste contente quando raiou a liberdade.
Tu estiveste ao pé do calvário,
Abraçaste o corpo do país exangue
E o verás renascer, algum domingo.
Ó virgem pátria imaculada,
Ó rainha do sertão candente,
Aqui acaba o medo e estás em casa.
É uma tarde na velha praia onde o vento arrepia.

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Falando de valores
08/10/2018

Precisamos falar de valores.


Precisaríamos, sobretudo, falar menos de valores. Atualmente, pronunciamos a palavra
"valores" a cada duas frases, quando queremos fazer pose de que não cuidamos apenas das
coisas materiais. Mas os "valores" não substituem a ausência de uma vida espiritual. Quem
não cultiva o espírito pode repetir "valores, valores" o quanto quiser, e não sairá do chão. A
obsessão com "valores" mostra a nostalgia de uma civilização materialista pelo universo do
espírito que ela abandonou.
Essa obsessão também distorce a vida político-jurídica das sociedades. Precisamos
falar menos de valores, e mais de leis.
Já na década de 20 do século passado, o filósofo alemão Nicolai Hartmann expressava
sua preocupação com o que denominou "a tirania dos valores". Hartmann observou e
preveniu para o enorme risco que uma sociedade corre ao pretender reger-se por valores.
Uma sociedade saudável e democrática, segundo entendo do pensamento de Hartmann (*),
deve ser regida pelas leis. As leis resultam, numa democracia, de um laborioso processo de
negociação e votação. Já os valores, qualquer um pode proclamá-los. As leis são interpretadas
por juízes e tribunais, que têm a seu dispor séculos e séculos de tradição, jurisprudência,
tratados e mais tratados de hermenêutica jurídica, etc. Os valores podem ser interpretados
por qualquer um – principalmente pela grande mídia e pela classe intelectual, que cada vez
mais controlam ou tentam controlar o teor do discurso público.
O pior é quando os próprios juízes, que em qualquer sistema democrático têm por
obrigação aplicar as leis, começam a aplicar valores. Veja-se por exemplo a questão do aborto
nos Estados Unidos. Ao contrário do que normalmente se diz, o aborto lá nunca foi
legalizado em sentido estrito, isto é, a permissão de abortar nunca foi objeto de uma lei
devidamente aprovada no Congresso. O "direito" ao aborto nos EUA decorre de uma

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decisão da Suprema Corte. Trata-se da decisão no caso Roe vs. Wade, de 1973, onde Roe é
o nome fictício de Norma McCorvey, uma mulher que entrou na justiça pelo direito de
abortar, conseguiu-o graças à sua vitória naquele caso, mas anos depois se arrependeu,
converteu-se ao cristianismo evangélico, mais tarde ao catolicismo, e tornou-se uma militante
anti-aborto – tal como descrito em seu livro autobiográfico Won by Love, de 1998.
(Provavelmente você já ouviu falar do julgamento Roe vs. Wade, mas nunca deve ter
ouvido falar de Norma McCorvey, não é? Trata-se de um bom exemplo de manipulação das
informações pela mídia, neste caso não através da mentira, mas através da seleção dos fatos
que são reportados e daqueles que são deliberadamente esquecidos.)
A decisão da Suprema Corte em 1973 baseou-se, não em alguma lei, mas no valor da
"privacidade" que a maioria dos juízes decidiu encontrar "nas penumbras da Constituição",
segundo a expressão de um deles. Ninguém pensou em um outro valor concorrente, o valor
da vida do feto. A Corte ignorou, assim, milênios de tradição jurídica, pois o nascituro tem
seus direitos reconhecidos desde o direito romano (**). Aliás é curioso que a negação de
direitos ao nascituro seja considerada pelos politicamente corretos – que gostam tanto de
falar de direitos – a marca de uma civilização evoluída, enquanto a defesa do direito desses
mais indefesos entre os indefesos, os nascituros, é atribuída ao obscurantismo e à barbárie.
Numa democracia, os diferentes valores devem descer à arena e confrontar-se uns aos
outros no processo legislativo, até que dali resulte, ou não resulte, uma lei que os acolha. Na
tirania dos valores, escolhe-se um valor hoje, outro amanhã, conforme a conveniência
política do momento, sem nunca ter a necessidade do confronto. Quem decide qual valor é
superior ao outro? Quem decide quando aplicar um valor e quando não aplicá-lo? Se essas
decisões são retiradas aos representantes do povo e atribuídas aos comentaristas da mídia,
pode-se ainda dizer que se está numa democracia?
Nesse sentido, nos Estados Unidos o Partido Republicano é o partido da lei, o Partido
Democrata o partido dos valores. Os republicanos sempre defendem a nomeação de juízes
originalistas para a Suprema Corte, isto é, aqueles comprometidos a aplicar a lei magna,
enquanto os democratas sempre preferem os juízes da "Constituição viva", ou seja, aqueles
que passeiam pela Constituição procurando em suas penumbras o que lá não está, para
poderem aplicar os valores de sua preferência.
No último sábado, o Senado norte-americano aprovou o nome de Brett Kavanaugh
para integrar a Suprema Corte, um originalista de reconhecida competência. Trata-se de uma
grande vitória para a democracia nos EUA.
Os defensores do aborto agora temem que a decisão Roe vs. Wade seja revertida, pois
pela primeira vez desde 1973 os originalistas estão em maioria na Suprema Corte. Caberia
perguntar a esses defensores: por que não apresentam um simples projeto de lei legalizando
(aí sim, legalizando) o aborto, e tentam fazê-lo aprovar pelo Congresso? Se o projeto for
aprovado, nunca mais precisarão se preocupar com a Suprema Corte, pois terão o direito ao
aborto sacramentado em lei. E se o projeto for rejeitado, será essa a expressão da vontade
do povo através de seus representantes. Não é isso a democracia? Aqueles que precisam fugir
do Congresso e dependem da criatividade extra-constitucional dos juízes da Suprema Corte
para fazer prevalecer suas ideias, que compromisso têm com a democracia? Parecem preferir
a tirania dos valores, aplicados diretamente, em detrimento das leis, democraticamente
adotadas.
Numa democracia, valores só podem ser aplicados quando incorporados em lei, do
contrário são apenas outro nome para o arbítrio dos poderosos.
*Cf. Nicolai Hartmann, Ethics – Vol. II (Moral Values). London, George Allen &
Unwin, 1932. (Tradução do original alemão de 1926).

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**Veja-se por exemplo esta interessante tese de doutorado da USP sobre o nascituro
no direito romano: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-12082016-
162100/pt-br.php

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Provas de democracia
03/10/2018

Segundo o grande pensador político francês Jean-François Revel, não existe


democracia em abstrato, existem apenas "provas de democracia".
Revel tem inteira razão. A democracia se define pelo que você faz, não pelo que você
diz. Não adianta fazer mil juras à democracia se você corrompe o Congresso com o
mensalão, se você usa a Petrobras como vaca leiteira do seu partido, se você usa o BNDES
para direcionar recursos aos seus amigos, se você cria todo um Mecanismo onde se conectam
e se interpenetram o crime organizado e o crime político, se você acha que o Brasil deve ser
regido por uma coligação PT-PCC, se você sustenta ditaduras horrorosas nos países da
região, se você planeja censurar as pessoas sob o conceito de "controle social da mídia".
Onde estão as provas de democracia de Haddad?
O PT somente continua a sustentar-se, pairando sobre os brasileiros como um
vampiro que se recusa a morrer, porque uma parte da sociedade – uma parte cada vez menor!
– continua adormecida no seu sono nominalista. Algumas pessoas, embora instruídas, vivem
numa névoa mental onde não há realidades, onde há somente palavras soltas. São as
"velhinhas de Taubaté" da esquerda, acreditando em tudo o que o PT diz, sem contestar,
fechando os olhos bem apertadinho para que não passe nada, nenhuma luz da realidade de
um país que se quer libertar do sistema de dominação e controle petista.
Abram os olhos! Não importa o que diga Haddad, não importa se ele chama o seu
programa de "socialismo" ou de "social-democracia", de "moderação" ou de "união", ou do
que quer que seja. O programa real do PT continua sendo o mesmo que sempre foi, por
baixo de qualquer título: corromper, controlar todas as alavancas do poder, trazer Lula de
volta para "nos governar", acabar com a Lava-Jato, reconstituir o eixo bolivariano na América
Latina e estabelecer a opressão do PT para sempre. O PT só dá provas de totalitarismo.
Nunca deu outra coisa e seu programa deixa claro que não pretende dar. Com que cara pode
falar de democracia?
Amigos, não sejam tão nominalistas a ponto de preferirem viver num regime totalitário
desde que ele se denomine "democracia", a viver em um regime democrático com um
governo decente, simplesmente porque a imprensa petista diz que Bolsonaro representa "um
risco de autoritarismo". A realidade é a seguinte: De um lado vocês têm o risco, ou melhor,
a certeza do autoritarismo com o PT. Do outro vocês têm apenas as palavras "risco de
autoritarismo", que não correspondem a qualquer elemento real, mas que foram enfiadas na
sua cabeça pela mídia, ignorando todas as provas de democracia que Bolsonaro já
proporcionou, principalmente sua luta incansável contra o projeto totalitário do PT, luta pela
qual quase deu a vida.
Examinem a realidade por um momento, em lugar de simplesmente repetirem as
palavras que aprenderam. Examinem a realidade, vocês vão gostar. "Conhecereis a verdade,
e a verdade vos libertará".

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O programa de Haddad subestima a inteligência dos brasileiros. O programa de
Haddad espera que os brasileiros deixem o PT instalar seu totalitarismo sem levantar um
dedo, simplesmente porque o PT agora se diz centrista ou democrático. Mas isso não
acontecerá. As prisões mentais do nominalismo estão sendo derrubadas e as pessoas estão
saindo para a liberdade. Ficam de pé as prisões reais, onde estão presos criminosos reais,
inclusive Lula com seu projeto de roubar aos brasileiros a democracia.

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Quem tem medo de fake News


10/10/2018

O conceito de fake news foi popularizado por Donald Trump no ciclo eleitoral norte-
americano de 2016, para denunciar o comportamento da grande mídia, que sempre trabalhou
contra sua candidatura e, há muitos anos, vinha mostrando imensa parcialidade em favor do
Partido Democrata nos EUA e empregando diferentes métodos para distorcer e manipular
informações, mais do que inventá-las. De fato, a grande imprensa, tanto nos EUA quando
no Brasil, vem-se especializando não tanto em mentir (embora às vezes minta), mas
sobretudo em omitir. Na seleção dos fatos reportados, bem como na escolha de adjetivos e
no tom utilizado, os órgãos do mainstream encontram sempre maneiras de criar mensagens
favoráveis aos candidatos e ao discurso da esquerda.
Veja-se por exemplo esta reportagem da agência Reuters sobre o ocorrido em agosto
último, em Pacaraima-RR: https://www.reuters.com/article/us-venezuela-brazil-
border/tense-calm-on-brazil-venezuelan-border-after-anti-immigrant-riot-
idUSKCN1L40LU Não parece haver ali nada falso no sentido estrito de invenção pura e
simples, mas reparem, entre outras coisas, que a matéria só ouviu opinião de venezuelanos,
nunca a dos brasileiros de Pacaraima. Quem dá voz apenas a um lado numa controvérsia não
está mentindo, mas está falseando e direcionando a realidade.
Isso é fake news. Fake news é o poder da grande mídia de selecionar e reorganizar os
fatos para induzir os leitores a uma certa reação pré-determinada. Quem é contra as fake
news, como Trump, quer limitar esse poder da única maneira possível: chamando a atenção
do público para sua existência e dando o máximo de liberdade para as fontes de informação
alternativa, capazes de reunir e apresentar os pedaços de fatos que a grande imprensa
recortou e jogou fora.
O problema é que a esquerda, como sempre faz, sequestrou um conceito bom e útil e
o perverteu para servir aos seus propósitos. (Sequestrar e perverter, eis o lema e a tática
principal da esquerda desde sempre: aplicaram-na aos conceitos de liberdade, igualdade,
justiça e tantos outros, hoje tentam desesperadamente sequestrar e perverter o conceito de
democracia.) A esquerda apoderou-se da expressão fake news e girou-a para o outro lado,
passando a utilizá-la para atacar justamente as fontes alternativas de informação (redes
sociais, Youtube, etc). "Cuidado com as fake News" passou a ser um pretexto para censurar
e calar as vozes que tentam trazer ao público aqueles enormes pedaços da realidade que a
grande mídia controlada pela esquerda desprezou, porque não correspondiam à narrativa que
ela quer promover.
Na internet é onde estão hoje as vozes da liberdade, e somente pela liberdade se chega
à verdade. A relação entre liberdade e verdade é íntima e profunda. A verdade liberta, e ao
mesmo tempo a liberdade abre o espaço desimpedido da verdade. "Conhecereis a verdade e
a verdade vos libertará", como diz o Evangelho de S. João.

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Não há nada mais democrático do que a internet e, por isso, o sistema dominante, em
sua ânsia de preservar a dominação de uma elite com seus órgãos de informação
administrada, se apavora. O sistema está louco para acabar com a liberdade de expressão na
internet em todo o mundo, e usa o pretexto de que, na internet, aparecem muitas notícias
falsas. De fato, aparecem. Porém, ao contrário do que pensa o sistema, as pessoas ainda
preservam alguma inteligência e, quando vêm a foto de um gatinho digitando #PTnuncamais
no computador, sabem que não foi o gatinho que realmente escreveu aquilo, mas sim a alma
do povo brasileiro (embora seja mais provável que um gato escreva algo que faça sentido do
que alguns pensadores de esquerda). Na internet há muitas notícias falsas, outras verdadeiras,
e a beleza da coisa é que o homem tem a capacidade de pesquisar, conversar, raciocinar e
finalmente distingui-las. Já na grande imprensa globalista, tudo é potencialmente falso,
porque tudo obedece a uma narrativa-mestra que visa à preservação e expansão do poder da
elite sobre as pessoas comuns. Hoje, as pepitas de verdade que às vezes brilham na grande
imprensa oficial precisam, antes de acreditarmos nelas e as comprarmos pelo que dizem valer,
ser averiguadas no maravilhoso bazar de pensamento e informação que constitui a internet
– e não o contrário. A grande imprensa é uma espécie de economia centralmente planificada
das ideias, enquanto a internet é um mercado livre das ideias, aberto ao espírito: ora, todos
sabemos que o mercado livre é muito mais eficiente do que a economia planificada na
precificação dos produtos, assim como também o é na aferição do valor-verdade contido nas
informações.
Cabe notar, aliás, que os movimentos conservadores, nacionalistas, populares,
espirituais de toda espécie começaram a se avolumar ao redor do mundo justamente quando
surgiram e se difundiram as redes sociais (Facebook lançado em 2004, Youtube em 2005,
Twitter em 2006). Faz menos de 15 que os indivíduos ganharam voz e que a grande mídia
perdeu o monopólio na produção da informação, e nesses escassos 15 anos já avançamos
milênios rumo à liberdade e à recuperação da verdadeira democracia em nações de todo o
mundo. Imagine-se o quanto mais poderemos avançar para romper o sistema de controle
psicossocial globalista se deixarem a internet continuar funcionando.
Claro que querem censurar a internet. Querem esmagar essa primavera da liberdade de
informação, da criatividade, do pensamento que vai-se reencontrando com suas fontes
profundas graças à comunicação aberta entre os seres humanos sem o intermediário da mídia
com suas agendas ocultas. O conluio de uma certa elite político-econômica com a mídia
manipuladora e a classe intelectual marxista não vê a hora de desligar o interruptor da internet
autêntica, sob o pretexto de combater as fake news, sob a desculpa incrivelmente cínica de
proteger a democracia. Já viram alguma ditadura que, ao reprimir a livre expressão de seus
súditos, não diga que os está protegendo da disseminação de notícias subversivas? Nenhuma
ditadura admite: "eu vou reprimir todo mundo porque eu quero que os meus opositores
calem a boca". A ditadura sempre diz: "eu vou combater essas notícias falsas que circulam
por aí – que horror! – dizendo que eu sou uma ditadura".
A coisa mais fake do mundo é quando o poder diz que vai combater as fake news para
defender a democracia. Não caia nessa. Acredite no vídeo que mostra um cachorro
traduzindo as peças de Shakespeare, mas não acredite que o sistema quer te censurar para te
proteger.

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Sequestrar e perverter
12/10/2018

A tática da esquerda consiste essencialmente no seguinte: sequestrar causas legítimas e


conceitos nobres e pervertê-los para servir ao seu projeto político de dominação total.
A causa ambiental é um bom exemplo. Quem pode ser contra a preservação da
natureza e a utilização responsável de seus recursos? A causa ambiental foi lançada pelos
escritores românticos do final do Século XVIII e começo do Sécuo XIX, um movimento
conservador por excelência, surgido em reação à irrupção da esquerda no mundo sob a forma
Revolução Francesa, cuja proposta era destruir a natureza – começando pela natureza
humana. Ao longo do tempo, entretanto, a esquerda sequestrou a causa ambiental e a
perverteu até chegar ao paroxismo, nos últimos 20 anos, com a ideologia da mudança
climática, o climatismo. O climatismo juntou alguns dados que sugeriam uma correlação do
aumento de temperaturas com o aumento da concentração de CO2 na atmosfera, ignorou
dados que sugeriam o contrário, e criou um dogma “científico” que ninguém mais pode
contestar sob pena de ser excomungado da boa sociedade – exatamente o contrário do
espírito científico.
Esse dogma vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados
sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas
populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas
democráticos e favorecer o crescimento da China. (Parte importante do projeto globalista é
transferir poder econômico do Ocidente para o regime chinês; parte fundamental do projeto
de Trump é interromper esse processo, o que já está ocorrendo.) O climatismo é basicamente
uma tática globalista de instilar o medo para obter mais poder. O climatismo diz: “Você aí,
você vai destruir o planeta. Sua única opção é me entregar tudo, me entregar a condução de
sua vida e do seu pensamento, sua liberdade e seus direitos indivuduais. Eu direi se você
pode andar de carro, se você pode acender a luz, se você pode ter filhos, em quem você pode
votar, o que pode ser ensinado nas escolas. Somente assim salvaremos o planeta. Se você
vier com questionamentos, com dados diferentes dos dados oficiais que eu controlo, eu te
chamarei de climate denier e te jogarei na masmorra intelectual. Valeu?”
O mesmo aconteceu com a causa dos direitos dos trabalhadores e a própria palavra
“trabalho”. As reivindicações justíssimas dos trabalhadores a partir do Século XIX, uma vez
sequestradas e pervertidas pela esquerda, vieram dar no PT, o “Partido dos Trabalhadores”.
O PT simplesmente não tem trabalhadores. Nenhum trabalhador de verdade, do tipo
pedreiro, encanador, eletricista, jamais foi visto sequer perto do PT. É um partido de
burocratas sindicais, agitadores de vários tipos, intelectuais marxistas ou sub-marxistas e seus
capachos na mídia e na classe artística. “Partido dos Trabalhadores”, portanto, é mais uma
designação orwelliana entre tantas outras utilizadas pela esquerda, tão falsa e oportunista
quanto a súbida mudança de cores da campanha de Haddad.
No Brasil, os trabalhadores de verdade, sequestrados pela esquerda, estão conseguindo
libertar-se do cativeiro e não se deixam mais perverter. Hoje temos no Brasil o embate entre,
de um lado, os trabalhadores, e do outro o “Partido dos Trabalhadores”.
De fato, o PT é tão “dos trabalhadores” quanto o coração de Haddad é verde e
amarelo. No momento isso parece óbvio, o novo marketing petista é uma jogada ridícula.
Porém, olhando toda a história da esquerda, essa mudança de cores deve preocupar-nos. Não

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deixemos que o PT faça com a nossa bandeira, com a nacionalidade, o mesmo que já fez
com o meio ambiente, com o trabalho e com tantas coisas: sequestrar e perverter.

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A Elbereth Gilthoniel
13/10/2018

O senador democrata americano Bernie Sanders (que na verdade não é registrado


como democrata, mas como independente, pois se declara socialista e quer ficar à esquerda
dos democratas, que atualmente já estão à esquerda de Che Guevara) declarou numa palestra,
segundo a FSP de 11/10, que “Jair Bolsonaro é um exemplo de demagogo que explora o
medo e o sofrimento das pessoas ‘para ganhar e manter o poder’."
O discurso oficial globalista contra os movimentos populares que estão contestando o
sistema em vários lugares do mundo caberia numa caixa de fósforos. São três ou quatro frases
que se repetem nas falas e artigos de centenas e centenas de analistas e políticos pertencentes
ao sistema. Nunca sai da mesma coisa. “Exploração do medo” é sempre um desses chavões
usados para “explicar” o avanço do antissistema, talvez o mais frequente, certamente o mais
condescendente em relação ao povo que vota contra o globalismo e o mais revelador da
essência do programa de dominação cujas muralhas de papel estamos derrubando.
Se há alguma coisa que os líderes como Bolsonaro e as pessoas que votam neles não
têm é medo. Todo o aparato ideológico e econômico do sistema bem-pensante está contra
eles. O governo, a escola, os jornais, todos os autoproclamados julgadores oficiais de caráter
como Roger Waters, toda a logosfera oficial os condenam, ofendem, desprezam, ameaçam e
até esfaqueiam. E mesmo assim, cada vez mais gente ao redor do mundo se engaja pela
nação, contra o projeto desumanizante da esquerda globalista. Cada vez mais gente pula fora
da caixinha de fósforos mental onde nos mantiveram por tanto tempo.
São pessoas que estudam, trabalham e se mobilizam por ideias e sentimentos que os
globalistas não são capazes de entender. Os globalistas como Sanders não entendem o amor
à pátria e então atribuem o nacionalismo ao único sentimento profundo que conhecem, o
medo. Só conseguem medir os outros pela sua própria régua interesseira e materialista. Com
seu nível intelectual paupérrimo, os globalistas só conseguem atribuir ao povo os sentimentos
mais primitivos e grosseiros. Acham que só quem foi à universidade e recebeu a doutrinação
globalista tem o direito de opinar. É a gente mais elitista que há, de um elitismo injustificável
porque não são elite por nada, certamente não pelo caráter nem pelo intelecto. São incapazes
de qualquer generosidade ou humildade. Só sabem falar de medo, medo, medo porque, como
os orcos de Tolkien, o medo é tudo o que têm, tudo o que os move. Medo, ódio a tudo e a
si mesmos, ganância, disso são feitas essas criaturas infelizes e raivosas.
A Elbereth Gilthoniel...
Quando o povo entoa o peã do espírito, tal como os hobbits (esses humildes heróis
de Tolkien, heróis da sinceridade e dos sentimentos puros), aí os orcos globalistas guincham
de ódio, desesperados na insignificância de suas almas de imitação. São criaturas que nada
têm de seu, apenas copiam os modelos que seus mestres feiticeiros lhes impuseram.
A Elbereth Gilthoniel,
O menel palan-diriel...

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No centro do Senhor dos Anéis, Tolkien (bom católico) colocou essa prece e grito de
guerra, uma espécie de Ave Maria fantasy, um apelo à inocência, à pureza, à transcendência
no momento da luta terrível contra os servos do mal.
...Le nallan sí, di’nguruthos
A tiro nin, Fanuilos.
Tradução: Ninguém aqui tem medo, Bernie Sanders.
Segundo a Folha, o caminho que você propõe é “criar um ‘forte movimento
progressista global’ que atenda às necessidades dos trabalhadores e que reconheça que os
problemas que o mundo enfrenta são fruto de um ‘status quo falido’.”
Olha só! Vocês querem criar agora um movimento progressista global? Mas quem
domina o mundo há quase trinta anos senão um movimento progressista global? Sim, os
problemas do mundo são fruto de um status quo falido, e você, Bernie Sanders, representa
esse status quo: o programa de poder socialista infiltrado no processo econômico globalizado.
Agora que vocês estão vendo que o povo detesta o globalismo querem fazer pose de
antiglobalistas? Agora vocês pensam nos trabalhadores? O “Partido dos Trabalhadores”,
cujo líder, Lula, você adora, teve o poder integral por 13 anos, parcialmente por mais 3, e
não fez nada pelos trabalhadores – tanto que os trabalhadores brasileiros estão votando em
massa em Bolsonaro. Você acha que eles o fazem por medo? Medo de quem? Eles o fazem
porque são pessoas inteligentes e capazes, que após 16 anos já não aguentam o status quo de
corrupção, manipulação e mediocridade. São pessoas confiantes, cheias de patriotismo,
esperança e sinceridade.
O status quo é você, Bernie Sanders.

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Maremoto ou Tsunami?
Artigo publicado por Ernesto Araújo em seu site.
13/10/2018

Por Gilsandra Clark

Nos dias anteriores às votações do primeiro turno, para justificar o que a imprensa
considerava um súbito crescimento das intenções de voto em Bolsonaro, começou-se a falar
em “onda conservadora”, afirmação impressionista, cujo único intuito parecia ser aquele de
justificar o porquê das pesquisas políticas não terem indicado dados mais acurados. “Foi a
onda!" " A onda veio muito rápido, e minhas pesquisas ficaram para trás!” E pior! Não foi
qualquer onda, mas uma onda com qualificativos: foi uma “onda conservadora”! Essa “onda
conservadora”, há de se imaginar, deve operar por mecânica ainda mais misteriosa,
inescrutável e imprevisível, do que uma onda qualquer.
Após a liberação dos resultados, ainda no domingo, já não se falava apenas em “onda”.
Agora, segundo a imprensa, e os resultados das urnas comprovavam, assistia-se a um
“tsunami”, única imagem que aparentava ser suficiente para definir a extensiva e
extraordinária materialização em votos do apoio ao capitão presidenciável e a seu
partido. Ocorre que “tsunami” já designa uma onda. Uma onda de grande magnitude,
usualmente causada por abalo sísmico, e que não se resume ao poético e normal fluxo e
refluxo do mar observado da praia. Bolsonaro sempre foi “tsunami”, desde o início da
campanha.

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O curioso é que, embora o candidato seja “tsunami”, nunca foi “maremoto”. E isso
porque as palavras são entidades que têm vida e evolução própria, estão submetidas a todo
tipo de influência social, cultural, religiosa e política, e, às vezes, também morrem. No mundo
de hoje, onde as informações e o contato com as mais diferentes nações estão à distância da
mais próxima conexão à Internet, os idiomas mesclam-se cada vez mais, em função do poder
de influência e da audiência de quem transmite a mensagem, ou por questões etimológicas
ou meramente estilísticas.
No caso do hoje esquecido “maremoto”, o vocábulo vive seus estertores desde o
trágico, mortal e devastador tsunami de 2004, quando a mídia adotou de forma unânime o
nome de origem japonesa, provavelmente porque boa parte das informações sobre a
calamidade chegavam via correspondentes internacionais. Num dia não muito distante, os
livros de história brasileiros não mais farão referência, por exemplo, ao “maremoto” que
atingiu Lisboa em 1755, com ondas estimadas em vinte metros de altura, mas sim ao
“tsunami” que arrasou Lisboa.
Ainda mais notável que esse processo direto de assimilação é a assunção de novos
significados para uma palavra, simplesmente por inexistir vocábulo pronto para exprimir
novidades radicais. Nesses casos, quando se depara com uma ocorrência única ou
surpreendente, há a tentação de fazer uso de conceitos ou eventos naturais, talvez por
considerar-se que acontecimentos singulares de grande repercussão normalmente só
encontram equivalência no mundo dos fenômenos físicos. Daí vêm a "onda" e o "tsunami"
de Bolsonaro.
Esse tipo de substituição, adaptação, ou mesmo a alteração de significado, não é
incomum. Sucedeu, por exemplo, em 1688, quando o Rei Jaime II da Inglaterra foi deposto
por parlamentares ingleses que entregaram o trono ao neerlandês Guilherme III, Príncipe de
Orange. Até aquele momento histórico, a palavra “revolução” era utilizada para referir-se às
revoluções das órbitas celestes, como definidas por Copérnico. O uso do vocábulo com
sentido político, como conhecemos hoje, emerge inequivocamente apenas com a Revolução
Gloriosa. Antes, revolta era o termo utilizado, e mesmo a insurreição puritana que culminou
na execução de Carlos I, na Inglaterra, foi conceituada com Guerra Civil, não revolução. O
nome “revolução” seria consolidado nessa nova acepção, pouco menos de um século depois,
desta vez na França, quando Luís XVI, ao ser despertado e informado sobre a tomada da
Bastilha, pergunta a La Rochefoucauld-Lancourt, seu camareiro-mor: “Mais c’est une
révolte?” E responde La Rochefoucauld: “ Non, Sire, c’est une révolution!” *
Ao longo do século XIX, o marxismo tratará de apropriar-se do termo e de definir o
que é ou não uma revolução. A Revolução Gloriosa, por exemplo, e segundo os ideólogos
comunistas, não seria uma revolução estritamente falando porque não houve mudança de
propriedade dos meios de produção. Haveria ainda uma segunda razão, similarmente grave,
para que não se usasse a palavra revolução: a característica não violenta desse evento,
inclusive por vezes chamado de “revolução sem sangue”, o que, do ponto de vista tradicional
marxista, chega a ser uma contradição em termos. “Sem sangue? Como assim sem sangue?”
Pois é. Sem sangue. Em resumo, os marxistas não creem que uma revolução seja possível
sem luta armada ou sem que se tenha atingido a hegemonia de pensamento, nos termos
definidos por Gramsci.
Curiosamente, no entanto, a força do indivíduo, dos fatos singulares e das
mentalidades, elementos desprezados pela historiografia materialista, teima em provocar
mudanças radicais e imprevistas. Exceto aqueles que insistem em manter os olhos fechados,
os demais assistem, sim, a uma verdadeira revolução, entendida como uma mudança única
que poderá levar à irreversível criação de uma ordem política fundamentalmente nova. Há
décadas, ou desde sempre, fala-se que nada vai mudar, que o povo nunca vai se mobilizar

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por questões políticas fundamentais, que nunca será possível alterar significativamente a
composição do Congresso, que jamais nos livraremos dos velhos coronéis, que é impossível
fazer campanha política sem muito dinheiro, sem arranjos espúrios, sem realizar concessões
e sem abrir mão de propostas e de princípios morais e éticos. Infelizmente, para os céticos,
a verdade não é meramente uma questão política. Negar o senso comum, negar os fatos,
negar a força do indivíduo? Nenhum regime foi capaz de atingir integralmente esse glorioso
ápice de aniquilação da vontade e do espírito humano.
Muitas vezes mantemos aspirações por mudanças, superação e melhorias para todos,
mas num ambiente eticamente e ideologicamente conturbado como o Brasil, esse tipo de
ideal tornou-se alvo de desconfiança ou zombaria. Até que a vontade de mudança finalmente
encontre espaço para se disseminar, e o senso comum prevaleça, pode ser gerado um
movimento irrefreável, como o que assistimos nos últimos meses e semanas. Essa
mobilização traz a possibilidade de transformações políticas, econômicas e sociais radicais, a
possibilidade de finalmente superar a visão do Brasil como mera colônia de exploração, a
possibilidade de que cada um possa exprimir diferença e pensamento, sem que todos
precisem abrir mão das liberdades civis. Este é o momento que vive o Brasil, o momento da
vitória do senso comum. Perdoem-me os marxistas, mas o movimento que Bolsonaro
representa não é “onda”, nem “maremoto”. É revolução.
* ARENDT, Hanna - Da Revolução , Ed. Ática/UnB, 2a edição, São Paulo, 1990

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Nascer
14/10/2018

A esquerda (de modo muito claro no Brasil, mas também em outras partes) sabe que
está perdendo a luta no terreno político-econômico, devido à sua opção preferencial pela
corrupção e à sua incompetência na gestão pública. Diante disso, tenta levar o debate para o
terreno da metapolítica e se concentra na pauta do aborto, da "laicidade", da diversidade, da
ideologia de gênero, da racialização da sociedade, da imigração irrestrita.
Todas essas bandeiras se conjugam sob o conceito do antinatalismo. A esquerda se
define, hoje, como a corrente política que quer fazer tudo para que as pessoas não nasçam.
Aborto, criminalização do desejo do homem pela mulher, contestação do "patriarcado" e da
diferenciação entre os sexos, desmerecimento da reprodução, sexualização das crianças e
dessexualização ou androginização dos adultos, demonização de qualquer defesa da família
ou do direito à vida do feto como "fundamentalismo religioso", desvalorização da capacidade
gestativa da mulher, tudo isso aponta num único sentido: não nascer. É triste, é difícil de
entender, mas não há como não enxergar essa mensagem e objetivo no programa da
esquerda.
Já o racialismo – isto é, a divisão forçada da sociedade em raças antagônicas – e o
imigracionismo irrestrito convergem para um antinacionalismo completo. O parentesco
etimológico entre nascimento (de nasco, nascis, natum) e nação (de natio, nationis) corresponde
a um parentesco lógico e sentimental. Nação é uma comunidade de nascimento, um corpo
de pessoas nascidas em certo espaço cultural e físico – mais cultural do que físico – e que se
ligam através de seus ancestrais também nascidos naquele espaço, bem como aos seus
descendentes por nascer, o que proporciona ao conceito um sentido de continuidade no
tempo. Existe uma profunda relação natural (de natura, evidentemente também proveniente
da mesma raiz nat-) entre o nascimento, fato central na estruturação de uma família, e a nação,

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uma espécie de família estendida. Isto não implica negar que pessoas nascidas em outro
espaço cultural e físico possam incorporar-se a uma determinada nação, mas para tanto é
preciso que essa nação exista e possua a autoconvicção de sua existência de maneira a
absorver os que nela ingressam – tanto assim que o ato de incorporar um estrangeiro à sua
nação se chama ainda "naturalização", o que significa "tornar conforme à natureza", ou
digamos "imitar a natureza, reproduzir a natureza", quase como se a pessoa nascida em outro
espaço que deseje incorporar-se a uma nova nação tivesse de passar por um novo nascimento
ao "naturalizar-se". De tal maneira, não surpreende que uma esquerda antinatalista seja
também antinacionalista. Quem é contra o nascimento não quer uma comunidade definida
pelo nascimento, não quer nenhum sentimento de destino comum, mas apenas pessoas
estranhas que convivem por acaso sem nenhum laço entre cada uma delas e o grupo, e cada
vez menos laços delas próprias entre si.
Não esqueçamos que o Deus da fé cristã é fundamentalmente um Deus que nasce, que
se incarna em homem, tal como celebramos todos os anos no Natal (de natalis, sempre a raiz
nat-), e que ressuscita, ou seja, renasce. Não é um Deus absconditus ou um princípio cósmico.
Em sua essência o cristianismo não celebra a justiça ou a igualdade, celebra um nascimento
(a incarnação, no Natal) e um renascimento (a ressurreição, na Páscoa). Desse modo, o
antinatalismo e o antinacionalismo da esquerda se manifestam igualmente num antiteísmo
que não é tanto a negação do divino, mas especificamente a negação do Deus da fé cristã e
de Jesus Cristo, ex Patre natum ante omnia saecula.
Assim, em lugar dos tradicionais lemas conservadores do tipo "Deus, Família e Pátria"
a esquerda globalista coloca: "Nada, Nada e Nada". Se pelo menos fosse em nome da
liberdade, ainda se poderia ver algum valor rebelde e contestador nessas posições – mas a
esquerda já não fala em liberdade, pois a liberdade pressuporia a faculdade das pessoas de
afirmarem ou negarem Deus, a família e a pátria. Essa tripla negação constitui um programa
de domínio, repressão e imposição. Para implementar seu "Nada, nada e nada" a esquerda
necessita (ainda) do aparato coercitivo explícito do Estado, ao lado do aparato implícito da
moral introjetada em cada um. Todos os "direitos" que conformam a agenda da tripla
negação não são direitos, mas apenas obrigações de que alguém faça ou deixe de fazer alguma
coisa, até o caso extremo, em que o "direito" da mãe sobre a vida do feto implica a exclusão
de qualquer direito para esse ser humano em gestação, principalmente o direito à vida (um
enorme retrocesso civilizacional, pois os direitos do nascituro já eram reconhecidos no
direito romano).
Eles querem uma sociedade onde ninguém nasça, nenhum bebê, muito menos o
menino Jesus. Pergunto inclusive se o sadismo abortista da esquerda não provém de uma
pretensão niilista de, em cada bebê, estar matando o Cristo antes de nascer.
(E depois aqueles que rejeitam uma sociedade assim são chamados de obscurantistas!)
Por tudo isso, não basta combater a esquerda no terreno político, é preciso levar o
enfrentamento à metapolítica e mostrar a irresponsabilidade da esquerda e sua má-fé na
concepção ruinosa que tem do ser humano e de seu destino.
Obs.: A imagem é a tapeçaria Adoration of the Magi, de Edward Burne-Jones.

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A Nação está voltando


16/10/2018

Estado não se confunde com Nação.


Reduzir ou diluir a Nação no Estado é talvez o grande problema da vida política pós-
moderna em que estamos imersos.
Essa diluição ou subordinação da Nação ao Estado ganhou inclusive uma dimensão
gráfica, com o hábito de escrever "Estado" com maiúscula e "nação" com minúscula. Não
há razão para elevar assim o Estado a uma categoria semelhante a Deus, também escrito com
maiúscula embora não seja um nome próprio (se bem que podemos discutir longamente se
"Deus” é o nome de Deus, se Deus é um indivíduo ou um gênero, se a palavra "Deus"
significa o mesmo para um cristão ou para as pessoas de outras fés, etc.)
De fato, não há por que endeusar o Estado e deixar a nação lá pobrezinha com sua
inicial minúscula. Se um dos dois merecesse maiúscula, seria antes a Nação do que o estado.
Entretanto, para preservar o paralelismo e facilitar a confrontação dos dois conceitos,
podemos manter aqui a grafia "Estado", porém guindando a Nação ao mesmo patamar
maiúsculo.
No mundo sempre houve Nações e sempre houve Estados, mas durante milênios
ninguém parece haver-se preocupado muito em distingui-los porque a distinção era mais ou
menos óbvia (na medida em que algo pode ser óbvio nos negócios humanos). Nação era um
povo que se sentia povo, um sujeito histórico frente a outros sujeitos históricos, diferente
dos demais povos.
Estado era a organização política de uma autoridade soberana que governava um povo,
ou vários povos, ou parte de um povo e parte do outro. Não havia uma relação necessária
entre um Estado e uma Nação. Sabemos que (pelo menos segundo a historiografia corrente)
essa relação biunívoca somente começou a afirmar-se no Século XVII e demorou ainda
bastante tempo para universalizar-se, até completar a volta ao mundo no Século XX, quando
se tornou inquestionável que cada Estado corresponde a uma Nação e cada Nação a um
Estado. O famoso Estado-Nação, claro.
O problema é que o conceito e a prática do Estado-Nação passaram a funcionar
unicamente a favor do Estado e contra a Nação.
É como se os dois tivessem formado uma sociedade com 50% cada um, mas em
algumas décadas o Estado passou a perna na Nação e ficou com o controle integral. O Estado
usurpou a Nação. O Estado deveria ser para promover e proteger os interesses da Nação,
mas há muito já não se limita a esse papel. O Estado tentou açambarcar a Nação. Para o
Estado a Nação se tornou um incômodo, uma espécie de peso morto, uma avó meio louca
que o Estado ainda sustenta a contragosto, trancafiada no sótão entre quadros de velhas
batalhas e crônicas empoeiradas de reis esquecidos, à qual o Estado presta homenagem
apenas no discurso (a palavra "Nação" tornou-se uma mera figura de retórica, um jeito mais
rebuscado de dizer "país", numa esfera semântica onde todo mundo sabe que quem manda
mesmo é o Estado), mas à qual jamais presta ouvidos.
Na prática, o Estado já ficou com tudo. Aquilo que era a Nação virou a "sociedade
civil", como uma espécie de concessão do Estado para poder dizer que ele não esgota a
realidade. "Sociedade civil" é a forma pasteurizada, domesticada da Nação. É como o estado
chama a Nação, para circunscrevê-la ao seu lugar subserviente. Nenhum povo se chama a si

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mesmo de "sociedade civil", ninguém abre os olhos de manhã pensando "vou lutar pela
minha sociedade civil".
O Estado se adonou do prestígio da palavra Nação e tudo o que ela evoca. A entidade
criada para garantir a paz mundial se chamou ainda a Organização das Nações Unidas. Se
fosse hoje, talvez não lhe dessem esse nome, não precisariam mais do prestígio e brilho que
a Nação conserva. A Nação era uma espécie de padrão-ouro da política, uma realidade
concreta, historicamente enraizada, incorruptível como o ouro, contra a qual se media o
Estado, papel-moeda que só valia porque se sabia que atrás havia a Nação pulsante. A partir
de algum momento, ficamos só com o papel-moeda, só com o Estado, circulando num
oceano de valores abstratos, onde ninguém mais procura saber se algo real e firme está por
trás.
A Nação vivia no coração dos homens, o Estado vive somente em suas cabeças.
O desaparecimento quase completo da Nação e o triunfo do Estado, eis a história dos
últimos 70 anos.
Mas o Estado não se deu tão bem assim. O ápice de seu triunfo coincidiu com o início
de sua obsolescência. Ao instalar-se a globalização dos anos 90, os programadores do sistema
(não sei se eles existem enquanto indivíduos, ou se o sistema se autoprograma) refletiram e
disseram: "Bom, já acabamos com a Nação. Será que precisamos ainda do Estado?" Ali, a
globalização econômica, que ansiava pelo fim de quaisquer barreiras, inclusive estatais, à livre
alocação mundial de recursos, convergiu com o velho objetivo marxista de empurrar o
mundo para o último estágio da "evolução" da humanidade, o comunismo, definido como a
sociedade sem Estado. Imagine there's no countries: essa canção assombrosa de John Lennon
tanto pode ser o hino da hiperglobalização econômica quanto o hino do marxismo em seu
"sonho" comunista.
O globalismo tinha planos de acabar também com o Estado, após dar cabo da Nação.
Não por acaso ou por implicância. É que o Estado ainda guarda, em alguma gaveta, uma
cartinha ou um broche de sua avó maluca, a Nação. O Estado ainda tem uma pequena fresta
aberta para o sentimento nacional. O Estado tem um quê de poder transcendental, dele ainda
emana algo de uma dimensão que vai além da coerção e taxação, o Estado ainda faz as
pessoas acreditarem em algo além do próprio Estado – do contrário não se sustentaria.
O globalismo surgiu quando alguém entendeu que o consumismo era o melhor
caminho para o comunismo. Quando o objetivo de um mundo sem quaisquer fronteiras para
o comércio e os investimentos tornou-se o projeto de um mundo sem quaisquer fronteiras
ponto, um mundo onde desapareceria o Estado e se instalaria o totalitarismo mais completo,
o totalitarismo que teria destruído até mesmo o poder estatal, frágil fio de Ariadne que ainda
ligava a humanidade à transcendência.
Pois essa marcha da desumanização está parando. Surgiu uma força que a detém. Essa
força não é outra senão a Nação. A velha Nação desceu do sótão, rejuvenescida, quando
ninguém mais esperava, e está rompendo o sistema redondinho do globalismo pós-nacional
e pós-estatal. A Nação devolve a esperança de uma humanidade autêntica, conectada consigo
mesma, livre do materialismo primário, livre do nominalismo exterminador do pensamento.
De quebra, a Nação pode salvar também o Estado da irrelevância a que o globalismo
o destinava, se o Estado conseguir voltar a ser o defensor fiel da Nação.
A história não acabou, como queriam os globalistas de toda estirpe. A Nação, e com
ela a história, está voltando.

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Pelo diálogo
19/10/2018

Em setembro de 2014, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York,
a então presidenta Dilma Rousseff, numa entrevista coletiva de imprensa, teria sugerido que
o diálogo era o caminho para enfrentar o Estado Islâmico (que nesse momento estava no
auge de seu poder, dominando amplos territórios na Síria e no Iraque e decapitando
adoidado).
Assisti agora ao vídeo da entrevista para refrescar a memória e verificar exatamente o
que a presidenta afirmou. Devido às conhecidas peculiaridades do seu estilo de expressão, é
impossível depreender da sua fala se ela defendeu ou não o diálogo com o ISIS. A imprensa
entendeu que sim. No dia seguinte, a presidenta e sua equipe saíram a campo para sustentar
que não. Ambas as interpretações são plausíveis.
Mas não importa. O importante é que uma enorme controvérsia nasceu em torno da
ideia de manter diálogo com uma entidade terrorista. O escândalo que a interpretação da
imprensa causou e a reação indignada e furiosa com que essa interpretação foi negada
mostram que um nervo ali foi tocado. A meu ver o problema nasceu do abuso da palavra
"diálogo" no discurso diplomático mundial, principalmente brasileiro, levando a presidenta
a pensar que "diálogo" é a resposta automática para qualquer situação, convencida de que,
quando você diz "diálogo", nunca erra. No caso, errou. É difícil imaginar uma situação onde
pronunciar "diálogo" num ambiente diplomático pudesse causar controvérsia, mas a
presidenta a encontrou.
O "diálogo" é um dos tantos conceitos que, nesta pós-modernidade, virou um
hiperconceito nominalista, uma simples palavra desprovida de praticamente contato com a
realidade. A ideia de um "diálogo" com os decapitadores do ISIS causou repulsa indizível
justamente porque ainda havia um último fio a ligar a palavra a alguma coisa real, no caso
uma realidade tão ofensiva que foi capaz de despertar por um minuto o bom-senso em
extinção da imprensa mainstream.
Estamos esquecendo o que significa diálogo, como estamos esquecendo o que
significam liberdade, igualdade, democracia, diversidade e muitos outros conceitos que o
sistema de despensamento globalista arranca ao mundo real, onde palavras e coisas se
confrontam num jogo complexo chamado linguagem humana, para enfiá-los num éter de
falso moralismo inquestionável.
Para o sistema, não é preciso discutir o que seja democracia, todo mundo sabe o que
significa: significa o que quer que a os administradores do discurso globalista queiram que
signifique, de acordo com sua conveniência do momento. Antes, "democracia" significava a
vontade da maioria expressa nas urnas. Mas aí, quando a esquerda começou a perder nas
urnas, "democracia" passou a significar outra coisa, democracia agora é a ordem liberal
internacional, o Acordo de Paris sobre a mudança do clima, etc.
Quando as palavras deixam de estar sujeitas ao teste da realidade, aqueles que detêm o
poder sobre a produção do discurso passam a arbitrar seu significado. A bênção da internet
é que o poder globalista perdeu o monopólio sobre a produção do discurso e as pessoas
podem voltar a discutir livremente, podem comparar palavras e coisas: isso o é o que significa
"diálogo".

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O diálogo depende do logos. Exige uma disposição sincera de estudar a realidade à luz
da palavra, e vice-versa. Diálogo não é simplesmente um sinônimo para conversação, diálogo
significa etimologicamente "através do logos", é um caminho através do logos e pelo logos.
O diálogo assim entendido está na origem e essência do pensamento ocidental. Que
eram os diálogos platônicos? Exercícios de exploração verbal, nos quais pessoas de boa-fé,
conduzidas por Sócrates, procuravam chegar ao sentido íntimo e completo das palavras, para
poder pensar a realidade. O diálogo busca encontrar um mundo que não seja regido pelas
palavras inquestionáveis, palavras "que todo o mundo sabe o que significam", ou que
significam aquilo que os poderosos querem em cada momento. Ou seja, o diálogo busca o
oposto do que almejam os nominalistas-globalistas.
Precisamos de muito mais diálogo para chegar a um entendimento sereno e produtivo
do que seja democracia, igualdade, liberdade, diversidade e tantos outros conceitos.
Parece haver aí, entretanto, um problema de circularidade. Precisamos do diálogo para
encontrar o significado correto e profundo da palavra "diálogo". Só temos palavras para falar
de outras palavras em sua relação com a realidade, e se não temos certeza sobre o que as
palavras significam, como chegar a terra firme?
Pela luz do espírito. Sem a luz do espírito estaríamos perdidos num labirinto de
palavras. Somente a luz do espírito transforma a mera vibração sonora, base física da palavra,
numa percepção do transcendente, passando "através do logos", ou seja, instituindo o
diálogo.
Por isso o logos (que não é um conjunto de regras abstratas de pensamento, mas algo
vivo) está intimamente associado à luz. Diz o Evangelho de S. João, em 1:4: "Nele [no logos]
estava a vida, e a vida era a luz dos homens."
A luz é a vida do logos. O logos vive e por isso ilumina. Onde há logos, há luz, o logos é
a linguagem ao incorporar a luz não-criada e tornar-se guia do ser humano. As palavras não
estão aí para perder-nos, para assujeitar-nos, para determinar como devemos pensar, para
obscurecer a realidade atrás de objetivos políticos, mas justamente o contrário, para libertar-
nos e capacitar-nos a entender a nós mesmos e ao mundo.
Essa luz é o que nos permite saber que, quando o PT diz que a Venezuela é uma
democracia, está mentindo. Sem a luz ficaríamos perdidos num complexo sistema de
definições arbitrárias, manipulações semânticas e condicionamentos ideológicos, num
oceano de palavras sem lastro real, numa ciranda de distorções, até acreditar nas falcatruas
socialistas.
Diz Cecilia Meirelles, no Romanceiro da Inconfidência: "Liberdade, essa palavra... que não
há ninguém que explique, que não há quem não entenda." Poderíamos discutir durante
séculos o conceito de liberdade e montar toda uma estrutura verbal mostrando que o
comunismo é liberdade. Mas quando a luz do espírito penetra, você imediatamente entende
o que é liberdade, desabam milhões de páginas de teoria marxista, e a verdade se revela. O
homem tem no seu íntimo a capacidade de entender o mundo através das palavras, através
do logos (diálogo), não por causa das palavras em si mesmas, mas graças à luz que as penetra.
Dialogar é vivenciar o poder do logos, e não exercer poder sobre o logos pela
manipulação nominalista dos conceitos. Quando a luz do espírito abandona a palavra – e
esse obscurecimento é o sonho globalista – perdemos tudo e viramos escravos da grande
máquina de construção de frases-feitas em que se tornou o discurso oficial do mainstream, um
sistema que não permite discutir nada, um sistema que prega o "diálogo" com as ditaduras,
mas não aceita dialogar com seus próprios concidadãos, chamando-os a todos de fascistas

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quando o que eles querem simplesmente é recuperar o sentido profundo e puro de conceitos
como liberdade e pátria.
No sistema dominante não há diálogo. Seus adeptos – coisa mais triste – não dialogam
nem consigo mesmos. A luz tenta penetrar em suas mentes, valendo-se dos instrumentos
mais inusitados, como um discurso de Cid Gomes. Porém, como diz ainda o Evangelho de
João: "a luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a compreenderam" (1:5).

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Eu vim de graça
20/10/2018

Não há nada que o PT odeie tanto quanto a liberdade: liberdade econômica, liberdade
de pensamento, liberdade de expressão.
Isso porque o PT, fiel ao “belo ideal socialista”, odeia o ser humano.
Deixado a si mesmo, o ser humano cria e produz, ama e constrói, trabalha e confia,
realiza-se e projeta-se para a frente.
Então não pode. O PT (que aqui significa não apenas “Partido dos Trabalhadores”,
mas também Projeto Totalitário ou Programa da Tirania) não pode deixar o ser humano a si
mesmo.
Como você faz isso? Culpando. Criminalizando tudo o que é bom, espontâneo, natural
e puro. Criminalizando a família sob a acusação de violência patriarcal. Criminalizando a
propriedade privada. Criminalizando o sexo e a reprodução, dizendo que todo ato
heterossexual é estupro e todo bebê é um risco para o planeta porque aumentará as emissões
de carbono. Criminalizando a fé em Deus. Criminalizando o bom-humor e a piada.
Criminalizando o orgulho de pertencer a um grupo. Criminalizando o patriotismo.
Criminalizando a biologia ao proibir que se diga que uma pessoa nasce homem ou mulher.
Criminalizando a competição (“esporte é uma coisa fascista”, ouvi dizer certa vez a uma
colega esquerdista). Criminalizando a carne vermelha. Criminalizando o ar condicionado.
Criminalizando a beleza. Criminalizando todos os pensadores ocidentais desde
Anaximandro. Criminalizando a história e seus heróis. Criminalizando os filmes da Disney.
Criminalizando o amor aos filhos e aos ancestrais. Criminalizando o petróleo ou qualquer
energia eficiente e barata. Criminalizando a existência do ser humano sobre a terra.
Criminalizando a justiça para proteger os corruptos.
A única coisa que o Projeto Totalitário não criminaliza é o próprio crime e os próprios
criminosos. Ou seja, o PT criminaliza tudo, menos a si mesmo.
Agora querem criminalizar o Whatsapp.
Era de se esperar, não era? Esse mecanismo maravilhoso de liberdade de expressão
não poderia passar incólume frente ao projeto. O Whatsapp está ajudando Bolsonaro não
porque empresas comprem pacotes de mensagens, mas porque o Whatsapp é um
instrumento estupendo para liberdade de expressão, e a liberdade de expressão favorece
Bolsonaro por uma margem de 100 a zero. Deixado a si mesmo e à sua liberdade de pensar,
de falar e comunicar-se, inclusive através do Whatsapp, o eleitor brasileiro, como qualquer
ser humano, toma o rumo do bem.
Eu vim de graça. Esse é o lema não só dos eleitores de Bolsonaro, mas de toda a
humanidade livre e soberana. O ser humano veio de graça, não veio para ser escravo de

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ninguém, Deus o criou para a liberdade. O PT mede tudo pela sua régua infame, e assim
acha que todo apoio é comprado, que toda paixão é interesseira, que todo sentimento é fruto
do medo. O PT não entende a liberdade nem a humanidade, ou melhor, entende-os como
um vírus entende o corpo saudável que quer destruir.
O ideal do PT (já expresso por alguns ecologistas radicais) é que a espécie humana não
existisse. Já que existe, ainda, vamos fazer dela o pior possível, para que a humanidade se
odeie tanto a ponto de um dia cometer suicídio. Sim, o Projeto Totalitário, do qual o “Partido
dos Trabalhadores” faz parte integralmente até a medula dos seus ossos e até o fundo do
buraco que tem no lugar do coração, é levar a humanidade ao suicídio. Para isso precisa
destruir a alegria de viver, que depende da liberdade. Censurar o Whatsapp é mais uma
tentativa.

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Todo o poder emana


24/10/2018

Nunca é demais lembrar o que diz o Artigo 1º, parágrafo único, da Constituição
Federal:
“Todo o poder emana do povo.”
Em todos os 114 artigos, milhares de parágrafos e incisos da Constituição, esse é
provavelmente o único trecho metafísico, certamente o único trecho metapolítico, o único
que alude a uma realidade mais completa e transcendente, portanto o mais importante.
Ao longo de toda a Constituição, essa é a única frase que efetivamente constitui. A
única frase inspirada e a única que inspira. Não que o resto não importe, mas todo o resto
daqui decorre.
O parágrafo inteiro diz: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” É lícito interpretar
que qualificativo “nos termos desta Constituição” se refere ao verbo “exercer”, e não ao
verbo “emanar”. O exercício do poder pelo povo é disciplinado pelos termos da
Constituição, mas a emanação que, a partir do povo, constitui o poder, não se subordina a
qualificação alguma. Se a emanção do poder a partir do povo se subordinasse aos termos da
Constituição, teríamos uma estrutura circular e autonegativa ao infinito, pois teríamos uma
Constituição dizendo que o poder provém do povo mas colocando-se acima desse poder
para regulamentá-lo. Teríamos uma Constituição constituindo a si mesma. Mas não. O povo
constitui, não é constituído. Do povo o poder emana permanentemente para constituir o
Estado democrático de direito, tal como o caput do artigo define a República. Os termos da
Constituição regulam o seu exercício, mas a Constituição não se substitui ao povo como
poder constituinte.
O povo se sujeita às regras da Constituição que disciplinam o exercício do seu poder,
mas ao mesmo tempo povo é algo externo à Constituição, que lhe dá sentido e lhe assopra
vida, algo sem o qual o texto da Constituição não passaria de um sistema fechado e
tautológico. “Todo o poder emana do povo” é a porta que a Constituição deixa aberta para
aquilo que está além dela.
Duas entidades misteriosas aqui são nomeadas. O povo e o poder. Ligadas por um
verbo ainda mais misterioso, quase místico, emanar.

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O povo não é um conceito óbvio, longe disso. Trata-se de uma sofisticada criação do
espírito em conexão com a realidade bruta, a qual mostra apenas uma certa quantidade de
indivíduos. O povo não é apenas o coletivo dos indivíduos, mas uma personalidade, uma
pessoa, algo invisível, que existe no plano superior dos universais, esse plano que a esquerda
em seu nominalismo ignora e, principalmente, quer obrigar-nos a ignorar. Somente no plano
transcendente o povo possui uma unidade, pois no plano imanente é claro que as diferenças
entre milhões de indivíduos não se conjugam em uma unidade descritível.
O poder igualmente – como qualquer conceito autêntico – remete para a dimensão
das ideias e faz a ponte entre a vida humana e a vida divina, ou, para aqueles que não creem
num Deus pessoal, a vida cósmica (embora a meu ver o divino não devesse de forma alguma
confundir-se com o cósmico no sentido estrito, pois o universo por maior que seja está no
nosso mesmo plano, de tal modo que numa viagem à mais distante galáxia não há
transcendência nenhuma, a transcendência que entretanto se encontra em um despretensioso
momento de fé, ou em Rilke; mas em nossa cultura, que tem tanta dificuldade em falar de
Deus, usamos “o universo” ou “essa coisa cósmica” para nos referir de maneira mais ou
menos metafórica e politicamente admissível ao Deus ineffabilis, que entretanto os crentes mais
humildes nomeiam sem o menor problema e sem a menor cerimônia). Conhecemos atos de
poder, mas para nomear o poder como um ente único necessitamos de um esforço de
abstração do tipo que a pós-modernidade cada vez mais detesta. Nossa cultura só enxerga
coisas individuais, pessoas individuais, ações específicas e repugna o conceito porque no
conceitual passa o vento do transcendental, que aprendemos a temer como a peste. (Muitos
pensam que foi uma evolução natural, eu ao contrário acho que houve um esforço
deliberado, a partir do Século XVIII, de reduzir o pensamento à indicação tautológica dos
particulares, deixando definhar os universais, como estratégia de apagar a centelha divina no
coração humano – mas quem sou eu para saber alguma coisa?)
O povo, o poder. Este emana daquele, como os seres criados emanam de Deus, em
gerações sucessivas, cada vez menos perfeitas, segundo os textos gnósticos, ou como os
sefiroth, as emanações, que se sucedem e se entrelaçam conforme descrito na cabala para
formar a árvore da vida. Sim, quem diria que a Constituição de 1988 tem seu momento
cabalístico ou neoplatônico? Mas tem. O texto poderia dizer, por exemplo, que o poder
provém do povo, mas escolheu “emanar”, conscientemente ou não, quebrando a esfera do
direito e abrindo a da filosofia e da especulação mística.
Reparemos também que esse parágrafo único diz “todo o poder”. Não fala ainda dos
três poderes, que o texto mencionará logo em seguida (aliás um número que podemos
suspeitar de misticismo e que remete à estrutura ternária da realidade). Nesse ponto ainda é
o poder indiferenciado, concentrado. Todo o poder emana do povo. Isso significa tanto
“qualquer poder emana do povo” quanto “o poder em sua inteireza emana do povo”. Em
qualquer caso, lendo o parágrafo único do Artigo 1º em conjunção com o caput do Artigo
2º que se segue, faz-se claro que todos os três poderes emanam do povo – ou, talvez melhor,
os três poderes emanam do poder único indiviso que emana do povo, e desses três poderes
emanarão, ao longo do restante da Constituição, atos e obrigações, novas emanações, que
todas remetem à emanação original, a emanação do poder a partir do povo. Faz-se claro que
não só os poderes Executivo e Legilsativo claramente emanam do povo, por serem eleitos,
como também o poder Judiciário emana do povo, o que é um pouco mais difícil de visualizar.
De fato, o poder Judiciário, sendo poder, possuindo em suas mãos o poder, não pode senão
emanar da mesma fonte que os outros dois poderes. O poder do poder Judiciário não emana
de si mesmo, nem do direito, nem dos outros dois poderes, mas, em última instância, do
povo. O fato de caber-lhe o papel de intérprete da Constituição e das leis a ela subordinadas
não coloca o Judiciário acima da Constituição, muito menos acima do povo.

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Não apenas do povo emana todo o poder, mas o povo o exerce. Nos termos da
Constituição, bem entendido. Mas o exerce. Ou seja, o povo não se retira para o éter jurídico
depois de gerar o poder por emanação, mas permanece presente, exercendo-o direta ou
indiretamente. Sempre me perguntei o que significa o povo exercer o poder diretamente.
Plebiscitos, eleições? Certamente. Porém quem acompanha e vive o Brasil desde 2015 sabe,
ou ao menos intui, que não é simplesmente isso. O povo vem exercendo seu poder, de forma
direta – de forma pacífica mas apaixonada – e vem criando uma nova realidade política,
dentro da Constituição evidentemente, usando essa imensa avenida que a Constituição lhe
deixou aberta no Artigo 1º, parágrafo único. O povo vem criando um novo Brasil. Já criou
ao menos a imagem de um novo Brasil – um Brasil sem PT, sem crime, sem falsidade – e
agora se prepara para alcançar essa imagem, para tocá-la e começar a vivê-la.
A angústia destes momentos em que a ideia de um novo e verdadeiro Brasil já é tão
inebriantemente próxima mas a mão ainda não a toca, este contar de dias e horas e minutos
para concretizar um sonho que vem do fundo das eras, esta sensação de ver logo ali a terra
prometida mas ainda não poder pisar nela, este momento é terrível e puxa todas as fibras da
alma. Em cada segundo revivemos uma década, em cada minuto um século de frustrações e
esperança dolorida. Mas é preciso suportar e perseverar, contra as forças maléficas que nos
atalham, tentando empurrar-nos de volta ao turbilhão de roubo, mentira e pobreza.
Do povo está emanando o poder de realizar o verdadeiro Brasil.
Ninguém disse que ia ser fácil. Nestas últimas voltas do ponteiro precisamos reunir as
forças de cem, de duzentas gerações que depositam em nós sua fé, que nos olham sem
acreditar que estejamos tão perto, e nos imploram pelo amor de Deus que não recuemos,
que não paremos e não cedamos, não agora, e que nos gritam de longe para lembrar-nos que
todo o poder é nosso.

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História e Mito
27/10/2018

História e Mito raramente confluem.


Estão confluindo.
Mito é a presença do passado, história é a presença do presente, segundo o magistral
ensaio do Professor Eudoro de Sousa(*). Mito é um passado permanentemente gerador e
inatingível que nos acompanha sem que possamos normalmente tocá-lo. Somos seres
históricos e do mito nos separa um abismo, uma distância absoluta, sagrada.
No mito ocorrem os verdadeiros dramas que alimentam o espírito, na história apenas
a sequência dos fatos econômicos, jurídicos, sociais. A história transcorre na horizontalidade,
o mito ocorre na dimensão vertical. No mito está, se quiserem platonizar, a ideia da história.
Vivemos ao mesmo tempo nas duas dimensões, história e mito. Ou deveríamos viver.
Grande parte do empobrecimento do ser humano pós-moderno, da queda vertiginosa dos
“índices de desenvolvimento espiritual” (os IDE, que deveriam existir ao lado dos “índices
de desenvolvimento humano”, os IDH), deve-se ao fato de que ele fechou-se ao mito. A
história não basta. Mesmo a história de cinco mil, de dez mil anos atrás não basta, pois
mesmo na distância ela se limita na presença do presente, a história é apenas uma coleção de
presentes que não supre a ausência do mito. Você pode traçar uma linha horizontal com a
extensão que quiser, mas se não traçar uma linha vertical jamais conseguirá formar uma cruz,

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e sem a cruz jamais conseguirá definir um centro, o seu próprio centro, conflitivo, único e
milagroso.
A aventura humana não se esgota na história, ela exige também o mito – porém
perdemos os instrumentos de percepção mítica que nos permitiriam sabê-lo. O “natural” não
esgota a natureza, proclama o Professor Eudoro. Apenas a convivência contraditória entre
mito e história permite a vida humana em sua plenitude. Essa convivência está representada
na cruz, símbolo máximo da contradição criativa do ser humano completo.
“A história dá para tudo”, dizia Machado de Assis. A história não possui em si mesma
uma forma nem direção. Aquilo que lhe dá sentido (seja sentido=significado, seja
sentido=direção) não é senão o mito.
No Brasil, o mito está tocando a história e fazendo-a renascer. Esse toque é raríssimo
e precioso.
Apenas o mito empresta vitalidade à história. O marxismo, que quer encerrar a
aventura humana (por saber que nessa aventura o homem acabará encontrando a Deus),
odeia por isso o mito, e consequentemente planeja o fim da história.
A “utopia” marxista tem por objetivo eliminar toda as contradições da vida humana,
criando a sociedade comunista e promovendo o fim da história. Sim, o fim da história é a
uma meta marxista. A globalização triunfante que, no início dos anos 90, proclamou o fim
da história, não estava senão enunciando um conceito marxista. Mais do que isto: sem o
saber, estava hasteando a bandeira comunista ao mastro de uma nova sociedade universal
materialista. (Fukuyama, autor do famoso ensaio e depois livro “O fim da história e o último
homem”, sabia, tanto que deixou a porta aberta para a continuação da história através do
conceito de thymos, o orgulho, notadamente o orgulho patriótico, segundo ele única força
capaz de salvar a história da extinção; e, embora Fukuyama não o diga, o thymos pertence
essencialmente ao universo do mito). A globalização hipercapitalista e a utopia marxista se
encontram e se amalgamam no conceito do fim da história, no gosto de ambas pelo fim do
ser humano, pelo fim da aventura, pelo fim do mito (gosto consciente no caso do marxismo,
inconsciente no caso da globalização).
Os marxistas no início detestaram a tese do fim da história de Fukuyama. Demoraram
um pouco, mas logo entenderam que a globalização era um maravilhoso atalho para os seus
propósitos, e deixaram de ver a globalização como inimiga. Passaram a combater aquilo que
Fukuyama identificava como único perigo de reinstauração histórica e mítica, o thymos,
principalmente sob a forma da nação e do sentimento nacional.
Mas no Brasil, como em outras partes, o mito reacendeu a história.
A bandeira nacional é seu símbolo. A bandeira nacional é a membrana onde o universo
mítico e o universo histórico se tocam e se reconectam. Essa bandeira volta a tremular, volta
a verticalizar-nos, devolve-nos à aventura. No ponto único que ora vivemos, história e mito
se cruzam, nos restituem um centro, nos enchem de sentido.
(*) Eudoro de Sousa, História e Mito. Brasília, Editora da UnB, 1981.

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Antes da batalha
27/10/2018

Na noite antes da batalha de Ourique, em 25 de julho de 1139, Nosso Senhor Jesus


Cristo apareceu numa visão a Dom Afonso Henriques, então ainda conde de Portugal, que
se preparava para enfrentar cinco reis mouros contra ele coligados.
Conta Afonso Henriques, num relato possivelmente autêntico, registrado alguns anos
depois:
“E subitamente vi, à parte direita, contra o nascente, um raio resplandecente, indo-se
pouco a pouco clarificando; cada hora se fazia maior. E pondo de propósito os olhos para
aquela parte, vi, de repente, no próprio raio, o sinal da cruz mais resplandecente que o sol, e
um grupo grande de mancebos resplandecentes, os quais, creio que seriam os Santos Anjos.
Vendo, pois, essa visão, pondo à parte o escudo e a espada, me lancei de bruços e, desfeito
em lágrimas comecei a rogar pela consolação de seus vassalos, e disse sem nenhum temor.
"- A que fim me apareceis, Senhor? Quereis, porventura, acrescentar fé a quem já tem
tanta? Melhor é, por certo, que vos vejam os inimigos, e creiam em vós, que eu, que desde a
fonte do Batismo vos conheci por Deus verdadeiro, filho da Virgem e do Padre Eterno, e
assim Vos reconheço agora.
"A cruz era de maravilhosa grandeza, levantada da terra quase dez côvados. O Senhor,
com um tom de voz suave, que minhas orelhas indignas ouviram, disse:
"- Não te apareci deste modo para acrescentar tua fé, mas para fortalecer teu coração
neste conflito. E fundar os princípios de teu reino sobre pedra firme. Confia, Afonso, porque
não só vencerás esta batalha, mas todas as outras em que pelejares contra os inimigos de
minha Cruz. Acharás tua gente alegre e esforçada para a peleja; e te pedirá que entres na
batalha com o título de rei. Não ponhas dúvida, mas tudo quanto pedirem, lhes concede
facilmente. Eu sou fundador e destruidor dos reinos e impérios, e quero em ti, e em teus
descendentes, fundar para Mim um império por cujo meio seja Meu Nome publicado entre
as nações mais estranhas.”
Afonso Henriques foi proclamado Rei no campo de batalha e triunfou. Graças à sua
fé e sua espada estamos aqui, e conhecemos o nome do Salvador.
“E aquele que conhece o meu nome, eu também conheço o seu nome”, diz um texto
cristão dos primeiros séculos.
Querer grandeza
Uma equivocada interpretação das tradições diplomáticas brasileiras tenta impor-nos,
há muitos anos, a visão de que o Brasil é simplesmente um país grande: desistimos de ser um
grande país. No universo da diplomacia pós-moderna, que infelizmente nos apressamos a
copiar a partir de modelos externos, não existe grandeza. Não existe vontade ou paixão. Não
existe orgulho.
O desejo de grandeza é o que de mais nobre pode haver numa nação que se coloca
diante do mundo.
Mas alguém decidiu definir a presença do Brasil no mundo por sua adesão aos “regimes
internacionais”, por sua obediência à “ordem global baseada em regras”. O Brasil assim

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concebido quer ser apenas um bom aluno na escola do globalismo. Não quer nem mesmo
ser o melhor aluno, pois isso já seria destacar-se demais, já envolveria um componente de
vontade e grandeza que repudiamos.
Quando eu era criança, pela metade dos anos 70, ficava horas folheando um livro
chamado “Atlas das Potencialidades Brasileiras” cheio de mapas de reservas energéticas e
minerais, produção industrial e agrícola, etc. O subtítulo do livro dizia: “Brasil Grande e
Forte”. Hoje, querem colocar nas mãos das crianças livros sobre sexo, mas se vissem uma
criança lendo um livro chamado “Brasil Grande e Forte” prenderiam os pais e mandariam a
criança para um campo de reeducação onde lhe ensinariam que o Brasil não é nem grande
nem forte, mas apenas um país que busca a justiça social e os direitos das minorias.
Antes fosse. Se houvesse uma alternativa excludente entre grandeza e força, de um
lado, justiça social e direitos das minorias, de outro, seria até válido optar por estas últimas.
Mas não há excludência. O que há é uma ideologia manipuladora que cria uma histeria
permanente sobre justiça social e minorias, sem fazer absolutamente nada concreto nem
pelas minorias nem pela maioria, sem nenhum compromisso em melhorar a vida real de
ninguém, e que veste o manto da justiça social para roubar e tentar sair com o produto do
roubo, desrespeitando tanto a justiça social quanto a justiça propriamente dita. Essa ideologia
faz de tudo para destruir qualquer poder mobilizador autêntico que ela não controle, e por
isso dedica-se a sufocar o desejo de grandeza associado ao sentimento nacional.
A grandeza mobiliza e organiza um povo, cria sentido e gera energia humana,
sabidamente a mais preciosa forma de energia. Nada pior para os planos da ideologia
esquerdista. A esquerda não tem o menor interesse em justiça social, mas utiliza esse conceito
para contaminar a água da nação, para criar pessoas raivosas e ignorantes e assim
desmobilizar o povo, proibi-lo de ter ideais, separá-lo de si mesmo, desligar a energia criativa.
Justiça social, direitos das minorias, tolerância, diversidade nas mãos da esquerda são apenas
aparelhos verbais destinados a desligar a energia psíquica saudável do ser humano.
A aplicação dessa ideologia à diplomacia produz a obsessão em seguir os “regimes
internacionais”. Produz uma política externa onde não há amor à pátria mas apenas apego à
“ordem internacional baseada em regras”. A esquerda globalista quer um bando de nações
apáticas e domesticadas, e dentro de cada nação um bando de gente repetindo
mecanicamente o jargão dos direitos e da justiça, formando assim um mundo onde nem as
pessoas nem os povos sejam capazes de pensar ou agir por conta própria.
O remédio é voltar a querer grandeza. Encha o peito e diga: Brasil Grande e Forte.
Milhares de pequenos esquerdistas imediatamente te atacarão como formigas quando você
chuta o formigueiro, mas se você resistir e não recuar eles ficarão desorientados e se
dispersarão na sua insignificância, deixando aberto o campo para construirmos um país de
verdade.

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Querer grandeza
03/11/2018

Uma equivocada interpretação das tradições diplomáticas brasileiras tenta impor-nos,


há muitos anos, a visão de que o Brasil é simplesmente um país grande: desistimos de ser um
grande país. No universo da diplomacia pós-moderna, que infelizmente nos apressamos a
copiar a partir de modelos externos, não existe grandeza. Não existe vontade ou paixão. Não
existe orgulho.

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O desejo de grandeza é o que de mais nobre pode haver numa nação que se coloca
diante do mundo.
Mas alguém decidiu definir a presença do Brasil no mundo por sua adesão aos “regimes
internacionais”, por sua obediência à “ordem global baseada em regras”. O Brasil assim
concebido quer ser apenas um bom aluno na escola do globalismo. Não quer nem mesmo
ser o melhor aluno, pois isso já seria destacar-se demais, já envolveria um componente de
vontade e grandeza que repudiamos.
Quando eu era criança, pela metade dos anos 70, ficava horas folheando um livro
chamado “Atlas das Potencialidades Brasileiras” cheio de mapas de reservas energéticas e
minerais, produção industrial e agrícola, etc. O subtítulo do livro dizia: “Brasil Grande e
Forte”. Hoje, querem colocar nas mãos das crianças livros sobre sexo, mas se vissem uma
criança lendo um livro chamado “Brasil Grande e Forte” prenderiam os pais e mandariam a
criança para um campo de reeducação onde lhe ensinariam que o Brasil não é nem grande
nem forte, mas apenas um país que busca a justiça social e os direitos das minorias.
Antes fosse. Se houvesse uma alternativa excludente entre grandeza e força, de um
lado, justiça social e direitos das minorias, de outro, seria até válido optar por estas últimas.
Mas não há excludência. O que há é uma ideologia manipuladora que cria uma histeria
permanente sobre justiça social e minorias, sem fazer absolutamente nada concreto nem
pelas minorias nem pela maioria, sem nenhum compromisso em melhorar a vida real de
ninguém, e que veste o manto da justiça social para roubar e tentar sair com o produto do
roubo, desrespeitando tanto a justiça social quanto a justiça propriamente dita. Essa ideologia
faz de tudo para destruir qualquer poder mobilizador autêntico que ela não controle, e por
isso dedica-se a sufocar o desejo de grandeza associado ao sentimento nacional.
A grandeza mobiliza e organiza um povo, cria sentido e gera energia humana,
sabidamente a mais preciosa forma de energia. Nada pior para os planos da ideologia
esquerdista. A esquerda não tem o menor interesse em justiça social, mas utiliza esse conceito
para contaminar a água da nação, para criar pessoas raivosas e ignorantes e assim
desmobilizar o povo, proibi-lo de ter ideais, separá-lo de si mesmo, desligar a energia criativa.
Justiça social, direitos das minorias, tolerância, diversidade nas mãos da esquerda são apenas
aparelhos verbais destinados a desligar a energia psíquica saudável do ser humano.
A aplicação dessa ideologia à diplomacia produz a obsessão em seguir os “regimes
internacionais”. Produz uma política externa onde não há amor à pátria mas apenas apego à
“ordem internacional baseada em regras”. A esquerda globalista quer um bando de nações
apáticas e domesticadas, e dentro de cada nação um bando de gente repetindo
mecanicamente o jargão dos direitos e da justiça, formando assim um mundo onde nem as
pessoas nem os povos sejam capazes de pensar ou agir por conta própria.
O remédio é voltar a querer grandeza. Encha o peito e diga: Brasil Grande e Forte.
Milhares de pequenos esquerdistas imediatamente te atacarão como formigas quando você
chuta o formigueiro, mas se você resistir e não recuar eles ficarão desorientados e se
dispersarão na sua insignificância, deixando aberto o campo para construirmos um país de
verdade.

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Psicomaquia
09/11/2018

Voltemos ao thymos, que significa: coração, orgulho, coragem, paixão.


Desde o tempo de universidade penso neste fragmento de Heráclito (o número 85 na
edição de Diels-Kranz):
Thymoi machesthai chalepón, ho gar an thelei psychês oneitai.
A tradução de que me lembro, na edição dos Pré-Socráticos da Fundação Calouste-
Goulbenkian (não estou encontrando o livro, por isso cito de memória) diz:
“É difícil lutar com o coração, pois o que ele quer compra-se a preço de alma.”
A maioria dos comentários e traduções de Heráclito que conheço vão nessa mesma
linha. Algumas preferem traduzir thymos por "raiva" ou "ira", o que resulta na obviedade de
dizer algo como "olha só, não se deve ceder à ira, porque aí a gente se dá mal". Obviedade
não casa bem com Heráclito, de modo que prefiro descartar esse tipo de interpretação.
"É complicado você combater apaixonadamente, pois aquilo que a paixão quer, a alma
é que paga." Foi mais ou menos assim que sempre entendi o fragmento, a partir da tradução
da Calouste, com a qual concorda igualmente Alexandre Costa(*), que traduz: "É difícil lutar
com o coração, pois se paga com alma". Ou seja, a paixão cobra um preço em termos de
alma. Na paixão você sacrifica pedaços da sua alma. O coração é um tirano enlouquecido, te
lança em aventuras absurdas e não quer nem saber, no final a tua alma é que se estrepa. Mais
ou menos assim eu compreendia quando tinha 19 anos, quando achava que os conceitos
metafísicos tinham vida e corpo em um drama cósmico e individual muito presente,
dilacerante, como voltei a achar.
Mas de um tempo para cá comecei a me perguntar se isto é efetivamente o que
Heráclito quis dizer.
A questão é saber o que é thymos, o que é pshyche, e qual a relação entre eles.
Primeiramente observemos que os antigos tinham muito mais imaginação do que nós
para falar da vida interior. Além de thymos e psyche tinham também o famoso daimon, tinham
o ethos, tinham o pneuma, tinham o noûs e por aí vai. Para nós tudo é mais ou menos a mesma
coisa, tudo uma espécie de amálgama indistinto, que tendemos a reunir no conceito de
"mente". O máximo que fazemos para sofisticar um pouco é dividir a mente entre consciente
e inconsciente, ou recorrer ao velho nome de "psique" ou mesmo "psiquismo", em todo caso
evitando injetar aí qualquer transcendência ou mistério. Achamos que a atividade mental
esgota a realidade da mente, ou seja, não acreditamos na existência de "algo" que pensa e
sente, mas apenas na existência fenomênica dos pensamentos e sentimentos assim soltos, os
quais por sua vez se reduzem a impulsos e conexões elétricas. You are your brain, diz o título
de um desses livros mecanicistas que se publicam obrigatoriamente às dezenas todos os anos
e que as pessoas compram porque os vêem na livraria. (Às vezes acho bom que as livrarias
estejam acabando, porque as livrarias ultimamente selecionam e, ao selecionar, endossam o
que há de pior na mínima denominação comum do materialismo. Sem livrarias, as pessoas
vão chegar aos livros por outros caminhos, e deixarão de ler besteira só porque o livro
aparece em destaque numa estante. O cânone materialista implícito que as livrarias aplicam
dará lugar à plena liberdade e à livre concorrência das ideias.)

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Retomando. Thymos é o coração, para usar essa metáfora que milagrosamente ainda
resiste ao tempo. Psyche é a alma. Não sei o que é a alma. Sei que ela está lá. Digamos, alma é
aquele negócio que está dentro de você mas que não é exatamente você, embora seja mais
você do que você mesmo. É a presença de algo pairando sobre você mesmo, na sua mente.
É a porta aberta que você tem para o além. Etc.
Podemos ver no thymos e na psyche dois diferentes aspectos de nós mesmos, antes do
que reduzir o thymos a um simples afeto da psyche, como se dá nas interpretações moralizantes
onde se lê thymos no sentido de ira. Ou melhor, thymos e psyche surgem como duas diferentes
pessoas ou diferentes personagens no drama interior. Uma das visões despersonalizantes do
pensamento de Heráclito neste ponto, quase reducionista, parece ser a interpretação de
Aristóteles, na Ética a Eudemo, de onde provém o fragmento segundo a edição de Marcel
Conche(**). Como dizia um aluno de Harold Bloom, I don’t agree with Mr. Aristotle. A
tradução de Conche, que tenta seguir o contexto em que Aristóteles cita o fragmento, me
parece simplesmente horrível: “Il est difficile de combattre la colère, car ele l’emporte au prix
de la vie.” (É difícil combater a cólera, pois ela vence ao preço da vida.) Ou seja, quando
você age com raiva você faz besteira. Para saber disso não precisaríamos de Heráclito nem
de Aristóteles, pois não? Nesta banalização completa, Aristóteles está muito mais próximo
de nós, a 23 séculos de distância, do que de Heráclito, do qual o separavam apenas 150 anos.
De qualquer forma, em todas essas traduções a alma, psyche, aparece como uma
espécie de patrimônio que se vê depredado quando o coração, thymos, resolve sair brigando.
Mas qual a alternativa? Não lutar? Lutar sem paixão? E assim deixar a alma intacta? Intacta
para o quê? Mas e se alma é um dom que recebemos para ser usado, não para ficar lá parada,
esperando?
A questão é também a relação entre machesthai, do verbo machomai, lutar (de mache, luta,
que deu o sufixo “maquia” e nos permitiria falar aqui de uma psicomaquia), e oneitai, do verbo
oneomai, comprar.
Machesthai. No fragmento talvez mais decisivo de Heráclito, o 53, lemos: polemos panton
men pater estin, panton de basileus, kai tous men theous edeixe, tous de anthropous, tous men doulous epoiese,
tous de eleutheros. O combate é o pai de todas as coisas, de todas é rei, a alguns faz deuses e a
outros faz homens, a alguns escravos e a outros livres. O combate permite distinguir
escravidão e liberdade, e portanto liberta, pois somente ao reconhecer a diferença entre
servidão e liberdade esta última pode surgir. Mache, a luta, deve entender-se no mesmo
contexto de polemos, o combate. O verbo machomai introduz-nos nesse universo da criação e
da distinção fundamental operada pelo polemos, a distinção entre escravidão e liberdade, entre
o divino e o humano. Mache, polemos, é o que cria e distingue. Então, se você quiser criar,
entrar para valer na existência, você vai ter que machesthai, vai ter que lutar. A questão é se
vai lutar com o coração, thymoi, ou se vai lutar de outra maneira, sem paixão. Heráclito dá a
entender que existe essa opção. Não é propriamente uma opção moral. Heráclito não
moraliza. Heráclito diz em outra parte, ethos anthropou daimon (o caráter ético do homem é o
seu daimon, o seu eu profundo, o seu self, não existe uma "ética" separada daquilo que você
autenticamente e individualmente é). Pode-se portanto lutar com paixão ou lutar sem paixão.
Chalepón! Lutar com paixão é difícil, penoso. (Entenda-se que lutar sem paixão é mais fácil.)
Mas é aí, fica nisso? Lutar com paixão é difícil porque a alma paga, a luta com paixão sacrifica
a alma. Certo. Mas esse sacrifício não será de alguma forma indispensável para o próprio
bem da alma? Podemos imaginar que o coração, ao comandar a luta difícil, aparentemente
insensata, diferente de alguma espécie de luta fria e racional que Heráclito sugere e não
nomeia, está na verdade ajudando a alma, fazendo o que é preciso para que desse polemos
resulte a liberdade? Em vez de prejudicá-la, em vez de fazê-la pagar, não estaria o coração
sacrificando-se pela alma? Não seria o coração que, em sua luta, compra a liberdade da alma,
pagando seu resgate?
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Vou assim tentar uma tradução que viola bastante a gramática, mas paciência (é difícil
traduzir Heráclito com o coração, mas o que ele realmente diz compra-se a preço de
gramática):
“É custoso combater com o coração, mas ele é que resgata a alma.”
(Isto se considerarmos que ho e an thelei são uma interpolação e nos ativermos à versão
mais simples da segunda parte do fragmento, gar psyches oneitai, tal como sugerem os filólogos
mais modernos.)
Ou então: “É custoso combater com o coração, pois o que ele quer é resgatar a alma.
(Aqui lendo o fragmento tal como aparece em Diels-Kranz).
De qualquer forma, o coração, em seu combate, paga pela alma. A paixão – tal como
a paixão de Cristo – paga o resgate da alma sequestrada pelo mal e a liberta.
O Cristo está em toda parte nos fragmentos de Heráclito, quinhentos anos antes de
sua vinda, e em outros antigos. Não por acaso o Cristo está sempre associado ao coração, o
Cristo padece e luta, o Cristo é o sagrado coração que sofre para comprar a liberdade da
alma, mesmo que ela não mereça. Não por acaso se venera o imaculado coração de Maria,
que aceita o sofrimento em nome do amor e da salvação. O coração, o thymos, é uma loucura,
mas uma loucura que, somente ela, pode redimir e salvar.
Chalepós não é "difícil" tanto no sentido em que um problema de matemática pode ser
difícil, porém mais no sentido de uma provação. Pode também significar perigoso ou
desafiador, ou ainda doloroso – levando-nos sempre para perto do universo semântico da
paixão de Cristo. (Preferi traduzir por "custoso" porque remete à metáfora da compra, que
será usada na segunda metade do fragmento pelo verbo oneomai.)
Chalepá ta kalá, conforme Platão. O belo é difícil, o belo se atinge apenas através de
sacrifícios e provações. Eis por que Toynbee coloca essa expressão na epígrafe do seu Study
of History, onde sustenta que as civilizações se criam e desenvolvem respondendo a desafios,
e quando não encontram mais desafios ou recusam os desafios que se lhes aparecem,
definham. Quem recusa a luta não está poupando a alma, está perdendo-a, está deixando-a
escrava e faltando ao seu dever de combater para libertá-la.
Heráclito, o obscuro, deixa-o muito claro: o coração é o que luta pela alma, em meio
às dificuldades e graças a elas.
(*) Costa, Alexandre. Heráclito: fragmentos contextualizados. Rio de Janeiro, DIFEL, 2002.
(**) Conche, Marcel. Héraclite: fragments. Paris, P.U.F., 1986.
Obs.: Preferi aqui não usar sistematicamente os acentos na transliteração do grego. Ficam
graficamente pesados e acabam prejudicando a leitura.

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