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Resumos de história

2.1 A falência da Primeira República

No dia 5 de outubro de 1910 em Portugal, uma revolução pôs fim a quase


8 séculos de monarquia e colocavam os republicanos no poder. Nos
primeiros tempos do novo regime, o Partido Republicano procurou unir a
população portuguesa em torno de um programa reformista que coloca-
se fim aos problemas nas áreas da economia, da justiça e do ensino. Havia
uma sucessão de problemas internos e externos o que levou a Primeira
República Portuguesa (1910-1926) para águas permanentes agitadas.

2.1.1 As dificuldades económico-financeiras

No dia 9 de março de 1916, a espera da resposta ao confisco dos navios


alemães estacionados em águas portuguesas, a Alemanha declarou guerra
a Portugal. Com o envio do primeiro contigente do Corpo Expedicionário
Português (CEP) para a Flandres, em janeiro de 1917, Portugal entrou na
Primeira Guerra Mundial, integrando a causa dos Aliados. A participação
portuguesa no conflito mundial acentuou os problemas económicos e
financeiros. A falta de bens de consumo e os racionamentos
desesperaram os portugueses. Com a produção industrial em queda, o
défice da balança comércial cresceu. A dívida pública, peoblema
estrutural das nossas finanças, disparou. Na tentativa de darem uma
resposta rápida à diminuição das receitas orçamentais e aos aumentos das
despesas, os governos multiplicaram a massa monetária em circulação, o
que desvalorizou a moeda e originou uma inflamação galopante. Os
preços continuaram a subir depois da guerra, repercutindo-se no
aumento do custo de vida, sobretudo dos que viviam de rendimentos
fixos e poupanças: as classes médias e os operários.

2.1.2 A instabilidade política

A Constituição de 1911 atribuiu ao Congresso da República (assim se


designava o Parlamento Português) elevados poderes sobre os governos e
presidentes, o que contribuiu para uma crónica instabilidade governativa.
Em 16 anos de regime, houve 7 eleições gerais para o Congresso, 8
Presidentes da República e 45 governos. As lutas político-partidárias
acentuaram-se ainda mais com a fragmentação do Partido Republicano.
No Parlamento, os deputados exigiam constantes explicações ao Governo,
seguindo até pela via dos ataques pessoais. A Grande Guerra trouxe
consigo o agravamento da instabilidade política. Em 1915 o país ainda
não havia entrado nela, já o general Pimenta de Castro dissolvia o
Parlamento e instalava a ditadura militar. Pela via da ditadura enveredou
igualmente o major Sidónio Pais, através do golpe militar de 5 de
dezembro de 1917. Considerando-se o fundador de uma "República
Nova", demitiu o Presidente por eleições diretas, em abril de 1918. O
sidonismo pretendia combater a hegemonia do Partido Democrático na
vida nacional, se apoiam nas forças mais conservadoras, nomeadamente
nos monárquicos. O assassínio de Sidónio Pais, a 14 de dezembro de 1918,
precipitou o país para uma guerra civil. Os monárquicos aproveitaram se
da desagregação dos partidos republicanos durante o consulado sidonista
e ensaiaram uma efémera "Monarquia do Norte", proclamada no Porto,
em janeiro de 1919. O regresso ao funcionamento democrático das
instituições foi feito logo em março, mas a "República Velha" (período
terminal da Primeira República) não conseguiu a conciliação desejada.

2.1.3 A agitação social

A oposição dos monárquicos, a República também suscitou os protestos


dos católicos, das classes médias e do operariado. O laicismo da
República, assente na separação da Igreja e do Estado, formou um
violento anticlericalismo. A proibição das congregações religiosas, as
humilhações impostas a sacerdotes e a excessiva regulamentação do
culto, entre outras medidas, granjearam à República a hostilidade da
Igreja e do país conservador e católico. A Igreja revoltada com estas
medidas fechou fileiras em torno do Centro Católico Português, partido
fundado em 1915. A dar-lhe força dispunha do imenso país agrário,
conservador e católico. As aparições de Fátima em 1917 acentuaram o
fervor religioso e tiveram um papel determinante no declínio do
anticlericalismo. As bases de apoio dos republicanos sentiram-se traídos
por um regime que não conseguia melhorar as suas condições de vida.
Nos anos 20 as classes médias viram o seu poder de compra a reduzir em
metade do que tinha sido em 1910.
A mesma descrença se espalhou entre o operariado, para algumas
pessoas a greve era como uma forma de luta mais eficaz contra a miséria
a que estavam sujeitos. A agitação social chegou adquirir contornos
violentos das grandes cidades, os assaltos e os atentados bombistas
aumentaram. Estes atos de violência despropositada mancharam o regime
e envergonhavam-nos além-fronteiras, onde se falava de "revoluções à
portuguesa". Foi o caso da tristemente célebre "Noite Sangrenta" (19 de
outubro de 1921), onde ocorreram os assassínios do chefe do Governo,
António Granjo, e de heróis do 5 de outubro, como Carlos da Maia e o
almirante Machado dos Santos. A Primeira República caminhava para o
abismo.

2.1.4 O fim da Primeira República

As fraquezas da Primeira República abriam caminhos às ações da


oposição. O movimento operário, dividido entre revolucionários e
reformistas intensificou a sua ofensa sobre o poder instituído. As notícias
da revolução russa contribuíam para a difusão do marxismo-leninismo
entre as classes trabalhadoras, cuja união se fortaleceu em 1919, com a
criação da Confederação Geral do Trabalho. Os grandes proprietários e
capitalistas, ameaçados pelo aumento de impostos e pelo surto grevista e
terrorista, exploraram o tema da ameaça bolchevista. Em 1922, criaram a
Confederação Patronal, que foi transformada depois em União dos
Interesses Económicos. Cansadas das desordens das ruas e receosas do
bolchevismo, as classes médias demostraram apoiar um governo forte
que restaurasse a ordem e a tranquilidade, e que lhes devolvesse o
desafogo económico. Portugal, sem raízes democráticas e a braços com
uma grande crise socioeconómica, tornou-se uma pressa fácil das
soluções autoritárias. Compreende-se a facilidade com a Primeira
República portuguesa caiu no dia 28 de maio em 1926, às mãos de um
golpe militar. Na intervenção do Exército, a sociedade portuguesa viu à
incapacidade política da República parlamentar. Gomes da Costa iniciou a
revolta militar em Braga, na madrugada do dia 28 de maio em 1926,
colhendo a adesão do Exército em todo o país. No dia 30 de maio, o
governo do democrático António Maria da Silva pediu demissão e no dia
seguinte se verificou o encerramento do Parlamento e a resignação do
Presidente da República, Bernardino Machado. Foi a Mendes Cabeçadas
que Bernardino Machado transmitiu "a plenitude do poder executivo". O
comandante viu-se ultrapassado pelo autoritarismo de Gomes da Costa
que no dia 17 de junho assumiou a governação. No ínicio de julho, Gomes
da Costa seria deposto pelo general Óscar Carmona, que passou a
governar o país em ditadura.

2.2 Tendências culturais: Naturalismo versus vanguardas

2.2.1 A persistência do Naturalismo

No ínicio do século XX(20), a pintura naturalista dominava a arte


portuguesa. O êxito dos pintores como Marques de Oliveira, José Malhoa
ou Columbano Bordalo Pinheiro fazia do Naturalismo a "arte oficial".
Eram estes e outros pintores naturalistas que dirigiam os cursos de
pintura, colocavam nos salões e recebiam encomendas para decorarem
espaços públicos. Portugal parecia indiferente ao fervilhar das correntes
de vanguarda que agitavam já Paris, Dresden ou Berlim. A implantação da
República em 1910, não mudou significativamente este estado de coisas.
Logo em 1911, o novo regime criou na zona de Chiado, em Lisboa, um
Museu Nacional de Arte Contemporânea. O conceito de "contemporâneo"
foi definido como abarcando as obras produzidas a partir de 1850, obras
maioritariamente naturalistas. Acresce que este museu funcionava na
dependência direta da Academia de Belas Artes, servindo as telas
naturalistas que expunha de modelo aos alunos que frequentavam a
Academia. As vanguardas só chegaram a Portugal na segunda década do
século, pela mão irrevente de um punhado de artistas e escritores,
decididos a abalar o conservadorismo cultural do país.

2.2.2 O Modernismo em Portugal

"Livres" e "humoristas"

Os primeiros sinais de rutura com esta arte oficial surgiram em 1911,


numa Exposição Livre promovida por um grupo de jovens pintores que
sem qualquer bolsa oficial estudavam em Paris.

As obras, embora um pouco arrojadas em termos de vanguarda,


suscitaram escândalos e fortes críticas na imprensa, desencandeando a
primeira polémica que em Portugal se teceu em torno da arte moderna.
Mais do que as telas expostas, de qualidade mediana, foram as
afirmações de liberdade e independência de Bentes ("Queremos ser
livres! Fugimos aos dogmas de ensino, às imposições dos mestres") que
marcaram o ínicio do Modernismo português. Coube ao Salão dos
Humoristas Portugueses dar continuidade ao movimento, desta vez pela
via do desenho de caricatura e de humor. Ao contrário do que acontecera
com a Exposição Livre, o Salão dos Humoristas foi um sucesso, inaugurado
com pompa e circunstância pelo presidente da República, Manuel de
Arriaga. Com os anos seguintes, as exposições de humoristas/modernistas
assumiram-se como um contraponto à arte oficial dos salões da
Sociedade Nacional De Belas Artes, familiarizando o público com a
simplificação das linhas, as cores contrastantes, o esbatimento da
perspetiva e outras "ousadias" da pintura moderna.

Os anos da guerra

O movimento modernista recebeu um impulso súbito e imprevisto com


o deflagrar da Primeira Guerra Mundial. Ao nosso país regressaram de
uma assentada, Amadeo de Souza-Cardoso, Guilherme Santa Rita,
Eduardo Viana, José Pacheco, o núcleo mais talentoso dos portugueses
que estudavam em Paris. Com eles veio o casal Robert e Sonia Delaunay,
destacadas personalidades personalidades do meio artístico parisiense.

Instalados no norte, em Vila do Conde, os Delaunay encetaram uma


colaboração intensa com Viana e também com Amadeo, que na casa de
família em Amarante, se manteve particularmente ativo, levando duas
polêmicas exposições individuais- no Porto e em Lisboa- que causaram
escândalos e agitaram o meio artístico.

Em Lisboa, Almada Negueiros e Santa Rita juntavam-se aos poetas


Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, assim nasceu em 1915, a revista
Orpheu. Esta revista que editou apenas dois números, é considerada um
marco decisivo na história do Modernismo Português, tendo realizado nas
palavras de Almada, "o encontro das letras e da pintura". A Orpheu
seguiu-se Portugal Futurista, publicação ainda mais efémera (só editou um
número, que logo foi apreendido) mas agitadora do meio intelectual
português. Foi dinamizada por Guilherme Santa Rita, que afirmava ter sido
encarregado por Marinetti, de introduzir o Futurismo em Portugal.

Dos anos 20 ao fim do movimento

O primeiro ciclo do modernismo português, sem dúvida a sea época mais


brilhante, encerrou-se em 1919. O grupo foi-se desagregando aos poucos
com as mortes prematuras de Sá-Carneiro (1916), Santa Rita e Amadeo
(1918), o regresso dos Delaunay a França (1917) e a partida, para a capital
francesa, de Almada em 1919. Nos anos 20, embora fragilizado o
movimento continuou, vindo a incorporar uma segunda geração de
artistas e escritores, como José Régio e João Gaspar Simões no campo de
letras, e Mário Eloy, Sarah Affonso, Carlos Botelho, Júlio Reis Pereira ou
Dominguez Alvarez, no domínio da pintura. De novo as revistas se
assumiram como um elemento aglutinador das letras e das artes,
destacando a Presença, revista coimbrã, "folha de artes e crítica",
publicada entre 1927 e 1940. Nestes anos, a maior dificuldade dos artistas
plásticos continuava a se prender com a sua rejeição pelos organismos
oficiais. Em 1921, Viana, o mais "aceite" de todos, viu recusada a sua
participação no Salão de Outono da Sociedade Nacional de Belas Artes, foi
a vez do jornalista António Ferro classificar a Academia como uma
instituição de "botas de elástico" que "assim fechava as portas a uma
geração inteira". Outras portas menos oficiais se abriram aos pintores
modernos: as dos cafés e clubes que frequentavam, transformados pela
visão avançada dos seus proprietários em autênticas galerias de arte. Foi
José Pacheco que convenceu o proprietário de A Brasileira a encomendar
aos artistas modernos uma série de obras para a decoração do café.
Foram escolhidos Almada Negueiros, Eduardo Viana, Bernardo Soares,
Jorge Barradas, Stuart Carvalhais, Bernardo Marques e o próprio José
Pacheco. Os quatro primeiros realizaram duas telas cada um e os
restantes apenas uma. Em 1925, a Brasileira tornou-se o museu de arte
moderna que Lisboa não tinha, mais uma vez as obras geraram grande
polémica. Em 1933, António Ferro além de ser destacado como jornalista
era também referido como simpatizante dos modernistas, assumiu a
direção do Secretariado de Propaganda Nacional. A partir daí a quase
totalidade dos artistas modernos foi utilizada na construção da imagem
de "novidade" que o Estada Novo pretendia criar. Ferro convenceu
Salazar que "a arte, a literatura e a ciência constituem a grande fachada
duma nacionalidade, aquilo que vê lá fora." Como resposta a esta
oficialização do movimento que representava a sua sujeição e a sua
morte, que o jovem António Pedro organizou, em 1936, a exposição dos
Artistas Modernos Independentes, onde deliberadamente se
homenageavam os modernistas dos anos 1910, símbolo da originalidade e
da irreverência que o Modernismo havia já perdido. Na década seguinte,
António Pedro será um dos principais promotores do grupo surrealista
português, nasceu em grande parte como uma oposição à "arte oficial" do
Estado Novo.

3.

3.1 A Grande Depressão

Em 1929, um terramoto financeiro com epicentro na Bolsa de Nova Iorque


abalou a economia americana. As ondas de choque desta grave e trágica
crise chegaram aos países dependentes dos créditos e investimentos
americanos. Na década de 30, o mundo capitalista enfrentaria os difíceis
anos da Grande Depressão.

3.1.1 As causas da crise

Em 1928, os norte-americanos acreditavam que o seu país atravessava


uma fase de prosperidade infindável. Herbert Hoover, o candidato
republicano à presidência eleito nesse ano, considerava mesmo a pobreza
e o desemprego como males em vias de extinção. Esta era da
prosperidade começou a ser ameaçada por alguns sinais preocupantes:
setores industriais que não tinham recuperado os níveis anteriores à crise
de 1920-1921; um desemprego crónico provocado pela intensa
mecanização; uma agricultura pouco compensadora para os que se
dedicavam a ela; produções excedentárias (superprodução) que
originavam preços baixos e quedas de lucro. Uma política de facilitação do
crédito, processada pelos bancos, mantinha, artificialmente, o poder de
compra americano. A crédito igualmente se adquiriam as ações que os
americanos detinham as empresas. Na solidez da sua economia, ávidos de
riquezas fácil e de promoção, muitos investiam na Bolsa. Foi na Bolsa de
Nova Iorque em Wall Street, que rebentou a crise de 1929.

3.1.2 A dimensão financeira da crise

A especulação no mercado de ações americano não parava de crescer.


Entre 1927 e 1929, o índice geral dos valores industriais cotados em Wall
Street ultrapassou o da produção industrial. Enquanto a economia
americana caminhava para o abismo, os acionistas continuavam a investir.
Em outubro de 1929 esta tendência começou a mudar. Alarmados com a
descida dos preços e dos lucros industriais, os investidores davam as
ordens de venda das suas ações. O pânico instalou-se no dia 24 de
outubro, a "quinta-feira negra", quando 13 milhões de títulos foram
postos no mercado a preços baixíssimos e não encontraram um
comprador. No dia 29 de outubro, a "terça-feira negra", foi a vez de 16
milhões de ações conhecerem o mesmo destino. A catástrofe ficou
conhecida como craque (crash) de Wall Street. Nos meses que seguintes,
centenas de milhares de acionistas conheceram a ruína. Não havia
pessoas que comprassem as suas ações transformadas em meros papéis
sem valor. A maior parte dos títulos tinha sido adquirida a crédito, a ruína
dos acionistas significou a ruína dos bancos, que deixaram de ser
reembolsados. Entre 1929 e 1933 fecharam mais de 10 mil bancos. Com as
falências bancárias, a economia paralisou, pois cessou a grande base de
prosperidade americana- o crédito.

3.1.3 A dimensão económica e social da crise

Descapitalizadas pela retirada dos acionistas e pelas restrições do crédito,


as empresas faliram, especialmente as que tem uma frágil situação
financeira. O desemprego disparou para mais de 12 milhões de pessoas
em 1933. De imediato a produção industrial contraiu-se e os preços
abaixaram. A diminuição do consumo e as dificuldades da indústria
repercutiram-se nos campos. Os preços dos géneros agrícolas afundaram.
Por toda a parte hipotecavam-se quintas, abatia-se o gado e destruíam
produções. A crise da agricultura forneceu uma visão confrangedora da
América dos anos 30. Famílias inteiras vegetavam na miséria. Outras
aventuravam-se estrada fora, desmandando as cidades em busca de
emprego. Quando chegavam lá deparavam-se com fábricas fechadas ou
mantendo os trabalhadores estritamente necessários. Os sálarios
sofreram cortes drásticos, entre operários e colarinhos brancos. Homens
desesperados ofereciam-se por preços irrisórios, para o desempenho de
tarefas frequentemente desqualificadas. Sem segurança social, as pessoas
formavam filas intermináveis nas ruas à espera de refeições oferecidas
pelas instituições de caridade. Às portas das cidades cresciam os bairros
de lata, pois não havia dinheiro para custear rendas de casa. O sonho
americano parecia desmoronar-se.

3.1.4 A mundialização da crise; a persistência da conjuntura deflacionista

A Grande Depressão propagou-se às economias dependentes dos Estados


Unidos: aos países fornecedores de matérias-primas, nomeadamente os
da América Latina; e de todos aqueles países europeus cuja reconstrução
do pós-guerra se baseava nos créditos americanos, como a Áustria e a
Alemanha, a retirada dessas capitais originou uma situação económico-
social absolutamente insustentável. No mundo capitalista liberal, os anos
30 foram tempos de profunda miséria e angústia. A inflação do pós-guerra
deu lugar a uma conjuntura deflacionista, caracterizada pela diminuição
do investimento e da produção, e pela queda da procura e dos preços.
Num círculo absolutamente vicioso, a diminuição do consumo acarretava
a queda dos preços e da produção, as falências, o desemprego e
novamente a diminuição do consumo. As autoridades não
compreenderam a real dimensão da crise e acentuaram a deflação com
medidas desastrosas. Em 1930, os Estados Unidos numa tentativa de
proteger a sua economia, aumentaram as taxas sobre as importações de
26% para 50%. Criaram em consequências, dificuldades acrescidas aos
outros países, que ficaram sem condições para adquirir a produção
americana. Instalada a descrença no capitalismo liberal, restou aos
Estados em crise uma maior intervenção na regulação das atividades
económicas.

3.2 A resistência das democracias liberais

As proporções mundiais da crise de 1929 levaram o economista britânico


Jonh Keynes a duvidar da capacidade autorreguladora da economia
capitalista, chamando a atenção para um maior intervencismo por parte
do Estado. Nas vantagens de uma inflação controlada, Keynes criticou as
políticas deflacionistas que evitavam as despesas do Estado e combatiam
a massa monetária em circulação. Segundo o Keynesianismo, ao Estado
deveria ter um papel ativo de organizador da economia e de regulador
do mercado, e jamais o de simples auxiliar dos homens de negócios.

3.2.1 O New Deal

Em 1932, os Estados Unidos da América elegeram um novo Presidente, o


democrata Franklin Roosevelt que se prôpos a tirar o país da crise.
Influenciado po Keynes, Roosevelt decidiu pela intervenção do Estado
federal na economia americana, pondo em prática um conjunto de
medidas que ficaram conhecidas pelo nome New Deal. Na primeira fase
(1933-1934) várias agências estatais estabeleceram como metas o
relançamento da economia e a luta contra o desemprego e a miséria.

* financeiro - controlo rigoroso das atividades bancárias e


especulativas; desvalorização do dólar, o que baixou as dívidas externas e
fez subir os preços, mediante uma inflação controlada, que aumentou os
lucros das empresas;

* infraestruturas - combate ao desemprego através de uma política


de grandes trabalhos: construção de vias de comunicação, habitações,
escolas e barragens;

* agricultura - atribuição de empréstimos bonificados e pagamento


de indemnizações aos agricultores como compensação pela redução das
áreas cultivadas;

* indústria - fixação de preços mínimos e máximos de venda e quotas


de produção, que evitassem a concorrência desleal.

Entre 1935 e 1938 decorreu a segunda fase do New Deal, de cunho


vincadamente social. Foi nesta fase que o Governo Federal americano
assumiu na plenitude os ideais do Estado-Providência(Welfare State), é do
Estado intervencionista que promove a segurança social, de modo a
garantir a felicidade, o bem-estar e o aumento do poder de compra dos
seus cidadãos. Para concretizar esta fase foram fundamentais as seguintes
leis: Wagner Act (1935) - reconheceu a liberdade social e o direito à greve;
Social Security Act (1935) - regularizou a reforma por velhice e invalidez,
instituiu o fundo de desemprego e o auxílio aos pobres; Fair Labor
Standard Act (1938) - estabeleceu o salário mínimo e reduziu a 44 horas a
duração semanal do trabalho. Ao devolver a confiança aos americanos,
sobretudo aqueles que foram mais afetados pelo desemprego, o New Deal
demonstrou que era possível ultrapassar a crise sem abdicar dos
democráticos, lição que alguns países europeus vão tentar seguir.

3.2.2 Os governos de Frente Popular

O intervencionismo do Estado permitiu às democracias liberais, como a


americana, resistirem à crise económica e recuperarem a credibilidade
política. No caso da França , a conjuntura recessiva quase pôs em causa o
regime parlamental. Embora a Grande Depressão não tivesse atingido a
amplitude sofrida nos Estados Unidos ou na Alemanha, a verdade é que a
crise francesa se eternizava pela insistência dos governos em políticas
deflacionistas. Desacreditados perante a opinião pública, os governos
enfrentavam as críticas da esquerda, que acusava a tibieza dos governos
democráticos, reclamando uma atuação autoritária. Face à virulência
progressiva das forças da extrema-direita, iniciou-se uma apreciável
mobilização dos cidadãos, que convergiu numa ampla coligação de
esquerda denominada Frente Popular. Integrou partidários comunistas,
socialistas e radicais, e sob lema "pelo pão, pela paz e pela liberdade",
triunfou nas eleições de maio de 1936. Os governos de Frente Popular,
nos quais os comunistas estiveram ausentes, mantiveram-se entre 1936 e
1938 e a sua grande figura foi o socialista Léon Blum. Forneceram um
impulso à legislação social, na sequência de um vasto movimento
grevista, que afetou find de maio de 1936, as indústrias automóvel e
aeronáutica, grandes armazéns, bancos e escritórios. Inquietos com a
ocupação de fábricas, os patrões denunciaram a ameaça bolchevista que
pairava sobre o país. O Governo interveio na mediação do conflito,
resultou nos Acordos de Matignon, celebrado no dia 7 de junho. Se
determinou a assinatura, em cada empresa, de contratos celetivos de
trabalho entre empregadores e assalariados, que se aceitava a liberdade
sindical e se previam aumentos salariais. Ainda neste contexto de
combate à crise e de dignificação da classe trabalhadora, foram tomadas
as seguintes medidas:

* instituição do horário semanal de trabalho de 40 horas;

* concessão do direito a 15 dias de férias pagas por ano a todos os


trabalhadores;

* aumento da escolaridade obrigatória até aos 14 anos;

* controlo exercido pelo Estado no Banco de França;

* nacionalização das fábricas de armamento.

Em 1936, mas em fevereiro, triunfara em Espanha uma Frente Popular,


apoiada por socialistas, comunistas, anarquistas e sindicatos operários.
Esta união da esquerda, na qual se destacou Manuel Azanã, não hesitou
em enfrentar as forças conservadoras, decretando a amnistia dos presos
políticos, a separação da Igreja e do Estado, o direito à greve e à ocupação
das terras não cultivadas, assim como o aumento dos salários em 15%. Em
junho do mesmo ano, os nacionalistas (monárquicos, conservadores e
falangistas) pegaram em armas contra a República democrática, dando
origem a uma das mais cruéis guerras civis do século XX(20).

3.3 As opções totalitárias: os fascismos

No ínicio dos anos 20, nos países onde a democracia liberal não dispunha
de raízes sólidas ou onde a guerra provocou gravíssimos problemas
económicos, humilhações e insatisfações, afirmaram-se soluções
autoritárias de direita. Em 1922, a Itália deu o sinal em outubro daquele
mesmo ano, a Marcha sobre Roma dos "camisas negras" (as milícias
fascistas), o fascismo consolidou-se em Itália, servindo de modelo e
inspiração a muitos outros países europeus. Sucedeu na Alemanha , país
que assistiu em 1923, ao putsch de Hitler em Munique, dirigido contra a
República democrática de Weimar. O golpe fracassou, mas a semente do
narzismo haveria de germinar dez anos volvidos, originando a ditadura de
direita mais trágica da História da Humanidade. Nos anos 30, esta vaga
autoritária e ditatorial submergiu a Europa, aproveitando a conjuntura de
depressão económica e a consequente crise democracia liberal.

3.3.1 Totalitarismo e nacionalismo


O totalitarismo do Estado fascista exerceu-se a vários níveis: político,
económico, social, cultural. A oposição política, considerada um entrave à
boa governação, foi aniquilada. As atividades económicas sofreram uma
rigorosa regulamentação. A sociedade, galvanizada pela propaganda,
enquadrou-se em organizações feitas ao regime. Até a própria verdade foi
monopolizada pelo Estado, que impedia a liberdade de pensamento e de
expressão. Como sentenciou Mussolini, "tudo no Estado, nada contra o
Estado, nada fora do Estado". Enquanto o liberalismo e a democracia se
afirmavam defensores profundos dos direitos do indivíduo, o fascismo
entende pelo o contrário, que acima do indivíduo está o interesse da
coletividade, a grandeza da Nação e a supremacia do Estado. A apologia
do primado do Estado sobre o indivíduo leva o fascismo a desvalorizar a
democracia partidária e o parlamentarismo, este sitema governativo
assenta no respeito pelas liberdades individuais que se fazem ouvir
diretamente nas eleições e, através dos seus representantes, nos
parlamentos. O exercício do poder legislativo por assembleias é
menosprezado pelo fascismo, que rejeita a teoria liberal da divisão dos
poderes e faz depender a força do Estado do reforço do poder executivo.
Além do liberalismo e da democracia, também o socialismo merece ao
fascismo a total reprovação. Para o fascismo, a luta de classes é algo de
abdominável porque divide a Nação e enfraquece o Estado. Outro dos
motivos da hostilidade fascista relativamente ao socialismo derica do seu
nacionalismo fervoroso, exaltador das glórias pátrias, ser absolutamente
incompatível com os apelos socialistas ao internacionalismo proletário. De
acordo com o marxismo, o proletário não lutava pela pátria, mas pelo
derrube do capitalismo mundial.

3.3.2 Elites e culto do chefe

Ao contrário do demoliberalismo que acredita na igualdade entre homens


e defende o respeito acesso á governação (elegendo ou sendo eleito), o
fascismo parte do princípio de que os homens não são iguais, a
desigualdade é útil e fecunda, e o governo só aos melhores, às elites deve
competir. Desconfiando das escolhas baseadas no sufrágio universal, que
atribuem o mesmo valor de voto a qualquer pessoa, Hitler chegou afirmar
que existiam "mais probabilidades de fazer passar um camelo pelo o
buraco de uma agulha do que descobrir um grande homem por meio de
uma eleição"! Os chefes (o Duce, na Itália fascista, o Führer, na Alemanha
nazi) foram promovidos à categoria de heróis. Simbolizavam o Estado
totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos. As elites não
incluíam apenas os chefes. Fazia parte a raça dominante (para Hitler, era a
raça ariana), os soldados e as forças militarizadas, os filiados no partido,
os homens de uma forma geral. As mulheres nazis eram consideradas
cidadãs inferiores por exemplo estava destinada a vida no lar e a
subordinação ao marido: os seus ideias resumiam-se aos três K- Kinder,
Küche, Kirche (crianças,cozinha,igreja).

3.3.3 Enquadramento das massas

Líderes de sociedades profundamente hierarquizadas e rígidas, Mussolini


e Hitler souberam explorar o elevado respeito que as massas nutriam
pelas elites. A obediência cega das massas obcecou com efeito a prática
fascista, à vontade individual e ao espírito crítico. Os ideais fascistas
introduzir primeiro nos jovens, já que as crianças, mais do que às famílias,
pertenciam ao Estado. Na Itália, a partir dos 4 anos de idade as crianças
ingressavam nos Filhos da Loba e usavam já uniformes; dos 8 aoa 14
faziam parte dos Balillas; aos 14 eram Vanguardistas; e aos 18 entravam
na Juventudes Fascistas. Na Alemanha, os jovens eram fanatizados pelas
organizações de juventude a partir dos 10 anos, considerando-se
opositores ao regime os pais que para elas não enviarem os filhos.
Quando os nazis chegaram ao poder, em janeiro de 1933, as Juventudes
Hitlerianas contavam com aproximamente 100 mil membros. No final
desse ano, já eram mais de 2 milhões e o número não parou de crescer
até 1940, quando 82% dos jovens alemães entre os 10 e os 18 anos já
integravam as suas fileiras. As raparigas eram inseridas em organizações
específicas, como a das Jovens Italianas e a Liga das Jovens Alemães.
Nestas organizações os jovens italianos e alemães aprendiam o culto ao
Estado e ao chefe, o amor pelo o desporto e pela guerra, o desprezo pelos
valores intelectuais. A educação fascista completava-se na escola, através
de professores subservientes ao regime, ao qual prestavam juramento, e
de manuais escolares impregnados dos princípios totalitários fascistas. A
arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, deles
se esperavam a total adesão e a identificação com o fascismo.

* o Partido único (Nacional Fascista na Itália, Nacional-Socialista na


Alemanha) e as milícias, cuja filiação se tornava indispensável para o
desempenho das funções públicas e militares, e de cargos de
responsabilidade;

* a Frente do Trabalho Nacional-Socialista e as corporações


italianas, que forneciam aos trabalhadores condições favoravéis na
obtenção de emprego (substituíram os sindicatos livres, entretanto
proibidos e desmantelados);

* a Dopolavoro, na Itália, e a Kraft durch Freude, na Alemanha,


associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores com
atividades recreativas e culturais que não os afastassem da ideologia
fascista.

No controlo das mentes e das vontades muito investiu o Estado totalitário


fascista. Uma gigantesta máquina de propaganda , apoiada nas modernas
técnicas audiovisuais, promoveu o culto do chefe, publicitou as realizações
do regime e submeteu a cultura a critérios nacionalistas e até racistas.
Grandiosas manifestações, onde avultavam as paradas, os uniformes e os
estandartes, foram alvos de uma encenação teatral que entusiasmava as
multidões.

3.3.4 O culto da força e da violência

Não chegou ao fascismo e ao nazismo a eficácia das organizações de


enquadramento nem o instrumento da propaganda para obter a perfeita
adesão das massas. A repressão e a violência, exercidas pelas milícias
armadas e pela polícia política, se tornaram decisivas para garantir o
controlo da sociedade e a sobrevivência do totalitarismo. Na Alemanha, o
Partido Nazi criou as Secções de Assalto (SA) e as Secções de Segurança
(SS), em 1921 e 1923. Temidas pela brutalidade das suas ações estas
milícias não se coibam de recorrer aos espancamentos, à tortura e à
eliminação dos opositores políticos. Com a vitória do nazismo em 1933 foi
criada a polícia crítica: a Gestapo. Mílicias e a polícia política a todos
envolviam-se numa atmosfera de suspeitas e denúncias generalizadas. A
criação dos primeiros campos de concentração foi em 1933, completou o
dispositivo repressivo do nazismo. Administrados pelas SS e pela Gestapo,
neles se encerraram os opositores político. Em Itália se defende o culto da
força e a "natureza selvagem" do Homem, afirmando-se que só em
contexto de guerra, a Humanidade se releva corajosa e superior. Em 1923,
os esquadristas foram reconhecidos oficialmente como mílicias armadas
do Partido Nacional Fascista. Receberam a designação de Mílicias
Voluntária para a Segurança Nacional, coube-lhes vigiar, denúnciar e
reprimir qualquer ato conspiratório. Idênticas funções competiam à
polícia política criada em 1925 e foi apelidada de Organização de Vigilância
e Repressão do Antifascismo (OVRA).

3.3.5 O controlo racial e social

O desrespeito pelos direitos humanos atingiu os cumes do horror com a


violência do racismo do regime nazi. Para Hitler, os povos superiores
eram os arianos, que tinham nos Alemães os seus mais puros
representantes. Esta ideia, que carece de qualquer fundamento científico,
foi propaganda pela obra redigida por Hitler na prisão, Mein Kampf, que
contribuiu para exacerbar o nacionalismo alemão e impor o triunfo da
ideologia nazi. Obcecados com o apuramento físico e mental da raça
ariana, os nazis promoveram o eugenismo , aplicando as leis da genética
na reprodução humana. Uma "seleção" de Alemães (altos e robustros,
louros e de olhos azuis) resulta em casamentos entre os membros das SS e
jovens mulheres, todos eles portadores de "superiores" qualidades raciais.
Ao mesmo tempo que se alimentava a natalidade entre os arianos,
procedia-se à eliminação de pessoas com deficiência, doentes incuráveis
e velhos incapacitados, eram remetidos para câmaras de gás, ao abrigo de
um "programa de eutanásia". Afirmava-se com crueldade que nenhum
Alemão podia envergonhar a excelência da sua raça e muito menos
consumir o dinheiro da Nação sem lhes darem nada em troca. Os
homossexuais foram considerados "socialmente aberrantes",
encerrando os seus lugares de encontro e as instituições que lutavam
pelos seus direitos. De acordo com esta ideologia, aos Alemães competiria
fatalmente o domínio do mundo, se fosse necessário à custa da
submissão e/ou eliminação dos povos inferiores. Entre estes, estavam os
Judeus e os "ciganos" e também os Eslavos, cujos os territórios da Europa
Central e Oriental forneceriam aos Alemães o tão necessário espaço vital.

3.3.6 A violência racista

Os Judeus tornaram-se alvo preferencial da barbárie nazi, sendo


considerados por Hitler os culpados da derrota da Alemanha na Primeira
Guerra Mundial e das crises económicas. Este antissemitismo traduziu-se
logo em 1933 na primeira vaga de perseguições aos Judeus: ordenou o
boicote às suas lojas, interditou-se o funcionalismo público e as profissões
liberais aos não arianos (no fim do ano, 3000 médicos, 4000 advogados e
2000 artistas estavam sem emprego), instituiu-se o numerus clausus nas
universidades. O segundo movimento antijudaico iniciou-se em 1935, com
a adoção das Leis de Nuremberga para a "proteção do sangue e da honra
alemães": o casamento e as relações sexuais entre arianos e Judeus foram
proibidos, punindo-se com severidade os infratores; os alemães de origem
judaica foram privados da nacionalidade. Em 1938, realizou-se a
liquidação das empresas judaicas e o confisco dos seus bens. Nesse ano,
ficou tristemente célebre o pogrom da "Noite de Cristal" (9-10 de
novembro), em que foram destruídas sinagogas e lojas dos Ju-deus, tendo
muitos deles perecido. O segregacionismo foi levado a pontos extremos.
Os Judeus deixaram de poder exercer qualquer profissão e de frequentar
lugares públicos, passaram a ser identificados pelo uso obrigatório e
vexatório da estrela amarela e eram humilhados pelas autoridades nazis,
em público e até nas suas próprias casas Perseguidos nas ruas,
aprisionados nas suas casas e encurralados em guetos, onde passaram as
maiores provações, os Judeus acabaram deportados para campos de
concentração. Campos de trabalho foi a designação que a perversidade
nazi lhes atribuiu. Campos da morte foi no que se tornaram pelas
carências alimentares e de higiene, pelas doenças, pela brutalidade dos
trabalhos forçados, pelas execuções sumárias, pelos massacres nas
câmaras de gás. A fase mais cruel do antissemitismo chegou com a
Segunda Guerra Mundial. Senhores de grande parte da Europa, os nazis
puseram em prática um plano de destruição do povo judaico, que se veio
a saldar no genocídio de quase 6 milhões de judeus. Em janeiro de 1942,
na Conferência de Wannsee, realizada nos arredores de Berlim, essa
destruição adquiriu a dimensão de um extermínio, designado por "solução
final do problema judaico". Nos campos de concentração terminaram os
seus dias milhões de judeus de várias nacionalidades, incluindo de origem
portuguesa, mas também muitos eslavos e ciganos, cujo único crime foi o
de não terem nascido arianos. A Alemanha nazi não perpetrou o
Holocausto sozinha, contando com o apoio de países aliados e de
governos colaboracionistas. Mas houve também muitas pessoas que, sem
motivações egoístas, salvaram vítimas do regime nazi, mesmo que tal
atitude pudesse comprometer a carreira profissional, a liberdade ou até a
própria vida.

3.3.7 A autarcia como modelo económico

A recuperação da economia preocupou os regimes de Itália e da


Alemanha, ete sofreram de uma forma preocupou os reise do pós-guerra
e, depois, os efeitos da Grande Depressão. Em ambos os países se adotou
uma política eco nómica intervencionista e nacionalista que ficou
conhecida pelo nome de autarcia. Propôs-se a autossuficiência económica,
apelou-se ao heroísmo e ao empenho do povo trabalhador, prometeu-se
o fim do desemprego e a glória da Nação.

Em Itália

Em Itália, o fascismo concebeu um modelo peculiar de organização


socioeco-nómica, o corporativismo, destinado a promover a colaboração
entre as classes. As corporações eram organismos profissionais que
reuniam, por ramos de trabalho, empregadores e empregados.
Solucionariam entre si os pro-olemas laborais, jamais recorrendo à greve
ou ao lockout, que foram proibidos. Desse modo, procurava-se eliminar as
paralisações de trabalho, que acarretavam prejuízos económicos.
Exaltadas pela propaganda, realizaram-se grandes batalhas de produção: a
"batalha da lira" procurava a estabilização da moeda; a "batalha do trigo",
iniciada em 1925, aumentou a produção de cereais e fez diminuir as
elevadas importações que agravavam o défice comercial; a "batalha da
bonificação" conseguiu a recuperação de terras e a criação de novas
povoações nas zonas pantanosas a sul de Roma.

O comércio foi alvo de um rigoroso enquadramento por parte do Estado,


que subiu os direitos alfandegários e controlou o volume das importações
e das exportações. A criação, em 1933, do Instituto para a Reconstrução
Industrial permitiu ao Estado financiar as empresas em dificuldade e
intervir fortemente no setor industrial em pé de igualdade com os grandes
grupos capita-listas. No entanto, o Estado corporativo, uma estrutura
extremamente burocratizada, não conseguiu tirar a economia italiana da
estagnação. Em 1935, Mussolini procurou ofuscar estas debilidades com a
aventura colonial da conquista da Etiópia, que lhe permitiu a exploração
de fontes de energia e miné-rios, e a criação de produtos de síntese
química como a borracha artificial.

Na Alemanha

Com promessas de pão e trabalho para os quase 6 milhões de


desempregados, Hitler chegou ao poder na Alemanha em janeiro de 1933.
Uma política de grandes trabalhos, em arroteamentos e na construção de
autoestradas, aeródromos, pontes, linhas férreas, permitiu, nos anos
seguintes, reabsorver o desemprego.

Entre 1936 e 1939, o Estado reforçou a autarcia e o dirigismo económico.


Fixaram-se os preços. A Alemanha tornou-se autossuficiente em cereais,
açúcar e manteiga. O vasto programa de rearmamento, encetado à revelia
das disposições de Versalhes e sustentado pelo grande capital, permitiu
que a indústria alemã se elevasse ao segundo lugar mundial nos setores
da siderurgia, química, eletricidade. As realizações económicas do nazismo
e a quase eliminação do desemprego renderam-lhe a adesão das massas e
a admiração, até, de países ocidentais. Bem depressa, porém, o poderio
militar seria posto ao serviço da conquista do "espaço vital" prometido por
Hitler.

3.4 As opções totalitária: o estalinismo

Vítima de vários enfartes, Lenine faleceu em janeiro de 1924. Como


previra nos últimos anos de vida, o problema delicado da sua sucessão
originou acesas disputas no seio do Partido Comunista. Estaline, o
secretário-geral do partido desde 1922, acabou por levar a melhor, tanto
sobre a fação esquerdista liderada por Trotsky, como sobre a ala direita,
agrupada em torno de Zinoviev, Kamenev e Boukharine. De 1928 a 1953,
Estaline foi o chefe incontestado da União Soviética, liderando um regime
totalitário alicerçado no culto da personalidade e no terror.

3.4.1 A coletivização dos campos e a planificação económica

A Nova Política Económica encetada por Lenine, em 1921, despertara a


contestação de destacados bolcheviques. Seis anos volvidos, e não
obstante os resultados positivos, a NEP dava já sinais de abrandamento,
cabendo a Estaline o golpe final.

A coletivização dos campos avançou, então, a ritmo acelerado.


Considerava-se ser imprescindível ao avanço da indústria, uma vez que
libertaria mão de obra para as fábricas e forneceria alimentos para os
operários. O movimento foi empreendido com brutalidade contra os
kulaks (pequenos proprietários, na sua maioria, que tinham beneficiado
com a NEP), a quem foram confiscados terras e gado. As novas quintas
coletivas, ou cooperativas de produção, chamavam-se kolkhozes.
Correspondiam às antigas aldeias, devendo as famílias camponesas
entregar as suas terras e instrumentos à coletividade. Uma parte da
produção ficava para o Estado e a restante era distribuída pelos
camponeses, de acordo com o trabalho efetuado. No entanto, este
processo contou com a resistência de muitos lavradores, que escondiam
os cereais e abatiam as cabeças de gado em lugar de as entregar as
coletividades. A quebra geral da produção, ainda que não tão dramática
como no período da guerra civil, levou Estaline a ordenar violentas
requisições nas quintas coletivas que não cumpriam as metas definidas. A
consequência desta política agrícola foi a terrível fome que, em 1932-33,
atingiu todas as regiões de cultivo de cereais da URSS, com especial
incidência na Ucrânia. Entretanto, a produção industrial desenvolveu-se
sob o signo da planificação. Ao contrário do capitalismo liberal, baseado
na livre iniciativa, que não organizava a produção de acordo com as
necessidades, sofrendo as consequentes crises de superprodução, o
Estado soviético estabeleceu metas para a economia. O primeiro plano
quinquenal (1928-1932) visou o incremento da indústria pesada e levou
ao quase desaparecimento do setor privado da indústria soviética.
Promoveu investimentos massivos, permitidos por uma rigorosa coleta
fiscal; recorreu a técnicos estrangeiros; apostou na formação de
especialistas e engenheiros. Um conjunto de medidas coercivas
(caderneta de trabalho obrigatória, despedimento sem aviso prévio por
ausência injustificada) contribuiu para fixar os operários e aumentar a
produtividade. Quanto ao segundo plano quinquenal, decorreu de 1933 a
1937 e incidiu no setor da indústria ligeira e dos bens de consumo
(vestuário e calçado). Os seus resultados foram considerados honrosos. O
terceiro plano quinquenal iniciou-se em 1938 e teve como prioridades as
indústrias pesada, hidroelétrica e química. A Segunda Guerra Mundial
interrompeu-o, em 1941. Mas, então, já a URSS era a terceira potência
mundial, atrás dos EUA e da Alemanha.

3.4.2 O totalismo repressivo do Estado

O Estado estalinista revelou-se omnipotente e totalitário'. Todas as


regiões foram russificadas e submetidas a Moscovo. A própria cultura
exaltou a gran deza do Estado soviético e rendeu culto à personalidade do
seu chefe. Esta line, chamado de "pai dos povos". Toda a sociedade ficou
enquadrada em organizações que a vigiavam, desde os Jovens, inscritos
nos Pioneiros e, depois, nas Juventudes Comunistas, aos trabalhadores,
obrigatoriamente filiados nos sindicatos afetos ao Partido Comunista.
Desde 1924, as nomeações para o partido competiam a Estaline. Em 1939,
os velhos bolcheviques já estavam quase completamente afastados, em
virtude de um processo sistemático de depurações. O Partido Comunista
transformou-se num partido de quadros, profundamente burocratizado e
disciplinado, o que facilitava o reforço dos poderes do Estado. Nele ainda
figuravam operários, mas em maioria estavam jovens funcionários, mais
instruídos e, sobretudo, completamente submetidos a Estaline.

O Estado totalitário, alicerçado na ditadura do Partido Comunista,


aguentou-se à custa de uma repressão brutal, levada a cabo pelo "NKVD" ,
a nova polícia política. A partir de 1934, a URSS enveredou pela repressão
cró-nica, caracterizada por purgas e processos políticos movidos contra
líderes da Revolução de Outubro, membros do Partido Comunista e
elementos do Exército Vermelho. Até ao final da década, 700 mil pessoas
foram executadas e cerca de 2 milhões sofreram a deportação para os
campos de trabalhos forçados - o Gulag -, o que faz da ditadura estalinista
um dos regimes mais despóticos da História da Humanidade.

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