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A Carbonária, a Maçonaria
e a Implantação da República Portuguesa
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Paços do concelho é a denominação tradicional dos edifícios onde está sedeada a administração local
de cada um dos municípios portugueses. No edifício dos paços do concelho está sempre instalada a sede
da câmara municipal (poder executivo colegiado local) do respetivo concelho, podendo albergar, também,
outros serviços e órgãos municipais.
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Joaquim Teófilo Fernandes Braga (Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 1843 — Lisboa, 28 de Janeiro de
1924) foi um político, escritor e ensaísta português. Estreia-se na literatura em 1859 com Folhas Verdes.
Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, fixa-se em Lisboa em 1872, onde lecciona literatura
no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Da sua carreira
literária contam-se obras de história literária, etnografia (com especial destaque para as suas recolhas de
contos e canções tradicionais), poesia, ficção e filosofia, tendo sido ele o introdutor do Positivismo em
Portugal. Depois de ter presidido ao Governo Provisório da República Portuguesa, a sua carreira política
terminou após exercer fugazmente o cargo de Presidente da República, em substituição de Manuel de
Arriaga, entre 29 de Maio e 4 de Agosto de 1915.
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A Constituição Política da República Portuguesa de 1911 foi a quarta constituição portuguesa, e a
primeira constituição republicana do país.
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A Primeira República Portuguesa (também referida como República parlamentar) e cujo nome oficial era
República Democrática Portuguesa, foi o sistema político que sucedeu ao Governo Provisório de Teófilo
Braga, de 1910 a 1926. Instável devido a divergências internas entre os mesmos republicanos que
originaram a revolução de 5 de Outubro de 1910, neste período de 16 anos houve sete Parlamentos, oito
Presidentes da República e 45 governos.
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Constituinte de 1911.
Antecedentes
A 11 de janeiro de 1890 o governo britânico de Lord Salisbury5 enviou ao
governo português um ultimato, na forma de "Memorando", exigindo a retirada
das forças militares portuguesas chefiadas pelo major Serpa Pinto6 do território
compreendido entre as colonias de Angola e Moçambique (nos atuais
Zimbabue e Zâmbia), zona reivindicada por Portugal ao abrigo do Mapa Cor-
de-Rosa.
Lord Salisbury.
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Robert Arthur Talbot Gascoyne-Cecil, 3º Marquês de Salisbury (3 de fevereiro de 1830 – 22 de agosto
de 1903), conhecido como Lord Robert Cecil até 1865 e como Visconde Cranborne entre 1865 e 1868, foi
um político britânico, por três vezes Primeiro-ministro do Reino Unido, totalizando 13 anos como chefe de
governo. Foi o primeiro primeiro-ministro do século XX no Reino Unido.
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Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto, visconde de Serpa Pinto, (20 de Abril de 1846 — 28 de
Dezembro de 1900) foi um militar, explorador e administrador colonial português.
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Mapa cor-de-rosa
Mapa cor-de-rosa foi o nome dado ao mapa representativo da pretensão de Portugal a exercer soberania
sobre os territórios entre Angola e Moçambique, nos quais hoje se situam a Zâmbia, o Zimbábue e o
Malawi, numa vasta faixa de território que ligava o Oceano Atlântico ao Índico. Terá sido desenhado em
1886, e tornado público um ano depois. Embora a sua génese tenha sido atribuida ao então Ministro dos
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Negócios Estrangeiros Henrique de Barros Gomes , que se empenhou na promoção de expedições que
pudessem comprovar a efectiva ocupação dos territórios pretendidos por Portugal em África, este sempre
negou a paternidade do mapa. Em colisão com o objectivo britânico de criar uma faixa de território que
ligasse o Cairo à Cidade do Cabo, desencadeou a disputa com a Grã-Bretanha que culminou no ultimato
britânico de 1890, a que Portugal cedeu, causando sérios danos à imagem do governo monárquico
português.
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Henrique de Barros Gomes (Lisboa, 14 de Setembro de 1843 — Alcanhões, 15 de Novembro de 1898),
político português, ligado ao Partido Progressista, que entre outras funções foi deputado, diretor do Banco
de Portugal e ministro dos Negócios da Fazenda, dos Negócios Estrangeiros e da Marinha e Ultramar.
Notabilizou-se pela forma como lidou com a crise colonial suscitada pelas questões emergentes da
recusa do mapa cor-de-rosa e do ultimato britânico de 1890. Foi sócio efectivo da Sociedade de
Geografia de Lisboa e agraciado com diversas condecorações nacionais e estrangeiras. Foi condecorado
com a grã-cruz da Ordem de Cristo e da Ordem de Leopoldo da Bélgica. Era também membro das
seguintes ordens honoríficas: da Ordem de Pio IX (Santa Sé), da Imperial Ordem da Rosa (Brasil), da
Ordem de Carlos III (Espanha), de São Gregório Magno, de Mérito Naval (Espanha), do Sol Nascente
(Japão), da Coroa Real (Itália), da Legião de Honra (França), da Estrela Polar (Suécia), da Águia
Vermelha (Prússia), da Águia Branca (Polónia) e de São Maurício e São Lázaro (Itália). Foi nomeado
Conselheiro de Estado por carta régia de 7 de Novembro de 1889.
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D. Carlos I de Portugal
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D. Carlos I de Portugal (nome completo: Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel
Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo-Gotha;
Palácio da Ajuda, Lisboa, 28 de Setembro de 1863 — Terreiro do Paço, Lisboa, 1 de Fevereiro de 1908)
foi o penúltimo Rei de Portugal. Nascido em Lisboa, era filho do rei Luís I de Portugal e da princesa Maria
Pia de Sabóia, tendo subido ao trono em 1889. Foi cognominado O Diplomata (devido às múltiplas visitas
que fez a Madrid, Paris e Londres, retribuídas com as visitas a Lisboa dos reis Afonso XIII de Espanha,
Eduardo VII do Reino Unido, do Kaiser Guilherme II da Alemanha e do presidente da República Francesa
Émile Loubet), O Martirizado e O Mártir (em virtude de ter morrido assassinado), ou O Oceanógrafo (pela
sua paixão pela oceanografia, partilhada com o pai e com o príncipe do Mónaco).
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A crise do Encilhamento foi uma bolha econômica que ocorreu no Brasil, entre o final da Monarquia e
início da República, estourando durante o governo provisório de Deodoro da Fonseca (1889-1891), tendo
em decorrência se transformado numa crise financeira. Os então respectivos Ministros da Fazenda
Visconde de Ouro Preto e Rui Barbosa, sob a justificativa de estimular a industrialização no País,
adotaram uma política baseada em créditos livres aos investimentos industriais garantidos por farta
emissão monetárias. Pelo modo como o processo foi legalmente estruturado e gerenciado, junto com a
expansão dos Capitais financeiro e industrial, vieram desenfreadas especulação financeira em todos os
mercados, forte alta inflacionária e, entre outros efeitos, boicotes de empresas-fantasmas, causados pelo
lançamento de ações sem lastro. No período de "Caça às bruxas" que se seguiu até 1895, em especial
durante o mandato de Floriano Peixoto, algumas das figuras expoentes do Encilhamento tiveram seus
bens congelados, confiscados, além de sofrer processos público e administrativo. Entre estes, estava Rui
Barbosa que teve que se exilar na Europa. Já, a legislação referente ao mercado de capitais no Brasil, na
vã tentativa de se controlar a volatilidade dos mesmos, numa época em que se desconhecia o conceito de
|Anti-fragilidade, sofreu violento retrocesso, se assemelhando ao tempo da "Lei dos Entraves", do qual só
se livraria 70 anos mais tarde em 1965.
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António de Serpa Pimentel (Coimbra, 20 de Novembro de 1825 — 2 de Março de 1900, Lisboa), filho do
Dr. Manuel de Serpa Machado e de D.ª Ana Rita Freire Pimentel, foi um dos políticos portugueses mais
destacados das últimas décadas do século XIX. Foi deputado e conselheiro de Estado, ministro, líder do
Partido Regenerador, e de 14 de Janeiro a 11 de Outubro de 1890 Presidente do Conselho de Ministros
de um dos governos da Monarquia Constitucional portuguesa.
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Kuito é uma cidade e município de Angola e capital da província do Bié. Tem 4 814 km² e cerca de 477
mil habitantes. É limitado a Norte pelos municípios de Cunhinga e Catabola, a Este pelo município de
Camacupa, a Sul pelo município de Chitembo, e a Oeste pelo município de Chinguar. Até 1975 designou-
se Silva Porto, em homenagem ao explorador português Silva Porto.
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Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (Lisboa, 30 de Dezembro de 1861 — Lisboa, 11 de Fevereiro de
1944) foi um militar, administrador colonial e político português que se notabilizou nas campanhas de
ocupação colonial em Angola e Moçambique e como inspirador das chamadas incursões monárquicas
contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919. Presidiu ao governo da chamada
Monarquia do Norte, de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, na qual colaboraram activamente os
mais notáveis integralistas lusitanos. A sua dedicação à causa monárquica e a sua proximidade aos
princípios do Integralismo Lusitano, conduziu-o por diversas vezes ao exílio, antes e depois da instituição
do regime do Estado Novo em Portugal.
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A morte do que fora um dos rostos da exploração interior africana gerou uma
onda de comoção nacional e o seu funeral foi seguido por uma multidão no
Porto. A 11 de abril foi posto à venda o Finis Patriae de Guerra Junqueiro,
ridicularizando a figura do rei.
Na cidade do Porto, no dia 31 de janeiro de 1891, registou-se um levantamento
militar contra a monarquia constituído principalmente por sargentos e praças.
Os revoltosos, que tinham como hino uma canção de cariz patriótico composta
em reação ao ultimato britânico, "A Portuguesa14", tomaram os Paços do
Concelho, de cuja varanda, o jornalista e político republicano Augusto Manuel
Alves da Veiga proclamou a implantação da república em Portugal e hasteou
uma bandeira vermelha e verde, pertencente ao Centro Democrático Federal.
O movimento foi, pouco depois, sufocado por um destacamento da guarda
municipal que se manteve fiel ao governo, resultando 12 mortos e 40 feridos.
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A Portuguesa, que hoje é um dos símbolos nacionais de Portugal (o seu hino nacional), nasceu como
uma canção de cariz patriótico em resposta ao ultimato britânico para que as tropas portuguesas
abandonassem as suas posições em África, no denominado "Mapa cor-de-rosa".
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Hino de Portugal
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Patuleia, ou Guerra da Patuleia, é o nome dado à guerra civil entre Cartistas e Setembristas na
sequência da Revolução da Maria da Fonte.
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Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 — 11 de setembro de 1891) foi um
escritor e poeta de Portugal que teve um papel importante no movimento da Geração de 70.
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Joaquim Pedro de Oliveira Martins (Lisboa, 30 de Abril de 1845 — Lisboa, 24 de Agosto de 1894) foi
um político e cientista social português.
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José Maria de Eça de Queirós (Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Paris, 16 de agosto de
1900) é um dos mais importantes escritores lusos. Foi autor, entre outros romances de reconhecida
importância, de Os Maias e O crime do Padre Amaro; este último é considerado por muitos o melhor
romance realista português do século XIX.
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O Ultimato britânico de 1890 foi um ultimato do governo britânico - chefiado pelo primeiro ministro Lord
Salisbury - entregue a 11 de Janeiro de 1890 na forma de um "Memorando" que exigia a Portugal a
retirada das forças militares do território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola (nos
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atuais Zimbabwe e Zâmbia), a pretexto de um incidente entre portugueses e Macololos (Numerosa tribo
do Alto Zambeze).
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O Partido Progressista foi um dos partidos históricos portugueses do rotativismo da Monarquia
Constitucional de finais do século XIX. Alternava no poder com o Partido Regenerador. Este partido e o
Partido Regenerador dividiram os portugueses criando guerras psicológicas e sociológicas.
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O Partido Regenerador foi um dos partidos do rotativismo da monarquia constitucional portuguesa,
alternando no poder com o Partido Progressista. Mais de metade dos presidentes do conselho da
segunda metade do século XIX pertenceram a esta formação política, de que foi um destacado líder
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro. Por dissidência, uma facção liderada João Franco deu origem ao Partido
Regenerador Liberal.
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O Diretório do Partido Republica Português - da esq. para a dir.: António Luís Gomes,
Bernardino Machado, Celestino de Almeida, António José de Almeida e Afonso Costa.
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Perto do local onde o Infante D. Henrique, em meados do séc. XV, mandou edificar uma igreja sobre a
invocação de Sta. Maria de Belém, quis o rei D. Manuel I construir um grande Mosteiro. Para perpetuar a
memória do Infante, pela sua grande devoção a Nossa Senhora e crença em S. Jerónimo, D. Manuel I
decidiu fundar em 1496, o Mosteiro de Sta. Maria de Belém, perto da cidade de Lisboa, junto ao rio Tejo.
Doado aos monges da Ordem de S. Jerónimo, é hoje vulgarmente conhecido por Mosteiro dos Jerónimos.
O Mosteiro é um referente cultural que não escapou nem aos artistas, cronistas ou viajantes durante os
seus cinco séculos de existência. Foi acolhimento e sepultura de reis, mais tarde de poetas. Hoje é
admirado por cada um de nós, não apenas como uma notável peça de arquitectura mas como parte
integrante da nossa cultura e identidade. O Mosteiro dos Jerónimos foi declarado Monumento Nacional
em 1907 e, em 1983, a UNESCO classificou-o como "Património Cultural de toda a Humanidade".
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José Duarte Ramalho Ortigão (Porto, 24 de Outubro de 1836 — Lisboa, 27 de Setembro de 1915) foi
um escritor português.
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Jaime Batalha Reis (Lisboa, 24 de Dezembro de 1847 — 1935) foi um agrónomo, diplomata, geógrafo e
publicista. Foi uma das figuras eminentes da Geração de 70 e companheiro mais próximo de Antero de
Quental nos tempos do Cenáculo da Travessa do Guarda-Mor em Lisboa (1868-1871). Acompanhou de
perto todo o percurso dos Vencidos da Vida com quem se relacionou. A Geração de 70, ou Geração de
Coimbra, foi um movimento académico de Coimbra do século XIX que veio revolucionar várias dimensões
da cultura portuguesa, da política à literatura, onde a renovação se manifestou com a introdução do
realismo. Num ambiente boémio, na cidade universitária de Coimbra, Antero de Quental, Eça de Queiroz,
Oliveira Martins, entre outros jovens intelectuais, reuniam-se para trocar ideias, livros e formas para
renovação da vida política e cultural portuguesa, que estava a viver uma autêntica revolução com os
novos meios de transportes ferroviários, que traziam todos os dias novidades do centro da Europa,
influenciando esta geração para as novas ideologias. Foi o início da Geração de 70. Em Coimbra, este
Grupo gerou uma polémica em torno do confronto literário com os ultrarromânticos do "Bom senso e do
Bom gosto" ou mais conhecido por a Questão coimbrã. Mais tarde, já em Lisboa, os agora licenciados
reuniam-se no Casino Lisbonense, para discutir os temas de cada reunião, que acabara por ser proibida
pelo governo. Depois das reuniões, a geração de oiro de Coimbra acabou por não conseguir fazer mais
nada, muito menos executar os seus planos que revolucionaria o pais, e acabando por considerarem-se
"os vencidos da vida", que não conseguiram fazer nada com que se comprometeram.
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Sebastião de Magalhães Lima (Rio de Janeiro, 30 de Maio de 1851 — Lisboa, 7 de Dezembro de 1928)
foi um advogado, jornalista, político e escritor português, fundador do jornal O Século. Defensor de
republicanismo com pendor a socialismo utópico, fez parte da chamada Geração de 70 e foi durante
largos anos grão-mestre da Maçonaria portuguesa, presidindo aos destinos da organização aquando do
Golpe de 28 de Maio de 1926 e do desencadear das perseguições que levariam à sua posterior
ilegalização durante o regime Estado Novo.
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Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (Lisboa, 13 de Novembro de 1842 — Lisboa, 8 de Abril de 1895) foi
um prolífico escritor, jornalista e político português. Destacou-se como romancista, historiador e
dramaturgo, tendo escrito inúmeros romances históricos e diversas peças de teatro, algumas das quais se
mantiveram em cena por mais de um século. Foi director de vários periódicos de Lisboa. Exerceu as
funções de deputado e par do Reino e foi Ministro da Marinha e Ultramar na fase decisiva das
movimentações da potências europeias em torno da partilha de África. Foi um dos fundadores da
Sociedade de Geografia de Lisboa.
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José Joaquim Rodrigues de Freitas (Porto, 24 de Janeiro de 1840 - 27 de Julho de 1896) foi professor
catedrático e político português.
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Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, 8 de Julho de 1840 — Lisboa, 5 de
Março de 1917) foi um advogado, professor, escritor e político de origem açoriana. Grande orador e
membro destacado da geração doutrinária do republicanismo português, foi dirigente e um dos principais
ideólogos do Partido Republicano Português. A 24 de Agosto de 1911 tornou-se primeiro presidente eleito
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da República Portuguesa, sucedendo na chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo
Braga. Exerceu aquelas funções até 29 de Maio de 1915, data em que foi obrigado a demitir-se, sendo
substituído no cargo pelo mesmo Teófilo Braga, que como substituto completou o tempo restante do
mandato.
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José Elias Garcia (Cacilhas, 30 de Dezembro de 1830 — Lisboa, 21 de Junho de 1891) foi um
professor da Escola do Exército, jornalista, político republicano e coronel de engenharia do Exército
Português. Fundou em 1854 o periódico O Trabalho, a primeira publicação abertamente republicana em
Portugal. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Foi eleito deputado reformista a partir
de 1870 e deputado republicano em 1890. Membro da Maçonaria desde 1853, foi grão-mestre do Grande
Oriente Lusitano. Foi director da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses.
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Zófimo José Consiglieri Pedroso Gomes da Silva (Lisboa, 10 de Março de 1851 — Sintra, 3 de
Setembro de 1910), mais conhecido por Consiglieri Pedroso, foi um político, etnógrafo, ensaísta, escritor,
professor e director do Curso Superior de Letras. Inicialmente militante do Partido Progressista e depois
militante republicano, foi deputado às Cortes da Monarquia, eleito pelo círculo eleitoral de Lisboa. Orador
de grande qualidade e de improviso fácil, raramente escrevia os discursos, ficando famoso pela
acutilância dos seus folhetos doutrinários e como doutrinador republicano conhecido pela sua verve e
recorte literário, tendo publicado várias obras e folhetos de pendor propagandístico. Para além da história,
dedicou-se à etnografia e foi um dos introdutores da antropologia em Portugal, estudando os mitos,
tradições e superstições populares, actividades em que era um típico letrado do último quartel do século
XIX, profundamente imbuído de valores humanistas e revelando-se um ensaísta brilhante. Foi presidente
da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio efectivo da Academia de Ciências de Lisboa.
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José Maria Latino Coelho (Lisboa, 29 de Novembro de 1825 — Sintra, 29 de Agosto de 1891), mais
conhecido por Latino Coelho, militar, escritor, jornalista e político português, formado em Engenharia
Militar. Seguiu a carreira das armas, tendo atingido o posto de general de brigada do estado-maior de
engenharia. Seguindo um percurso político que o levaria do Partido Regenerador, pelo qual foi eleito
deputado, ao Partido Republicano Português, com passagem por um governo do Partido Reformista, de
que foi fundador e ministro, a sua carreira política percorreu todo o arco partidário da Monarquia
Constitucional. Foi várias vezes eleito deputado, foi par do Reino eleito e exerceu as funções de ministro
da Marinha e de vogal do Conselho Geral de Instrução Pública. Foi lente na Escola Politécnica de Lisboa
e sócio efectivo e secretário perpétuo da Academia Real das Ciências de Lisboa. Como escritor,
notabilizou-se com obras de foro histórico e ensaístico.
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Bernardino Pereira Pinheiro (Coimbra, 20 de Fevereiro de 1837 — Lisboa, 3 de Março de 1896), mais
conhecido por Bernardino Pinheiro, foi um publicista e político republicano português.
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Eduardo Augusto da Rocha Abreu, mais conhecido por Eduardo de Abreu, (Angra do Heroísmo, 8 de
fevereiro de 1856 — Braga, 4 de fevereiro de 1912) foi um médico e político português
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Francisco Teixeira de Queirós, (Arcos de Valdevez, 3 de maio de 1848 - Sintra, 22 de julho de 1919),
que usou o pseudónimo literário de Bento Moreno, foi um escritor português. Era filho de José Maria
Teixeira de Queirós e Antónia Joaquina Pereira Machado.
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José Jacinto Nunes (Pedrógão Grande, 25 de Outubro de 1839 — Grândola, 9 de Novembro de 1931),
mais conhecido por Jacinto Nunes, foi um político republicano que, entre outras funções. foi membro do
directório do Partido Republicano Português durante o período que antecedeu a implantação da
República Portuguesa e presidente da Câmara Municipal de Grândola.
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Alexandre José da Silva Braga (Porto, 14 de Março de 1829 — Porto, 9 de Maio de 1895) foi um poeta
e jornalista português.
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O regicídio de 1908
A 1 de fevereiro de 1908, quando regressavam a Lisboa vindos de Vila Viçosa,
no Alentejo, onde haviam passado a temporada de caça, o rei D. Carlos e o
príncipe herdeiro Luís Filipe39 foram assassinados em plena Praça do
Comércio. O atentado ficou a dever-se ao progressivo desgaste do sistema
político português, vigente desde a Regeneração40 em grande parte devido à
erosão política originada pela alternância de dois partidos no poder: o
Progressista e o Regenerador. O rei, como árbitro do sistema político, papel
que lhe era atribuído pela Constituição, havia designado João Franco41 para o
lugar de presidente do Conselho de Ministros (chefe do governo). Este,
dissidente do Partido Regenerador, conseguiu convencer o rei a encerrar o
parlamento para poder implementar uma série de medidas com vista à
moralização da vida política. Com esta decisão acirrou-se toda a oposição, não
só apenas a republicana, mas também a monárquica, liderada pelos políticos
rivais de Franco que o acusavam de governar em ditadura. Os acontecimentos
acabaram por se precipitar na sequência da questão dos adiantamentos à
Casa Real (regularização das dívidas régias ao Estado) e da assinatura do
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António José de Almeida (Vale da Vinha, Penacova, 17 de Julho de 1866 — Lisboa, 31 de Outubro de
1929) foi um político republicano português, sexto presidente da República Portuguesa de 5 de Outubro
de 1919 a 5 de Outubro de 1923. Casou com D. Maria Joana Queiroga, de quem teve uma filha.
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João Duarte de Meneses (Lisboa, 22 de abril de 1868 — Lisboa, 8 de abril de 1918) foi um advogado,
jornalista e político português.
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D. Luís Filipe (nome completo: Luís Filipe Maria Carlos Amélio Fernando Victor Manuel António
Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Bento de Bragança Orleães Sabóia e
Saxe-Coburgo-Gota; Santa Maria de Belém, Lisboa a 21 de Março de 1887 - Praça do Comércio, Lisboa,
1 de Fevereiro de 1908) foi Príncipe Real de Portugal, tendo sido Príncipe da Beira antes da subida de
seu pai ao trono. Filho mais velho do Rei D. Carlos I de Portugal e de sua mulher, a Rainha D. Amélia de
Orleães.
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Regeneração é a designação dada ao período da Monarquia Constitucional portuguesa que se seguiu à
insurreição militar de 1 de Maio de 1851 que levou à queda de Costa Cabral e dos governos de inspiração
setembrista. Apesar do ministério que resultou do golpe ser presidido pelo marechal Saldanha, o principal
personagem da Regeneração foi Fontes Pereira de Melo. Embora não possa ser claramente delimitada
no tempo, o período da Regeneração durou cerca de 17 anos, terminando com a revolta da Janeirinha,
em 1868, que levou o Partido Reformista ao poder. A Regeneração foi caracterizada pelo esforço de
desenvolvimento económico e de modernização de Portugal, a que se associaram pesadas medidas
fiscais.
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João Ferreira Franco Pinto Castelo Branco (Alcaide, Fundão, 14 de Fevereiro de 1855 - 4 de Abril de
1929) foi um dos políticos dominantes da fase final da monarquia constitucional portuguesa. Natural de
Alcaide (Fundão), era formado em direito pela Universidade de Coimbra. Ocupou vários cargos na
magistratura judicial (delegado do procurador régio), nas alfândegas e no Tribunal Fiscal e Aduaneiro.
Eleito deputado às Cortes em 1884 (pelo círculo eleitoral de Guimarães), rapidamente subiu na vida
política ocupando vários postos ministeriais e a presidência do conselho de ministros. Entrando em
dissidência com Hintze Ribeiro, abandonou o Partido Regenerador e formou o Partido Regenerador
Liberal. Foi o autor, enquanto Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino no gabinete
regenerador "Hintze-Franco", do Decreto de 2 de Março de 1895 que concede autonomia administrativa
aos ex-distritos dos Açores.
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“Vi um homem de barba preta [...] abrir a capa e tirar uma carabina [...]. Quando [o] vi [...]
apontar sobre a carruagem percebi bem, infelizmente, o que era. Meu Deus, que horror o que
então se passou! Logo depois do Buíça ter feito fogo [...] começou uma perfeita fuzilada, como
numa batida às feras! Aquele Terreiro do Paço estava deserto, nenhuma providência! Isso é
que me custa mais a perdoar ao João Franco...”
D. Manuel
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O Golpe do Elevador da Biblioteca, ou a Intentona do Elevador, ou ainda o Golpe de 28 de Janeiro de
1908, foi uma tentativa de golpe de estado, visando à proclamação da República, levada a cabo pelo
Partido Republicano Português de parceria com a Dissidência Progressista, como reacção contra o
anunciado fim da ditadura administrativa de João Franco e a consequente ameaça de ascensão política
do Partido Regenerador-Liberal daquele. Embora o golpe tenha sido gorado por acção preventiva do
governo, este falhou em eliminar todos os focos de conspiração, do que resultou, em questão de dias, a
execução da acção que previa a eliminação física do monarca: o Regicídio, em consequência do qual,
embora a mudança de regime em si não tenha sido efectuada, o afastamento do rei e de João Franco
puseram termo à reforma da monarquia, mantendo a mesma instabilidade até aí crescente e que levaria à
proclamação da República em consequência do golpe seguinte.
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O Paço Ducal de Vila Viçosa é importante monumento situado no Terreiro do Paço da vila alentejana
do distrito de Évora. Foi durante séculos a sede da sereníssima Casa de Bragança, uma importante
família nobre fundada no século XV, que se tornou na Casa Reinante em Portugal, quando em 1 de
Dezembro de 1640 o 8º Duque de Bragança foi aclamado Rei de Portugal (D.João IV).
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O Barreiro é uma cidade portuguesa no Distrito de Setúbal, região de Lisboa e sub-região da Península
de Setúbal, com cerca de 40 859 habitantes, mas com uma área urbana que se estende até ao concelho
vizinho da Moita, o que lhe confere uma influência de cerca de pouco mais de 100 000 residentes.
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A Praça do Comércio, também conhecida por Terreiro do Paço, é uma praça da Baixa de Lisboa
situada junto ao rio Tejo, na zona que foi o local do palácio dos reis de Portugal durante cerca de dois
séculos. É uma das maiores praças da Europa, com cerca de 36 000 m² (180m x 200m).
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atingido na face por um outro disparo. A rainha, de pé, defendia-se com o ramo
de flores que lhe fora oferecido, fustigando um dos atacantes, que subira o
estribo da carruagem, gritando "Infames! Infames!". O infante D. Manuel foi
também atingido num braço. Dois dos regicidas, Manuel Buíça, professor
primário, e Alfredo Costa, empregado do comércio e editor, foram mortos no
local. Outros fugiram. A carruagem entrou no Arsenal da Marinha, onde se
verificou o óbito do rei e do herdeiro ao trono. Após o atentado, o governo de
João Franco foi demitido e foi lançado um rigoroso inquérito que, ao longo dos
dois anos seguintes, veio a apurar que o atentado fora cometido por membros
da Carbonária46. O processo de investigação estava já concluído nas vésperas
do dia 5 de outubro de 1910. Entretanto, tinham sido descobertos mais
suspeitos de envolvimento direto, sendo que alguns estavam refugiados no
Brasil e em França e dois, pelo menos, tinham sido mortos pela própria
Carbonária.
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A Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que actuou na Itália, França, Portugal e
Espanha nos séculos XIX e XX. Fundada na Itália por volta de 1810, a sua ideologia assentava em
valores libertacionais e fazia-se notar por um marcado anticlericalismo. Participou nas revoluções de
1820, 1830-1831 e 1848. Embora não tendo unidade política, já que reunia monarquistas e republicanos,
nem linha e acção definida, os carbonários (da italiano carbonaro, "carvoeiro") actuavam em toda a Itália.
Reuniam-se secretamente nas cabanas dos carvoeiros, derivando daí seu nome. Foi sugerido que o
esparguete à carbonara foi por eles inventado. Inventaram uma escrita codificada, para uso em
correspondência, utilizando um alfabeto carbonário. Os membros da Carbonária, principalmente da
pequena e média burguesia, tratavam-se por primos. As associações da Carbonária tinham uma relação
hierárquica. Chamavam-se choças (de menor importância), barracas e vendas , sendo estas as mais
importantes. As vendas, cada uma contendo vinte membros, desconheciam os grandes chefes. Todas as
orientações eram transmitidas por elas. Havia uma venda central, composta por sete membros, que
chefiava o trabalho das demais. A Carbonária não tinha nenhuma ligação popular, pois como sociedade
secreta, não anunciavam suas actividades. Além disso, a Itália era uma região agrícola e extremamente
católica, com camponeses analfabetos e religiosos, que tradicionalmente se identificavam com ideias e
chefes conservadores.
18
A Europa ficou chocada com este atentado, uma vez que D. Carlos era muito
estimado pelos restantes chefes de estado europeus. O regicídio de 1908
acabou por abreviar o fim da monarquia ao colocar no trono o jovem D. Manuel
II e lançando os partidos monárquicos uns contra os outros. Devido à sua tenra
idade (18 anos) e à forma trágica e sangrenta como alcançou o trono,
D. Manuel II47 auferiu inicialmente de uma simpatia generalizada. O jovem rei
começou por nomear um governo de consenso, presidido pelo almirante
Francisco Joaquim Ferreira do Amaral48. Este governo de acalmação, como
ficou conhecido, apesar de lograr acalmar momentaneamente os ânimos, teve
duração breve. A situação política rapidamente voltou a degradar-se, tendo-se
sucedido sete governos em dois anos. Os partidos monárquicos voltaram às
costumeiras questiúnculas e divisões, fragmentando-se, enquanto o Partido
Republicano continuava a ganhar terreno. Nas eleições de 5 de abril de 1908, a
última legislativa na vigência da monarquia, foram eleitos sete deputados, entre
os quais Estêvão de Vasconcelos49, Feio Terenas50 e Manuel de Brito
Camacho51. Nas eleições de 28 de agosto de 1910 o partido teve um resultado
arrasador, elegendo 14 deputados, dez deles por Lisboa.
No entanto, apesar dos evidentes êxitos eleitorais alcançados pelo movimento
republicano, o setor mais revolucionário do partido advogava a luta armada
como melhor meio de tomar o poder a curto prazo. Foi esta fação que saiu
47
D. Manuel II de Portugal (nome completo: Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel
Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orleães Sabóia e Saxe-Coburgo-Gotha; 15 de
novembro de 1889 – 2 de julho de 1932) foi o trigésimo-quinto e último Rei de Portugal. D. Manuel II
sucedeu ao seu pai, o Rei D. Carlos I, depois do assassinato deste e do seu irmão mais velho, o Príncipe
Real D. Luís Filipe, a 1 de Fevereiro de 1908. Antes da sua ascensão ao trono, D. Manuel foi duque de
Beja e Infante de Portugal.
48
Francisco Joaquim Ferreira do Amaral (11 de Junho de 1844 — 11 de Agosto de 1923) foi um militar
(almirante) português, administrador colonial e político da última fase da monarquia constitucional
portuguesa.
49
José Estêvão Brosselard Pais de Vasconcelos (Olhão, 13 de novembro de 1868 — Lisboa, 15 de maio
de 1917) foi um médico e político português. Após a implantação da República Portuguesa, Estêvão de
Vasconcelos foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte de 1911, foi ministro do Fomento no
governo liderado por João Chagas e, mais tarde, senador pelo distrito de Beja. Foi ainda administrador da
Caixa Geral de Depósitos.
50
José Maria Moura Barata Feio Terenas (Covilhã, 5 de novembro de 1850 — Lisboa, 29 de janeiro de
1920) foi um jornalista e político português. Republicano assumido, participou nas reuniões preparatórias
da fundação do Partido Republicano Português, em 1873, ao lado de Latino Coelho, Elias Garcia, Oliveira
Marreca e Bernardino Pinheiro. Em 1876 esteve na criação do primeiro diretório do Partido Republicano,
tornando-se figura preponderante do Centro Republicano de Coimbra.
51
Manuel de Brito Camacho (Aljustrel, 12 de Fevereiro de 1862 — Lisboa, 19 de Setembro de 1934) foi
um médico militar, escritor, publicista e político que, entre outros cargos de relevo, exerceu as funções de
Ministro do Fomento (1910-1911) e de Alto Comissário da República em Moçambique (1921 a 1923).
Fundou e liderou o Partido Unionista. Foi fundador e director do jornal A Luta, órgão oficioso do Partido
Unionista.
19
52
Joaquim Teófilo Fernandes Braga (Ponta Delgada, 24 de Fevereiro de 1843 — Lisboa, 28 de Janeiro
de 1924) foi um político, escritor e ensaísta português. Estreia-se na literatura em 1859 com Folhas
Verdes. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, fixa-se em Lisboa em 1872, onde lecciona
literatura no Curso Superior de Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Da sua
carreira literária contam-se obras de história literária, etnografia (com especial destaque para as suas
recolhas de contos e canções tradicionais), poesia, ficção e filosofia, tendo sido ele o introdutor do
Positivismo em Portugal. Depois de ter presidido ao Governo Provisório da República Portuguesa, a sua
carreira política terminou após exercer fugazmente o cargo de Presidente da República, em substituição
de Manuel de Arriaga, entre 29 de Maio e 4 de Agosto de 1915.
53
Basílio Teles (Porto, 14 de Fevereiro de 1856 - 10 de Março de 1923) foi um professor e ensaísta
português.
54
Eusébio Leão (Gavião, 2 de Fevereiro de 1878 - Lisboa, 21 de Novembro de 1926) foi médico e político
republicano português.
55
José Cupertino Ribeiro Júnior (Pataias, Alcobaça, 1848 — ?) foi um industrial e político português.
Eleito para o Diretório do Partido Republicano Português em 1902, Cupertino Ribeiro colaborou na
preparação do 5 de Outubro de 1910. Fez parte da Assembleia Nacional Constituinte como deputado
eleito pelo círculo de Alcobaça. Mais tarde, aderiu à União Republicana de Brito Camacho
56
José de Mascarenhas Relvas (Golegã, 5 de Março de 1858 — Alpiarça, 31 de Outubro de 1929) foi um
político português. Foi o "escolhido" para proclamar a República, a 5 de Outubro de 1910, da varanda da
Câmara Municipal de Lisboa porque era um dos dirigentes "mais antigos" do directório do Partido
Republicano, lavrador abastado que granjeou prestígio nacional, sobretudo enquanto líder associativo dos
agricultores ribatejanos. Foi ministro das finanças do respectivo Governo Provisório de 12 de Outubro de
1910 até à auto-dissolução deste, a 4 de Setembro de 1911 sendo ele o responsável, nomeadamente,
pela introdução da reforma monetária que criou o escudo. Depois exerceu o cargo de embaixador de
Portugal em Espanha até finais de 1913 quando regressou a Portugal para assumir o seu lugar no
Senado, por entender que a sua legitimidade vinha do cargo para o qual havia sido eleito. Acabou por
resignar em 1915. Esteve em seguida bastantes anos afastado da actividade política dedicando-se aos
seus negócios, até ser nomeado primeiro-ministro, a 27 de Janeiro de 1919, tendo exercido aquele cargo
até 30 de Março do mesmo ano. Morreu a 31 de Outubro de 1929, na Casa dos Patudos, em Alpiarça. A
Assembleia da República prestou-lhe homenagem em 2008 com a exposição José Relvas, o conspirador
contemplativo, que ilustrou as diferentes facetas de José Relvas e do seu percurso político até 1914.
57
Afonso Augusto da Costa (Seia, 6 de Março de 1871 — Paris, 11 de Maio de 1937) foi um advogado,
professor universitário, político republicano e estadista português. Foi um dos principais obreiros da
implantação da República em Portugal e uma das figuras dominantes da Primeira República.
58
João Pinheiro Chagas (Rio de Janeiro, 1 de setembro de 1863 — Estoril, 28 de Maio de
1925 (61 anos)), mais conhecido por João Chagas, foi um jornalista, diplomata e político português, tendo
sido o primeiro Primeiro-Ministro da I República de Portugal. Jornalista, escritor, crítico literário, político,
diplomata e conspirador, João Chagas foi, acima de tudo, um republicano liberal, ideal que abraçou até à
morte e que, por diversas vezes, lhe custou a prisão e o degredo. Deixou uma das obras mais
importantes, e por isso mesmo mais injustamente esquecida, do jornalismo político, de ideias e de
doutrinação democrática publicadas em Portugal, sendo autor de alguns dos textos basilares para a
compreensão do processo formativo, evolução e parâmetros ideológicos do republicanismo português.
59
António José de Almeida (Vale da Vinha, Penacova, 17 de Julho de 1866 — Lisboa, 31 de Outubro de
1929) foi um político republicano português, sexto presidente da República Portuguesa de 5 de Outubro
de 1919 a 5 de Outubro de 1923.
60
Carlos Cândido dos Reis, conhecido na época e historicamente como Almirante Reis (Lisboa, 16 de
Janeiro de 1852 - Lisboa, 4 de Outubro de 1910) foi um militar, conspirador e carbonário português.
20
A revolta
A 3 de outubro de 1910 estalou a revolta republicana que já se avizinhava no
contexto da instabilidade política. Embora muitos envolvidos se tenham
esquivado à participação — chegando mesmo a parecer que a revolta tinha
falhado — esta acabou por suceder graças à incapacidade de resposta do
governo, que não conseguiu reunir tropas que dominassem os cerca de
duzentos revolucionários que na Rotunda64 resistiam de armas na mão.
No verão de 1910 Lisboa fervilhava de boatos e várias vezes foi o presidente
do Conselho de Ministros (primeiro-ministro) Teixeira de Sousa65, avisado de
golpes iminentes. A revolução não foi exceção: o golpe era esperado pelo
governo, que a 3 de outubro deu ordem para que todas as tropas da guarnição
da cidade ficassem de prevenção. Após o jantar oferecido em honra de
61
A Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que actuou na Itália, França, Portugal e
Espanha nos séculos XIX e XX. Fundada na Itália por volta de 1810, a sua ideologia assentava em
valores libertacionais e fazia-se notar por um marcado anticlericalismo.
62
António Maria de Azevedo Machado Santos (Lisboa, 10 de Janeiro de 1875 — Lisboa, 19 de Outubro
de 1921), mais conhecido por Machado Santos, foi um militar e político português, considerado o
fundador da República Portuguesa pelo denodo com que se bateu na Revolução de 5 de Outubro de
1910 e depois na defesa do regime contra a intentona monárquica de 22 a 24 de Janeiro de 1919 em
Monsanto.
63
Miguel Augusto Bombarda (Rio de Janeiro, 6 de Março de 1851 — Lisboa, 3 de Outubro de 1910) foi
um médico psiquiatra e político republicano português. Foi o fundador da revista Medicina
contemporânea. Foi o secretário-geral do "XVI Congresso Internacional de Medicina e Cirurgia" que se
reuniu em Lisboa em 1906.
64
A Praça Marquês de Pombal situa-se entre a Avenida da Liberdade e o Parque Eduardo VII. Outrora
chamada de Rotunda, foi aqui que tiveram lugar os acontecimentos decisivos que levaram à Proclamação
da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910.
65
António Teixeira de Sousa, igualmente conhecido como Teixeira de Sousa (Celeirós, 5 de Maio de 1857
— Porto, 5 de Junho de 1917) foi um médico e político termalista transmontano, escritor, deputado, par do
reino, ministro de estado e líder do Partido Regenerador. Presidiu ao último governo da monarquia
constitucional de Portugal, sendo deposto pela Revolução de 5 de Outubro de 1910.
21
"A Revolução não será adiada: sigam-me, se quiserem. Havendo um só que cumpra o seu
dever, esse único serei eu."
Almirante Cândido dos Reis
66
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca (São Gabriel, 12 de maio de 1855 — Petrópolis, 9 de
setembro de 1923) foi um maçom, militar e político brasileiro, presidente do Brasil entre 1910 e 1914.
Era sobrinho do tambem maçom e Marechal Deodoro da Fonseca, 1º presidente do Brasil, do General
João Severiano da Fonseca, Patrono do Serviço de Saúde do Exército, e filho do marechal Hermes
Ernesto da Fonseca e de Rita Rodrigues Barbosa.
67
O Palácio das Necessidades localiza-se no Largo do Rilvas, em Lisboa, Portugal
68
A Cidadela de Cascais localiza-se na Vila, Freguesia e Concelho de mesmo nome, Distrito de Lisboa,
em Portugal
69
Carlos Cândido dos Reis, conhecido na época e historicamente como Almirante Reis (Lisboa, 16 de
Janeiro de 1852 - Lisboa, 4 de Outubro de 1910) foi um militar, conspirador e carbonário português.
22
70
O Major José Afonso Palla, era filho de Francisco Afonso Palla e Antónia Dias; neto paterno de
Francisco Palla e Isabel Renca e materno de José Gomes da Rosa e de Maria Dias, nasceu na freguesia
de Malhada Sorda, concelho de Almeida, Distrito da Guarda em 21 de Fevereiro de 1861 e faleceu em 8
de Setembro de 1915 em resultado dos ferimentos recebidos no Combate de Mongua, Sul de Angola.
71
Alfredo Ernesto de Sá Cardoso (Lisboa, 6 de Junho de 1864 — Lisboa, 24 de Abril de 1950) foi um
político republicano português, duas vezes primeiro-ministro. Após os primeiros estudos, ingressou no
Colégio Militar e, depois, na Escola do Exército, onde cursou a arma de Artilharia. Assentou praça em
1880, prosseguindo a carreira de oficial do exército (alferes, 1886; tenente, 1888; capitão, 1900; major,
1911; tenente-coronel, 1915; coronel, 1917) que o levaria, em 1924, ao posto de general.
72
José Mendes Cabeçadas Júnior (Loulé, 19 de Agosto de 1883 — Lisboa, 11 de Junho de 1965) foi um
maçom e oficial da Armada Portuguesa.
73
O Adamastor foi um cruzador da Marinha Portuguesa, construído nos Estaleiros Navais de Livorno, na
Itália em 1896 e financiado pelas receitas proveninentes de uma subscrição pública organizada como
23
Cruzador Adamastor.
resposta portuguesa ao ultimato britânico de 1890, o seu custo na altura foi de 381 629 000$000 reis
(1.900,00 €, cerca de 8 milhões de Euros em valores actuais). O seu primeiro comandante foi o Capitão
de Mar-e-Guerra Ferreira do Amaral. O Adamastor desempenhou um papel importante no golpe de 5 de
Outubro de 1910, que levou à implantação da República Portuguesa, sendo responsável pelo
bombardeamento do Palácio Real das Necessidades.
24
74
São Jorge de Arroios é uma freguesia portuguesa do concelho de Lisboa, com 1,13 km² de área e 17
403 habitantes (2001). Densidade: 15 346,6 hab/km².
25
75
Manuel Rafael Gorjão Henriques (Lisboa, 24 de Maio de 1846 — Guarda, São Vicente, 22 de Setembro
de 1918), foi um militar português.
76
A Praça de D. Pedro IV, mais conhecida pelo seu antigo nome de Rossio, tem constituído o centro
nevrálgico de Lisboa desde há seis séculos. Assistiu a touradas, festivais, paradas militares e também a
autos-de-fé durante a Inquisição.
77
A Estação Ferroviária do Rossio é uma estação da linha de Sintra da rede de comboios suburbanos de
Lisboa. Fica situada entre o Rossio e a Praça dos Restauradores, em Lisboa, Portugal.
78
O Convento da Ordem do Carmo de Lisboa localiza-se no Largo do Carmo e ergue-se, sobranceiro ao
Rossio (Praça de D. Pedro IV), na colina fronteira à do Castelo de São Jorge, na cidade e Distrito de
Lisboa, em Portugal. A parte habitável do convento foi convertida em instalações militares em 1836. Foi
aqui, no Quartel do Carmo, sede do Comando-Geral da GNR, que o Presidente do Conselho do Estado
Novo, Marcelo Caetano, se refugiou dos militares revoltosos, durante a Revolução dos Cravos. O cerco
deste aquartelamento foi dirigido pelo capitão Salgueiro Maia.
26
(de tal maneira que estes esperavam que se tivessem também sublevado)
conjugado com o abandono, do lado dos revoltosos, do plano de ação original,
optando-se pelo entrincheiramento na Rotunda e em Alcântara, levou a que
durante todo o dia 4 a situação se mantivesse num impasse, correndo pela
cidade os mais variados boatos acerca de vitórias e derrotas.
Assim que se teve notícia da concentração de revoltosos na Rotunda, o
comando militar da cidade organizou um destacamento para os atacar.
Formavam essa coluna, sob o comando do coronel Alfredo Albuquerque,
unidades retiradas da proteção do Palácio das Necessidades: Infantaria 2,
Cavalaria 2 e a bateria móvel de Queluz. Desta última fazia parte o herói das
guerras coloniais, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro79. A coluna avançou até
perto da Penitenciária onde assumiu posições de combate. Antes de estas
estarem concluídas, no entanto, foram atacados por revoltosos. O ataque foi
repelido, mas a custo de alguns feridos, vários animais de carga mortos e da
debandada de cerca de metade da infantaria. Paiva Couceiro respondeu ao
fogo com os canhões e a infantaria que restava durante três quartos de hora,
ordenando um ataque que foi levado a cabo por cerca de 30 soldados, mas
que foi repelido com algumas baixas. Continuando com o fogo, ordenou novo
ataque, mas apenas conseguiu que cerca de 20 praças o acompanhassem.
Achando ter chegado o momento ideal para o assalto ao quartel de Artilharia 1,
Paiva Couceiro pediu reforços ao comando da divisão apenas para receber a
desconcertante ordem para retirar. Entretanto havia-se formado uma coluna
com o propósito de atacar simultaneamente os revoltosos na Rotunda, mas tal
não chegou a ocorrer, porque foi dada ordem de retirar. A coluna chegou ao
Rossio80, ao fim da tarde, sem sequer ter combatido. Tal inação não se deveu a
qualquer incompetência do seu comandante, o general António Carvalhal, pois
79
Henrique Mitchell de Paiva Couceiro (Lisboa, 30 de Dezembro de 1861 — Lisboa, 11 de Fevereiro de
1944) foi um militar, administrador colonial e político português que se notabilizou nas campanhas de
ocupação colonial em Angola e Moçambique e como inspirador das chamadas incursões monárquicas
contra a Primeira República Portuguesa em 1911, 1912 e 1919. Presidiu ao governo da chamada
Monarquia do Norte, de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919, na qual colaboraram activamente os
mais notáveis integralistas lusitanos. A sua dedicação à causa monárquica e a sua proximidade aos
princípios do Integralismo Lusitano, conduziu-o por diversas vezes ao exílio, antes e depois da instituição
do regime do Estado Novo em Portugal.
80
A Praça de D. Pedro IV, mais conhecida pelo seu antigo nome de Rossio, tem constituído o centro
nevrálgico de Lisboa desde há seis séculos. Assistiu a touradas, festivais, paradas militares e também a
autos-de-fé durante a Inquisição.
27
como ficou provado no dia seguinte ao ser nomeado chefe da Divisão Militar
pelo governo republicano, as suas lealdades eram outras. Os reforços da
província, esperados pelo governo ao longo de todo o dia 4, nunca chegaram.
Apenas as unidades já mencionadas e chamadas aquando das medidas
preventivas é que receberam as ordens de marcha. Desde o início da
revolução que os carbonários tinham desligado os fios telegráficos impedindo
assim as mensagens de chegarem às unidades de fora de Lisboa. Além disso,
na posse de informação acerca das unidades alertadas, os revolucionários
tinham cortado as linhas férreas pelo que, obrigadas a marchar, estas nunca
chegariam a tempo. Da Margem Sul, mais próxima, também era improvável a
chegada de reforços, visto que os navios revoltosos dominavam o rio. Ao final
do dia a situação era difícil para as forças monárquicas: os navios sublevados
tinham estacionado junto ao Terreiro do Paço e o cruzador "São Rafael" fez
fogo sobre os edifícios dos ministérios, perante o olhar atónito do corpo
diplomático brasileiro, a bordo do encouraçado "São Paulo" no qual viajava o
presidente eleito Hermes da Fonseca. Este bombardeamento minou o moral
das forças no Rossio, que se julgavam entre dois fogos, nomeadamente
Rotunda e Alcântara.
embora as balas atingissem as janelas. Cerca das nove horas o rei recebeu um
telefonema do presidente do Conselho, aconselhando-o a procurar refúgio em
Mafra ou Sintra, dado que os revoltosos ameaçavam bombardear o Paço das
Necessidades. D. Manuel II recusou-se a partir, dizendo no entanto aos
presentes: "Vão vocês se quiserem, eu fico. Desde que a constituição não me
marca outro papel senão o de me deixar matar, cumpri-lo-ei.
Com a chegada da bateria móvel de Queluz, as peças foram dispostas nos
jardins do palácio de forma a poderem bombardear o revoltado quartel dos
marinheiros, que ficava a escassos 100 metros do paço. No entanto, antes de
poder começar, o comandante da bateria recebeu ordem de cancelar o
bombardeamento e juntar-se às forças que saiam do paço, integradas na
coluna que iria atacar os revoltosos na Artilharia 1 e na Rotunda. Cerca do
meio-dia os cruzadores "Adamastor" e "São Rafael", que desde há uma hora
haviam fundeado em frente ao quartel dos marinheiros, começaram a
bombardear o Paço das Necessidades, o que desmoralizou as forças
monárquicas aí presentes. O rei refugiou-se numa pequena casa no parque do
palácio de onde conseguiu telefonar a Teixeira de Sousa, pois os
revolucionários apenas haviam cortado as linhas de telefone especiais do
estado mas não as da rede geral. Ordenou ao primeiro-ministro que mandasse
para as Necessidades a bateria de Queluz para impedir o desembarque dos
marinheiros, mas este retorquiu-lhe que a ação principal se passava na
Rotunda e que todas as tropas eram aí necessárias. Tendo em conta que as
tropas disponíveis não eram suficientes para cercar os revoltosos na Rotunda,
o ministro fez ver ao rei a conveniência de se retirar para Sintra ou Mafra de
forma a libertar as forças estacionadas no Paço para sua proteção e que eram
necessárias na Rotunda.
Às duas da tarde as viaturas com o D. Manuel II e seus assessores partiram do
palácio em direção a Mafra, onde a Escola Prática de Infantaria disporia de
forças suficientes para proteger o soberano. Logo ao início da Estrada de
Benfica o rei libertou o esquadrão da guarda municipal que o escoltava para
que viessem ajudar os seus companheiros a lutar contra os revolucionários. A
comitiva chegou sem problemas a Mafra cerca das quatro da tarde, mas aí
depararam com um problema: devido às férias, não se encontravam na Escola
29
Prática mais do que 100 praças, ao invés das 800 que seria de esperar e o
comandante, coronel Pinto da Rocha, afirmou não dispor de meios para
proteger o rei. Entretanto, chegou de Lisboa o Conselheiro João de Azevedo
Coutinho que aconselhou o rei a chamar a Mafra as rainhas D. Amélia e D.
Maria Pia (respectivamente a mãe e a avó do rei) que estavam nos Palácios da
Pena e da Vila, em Sintra, e a preparar-se para seguir para o Porto, para aí
organizar a resistência[75].
Em Lisboa, a saída do rei não trouxera grandes vantagens pois as tropas assim
libertas, apesar de receberem repetidas ordens do quartel-general para
marcharem para o Rossio para impedirem a concentração de artilharia
revoltosa em Alcântara, a maioria desobedeceu.
A Carbonária
Muita gente confunde Maçonaria com Carbonária, ou pelo menos, associa uma
destas sociedades à outra. No entanto esta associação não se aparenta assim
tão linear e muito menos a Carbonária funcionou como o braço armado da
Maçonaria como se tem escrito e falado. Embora não fossem carbonários
todos os maçons, a Carbonária foi muitas vezes uma associação paralela da
Maçonaria.
A Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na Itália,
França, Portugal e Espanha nos séculos XIX e XX. Fundada na Itália por volta
de 1810, a sua ideologia assentava em valores libertacionais e fazia-se notar
por um marcado anticlericalismo. Participou nas revoluções de 1820, 1830-
1831 e 1848. Embora não tendo unidade política, já que reunia monarquistas e
republicanos, nem linha e ação definida, os carbonários (da italiano carbonaro,
"carvoeiro") actuavam em toda a Itália. Reuniam-se secretamente nas cabanas
dos carvoeiros, derivando daí seu nome. Foi sugerido que o esparguete à
carbonara foi por eles inventado. Inventaram uma escrita codificada, para uso
em correspondência, utilizando um alfabeto carbonário.
Durante o domínio napoleónico, formou-se em Itália uma resistência que
contou com membros de uma organização secreta – a Carbonária. A
30
81
Joaquim Murat ou Joachim Murat (Labastide-Fortunière, 25 de março de 1767 — Pizzo Calabro, 13 de
outubro de 1815) foi um militar francês, marechal do Império napoleônico e Rei de Nápoles, de 1808 a
1815. Era também cunhado de Napoleão I, por seu casamento com Carolina Bonaparte. Foi executado
em 1815, na Calábria, por ordem de Fernando I das Duas Sicílias, depois de uma desastrada tentativa de
reconquistar Nápoles
82
Silvio Pellico (Saluzzo, 1789 - Turim, 31 de janeiro de 1854) foi um escritor e dramaturgo italiano.
Depois de estudar em Pinerolo e Torino, dirigiu-se a Lyon, na França, para fazer tratativas comerciais.
No seu retorno a Itália em 1809, estabeleceu-se em Milão. Depois de travar relações com o poeta
Vincezo Monti e com o escritor Niccolò Foscolo, mais conhecido como Ugo Foscolo, a partir de 1812
começou a escrever, especialmente para o teatro. Suas peças tinham por base estilística a tragédia
clássica, mas muito identificadas com um conteúdo romântico. Seu profundo sentimento patriótico levou-o
à prisão em 1820, sob a acusação de pertencer à Carbonária. Julgado, foi sentenciado à morte, mas sua
pena foi comutada para 15 anos de prisão em regime forçado, a serem cumpridos na Fortaleza de
Špilberk, na Morávia. Recebendo o perdão do Imperador, foi libertado em 1830 e dirigiu-se para Turim,
onde permaneceu durante algum tempo no Palazzo Barolo como hóspede do casal Barolo, retirando-se
completamente das atividades políticas, e mesmo dos círculos literários. Passou a viver de um cargo de
bibliotecário, que conseguiu graças à interferência da Marquesa de Barolo. Entretanto, jamais esqueceu
de suas experiências como prisioneiro, as quais transmitiu em sua obra mais memorável, Le mie prigioni,
de 1832. Silvio Pellico faleceu em Turim, no dia 31 de janeiro de 1854.
31
83
Pietro Maroncelli (Forli, 1795 — Nova York, 1846) foi um músico italiano. Sendo carbonário, foi preso
em 1820 junto com Silvio Pellico, e condenado à morte. Depois, sua pena foi comutada de 20 anos de
prisão em regime forçado. Durante o cumprimento de seu período de cárcere, depois de um acidente,
teve uma perna amputada. Estando impedido fisicamente de realizar trabalhos forçados, terminou sendo
liberado em 1830, exilando-se em Paris, e posteriormente em Nova Iorque. Em 1833, foi um dos que
realizaram a tradução para o francês da obra de Silvio Pellico, Le mie prigioni. Depois aderiu ao
socialismo utópico de François-Marie-Charles Fourier. Pietro Maroncelli morreu em Nova Iorque no ano
de 1846, cego e inválido.
84
Giuseppe Garibaldi (Nice, 4 de julho de 1807 — Caprera, 2 de junho de 1882) foi um carbonario
general, guerrilheiro, condottiero e patriota italiano, alcunhado de "herói de dois mundos" devido a sua
participação em conflitos na Europa e na América do Sul. Uma das mais notáveis figuras da unificação
italiana, ao lado de Giuseppe Mazzini e do Conde de Cavour, Garibaldi dedicou sua vida à luta contra a
tirania. Nasceu em Nizza (hoje Nice, na França), então ocupada pelo Primeiro Império Francês e que
retornaria ao reino de Sardenha-Piemonte, com a queda de Napoleão Bonaparte, para ser depois cedida
à França por Cavour, pelo tratado de Turim (24 de março de 1860).
85
Giuseppe Mazzini (Gênova, 22 de junho de 1805 — Pisa, 10 de março de 1872) foi político e
revolucionário do movimento italiano chamado Risorgimento. Em 1830 tornou-se membro da Carbonária.
86
A Casa de Habsburgo (em alemão: Haus von Habsburg) também conhecida por Casa da Áustria ou
Casa d'Áustria, é uma família nobre européia que foi uma das mais importantes e influentes da história da
Europa do século XIII ao século XX.
32
A Estrutura da Carbonária
Só o Grão-Mestre Sublime e a Alta Venda conheciam toda a organização sem
desta serem conhecido, o que garantia o secretismo desta organização,
reforçado pela rígida hierarquia e pelo ritual iniciático que contemplava o uso
de balandraus e de capuzes, caveiras, tíbias, etc..
As iniciações
As iniciações faziam-se nalguns Centros Republicanos - onde, aliás, se
encontrava grande parte dos Bons Primos carbonários - mas de preferência em
escritórios e casas particulares, quando temporariamente desabitadas, ou
ainda, em armazéns, caves e até em cemitérios a altas horas da noite.
Os que presidiam às iniciações vestiam-se de balandrau com orifícios no
capuz. O venerável carbonário que presidia era assistido pelos seguintes Bons
Primos: primeiro secretário (primo Olmo); o segundo secretário (primo
Carvalho); o primeiro vogal (primo Choupo) e o 2º vogal (guarda externo).
Era a este último que incumbia o secretismo das sessões, alertando ao mínimo
movimento suspeito nas imediações. O neófito era vendado à entrada pelo
bom primo Choupo, depois do interrogatório e após o juramento, se era aceite,
assinava então o seu compromisso de honra, muitas vezes com o próprio
sangue, como se segue: "Juro pela minha honra de cidadão livre guardar
absoluto segredo dos fins e existência desta sociedade, derramar o meu
sangue pela regeneração da Pátria, obedecer aos meus superiores e que os
87
O reino das Duas Sicílias foi o nome que o rei Fernando I de Bourbon deu a seu reino, em 1816, depois
que o Congresso de Viena suprimiu o Reino de Nápoles e o Reino da Sicília, unindo-os numa única
entidade estatal.
33
"...os associados deviam obedecer cegamente às ordens que lhes fossem dadas; guardar
segredo tão absoluto que nem às próprias famílias podiam revelar tudo quanto se passasse
nas assembleias; que deviam ser astuciosos, perseverantes, intrépidos, corajosos, solidários,
destemidos e valentes...".
A carbonária em Portugal
Em Portugal, em seguida à guerra civil de 1844, em que o partido progressista
foi vencido, organizou-se, pela primeira vez, a Carbonária. Foi o general
Joaquim Pereira Marinho quem, em Março de 1848, conseguiu obter de França
autorização para poder estabelecer entre essa sociedade. Em 29 de Maio do
mesmo ano, instalou em Coimbra, numa casa da rua da Ilha, a Carbonária
Lusitana. Procedeu-se, nesse mesmo dia, a eleições, ficando o padre António
de Jesus Maria da Costa como Supremo Conselheiro da Alta-Venda. Em 1 de
Junho seguinte, foram eleitas as comissões encarregadas de regularizar os
trabalhos da choça-mãe, ou alta-venda, com as choças filiais. Em Outubro,
novas eleições se fizeram em Conselhos, sendo eleito Supremo Conselheiro o
dr. Francisco Fernandes da Costa88. O padre, despeitado, por ter sido o
instalador e assim o alijarem, guardou o livro de matrícula e mais documentos,
recusando-se obstinadamente a entregá-los. Havia então en Coimbra as
barracas Igualdade e União e as choças Fraternidade e Liberdade, que se
reuniam numas casas do correio velho, na rua das Fangas, e ainda a 16 de
Maio, mais tarde denominada Segredo, que estava instalada numa casa perto
do Arco do Colégio. Teve a Carbonária Lusitana barracas e choças noutros
pontos, como Figueira da Foz, Soure, Anadia, Cantanhede, Pombal, Ílhavo e
Braga. Outras localidades se preparavam para organizar os seus núcleos, mas,
em 1850, esta Carbonária dissolveu-se, embora só no distrito de Coimbra
tivesse mais de quinhentos filiados, quase todos armados, pois uma das
condições para ser iniciado era a de possuir ocultamente uma arma e os
88
Francisco José Fernandes Costa (Foz de Arouce, Lousã, 19 de Abril de 1857 — Figueira da Foz, 19 de
Julho de 1925) foi um carbonário, jurista e político do período da Primeira República Portuguesa.
34
Venda.
Em 1853 encontramos Abílio Roque a presidir à Choça Kossut. Integrou a
Junta Geral do Distrito de Coimbra e presidiu ao Centro Eleitoral Republicano
Democrático de Coimbra, tendo sido um dos fundadores.
Foi iniciado em data desconhecida, antes de 1844, em loja que ignoramos,
embora utilizando o nome simbólico de Lafayette. Fez ainda parte das
seguintes lojas maçónicas de Coimbra: Philadelphia (Grande Oriente Lusitano);
Federação, loja nº 5; e Perseverança, loja nº 74. Foi chefe supremo da
Carbonária em 1863, tendo a acompanhá-lo na Alta Venda, Dr. Raimundo
Venâncio Rodrigues, Dr. José Teixeira de Queirós, Dr. António dos Santos
Viegas, Fernando Augusto de Andrade Pimentel e Melo, Dr. António José
Teixeira, Olímpio Nicolau Rui Fernandes, José Maria Coutinho, Dr. Albino
Augusto Giraldes, Aristides Pinto Ferreira de Bastos, Dr. António de Oliveira
Silva Gaio, Dr. José Augusto Sanches da Gama, José da Costa Gomes, Padre
José Adelino Coelho, Padre Augusto César da Silva Henriques e Dr. Jacinto
Alberto Pereira de Carvalho. [Maria Manuela Tavares Ribeiro, Portugal e a
Revolução de 1848, Minerva Histórica, Livraria Minerva, Coimbra, 1990, p. 408-
409 onde é possível também encontrar o respectivo nome simbólico de cada
um destes carbonários.].
Em 1875, fundou a Maçonaria Eclética Portuguesa, onde desempenhou o
cargo de Grão-Mestre. Em 2 de Março de 1864, Abílio Roque de Sá Barreto foi
novamente eleito para a Alta Venda da Carbonária Lusitana. Um dos principais
objectivos desta sociedade era criar uma tipografia para o jornal Comércio de
Coimbra, porque não era na altura possível continuar a utilizar a oficina
tipográfica da Imprensa da Universidade. [Francisco Augusto Martins de
Carvalho, Algumas Horas na Minha Livraria, Coimbra, Imprensa Académica,
1910, p. 105]. Estabeleceu-se a tipografia para enfrentar o governo do Partido
Histórico, porque os proponentes desta nova tipografia eram membros do
Partido Regenerador e o jornal supra referido era o órgão do partido na cidade
dos estudantes. Na década de setenta do século XIX, Abílio Roque de Sá
Barreto lidera a fundação do Centro Eleitoral Republicano Democrático de
Coimbra (8 de Março de 1878), acompanhando Manuel Emídio Garcia e José
Falcão, professores na Universidade de Coimbra, para além Miguel Arcanjo
38
Revista de História das Ideias, vol. V, 1984, p. 400]. Abílio Roque de Sá Barreto
foi também um dos responsáveis pela fundação da Associação Liberal em
Coimbra acompanhado por Manuel Emídio Garcia, Zeferino Cândido, Correia
Barata em 1874. Esta associação reflecte sobretudo o espírito anticlerical e
anticongreganista que começou a desenvolver-se pela Europa, e também em
Portugal, na segunda metade do século XIX. Segundo Fernando Catroga, a
raiz desta associação encontra-se num conjunto de pressupostos: “tenha por
fim radicar no espírito público as ideias liberais, promover a educação religiosa
e liberal do povo, combater o fanatismo e o ultramontanismo”[Fernando
Catroga, “Mações, Liberais e Republicanos em Coimbra (Década de 70 do
século XIX)”, idem, p. 278].
A Associação Liberal de Coimbra foi apresentada em 6 de Maio de 1875, os
estatutos foram aprovados em 16 de Dezembro de 1875 e a sua legalização
pelo Governador Civil de Coimbra só foi conseguida em 21 de Março de 1876 e
a sua instalação definitiva só foi feita em 8 de Maio de 1878. Abílio Roque
desempenhou a função de procurador na comissão executiva desta
associação. Colaborou em diferentes periódicos de Coimbra, Lisboa e outras
localidades e fundou, entre outros, O Partido do Povo (1878) com Feio
Terenas, Emídio Garcia e Rodrigues de Sousa. Sendo eleito para a vereação
da Câmara Municipal de Coimbra em 1887, pelo Partido Republicano,
juntamente com António Augusto Gonçalves e Manuel Augusto Rodrigues da
Silva. Em 1896, voltou a ligar-se ao Grande Oriente Lusitano Unido com a sua
loja. Pertenceu ao Rito Francês, mas acabou por receber já em 1898 os graus
18º e 33º do Rito Escocês Antigo e Aceito. Faleceu em Condeixa-a-Nova a 29
de Maio de 1898.
Iniciou a sua carreira na Marinha como voluntário, aos dezassete anos, sendo
sucessivamente promovido até ao posto de vice-almirante. Em 1 de Outubro de
1870 é Guarda-marinha. Reforma-se em Julho de 1909.
Apesar de ter sido agraciado com o grau de oficial da Ordem de Avis e a de
Cavaleiro da Torre e Espada pelos seus feitos na marinha, foi desde muito
novo um adepto republicano de firmes convicções, tendo participado
ativamente na luta antimonárquica.
Foi também um elemento destacado da Carbonária e da ideologia anticlerical.
Não foi tanto como político propagandistico, mas como conspirador que se
destacou. Embora tenha sido eleito como deputado nas listas republicanas de
1910 participou ativamente no golpe fracassado de 28 de Janeiro de 1908, que
devia começar com a prisão de João Franco, então chefe do governo. Após um
pequeno período de desânimo voltou à luta e rapidamente se transformou no
organizador militar da revolta de 5 de Outubro de 1910.
Na tarde do dia 3 de Outubro de 1910, ao saber-se que o então chefe do
governo, Teixeira de Sousa, tinha sido avisado do golpe republicano e pusera
de prevenção as tropas leais à causa monárquica, a maioria dos chefes
republicanos propôs um adiamento do golpe, ao que se opôs o Almirante
Cândido dos Reis. Dado que era o chefe militar e principal dinamizador da
revolta, a sua posição levou a que esta ocorresse.
Nos primeiros momentos da revolta de 5 de Outubro de 1910 o Dr. Miguel
Bombarda, um dos chefes civis do golpe e senhor de muitos dos seus
41
89
Em reacção às violentas perseguições desencadeadas pelo ditador João Franco sobre os muitos
críticos do seu regime – e, muito especialmente, sobre os militantes anti-monárquicos –, a 28 de Janeiro
de 1908, os republicanos portugeses levaram a cabo uma primeira tentativa revolucionária que correu mal
e acabou por se saldar por mais prisões de opositores ao regime – todas as principais figuras do Partido
Republicano, inclusive –, com a grave perspectiva (por força de um decreto escrito a 28 de Janeiro e
promulgado por Carlos I a 31 de Janeiro) de serem seguidamente enviados para o degredo.
43
90
O General Joaquim Pereira Pimenta de Castro (Pias, Monção, 5 de Novembro de 1846 - Lisboa, 14 de
Maio de 1918), foi um oficial militar e político português. Foi um oficial militar de carreira, também
graduado em Matemática pela Universidade de Coimbra. Em 1908, foi nomeado comandante da 3ª
Região Militar, no Porto. Após a proclamação da República a 5 de Outubro de 1910, foi Ministro da
Guerra, por apenas dois meses, em 1911, tendo-se demitido do cargo devido a uma das incursões
monárquicas de Henrique de Paiva Couceiro. Como independente, foi escolhido pelo Presidente Manuel
de Arriaga para ser Presidente do Ministério (Primeiro Ministro) do governo, que governaria sem o
parlamento, onde o Partido Republicano, liderado por Afonso Costa tinha a maioria. O seu governo, com
o apoio do Partido Republicano Evolucionista e da União Republicana, e também de facções militares
conservadoras, ficou no poder de 28 de Janeiro a 14 de Maio de 1915. Quando foi retirado do poder por
um movimento militar a 14 de Maio de 1915, com o apoio do Partido Republicano Português, que causou
também na demissão do Presidente Manuel de Arriaga.
44
Na Rotunda, os revoltosos
preparam-se para serem
atacados.
O marujo que vencera a monarquia na Rotunda pagava com a sua própria vida
o ter feito baquear o rei. Um comando monárquico, fazendo-se transportar na
“camioneta fantasma” durante a “noite sangrenta” que sucedeu à revolução
radical de 19 de Outubro de 1921, procedia a algumas liquidações de
proeminentes figuras republicanas como o herói da Rotunda, António Granjo e
Carlos Maia. Levado de casa Machado Santos foi fuzilado no Largo do
Intendente, sendo o seu cadáver transportado depois para a Morgue de Lisboa!
Como disse o seu honrado pai, que, ao irem dizer-lhe, no dia 4 de Outubro,
quem comandava as tropas da Rotunda, encolheu os ombros, sorrindo, teve
esta frase profética: - Então temo-la tramada, porque quando ele se mete numa
coisa leva-a ao fim… Mas é maluco, o meu António, porque, ou deixa lá a pele,
ou vai servir de degrau aos outros, pensando em todos e esquecendo-se de si.
Casou com D. Maria Joana Queiroga, de quem teve uma filha. Foi candidato do
Partido Republicano em 1905 e 1906, sendo eleito deputado nas segundas
eleições realizadas neste ano, em Agosto. Em 1906, em plena Câmara dos
Deputados, equilibrando-se em cima duma das carteiras, pede aos soldados,
chamados a expulsar os deputados republicanos do Parlamento, a
proclamação imediata da república. No ano seguinte adere à Maçonaria.
Era ainda aluno de Medicina em Coimbra quando publicou no jornal académico
Ultimatum um artigo que ficou famoso, intitulado Bragança, o último, que foi
considerado insultuoso para o rei D. Carlos. Defendido por Manuel de
Arriaga91, acabou condenado a três meses de prisão.
Depois de terminar o curso, em 1895, foi para Angola e posteriormente
estabeleceu-se em São Tomé e Príncipe, onde exerceu medicina até 1903.
Regressando a Lisboa nesse ano, foi para França onde estagiou em várias
clínicas, regressando no ano seguinte. Montou consultório, primeiro na Rua do
Ouro, depois no Largo de Camões, entrando então na política ativa.
Os seus discursos inflamados fizeram dele um orador muito popular nos comícios republicanos.
Foi preso por ocasião da tentativa revolucionária de Janeiro de 1908, dias antes do assassinato
do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe. Posto em liberdade, continuou a sua acção
demolidora pela palavra e pela pena, sobretudo enquanto director do jornal Alma Nacional.
91
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, 8 de Julho de 1840 — Lisboa, 5 de
Março de 1917) foi um advogado, professor, escritor e político de origem açoriana. Grande orador e
membro destacado da geração doutrinária do republicanismo português, foi dirigente e um dos principais
ideólogos do Partido Republicano Português. A 24 de Agosto de 1911 tornou-se no primeiro presidente
eleito da República Portuguesa, sucedendo na chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por
Teófilo Braga. Exerceu aquelas funções até 29 de Maio de 1915, data em que foi obrigado a demitir-se,
sendo substituído no cargo pelo mesmo Teófilo Braga, que como substituto completou o tempo restante
do mandato.
92
Partido Republicano Evolucionista (abreviadamente conhecido como Partido Evolucionista) foi um
partido político português do tempo da I República, surgindo em 24 de Fevereiro de 1912 como
consequência da primeira secessão do Partido Republicano Português (a par do Partido Democrático e
do Partido Unionista). Foi liderado por António José de Almeida, porventura o maior orador da República;
daí a alcunha dos membros do partido, os almeidistas (por oposição aos afonsistas do Partido
Democrático de Afonso Costa). Teve no afamado República o seu órgão de imprensa. Ideologicamente
situado à direita dos democráticos e à esquerda dos unionistas, poder-se-ia hoje considerar um partido de
centro-direita. Foi o partido que mais se opôs à ação governativa dos democráticos, à parte o período em
que com eles constituiu o Governo da União Sagrada, durante a I Guerra Mundial. Opôs-se também ao
sidonismo (1918) [Sidonismo (também chamado de Consulado Sidonista, República Nova ou Nova
República) designa o regime vigente durante o governo de Sidónio Pais (Dezembro de 1917 a Dezembro
de 1918). As suas medidas tornaram-se o ideário do Partido Sidonista, de direita], mas acabaria por
desaparecer pouco depois, em 1919; com a eleição de António José de Almeida para a Presidência da
República, o partido via perder a sua principal cabeça, e acabou por se fundir com o Partido Unionista
(cujo líder, Brito Camacho, também se ausentara da política nacional por ter sido nomeado Alto-
48
Comissário da República para Moçambique) num novo partido, o Partido Liberal Republicano. Um setor
do partido que se opôs a fusão viria a constituir uma dissidência dos evolucionistas, o Partido Popular.
49
93
Na mitologia grega Panaceia (ou Panacea em latim) era a deusa da cura. O termo Panacéia também é
muito utilizado com o significado de remédio para todos os males.
94
O Iberismo é um movimento político e cultural que defende a abordagem e melhoramento das relações
a todos os níveis entre Portugal e Espanha e, finalmente, a unidade política dos mesmos. Estes ideais
foram promovidos principalmente pelos movimentos republicanos e socialistas em ambos os países,
especialmente durante o século XIX, quando eles tiveram o maior dilema dos ideais nacionalistas de
inclusão, como o Risorgimento Italiano ou a Unificação Alemã. O Iberismo é um projecto de construção de
um Estado ibérico que pretende ter uma entidade política, ou seja, criar um único país que incorpore o
atual Portugal e a atual Espanha. Tal união levaria a que ambos os países, já unificados, se tornassem no
44.º maior país do Mundo, no 5.º maior país da União Europeia, e o 24.º mais populoso (em 2009), assim
como faria crescer o PIB e o IDH, deixando o país entre os dez melhores países do Mundo em ambas as
características.
95
Anticlericalismo é um movimento histórico que se caracteriza por condenar a influência dominante de
instituições religiosas, especialmente do clero da Igreja Católica (padres, sacerdotes), sobre aspectos
sociais e políticos da vida pública. Sua atitude denota uma crítica à instituição eclesiástica e à hierarquia
católica em geral, o que não implica necessariamente em anticristianismo, ou seja, o sujeito pode-se ser
anticlerical e cristão. O anticlericalismo propugna pela separação e não interferência entre as esferas do
poder religioso e do civil. O ativista anticlerical critica a acção política das instituições religiosas. O
anticlericalismo é mais frequente no cristianismo, mas há atitudes anticlericais nas demais religiões. O
anticlericalismo foi um sentimento presente no iluminismo, revolução francesa, revoluções proletárias e/ou
socialistas. Como consequencia, existem países laicos que barraram (ou reduziram) a influencia clerical
em sua política (e até mesmo estatizando as propriedades clericais). Ex: França, Cuba, Venezuela, Itália,
República Tcheca...
96
Lucta, fundado a 1 de janeiro de 1906 por Manuel de Brito Camacho, foi um periódico republicano
importante na sua época, que entretanto se transformou no órgão oficioso do Partido Unionista.
50
97
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Lisboa, 16 de Março de 1825 — São Miguel de Seide, 1 de
Junho de 1890) foi um escritor português. Camilo foi romancista português, além de cronista, crítico,
dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Foi ainda o 1.º visconde de Correia Botelho, título concedido por
o rei D. Luís de Portugal.
52
Uma grande parte das composições poéticas de Guerra Junqueiro está reunida
no volume que tem por título A musa em férias, publicado em 1879. Neste ano
98
Joaquim Pedro de Oliveira Martins (Lisboa, 30 de Abril de 1845 — Lisboa, 24 de Agosto de 1894) foi
um político e cientista social português. Oliveira Martins é uma das figuras-chave da história portuguesa
contemporânea. As suas obras marcaram sucessivas gerações de portugueses, tendo influenciado vários
escritores do século XX, como António Sérgio, Eduardo Lourenço ou António Sardinha.
53
também saiu o poemeto O Melro, que depois foi incluído na Velhice do Padre
Eterno, edição de 1885. Publicou Idílios e Sátiras, e traduziu e coleccionou um
volume de contos de Hans Christian Andersen e outros.
Após uma estada em Paris, aparentemente para tratamento de doença
digestiva contraída durante a sua estada nos Açores, publicou em 1885 no
Porto A velhice do Padre Eterno, obra que provocou acerbas réplicas por parte
da opinião clerical, representada na imprensa, entre outros, pelo cónego José
Joaquim de Sena Freitas99.
Quando se deu o conflito com a Inglaterra sobre o "mapa cor-de-rosa", que
culminou com o ultimato britânico de 11 de Janeiro de 1890, Guerra Junqueiro
interessou-se profundamente nesta crise nacional, e escreveu o opúsculo Finis
Patriae, e a Canção do Ódio, para a qual Miguel Ângelo Pereira100 escreveu a
música. Posteriormente publicou o poema Pátria. Estas composições tiveram
uma imensa repercussão, contribuindo poderosamente para o descrédito das
instituições monárquicas.
Caridade e Justiça
Guerra Junqueiro
No topo do Calvário erguia-se uma cruz,
pregado sobre ela o corpo de Jesus.
Noite sinistra e má. Nuvens esverdeadas
corriam pelo ar como grandes manadas de búfalos.
E a lua ensangüentada e fria,
como um soluço imenso de Maria,
lançava sobre as coisas naturais
a merencória luz, cheia de brancos ais.
As árvores que outrora, em dias de calor,
abrigaram Jesus, cheias de mágoa e dor,
choravam na mudez hercúlea dos heróis,
99
José Joaquim de Sena Freitas (Ponta Delgada, 27 de Julho de 1840 — Rio de Janeiro, 21 de
Dezembro de 1913) foi um sacerdote, orador sacro e polemista português. Publicou um extenso conjunto
de obras, a maior parte sobre questões religiosas e de moral. Manteve intensas polémicas com diversos
intelectuais e jornalistas portugueses e brasileiros
100
Miguel Ângelo Pereira (Barcelinhos, Barcelos, 1843-Porto, 1901 (58 anos)) foi um pianista e
compositor português. Passou parte da sua vida no Brasil. Entre as suas obras destacam-se as óperas
"Eurico", "Zaida" e "Avalanche", a "Cantata a Luís de Camões", a Sinfonia "Adamastor", a "Marcha do
Ódio" musicando um poema de Guerra Junqueiro, além de numerosas valsas e polkas. Morreu pobre,
louco e esquecido.
54
Segundo o Irmão Rhomeu Barros Guerra Junqueiro era um grande pensador e lutava contra o
domínio da Igreja sobre as consciências cristãs. Por isso, foi excomungado. Sua luta era
principalmente pela hegemonia da justiça, tanto que, neste poema, há uma comparação
avaliatória entre a caridade e a justiça, que fica ao raciocínio de cada um.
101
João de Andrade Corvo (1824-1890) foi Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal entre 13 de
Setembro de 1871 e 29 de Janeiro de 1878, durante o Governo de Fontes Pereira de Melo. Nesse
período também acumulou a pasta da Marinha e Ultramar de 1872 a 1877. Homem culto, fez estudos de
Medicina, Engenharia, Matemática e Ciências Naturais.
58
como capitão do porto de Vila Real de Santo António (1914; 1917; 1918:1919)
e Comandante da Escola de Alunos Marinheiros do Sul (1919 e 1922). Preside
ao Tribunal Militar de Marinha (1926) e ao Conselho Superior de Disciplina da
Armada (1947). Serve na Direcção de Hidrografia e Navegação e, desde 1932
e ao longo de 17 anos, é Intendente da Marinha no Arsenal do Alfeite. Em Abril
de 1911, Mendes Cabeçadas é iniciado na Maçonaria. Por essa altura, a
Marinha está fortemente politizada, com muitos dos seus elementos
pertencendo à Maçonaria e à Carbonária. O jovem tenente Cabeçadas
participa numa das reuniões dos revoltosos republicanos. Na manhã do dia 4
de Outubro de 1910, de acordo com o que ficara estipulado, Mendes
Cabeçadas revolta a tripulação do cruzador Adamastor disparando contra o
Palácio das Necessidades. Estava, assim, dado o sinal para o início da revolta.
Logo no início do sidonismo, é nomeado Governador Civil do distrito de Faro, o
que voltará a suceder em 1919 (de 18-02 a 08-07) e 1923 (de 20-11 a 17-12).
Como representante da Marinha, é deputado às Constituintes por Silves em
1911, sendo mais tarde eleito deputado ao Parlamento em 1915 e 1921.
Pertence aos Partidos Unionista, Liberal e Nacionalista, tendo acompanhado a
cisão de Cunha Leal na formação da União Liberal Republicana no início de
1926. Durante a última fase da República, a sua acção contra o domínio do
Partido Democrático inicia-se em Julho de 1925 com a revolta do cruzador
Vasco da Gama, sob o seu comando, na sequência da qual é preso. O
objectivo é secundar a revolta dos oficiais nacionalistas presos no Forte do
Bom Sucesso, em virtude da rebelião militar de 18 de Abril de 1925, chefiada
por Sinel de Cordes, Raul Esteves e Filomeno da Câmara, considerada um
"ensaio geral" do 28 de Maio. A partir dessa altura, Mendes Cabeçadas
envolve-se directamente na preparação da revolta. De acordo com o plano, na
madrugada do dia 28 de Maio de 1926, o general Gomes da Costa lança em
Braga a proclamação que faz avançar o movimento, enquanto que Cabeçadas
chefia a revolta militar em Lisboa. Nesse mesmo instante, porém, terminava o
consenso que fizera agregar os conspiradores. Líder da componente
republicana conservadora da conspiração, nesse mesmo dia (28 de Maio)
Mendes Cabeçadas apresenta-se ao Presidente da República Bernardino
Machado como chefe do pronunciamento que nessa manhã se declarara em
66
Braga. Quando se dirige a Coimbra, para tomar o comando das tropas que lhe
eram fiéis no Centro do país, é preso em Santarém, por ordem do ainda chefe
do Governo, António Maria da Silva. Através de carta dirigida ao Presidente da
República, Cabeçadas exige a demissão do governo e a nomeação de
ministros que possam merecer a confiança do país. Bernardino Machado aceita
a demissão do executivo. Desaparece assim, sem esboçar qualquer tipo de
resistência, o último governo da I República. Antes de se demitir, o executivo
ordena a libertação de Mendes Cabeçadas, uma vez que a sua "facção"
constitui a única esperança de assegurar alguma continuidade à República. De
facto, Cabeçadas tinha em mente um golpe para derrubar o Partido
Democrático, mas sem colocar em causa o essencial do regime constitucional
vigente. Após ter aceitado a demissão do governo de António Maria da Silva, o
Presidente da República nomeia, a 30 de Maio de 1926, Mendes Cabeçadas
como presidente do ministério, ministro da Marinha e interino de todas as
pastas. Mantém a titularidade das pastas até 3-6-1926. No dia 31 de Maio de
1926, Bernardino Machado renuncia à Presidência da República, transmitindo
a Mendes Cabeçadas as suas funções constitucionais. A partir dessa data, e
até ao dia 17-06-1926, acumula as funções de presidente do Ministério e Chefe
do Estado. O general Gomes da Costa, representante da facção militar
conservadora de Sinel de Cordes, faz rapidamente saber que o governo de
Cabeçadas não merece a confiança do Exército e ordena o avanço das tropas
sobre Lisboa (31-5-1926). O objetivo é afastar Mendes Cabeçadas da nova
cena política e, com ele, as várias correntes republicanistas que lhe tinham
conferido apoio. No mesmo dia, o general Óscar Carmona adere à revolta e
arranca de Évora comandando a 4.ª Divisão, com o propósito de participar no
cerco à capital. Mendes Cabeçadas, por seu turno, controla as forças do
Exército, da Marinha e da GNR na capital e na margem Sul. A apoiá-lo tem
também os partidos e grupos republicanos bem como o movimento sindical.
Ainda a 31 de Maio, convence o Partido Radical - que ocupara o Barreiro com
os marinheiros do vale do Zebro e tomara conta do Ministério da Marinha e do
Arsenal, apoiado pelos ferroviários do Sul e Sueste - a abandonar as suas
posições. Logo de seguida, o Barreiro é ocupado militarmente e o Ministério da
Marinha e o Arsenal são desalojados. Nesse mesmo dia, por acção de um dos
67
102
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, 8 de Julho de 1840 — Lisboa, 5 de
Março de 1917) foi um advogado, professor, escritor e político de origem açoriana. Grande orador e
membro destacado da geração doutrinária do republicanismo português, foi dirigente e um dos principais
ideólogos do Partido Republicano Português.
71
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Júlio Xavier de Matos (Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 1856 - Lisboa, 12 de abril de 1922) foi um
médico e notável psiquiatra português.
104
Manuel Joaquim Pinheiro Chagas (Lisboa, 13 de Novembro de 1842 — Lisboa, 8 de Abril de 1895) foi
um prolífico escritor, jornalista e político português. Destacou-se como romancista, historiador e
dramaturgo, tendo escrito inúmeros romances históricos e diversas peças de teatro, algumas das quais se
mantiveram em cena por mais de um século. Foi director de vários periódicos de Lisboa. Exerceu as
funções de deputado e par do Reino e foi Ministro da Marinha e Ultramar na fase decisiva das
movimentações da potências europeias em torno da partilha de África. Foi um dos fundadores da
Sociedade de Geografia de Lisboa.
72
105
José Duarte Ramalho Ortigão (Porto, 24 de Outubro de 1836 — Lisboa, 27 de Setembro de 1915) foi
um escritor português.
106
Francisco José Teixeira Bastos (Lisboa, 1857 — Lisboa, 1902), mais conhecido por Teixeira Bastos,
foi um poeta, jornalista e ensaísta, que atingiu grande nomeada no último quartel do século XIX. Com
Teófilo Braga editou diversos periódicos de crítica literária, tendo sido um dos introdutores em Portugal do
positivismo de Augusto Comte. Foi sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, eleito em 5 de
Novembro de 1891
107
Basílio Teles (Porto, 14 de Fevereiro de 1856 - 10 de Março de 1923) foi um professor e ensaísta
português.
108
Eusébio Leão (Gavião, 2 de Fevereiro de 1878 - Lisboa, 21 de Novembro de 1926) foi médico e
político republicano português.
109
José Cupertino Ribeiro Júnior (Pataias, Alcobaça, 1848 — ?) foi um industrial e político português.
Eleito para o Directório do Partido Republicano Português em 1902, Cupertino Ribeiro colaborou na
73
preparação do 5 de Outubro de 1910. Fez parte da Assembleia Nacional Constituinte como deputado
eleito pelo círculo de Alcobaça. Mais tarde, aderiu à União Republicana de Brito Camacho.
110
A Revolta de 14 de Maio de 1915 foi um levantamento político-militar liderado por Álvaro de Castro e
pelo general Sá Cardoso, tendo como objectivo o derrube do governo presidido pelo general Pimenta de
Castro e a reposição da plena vigência da Constituição Portuguesa de 1911 que os revoltosos
consideravam estar a ser desrespeitada pelo Presidente da República, Manuel de Arriaga, ao dissolver
unilateralmente o Congresso da República sem que tivesse poderes constitucionais para tal acto. O
movimento foi vitorioso, levando à substituição do governo pela Junta Constitucional de 1915 e à
demissão de Manuel de Arriaga. A revolta causou cerca de 200 mortos e cerca de 1 000 feridos. Durante
a revolta, João Chagas, indigitado para chefe do governo, foi atingido a tiro no Entroncamento, pelo
senador João José de Freitas, ficando gravemente ferido e cego de um olho. O agressor foi linchado pela
multidão.
111
Duarte Leite Pereira da Silva (Porto, 11 de Agosto de 1864 — 29 de Setembro de 1950 (86 anos)) foi
um professor, historiador, político e diplomata português dos tempos da Primeira República.
112
Bernardino Luís Machado Guimarães (Rio de Janeiro, 28 de março de 1851 — Famalicão, 28 de abril
de 1944) foi o terceiro e o oitavo presidente eleito da República Portuguesa.
113
João Pinheiro Chagas (Rio de Janeiro, 1 de setembro de 1863 — Estoril, 28 de Maio de
1925 (61 anos)), mais conhecido por João Chagas, foi um jornalista, diplomata e político português, tendo
sido o primeiro Primeiro-Ministro da I República de Portugal.
114
João José de Freitas (Parambos, Carrazeda de Ansiães, 28 de Maio de 1873 — Estação da
Barquinha, Entroncamento, 17 de Maio de 1915) foi um advogado, professor e político republicano,
74
primeiro Governador Civil do Distrito de Bragança nomeado pela República, deputado e membro do
Senado do Congresso da República. Foi linchado com um tiro de carabina dentro do comboio que o
transportava do Porto para Lisboa, depois de tentar assassinar João Pinheiro Chagas, que na véspera
fora indigitado chefe do governo na sequência da Revolta de 14 de Maio de 1915.
115
José Ribeiro de Castro (Valhelhas, 7 de Abril de 1868 — Lisboa, 31 de Julho de 1929), mais conhecido
por José de Castro, foi um advogado, jornalista e político português que, entre outras funções, ocupou o
cargo de Presidente do Conselho de Ministros de um dos governos da Primeira República Portuguesa.
Foi membro da Maçonaria.
116
Misoginia é o ódio ou desprezo ao sexo feminino (mulheres ou meninas). A palavra vem do grego
misos (µῖσος, "ódio") e gene (γυναίκες, "mulher"). É paralelo à misandria, o ódio para com o sexo
masculino. Misoginia é o antônimo de filoginia, que é o apreço, admiração ou amor pelas mulheres
117
Polígrafo é um autor que trata de diversas matérias científicas ou filosóficas
118
Gil Vicente (1465 — 1536?) é geralmente considerado o primeiro grande dramaturgo português, além
de poeta de renome. Há quem o identifique com o ourives, autor da Custódia de Belém, mestre da
balança, e com o mestre de Retórica do rei Dom Manuel. Enquanto homem de teatro, parece ter também
desempenhado as tarefas de músico, ator e encenador. É frequentemente considerado, de uma forma
geral, o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico já que também escreveu em castelhano -
partilhando a paternidade da dramaturgia espanhola com Juan del Encina. A obra vicentina é tida como
reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento, fazendo-se o
balanço de uma época onde as hierarquias e a ordem social eram regidas por regras inflexíveis, para uma
nova sociedade onde se começa a subverter a ordem instituída, ao questioná-la. Foi, o principal
representante da literatura renascentista portuguesa, anterior a Camões, incorporando elementos
populares na sua escrita que influenciou, por sua vez, a cultura popular portuguesa.
75
Ficção
Contos Fantásticos (1865)
Viriato (1904)
Ensaios
As Teocracias Literárias - Relance sobre o Estado Actual da Literatura Portuguesa (1865)
História da Poesia Moderna em Portugal (1869)
História da Literatura Portuguesa [Introdução] (1870)
História do Teatro Português (1870 - 1871) - em 4 volumes
Teoria da História da Literatura Portuguesa (1872)
Manual da História da Literatura Portuguesa (1875)
Bocage, sua Vida e Época (1877)
Parnaso Português Moderno (1877)
Traços gerais da Filosofia Positiva (1877)
História do Romantismo em Portugal (1880)
Sistema de Sociologia (1884)
Camões e o Sentimento Nacional (1891)
História da Universidade de Coimbra (1891 - 1902) - em 4 volumes
História da Literatura Portuguesa (1909 - 1918) - em 4 volumes
Antologias e recolhas
119
Filinto Elísio (Lisboa, 23 de Dezembro de 1734 - Paris, 25 de Fevereiro de 1819), foi um poeta, e
tradutor, português do Neoclassicismo. O seu verdadeiro nome é Francisco Manuel do Nascimento, e foi
sacerdote. O seu pseudónimo, Filinto Elísio, ou também Niceno, foi-lhe atribuído pela Marquesa de Alorna
(a quem ensinou latim quando se encontrava reclusa no Convento de Chelas), dado Francisco Manuel do
Nascimento ter pertencido a uma sociedade literária - Grupo da Ribeira das Naus -, cujos membros
adoptavam nomes simbólicos.
76
120
Teatro Baquet esta localizado na antiga Rua de Santo António (hoje Rua 31 de Janeiro) na cidade do
Porto. Mandado construir pelo alfaiate portuense António Pereira Baquet, em 21 de Fevereiro de 1858, foi
estreado com um baile de Carnaval, em 13 de Fevereiro do ano seguinte. Na noite de 20 de Março de
1888, ficou completamente destruído por um incêndio que deflagrou nos bastidores.
78
Eusébio Leão
121
Augusto Rodolfo da Costa Malheiro (Porto, 19 de Janeiro de 1869 — Lisboa, 9 de Dezembro de 1924)
foi uma das figuras principais da Revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891 que teve lugar na cidade
do Porto. Na madrugada do dia 31 de Janeiro comandava a guarnição na Cadeia da Relação quando o
regimento ali aquartelado foi o primeiro a sublevar-se. Apesar de não ter tido um papel preponderante em
toda a conspiração que resultou nesta revolta, João Chagas refere sua acção como um importantíssimo e
quiçá determinante papel na revolta.
79
Bernardino Machado.
Tornou-se conhecido no meio académico, entre outras razões, pela introdução
e criação dos estudos universitários de Antropologia em Portugal.
80
Notável estadista que, já depois dos cinquenta anos de idade e de ter sido
ministro em Governos monárquicos, aderiu ao Partido Republicano Português,
tornando-se um indefectível adepto da mudança de regime em Portugal.
Após a proclamação da República foi deputado, senador, ministro, primeiro
embaixador português no Brasil, duas vezes Presidente da República, acabou
sendo exilado aquando do golpe militar que impôs a ditadura no país.
Já com avançada idade, foi autorizado a Bernardino Machado o regresso a
Portugal, mas com residência fixa a norte do rio Douro.
A sua iniciação como maçon ocorreu na loja “Perseverança”, n.º 74, de
Coimbra. Chegou a atingir o 7º grau do Rito Francês e o 33.º do Rito Escocês
Antigo e Aceito.
Presidiu ao Conselho da Ordem de 1892 a 1895, foi Grão-Mestre do Grande
Oriente Lusitano Unido de 1895 a 1899 e Soberano Grande Comendador do
Supremo Conselho do Grau 33 nos anos de 1895 a 1899 e de 1929 a 1944.
apenas 27 anos.
Câmaras, pelo Porto, entre 1870 e 1874. Voltou a ser deputado de 1879 a
vários dos seus artigos soltos foram reunidos, postumamente, em 1906, com
122
O reformismo é um movimento social que tem em vista a transformação política e econômica da
sociedade mediante a introdução de reformas graduais e sucessivas na legislação e nas instituições já
existentes. Uma reforma distingue-se dos movimentos sociais mais radicais, como movimentos
revolucionários. Se as reformas não forem aceitas, podem surgir movimentos reacionários. Surgiu no
último quarto do século XIX e se difundiu entre os partidos social-democratas. Em 1954, o reformismo
proclamou como sua doutrina oficial o socialismo democrático, oposto ao socialismo científico.
Na segundo metade do século XX, muitas críticas foram feitas à ideologia defendida pelos teóricos neo-
malthusianos. Com bases nessas críticas, teóricos de países subdesenvolvidos elaboraram a teoria
reformista que afirma que os problemas sociais não são o resultado do crescimento populacional, mas
sim da falta de acesso da grande parte da população às riquezas produzidas.
83
Fernão Botto Machado foi "um homem, feito por si mesmo, a self made man"
[S. Magalhães Lima, in pref. Fernão Boto Machado. No Parlamento, Tip.
Torres, Lisboa, 1929]. Foi um autodidata [cf. António Ventura, Anarquistas
Republicanos e Socialistas em Portugal. As convergências possíveis (1892-
1910), Cosmos, 2000], "não fez exame de instrução primária" [Lima, op.cit.],
mas ainda assim foi solicitador encartado, deputado, diplomata e jornalista e,
ao mesmo tempo, um admirável defensor junto das "classes operárias", que,
aliás, "ocorriam em massa a ouvir a sua palavra" [in Gr. Enc. Port.-Bras.]
Em Lisboa, para onde partiu, dedica-se à "prática da solicitadoria forense”"
[anotação que daremos conta, a seguir na Parte II, recorrendo para isso à
valiosa nota biobibliográfico sobre Botto Machado e publicações jurídicas a ele
ligadas, de autoria de Luís Bigotte Chorão, incluída no seu livro "O Periodismo
Jurídico Português do Século XIX", IMCM, 2002], participa na luta politica nas
fileiras socialistas e republicanas e colabora nos jornais republicanos "A Folha
do Povo" (nº1, 10 de Agosto de 1881) e "Vanguarda" [tendo substituído na sua
direcção Magalhães Lima, que tinha vindo d'O Século. Ver a propósito, S.
Magalhães Lima, "Episódios da Minha Vida", Livraria Universal, s.d. (1925), pp.
211 e segs].
É, em 1893, iniciado maçon na Loja Caval(h)eiros da Verdade, de Lisboa,
adoptando o nome simbólico de "José Falcão" [A. H. de Oliveira Marques,
Dicionário da Maçonaria Portuguesa, vol II, 1986], e no mesmo ano
84
123
O nome ao tempo era grafado Zophimo ou Zóphimo.
124
Luciano Baptista Cordeiro de Sousa (Mirandela, 21 de Julho de 1844 — Lisboa, 24 de Dezembro de
1900) foi um escritor, historiador, político e geógrafo português
87
125
Luís Augusto Rebelo da Silva (Lisboa, 2 de Abril de 1822 — Lisboa, 19 de Setembro de 1871) foi um
jornalista, historiador, romancista e político português, colaborador activo de múltiplos periódicos e
membro das tertúlias intelectuais e políticas lisboetas da última metade do século XIX. Foi um dos
primeiros professores do Curso Superior de Letras, fundado em 1859 por D. Pedro V, leccionando a
cadeira de História. Colaborando em múltiplos jornais e revistas, Rebelo da Silva afirmou-se como o mais
prolífico dos escritores românticos portugueses, distinguindo-se ainda como orador e político, tendo
exercido, entre outros, os cargos de deputado, par do Reino e ministro. Foi pai de Luís António Rebelo da
Silva, cientista e professor de Agronomia, que lhe sucedeu na Câmara dos Pares.
126
Augusto Pereira de Vabo e Anhaya Gallego e Soromenho (Aveiro, 20 de Fevereiro de 1833 — Lisboa,
9 de Janeiro de 1878), mais conhecido por Augusto Soromenho, foi um professor e filólogo português.
127
Jaime Constantino de Freitas Moniz, conhecido sobretudo como Jaime Moniz (Funchal, 18 de
Fevereiro de 1837 — Lisboa, 16 de Setembro de 1917) foi um político e intelectual português que se
distinguiu na área da educação. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi advogado de
nomeada, professor do Curso Superior de Letras, deputado, par do Reino, Ministro da Marinha e Ultramar
e presidente do Conselho Superior de Instrução Pública. Foi membro da Academia Real das Ciências de
Lisboa, da qual foi secretário, tendo publicado sob a égide da instituição uma importante colectânea de
diplomas referentes às relações entre Portugal e diversas potências estrangeiras. Introdutor da pedagogia
científica em Portugal, a reforma do ensino secundário que liderou em 1894-1895, conhecida por Reforma
de Jaime Moniz, ficou famosa, influenciando o desenvolvimento daquele nível de ensino até à década de
1930.
128
António José Viale (1806 — 1889), foi um erudito latinista e helenista de origem italiana, professor do
Curso Superior de Letras de Lisboa, que se distinguiu pelas suas traduções do latim, do grego clássico e
do italiano paraprtuguês e do Português paralatim. Entre outras obras produziu um versão de Os
Lusíadas em latim e o Bosquejo Histórico-Poético, uma história de Portugal em verso hexâmetro. Foi
sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa.
129
José Carrilho Videira (Marvão, 6 de Novembro de 1845 — Marvão, 25 de Agosto de 1905) foi um
intelectual, escritor, editor e político ligado ao movimento republicano dos finais do século XIX.
88
130
Louis Ernest Hamel (Paris, 2 de Julho de 1826 — Paris, 6 de Janeiro de 1898) foi um advogado,
escritor, historiador e político francês, adepto das ideias republicanas e democráticas. Publicou uma
importante obra de história e análise política da França pós-revolucionária, com destaque para uma
biografia política de Maximilien de Robespierre.
89
131
António da Silva Túlio (Carnide, 15 de Agosto de 1818 — Lisboa, 4 de Janeiro de 1884) foi um escritor
e historiador, funcionário da Biblioteca Nacional de Lisboa, onde foi sucessivamente oficial, conservador e
bibliotecário, exercendo interinamente as funções de director na ausência do bibliotecário-mor José da
Silva Mendes Leal.
132
José Maria da Cunha Seixas (Trevões, São João da Pesqueira, 26 de Março de 1836 — Lisboa, 27 de
Maio de 1895) foi um intelectual e filósofo, criador e adepto do pantiteísmo, uma dissidência do krausismo
(panenteísmo) que tem por doutrina reconhecer a presença de Deus em todos os lugares e em tudo, mas
propondo que apesar de Deus estar em tudo, Deus não se identifica com a coisa criada.
90
mesma utilização, de um imaginário peculiar aos séculos XVII e XVIII, feita por
Manuel Bernardes133 nos seus exempla.
Para utilização pelos seus alunos do Curso Superior de Letras, publicou em
1883 a obra As Grandes Épocas da História Universal, com a qual Consiglieri
Pedroso introduz rupturas fundamentais na matéria tratada face àquela que era
a tradição historiográfica portuguesa. Sendo um lente de História Universal e
Pátria do Curso Superior de Letras, e não como era tradição no tratamento da
matéria um lente de Teologia da Universidade de Coimbra, Consiglieri Pedroso
aborda a história antiga longe do campo da Teologia e do discurso catequético
que tradicionalmente lhe estava associado. No processo recusou as
autoridades bibliográficas tradicionais e usou abundantemente os dados vindos
da linguística, apoia-se no trabalho de Jean-François Champollion134 e assume,
pela primeira vez em Portugal, uma cronologia histórica que aponta
explicitamente para datações anteriores a 4004 a.C., contrariando as
interpretações bíblicas então vigentes que davam aquele ano como o da
criação do Mundo.
Como publicista, colaborou em diversos periódicos ligados à esquerda liberal.
Republicano convicto e adepto do positivismo, escreveu e publicou dezenas de
panfletos doutrinadores sob o título Biblioteca de Propaganda Democrática
(1886-1888) e prestou a sua colaboração em publicações de carácter
doutrinário e filosófico, como O Positivismo (1879-1882), chegando mesmo a
escrever, em 1884, uma obra que intitulou Uma Crítica Positivista. Foi director
e proprietário do periódico Os Debates (1888-1891).
A sua actividade de publicista levou a que em 1882 fosse eleito presidente da
comissão directora da Associação de Jornalistas e Escritores Portugueses. A
sua produção literária e jornalística granjeou-lhe grande popularidade, sendo
133
Manuel Bernardes (1644-1710) foi um presbítero da Congregação do Oratório de S. Felipe Neri, em
cuja tranquilidade claustral se recolheu até o fim de seus dias. Escreveu numerosas obras de
espiritualidade cristã, dentre as quais Luz e Calor (1696), Nova Floresta (5 Volumes, 1710, 1708, 1711,
1726, e 1728), Pão Partido em Pequeninos (1694), Exercícios Espirituais (1707), Os Últimos Fins do
Homem (1726), Armas da Castidade (1737), Sermões e Práticas (2 Volumes, 1711), e Estímulo Prático
para bem seguir o bem e fugir o mal (1730). Seus escritos caracterizam-se pela pureza da linguagem e
pelo profundo misticismo. É um dos maiores clássicos da prosa portuguesa.
134
Jean-François Champollion (Figeac, 23 de Dezembro de 1790 — Paris, 4 de Março de 1832) foi um
linguista e egiptólogo francês. Considerado o pai da egiptologia, a ele se deve a decifração dos hieróglifos
egípcios.
91
listado entre os autores mais populares num inquérito realizado em 1884 pelo
periódico O Imparcial de Coimbra.
Embora tenha mantido ao longo da sua vida uma intensa actividade política,
em particular na Câmara dos Deputados, Consiglieri Pedroso dedicou-se com
igual diligência ao estudo da etnografia e da mitografia, tendo dedicado a maior
parte da sua carreira académica ao estudo dos mitos e superstições populares,
de que deu conta em artigos eruditos, alguns dos quais traduzidos e publicados
em revistas francesas e inglesas. O mérito da sua investigação levou-o a ser
membro de várias agremiações científicas e culturais, entre as quais a
Sociedade de Geografia de Lisboa, de que foi vice-presidente (1900-1909) e
presidente (1909), e a ser eleito em 1905 como sócio efectivo da Academia de
Ciências de Lisboa. Entre as suas obras de cariz etnográfico, contam-se
Tradições Populares Portuguesas, Estudos de Mitografia Portuguesa,
Contribuições para Uma Mitologia Popular Portuguesa, Contos de Fadas e
Contos Populares Portugueses.
As recolhas que deram origem a Contos Populares Portugueses, obra que já
deu origem a múltiplas reedições espalhadas por mais de um século,
destinavam-se a um projecto científico que se converteria, por decisão do
autor, numa colectânea de contos populares destinada ao grande público. Com
contos coligidos directamente da tradição oral, sem qualquer retoque, tornou-se
um clássico, superando as obras similares até então publicadas,
nomeadamente as produzidas por Adolfo Coelho135, Teófilo Braga e Leite de
Vasconcelos. Quando considerada a autenticidade e a fidelidade dos
narradores de que se socorreu, na maior parte mulheres, que conservam e
transmitem mais pura e mais intacta a tradição, a obra compara-se com as
recolhas de Claude Perrault136, de Gaston Paris137 ou até dos irmãos Grimm138.
135
Francisco Adolfo Coelho (Coimbra, 15 de Janeiro de 1847 — Carcavelos, 9 de Fevereiro de 1919),
filólogo, escritor e pedagogo, autodidata, que foi uma das figuras mais importantes da intelectualidade
portuguesa dos finais do século XIX.
136
Claude Perrault (Paris, 25 de setembro de 1613 — Paris, 9 de outubro de 1688) foi um naturalista,
médico e arquitecto francês. Foi irmão de Charles Perrault, um escritor famoso por seus contos de fadas.
Desenhou a fachada nascente do Louvre, obra prima do barroco, assim como o observatório de Paris, o
arco de triunfo de Faubourg-St. Antoine, entre outros. Apesar da magistralidade que provou ter como
arquitecto, o seu curriculo é particularmente pequeno ao lado de outros arquitectos como Louis Le Vau ou
François Mansart, seus contemporâneos.
137
Bruno Paulin Gaston Paris (9 de agosto de 1839, Avenay — 5 de março de 1903, Cannes) foi um
escritor e erudito francês.
92
138
Os irmãos Grimm (em alemão Brüder Grimm ou Gebrüder Grimm), Jacob (4 de janeiro de 1785 – 20
de setembro de 1863) e Wilhelm (24 de fevereiro de 1786 – 16 de dezembro de 1859), foram dois
alemães que se dedicaram ao registro de várias fábulas infantis, ganhando assim grande notoriedade.
Também deram grandes contribuições à língua alemã com um dicionário (O Grande Dicionário Alemão -
Deutsches Wörterbuch) e estudos de lingüística e folclore.
139
Luís Gastão d'Escragnolle Dória (Rio de Janeiro, 31 de Janeiro de 1869 — Rio de Janeiro, 14 de
Janeiro de 1948) foi um professor, arquivista, compositor, libretista, publicista e escritor. Foi membro do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
93
140
Basílio Teles (Porto, 14 de Fevereiro de 1856 - 10 de Março de 1923) foi um professor e ensaísta
português
94
141
João Marcelino Arroio (Porto, 4 de Outubro de 1861 — Casas Novas, Colares, Sintra, 18 de Maio de
1930), mais conhecido por João Arroio ou João Arroyo, foi um intelectual, professor universitário e político
português, ligada ao meio artístico. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde se doutorou em
1884, ingressando seguidamente no corpo docente da Universidade, no qual foi professor catedrático. Foi
por diversas vezes deputado e ministro, distinguindo-se como orador brilhante e intelectual de grande
mérito, dedicando-se à composição musical. Foi eleito em 9 de Dezembro de 1892 sócio da Academia
Real das Ciências de Lisboa, na Classe de Letras.
142
Augusto César Barjona de Freitas (Coimbra (São Pedro), 13 de Janeiro de 1834 — Lisboa, 23 de
Julho de 1900) foi um jurista, professor de Direito, e político português ligado à esquerda do Partido
Regenerador. Foi deputado e ocupou por diversas vezes cargos ministeriais, tendo sido Ministro dos
Negócios Eclesiásticos e da Justiça em vários mandatos e Ministro do Reino entre 1883 e 1886. Nessas
funções liderou importantes reformas jurídicas, como a abolição da pena de morte e a reorganização
judicial e administrativa do país. Foi nomeado Par do Reino em 1876, tendo presidido à Câmara dos
Pares durante dois anos, e feito Conselheiro de Estado em 1885. Após a morte de Fontes Pereira de
Melo, Barjona de Freitas liderou a constituição da Esquerda Dinástica, agrupamento que representava a
facção mais liberal dos regeneradores.
95
Obra
Consiglieri Pedroso deixou uma vasta obra dispersa por dezenas de periódicos
portugueses, mas publicou a parte mais substancial da sua obra científica no
jornal O Positivismo, nela se incluindo análises de superstições populares e
mitografia. Alguns dos seus trabalhos foram reproduzidos em revistas
francesas e inglesas da especialidade. Entre as suas obras de carácter
monográfico contam-se:
• Um brado contra a pena de morte. Lisboa : 1874.
• História da Revolução Francesa de Ernest Hamel (tradução para português e prefácio
de Consiglieri Pedroso) (1875).
• O sufrágio universal ou a intervenção das classes trabalhadoras no governo do país.
Lisboa : 1876.
• A constituição da família primitiva : these para o concurso da primeira cadeira do Curso
Superior de Lettras : Historia Universal e Patria. Lisboa : Casa de Bragança, (1878).
• Sur quelques formes du mariage populaire en Portugal : contribution à connaissance de
l'état social des anciens habitants de la péninsule. Lisbonne : Tip. de l'Académie Royal des
Sciences, (1880).
• Contribuições para uma mythologia popular portugueza. Porto : Imprensa Commercial,
(1880).
• Compêndio de História Universal. Porto : 1881.
• Portuguese Folk-tales. London : 1882.
96
Nascido na Covilhã, filho de José Maria Moura Barata Feio e de Maria Rosa
Adelaide Terenas, o jovem Feio Terenas, após ter fundado na sua terra natal o
jornal feição socializante Eco Operário (1869), fixou residência em Coimbra. Aí
conviveu com algumas das figuras precursoras do pensamento positivista e
republicano em Portugal como Manuel Emídio Garcia, José Falcão143 e Abílio
Roque de Sá Barreto. Durante este período colaborou com variados órgãos da
imprensa local.
Republicano assumido, participou nas reuniões preparatórias da fundação do
Partido Republicano Português, em 1873, ao lado de Latino Coelho, Elias
Garcia, Oliveira Marreca e Bernardino Pinheiro. Em 1876 esteve na criação do
primeiro diretório do Partido Republicano, tornando-se figura preponderante do
Centro Republicano de Coimbra.
Feio Terenas mudou-se para Lisboa em 1880, por altura das comemorações
do tricentenário de Camões, tendo sido um dos participantes na primeira
Associação de Jornalistas e Escritores. Em 1881, foi nomeado bibliotecário-
geral das Bibliotecas Municipais de Lisboa, integrando, também, a direção do
Centro Federal de Lisboa. Em 1887 foi um dos responsáveis pela organização
do Congresso Republicano, realizado em Lisboa, quando foi eleito membro do
diretório.
Com os acontecimentos provocados pela revolta de 31 de janeiro de 1891,
passou a desempenhar funções na Junta Departamental do Sul, a que presidiu.
Exerceu ainda funções como vogal na Junta Geral do Distrito de Lisboa e foi
eleito deputado em 1908, pelo círculo de Setúbal, sendo reeleito em 1910.
Após a implantação da República Portuguesa foi deputado à Assembleia
Nacional Constituinte, integrando o Senado entre 1911 e 1915.
Iniciado na Maçonaria em Coimbra, com o nome simbólico de Vítor Hugo,
integrou os quadros das lojas "Federação" e "Perseverança". Mais tarde,
integrou as lojas "Simpatia" e "Elias Garcia", de Lisboa, onde foi eleito
venerável. Em 1901 atingiu o grau 33 do Rito Escocês e a partir de 1903
integrou o Supremo Conselho. Foi um dos principais organizadores dos
143
José Joaquim Pereira Falcão (Miranda do Corvo, 1 de Junho de 1841 — Coimbra, 14 de Janeiro de
1893), mais conhecido por José Falcão, foi um professor de Matemática na Universidade de Coimbra e
político republicano.
99
Eusébio Leão
Em termos políticos o Sabugal era, nos finais do século XIX, uma terra
interessante, pois sendo um concelho conservador, isolado, quase mais perto
de Espanha do que de Portugal, tinha vida e dinamismo político. E são alguns
factos, por vezes aparentemente contraditórios, da sua vida política que nos
permitem entender esta sociedade pacata, agrícola e profundamente católica, a
viver de mãos dadas com as novidades vindas dos grandes centros urbanos,
102
Guarda, apresentou uma proposta de lei que visava a extinção das sociedades
secretas na Assembleia Nacional. Curiosamente o seu presidente era o Dr.
José Alberto dos Reis, natural do distrito da Guarda, e também ele maçon. A
Maçonaria só irá ressurgir após o 25 de Abril de 1974.
O Club Maçónico
No Sabugal, surpreendentemente, a sua implantação começou muito cedo. A
primeira loja de que há conhecimento foi instalada em 1830. E tinha um nome
curioso e muito pouco vulgar: Clube Maçónico. Era de obediência
desconhecida, como aliás eram, e são, muitos outros aspectos ligados à
Maçonaria.
As sessões da Loja do Sabugal decorriam, pelo menos algumas decorreram,
em casa de João de Campos Pereira Barreto.
E de onde teria vindo, tão cedo, essa ligação à Maçonaria se não era uma zona
portuária nem tinha grandes aquartelamentos militares? Na Guarda só se
conhece uma loja em 1843, data que corresponde à sua extinção, e mais tarde,
de uma outra instalada em 1859/60, a loja Fraternidade, do Grande Oriente
Lusitano II. Mas havia também figuras ligadas ao Sabugal mas que não
pertenciam a lojas aqui estabelecidas. Francisco Saraiva da Costa Refóios é
um desses exemplos. Nasceu na Guarda e morreu em Lisboa. Em 1835 foi
feito primeiro, e único, barão de Ruivós, onde tinha muitas propriedades.
Maçom muito conhecido e influente na região da Guarda pertenceu à loja 11 de
Agosto de 1829. Era um liberal, mas radical, que foi presidente dos “Camilos”,
nome por que era conhecida a Sociedade Patriótica Lisbonense. Foi eleito
deputado em 1834 e nomeado Par do Reino em 1836.
- Boaventura…, Clérigo;
- Bernardo António de Póvoas, oficial de ordenanças. Familiar do general
miguelista Álvaro Xavier da Fonseca Coutinho e Póvoas, natural da Guarda;
- Francisco António da Costa Quintela, escrivão. Era irmão de Joaquim
Quintela pai do proprietário dos famosos Armazéns do Chiado na Guarda;
- Jerónimo de Magalhães e Vasconcelos, Magistrado;
- João de Campos Pereira Barreto. Familiar da maçona Carolina Beatriz
Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal. Figura de grande destaque
exerceu a advocacia no Sabugal e foi Juiz em de Fora em várias localidades.
Foi desterrado e preso por diversas vezes. Entre outras razões era acusado de
não ter querido batizar os filhos, o que se provou não ser verdade. Os
documentos que comprovam os baptismos foram assinados pelo abade do
Sabugal, padre João de Paiva;
- João Fernandes de Barros, …;
- João Henriques de Almeida Gatinho, funcionário Público;
-José dos Reis Chorão do Amaral, advogado famoso, foi das pessoas que mais
foram perseguidas pelas suas ideias políticas. Quando morreu foi
acompanhado por seu irmão, o padre Manuel Martins Chorão, disfarçado de
camponês;
- Joaquim da Silva Sardinha, clérigo e professor;
- José Alexandre Campos Almeida, foi um dos maçons de maior relevo do seu
tempo. Nasceu no Sabugal em 1794, e formou-se em Coimbra de cuja
Universidade veio a ser Lente e posteriormente Vice-Reitor. Foi ministro,
deputado e presidente da Câmara dos Deputados. Pertenceu à loja Sabugal e
à loja Urbiónia, Coimbra (1834-1836), onde chegou a ter o cargo de
“Venerável”;
- José António Marques, proprietário;
- José Maximino da Silva Azevedo, advogado e Presidente da Câmara
Municipal do Sabugal;
- José Rodrigues Pimentel, clérigo;
- Júlio António Vieira, oficial de Milícias;
- Manuel Bigotte, filho de um alfaiate, seguiu a mesma profissão. Mas homem
de visão, chegou a ser presidente da Câmara Municipal do Sabugal,
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Bibliografia
A BARRACA DA CARBONÁRIA. Carbonária. http://abarracada
carbonaria.blogspot.com/
com/index.php?progoption=news&do=shownew&newid=3873