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A questão racial vem a surgir, no início da terceira década do século XXI, já como um
tópico de primeiro plano e deixando de ser vista como uma “contradição secundaria”
que definia a questão das relações sociais, caracterizadas em dois contextos diferentes, o
primeiro que sustentava a importância de uma análise efetiva em sua totalidade, onde o
racismo é visto como item problemático, porém de menor importância dentre a luta
anticolonial, mas sendo primeiro admitido por Frantz Fanon, pensador ativista, que “o
racismo não passa de um elemento de um todo maior: o da opressão sistematizada de
um povo “e o segundo que vem para introduzir a pergunta sobre como se comporta
particularmente um povo que oprime. No entanto, sua caracterização como
“superestrutural” não basta para delimitar o alcance conceitual do racismo, pois de um
lado esse fenômeno vem a gera aspectos do turbo capitalismo financeiro, que detém
uma preocupação com a redefinição da "ambiência" social e do outro a epistemologia
centrada na questão cartográfica do Estado-nação.
A política emancipatória que possa ser capaz de abranger brancos e negros, é vista
como sendo impossível de se concretizar nos Estados Unidos até os dias atuais, onde a
segregação racial construiu-se como uma ideologia nacional pós-Guerra Civil para
amortecer o choque dos temores de classe social, onde a igualdade republicana, é
exclusivamente branca e estruturalmente bélica. Em um contexto histórico, as diretrizes
republicano-federativas de igualdade predominaram sobre a radicalidade democrática
em que a exclusão de parte significativa da cidadania negra, concretizou a coesão cívica
ou hegemonia interna, que é forte nos Estados Unidos. Nota-se então como o racismo é
central na vida política e social da América, sendo ele o pilar que sustenta à imagem de
um edifício "cimentado" pela consciência antinegrara supondo também, religiosamente,
racismo como uma vítima sacrificial, escolhida fora do pacto originário, onde sociedade
civil, após ter neutralizado os povos originários, fosse organizada de modo a se
"defender" dos descendentes de escravo, daí vem a origem da razão de Estado
etnocrática, à sombra de estatuto ideal de igualdade, eternamente à espera de
“reconstrução" político- social-emancipatória.
Partindo para um contexto do nacional Brasileiro apenas, sendo esse muito diferente do
americano, vem sendo marcado por mediações sociais mais "familiais” que as legais,
uma mudança histórica "proclamada" por militares, fizeram desses, republicanos por
pouco tempo, atrasados por uma espécie de vanguarda, onde os mesmos que antes
contestavam a tortura dos escravos vieram a dar lugar a uma República de fazendeiros,
podendo ser facilmente comparados aos imperadores, um país territorialmente
segmentado e controlado por oligarquias latifundiárias, com a ausência de um pacto
fundacional dos estados, e sim uma transformação multissecular da empresa colonial
das origens realizada por latifúndio monocultor e regime escravista, no lugar de Estado.
Enquanto a Abolição tinha sido prevista como uma das etapas no processo de
capitalismo em vigor a desmontagem da estrutura colonial, a República, foi um fato de
última hora, de cima para baixo. O primeiro Congresso Constituinte Republicano
acolhia de forma retorica, a suposição de que a igualdade cidadã deveria prevalecer
sobre os privilégios sociais, no entanto, mais uma vez na história, surge a conversa
liberal chamada de "para inglês ouvir". Onde, para os negros já tinham sido negadas
desde a Lei das Terras (1853) as possibilidades de acesso à lavoura autônoma, mas o
fenômeno estendeu-se de outras formas até os imigrantes brancos, convertidos em
assalariados, posseiros ou trabalhadores eventuais, uma vez que não interessava aos
fazendeiros nem mesmo aos governantes a generalização da pequena propriedade. Com
isso, o poder senhorial continuou a ser exercido como uma herança de formas
tradicionais de mando e privilégio, trazendo a figura do “coronel” nordestinos, como um
fenômeno marcante, uma variedade de autoritarismos guiadas pelo “mandonismo”, que
pode ser lido como um traço psicossocial da fusão imaginária da força armada com o
poder fundiário, portanto, da permanência de um aspecto da forma escravista. A
senhorialidade é a expressão externa da desigualdade racial e social, assegurada pela
forma escravista. Para resumir, considera-se que até a Abolição, a sociedade brasileira
era composta pelos protagonistas do "descobrimento" sendo eles os portugueses,
africanos, indígenas, dentre outras diversas nacionalidades, enquanto isso, após o fim da
escravatura, pode-se descreve-la como sociedade do "encobrimento", onde há uma
estruturação social criada e orientada para apagar tudo o que houve antes.