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A Europa transformada
O tráfego automóvel invadiu as cidades; Milhares de camponeses deixaram a
Europa rumo aos EUA (25 milhões de europeus chegaram aos EUA entre 1875 e 1900;
População mais urbana, vivia mais nas cidades, mais velha e com maior esperança
de vida;
O crescimento das cidades, do comércio, da produção agrícola e da produção
industrial é, de facto, impressionante na viragem do século XIX para o século XX; Época
das grandes invenções: a máquina de escrever elétrica, o avião, a lâmina de barbear,
cinema sonoro, máquina de lavar a roupa, etc.;
Para os contemporâneos, a grande guerra de 1914-18 marcou um fim de um
mundo – massacre muito grande, cerca de 1 milhão de baixas – A oeste nada de novo
relata um pessimismo de futuro que se adivinhava sombrio;
Em Portugal
Pós Regeneração – Madrid ficava a um dia de distância, e Paris a dois;
Vias-férreas melhoradas e grandes obras públicas levadas a cabo no tempo de
Fontes Pereira de Melo;
Um país pobre
Parecia cada vez mais pequeno e fraco quando comparado com outras potências;
1910
Tornou-se a segunda república moderna na europa – momento quase singular na
Europa;
Na 1ª grande guerra, só havia duas repúblicas modernas na Europa – Portugal e
França – as trincheiras fizeram outra baixa: a queda das velhas tradições e instituições;
A República Portuguesa é resultante da tomada do poder por um partido
revolucionário;
Uma república implantada por meio da violência;
Na Primavera de 1890, não foi só no Portugal do Ultimato que se sentiu um calafrio
de mudança – na tarde de 18 de março
A lenda do mapa cor-de-rosa
O ultimato português de 1890 ficou a representar o mais espetacular desastre das
ousadias diplomáticas dos liberais portugueses;
Aula 03/11/2023
1910-1926
O partido republicano quando se encontra no poder, é mesmo pela violência;
As instituições deixam de ser levadas a sério – contestação é sempre conspirativa,
violenta;
Por que caminhos é que se chegou à ditadura militar:
- Medidas dos republicanos;
- Papel das forças armadas;
- O que é que representava Salazar quando chegou como ministro das Finanças em
1928.
PRP, Evolucionista e Unionistas – pensam que Sidónio Pais está a ir longe demais;
Torna-se extremamente popular;
1918 – Sidónio Pais cria uma República sem republicanos; morre assassinado no
Rossio;
O fim do século
A nação intelectual
Surge uma resistência ao ultimato inglês de 1890
janeiro de 1890 – quem mais falava e mais era ouvido eram os homens de letras, os
colegas de Eça de Queirós
Em 1891, Eça desabafava com um amigo: «Eu creio que Portugal acabou. Só o
escrever isto faz vir as lágrimas aos olhos – mas para mim é quase certo que a
desaparição do reino de Portugal há-de ser a grande tragédia do fim do século.»;
Época era de grande instabilidade – depois de um conflito diplomático com os
ingleses em 1890, uma insurreição militar republicana no Porto em 31 de janeiro de
1891 e uma grave crise financeira em Maio desse ano – quase tudo parecia em causa:
a independência do país, o regime constitucional, as finanças;
Começava uma revolução em Portugal, a que se seguiria uma ocupação do país pela
Espanha, enquanto a Inglaterra, a França e a Alemanha partilhariam as colónias;
O pessimismo era geral – em 1894, na terceira edição do Portugal Contemporâneo,
Oliveira Martins voltou à pergunta de Mouzinho da Silveira: «Há ou não há recursos
bastantes, intelectuais, morais, sobretudo económicos, para [Portugal] subsistir como
povo autónomo, dentro das estreitas fronteiras portuguesas?»
A questão inglesa
Foi por África que Portugal se encaixou no contexto europeu;
Desenvolveu-se assim a tese de que Portugal deveria salvaguardar os seus
interesses, não através da «aliança inglesa», mas de múltiplos contactos
internacionais;
O que se pretendia com o «mapa cor-de-rosa»? – Um império de costa a costa? Ou
simplesmente, proclamar o fim da “tutela inglesa”? – O Governo Progressista de 1886
– 1890 procurou envolver a Alemanha como mediadora, enquanto enviara expedições
para avassalar os indígenas nas regiões disputadas;
Isto irritou a Inglaterra, que a 11 de janeiro de 1890 exigiu a retirada portugueses
da área entre Angola e Moçambique (“Mapa cor-de-rosa”);
A Intervenção
A neutralidade de Espanha deu a Portugal a opção de manter-se à margem – Mas
os líderes do PRP viram na guerra uma grande oportunidade – fizeram grande caso da
necessidade de defender Angola e Moçambique;
Porém, a razão principal foi outra: reforçar laços com uma Inglaterra de quem
temiam o alinhamento com a Espanha de Afonso XIII, o qual sonhou sempre interferir
em Portugal;
A intervenção na Europa, ao lado da Inglaterra, pareceu-lhes o meio de confirmar a
aliança – ou como disse Afonso Costa de «forçar a Inglaterra a dar testemunhos
públicos de consideração para Portugal»;
Era ainda um bom pretexto para induzir os outros partidos a uma «união sagrada»,
como em França, que consagrasse a supremacia do PRP;
Mas a Inglaterra não se mostrou entusiasmada e os oficiais do exército português
também não – foi a vez de Manuel Brito Camacho ver também uma oportunidade:
notou logo que «a Inglaterra alguma coisa nos pedira, mas que essa alguma coisa não
era um reforço de tropas» - passou a contrariar a ideia de intervenção, tentando isolar
o PRP;
Afonso Costa não pôde desistir: confiava no estatuto de beligerante para ter acesso
a recursos e créditos essenciais;
Finalmente, a Alemanha declarou guerra a Portugal, a 9 de março de 1916, depois
de o Governo, a pedido da Inglaterra, se ter apropriado de uns 70 barcos alemães
refugiados em portos portugueses;
António José de Almeida aceitou entrar num Governo de «União Sagrada» - o PRP,
que em 1913 governara amparado no parlamento por Camacho, partilhava agora o
Governo com Almeida;
Muitos evolucionistas e uma parte do PRP, em que se entranhara um ódio
recíproco, também não se conformaram com a aliança – a guerra, que deveria ter
unido os chefes republicanos, serviu para aprofundar as suas desavenças;
Nas frente religiosa, a calma também não durou: em 1917, já havia seis bispos
expulsos das suas dioceses – as eleições municipais de 4 de novembro de 1917
registaram uma abstenção maciça: no Porto, de 20 000 eleitores, votaram 6000; Em
Coimbra, de 3202, votaram 942;
Guerra
O general Norton de Matos, treinou e armou em nove meses um Corpo
Expedicionário Português (CEP) que foi enviado para a frente da Flandres – as baixas
foram equivalentes a 25 por cento dos efetivos do CEP;
Nas colónias, a guerra também não correu da melhor forma perante os alemães das
atuais Namíbia e Tanzânia;
Uma série de más colheitas desde 1912 e a guerra naval no Atlântico criaram um
sério problema de abastecimentos – em 1917, a tonelagem descarregada nos portos
representou 20 por cento da de 1913; Escassearam combustíveis, matérias-primas
para a indústria, adubos para a agricultura e, sobretudo, alimentos;
Aumentaram as notas em circulação, os preços subiram – a tentativa de os tabelar
e de controlar a produção e a distribuição, através de arrolamentos e guias de trânsito,
levou muitos agricultores a abandonar o cultivo;
Foram, provavelmente, os piores anos para se viver em Portugal no século XX;
Demografia
A pirâmide etária de 1920 revela a redução dos nascimentos e do número de
casamentos entre 1916 e 1920;
As autoridades revelaram uma enorme dureza em lidar com os protestos;
No Governo, temia-se sobretudo o estado de espírito da tropa – Afonso Costa, no
Conselho de Ministros, vazava o seu ressentimento contra a «classe dos oficiais», que
dizia «composta numa grande maioria de verdadeiros parasitas, sem o menor espírito
de abnegação»;
Afonso Costa ia perdendo credibilidade;
Visto que Manuel Brito Camacho, sempre incerto, se distanciara do golpe, Sidónio
Pais assumiu a chefia do Novo Governo – começa o Sidonismo;
Dispôs-se a contactar diretamente com a população – viajou de norte a sul;
Inicialmente, todos os excluídos pelo PRP se aproximaram, desde os anarquistas dos
sindicatos de Lisboa até aos católicos e monárquicos: os presos foram soltos, e os
saneados, reintegrados;
Sidónio propôs-se restaurar a «república generosamente proclamada em 5 de
outubro e miseravelmente atraiçoada por uma casta política».
Tinha com ele os dois principais comandantes da revolução de 1910: Machado
Santos e José Carlos da Maia – mas não tinha os partidos republicanos – nem o PRP
nem os outros, horrorizados com a perspetiva de uma república que Sidónio imaginava
como um «regime novo em que monárquicos e republicanos possam viver», isto é,
onde os republicanos não predominariam;
Contra a Constituição de 1911, por decretos de 11 e 30 de março de 1918, Sidónio
improvisou uma «República nova», a partir de ideias que ele tinha criticado antes,
como o presidencialismo – o objetivo foi concentrar o poder num chefe que servisse
de garantia simultaneamente ao regime republicano e à sua abertura: Com Sidónio, a
república continuaria a ser república, mas acessível a católicos, monárquicos e
sindicalistas;
Para se legitimar, estabeleceu o sufrágio universal masculino, dando a 880 000
recenseados o direito de votar na eleição direta do presidente da República, da
Câmara dos Deputados (155) e de parte do Senado (59 dos 77 senadores, sendo os
restantes eleitos por associações e instituições) – os partidos republicanos recusaram-
se a participar; Mas a maioria dos seus chefes, como João Chagas reparou, conservou-
se nos seus «lugares», incluindo os «próprios amigos de Afonso Costa»: «cada um
recolheu ao egoísmo do interesse privado»;
Sidónio foi eleito a 28 de abril de 1918, com 513 958 votos (58 por cento dos
recenseados) – era simultaneamente chefe de Estado e de Governo, como nos EUA, e
ainda comandante das Forças Armadas;
Formou um Partido Nacional Republicano para organizar os seus apoiantes, em
maioria no parlamento com 100 deputados e 32 senadores – constituíam uma massa
profissionalmente igual à do PRP;
Sidónio tolerou ainda um grupo parlamentar monárquico, de cerca de 41
deputados e 9 senadores – conciliou a Igreja, revendo a Lei da Separação, com a
abolição das culturais, reatando relações com o Vaticano e assistindo a cerimónias
religiosas;
Mas o seu poder dependia do exército, que deixou de enviar para França e que
exibiu em grandes paradas em Lisboa – era o seu trunfo contra as forças políticas
organizadas, todas hostis;
Assim resistiu às revoluções tentadas pelo PRP e, finalmente, a uma revolução
anarquista em novembro;
Os «Lacraus» - os seus grupos armados e polícia política – e a censura limitavam a
atividade oposicionista – 1000 detidos segundo o Governo, 10 000 segundo a
oposição;
As condições de vida não tinham melhorado: foi a época das grandes epidemias
de tifoide e de gripe pneumónica, de que morreram 31 785 pessoas em outubro e
18 123 em novembro;
O sidonismo, no fundo, era ele, e por isso tudo se desfez quando o presidente foi
assassinado a tiro, à entrada da Estação do Rossio em Lisboa, por um militante do PRP;
À república, voltaram os republicanos, a Constituição de 1911 e o domínio do PRP.
– O Nacionalismo corporativismo
O primeiro grande princípio positivo que cabe referir é o do nacionalismo
corporativo – Nacionalismo por que estão «subordinadas aos supremos objetivos da
nação, com os interesses próprios, todas as pessoas singulares e coletivas que são
elementos constitutivos dos seu organismo» - e a forma de estruturar política e
harmoniosamente tal sujeição dos interesses atomizados ao interesse nacional seria a
construção do «Estado social e corporativo em estreita correspondência com a
constituição natural da sociedade»;
O Estado Corporativo trazia a nação genuína para o seu seio, integrava a nação no
Estado – isto é, fazia repousar a sua legitimidade não nessa nação abstrata dos
indivíduos e na outra ficção deles resultante, os partidos, mas nos espontâneos
«organismos componentes da nação» - onde harmoniosa e naturalmente se
encontravam e compunham os interesses dos indivíduos, a saber, , «as famílias, as
freguesias, os municípios, as corporações», que haveriam de ter «intervenção direta na
constituição dos corpos supremos do Estado»;
Doutrina que, desenvolvida com mais largueza no relatório do projeto
constitucional governamental, encontrará, todavia, algumas limitações significativas
no articulado deste, mesmo na sua formulação inicial – sem dúvida que aí se consagra
a existência político-constitucional de tais elementos fundamentais da nação orgânica
– a família, as corporações morais e económicas, os «corpos administrativos» -
conferindo-lhes direitos de representação política, através da possibilidade de
concorrerem para a eleição das câmaras municipais e, através destas, indiretamente,
para a de metade dos deputados da Assembleia Municipal;
Quer as autarquias quer as «corporações morais e económicas» estariam, por seu
turno, representadas na Câmara Corporativa;
Todavia, esta câmara de corporações é relegada para mero órgão consultivo, sem
iniciativa própria e subordinado à Assembleia Nacional, onde metade dos deputados
continuavam a ser liberalmente eleitos pelo «cidadão eleitor»;
– O Estado Forte
O segundo princípio orientador respeita à opção pelo autoritarismo, pelo Estado
Forte, ainda que «limitado pela moral, pelos princípios do direito das gentes, pelas
garantias e liberdades individuais», evitando o caminho daquelas «reações
justificáveis, mas excessivas», orientadas no sentido da sua omnipotência e
divinização»
Havia, pois, de restituir ao «princípio salutar» da divisão, harmonia e independência
dos poderes - «desvirtuado pelos costumes parlamentares» - «alguma coisa de real e
efetivo», no sentido de devolver ao poder executivo «independência, estabilidade,
prestígio e força», isto é, na prática, o papel hegemónico indiscutível no sistema
político – e assim será – Na organização política do Estado prevista no projeto
constitucional do governo, o poder executivo está formalmente concentrado num
chefe de Estado dotado dos mais amplos poderes:
- Eleito por sufrágio direto dos cidadãos eleitores por períodos de sete anos, responde
direta e exclusivamente perante a nação «pelos atos praticados no exercício das suas
funções» - na prática, o presidente da República era política e juridicamente
«irresponsável»;
- Nomeia e exonera livremente, isto é, sem qualquer interferência da assembleia
legislativa, o chefe de Governo e os ministros, que são da sua exclusiva confiança e só
perante ele respondem;
- Tem poderes discricionários de dissolução da Assembleia Nacional ou até de
interrupção dos seus trabalhos;
- É-lhe reconhecida a possibilidade de suscitar revisões extraordinárias da Constituição
sobre pontos por ele indicados ao Parlamento;
Na dependência do presidente da República funcionaria um governo, como vimos,
da sua exclusiva responsabilidade e completamente independente da assembleia
legislativa – também a ele eram confiadas pela nova orgânica constitucional
atribuições excecionalmente vastas:
- Para além da ação de superintendência no conjunto da administração pública, era-lhe
conferido o poder de fazer leis – através de decretos-leis – desde que no uso de
autorizações legislativas conferidas pela Assembleia Nacional ou nos casos de
«urgência e necessidade pública»
Papel particular era atribuído ao presidente do Conselho, único responsável
governamental perante o chefe de Estado, cabendo-lhe, sobretudo, referendar todos
os atos do presidente da República, sob pena de inexistência destes;
– O intervencionismo económico-social
Também no domínio económico-social o projeto constitucional do Governo e a
doutrina que o inspira se desviam do paradigma abstencionista do Estado Liberal;
«Não pode aspirar-se a constituir um Estado equilibrado e forte sem a coordenação
e desenvolvimento da economia nacional», que teria de «fazer parte da organização
política»;
Nesse sentido, deveriam entrar no quadro constitucional garantias gerais
respeitantes às grandes obras e melhoramentos, tais como as comunicações, as
«fontes de energia motriz», as «redes de transporte e abastecimento de energia
elétrica», cujos planos ao Estado incumbe estabelecer e fazer realizar;
O Estado tem o direito e a obrigação de coordenar superiormente a vida
económica e social – admitia-se mesmo, nas disposições constitucionais a adotar, a
possibilidade de ele intervir diretamente na gerência das atividades económicas
particulares» - visando o apoio às mais rendíveis – sem prejuízo da proteção devida às
pequenas indústrias domésticas – ou o seu financiamento, quando fosse caso disso;
Para a prossecução de tais objetivos gerais deveriam «a lei e a administração
pública» promover a «formação e desenvolvimento da economia nacional
corporativa», isto é, «coordenar as corporações, federações económicas de carácter
patronal ou operário, formadas espontaneamente ou por impulso do Poder»
– O imperialismo colonial
Adiante se tratará com mais pormenor da viragem nacionalizante e centralizadora
operada pela política colonial do Estado Novo;
A expressão institucional é o Ato Colonial de 1930, publicado durante a interinidade
de Salazar na pasta das Colónias;
Importante reter a importância central atribuída pelo novo regime à redefinição de
«imperial» da política ultramarina levará a que o Ato Colonial seja considerado, logo
depois da sua publicação, como a primeira pedra do futuro edifício constitucional a
levantar pelo Estado Novo;
Reviralhismo
O termo "reviralhismo" refere-se a um movimento de oposição e resistência ao
regime do Estado Novo em Portugal, liderado por António de Oliveira Salazar. Esse
movimento ganhou força nas décadas de 1950 e 1960, principalmente entre os
intelectuais, estudantes e alguns setores da sociedade que buscavam uma mudança
política e social no país;
Os reviralhistas criticavam a falta de liberdades políticas, a censura, a repressão
policial e a falta de desenvolvimento económico. Eles defendiam ideias mais
progressistas e democráticas, inspiradas pelos ventos de mudança que sopravam na
Europa na época.
O surgimento do reviralhismo foi marcado por uma resistência cultural e
intelectual, manifestando-se em publicações clandestinas, reuniões secretas e
atividades subversivas. No entanto, o movimento não conseguiu alcançar uma
mudança significativa no regime autoritário de Salazar.
O contexto político e social em Portugal começou a mudar na década de 1970, com
a Revolução dos Cravos em 1974, que derrubou o regime do Estado Novo e levou à
transição para um sistema democrático. O reviralhismo, embora não tenha sido a força
dominante na queda do regime, desempenhou um papel na criação de uma atmosfera
intelectual e cultural que questionava as bases do autoritarismo em Portugal.
Assembleia Nacional
Eleita por cada quatro anos por sufrágio direto, era apenas um órgão de debate
político, que discutia e votava as leis e o orçamento propostos pelo Governo;
Na prática, tudo isto funcionava para Salazar depender unicamente de Carmona,
como durante a ditadura Militar;
O chefe de Governo era o «verdadeiro e efetivo detentor do poder» - «mas do
ponto de vista formal, o presidente da República permanece a pedra angular do
regime»;
«Viver habitualmente»
Em 1940, pela primeira vez, a maioria (51%) dos portugueses foi recenseada como
sabendo ler e escrever – o que liberais e republicanos nunca tinham conseguido,
segundo os salazaristas lembraram num panfleto intitulado «Como o Estado Novo
combate o analfabetismo» - para Salazar, em 1938, tratava-se de «alargar quanto
possível a nossa base de recrutamento dos valores sociais, hoje demasiado restrita»;
O Estado Corporativo
A Estrutura Corporativa começou a ser desenhada pelo Estatuto do Trabalho
Nacional (23 de setembro de 1933), cujo nome lembrava a Carta del Lavoro da Itália
Fascista;
O Estado passou a reconhecer certas associações – sindicados nacionais, casas do
povo e grémios – o monopólio da representação da população ativa e a dar-lhes
acesso a órgãos do Estado com poderes de regulação;
Os sindicatos, com uma base profissional e distrital, enquadravam os empregados
dos serviços e indústria urbana – os seus dirigentes tinham de ser aprovados pelo
Governo;
Quanto às casa do povo, englobavam todos os ativos de uma freguesia rural –
funcionavam como associações de socorro e de previdência, financiadas por impostos
sobre patrões e quotizações obrigatórias de trabalhadores – desenvolviam atividades
desportivas e culturais e prestavam assistência médica;
Finalmente, os Grémios associavam os patrões e eram obrigatórios (ao contrário
dos sindicatos) – o seu objetivo era regulamentar a produção e a distribuição,
estabelecer preços, quotas de produção, créditos e subsídios – Podiam ser nacionais
ou locais;
Era através destes organismos que os indivíduos e os grupos deviam defender os
seus interesses, em cooperação uns com os outros e sob a supervisão do Estado;
Os organismos corporativos eram também a base da chamada «previdência social»
e de um novo tipo de representação política;
Subsídios de invalidez e doença, pensões de velhice e abonos de família (1944)
estavam a cargo destes organismos, financiados para o efeito por contribuições dos
seus membros;
O plano do corporativismo nunca foi realizado – foram sobretudo as corporações
económicas que se desenvolveram, e mesmo essas só a um nível básico – Pequenas e
sem muitos recursos, as organizações corporativas permaneceram submetidas aos
funcionários de uma série de comissões, juntas, intuitos públicos e tribunais que
trataram de supervisionar as suas atividades;
A Câmara Corporativa nunca foi mais do que uma assembleia de funcionários e de
notabilidades nomeadas pelo governo;
Na prática, a organização corporativa serviu para o Estado integrar e controlar o
operariado de Lisboa e do Porto e o proletariado agrícola do Sul e facilitar
concentrações e conversões tecnológicas nalguns setores da economia;
A repressão e a persistência do pluralismo
Salazar nunca escondeu a «pouca confiança na predisposição natural dos
portugueses para a disciplina social» - o remédio, segundo ele, estava em reduzi-los a
pequenas esferas de ação: « parecendo que o homem estava mais limitado», no
entanto «é maior a possibilidade de expansão da sua personalidade porque no seio do
grupo familiar, da sua associação profissional, da sua igreja, do seu centro beneficiante
ou cultural há largos campos de atividade que o Estado, confinado ao desempenho das
suas funções, deixa inteiramente livres, com a única restrição de que aí não se hostilize
o interesse coletivo»;
O Estado Novo reconheceu uma pluralidade de corpos sociais – forças armadas,
Igreja, administração pública, municípios, associações, famílias – com esferas de ação
próprias e hierarquias e procedimentos específicos;
Mas não admitiu a pluralidade partidária – tratava-se de libertar o debate político
do facciosismo dos partidos – de facto, os partidos nunca foram explicitamente
proibidos – ao contrário das «sociedades secretas», isto é, a Maçonaria (1935);
O governo dispunha de instrumentos legais para reprimir ou tolerar conforme lhe
convinha – embora se tivessem realizado várias eleições, só concorreram os
candidatos apoiados pelo Governo;
A oposição manifestou-se em atos de contestação – destes casos ocupava-se a
Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) e os tribunais militares especiais, onde
o processo era sumário – o diretor da PVDE, o capitão Agostinho Lourenço,
despachava diretamente com Salazar todas as semanas;
De 1932 a 1945, efetuaram 13 648 prisões;
Prisão do Tarrafal – a mais conhecida prisão política;
Pouco a pouco, os ativistas da oposição foram sendo punidos e registados, o que
facilitou a repressão;
O pluralismo de opinião, dentro de estreitos e vigiados limites e desde que não
assumisse a forma de crítica direta do poder, continuou a ter expressão pública, ao
contrário do que acontecia, por exemplo, na Rússia Comunista;
O Regime controlava ou contava com as estações de rádio que, em fins da década
de 1930, asseguravam maior cobertura do território nacional e com programação mais
variada (noticiários, música ao vivo, passagem de discos, palestras, programas (…)) – a
Emissora Nacional, estatal, o Rádio Clube Português, da Parede, privado, mas
subsidiado e dirigido pelo fervoroso nacionalista Jorge Botelho Moniz, e a Rádio
Renascença, da Igreja;
Quanto à imprensa escrita, uma parte apreciável estava mesmo classificada, do
ponto de vista oficial, como neutral ou desafeta ao regime – a imprensa rapidamente
desenvolveu códigos de comunicação com o público, a fim de fintar a censura;
O Governo instituiu o Secretariado da Propaganda Nacional (1933) para distribuir
informação e desenvolver «uma arte e uma literatura acentuadamente nacionais»;
O seu diretor, António Ferro, recorreu a prémios, exposições, encomendas,
subsídios e companhias, para arregimentar escritores e artistas capazes de criar um
estado de espírito e um estilo de regime – no cinema, as produções histórico-literárias
patrocinadas pelo regime;
Em termos políticos, a literatura e as artes serviram também de veículo para as
oposições de esquerda;
Celebração do Mundo Português;
O império colonial
Salazar encontrou as colónias abaladas financeira e economicamente,
especialmente pela queda do preço dos seus produtos, e a soberania portuguesa
vagamente ameaçada, nomeadamente pelo incentivo sul-africano ao separatismo dos
colonos brancos;
Por isso, o chamado Acto Colonial (1930) e outra legislação puseram termo à
autonomia dos delegados do governo e a concessões a companhias privadas, fazendo
dos territórios unidades político-administrativas submetidas a Lisboa enquanto
«Império Colonial»
Tudo dependia do Governo, através do Ministério das Colónias – para cultivar o
sentimento «imperial», houve uma exposição colonial no Porto (1934), uma reunião
dos governadores coloniais em Lisboa (1935), e Carmona visitou Angola (1938);
O Governo foi muito claro: as colónias teriam de desenvolver-se com os seus
próprios recursos e em articulação com a Metrópole, através de um sistema de
controlo das suas relações com o exterior segundo o modelo francês, oposto ao
sistema inglês de liberdade comercial;
Na prática, isto significava condenar as colónias ao subdesenvolvimento, porque
Portugal não dispunha, para estimular a sua economia, dos necessários mercados,
capitais ou mão de obra qualificada;
O Acto Colonial reconhecia aos indígenas o direito aos seus usos e costumes, mas
reservava ao Estado Português a prerrogativa de os obrigar a trabalhar, quer como
forma de satisfazer obrigações fiscais, quer como meio de contribuir para projetos de
utilidade pública;
Tal como a França, admitia-se a «assimilação», isto é a aquisição de cidadania pelos
nativos das colónias – a fim de adquirir os direitos de cidadão, os indígenas precisavam
de falar português e adotar costumes europeus;
O «império» estava mais próximo graças às ligações via rádio, asseguradas pela
Companhia Portuguesa de Rádio Marconi desde 1927;
A administração foi passando de militares para funcionários civis, mas sempre sem
representação dos colonos – a importância destes na política nacional era mínima: na
Assembleia Nacional, entre 1935 e 1945, houve apenas quatro deputados nascidos nas
colónias;
O Governo autorizou indústrias locais que não concorressem com as metropolitanas
e, em 1944, até indústrias têxteis, embora dependentes de autorização caso a caso –
como noutras colónias europeias, restringiu-se ainda mais a «liberdade de trabalho»
dos indígenas;
«Demais a mais, temos de contar com as ideias que depois da guerra hão de vir da
América do Norte»;
Em 1948, o Governo trabalhista inglês concluiu que o regime português não devia
ser visto «como uma variante do fascismo»;
As eleições foram marcadas para 18 de Novembro, com o óbvio intuito de não dar
tempo ao MUD para se organizar;
Contra o regime, como oposição militante e mais ou menos estruturada, actuavam
sobretudo os sobreviventes da elite republicana de 1910-1926 e o clandestino Partido
Comunista Português (PCP) – A vitória dos Aliados multiplicara a sua audiência;
Que ia fazer Portugal? E mais importante: em 1959, Salazar teria 70 anos de idade –
quem lhe iria suceder?
Para Santos Costa, o regime consistia, mesmo se o não parecesse, numa ditadura
militar – era o que Marcelo Caetano não aceitava;
Em 1948, o sufrágio universal parecia-lhe «cada vez mais sem sentido e sem
seriedade» - Desejava apenas mobilizar as «massas» através das instituições
corporativas e da melhoria da qualidade de vida;
Nas eleições de 8 de Junho, em que votaram 999 872 eleitores (70,7% dos
recenseados), o Governo atribuiu 750 733 votos a Américo Tomás (75,1%) e 234 026 a
Delgado (23,4%);
Botelho Moniz garantiu logo a Salazar que seria uma «missão de suicídio»;
Salazar, entretanto, teve tempo de garantir, com outros chefes militares (dos quais
o mais activo foi o subsecretário de Estado da Aeronáutica, o coronel Kaúlza de
Arriaga), que se Moniz resolvesse usar a força, haveria reacção.
Foi assim que no dia 13 de Abril, às 15h, a Emissora Nacional anunciou a demissão
de Moniz. Destituído de poder legal e convencido de afinal «não existir unanimidade
nos chefes militares», o general desistiu;
No entanto, se não tinha força para dominar o exército, este também não tinha
capacidade para o substituir;
Em 1961, por recusar-se a abdicar das suas colónias, Portugal enfrentou uma
sangrenta insurreição no Noroeste de Angola e uma agressão militar da Índia, que em
18 de Dezembro, depois de anos a exigir a entrega do território, invadiu Goa e
aprisionou os 4000 soldados da guarnição;
Por volta de 1968, 36 por cento do orçamento português era gasto com um exército
de 149 000 homens, ocupado em defender Angola, Moçambique e a Guiné contra
guerrilhas independentistas – foi o maior esforço militar de um país ocidental desde
1945;
Neste contexto, aquilo que distinguiu Portugal não foi apenas a recusa de sair, mas
a capacidade de ficar – É esta que convém examinar;
Não foram simples «reformas no papel» - em 1965 havia 500 000 africanos com
bilhete de identidade em Angola e 300 000 em Moçambique;
É verdade que tudo continuou nas mãos de Lisboa, através dos governadores, e que
os brancos conservaram o seu ascendente – as o Governo sentiu-se autorizado a
definir Portugal como uma nação intercontinental e multirracial, assente na original
capacidade para a miscigenação;
Não bastava «ter-se melhorado»: era preciso cuidar da «posição relativa» nos
«índices internacionais» - de facto, as primeiras estimativas do PIB per capita
português tinham revelado que era, em 1957, o mais baixo da OECE;
Portugal foi um dos fundadores da EFTA, mas logo em 1962 pediu o estatuto de
membro associado da CEE, já com o objectivo de futura adesão – não queria perder
nenhum comboio.
A primavera Marcelista
Abertura do regime;
A ala liberal;
Com a nova Lei Orgânica do Ultramar (22 de Junho de 1972), fez de Angola e
Moçambique «regiões autónomas», com um governador nomeado por Lisboa mas
assistido por juntas consultivas e assembleias legislativas electivas, com competência
para fazer leis e lançar impostos;