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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

Departamento de ciências da educação


Curso: Pedagogia
Docente: Maria Aparecida
Discente: Stefane Luise Santana D Assunção
Resumo do prologo e do capitulo 1 de ‘’o fascismo da cor’’

A questão racial vem a surgir, no início da terceira década do século XXI, já como um
tópico de primeiro plano e deixando de ser vista como uma “contradição secundaria”
que definia a questão das relações sociais, caracterizadas em dois contextos diferentes, o
primeiro que sustentava a importância de uma análise efetiva em sua totalidade, onde o
racismo é visto como item problemático, porém de menor importância dentre a luta
anticolonial, mas sendo primeiro admitido por Frantz Fanon, pensador ativista, que “o
racismo não passa de um elemento de um todo maior: o da opressão sistematizada de
um povo “e o segundo que vem para introduzir a pergunta sobre como se comporta
particularmente um povo que oprime. No entanto, sua caracterização como
“superestrutural” não basta para delimitar o alcance conceitual do racismo, pois de um
lado esse fenômeno vem a gera aspectos do turbo capitalismo financeiro, que detém
uma preocupação com a redefinição da "ambiência" social e do outro a epistemologia
centrada na questão cartográfica do Estado-nação.

Em termos políticos, o antirracismo aparece também como um sintoma da


reaproximação de épocas entre sociedades política e civil e de forma indireta uma
reação à degradação das instituições democráticas, infelizmente sendo igualmente um
ponto forte na massificação de novos valores. Na Europa e nos Estados Unidos pode ser
destacado que ao mesmo tempo em que ocorre uma luta geral para o reconhecimento do
racismo como um dos problemas centrais, surge em contradição o fortalecimento da
direita ultranacionalista e extremista, ocorrendo devido a mostra de um crescimento
extraordinário da porcentagem de cidadãos não brancos na população americana. Vista
como uma irrupção no presente do movimento social antirracista com potência
renovada.
A indagação, "Como é possível que se ouçam de traficantes de negros os mais altos
brados de liberdade?" feita por Samuel Johnson, em 1775 colabora na compreensão da
Liberdade como palavra-chave do universalismo liberal americano, visto que, a
memória é um acordo entre passado e presente, podendo assim concluir que emancipar-
se da Inglaterra, não implicava emancipar os escravos, embora a ideia estivesse
implícita na movimentação da independência, semelhando-se a luta cubana contra o
colonialismo espanhol, onde o líder negro Antônio Maceo identificava independência
com o fim do escravismo, em contradição à burguesia colonial, que não relacionava a
independência com abolição da escravidão e por fim um dos exemplos mais claramente
distorcidos vem do Brasil oitocentista que dizia o país como sendo o "escravo" de
Portugal que buscou a liberdade através da independência, mas essa retórica repelia a
ideia de libertação dos reais escravos. Escondidos através de um constitucionalismo
triunfante que destacava a esfera política, acima do social e do histórico, dando origem a
nação e o racismo americano, antecipando a tão sonhada república segura e civilizada,
com o grande desejo excessivo de um governo global, conduzido por um Estado
universal e homogêneo podendo ser chamado de "paneuropa", um dos nomes imperiais
possíveis para a forma civilizatória europeia.

Noções como “união” ou “unidade” são estritamente republicanas, desde o século


XVIII, visto como temores das elites intelectuais e políticas americanas. Isso por que os
Estados Unidos continuam mantendo o chamado “sistema imperial” sendo esta uma
organização que segue em direção a uma estrutura transnacional com uma republica
dominante e periferia dependente. A Guerra Civil por exemplo, foi na verdade um
evento fundamental infinito no pensamento coletivo de um país, que pode com ela,
alcançar a sua unidade ideal e gerar um aumento na produção capitalista por meio da
combinação estabelecida entre a potência que destroi com a guerra e constrói com o
trabalho, assim como surge na Europa no início do século XX adequando-se a
modernidade industrial, tornando-se o prenúncio de um fascismo não limitado à Itália,
além das façanhas durante o período entre guerras, a ideia na verdade era deixar patente
a impossibilidade de um Estado pacífico, ainda que com guerras perdidas, como se
depreende dos humilhantes fracassos militares em determinadas intervenções, sendo
essa guerra permanente a dimensão paranoica de um poder que torna a violência a sua
regra.
Em uma dimensão religiosa essa força e poder dos colonos- fundadores está na crença
imutável em único ser supremo, o Deus bíblico do Antigo Testamento, para eles fé e a
crença significam uma força vital, que sempre esteve presente nas tribos e sociedades,
mas sem qualquer relação de causalidade com um culto à guerra, força esta que detém
uma espécie de “lei” o espirito americano, em analogia a algumas passagens bíblicas,
sendo precisamente da tradição puritana do Covenant, o surgimento da inspiração dos
pais-fundadores em fins do século XVIII, mas que apesar desse fundamento mítico-
religioso, o velho antissemitismo europeu foi acolhido pela matriz racial americana.

A liberdade individual é popularmente concebida como posse de armas, o ethos público


como exibição de vontade de poder; seja no plano civil ou no militar, isso por que na
relação de fundação do estado capitalista e da guerra o individuo em meio social passa
por uma projeção de morte coletiva. A liberdade e igualdade são vistas como pauta para
o equilíbrio republicano, no entanto, evidências históricas mostram como a liberdade
fundacional no pacto federativo americano refere-se primeiramente aos estados
inclusive com dispositivos segregacionistas e a igualdade, é conceituada pela filosofia,
pela literatura francesa e pelos movimentos de esquerda ao redor do mundo como
equidade política e judicial. Visto que, a liberdade entregue a si mesma, à sua própria
ação, produz naturalmente a desigualdade, da mesma forma que a igualdade, tomada
como princípio prático, naturalmente produz a escravidão.

A política emancipatória que possa ser capaz de abranger brancos e negros, é vista
como sendo impossível de se concretizar nos Estados Unidos até os dias atuais, onde a
segregação racial construiu-se como uma ideologia nacional pós-Guerra Civil para
amortecer o choque dos temores de classe social, onde a igualdade republicana, é
exclusivamente branca e estruturalmente bélica. Em um contexto histórico, as diretrizes
republicano-federativas de igualdade predominaram sobre a radicalidade democrática
em que a exclusão de parte significativa da cidadania negra, concretizou a coesão cívica
ou hegemonia interna, que é forte nos Estados Unidos. Nota-se então como o racismo é
central na vida política e social da América, sendo ele o pilar que sustenta à imagem de
um edifício "cimentado" pela consciência antinegrara supondo também, religiosamente,
racismo como uma vítima sacrificial, escolhida fora do pacto originário, onde sociedade
civil, após ter neutralizado os povos originários, fosse organizada de modo a se
"defender" dos descendentes de escravo, daí vem a origem da razão de Estado
etnocrática, à sombra de estatuto ideal de igualdade, eternamente à espera de
“reconstrução" político- social-emancipatória.

Entretanto, ao contrário da republica, a democracia, não tende a se sustentar através da


unidade da guerra, mas sim, em um pacto implícito feito para com a sociedade, abrindo
assim uma serie de possibilidades coletivas, não somente por um regime de governo
guiados pela igualdade formal dos cidadãos perante as leis, e sim forma de vida guiada
por um princípio aglutinador das diferenças sociais.

A divisão do Sul e do Norte não os distanciam em apenas uma questão de espaço


temporal, distancia também no que se refere à violenta passagem de episódios racistas,
sendo sempre o Norte mais civil- republicano do que o Sul, onde a violência contra
negros apoia-se até hoje em impunidades por parte do sistema judicial. deixando
evidente que a existência de "burguesias negras", no passado escravocrata ou no
presente liberal e antirracista, não garante a quebra da barreira existencial da cor, visto
que , a cor da pele serve como um indicio imediato para o ato discriminatório, no que se
refere não somente ao fenótipo e sim ao genótipo, portanto, a raça, apesar da prova
biológica em contrário, além disso visa a cor da pele, a tal ponto que, tempos atrás, as
afrodescendentes experimentavam cosméticos de clareamento da pele, para evitar
ataques nas ruas ou melhorar as perspectivas de emprego e por outro lado, é uma
fantasia mítica e ideológica em torno do sangue. Durante a década de 70, é muito
reproduzido a argumentação que coloca o racismo brasileiro como uma "invenção de
sociólogo americano". Sendo muito provável que esta seja uma reação ao fato de que,
pós Segunda Guerra, uma missão sociológica da Unesco torna questionável a suposição
de que o Brasil fosse um exemplo de harmonia racial para o mundo. Apesar de nunca
ter deixado de existir uma divulgação cultural norte-americana em massa da tese de que
o racismo nos Estados Unidos seria uma questão secundária diante da amplitude
institucional de seus valores democráticos.

Partindo para um contexto do nacional Brasileiro apenas, sendo esse muito diferente do
americano, vem sendo marcado por mediações sociais mais "familiais” que as legais,
uma mudança histórica "proclamada" por militares, fizeram desses, republicanos por
pouco tempo, atrasados por uma espécie de vanguarda, onde os mesmos que antes
contestavam a tortura dos escravos vieram a dar lugar a uma República de fazendeiros,
podendo ser facilmente comparados aos imperadores, um país territorialmente
segmentado e controlado por oligarquias latifundiárias, com a ausência de um pacto
fundacional dos estados, e sim uma transformação multissecular da empresa colonial
das origens realizada por latifúndio monocultor e regime escravista, no lugar de Estado.

Essa constelação territorial/nacional é uma forte herança do passado


escravocrata, mas pode ser comparada a outras no presente histórico, como alguns
países europeus administrados como se fossem empresas, visto que, “empresa Brasil”
para os agentes estrangeiros que comercializavam os produtos brasileiros, não era
internamente nenhuma empresa, e sim uma espécie de domínio, não reinava aí o espírito
burguês que caracterizaria a cidade, e sim o ânimo fidalgo ou senhorial de quem detinha
poder de vida e de morte sobre a mão de obra escrava atrelada à produção açucareira.
Dessa forma a transição da economia agropecuária com população rural ao capitalismo
industrial com população urbana deixou parcialmente intacta a condição servil do negro,
que era antes verdadeira moeda de troca numa sociedade. Em uma analogia histórico-
social podemos identificar primeiramente, que a casa-grande, com senzala e tudo, é o
Estado. Se desprendendo de analises conservadoras, como a de Oliveira Vianna.

Enquanto a Abolição tinha sido prevista como uma das etapas no processo de
capitalismo em vigor a desmontagem da estrutura colonial, a República, foi um fato de
última hora, de cima para baixo. O primeiro Congresso Constituinte Republicano
acolhia de forma retorica, a suposição de que a igualdade cidadã deveria prevalecer
sobre os privilégios sociais, no entanto, mais uma vez na história, surge a conversa
liberal chamada de "para inglês ouvir". Onde, para os negros já tinham sido negadas
desde a Lei das Terras (1853) as possibilidades de acesso à lavoura autônoma, mas o
fenômeno estendeu-se de outras formas até os imigrantes brancos, convertidos em
assalariados, posseiros ou trabalhadores eventuais, uma vez que não interessava aos
fazendeiros nem mesmo aos governantes a generalização da pequena propriedade. Com
isso, o poder senhorial continuou a ser exercido como uma herança de formas
tradicionais de mando e privilégio, trazendo a figura do “coronel” nordestinos, como um
fenômeno marcante, uma variedade de autoritarismos guiadas pelo “mandonismo”, que
pode ser lido como um traço psicossocial da fusão imaginária da força armada com o
poder fundiário, portanto, da permanência de um aspecto da forma escravista. A
senhorialidade é a expressão externa da desigualdade racial e social, assegurada pela
forma escravista. Para resumir, considera-se que até a Abolição, a sociedade brasileira
era composta pelos protagonistas do "descobrimento" sendo eles os portugueses,
africanos, indígenas, dentre outras diversas nacionalidades, enquanto isso, após o fim da
escravatura, pode-se descreve-la como sociedade do "encobrimento", onde há uma
estruturação social criada e orientada para apagar tudo o que houve antes.

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