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Antecedentes e Era Vargas

A Era Vargas compreendeu o período em que Getúlio Vargas permaneceu no poder de 1930 a 1945.
Nesse período, o Brasil vivenciou um governo provisório, em que Getúlio foi eleito indiretamente
(Governo Constitucional) e após 1937, o Estado Novo.
As crises políticas, econômicas e sociais na Velha República, aliadas a Crise de 1929 e a queda do
preço do café no mercado internacional, contribuíram para a eclosão da Revolução de 30.
A Era Vargas de 1930 a 1937
O governo provisório de Getúlio buscou se firmar ante as incertezas do momento, frente as
oligarquias regionais vitoriosa em 1930, que almejavam reconstruir o Estado nos velhos moldes.
O Movimento Tenentista, em oposição às oligarquias regionais, apoiou Getúlio em seu propósito de
reforçar o governo central.
A centralização do poder político se fez sentir com a indicação de interventores, limitando a atuação
dos estados.
Centralização no campo econômico, concentrando a política do café nas mãos do governo, com a
compra e destruição física do excedente (Queima do café).
Transformação do perfil da economia com incentivo a uma indústria de base, nacionalização dos
meios de transportes, das comunicações e da exploração mineral.
A política trabalhista apresentou-se inovadora em relação ao período anterior, com a publicação de
leis de proteção às classes urbanas nascentes, facilitando o enquadramento dos sindicatos de
trabalhadores.
A educação entrou no compasso das mudanças centralizadoras com a criação do Ministério da
Educação e Saúde Pública.
Apoio da Igreja Católica na sustentação popular ao regime de Getúlio.
A Revolução Constitucionalista de 1932 contestou o governo provisório de Getúlio ao exigir a
normalização democrática.
A Constituição de 1934 abandonou o modelo norte-americano, tomando por base a Constituição de
Weimar de cunho social-democrático, voltada para os problemas do capital e do operário.
Surgimento de forças políticas ideologicamente opostas como a Ação Integralista Brasileira (AIB) e
a Aliança Nacional Libertadora (ANL), influenciando significativos setores da sociedade brasileira,
culminando na Intentona de 1935.
Conclusão Parcial
 Centralização política com a acomodação das oligarquias regionais com os grupos
emergentes.
 Início do deslocamento do eixo da economia do polo agroexportador para o urbano
industrial.
 Reestruturação das relações entre os novos atores sociais; classe média urbana, operariado
nascente, imigrantes, militares conservadores e “tenentes” e segmentos da sociedade,
influenciados pelas ideias polarizadoras do início da década de 1930
A Era Vargas de 1938 a 1945.
A descoberta do Plano Cohen, em fins de 1937, agravou o panorama político om uma suposta
tomada do poder pelos comunistas, fazendo Vargas solicitar à âmara a decretação do Estado de
Sítio.
Com o acirramento das tensões políticas houve a outorga de uma nova onstituição a de 1937,de
caráter centralizadora, conhecida como a “Polaca” e também com influência da “Carta del Lavoro”.
Período conduzido por Getúlio em permanente Estado de Emergência com fechamento do
Congresso, extinção das bandeiras, hinos e escudos dos estados, valendo-se de seu perfil populista.
Política externa pragmática voltada para os interesses do país, demonstrando ambiguidades em
relação ao Eixo e os Aliados.
Censura da imprensa, pena de morte e o fechamento dos partidos políticos com a criação de órgãos
de controle político, administrativo e social, como o Departamento Administrativo do Serviço
Público (DASP), Polícia Especial (PE), e Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
A Intentona Integralista em 1938 recrudesceu a ações de Vargas em relação aos integrantes e
simpatizantes da Ação Integralista Brasileira (AIB).
Desenvolvimento de uma economia de caráter nacionalista e industrialista com a criação de
entidades estatais como a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Companhia Nacional de Álcalis
(CNA), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Fábrica Nacional de Motores (FNM).
Desenvolvimento do nacionalismo por intermédio de competições esportivas, festas populares,
jogos imponentes, paradas militares, angariando a atenção da juventude e do trabalhador.
A vida urbana imitou o “american way of life”, com a adoção da semana inglesa e intensa
participação das mulheres nas atividades cotidianas.
Afastamento de Getúlio em relação ao movimento tenentista, mas com apoio da Forças Armadas
aquinhoadas com programas de reaparelhamento e renovação das academias militares do Exército e
da Marinha e criação da Aeronáutica Militar em 1941.
Afundamento de navios brasileiros, arrefecendo a simpatia pelo EIXO e aproximando o Brasil dos
Estados Unidos da América (EUA), notadamente após Pearl Harbor.
Em 1942, a conjuntura internacional conduziu o Brasil a um posicionamento definido em relação ao
EIXO, tendo o país enviado à Europa da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em 1944.
Como consequência da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, evidenciou-se as
contradições do governo de Getúlio, onde o país combatera a tirania sob um governo ditatorial do
Estado Novo, contribuindo para a saída de Vargas.
Com a delicada posição de Getúlio no poder surge o movimento queremista, “Queremos Getúlio”,
significando o adiamento das eleições, com o lançamento da candidatura Vargas.
Conclusão Parcial
Constatou-se uma radicalização política no governo Vargas durante o Estado Novo, com o
arrefecimento das simpatias em relação EIXO, afastamento de grupos de ideologias polarizadoras
da década de 1930 (ANL e AIB) e uma maior aproximação com os EUA, notadamente após o Brasil
participar da Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, tendo o país experimentado
transformações também em sua sociedade e economia por conta da urbanização e da
industrialização.
CONCLUSÃO
A Era Vargas (1930-1945) contribuiu para a transformação do Brasil.
O poder político foi centralizado, na figura de Getúlio Vargas, em detrimento dos poderes locais das
oligarquias regionais.
A economia brasileira vivenciou o início do deslocamento do perfil agroexportador para o
industrial.
A sociedade brasileira foi exposta às ideologias surgidas em meio à conjuntura das décadas de 1920
e 1930 compostas por novos atores sociais; classe média urbana, operariado nascente, militares e
imigrantes.

PEB de 1930 a 1945


Transição do período Vargas (1930-1945): nova percepção do interesse nacional
A revolução de 1930 e a política externa
O governo provisório instalado no Brasil, em novembro de 1930, não teve problemas para ser
reconhecido internacionalmente, até mesmo porque garantiu o cumprimento de todos os
compromissos internacionalmente assumidos pelo país. As relações com os EUA não foram
afetadas na sua essência, apesar do constrangimento inicial motivado pelo apoio que o governo
americano dera ao governo legal de Washington Luís. Decorrência desse ligeiro estremecimento nas
relações bilaterais, foi a não renovação do contrato da missão naval norte-americana, por decisão
brasileira, sob a alegação de contenção de despesas. Chanceler: Afrânio de Melo Franco
Embora o novo chanceler não tenha se descuidado da demarcação das fronteiras, foram enfatizadas
as relações comerciais, sobretudo porque, desde o ano anterior à revolução, a quebra da bolsa de
Nova York e a recessão que se lhe seguiu afetaram negativamente as exportações nacionais. O
ministério das Relações Exteriores, já no Governo Provisório, revigorou a prática da diplomacia
econômica e, assim, a título de regularização das relações comerciais, firmou tratados nos quais
constava a cláusula da nação mais favorecida.
Na historiografia é de certo modo consensual que o Brasil fez ‘jogo duplo’ em relação aos Estados
Unidos e à Alemanha, no período que antecede à Segunda Guerra Mundial, com a finalidade de
barganhar.  Tal jogo fora-lhe facilitado pela crescente participação  alemã no comércio exterior
brasileiro no período de 1934-1938 concomitantemente com o declínio da presença tanto norte-
americana quanto inglesa nas compras e vendas do país.
A opção brasileira em favor dos EUA, isto é, o abandono da ‘equidistância pragmática’ não se deu
na década de 1940, mas sim no final da de 1930, tornada mais visível quando da missão Osvaldo
Aranha àquele país (1939) e da consequente formalização de acordos de cooperação. Para assinalar
uma mudança de atitude e marcar a aproximação BR-EUA, cabe observar que o país anunciou, em
1933, em Montevidéu, por ocasião da VII Conferência Internacional Americana, a sua adesão ao
Pacto Briand-Kellog. O Brasil não dera adesão ao pacto, em 1928, por tê-la considerado
desnecessário, uma vez que , amante da paz, continha em, sua carta constitucional a essência dos
seus princípios norteadores.
No contexto regional, adotou-se uma atitude de prestígio do pan-americanismo, que seria observada
também no Estado Novo, quando do alinhamento aos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
Outra característica da atuação brasileira na área americana foi a conciliação. Em 1930, Afrânio de
Melo Franco ofereceu, com sucesso, os bons ofícios para o reatamento das relações diplomáticas
entre Peru e Uruguai. Na questão de Letícia, entre Peru e Colômbia, e na Guerra do Chaco, entre
Bolívia e Paraguai, a diplomacia brasileira desempenhou também, papel conciliador.
No contexto da sub-região platina, as relações Brasil-Argentina caminharam bem nos aspectos
comercial e diplomático. Foi assinado em 1933, pelos ministros das Relações Exteriores da
Argentina e do Brasil e pelos chefes das representações diplomáticas do Chile, México, Paraguai e
Uruguai, o Tratado Antibélico de Não Agressão e Conciliação, que ficou ‘aberto à adesão de todos
os Estados’, conforme dispunha seu artigo 16.
Finalmente, não se pode deixar de considerar, ainda no contexto regional, a mudança pela qual
passou a política exterior norte-americana com a ascensão de Franklin Delano Roosevelt que, na
busca do alinhamento hemisférico, propôs a ‘política da boa vizinhança’ e inaugurou uma nova
etapa nas relações interamericanas.
A Reforma Administrativa do MRE
A ‘ineficiente e tarda burocracia’ foi substituída por ‘um sistema de ativa e vigilante defesa dos
nossos interesses na dura competição econômica, que é a característica dos dias atuais’. A primeira
fusão dos quadros já permitiu que os funcionários alternassem o exercício de suas funções no
exterior e no país, a fim de acompanhar a evolução tanto da realidade interna como da externa e,
consequentemente, do ministério. O argumento para fusão dos corpos diplomático e consular residia
na agilização do serviço e na melhor preparação do servidor, que conheceria os assuntos de maneira
econômica, política e diplomática.
A política comercial
O que se alterou após 1930 foi o ímpeto governamental, o desejo de rever e uniformizar os tratados,
com a finalidade de ‘regularizar’ as relações comerciais, conforme foi dito à época. O MRE buscou,
assim, dar cumprimento à promessa contida na plataforma da Aliança Liberal, por meio da
assinatura de acordos com o estrangeiro que levassem ao fomento da produção e das exportações.
No momento em que o preço do café esteve em baixa no mercado internacional, em decorrência da
depressão econômica mundial, o Governo Provisório convocou a Conferência Internacional do
Café, que teria lugar em SP. Ao conclave, inicialmente, deveriam comparecer os representantes dos
países que se fizeram presentes em NY (1902), em reunião da mesma natureza. Desta, cabe destacar
a aprovação, pelo seu plenário, de projeto de criação de um Bureau Internacional do Café, em cujas
atribuições estaria a organização das estatísticas de produção, estímulo de consumo, abertura de
mercados, busca de redução de tarifas, estudo dos meios de financiamento de sua indústria,
comércio e transporte, e a tarefa de propaganda, em normas já estabelecidas.
A questão de Letícia
Peru e Colômbia tinham questões de fronteira desde a época da Independência. Em razão do
Tratado de Salomon-Lozano, firmado em 1922 pelas duas nações, o território de Letícia ficou
incorporado à Colômbia.
O tratado preocupou o governo do Brasil pelo fato de os territórios a leste da linha Apapóris-
Tabatinga, já reconhecidos como brasileiros pelo Peru, poderem vir a ser reivindicados pela
Colômbia, uma vez que esta ficou com a posse das terras, até então peruanas, a oeste da referida
linha.
O Brasil retirava as suas ‘ponderações’ e o Peru, por seu lado, punha como condição ‘o
reconhecimento da linha Apapóris-Tabatinga’ como limite com o Brasil, para solucionar os seus
problemas de fronteira; a Colômbia reconheceria, em tratado a ser elaborado posteriormente, a linha
em apreço, e o Brasil cederia à Colômbia a livre navegação no Amazonas e em outros rios comuns;
e, finalmente, a Colômbia e Peru ratificariam o Tratado Salomón-Lozano.
Como desdobramento da Ata de Washington, Brasil e Colômbia firmaram, em 1928, na gestão
mangabeira, portanto, Tratado de Limites, considerando a linha Apapóris-Tabatinga como divisória
entre os dois países.
Os peruanos de Loreto, inconformados com a transferência de autoridade da região para a
Colômbia, atacaram e ocuparam Letícia, em 1932, momento culminante de uma preparação iniciada
dois anos antes.
As relações entre os dois países (Peru e Colômbia) deterioraram-se. O primeiro choque ocorreu em
14 de fevereiro de 1933. O governo brasileiro ofereceu a sua mediação no final de 1932, quando a
luta estava iminente. Foi infrutífera, e a questão ficou no âmbito da SDN, que designou, em 1933,
um comitê consultivo de 3 membros. O Brasil tomou medidas de neutralidade. Permitiu a livre
navegação nos seus rios a ambos contendores, mas impediu a passagem de aviões sobre seu
território.
Após uma série de dificuldades, os dois países firmaram um acordo, em 25 de maio de 1933, sob a
chancela da SDN que, em seguida, constituiu também, uma Comissão Administradora, integrada
pelos EUA, Brasil e Espanha.
A atividade moderadora de Melo Franco, todavia, permitiu que as delegações chegassem a um
acordo, pelo qual os dois países aceitaram o Tratado Salomón-Lozano, que só poderia ser
modificado por um mútuo consentimento ou por decisão da Justiça Internacional. Como parte do
Acordo, foi assinada uma Ata Adicional, reguladora, entre outras coisas, da navegação fluvial dos
dois países. Em 19 de junho de 1934, a Comissão Administradora retirou-se da região.
Mediação brasileira na Guerra do Chaco
A questão do Chaco remonta ao século XIX e tem sua origem no fechamento do Rio Paraguai à
Bolívia, decorrente do Tratado da Navegação, Comércio e Limites assinado entre Argentina e
Paraguai, em 15 de junho de 1858. Na década de 1930, a questão se exacerbou, sobretudo em razão
da perspectiva de exploração de petróleo na área.
O ministro das RE, Otávio Mangabeira, ao declinar da função, fundamentou-a na consideração de
que o Brasil ‘poderia ser arguido injustamente que fosse, de ter qualquer interesse indireto, ou
direto, próximo ou remoto’, pelo fato de ter firmado tratados de limites tanto com a Bolívia quanto
com o Paraguai, então tramitando constitucionalmente. A diplomacia brasileira evitava ‘situações de
relevo’, segundo o próprio chanceler, a fim de não ferir sua intenção de reforçar a posição de
neutralidade. A Argentina absteve-se também de participar da comissão a qual participariam
Bolívia, Cuba, México e Uruguai.
Pelo Tratado firmado com a Bolívia, em 1910, decorrente do Tratado de Petrópolis, o Brasil dera
livre trânsito à Bolívia pelo seu território. Assim, não poderia recusar a passagem de armamentos
boliviano comprados no exterior, pedida pelo país andino em 1928. Todavia, para melhor cumprir a
sua neutralidade, deu explicações ao Paraguai, além de lhe estender o que fora autorizado à Bolívia.
Os norte-americanos abandonaram o problema em 1933, quando a questão foi transferida para a
SDN. Getúlio Vargas, em 1933, decretou a observância da completa neutralidade durante a guerra
entre os dois países vizinhos. Depois de várias tentativas de mediação (18, sendo 2 da SDN), O
Brasil, na hora certa, e seguro do seu êxito, exerceu o papel de mediador no conflito, juntamente
com outros países americanos, especialmente a Argentina. Foi assinado, em BsAs, pelos
chanceleres da Bolívia e do Paraguai, o ‘Protocolo sobre a Convocação da Conferência da Paz,
relativa ao conflito do Chaco’ pelo qual cessava o conflito armado. Os beligerantes e mediadores
assinaram, ainda na mesma data, o ‘Protocolo Adicional da Comissão Militar Neutra para Frente de
Operações do Chaco’. Finalmente, em julho de 1938, firmou-se em BsAs entre as nações litigantes
o ‘Tratado Definitivo de Paz, Amizade e Limites’.
O Estado Novo: reflexos diplomáticos
O advento do Estado Novo (novembro de 1937) foi bem acolhido em Berlim e em Roma, em razão
de sua identidade ideológica. Em Washington, houve apreensão, num primeiro momento, mas
contrariamente ao que poderia indicar, o Brasil, no plano externo, não assumiu atitude que
eventualmente pudesse levar a um alinhamento às potências do Eixo. Tanto é assim, que se recusou
a fazer parte do Pacto Anti-Komintern.
Osvaldo Aranha, embora, de certa forma, alijado em Washington, foi convidado a participar da
pasta das Relações Exteriores, onde ficou de 1938 até 1944. Aranha entrou prestigiado no governo,
em razão do que pôde conduzir os negócios exteriores com mais liberdade que poderia supor. Ele
não nutria simpatias pelo Eixo e era a favor do incremento das relações com os EUA.
Alemanha
É preciso distinguir as atividades da Ação Integralista Brasileira (AIB) de Plínio Salgado e a
associação desta com os teuto-brasileiros, no sul do país, daquelas de propaganda exercida pela
seção brasileira do Partido Nazista. Faz-se igualmente necessário marcar dois momentos: o da
extinção dos partidos políticos (1937) e o da proibição de atividades políticas aos estrangeiros
(1938). Pode-se perceber a admiração dos integralistas pelo nazismo. A representação alemã no
Brasil manifestou, em 1935-1936, às autoridades de Berlim, o erro dos teuto-brasileiros em apoiar o
integralismo, que ao apoiarem esse partido, eram a favor de uma ideologia nacionalista, o que traria
prejuízos à cultura alemã no sul do Brasil. Além disso, o integralismo advogava a fusão das raças,
contraindo, pois, as teorias racistas do Partido Nazista.
Crise diplomática não afetou as relações comerciais, principalmente no que diz respeito às
exportações de algodão.
Itália
O governo italiano mantinha diplomacia paralela, uma com o governo e outra com a AIB.
EUA
Quis evitar a maior interação do Brasil com a Alemanha nazista. Nesse sentido, o rompimento de
Vargas com a AIB e a colocação desta na ilegalidade, em dezembro de 1937, afora outras
considerações, contribuíram para tranquilizar o governo e a opinião norte-americanos. A partir de
maio de 1938, as relações do Brasil com os EUA melhoraram ainda mais, não só em razão da
presença de Osvaldo Aranha à frente do Ministério, mas também por causa da crise nas relações
com a Alemanha.
O Brasil e a Segunda Guerra Mundial
Neutralidade e pragmatismo
O acompanhamento da difícil conjuntura era feito também com apreensão pelas autoridades
governamentais, que não vislumbravam a possibilidade de o eventual conflito ficar restrito ao
espaço europeu. Em 29 de junho de 1939, o ministro das Relações Exteriores do Estado Novo,
Osvaldo Aranha, apresentou a Vargas sua proposta de regras de neutralidade. Anteviu dificuldades
de o Brasil manter-se neutro. Sugeriu providências: ‘arregimentação da opinião pública, economia
de combustíveis e trigo, regularização de vencimentos de obrigações internacionais, constituição de
estoques dos produtos indispensáveis e racionalização de seu consumo e proibição de exportação de
ferro.
A neutralidade foi violada mais de uma vez em razão da falta de capacidade militar do Brasil. O
Brasil passou a apoiar a França e a Inglaterra, mas o Reich não reagiu, porque era melhor manter o
Brasil neutro, assim como o resto da América Latina. No referente às relações comerciais, as
importações e exportações alemãs no Brasil sofreram acentuado declínio e, concomitantemente,
houve sensível aumento no intercâmbio comercial com a Grã-Bretanha e os EUA.
O período entre 1935 e 1941 na história da política externa brasileira foi sintetizado por Gerson
Moura como de ‘equidistância pragmática’, pelo fato de o Brasil ter tirado proveito tanto dos EUA
como da Alemanha. A retração da presença comercial da Alemanha na América do Sul, por causa
do conflito, e razões de ordem interna, inclusive a pressão popular, levou o Brasil a abandonar a
equidistância, substituindo-a pelo alinhamento aos EUA. Mantinha com esse país livre-comércio e
relacionamento assimétrico.
Quer-se-ia ainda reorganizar as Forças Armadas, inclusive para garantir o seu apoio ao Estado
Novo. O comércio compensado fazia crescer o intercâmbio comercial Brasil-Alemanha em níveis
que preocupavam as autoridades norte-americanas, não só por razões econômicas, mas pela possível
influência que o Reich teria sobre o Brasil. Para acalmar os EUA, Osvaldo Aranha visitou os EUA
para reafirmar a neutralidade brasileira e apoio aos EUA.
O objetivo era, por meio da assistência econômica, atrelar o Brasil ao sistema de poder dos EUA.
Tal objetivo não se limitava ao Brasil, pois fazia parte da política da Boa Vizinhança de Roosevelt.
As cooperações militares foram aquém do esperado. Do lado brasileiro, a missão Aranha assinala o
início do fim da ‘equidistância pragmática’.
Se no referente ao aspecto econômico e comercial as negociações caminharam com facilidade, no
relativo ao militar as relações foram difíceis de ser encaminhadas. Pontos de discórdias residiam na
não aceitação por parte brasileira da presença de norte-americanos no Nordeste do Brasil e na
relutância dos EUA fornecerem armas para o Brasil. A concessão dada pelo governo à Panair do
Brasil, empresa privada, em 1941, para construir e melhorar aeroportos no Litoral Norte e Nordeste
do país, significou importante colaboração aos EUA em termos estratégicos, conforme informou
depois em 1945, o general Leitão de Carvalho, ex-chefe de delegação brasileira à Comissão Mista
de Washington-Rio de Janeiro. Embora o Brasil mantivesse neutro no conflito, apontava
solidariedade aos EUA.
Relações comerciais
Com a Alemanha, o Brasil praticou o comércio compensado, sistema em que importações e
exportações eram feitas à base de troca de mercadorias, cujos valores eram contabilizados nas
‘caixas de compensação de cada país’. Fez, em 1936, ajuste de compensação, visando ao
incremento das vendas de algodão, café, cítricos, couro, tabaco e carnes. O Brasil passou a ocupar
na América Latina, a posição de primeiro comprador de mercadorias alemãs. Tais acordos era
benéficos para o reaparelhamento das Forças Armadas, pois aproximavam as duas nações.
Com os EUA praticou o livre comércio. Assim, firmou com esses o tratado de 2 de fevereiro de
1935, sob o princípio da cláusula de nação mais favorecida, num momento de dificuldades para a
exportação do café.
Os EUA não só aceitaram o comércio compensado com a Alemanha, como concordaram em
dispensar tratamento diferenciado ao pagamento da dívida brasileira.
O pragmatismo brasileiro no referente ao comércio exterior estendeu-se portanto até a eclosão do
conflito. Este criou dificuldades às rotas marítimas alemãs e, ao mesmo tempo, aumentou o fluxo de
mercadorias em outras, modificando as direções e a estrutura do comércio exterior, conforme já
afirmado. A guerra aumentou as reservas brasileiras não só em razão do crescimento das
exportações, como também pelas dificuldades que ele criou às importações.
O projeto siderúrgico
Getúlio Vargas sentiu o momento e procurou, como contrapartida da cooperação, obter vantagens
concretas para o desenvolvimento econômico nacional, como recursos e tecnologia norte-
americanos para a construção de uma usina siderúrgica situada em Volta Redonda. A par da
siderúrgica, havia o desejo de reequipas as Forças Armadas.
As negociações foram difíceis em 1930-1940. Getúlio Vargas fez discurso em cima do encouraçado,
onde demonstrou simpatia aos governos totalitários. Esse discurso era, segundo Vargas, para o
plano interno, uma vez que no plano externo ele garantia que o Brasil não se afastaria da
solidariedade pan-americana. A conjuntura internacional estava propícia, ou Washington coopera,
ou abre-se caminho à cooperação alemã.
Osvaldo Aranha enviou aos EUA, em 25 de setembro, uma delegação que concluiu acordo entre os
dois países, pelo qual os norte-americanos concediam ajuda financeira (por intermédio da
Eximbank) e tecnológica para a criação de uma usina siderúrgica no Brasil. Os governos dos EUA e
do Brasil chegaram a um acordo sobre o fornecimento de café para o mercado norte-americano, a
respeito da participação brasileira no mercado canadense de algodão e da venda de minerais
estratégicos aos EUA.
A participação no conflito
A presença de tropas do Eixo no noroeste da África fez aumentar a importância do Nordeste
brasileiro no sistema defensivo norte-americano.
Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompe relações diplomáticas e comerciais com o Eixo, não sem
antes obter dos EUA promessas consistentes de que as Forças Armadas seria reequipadas. Argentina
e Chile não rompem com o Eixo. Brasil apoia EUA em momento difícil para eles.
O fornecimento dos EUA, a elevação do crédito do Brasil e outras formas de cooperação tiveram
como contrapartida, sobretudo, a venda de material estratégico, principalmente borracha e minerais.
O projeto de desenvolvimento nacional passava pela siderurgia, segundo Vargas, assim como a
segurança nacional passava pela industrialização, segundo os militares.
Como decorrência da intensa colaboração, os EUA venderam ao Brasil armas e munições a preços
inferiores ao custo, forneceram-lhe capital para assumir o controle de empresas de aviação alemã e
italiana e, ainda, para o desenvolvimento da indústria extrativa mineral e vegetal de importância
militar.
Os EUA foram autorizados, em 1942, a proceder à modificações necessárias à utilização militar nas
bases de Belém, Natal e Recife. Os dois países instituíram a Comissão Técnica Militar Mista e
outras formas de cooperação nos aspectos comercial e bancário, bem como cooperação para
combater espionagem.
Brasil declara estado de beligerância contra o Eixo, pois navios mercantes e de passageiros
brasileiros foram atacados. Ao lado dos Aliados, o Brasil forneceria matéria-prima para material
bélico aos EUA e ceder bases militares.
A participação direta do Brasil no conflito decorreu mais de sua vontade do que por solicitação dos
EUA. A Grã-Bretanha era contrária mesmo à participação brasileira. Para os americanos, o Brasil já
dava importante contribuição estratégica e o envio de suas tropas não estava nos planos. De acordo
com os EUA, o Brasil teve papel secundário e dependente dos EUA nessa guerra.
Com a participação direta no conflito, o governo brasileiro procurou reequipar o Exército (o
material ficaria no Brasil), aumentar o efetivo treinado, melhorar a indústria bélica e o sistema de
comunicações, a fim de transformar o Brasil em uma ‘potência fortemente aparelhada para a
guerra’.
Em termos materiais, a participação no conflito deixou saldo positivo ao Brasil. O Exército e a
Força Aérea foram modernizados e equipados numa escala superior ao período imediatamente
anterior, com quadros de pessoal treinado em centros mais avançados que os nacionais. Afora isso,
é preciso considerar o aumento do prestígio internacional do país, figurando ao lado dos vitoriosos,
e o aumento do componente de orgulho incorporado ao sentimento nacional.

Governo Provisório (1930 – 1934): Reconhecimento internacional do novo regime. Foco na recuperação da
economia, 31 acordos comerciais. O Brasil lidera a criação da OIC (Organização Internacional para o Café). O
grande foco de Vargas era a transição para o capitalismo, já que a agroexportação era instável. Programa de
Substituição de Importações. Vargas tinha um problema político para avançar na industrialização, pois os
agroexportadores tinham medo de perder crédito e espaço no governo, então Vargas burocratiza o Estado, mas não
todos os órgãos que o constituem, e sim os que contribuíam para o avanço da industrialização: insulamento do
Itamaraty. Equidistância pragmática entre Estados Unidos e Alemanha: ideia de se manter fazendo um movimento
pendular constante entre as principais lideranças do sistema internacional, o que era uma forma de justificar dois
elementos do governo de Vargas: de um lado, a tendência autoritária e, de outro, o projeto do American Way of
Life. Ele queria extrair dos dois países benefícios para o Brasil.
Governo Constitucional (1934 – 1937): Vargas faz uma Constituição em 1934, inspirada na República de
Weimer. Nessa época, o comércio com a Alemanha tinha aumentado bastante e Vargas resolve assinar, em 1936,
um acordo comercial com os alemães. As relações econômicas eram diferentes com os EUA em comparação com
a Alemanha. Com os EUA, havia a ideia da liberalização comercial, ou seja, facilidade do comércio reduzindo
tarifas. Com a Alemanha, se fazia o modelo de “comércio compensado”, eliminando a necessidade de moeda na
compra e venda de mercadorias, constituindo uma troca de produtos como o escambo, o que gerou apreensão por
parte dos EUA. A Constituição tinha uma eleição prevista, mas Vargas não queria perder o poder e dá um golpe,
instituindo o Estado Novo

Estado Novo (1937 – 1945): A Constituição imitada nesse período foi a da Polônia e ficou
conhecida como “Polaca”. Em termos de política externa, se produz uma contradição, porque ao
mesmo tempo em que, aparentemente, Vargas se encaminhava para se aproximar mais de Hitler, ele,
na verdade, se aproxima ainda mais dos EUA, pois convida para ser chanceler Oswaldo Aranha, que
era embaixador dos EUA. Ocorre uma crise diplomática com a Alemanha em 1933, depois que
Vargas proíbe o partido AIB. Na vizinhança, o Brasil assume uma postura de mediação: Questão de
Letícia (que é um território da Colômbia e que o Peru queria pra si e o invadiu, só que essa região é
importante pra Colômbia pois ela entra em contato com rios que deságuam na foz do Amazonas,
então Colômbia vai entrar em guerra com o Peru para manter a área e o Vargas coloca o Brasil pra
mediar a situação e vai dar certo, os dois assinam um tratado e acordo de paz e a região permanece
com a Colômbia) e a Guerra do Chaco (a Bolívia queria a região que pertencia ao Paraguai pois
dava acesso ao Rio Paraguai, mas nos anos 1930 descobriram petróleo lá e a guerra envolveu
conflito de interesses entre 2 empresas de petróleo: a Shell (Europa) e a Standard Oil (EUA) e
dizem que as empresas incentivaram os governos pra entrar em guerra e disputar quem ficaria com
a região. E o Brasil vai se colocar de novo como mediador e também dá certo, consegue produzir
uma paz entre os dois e o Chaco fica com o Paraguai.
Segunda Guerra Mundial: foi o ápice do movimento de equidistância de Vargas. Esse momento
de guerra era propício para exigir mais recompensas em troca do alinhamento. Os EUA estavam
com receio da influência crescente da Alemanha na América do Sul. Então, Roosevelt adota a
Política da Boa Vizinhança e a retomada do projeto pan-americano, agora não apenas econômico,
mas também na área da segurança. Retoma as Conferências Pan-americanas, que mostram a
escalada de compromissos que serão construídos: Conferência de Buenos Aires em 1936 (os países
aceitam assinar uma resolução que diz que uma ameaça a uma nação seria ameaça a todas) e a
Conferência de Havana em 1940 (onde agressões a uma nação seriam agressões a todas).
Valorização da diplomacia cultural (tanto para aumentar a boa imagem dos EUA em países
periféricos, quanto para aumentar a visibilidade destes nos EUA): grandes símbolos são a Disney e
Carmem Miranda. Isso não era de graça, pois, vendo que a guerra iria se prolongar, os EUA
precisavam que o Brasil entrasse no esforço de guerra, porque a prioridade dos EUA era aproximar-
se do Brasil por causa da localização do Nordeste, principalmente em Natal, porque a ideia era ter
uma base aérea para facilitar o voo entre EUA e África em direção à Europa, estratégia que obteve
sucesso. Em 1939, o Reino Unido declarou bloqueio marítimo à Alemanha, dificultando o
comércio. Mesmo com a guerra declarada, Vargas tenta manter uma posição de equidistância entre
as duas potências, a fim de assegurar o apoio para reequipar o Brasil militar e economicamente. Os
EUA tinham muito receio em mandar, de fato, equipamentos industriais para o Brasil. Depois que
os EUA são atacados em Pearl Harbor, em dezembro de 1941, precisaram ceder aos apelos de
Vargas. Em janeiro de 1942, acontece a Conferência do Rio de Janeiro: como os EUA foram
atacados, todos os países da América Latina passariam a se engajar nos esforços de guerra. Os
países se comprometeriam a dar materiais estratégicos para os EUA com exclusividade e manteriam
a ordem interna, ou seja, perseguir os comunistas e fascistas, e, em troca, os EUA fariam os
investimentos. É nessa conferência em que Vargas rompe com a lógica da equidistância pragmática
e rompe relações com o Eixo. Hitler desaprova essa atitude e ataca navios brasileiros, o que legitima
ainda mais a postura de rompimento com o Eixo. Então, Vargas declara guerra ao Eixo em agosto
de 1942. Colaboração efetiva entre Brasil e EUA: repasse de armas e munições em troca de
instalação de bases, comissões militares conjuntas; acordos de venda e comércio (CSN e Vale do
Rio Doce, investimentos dos EUA). Na Conferência, os EUA queriam que todos os países da
América Latina rompessem relações com o Eixo, mas Argentina e Chile não concordaram com isso
e permaneceram neutros. Vargas manda a FEB para a Itália em 1944. Com o final da guerra, Vargas
reedita a estratégia de buscar um assento permanente, agora no Conselho de Segurança da ONU.
Roosevelt sugere que isso aconteça, mas a URSS e Reino Unido não aceitam. Nesse esforço, o
Brasil estabelece relações com a URSS em 1945. Acontece a contradição: o Brasil venceu a guerra
contra Estados autoritários, mas ele mesmo era um Estado autoritário. Assim, Vargas perde as
condições políticas para se manter, sofre pressões militares e renuncia. Mesmo com a estratégia de
equidistância, o que acabou vigorando no final foi a afirmação do americanismo como paradigma
da política externa.

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