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Os caminhos da literatura (pág.

82-83)
*rutura de valores tradicionais, tal como na pintura, com o objetivo de chocar o
conservadorismo
O início do século XX correspondeu, no campo das letras, a uma verdadeira revolução
que pôs em causa, os valores e as tradições literárias.
A literatura percorreu, nesta época, todas as vias que a expressão escrita permite
percorrer.
*afastamento da realidade.
Nas primeiras décadas de novecentos, os esforços concentravam-se, na libertação da
obra literária face à realidade concreta. Foi abandonada a descrição ordenada e
realista da sociedade e dos acontecimentos. As obras voltaram-se para a vida
psicológica e interior das personagens.
*relacionado com os estudos do século XX da intuição e de Freud.
Proclamam, então, a liberdade total do ser humano, o seu direito de tudo ousar,
rejeitando as regras de moral, da família e da sociedade.
Foram também introduzidas novas formas de expressão, ao nível da linguagem e da
construção frásica. Por exemplo, os poemas caligramados, que fundem palavra e
forma (pág. 82, documento 70; 2), os dadaístas (corrente estética), que transformam o
nonsense em poesia, ou os escritos automáticos.
Estas correntes, se bem que efémeras e pouco produtivas em termos de qualidade
literária, romperam convenções e abriram portas a obras de grande valor,
verdadeiramente inovadoras.

Portugal no primeiro pós-guerra


As dificuldades económicas e a instabilidade política e social; a falência da 1ª
República (pág. 84)
A 1ª República Portuguesa (1910-1926) esteve longe de proporcionar a acalmia que o
país tanto necessitava.
O parlamentarismo (sistema democrático que vigorava na 1ª República), derivado dos
elevados poderes do Congresso da República, contribuiu para uma crónica
instabilidade governativa. O parlamento interferia em todos os aspetos da vida
governativa, exigindo constantes explicações aos membros do Governo e
enveredando, pela via dos ataques pessoais.
O laicismo, assente na separação da Igreja e do Estado, originou, um violento
anticlericalismo.
*não podia haver outras religiões, só a Católica- país torna-se conservador e católico.
Neste quadro pouco favorável ao sucesso da República, a participação portuguesa na
Primeira Guerra Mundial revelou-se fatal.

Dificuldades económicas e instabilidade social (pág. 85)


Em março de 1916, Portugal entrou na Guerra. A sua participação no conflito mundial
acentuou os desequilíbrios económicos e o descontentamento social.
A falta de bens de consumo, os racionamentos e a especulação desesperaram os
Portugueses, em especial os estratos mais desfavorecidos. Com a produção industrial
em queda, o défice da balança comercial cresceu. A dívida pública, disparou. A
diminuição das receitas orçamentais e o aumento das despesas conduziram os
governos ao expedientes então usual noutros Estados: o da multiplicação da massa
monetária em circulação que desvalorizou a moeda e originou uma inflação
galopante.
O processo inflacionista permaneceu para além da guerra. Repercutiu-se no aumento
do custo de vida, afetando particularmente os que viviam de rendimentos fixos e
poupanças, as classes médias, bem como os operários vítimas do desemprego.
As classes médias sentiram-se traídas pela República, de quem tinham sido o grande
sustentáculo.
Decrescente com a República ficou, o operariado. A agitação social adquiriu, contornos
violentos nas grandes cidades. As greves dinamizadas pelos anarcossindicalistas, que
recorriam a atentados bombistas, tornaram-se frequentes.

1ª República Portuguesa (1910-1926)

Marcada por muitas dificuldades

Políticas:

 Instabilidade governativa, marcada por mudanças contrastantes de governo,


proporcionadas pelo parlamentarismo;
 Corrupção;
 Lutas Políticas.
Económicas:

 Falta de bens de consumo;


 Racionamento;
 Especulação;
 Produção industrial em queda.
 Aumento do défice da balança comercial (diminuição das receitas e aumento
das despesas);

 Emissão de moeda e desvalorização da mesma.

 Inflação crescente;

 Desemprego.

 Agravamento destas dificuldades com a participação portuguesa na 1ª Guerra


Mundial.

Descontentamento social:

 Classes médias e operariado maiores vítimas desta crise;


 Descontentamento traduzido em greves manifestações e atentados bombistas;
 Grandes proprietários + Banca + Indústrias descontentes com a subida dos
impostos.

Igreja:

 Descontentes com a laicização do Estado e com a adoção de medidas


anticlericais:
1. Separação da Igreja do Estado;
2. Proibição de congregações religiosas;
3. Humilhações impostas aos sacerdotes;
4. Excessiva regulamentação do culto.

O agravamento da instabilidade política (pág. 86-87)


A Guerra trouxe consigo o agravamento da instabilidade política. Mas, em 1915, o
general Pimenta de Castro dissolveu o Parlamento e instalou uma ditadura militar.
Ditadura militar- forma de governo autoritária feita por um militar.
Pela via da ditadura enveredou, o major Sidónio Pais. Destituiu o Presidente da
República, dissolveu o congresso e fez-se eleger presidente por eleições diretas. Reagiu
a demagogia dos políticos profissionais e em particular à hegemonia do Partido
Democrático, apoiou-se nas forças mais conservadoras, nomeadamente nos
monárquicos. Dizia-se fundador de uma “República Nova”. Visto por muitos como um
“salvador da pátria”, suscitou devoções fervorosas que não o impediram de tombar
assassinado.
Em janeiro/ fevereiro de 1919, houve guerra civil. Os monárquicos quiseram
aproveitar-se da desagregação dos partidos republicanos durante o consulado
sidonista e ensaiaram uma efémera “Monarquia do Norte”, no Porto.
O regresso ao funcionamento democrático fez-se logo em março de 1919. Mas a
“República Velha” não logrou a conciliação desejada. A divisão dos republicanos
agravou-se com o aparecimento de novos partidos políticos.
Os antigos políticos, retiraram-se da cena política. Aos novos líderes faltaram a
capacidade e carisma para imporem os seus projetos. As maiorias parlamentares,
jamais se verificaram.
À instabilidade governativa, somavam-se atos de violência despropositada que
manchavam o regime e envergonhavam-nos além-fronteiras- “revoluções à
portuguesa”. Por exemplo, o caso da “Noite Sangrenta”, em que ocorreu o assassinato
do chefe do Governo que se demitira na véspera, António Granjo, e de heróis do 5 de
Outubro, como Carlos da Maia e o almirante Machado dos Santos. A vida política
portuguesa apresentava-se minada pela desorganização.

A falência da 1ª República (pág. 87-88)


Das fraquezas da República se aproveitou a oposição para se reorganizar.
A Igreja, indisposta e revoltada com o anticlericalismo e o ateísmo republicanos,
cerrou fileiras em torno do Centro Católico Português. Sabia que, a dar-lhe força,
dispunha do intenso país agrário, conservador e católico. As aparições de Fátima,
exacerbaram o fervor religioso e tiveram um papel determinante no declínio do
anticlericalismo.
Os grandes proprietários e capitalistas, ameaçados pelo aumento de impostos e pelo
surto grevista e terrorista, exploraram o tema da ameaça bolchevista. Criaram, a
Confederação Patronal, transformada depois em União dos Interesses Económicos.
As classes médias, cansadas das arruaças constantes e receosas do bolchevismo,
apoiaram um governo forte que restaurasse a ordem e a tranquilidade e lhes
devolvesse o desafogo económico.
Portugal, sem sólidas raízes democráticas e braços com uma grande crise
socioeconómica, tornou-se, presa fácil das soluções autoritárias.
Com exceção dos políticos do Partido Democrático e dos sindicalistas, poucos se
mostraram dispostos a defender a República em 1925-26. Assim se compreende a
facilidade com que a 1ª República portuguesa caiu, em 28 de maio de 1926, às mãos
de um golpe militar. Na intervenção do Exército, a sociedade portuguesa viu a resposta
à incapacidade política da Républica parlamentar.

Tendências culturais: entre o naturalismo e as vanguardas (pág. 90)


Enquanto, na Europa das primeiras décadas do século XX, as vanguardas artísticas
anunciavam novas e radicais soluções estéticas, em Portugal a corrente naturalista
reunia as preferências do público, das instituições oficiais e da crítica. A arte
académica e, a pintura continuavam a explorar cenas da vida popular, que pareciam
satisfazer uma burguesia nostálgica das vivências tradicionais.
Embora os políticos republicanos se revelassem culturalmente conservadores, a
República acabou por proporcionar os primeiros sinais de mudança nos gostos e
padrões estéticos. Conhecidas por modernismo, dão-se as seguintes vanguardas
europeias, como por exemplo, o cubismo, o futurismo, o expressionismo, o
abstracionismo.
Distinguem-se duas gerações modernistas. Ambas nascerem nas últimas décadas do
século XIX, mas, a primeira afirmou-se entre 1911 e 1920, a segunda só depois dos
anos 20.

O primeiro modernismo (1911-1918) (pág. 91-93)


Na pintura, o primeiro modernismo ficou ligado a um conjunto de exposições (livres,
independentes e de humoristas) realizadas com regularidade desde 1911, em Lisboa e
no Porto.
Os desenhos apresentados, muito deles caricaturas, perseguiam objetivos de sátira
política, social e até anticlerical. Entre enquadramentos boémios e urbanos, ora
avultavam as cenas elegantes de café, ora as cenas populares com as suas figuras
típicas. Praticava-se a estilização formal dos motivos, esbatia-se a perspetiva, usavam-
se cores claras e contrastantes.
Este primeiro modernismo sofreu um impulso notável com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial, principalmente quando, ao nosso país, regressaram ou vieram novas
personalidades do meio artístico parisiense.
Destes regressos resultou a formação de dois polos ativos e inovadores: um em
Lisboa, liderado por Almada Negreiros e Santa-Rita que, numa das conjugações mais
felizes da história das nossas artes, se juntaram a Fernando Pessoa e a Mário de Sá-
Carneiro, fazendo nascer a revista Orpheu; outro polo radicou-se no Norte em torno
do casal Delaunay, de Eduardo Viena e de Amadeo.
Com a publicação de Orpheu, revista de que apenas saíram dois números em 1915, o
modernismo português revelou a sua faceta mais inovadora, polémica e emblemática:
a do futurismo. A revista, “fez o encontro das letras e da pintura”.
Arrebatados pelo mundo da técnica do seu tempo, excêntricos e provocadores, os
jovens do Orpheu deixaram o país escandalizado. Nas suas dissertações agressivas,
repudiavam o homem contemplativo e exaltavam o homem em ação. Propunham-se
ao corte radical com o passado, denunciando a morbidez saudosista dos Portugueses e
incitando a “raça latina” ao orgulho, à ação, à aventura e à glória.
Face às críticas indignadas do escritor e académico Júlio Dantas, os futuristas
explodiram de raiva. O Manifesto Anti-Dantas, atacou violentamente o escritor,
associando-o a uma cultura retrógrada que urgia abater.
Influenciado pelo futurismo declarou-se, Amadeo de Souza-Cardoso. Duas exposições
individuais, não colheram o apoio da crítica nem do público, mas favoreceram a
aproximação ao grupo do Orpheu. Almada desdobrou-se em elogios ao pintor, que o
país não compreendia e não merecia. Um terceiro número de Orpheu, que não chegou
a publicar-se, deveria incluir reproduções das obras de Amadeo.
Atacado nos gostos e opções culturais, o regime republicano não ousava desvincular-
se dos cânones académicos e defendia-se. Pouco animadoras se mostraram por isso as
possibilidades de sobrevivência do modernismo futurista.

O segundo modernismo (anos 20 e 30) (pág. 94-95)


Nos anos 20 e 30, decorreu um novo ciclo no movimento modernista, que continuou
a conciliar as letras com as artes plásticas.
Mais uma vez as revistas assumiram a dinamização literária e artística, sendo de
destacar a Contemporânea (1922-26) e a Presença (1927-40).
Mais uma vez, também, os artistas continuaram a deparar-se com a rejeição pelos
organismos oficiais, pelo que as exposições independentes que realizavam (coletivas e
individuais), os cafés e clubes que decoravam e os periódicos que ilustravam vieram a
ser os seus grandes espaços de afirmação.
A decoração modernista causou polémica. J.-A. França, disse que, aqueles espaços (A
Brasileira do Chiado e o Bristol Club), converteram-se no museu de arte
contemporânea que Lisboa, não tinha.
Na Ilustração Portuguesa (de onde se viram afastados ao fim de um ano de
colaboração), a Domingo Ilustrado, a ABC, a Ilustração, a Sempre Fixe, distinguiram-se
figuras estilizadas, em enquadramento de moda, de música e de desporto.
António Ferro, assumiu a direção do Secretariado da Propaganda Nacional. A partir de
então, a quase totalidade de artistas modernos foi utilizada na construção da imagem
de “novidade” que o Estado Novo pretendia curar. Ferro convenceu Salazar que “a
arte, a literatura e a ciência constituem a grande fachada duma nacionalidade, aquilo
que se vê lá fora.”
Reagindo à apropriação do modernismo pelo Estado Novo, o jovem artista António
Pedro organizou, a exposição dos Artistas Modernos Independentes, onde se
homenageou a originalidade dos primeiros modernistas, que se considerava perdida. A
António Pedro coube, nos anos 40, a dinamização do surrealismo, numa clara oposição
a “arte oficial” do Estado Novo.

O impacto do modernismo na escultura e na arquitetura


Escultura (pág. 96-97)
À semelhança do ocorrido na pintura, também a escultura da primeira década do
século XX ficou marcada pela hegemonia do gosto naturalista.
Tal não impediu a manifestação, de características modernistas nos anos 20, em
escultores como Francisco Franco, Diogo Macedo e Canto da Maia que, haviam
tomado contacto com as vanguardas artísticas. O modernismo das suas obras ora se
expressou na simplificação geométrica das formas e volumes, ora na busca da
essencialidade plástica, ora na facetação das superfícies.
À semelhança da pintura, a modernidade escultórica acabou condicionada aos anos 30
e 40 pelas encomendas oficiais. Aos valores heroicos e à estética monumental do
Estado Novo- patrocinador das grandes obras- submeteram-se muitos dos escultores.

Arquitetura (pág. 97)


Os primeiros sinais de uma nova linguagem arquitetónica datam os anos 20. Cristino
da Silva, Carlos Ramos, Pardal Monteiro, Cottinelli Telmo e Cassiano Branco contam-
se entre os primeiros autores de projetos arquitetónicos modernistas. A modernidade
das suas obras manifestou-se no uso de betão armado, no predomínio da linha reta
sobre a curva, no despojamento decorativo de paredes, na utilização de grandes
superfícies de vidro, nos terraços e nas coberturas planos.
Nos anos 30 e 40, as experiências modernistas consolidaram-se graças ao apoio
recebido pela política de obras públicas do Estado Novo, com cujo programa e valores
tiveram, nomeadamente, de se conciliar.

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