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Resumo: Este trabalho tem por objetivo, analisar a influência dos EUA na política e na
sociedade brasileira, do pós-guerra (1945) ao processo de redemocratização que sucedeu o
período do Regime Civil-Militar (1985).
Nosso ponto central será investigar, por meio de comparação e associação de algumas obras
acadêmicas brasileiras: o envolvimento dos EUA em questões nacionais, através de
articulações políticas, movimentos conspiratórios e campanhas ideológicas, partindo do
contexto da Guerra Fria até o advento da reabertura política iniciado na década de 70.
Diante deste quadro, pretendemos mensurar o quanto a influência norte-americana norteou
certas transições do governo brasileiro, corroborou para a realização do Golpe Civil-Militar
de 1964, afetou o desenvolvimento econômico e mudou as relações sociais no Brasil.
Palavras-chave: Pós-Guerra. Guerra Fria. Conspiração. Golpe Civil-Militar.
Redemocratização.
O Pós-Guerra
O estudo a respeito da influência norte-americana em relação ao Brasil compõe
algumas das análises que formam a chamada “Versão Conspiratória” (REIS; RIDENTI;
MOTTA, 2004). Tal influência remonta os tempos coloniais (BANDEIRA, 1973), mas,
vamos nos limitar ao período compreendido entre o Pós-Guerra (1945) e ao processo de
redemocratização que sucedeu o período da Ditadura Civil-Militar (1985), tempo suficiente
para analisar a presença imperialista norte-americana em solo nacional.
“Os Estados Unidos devem estar preparados para guiar a inevitável industrialização dos
países não desenvolvidos, se se deseja realmente evitar o golpe de um desenvolvimento
econômico intensíssimo fora da égide norte-americana… A industrialização, se não é
controlada de alguma maneira, levará a uma substancial redução dos mercados norte-
americanos de exportação”. (GALEANO, 1982, p.170).
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Associação ilegal de empresas para eliminar a concorrência e impor seus preços e produtos (XIMENES, 1999, p. 591).
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Acordo no qual empresas do mesmo ramo unem-se para determinar um preço único, em geral elevado, de seus produtos,
eliminando a livre concorrência. (XIMENES, 1999, p. 148).
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Fez parte do movimento tenentista de 1922, foi Líder da Coluna Prestes em 1925, da Intentona Comunista de 1935. Foi
preso após a Intentona, permanecendo até 45 quando foi anistiado. Nomeado Secretário Geral do PCB, foi exilado durante
o Regime Militar, fez campanha pelas Diretas Já em 1984. O “Cavaleiro da Esperança” faleceu em 1990 aos 92 anos de
idade (NETO; TASINAFO, 2011, p. 672).
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A Guerra Fria
A Conspiração
“Aqueles que não amam a revolução, pelo menos devem temê-la” - General Carlos
Guedes em 1964 (O DIA, 2012).
“Se tropas americanas forem enviadas contra Fidel Castro, vocês verão o Brasil inteiro,
não estou exagerando, apoiando Fidel Castro. Nós queremos que a política externa do
Brasil seja brasileira e queremos colocar os interesses do Brasil acima de tudo” (O DIA,
2012).
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Operação Brother Sam: O Pentágono mobilizou um destacamento naval, incluindo um porta-aviões, para fornecer aos
sediciosos o carregamento de quatro petroleiros, além de 110 toneladas de armamentos (DAHÁS, 2012, p. 26).
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décadas de 50 e 60: Em 1952, a tomada do poder por Fulgêncio Batista em Cuba com apoio
dos EUA; o Golpe de estado na Guatemala em 1954; na Argentina, em 1955 o governo
constitucional de Juan D. Perón é derrubado com a polêmica guarda da Marinha dos EUA
no litoral argentino; fracassada tentativa de indução da Argentina a romper
diplomaticamente com Cuba em 1960, urdida pela CIA; Invasão da Baía dos Porcos em
Cuba em 1961 e consequente Operação Mongoose (que objetivava derrubar o governo de
Fidel Castro); assassinato de Rafael L. Trujillo por agentes da CIA, assumindo Joaquin
Balaquer com apoio dos EUA, na República Dominicana; em 1962 o EUA impõe a
exclusão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA); apoio da CIA na
derrubada de Ramon Villeda Morales em Honduras; em 1963 na Guatemala, a derrubada de
Ydígoras com apoio da CIA; no Chile, Salvador Allende (candidato de esquerda) perde as
eleições devido a um investimento de, não menos que, 20 milhões de dólares em benefício
do democrata-cristão Eduardo Frei (em 11 de setembro de 1973, Allende, eleito presidente
democraticamente, morrendo depois de intensa campanha norte-americana contra seu
governo socialista); em 1964, sangrentas mobilizações populares se posicionam contra a
tutela dos EUA no Panamá; Golpe Militar na Bolívia; Ocupação da República Dominicana
pelos EUA de 1965-66; em 1966, Golpe Militar na Argentina, com a derrubada de Arturo
U. Illia com apoio da CIA; em 1969 ocorre a invasão do Haiti de “Papa Doc” (BISSIO,
1984, p.555-558).
O caso de El Salvador também expõe a intervenção maciça dos EUA contra a
guerrilha revolucionária (GORENDER, 2003).
No Brasil, se fez necessário evidenciar as tendências esquerdistas do Presidente João
Goulart (1961-64) e de seus aliados, como o Governador do Estado do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola que havia feito uma reforma agrária em Sarandi, e desapropriação de
empresas estrangeiras a nível estadual. Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil de
(1961-66), relataria ao governo norte-americano de forma catastrófica, a política de Jango:
“O governo de Goulart representa uma ameaça ao mundo livre. Minha conclusão é que
as recentes ações de Goulart e Brizola para promover a reforma agrária, levarão o Brasil
a um governo comunista, como Fidel Castro fez em Cuba” (O DIA, 2012).
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Unidade de elite, treinada e especializada em combater movimentos de esquerda e reprimir intentos de insurreição
(BANDEIRA, 1978, p. 138).
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Shell e Texaco; outorgou à Petrobrás o monopólio das importações de petróleo e assinou o
decreto regulamentando as remessas de lucros para o exterior, apesar de inúmeras tentativas
do embaixador Lincoln Gordon, em convencer João Goulart a retroceder em sua decisão
(BANDEIRA, 1978).
Bocayuva Cunha completaria o raciocínio, desabafando:
“Não queremos que o capital privado entre, lucre rapidamente e se vá. Nos últimos 10
anos, o lucro de companhias americanas tem sido 200% ao ano, 300% ao ano, até
mesmo 1000% por ano de seu capital. Nós achamos que vocês, americanos, deveriam ter
feito conosco, no Brasil, a mesma coisa que os russos fizeram com a China, (a China
Comunista). Se vocês tivessem nos ajudado como a Rússia ajudou a China, o progresso
e a qualidade de vida no Brasil seriam muito mais altos” (O DIA, 2012).
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No Brasil, estiveram com as Marchas a maioria dos partidos, lideranças empresariais, políticas e religiosas, e tradicionais
entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) (REIS, 2012, p. 33).
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União Cívica Feminina (BUENO, 2010).
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O Golpe Civil-Militar
“O que é bom para os EUA é bom para o Brasil”- General Juracy Magalhães,
embaixador do Brasil nos EUA em 1964 (O DIA, 2012).
A Redemocratização
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Acordo de “cooperação nuclear” onde o Brasil receberia o investimento de US$ 10 bilhões, em troca do fornecimento de
urânio à Alemanha. Esse acordo quase significou o rompimento entre Brasil e EUA (BUENO, 2010, p. 398).
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humanos. Converteu-se no mediador do primeiro acordo de paz entre um país árabe e
Israel. O acordo de Camp David, de 1978, selou uma paz duradoura entre Israel e Egito.
Carter assinou um tratado com o Panamá, segundo o qual os EUA devolveriam o canal em
2000 ao controle panamenho. Carter adotou uma política de distensão com os países
comunistas, estabeleceu relações diplomáticas com a China, assinou tratados de SALT-2
com a URSS, sobre a redução de armas nucleares e reduziu as tensões diplomáticas de seu
país com Cuba. Alguns acordos com Cuba resultaram no estabelecimento de embaixadas
dos EUA em Havana e uma cubana em Washington. Também houve acordo pesqueiro com
Cuba sobre a delimitação das águas territoriais para a pesca. Carter autorizou que turistas
dos EUA visitassem Cuba amenizando o embargo contra Cuba.
Foi neste contexto político e histórico norte-americano que Jimmy Carter, ao
contrário dos seus antecessores republicanos, influenciou o processo de abertura
democrática de países da América Latina, quase todos então governados por ditaduras
militares. Em 1977, Carter encontrou-se com o então presidente brasileiro Ernesto Geisel e
influenciou a ala de militares brasileiros ligados a Geisel para um processo de abertura, que
seria continuado por João Figueiredo.
O ex-chefe do SNI, João Batista Figueiredo (1979-85) foi eleito indiretamente pelo
Arena e tomou posse em 19 de março de 1979 com a missão de concretizar o processo de
abertura política. Seu primeiro grande ato, neste sentido, foi a Lei da Anistia, promulgada
em agosto de 79, que beneficiava presos e exilados políticos, restaurava os direitos políticos
dos cassados, mas, também liberava os militares acusados de crimes durante o regime civil-
militar, até então. Também terminou com o bipartidarismo que permitiu eleições diretas
para governador em 1982.
Assim aos poucos os civis voltavam ao poder na medida em que a situação
econômica do Brasil ia de mal a pior. A “emenda Dante de Oliveira” porém, foi votada em
25 de abril de 1984, sendo rejeitada pelo Congresso, o que significou nova eleição indireta.
A frustração porém, foi total diante da eleição indireta que levou ao poder o governador de
Minas Gerais, Tancredo Neves. Antes de tomar posse, um tumor no intestino lhe tirou a
saúde e consequentemente a vida em 21 de abril de 1985. A ditadura militar ainda mantinha
sua sombra nefasta, pois com a morte de Tancredo, assumiu seu vice, o maranhense José
Sarney (COTRIM, 2008, p. 641-642).
Numa incoerência típica do Brasil, o presidente da redemocratização era parte
integrante da ditadura (REIS, 2012, p. 34).
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Os laços entre Brasil e EUA se afrouxaram na medida em que a dominação
econômica se sobressaia à política. O neoimperialismo que não cobiçava mais territórios e
sim a manutenção de seus mercados, aventurava-se nas medidas neoliberais, abandonando
de vez o New Deal e restaurando a política do Laissez-faire.
A preocupação com o comunismo perdia aos poucos a importância, pois o próprio
sistema socialista entrava em colapso e anunciava seu estado precário, primeiro em 89 (com
a reincorporação da Alemanha Oriental pela Ocidental) e finalmente em 91 (com o fim da
URSS).
Hoje, o Brasil ainda constrói um sistema democrático, pois nos falta a experiência de
tê-lo vivido na sua plenitude. Estamos afastados dos sistemas totalitários e violentos a que
fomos submetidos no passado. As violências hoje porém, são heranças que surgiram nas
campanhas ideológicas de órgãos como o IPES e da americanização advinda da invasão
cultural e material desde o período pós-guerra.
Um país que nunca teve tradição patriótica, “cresceu” admirando a cultura de um país
que o currou e guiou pelos caminhos exploratórios que melhor lhe convieram por décadas.
A ideologia fornecida pelos meios midiáticos cumpriu bem o seu papel, alienando e
tornando passivos os descendentes daqueles que se calaram ou que foram calados pelas
prisões do regime civil-militar.
Não podemos porém, esquecer essa triste parte da nossa história, devemos tomá-la
como lição e planejar um futuro, baseado num Brasil sem a influência maléfica dos EUA,
ao invés de nos espelharmos em sua história e nos tornarmos pretensamente a próxima
potência imperialista do século XXI.
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