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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Disciplina: Política II

Professora: Eliane Soares

Semestre: 2022.2

Valor: 30 pontos

Data de entrega: 23/06/2023 até 23h59 (postar no TEAMS)

Aluno (a)s: Ana Eliza Ribeiro Rodrigues e Bianca de Andrade Mesquita

O objetivo desta resenha é analisar e estabelecer conexões entre duas importantes obras que
abordam a democracia latino-americana e o seu declínio causado pelo capitalismo. Serão realizadas
análises paralelas de duas obras: a película"A Revolução não será televisionada", dirigido por
Donnacha O'Briain e Kim Bartley, que evidencia como a democracia latino-americana foi
influenciada e moldada pelos interesses das potências capitalistas ocidentais desde o período
colonial. A segunda obra é o segundo capítulo do livro "Estado, capitalismo y democracia en
América Latina", escrito por Atílio Borón, intitulado "Entre Hobbes y Friedman: liberalismo
econômico y despotismo burguês en América Latina". Neste texto, publicado no mesmo ano do
documentário, Borón argumenta que a relação entre o capitalismo global e a supressão dos
elementos democráticos é o fator que explica a fragilidade das instituições democráticas nos países
latino-americanos. Assim, busca-se realizar um paralelo entre ambas as obras.

No documentário, é abordada a presidência de Hugo Chávez na Venezuela, que começou em


1998 com a promessa de romper com o neoliberalismo imposto pelos Estados Unidos. Essa eleição
trouxe esperança para a maioria da população, principalmente para aqueles pertencentes às classes
mais baixas, que ansiavam pela redistribuição de riquezas e uma maior participação popular na
política nacional. Chávez introduziu uma nova constituição, que foi ratificada por meio de um
referendo, e confrontou os governos conservadores estabelecidos até então. Nesse sentido, veem-se
as motivações e a própria chegada de Hugo Chávez no poder: anteriormente sendo um Estado
oligárquico, em que os lucros advindos da exploração petrolífera – a principal exportação do país –
ficavam com a elite. O capítulo de Borón classifica esse tipo de regime político como essencial para
a consagração da supremacia da classe burguesa na América Latina, assim como para a constituição
do capitalismo em si, por ser um aparato administrativo de caráter coercitivo e centralizado, que
demonstrou um constante desprezo pela participação política das classes subalternas. Esta última
parte é bem visualizada no documentário com as entrevistas dos chavistas – apoiadores de Chávez –
afirmando que nunca haviam votado antes, que não sabiam nada de política, que estavam lendo a
Constituição Venezuelana pela primeira vez; assim como justifica o desejo de Hugo Chávez em
educar e tornar seu governo mais acessível.

Adicionalmente, Chávez utilizou sua proximidade com o povo e as Forças Armadas


venezuelanas para implementar uma política de cunho bolivarista. Uma das principais ações foi a
nacionalização da empresa petrolífera estatal, fortalecendo assim a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (OPEP) e reduzindo a dependência do país em relação à exploração pelos
Estados Unidos. Conforme as políticas chavistas ganhavam popularidade gradualmente entre a
população, também surgiam opositores que se organizavam politicamente. O apoio de Chávez
vindo quase que exclusivamente das camadas populares é também um ponto de extrema
importância, visto que indica a massa exausta da opressão e da repressão sofrida sob o Estado
capitalista e o esforço para caminhar para um novo caminho, através da organização e mobilização
popular. Percebe-se, como argumenta Borón, o descontentamento crescente, em face da crise do
desenvolvimento capitalista incompatível com a democracia, se tornando um fortalecimento da
esquerda, notadamente marxista.

Esses opositores argumentavam que as promessas de redistribuição de riquezas não estavam


sendo cumpridas e que a elite econômica era quem controlava os lucros provenientes do petróleo.
Com isso, após a decisão do presidente em trocar a autoridade da PDVSA em 2002, as campanhas
de canais comunicativos privados começaram o que foi denominado como o início de uma guerra,
com manifestações contrárias ao governo. Chávez passa a atentar à liberdade dos venezuelanos,
trocando a popularidade por repressão. Então, o presidente é retirado do poder, por meio de um
golpe de estado liderado por Carmona.

Rapidamente a população se revolta e exige a saída de Carmona da presidência, e as Forças


Armadas fiéis a Chávez retomam o controle do Palácio Presidencial. O governo é restabelecido,
mas os canais televisivos privados não transmitem essa informação, que é inclusive por tal
importância que o documentário recebe o título de A revolução não será televisionada, é bem
notável a presença e o impacto dos canais midiáticos privados no golpe venezuelano por serem
formados por membçros da elite e, portanto, opositores ferrenhos ao chavismo. Logo, o
vice-presidente é juramentado como novo chefe de Estado. Chávez retorna ao país e restabelece o
poder político, promulgando leis para garantir a ordem.

O capítulo do livro disserta sobre como o capitalismo e o neoliberalismo foram


instrumentalizados para impor a dominação de potências ocidentais sobre a América Latina,
gerando despotismo político em vez de erradicar problemas políticos. E para ilustrar, o autor usa
como exemplo a eleição de Chávez em 1998, o qual foi eleito inicialmente com o objetivo de
implementar reformas à democracia burguesa, como visto no documentário. Pode se dizer que
durante esse governo, o capitalismo foi desmascarado e as condições sociais, incluindo desemprego,
queda de salários e redução de benefícios sociais, foram denunciadas. O autoritarismo e repressão
das antigas classes dominantes se tornaram componentes da política chavista. As conclusões
propostas por Boron sugerem que os países da América Latina reconheceram os limites para o
crescimento econômico e, com isso, a democracia pode ser mais duradoura e equilibrada, desde que
não continue sofrendo intervenções.

Por conseguinte, nota-se que as instituições das quais garantem a democracia na América
Latina são instáveis, devido ao fato de a burguesia buscar constantemente o poder soberano com a
ajuda dos EUA, que além de manter a agenda neoliberal, tem e a disseminação do capitalismo como
único cabível na democracia. O autor menciona exemplos de momentos em que a soberania popular
foi usurpada, como na segunda metade do século XX com os golpes militares. Eles foram
realizados para manter o controle político e econômico estadunidense sobre a região enquanto
apoiavam líderes militares autoritários, assim contendo o avanço influência da União Soviética.
Alguns exemplos de golpes militares promovidos pelos EUA incluem o golpe contra o presidente
Jacobo Arbenz na Guatemala em 1954, o golpe contra o presidente Salvador Allende no Chile em
1973 e o golpe contra o presidente João Goulart no Brasil em 1964. Em todos esses casos, o
governo norte-americano forneceu apoio financeiro, logístico e militar para os golpistas, e em
alguns casos, diretamente participaram da operação.

Dessa forma, os regimes políticos latino-americanos e sua estabilidade democrática são


dependentes de fatores internacionais, baseados no sistema econômico capitalista e suas
necessidades, gerando inconsistências e opressões. Isso tem resultado em regimes políticos e
econômicos que priorizam os interesses dessas potências em vez dos interesses da população local.
Isso tem levado a uma concentração de riqueza e poder nas mãos de uma elite econômica, enquanto
as classes mais baixas continuam sujeitas a condições econômicas precárias e desigualdades sociais.

Por fim, tem-se que análise de um exemplo prático, a presidência de Hugo Chávez na
Venezuela, ilustrada pelo documentário confirma a tese desenvolvida por Borón. Logo, é possível
entender relacionando as obras, que o capitalismo global tem determinado a fragilidade das
instituições democráticas nos países latino-americanos.

Referências:

BORON, Atílio. Entre Hobbes y Friedman: liberalismo econômico y despotismo burguês en América Latina (cap. II).
In: Estado, capitalismo y democracia en América Latina. Buenos Aires: CLACSO, p. 85-115. (Disponível na pasta
arquivos do TEAMS).

Documentário A revolução não será televisionada. País: Irlanda. Direção: Donnacha O'Briain e Kim Bartley. Ano:
2003. Duração: 74 minutos. Disponível em: https://youtu.be/tRypWYgTKuE

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