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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

EFLCH – Campus Guarulhos

UC Crises na Democracia

25/05/2022

Letícia Amorim Fragoglietti (140.602)

Entre as diversas heranças trazidas pelo final da Segunda Guerra


Mundial (1939-1945), a mais influente e mais determinante foi o fim da ordem
do imperialismo e do equilíbrio de poder baseado no poder europeu. Conforme
o conflito chegava ao fim, diversos movimentos que se caracterizavam
nacionalistas se expandiram e auxiliaram no combate ao Eixo, buscando de
diferentes formas acabar com a existência de um domínio colonial. Porém essa
não era uma questão acordada de forma consensual pelas lideranças dos
países aliados, pois distintos temas combinavam os interesses, nem sempre
expressos de forma clara, nas estratégias feitas e nos combates implícitos no
interior da aliança feita contra o Eixo. Com o início dos atritos que culminaram
na existência da Guerra fria, os países influentes buscaram formar bases
sólidas em suas regiões, afim de preservar seus próprios interesses.

Nesse período, os Estados Unidos, em sua política externa,


presenciavam questões problemáticas que muitas vezes levavam a ações não
tão compreensíveis. Primeiramente, há uma questão relacionada ao interesse
do complexo industrial militar na expansão da máquina de guerra do país, em
decorrência aos lucros propiciados pelas crescentes encomendas do Estado,
de forma a gerar um aumento na produção de arma. Concomitantemente, o
desvirtuamento, provocado pelos interessados nessa política agressiva, do
sentido das lutas anti-imperialistas e de libertação nacional, sobretudo, aqueles
em expansão na África e na Ásia, usando como pretexto a ameaça comunista,
quando na maioria das vezes se situavam no campo das lutas anticoloniais.
Portanto, a ameaça comunista era usada como justificativa da defesa dos
interesses das grandes corporações, visando o controle de riquezas e
mercados em diferentes regiões do planeta, especificamente, na venda de
armas.

Durante os quase 30 anos do pós guerra, tanto Estados Unidos quanto


URSS aproveitavam da comum condição de tensão mundial histórica que as
duas grandes potências protagonizavam. Tais tensões transcorriam por um
processo de transição pelo qual o mundo experimentava, sendo este liderado,
sobretudo, pelo ocidente democrático. Uma estrutura arcaica baseada em
dogmas como religião e família dava espaço à um mundo cada vez mais
baseado na ciência, racionalismo, progresso e individualismo. Porém essa
transição ainda era frágil, pois durante o abandono dessas questões arcaicas,
as novas ideias ainda não possuíam bases sólidas, logo, segundo os ideais
norte-americanos, brechas perigosas poderiam ser aproveitadas pela ameaça
comunista. Usando esse argumento, as potências democráticas começaram a
defender o processo de modernização acelerada, pois assim estreitar-se-ia as
janelas para essa ameaça não aproveitar o caos causado pelas transições de
ideias presentem na sociedade naquele momento.

A política democrática presente no ideal norte-americano correlaciona-


se aos crescentes ideais liberalistas que citamos, sendo vista até mesmo como
uma vertente naturalmente desenvolvida através do Estado Liberal, porém
apenas se for vista por sua formulação política, ou seja, pela sua crença na
soberania popular.

“Ideais liberais e método democrático vieram gradualmente se


combinando num modo tal que, se é verdade que os direitos de
liberdade foram desde o início a condição necessária para a direta
aplicação das regras do jogo democrático, é igualmente verdadeiro
que, em seguida, o desenvolvimento da democracia se tornou o
principal instrumento para a defesa dos direitos de liberdade. Hoje
apenas os Estados nascidos das revoluções liberais são democráticos
e apenas os Estados democráticos protegem os direitos do homem:
todos os Estados autoritários do mundo são ao mesmo tempo
antiliberais e antidemocráticos.” ( BOBBIO, 1998, p.44)
Assim, os Estados Unidos assumiam um papel de auxiliar a tal
modernização nos países em que o capitalismo não estava em seu exercício
pleno, seja por meio de planos de desenvolvimento, incentivo às lutas armadas
ou até mesmo revoltas contra líderes políticos, questões que administradas
corretamente afastariam o ideal comunista e tornaria a sociedade mais segura,
democrática e liberal nessas regiões consideradas instáveis, fazendo assim
com que o capitalismo prospere. Essa tese não se apoiava apenas como um
argumento defensivo de combate ao comunismo e sim como uma necessidade
de se modernizar visando melhorar positivamente a nação auxiliada.

Em contrapartida, a gradual entrada dos ideais socialistas na história


preenche um cenário antitético aos ideais liberais, de forma não desagregadora
do método democrático, desencadeando um movimento, também, de
contradição entre liberalismo e democracia. A relação entre o liberalismo e o
socialismo, ao contrário, foi desde o início claramente uma relação de antítese,
isso devido ao caráter de liberdade econômica baseada na propriedade privada
que a democracia defendia e que o socialismo fielmente criticava.

Nesse contexto político, durante o começo da década de 1960, os


Estados Unidos viam na emergência dos países pós coloniais uma
oportunidade de confrontar a URSS, além de estimular a modernização e
desenvolvimento desses países, afim de garantir um bloqueio a qualquer
influência soviética. Já na década 1970 e nas seguintes, as disputas ocorridas
devido a esse embate entre Estados Unidos e URSS representaram um desafio
ao modelo à ordem bipolar que vigorava desde o início da Guerra fria, pois
esses ideais de sociedade continuaram a se chocar em diferentes partes do
planeta.

A ordem mundial que se formou a partir da crise do imperialismo teve


início com a divisão da Europa em dois blocos, sendo estes um ocidente
capitalista e o outro oriente socialista. Essa divisão da ordem mundial foi
consequência da própria maneira como os países ocuparam a Europa no final
da Segunda Guerra, de forma à bipolarizar o poder entre os Estados Unidos
da América e a União Soviética.
Essa bipolarização levou a um quadro de constante tensão e conflito
diplomático, do qual há oposições que, durante anos, culminaram em um
conflito presente em todos os domínios, salvo o das armas, assumindo um
caráter de uma verdadeira guerra. Configura-se assim a Guerra Fria, a qual
atinge um caráter político, militar e ideológico que contaminou todas as
relações internacionais e a própria evolução da política interna dos países.

A disputa ideológica era travada pela defesa da democracia capitalista


liberal pelos Estado Unidos, a qual tinha na liberdade individual o valor máximo
de uma sociedade que busca o desenvolvimento social como um todo, e pela
defesa do socialismo da União Soviética que cultuava o interesse coletivo,
sendo este a prioridade do planejamento de um Estado centralizador. Portanto,
a vitória soviética na Segunda Guerra Mundial representava uma ameaça aos
interesses norte-americanos, devido ao seu desenvolvimento e da denominada
“ameaça comunista”.

Apesar de nunca terem se enfrentado de forma direta e declarada, os


Estados Unidos e a União Soviética investiram enorme volume de riqueza em
desenvolvimento e fabricação de armamentos, com destaque para bombas e
mísseis nucleares. Essa disputa armamentista influencia no desenvolvimento
de um temor antissoviético dentro dos Estado Unidos, sobretudo, devido ao
intenso crescimento industrial, voltado diretamente para o setor militar, da
União Soviética. Uma das grandes conquistas da indústria bélica soviética
nesse período foi o desenvolvimento da bomba atômica, símbolo máximo do
poderio militar e do terror que marcou o período em questão.

Durante treze dias do mês de outubro de 1962, o mundo ficou bem


próximo da ocorrência de um conflito direto entre as potências em questão,
devido ao avançado processo de construção de uma plataforma de lançamento
de armas nucleares em Cuba. Assim era estabelecido a Crise do Mísseis,
incidente diplomático entre Estados Unidos e União Soviética, considerado o
momento mais tenso da Guerra Fria.
No filme “Os treze dias que abalaram o mundo”, produzido em 2000 por
Roger Donaldson, é notório que para os Estados Unidos era inadmissível
conviver com a constante ameaça de ter mísseis nucleares tão perto do seu
território, enquanto que para Cuba, as armas serviam como uma proteção
contra novas invasões em seu território.

O presidente dos Estados Unidos, John Kennedy (1917-1963), toma


partido no controle e decisões do desenrolar da crise, empenhando-se para
solucionar pacificamente o conflito. Por outro lado, o Estado-Maior americano
é tendencioso à uma invasão na ilha caribenha ou um ataque aéreo preventivo
contra a União Soviética. Kennedy não segue o plano de seus conselheiros
militares de lançar um ataque para destruir os mísseis e depois invadir Cuba,
direcionando-se à um caminho diplomático. O presidente anuncia uma
“quarentena naval” e apela à União Soviética a remoção dos mísseis de Cuba
sob a supervisão da Organização das Nações Unidas (ONU), em troca de uma
garantia de que os Estados Unidos não invadiriam Cuba. Os países negociam
então, a secreta retirada dos mísseis, evitando assim uma guerra nuclear.

Já no filme Dr. Fantástico (Dr. Strangelove, 1964) de Stanley Kubrick, o


período histórico em questão é tratado de forma irônica, tendo como objeto
principal a ação desmedida proporcionada pela paranoia anticomunista de um
general americano, Jack D. Ripper. Ao longo do filme, o enredo entrelaça
alguns momentos de loucura de um general à obsessão de um major com sua
missão, correlacionando o contexto político, de forma critica, às tentativas de
negociação entre o presidente americano e o líder soviético, finalizada com
uma proposta de solução por um cientista germânico. Kubrick constrói uma
imagem satírica de todos os elementos importantes da Guerra Fria, e utiliza da
ironia para discutir a paranoia e a crescente insegurança presente na
sociedade. Dr. Strangelove, protagonista da sátira, tinha como objetivo
reacender os ideais nazistas em um período adjacente ao término de uma
Grande Guerra. Assim, é mostrado e ironizado seus planos de fazer esse
desejo se concretizar, enquanto criava e estudava as possibilidades de
destruição mundial ocorrer e o retorno à um momento no qual haveria um
vácuo de poder vir à tona, assim o nazismo poderia ser reedificado.

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