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História

2. Portugal no 1º Pós-Guerra
2.1. A falência da Primeira República
A 5 de outubro de 1910 , Portugal passou por uma revolução que colocou fim a quase 8
séculos de monarquia e colocava os republicanos no poder – Primeira República
Portuguesa (1910-1926)
2.1.1. As dificuldades económico-financeiras
A 9 de março de 1916, em resposta ao confisco dos navios mercantes alemães estacionados
em águas portuguesas, a Alemanha declarou guerra a Portugal. Com o envio do primeiro
contingente do Corpo Expedicionário Português (CEP) para a Flandres, em janeiro de 1917,
Portugal entrava na Primeira Guerra Mundial, integrando a causa dos Aliados . A
participação portuguesa no conflito mundial acentuou os problemas económicos e
financeiros. A falta de bens de consumo e os racionamentos desesperaram os portugueses,
em especial os estratos mais desfavorecidos. Com a produção industrial em queda, o défice
da balança comercial cresceu. A dívida pública, problema estrutural das nossas finanças,
disparou. Na tentativa de dar resposta imediata à diminuição das receitas orçamentais e ao
aumento das despesas, os governos multiplicaram a massa monetária em circulação, o que
desvalorizou a moeda e originou uma inflação galopante. Os preços continuaram a subir
depois da guerra, repercutindo-se no aumento do custo de vida, sobretudo dos que viviam
de rendimentos fixos e poupanças: as classes médias e os operários.

2.1.2. A instabilidade política


A Constituição de 1911 atribuiu ao Congresso da República (assim se designava o
Parlamento português) elevados poderes sobre governos e presidentes, o que contribuiu
para uma crónica instabilidade governativa. Em 16 anos de regime, houve 7 eleições gerais
para o Congresso, 8 Presidentes da República e 45 governos. As lutas político-partidárias
acentuaram-se ainda mais com a fragmentação do Partido Republicano .
A Grande Guerra trouxe consigo o agravamento da instabilidade política. Em 1915, ainda o
país não havia entrado nela, já o general Pimenta de Castro dissolvia o Parlamento e
instalava a ditadura militar . Pela via da ditadura enveredou, igualmente, o major Sidónio
Pais, através do golpe militar de 5 de dezembro de 1917. Considerando-se o fundador de
uma "República Nova", destituiu o Presidente da República, Bernardino Machado, dissolveu
o Congresso e fez-se eleger presidente por eleições diretas, em abril de 1918 . O sidonismo
pretendia combater a hegemonia do Partido Democrático na vida nacional, apoiando-se
nas forças mais conservadoras, nomeadamente nos monárquicos. O assassínio de Sidónio
Pais, a 14 de dezembro de 1918, precipitou o país para uma guerra civil. Os monárquicos
quiseram aproveitar-se da desagregação dos partidos republicanos durante o consulado
sidonista e ensaiaram uma efémera "Monarquia do Norte", proclamada no Porto, em
janeiro de 1919 .O regresso ao funcionamento democrático das instituições fez-se logo em
março, mas a "República Velha" (período terminal da Primeira República) não logrou a
conciliação desejada.
Sidonismo – período durante o qual governou , extrema direita ,influenciou ditaduras fascistas

2.1.3. A agitação social


Além da óbvia oposição dos monárquicos, a República também suscitou os protestos dos
católicos, das classes médias e do operariado. O laicismo da República, assente na
separação da Igreja e do Estado, originou, por sua vez, um violento anticlericalismo . A
proibição das congregações religiosas, as humilhações impostas a sacerdotes e a excessiva
regulamentação do culto, entre outras medidas, granjearam à República a hostilidade da
Igreja e do país conservador e católico. Sabia que, a dar-lhe força, dispunha do imenso país
agrário, conservador e católico. As bases de apoio dos republicanos também se sentiam
traídas por um regime que não conseguia melhorar as suas condições de vida. Nos anos 20,
as classes médias viram o seu poder de compra reduzido a metade do que fora em 1910.
A mesma descrença grassou entre o operariado, para quem a greve se afigurava como a
forma de luta mais eficaz contra a miséria a que estavam sujeitos. A agitação social chegou
mesmo a adquirir contornos violentos nas grandes cidades, multiplicando-se os assaltos e
os atentados bombistas . Com efeito, atos de violência despropositada manchavam o
regime e envergonhavam-nos além-fronteiras, onde se falava de "revoluções à portuguesa".
Foi o caso da tristemente célebre "Noite Sangrenta" (19 de outubro de 1921), em que
ocorreram os assassínios do chefe do Governo, António Granjo, e de heróis do 5 de
Outubro, como Carlos da Maia e o almirante Machado dos Santos. A Primeira República
caminhava para o abismo.

2.1.4. O fim da primeira República DIMINUIR


As fraquezas da Primeira República abriam caminho às ações da oposição.
Grandes proprietários e capitalistas, ameaçados pelo aumento de impostos e pelo surto
grevista e terrorista, exploraram o tema da ameaça bolchevista. C ansadas das
arruaças constantes e receosas do bolchevismo, as classes médias deram mostras de apoiar
um governo forte que restaurasse a ordem e a tranquilidade, e lhes devolvesse o desafogo
económico. Portugal, sem sólidas raízes democráticas e a braços com uma grande crise
socioeconómica, tornou-se, por isso, presa fácil das soluções autoritárias.
Assim se compreende a facilidade com que a Primeira República portuguesa caiu, em 28 de
Maio de 1926, às mãos de um golpe militar. Na intervenção do Exército, a sociedade
portuguesa viu a resposta à incapacidade política da República parlamentar.
Gomes da Costa iniciou a revolta militar em Braga, na madrugada de 28 de maio de 1926,
colhendo a adesão do Exército em todo o país. Em 30 de maio, o governo do democrático
António Maria da Silva pediu a demissão e, no dia seguinte, verificou-se o encerramento do
Parlamento e a resignação do Presidente da República, Bernardino Machado. Foi a Mendes
Cabeçadas que Bernardino Machado transmitiu "a plenitude do poder executivo". O
carácter legalista do comandante viu-se, porém, ultrapassado pelo autoritarismo de Gomes
da Costa que, a 17 de junho, assumiu a governação. Em inícios de julho, Gomes da Costa
seria deposto pelo general Óscar Carmona, que passou a governar o país em ditadura.

Caracterizar a I República
Sistema político que vigorou em Portugal de 1910-26 , caracterizou-se por ser um regime
democrático, secular e republicano, que substituiu a monarquia constitucional após a
Revolução de 5 de outubro de 1910. Durante a Primeira República, Portugal passou por
profundas transformações políticas, sociais e econômicas , o regime republicano trouxe
consigo a separação entre a Igreja e o Estado, a implementação de políticas de laicização, a
adoção do sistema parlamentar, a criação de leis de proteção aos trabalhadores e a
promoção da educação pública. No entanto, a Primeira República Portuguesa também
enfrentou vários desafios e instabilidades. Ao longo deste período, o país teve um sistema
político fragmentado, marcado por frequentes mudanças governamentais e conflitos entre
diversas fações republicanas. Além disso, a Primeira República foi caracterizada por uma
fraca estabilidade financeira, crises económicas e uma participação limitada da população
nas decisões políticas. A Primeira República em Portugal terminou em 1926 com o golpe
militar que instaurou a Ditadura Nacional, liderada pelo general António Óscar Carmona.

2.2. Tendências culturais: Naturalismo versus vanguardas


2.2.1. A persistência do Naturalismo
2.2.2. O Modernismo em Portugal

3.1 A Grande Depressão (anos 30)

Causas : A situação política , económica e social dos anos 20 ➟ American Way of Life

EUA ➟ anos 20
Produções ➟ fábricas
Mecanizações ➟ aumento de produção e consumo
Melhores condições de vida
Publicidade ➟ Crédito
Economia Liberal ➟ Sem intervenção do estado
➟ Lei de oferta e procura
➟ Estado Social
➟ Bolsa de Valores

Consequência : O estado social não existia - responsável por proteger cidadãos caso
acidente no trabalho , hoje em dia garante o subsídio para quem é desempregado ou seja ,
caso acontecesse um acidente o estado não ajudava ( economia liberal ) .

3.1.2 A dimensão financeira da crise

Superprodução industrial ➟ Especulação ➟ Crash da Bolsa

Outubro de 1929 ➟ acionistas alarmados com descida dos preços e dos lucros industriais.

"Quinta feira Negra" ➟ milhões de títulos postos à venda ➟ crash da bolsa de Wall Street.

Lei da oferta e da procura ➟ não havendo compradores ➟ ações são meros papéis sem
valor.

Ações que haviam sido compradas a crédito ➟ ruína dos bancos.

3.1.3 A dimensão económica e social da crise

Empresas descapitalizadas, sem acesso ao crédito ➟ falências ➟ desemprego ➟


diminuição do consumo ➟ ciclo vicioso.

Repercussões também na agricultura.

Famílias na miséria ➟ sem segurança social ➟ delinquência.

3.1.4 A mundialização da crise; a persistência da conjuntura deflacionista

Economia que depois da Guerra se havia espalhado ➟ Grande depressão estende-se às


economias dependentes dos EUA.
Países fornecedores de matérias primas , Países cuja reconstrução se baseava nos
créditos americanos.

Da Inflação do pós-Guerra à Deflação nos anos 30:

✦ E.U.A, Presidente Hoover (FDR);

✧ a nível interno, mantém política de Estado não intervencionista na economia;

✧ a nível externo ➟ protecionismo ➟ aumento das taxas de importação ➟ declínio do


comércio mundial;

✦ Europa ➟ Governos aumentam impostos e restringem-se créditos ;


=
Ciclo vicioso e deflação a nível mundial que completa descrença no sistema do capitalismo
liberal.

3.2 A resistência das democracias liberais (anos 30)

3.2.1 O New Deal


Economista John Keynes – defende intervencionismo económico.
Presidente Franklin Roosevelt (FDR) aplica estes princípios nos EUA = New Deal em duas
fases.
1º fase (1933-34) 2º fase (1935-38) , Estado Providencia / Welfare State
Sector financeiro Wagner Act 1➟ liberdades sindicais ➟ greves
Infraestruturas Social Security Act2 ➟ Doc.6D ➟ reformas
Agricultura Fair Labor Standart Act3– dia do trabalhador ,
estabelecimento
Indústria do salário , menos horas de trabalho.
1

2
O intervencionismo do Estado na economia permitiu às Democracias Liberais resistirem à
crise e recuperarem credibilidade política.

França : Grave crise social. Eleições de 1936 ➟ coligação à esquerda = Frente Popular
liderada por Léon Blum ➟ Acordos de Matignon (doc. 7A)

Espanha : Eleições de 1936 ➟ Frente Popular liderada por Manuel Azaña. (doc. 7B)

Reação da Direita Nacionalista ➟ Guerra Civil Espanhola (1936-1939) ➟ Ditadura de Franco.

3.3 As opções totalitárias : os fascismos

Anos 20 e 30 ➟ contexto político, económico e social na Europa:

Fim da 1ª Guerra Mundial Crash da Bolsa 1ª República


Europa Destruída Comunismo a leste 46 gov. = instabilidade

Democracias liberais vs soluções autoritárias

Itália ➟ 1922, Marcha sobre Roma instala Mussolini como Chefe de Governo -> Fascismo.

Alemanha ➟ 1923, golpe falhado. Hitler preso. Em 1933 é nomeado Chanceler (Chefe de
Governo) e em 1934, Fuhrer (Presidente).

Nazismo ➟ Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães

3.3.1 Totalitarismo e Nacionalismo

Totalitarismo ➟ envolve todas as dimensões da sociedade

“Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”


Política:

Anti-individualista / Antiliberal ➟ acima do interesse do indivíduo está o interesse da


coletividade;

Antidemocrático ➟ a divisão de poderes, o sufrágio, a democracia partidária e o


parlamentarismo dividem a sociedade. ➟ Nacionalismo

Antissocialista ➟ a luta de classes divide o Estado !

Nacionalista ➟ ”a união faz a força” ➟ sentido de comunidade ;

Económica ➟ defende a Autarcia4, o Corporativismo e uma forte intervenção do Estado;

Social ➟ sociedade extremamente hierarquizada. Elites governam, enquadramento das


massas;
4- autarcia é a autossuficiência ou seja para evitar o que aconteceu quando deu-se a queda da bolsa , e para não depender de ninguém , Mussolini aplica a
autarcia .

Cultural ➟ existe uma extensa máquina de propaganda que diz aos indivíduos o que devem
pensar.

3.3.2 Elites e culto ao chefe


Demoliberalismo = Autoritarismo = defende Sociedades hierarquizadas =
assente divisão dos que cada um tem o seu Chefe1
poderes políticos, na papel na sociedade. O
igualdade dos homens e governo cabe às elites. Elites / homens2:
no sufrágio (direito de Chefes são equiparados à Forças militares
voto). categoria de heróis Filiados no Partido

Mulheres3: 3 K’s (Kinder, Kuche


e Kirche) = (crianças, cozinha e
Igreja).

3.3.3 Enquadramento de massas


Existiam organizações para que todos os elementos da sociedade fossem devidamente
acompanhados pelo Estado, a toda a hora:
Organizações infantis e juvenis, femininas e masculinas;
Onde aprendiam o culto ao chefe e à hierarquia, o amor pelo desporto e pela guerra, etc..

Escola ➟ Professores prestavam juramento ao regime. Programa e manuais


escolares produzidos pelo Estado;
Organizações femininas;
Partido único;
Frente do Trabalho / Corporações ;
Tempos livres: Dopolavoro / Kraft durch Freude.

3.3.4 O culto da força e da violência


Elementos que criam União:
Fardas;

Bandeiras / Símbolos;
Saudações;
Manifestações de apoio / Comícios / Propaganda ;
OVRA - Organização de Vigilância e Repressão do Antifascismo

3.3.6 O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos


Foi na Alemanha nazi que o culto da violência e a negação dos direitos humanos
tiveram maior expressão, pelo caráter militarista e racista (levado ao extremo) que o regime
adotou. Nazis acreditavam descender de uma raça superior, a raça ariana, a qual tinha a
obrigação de governar o mundo e eliminar as raças inferiores.
Assim, praticaram uma verdadeira eugenia (ciência que procura melhorar as
características de uma raça) – para isso, realizaram intensos estudos para determinar as
características da raça ariana – encontrados os indivíduos perfeitos, estes eram acasalados,
a fim de obter novos cidadãos perfeitos.

3.3.7. A autarcia como modelo económico

A recuperação económica preocupou os regimes italianos e alemães , que sofreram


enormes danos com a crise pós-guerra e depois com a Grande Depressão , ambos decidiram
adotar uma política económica intervencionista e nacionalista que ficou conhecida pela
autarcia que propunha a autossuficiência económica , apelou-se ao heroísmo e ao empenho
do povo trabalhador , prometeu-se o fim do desemprego e glória à Nação.

Na Itália 🇮🇹 : Surgiu o corporativismo , destinado a promover a colaboração entre classes;

Na Alemanha 🇩🇪: Em janeiro de 1933 surgiu a política de grandes trabalhos até 1939 o Estado
reforçou a autarcia e o dirigismo económico fixando os preços.
Quando enquadramento e propaganda não chegava ➟ repressão e violência

➟ Milícias armadas;

➟ Polícia política;

➟ Prisões e Campos de Concentração.

3.4. As opções totalitárias: o estalinismo


3.4.1. A coletivização dos campos e a planificação económica

A NEP encetada em 1921 por Lenine mostrava-se ineficaz então coube a Estaline dar o golpe
final , a coletivização de campos avançou a ritmo acelerado. Este movimento mostrou-se de
extrema brutalidade contra os kulaks . As novas quintas coletivas , ou cooperativas de
produção chamavam-se kolkhozes , correspondiam a antigas aldeias.

O primeiro plano quinquenal (1928-1932) visou o incremento da indústria pesada e levou


quase desaparecimento do setor privado da indústria soviética , o segundo plano (1933-
1937) incidiu no setor da indústria ligeira e dos bens de consumo (vestuário e calçado) já o
terceiro plano quinquenal iniciou-se em 1938 e teve como prioridades as indústrias pesada
, hidroelétrica e química foi interrompido pela 2ª Guerra Mundial em 1941.

3.4.2. O totalitarismo repressivo do Estado


O Estado estalinista revelou-se omnipotente e totalitário , a cultura rendeu-se ao culto à
personalidade do seu chefe , Estaline , chamado de “pai dos povos”. O Partido Comunista
transformou-se num partido de quadros , profundamente burocratizado e disciplinado. A
repressão brutal , era levada a cabo pelo NKVD a nova polícia política.
⇣⇣⇣⇣
O Partido Comunista , era o único autorizado , detinha a hegemonia sobre os órgãos
governativos a sociedade, a começar pelos jovens vivia enquadrada nas organizações do
regime . As manifestações culturais serviam a causa do socialismo , a propaganda
condicionava as mentes e impunha o culto do chefe em torno de Estaline e , para os que
ousavam pôr em causa a verdade oficial e os interesses do regime , restava a repressão da
polícia política que a todos atingia , desde os velhos bolcheviques , aos membros do Partido
, aos oficiais do exército, aos camponeses e intelectuais. As execuções e os campos de
concentração foram a face mais dramática da ditadura estalinista.
˗ˏˋmeios para impor o totalitarismo na URSSˎˊ˗
✦ campos de trabalho ➟ campos de concentração
✧ ditadura do proletariado ➟ política do terror
✦ gulag ➟ perseguir os opositores

4. Portugal: O Estado Novo


4.1. O triunfo das forças conservadoras

4.1.1 Da Ditadura Militar ao Estado Novo


A 28 de maio de 1926, um golpe de Estado promovido pelos militares pôs fim a Primeira
República parlamentar portuguesa. O pronunciamento, que não encontrou oposição
significativa, marcaria a integração do nosso país na esfera dos regimes ditatoriais. Por uma
conjunção especial de fatores, a democracia só voltou a Portugal decorridos quase 50 anos.
Para começar, instalou-se uma ditadura militar, que se manteve até 1933 . Acontece que
também esta fracassou nos seus propósitos de "regenerar a pátria" e de lhe devolver a
estabilidade. Desentendimentos entre os militares provocaram uma sucessiva mudança de
chefes do Executivo, desde o comandante Mendes Cabeçadas aos generais Gomes da Costa
e Óscar Carmona. A impreparação técnica dos chefes da ditadura resultou no agravamento
do défice orçamental e, finalmente, a adesão entusiástica dos primeiros tempos esmoreceu.
Em 1928, a ditadura recebeu um novo alento com a entrada no Governo de um professor de
Economia da Universidade de Coimbra. Chamava-se António de Oliveira Salazar e sobraçou
a pasta das Finanças, com a condição por si expressa de superintender nas despesas de
todos os ministérios. Com Salazar nas Finanças, o país apresentou, pela primeira vez num
período de 15 anos, saldo positivo no Orçamento. Este sucesso financeiro, logo qualificado
de "milagre", conferiu prestígio ao novo estadista e explica a sua nomeação, em julho de
1932, para a chefia do Governo, num ministério predominantemente civil. Salazar
empenhou-se na criação das necessárias estruturas institucionais , ainda em 1930,
lançaram-se as Bases Orgânicas da União Nacional e promul-gou-se o Ato Colonial. Em
1933, foi a vez da publicação do Estatuto do Trabalho Nacional e da Constituição de 1933,
submetida a plebiscito nacional . Ficou, então, consagrado um regime político conhecido
por Estado Novo, tutelado por Salazar, do qual sobressaíram o forte autoritarismo do Estado
e o condicionamento das liberdades individuais aos interesses da Nação. Repetindo
insistentemente os slogans de um "Estado forte" e de "Tudo pela Nação, nada contra
a Nação", Salazar repudiou o liberalismo, a democracia e o parlamentarismo, e proclamou
o carácter autoritário, corporativo, conservador e nacionalista do Estado Novo. Desse modo,
o ditador logrou convencer grande parte do país da justeza da sua política, obtendo o apoio
de quantos haviam hostilizado a Primeira República e desacreditado na sua ação: a
hierarquia religiosa e os devotos católicos; os grandes proprietários agrários e a alta
burguesia ligada ao comércio colonial e externo; a média e a pequena burguesias
pauperizadas; os monárquicos, os integralistas e os simpatizantes do ideário fascista; os
militares. E, embora Salazar condenasse o carácter violento e pagão dos totalitarismos
fascistas italiano e alemão, o Estado Novo não deixou de abraçar um projeto totalizante
para a sociedade portuguesa . A concretização do seu ideário socorreu-se, com efeito, de
fórmulas e estruturas político-institucionais decalcadas dos modelos fascistas,
particularmente do italiano.
4.1.2. Conservadorismo e Tradição

Na verdade, o Estado Novo distinguiu-se, entre os demais fascismos, pelo seu carácter
profundamente conservador e tradicionalista. Repousou em valores e conceitos morais
que jamais alguém deveria questionar, como Deus, a Pátria e a Família. Respeitou as
tradições nacionais e promoveu a defesa de tudo o que fosse genuinamente português .
Vários exemplos permitem-nos confirmar o pendor conservador e tradicionalista do Estado
Novo, que pareceu voltar as costas à modernidade. Criticou-se a sociedade urbana e
industrial, fonte de todos os vícios, e enalteceu-se o mundo rural, refúgio seguro da virtude
e da moralidade. À mulher reduziu-se um papel passivo do ponto de vista económico, so-
cial, político e cultural ,a mulher-modelo foi definida como uma mulher de grande
feminilidade, uma esposa carinhosa e submissa, uma mãe sacrificada e virtuosa. Daí que o
trabalho feminino fora do lar fosse entendido como uma ameaça à estabilidade familiar.
Protegeu-se a religião católica, procurando apagar todos os vestígios do anticlericalismo da
Primeira República.

4.2. A progressiva adoção do modelo fascista italiano nas instituições e no imaginário


político
4.2.1. Culto ao chefe e nacionalismo

Tal como em Itália, a consolidação e o robustecimento do Estado Novo passaram pelo culto
ao chefe, que fez de Salazar o "salvador da Pátria". Porém, ao contrário de Mussolini, que
transmitia uma imagem militarista, agressiva e viril, Salazar mostrava-se avesso às multidões
e cultivava a discrição, a austeridade e a moralidade. Nestas virtudes, habilmente
exploradas pela propaganda, residiu o fundamento do seu carisma. De acordo com as
tendências então em voga, o Estado Novo perfilhou também um nacionalismo exacerbado.
Erigiu em desígnio supremo da sua atuação o bem da Nação, "Tudo pela Nação, nada
contra a Nação"! Fez dos Portugueses um povo de heróis, dotado de qualidades
civilizacionais ímpares, de que eram testemunhas a grandeza da sua História, a ação
evangelizadora e a integração racial levadas a cabo no Império colonial.
4.2.2. Autoritarismo
À semelhança do fascismo italiano, o Estado Novo afirmou-se antiliberal, antidemocrático e
antiparlamentar. Tal como aquele regime, recusou a liberdade individual e a soberania
popular enquanto fundamentos da sua legitimidade. Na ótica de Salazar, a Nação
representava um todo orgânico e não um conjunto de indivíduos isolados. Deste
pressuposto resultaram duas consequências fundamentais. A primeira foi que o interesse
da Nação se sobrepunha aos direitos individuais. A segunda consequência foi que os
partidos políticos, na medida em que representavam apenas as opiniões e os interesses
particulares de grupos de indivíduos, constituíam um elemento desagregador da unidade da
Nação e um fator de enfraquecimento do Estado. E, tendo presente a instabilidade política
da Primeira República, provocada pelas divisões partidárias e pela supremacia do poder
legislativo, Salazar declarou-se um acérrimo opositor da democracia parlamentar . Para
Salazar, só a valorização do poder executivo era o garante de um Estado forte e
autoritário. Por isso, a Constituição de 1933 reconheceu a autoridade do Presidente da
República como o primeiro poder dentro do Estado, completamente independente do
Parlamento (Assembleia Nacional), e atribuiu vastas competências ao Presidente do
Conselho. Entre elas, podemos citar o poder de legislar através de decretos-leis, o de
propor a nomeação e a exoneração dos membros do Governo e o de referendar os atos do
próprio Presidente da República, sob pena de serem anulados. A amplitude destas
prerrogativas conduziu alguns analistas à ideia da existência de um "presidencialismo
bicéfalo", ou seja, de uma verdadeira partilha de poderes entre as presidências da
República e do Conselho . Quanto à Assembleia Nacional, órgão máximo do poder
legislativo, limitava-se à discussão das propostas de lei que o Governo lhe enviava para
aprovação . Subalternizado o poder legislativo, quem efetivamente sobressaía, no seio do
Executivo, era a figura do Presidente do Conselho. Salazar encarnou na perfeição a figura do
chefe providencial, intérprete supremo do interesse nacional. O seu lema "Tudo pela
Nação, nada contra a Nação " bem se assemelhava ao "Tudo no Estado, nada
contra o Estado" de Mussolini, por quem o ditador português nutria admiração (imagem
de abertura da unidade).
4.2.3. Corporativismo
À semelhança do fascismo italiano, o Estado Novo português mostrou-se empenhado na
unidade da Nação e no fortalecimento do Estado. Negou o divisionismo fomentado pela
luta de classes marxista, propondo o corporativismo como modelo da organização
económica, social e política. O corporativismo concebia a Nação representada pelas famílias
e por organismos em que os indivíduos se agrupavam pelas funções que desempenhavam e
os seus interesses se harmonizavam para a consecução do bem comum. Esses organismos,
denominados corporações, incluíam as instituições de assistência e caridade (corporações
morais), as universidades e as agremiações científicas, técnicas, literárias, artísticas e
desportivas (corporações culturais), as Casas do Povo, as Casas dos Pescadores, os Grémios
e os Sindicatos Nacionais (corporações económicas). Juntamente com as famílias, as
corporações concorriam para a eleição dos municípios.
4.2.4. O enquadramento das massas
Para congregar "todos os Portugueses de boa vontade" e apoiar incondicionalmente as
atividades políticas do Governo, fundou-se, em 1930, a União Nacional . Segundo Salazar,
que a chefiou, tratava-se de uma organização não partidária, já que o espírito de fação
inerente aos partidos políticos representava um terrível malefício no seio de uma Nação.
Por isso, a unanimidade pretendida em torno do Estado Novo só foi possível com a extinção
dos partidos políticos e a limitação severa da liberdade de expressão. Em fins de 1934,
realizaram-se as primeiras eleições legislativas dentro do novo quadro político e os 90
deputados eleitos à Assembleia Nacional pertenciam única e exclusivamente à União
Nacional, transformada em verdadeiro partido único. O dogmatismo e a intransigência do
Estado Novo cresceram em 1936, com a vitória da Frente Popular, em França, e a eclosão da
guerra civil espanhola. Fez-se crer que a ameaça bolchevista pairava sobre o pais e,
consequentemente, apertou-se o controlo sobre a população. Os funcionários públicos
foram obrigados a fazer prova da sua fidelidade ao regime através de um juramento.
Recorreu-se a organizações milicianas. A Mocidade Portuguesa, de inscrição obrigatória
para os jovens dos 7 aos 14 anos, destinava-se a ideologizar a juventude, incutindo-lhes os
valores nacionalistas e patrióticos do Estado Novo. Por sua vez, a Legião Portuguesa
destinava-se a defender "o património espiritual da Nação", o Estado corporativo e a conter
a ameaça bolchevista. Controlou-se o ensino, especialmente ao nível do primário e do
secundário. Expulsaram-se os professores oposicionistas e adotaram-se "livros únicos"
oficiais, que veiculavam os valores do Estado Novo. Após a revisão constitucional de 1935, o
ensino público ficou vinculado aos "princípios da doutrina e moral cristãs". Enfim, nada
parecia escapar à esfera do Estado Novo. Em 1935, surgiu a Fundação Nacional para a
Alegria no Trabalho (FNAT), com a incumbência de controlar os tempos livres dos
trabalhadores, providenciando atividades recreativas e "educativas" norteadas pela moral
oficial. Em 1936, foi criada a Obra das Mães pela Educação Nacional, uma organização
destinada à formação das "futuras mulheres e mães".
4.2.5. O aparelho repressivo do Estado
A censura prévia à imprensa, ao teatro, ao cinema, à rádio e, mais tarde, a televisão
abrangeu assuntos políticos, militares, morais e religiosos, assumindo, frequentemente, o
carácter de uma ditadura intelectual. Ao "lápis azul ou vermelho da censura cabia a
proibição da difusão de palavras e imagens "subversivas para a ideologia do Estado Novo .
Por sua vez, a polícia política - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), designada
de Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) após 1945 - distinguiu-se por prender,
torturar e matar opositores ao regime. As suas maiores vítimas foram os militantes e
simpatizantes do Partido Comunista Português. Quando detidas, as vítimas da polícia
política podiam permanecer longos meses (e anos) sem culpa formada. Mantidas
incomunicáveis, nem visitas da família ou de advogados recebiam. Tristemente célebres
ficaram as prisões de Caxias e de Peniche, assim como o campo de concentração do
Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde.
4.3. Uma economia submetida aos imperativos políticos
O autoritarismo do Estado novo ,e a conjuntura depressiva dos anos 30 convergiram no
abandono das políticas económicas liberais. Desde os finais da década de 20 e até aos anos
40, o país enveredou por um modelo económico fortemente intervencionista e autárcico.
Para Salazar o fomento económico devia ser orientado e dinamizado pelo Estado,
sujeitando-se todas as atividades aos interesses da Nação. O artigo 31º da Constituição de
1933 iria mesmo consagrar que o “Estado novo tem o direito e a obrigação de coordenar e
regular superiormente a vida económica e social”. Este dirigismo económico ficou patente
nas políticas financeiras , agrícolas , de obras públicas, industriais e coloniais adotadas.
Mesmo pendor intervencionista, ressalta da organização da economia em moldes
corporativos.
4.3.1.A estabilidade financeira
A estabilidade financeira converteu-se na prioridade de Oliveira Salazar e do Estado novo.
Sabemos já outras condições rigorosas colocadas pelo então professor universitário.
Quando assumiu em 27 de Abril de 1928, o cargo de Ministro das Finanças. No que
respeitou a gastos públicos, os diversos ministros foram submetidos a um apertado controlo
por parte de Salazar. Sob o lema de diminuir as despesas e aumentar as receitas, Salazar
conseguiu nos anos seguintes, o tão desejado equilíbrio orçamental. Administraram-se
melhor os dinheiros públicos e criaram-se novos impostos: o imposto complementar sobre
o rendimento, o imposto profissional sobre os salários e os rendimentos das profissões
liberais, o imposto de salvação pública sobre os funcionários públicos, a taxa de salvação
nacional sobre condição sobre o consumo de açúcar, gasolina e óleos minerais leves.
Aumentaram-se ,também, as tarifas alfandegárias sobre as importações, o que se
relacionou com a redução das dependências externas ditadas pelo regime de autarcia. A
neutralidade adotada pelo país na Segunda Guerra Mundial mostrou-se favorável à
manutenção do equilíbrio financeiro. Poupou-se nas despesas com armamento e defesa do
território, criaram-se mais receitas com as expansões, como foi o caso do volfrâmio. As
reservas de ouro atingiram um nível significativo, permitindo a estabilidade monetária.
Apelidada de “milagre” , a estabilização financeira que enviou ao Estado novo uma imagem
de credibilidade e de competência governativa. O êxito tinha tanta ou mais relevância
quanto a primeira República e terminaram os seus dias com as suas contas públicas
desequilibradas e o mundo vivia , nos anos 30, os terríveis efeitos da Grande Depressão.
Mas embora a propaganda se esforçasse por enaltecer a obra meritória de Salazar, não
faltaram as críticas nem os detratores da sua política e austeridade. Censuraram-lhe os
extremos sacrifícios pedidos, a elevada carga de impostos, a supressão das liberdades e até
o critério duvidoso (e rejeitado pela sociedade das Nações) de incluir nas receitas
extraordinárias os empréstimos contraídos.
4.3.2. A defesa da ruralidade
O Portugal dos anos 30 viveu um exacerbado ruralismo . Sabemos que o ideário
conservador do Estado Novo hostilizava a cidade industrial, que considerava a fonte dos
piores males da sociedade. Ao invés, privilegiava o mundo rural, porque nele se preservava
o que de melhor tinha o bom povo português. Destinaram-se verbas para a construção de
numerosas barragens, de que resultou uma melhor irrigação de solos . A Junta de
Colonização Interna (1936) coube fixar, com sucesso nos anos 30 e 40, a população em
algumas áreas do interior. A política de arborização mereceu atenção do Estado e permitiu
que terrenos áridos se convertessem em terras verdes. Fomentou-se a cultura da vinha,
responsável pelo crescimento da produção vinícola. Alargaram- -se, igualmente, a produção
de arroz, batata, azeite, cortiça e frutas . Porém, nenhuma das medidas tomadas em
benefício da agricultura teve a projeção da Campanha do Trigo, que decorreu entre 1929 e
1937 . Inspirada na "batalha do trigo" italiana, a campanha nacional procurou alargar a área
de cultura daquele cereal, nomeadamente no Alentejo. O Estado concedeu grande proteção
aos proprietários, adquirindo-lhes as produções (o mercado do trigo foi completamente
estatizado) e estabelecendo o protecionismo alfandegário. Em tempo de crise económica e
de nacionalismos exaltados, o crescimento significativo da produção cerealífera conseguiu a
autossuficiência do país, forneceu grãos à indústria da moagem, favoreceu a produção de
adubos e de maquinaria agrícola e deu emprego a milhares de portugueses. Por isso, e
apesar de os anos da guerra trazerem consigo o regresso as importações, a Campanha do
Trigo representou um momento alto da propaganda do Estado Novo , contribuindo para a
sua consolidação.

Investimento público (1929-1937) +32 mil contos

1925-29 438 mil ha

Superfície abrangida Anos 30 497 mil ha

1925-29 280 toneladas

1930-34 507 toneladas


Produção
1935-39 440 toneladas

A Campanha do Trigo

4.3.3. As obras públicas


A política de obras públicas, levada a cabo pelo Estado Novo, recebeu um impulso notável
com a Lei de Reconstituição Económica (1935). Além de combater o desemprego originado
pela depressão, procurou-se dotar o país das infraestruturas necessárias ao
desenvolvimento económico:

✦ edificação de pontes - as duas maiores pontes do regime foram inauguradas na


década de 60: a Ponte da Arrábida, sobre o Douro, no Porto, e a Ponte Salazar (atual
Ponte 25 de Abril), sobre o Tejo, em Lisboa ;

✧ construção e reparação de estradas - na década de 40, abriu ao tráfego a


primeira autoestrada e a rede viária, que em qualidade acompanhou os padrões
europeus, duplicou até 19503;

✦ expansão das redes telegráfica e telefónica;

✧ obras de alargamento e beneficiação de portos e construção de aeroportos;

✦ construção de barragens - projetos essenciais para a irrigação dos campos e para


a expansão da eletrificação do país .
O programa de obras públicas do Estado Novo, que se tornou um dos símbolos orgulhosos
da administração salazarista, incluiu ainda a construção de hospitais, escolas e edifícios
universitários, bairros operários, estádios, tribunais e prisões, repartições públicas, quartéis,
bem como o restauro de monumentos históricos. A muitos destes projetos ficou
indissociavelmente ligada a figura do engenheiro Duarte Pacheco, ministro das Obras
Públicas.
4.3.4. O condicionamento industrial; a corporativização dos sindicatos

Num país de exacerbado ruralismo, como foi o Portugal dos anos 30, a indústria não
constituiu a prioridade do Estado Novo. O débil crescimento verificado poder-se-á explicar
pela política de condicionamento industrial concretizada pelo Estado entre 1931 e 1937.
No I Congresso da Indústria Portuguesa, realizado em 1933, Salazar lembrava aos
empresários que as suas iniciativas se deviam enquadrar num modelo cujas linhas de força
competia ao Estado definir , esse modelo determinava que qualquer indústria necessitava
de prévia autorização do Estado para se instalar, reabrir, efetuar ampliações, mudar de
local, ser vendida a estrangeiros ou até para comprar máquinas. O condicionamento
industrial, que reflete o dirigismo económico do Estado Novo, tratava-se de uma política
conjuntural anticrise, destinada a garantir o controlo da indústria por nacionais e a
regulação da atividade produtiva e da concorrência. Mais do que o desenvolvimento
industrial, procurava-se evitar a sobreprodução, a queda dos preços, o desemprego e a
agitação social. Contudo, o condicionamento industrial acabou por se converter em
definitivo, criando obstáculos à modernização do setor. Malgrado os bloqueios, em setores
que mobilizavam maiores capitais (caso dos adubos, cimentos, químicas inorgânicas,
cervejas, tabacos, fósforos) , o condicionamento fomentou a expansão de apreciáveis
concentrações e monopólios (caso da CUF), na medida em que limitou severamente a
concorrência.
No mesmo discurso no I Congresso da Indústria Portuguesa , Salazar referiu que as
iniciativas empresariais dependiam de um conjunto de condições fornecidas pelo Estado.
Entre elas, estava a organização dos trabalhadores, que viria a merecer, da parte do Estado
Novo, um enquadramento corporativo. Avesso à desordem económica e social, provocada
pelos excessos da conorrência liberal e pela luta de classes, o Estado Novo inspirou-se na
Carta do Trabalho Nacional e publicou, em 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional . Este
diploma estipulava que, nas várias profissões da indústria, do comércio e dos serviços
(excetuava-se a Função Pública), os trabalhadores se deveriam reunir em sindicatos
nacionais e os patrões em grémios.
Grémios e sindicatos nacionais, agrupados em federações, uniões e, finalmente, em
corporações económicas, negociariam entre si os contratos coletivos de trabalho,
estabeleceriam normas e cotas de produção, fixariam preços e salários. Ao Estado
competiria superintender em tais negociações, qual árbitro supremo, evitando a
concorrência desleal e ruinosa, assegurando o direito ao trabalho e ao justo salário,
proibindo o lockout e a greve. A reação não se fez esperar. Logo em janeiro de 1934, mês a
partir do qual os sindicatos livres e as reivindicações laborais ficaram proibidos, estalaram
greves e sabotagens promovidas pelos anarcossindicalistas e pelo Partido Comunista. A
pronta repressão do movimento permitiu ao Estado Novo prosseguir a corporativização dos
sindicatos, que, todavia, nunca contou com a adesão entusiástica dos trabalhadores.

4.3.5. A política colonial


Nele se afirmava a missão histórica civilizadora dos Portugueses nos territórios
ultramarinos, considerados possessões reforçou-se a tutela metropolita. Em consequência
daquele pressuposto, reforçou-se a tutela metropolitana sobre as colónias, tendo sido
abandonadas as experiências de descentralização administrativa e de abertura ao capital
estrangeiro, praticadas pela Primeira República. Ao invés, insistiu-se na fiscalização da
metrópole sobre os governadores coloniais e no estabelecimento de um regime económico
de tipo "pacto colonial", segundo o qual caberia às colónias ser um mero fornecedor de
matérias-primas para a indústria metropolitana que obtinha escoamento garantido nos
mercados coloniais . Muito embora o Estado tomasse medidas para as defender de uma
exploração esclavagista, a verdade é que o número de "assimilados" (pela educação escolar,
maneira de vestir e comportamento social) sempre foi diminuto. Proclamando com
veemência a sua vocação colonial, o Estado Novo esforçava-se por incutir no povo
português uma mística imperial, que uma série de congressos, conferências e exposições
ajudaria a propagandear.

4.4. O projeto cultural do regime

Bem cedo o Estado Novo compreendeu a necessidade de uma produção cultural submetida
ao regime. Por isso, artistas, escritores, jornalistas, cineastas, ensaístas sentiram as malhas
apertadas da censura, que, sob o pretexto da subversão, atingiram de forma discricionária
pedaços da criação cultural portuguesa. Mas o Estado Novo foi mais longe nos seus
propósitos concebendo um projeto totalizante que fez de artistas e escritores instrumentos
privilegiados da inculcação e da propaganda do seu ideário. Esse projeto cultural, a que se
chamou "política do espírito", pois pretendia elevar a mente dos portugueses e alimentar a
sua alma, viria a ser implementado pelo Secretariado da Propaganda Nacional (1933), que
António Ferro dirigiu com devida mestria (Doc. 18A). Ferro costumava dizer que "a arte, a
literatura e as ciências constituem a grande fachada duma nacionalidade, o que se vê lá de
fora", pelo que ao Estado competiria estimular a criação cultural. Conhecedor do efeito da
propaganda fascista na Itália, Ferro servia-se, assim, da "política do espírito" para
mediatizar o regime. Claro que A. Ferro e Salazar possuíam uma ideia muito precisa de
cultura. Pretendiam-na arredada de preocupações decadentistas e dissolventes da unidade
nacional. Pelo contrário, as artes e as letras deveriam propiciar uma "atmosfera saudável",
inculcando no povo o amor à pátria, o culto dos heróis, as virtudes familiares, a confiança no
progresso, ou seja, o ideário do Estado Novo. Mas essa cultura, que se queria portuguesa e
nacionalista teria igualmente que evidenciar uma estética moderna e aberta ao seu tempo,
aquilo que Ferro designava de “bom gosto”. Simpatizante dos modernistas , Ferro chamá-
los-ia a colaborarem com o regime, promovendo uma controversa e problemática união
entre conservadorismo e vanguarda.
No domínio literário, a ação do Secretariado da Propaganda Nacional revelar-se-ia um
fracasso. A adesão dos escritores foi escassa, e dos que o regime premiou, poucos se vieram
a destacar. Em 1947, o então Secretariado Nacional de Informação? elaborou uma lista das
obras "essenciais" da literatura, que se ficava pelo Romantismo.
Já nas artes plásticas e decorativas, na arquitetura, no bailado, no cinema e até no teatro,
a colaboração mostrou-se mais fecunda. Num país em que a burguesia não criara um
mercado cultural, o Estado assumia-se como grande entidade empregadora.

Através de exposições nacionais e internacionais, muitas de cariz histórico, como a


Exposição do Mundo Português, realizada em 1940 , das obras públicas do regime, de festas
populares, do teatro, do cinema e da rádio, do bailado, do turismo e de concursos (como os
concursos de montras e da "aldeia mais portuguesa"), patrocinaram-se artistas e produções
que divulgassem, sobretudo, as tradições nacionais e populares, e que enaltecessem a
grandeza histórica do país e a dimensão civilizadora dos Portugueses.
Mas, ironia do destino, todo o investimento do Estado Novo e todo o empenho entusiástico
de António Ferro sofreriam um duro golpe com a derrota dos fascismos, em 1945. Perante a
dificuldade de enquadrar as novas gerações de modernistas na ideologia do regime e
agastado com as críticas à sua ação no SPN/SNI, Ferro abandonou aquele organismo em
1949. Para trás ficava o projeto grandioso de forjar um português “estado-novista”.

Duarte Pacheco
Ministro das Obras
públicas e Comunicação António Ferro
1932-1943
Escritor , jornalista e diretor do
Secretariado da Propaganda
Nacional 1933-49
Ordem Cronológica

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