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O que levou a que fosse implementada a 1ª República

Os problemas da Sociedade Portuguesa

Com o surto industrializador a sociedade portuguesa mudou. Apesar do país se


ter mantido maioritariamente rural, as cidades cresceram e, com elas, as classes médias
e o operariado, Cerca de 1880 uma sensação de desanimo crescente assola o país,
devido à tomada de consciência da debilidade económica, sobretudo, porque se sentia
aproximar-se um agravamento das dificuldades. O descontentamento era crescente.

Entre os temas na época, os que mais galvanizaram a opinião pública nacional,


eram os problemas relacionados com os nossos territórios africanos, alvo de cobiça por
parte das grandes nações europeias, foi nesse contexto que, em 1881, se elaborou um
projeto de ocupação que ligava Angola a Moçambique, apelando mesmo a uma
subscrição pública para a recolha dos fundos necessários ao estabelecimento de
“estações civilizadoras”.

Os governos de D. Luís e de D. Carlos, lutaram empenhadamente para garantir o


êxito do projeto, que ficaria para a História como o nome de “Mapa cor-de-rosa”. Foram
feitos intensos contactos diplomáticos, e deu-se início à exploração e ocupação dos
territórios. Acontece que as pretensões portuguesas chocavam frontalmente com a
intenção inglesa uma vez que pretendia ligar, por via férrea, as cidades com Cairo ao
Cabo.

O Ultimato Inglês

Em 11 de janeiro de 1890, Portugal recebe então, de Inglaterra um Ultimatum


(Ultimato) que impunha, sob pena do corte de relações diplomáticas, a retirada imediata
das forças expedicionárias portuguesas da zona de discussão.

Temendo dar à Inglaterra a oportunidade de conseguir, pela via da força,


territórios bem mais vastos do que aqueles que reivindicava pela via diplomática, o Rei
e o Governo cederam às exigências britânicas.

Esse receio da corte portuguesa e do governo tinha fundamento, pois o nosso


país não reunia recursos humanos ou militares que pudessem opor-se à Inglaterra em
caso de conflito, correndo-se o risco de arrastar o país para um drama fatal.
Já em 1898, a Inglaterra e a Alemanha vieram propor a Portugal a cedência das
nossas colónias, mediante um empréstimo destinado a aliviar a nossa dívida externa.
Essa oferta foi, no entanto, rejeitada pelo rei D. Carlos e pelo governo português.

A Portuguesa

As manifestações publicas de descontentamento não cessavam e foi nesse


contexto que Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça compuseram A Portuguesa ,
numa manifestação de patriotismo perante os acontecimentos do Ultimato. Acabaria por
se tornar um símbolo republicano, depois de 1910, quando se tornou o Hino Nacional
da República Portuguesa. A letra original sofreu uma alteração, substituindo-se “contra
os bretões” por “contra os canhões”.

Veio a tornar-se em hino nacional em 1911.

O Ultimato Inglês

Divulgada a notícia, de cedência às exigências britânicas do Rei e do Governo,


uma vaga de estupefação e revolta percorre o país, com a indignação geral da opinião
pública, sucederam-se tumultos e manifestações antibritânicas, a par de exaltados
comícios patrióticos, onde se responsabilizava a monarquia por esta humilhação. Os
republicanos exploraram a ideia de que a Pátria estava ameaçada e de que só a
República a poderia salvar.

Os problemas da Sociedade Portuguesa

A desilusão e descrença acentuaram-se e a ideia de um movimento militar que


depusesse o regime começou a ganhar corpo entre os republicanos. Assim, no rescaldo
do choque provocado pelo Ultimato, eclodiu no Porto, em 31 de janeiro de 1981, a
primeira tentativa de derrube da monarquia. Mal-organizada e com fraco suporte
financeiro e sem a colaboração das elites republicanas, ou mesmo qualquer oficial
superior do exército, apenas três oficiais de baixa patente e vários sargentos, a revolta
acabou por fracassar. Todavia os partidários da República engrossavam as suas fileiras.

O poder real

Embora mal sucedido, o 31 de janeiro mostrou o desgaste a que tinham chegado


as instituições políticas.
Criou-se um clima propício ao reforço de poder real de D. Carlos assume uma
posição mais interventiva, chamando ao governo novas personalidades e encetando
reformas. Mas o hábito generalizado de contestação ao governo invalidou este esforço.
As greves sucediam-se, os tumultos da rua tornavam-se mais frequentes, novas
associações revolucionárias apareciam.

Os Regeneradores voltam ao poder

A incapacidade do governo era cada vez mais evidente. A contestação e as


greves aumentam e as sessões do Parlamento, a partir de 1904, tornaram-se conflituosas
e a imprensa continua a ser reprimida pelo poder.

Os republicanos começam a ganhar terreno, conquistando alguns lugares no


Parlamento.

Os Adiantamentos

D. Carlos perante o descrédito dos governos dos maiores partidos, Regenerador


e Progressista, assume chamar ao poder João Franco, político ao qual eram reconhecidas
boas capacidades, em 1906. Este, durante quase um ano, governou de acordo com os
princípios parlamentares, respeitando os direitos individuais. Entretanto, foram
novamente eleitos deputados republicanos para o Parlamento.

O poder Real

João Franco começa por governar de forma liberal, mas em breve se viu a braços com a
obstrução sistemática do Parlamento e perseguido por escândalos financeiros como a
questão dos “adiantamentos à Casa Real”, verbas pagas para as despesas dos monarcas e
o funcionamento institucional da Coroa. Era preciso conter a agressividade dos partidos
da oposição.

Face a esta situação, D. Carlos dissolve o Parlamento em abril de 1907 e João


Franco passa a governar de modo autoritário, em ditadura.

Os Adiantamentos

Durante um longo período o Ministério da Fazenda tinha adiantado à família


real, verbas que se estimavam em várias centenas de contos e que nunca foram saldadas,
contribuindo para as fragilidades da monarquia. A questão dos adiantamentos à Casa
Real, como ficou conhecida, levou João Franco em 1907, a propor a venda ou aluguer
ao Estado de bens da família real, com vista a saldar a dívida. Todavia a dotação à Casa
Real será aumentada em 160 contos anuais.

As manifestações de protesto generalizaram-se pelo país, os republicanos


procuraram aproveitar-se politicamente da questão dos adiantamentos acusando a
família real de “defraudar” os cofres públicos, exigindo a abdicação do rei.

Lei das Rolhas

João Franco enfrentou a contestação e restringiu a liberdade de imprensa,


reforçada pelos decretos de 11 de março e de 7 de abril, com mais uma “lei da rolha”,
com o intuito de conter os ataques republicanos. Dissolveu as Cortes e com o
consentimento do rei governou, em ditadura, até 1908.

A oposição à ditadura franquista foi generalizada e os republicanos, maçonaria e


carbonária, com como muitos monárquicos descontentes iniciaram a conspiração contra
essa política e contra o rei.

Intentona do elevador da biblioteca

Os republicanos preparam um novo golpe de Estado, em janeiro de 1908,


conhecido como a intentona do elevador da biblioteca, que devia pôr fim à Monarquia e
instaurar a República. O golpe fracassa, pois o governo, de sobreaviso, procede à prisão
dos conspiradores. D. Carlos, perante os acontecimentos, decretou a 31 de janeiro, a
expulsão e deportação dos envolvidos em delitos contra a segurança do Estado. Este
facto terá feito precipitar o seu trágico fim.

O Regicídio

A família real foi alvo de um atentado quando, a 1 de fevereiro de 1908,


regressava a Vila Viçosa. O atentado causou a morte de D. Carlos e do príncipe
herdeiro, D. Luís Filipe. Os implicados ao regicídio foram mortos no local do atentado e
identificados como Alfredo Luís da Costa, caixeiro e jornalista, e Manuel dos Reis da
Silva Buíça, professor, ambos membros da Carbonária (Carbonária- Sociedade secreta e
revolucionária que atuou em Portugal, nos séculos XIX e XX).

D. Manuel II subiu, então, ao trono e demitiu João Franco. O seu reinado ficou
conhecido como período de “acalmação”, mas a liberdade e a tolerância por ele
promovidas acabaram por possibilitar a forte ascensão do Partido Republicano. Ainda
que o rotativismo tenha voltado a dominar a vida política, e os partidos monárquicos
conseguissem a grande maioria dos votos, os republicanos conseguiram alcançar, nas
eleições de 1910, uma vitória muito significativa em Lisboa.

Vem aí a República

Como vimos, a convivência do rei com a ditadura de João Franco, juntamente


com a regressão que se abateu sobre destacados republicanos, atiçou ainda mais os
ânimos, culminando no trágico assassínio do rei e do príncipe herdeiro. O regicídio
levou ao trono D. Manuel II, que ao longo do seu curto reinado, procurou compromissos
mas teve sempre a oposição acérrima dos republicanos e a desordem e lutas políticas
internas entre os próprios partidos monárquicos. Era o prenuncio da queda da
monarquia que ocorreu a 5 de outubro de 1920, quando em Lisboa uma revolta saiu à
rua a proclamar “Viva a República!”

Síntese

 À crise económica, financeira e de contestação social, somaram-se problemas


políticos
 A questão do Ultimato, lançado pela Inglaterra em 1890, obrigava Portugal a
renunciar ao projeto de criação de uma faixa territorial que ligava os territórios
de Angola a Moçambique, previsto pelo mapa cor-de-rosa
 A cedência, por parte de D. Carlos e do governo, às incontornáveis exigências
dos ingleses provocou uma onde de indignação generalizada
 Sucederam-se manifestações públicas e campanhas de imprensa contra a
cedência governamental, que levaram à demissão do governo
 31 de janeiro de 1891, revolta republicana fracassada no Porto
 A questão dos “adiantamentos” do governo à Casa Real, vai servir como arma
de ataque dos republicanos e fazê-los aparecer mais uma vez como defensores
dos interesses nacionais
 A oposição à ditadura intensifica-se e os republicanos, através da maçonaria e da
carbonária, iniciam uma conspiração contra a política de João Franco e contra o
rei
 A família rela foi alvo de um atentado a 1 de fevereiro de 1908
 Com a morte do rei, D. Carlos I, e do príncipe herdeiro, D. luís Filipe, sobre ao
trono D. Manuel II, para um reinado que este pretendi ser de “acalmação”
 A liberdade e a tolerância promovidas acabaram por possibilitar a ascensão do
Partido Republicano
 A pressão política e social vai trazer a implantação da República

ClI

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