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Restauração da

Independência

Antecedentes
D. Sebastião, um rei jovem e
aventureiro, habituado a ouvir as façanhas
das cruzadas e histórias de conquistas além-
mar, quis conquistar o Norte de África na
sua luta contra os mouros. Na batalha de
Alcácer Quibir no Norte de África, os
portugueses foram derrotados e ele
desapareceu. E os guerreiros diziam cada
um a sua história. O desaparecimento de D.
Sebastião (1557-1578) na batalha de
Alcácer-Quibir, apesar da sucessão do
Cardeal D. Henrique (1578-1580), deu
origem a uma crise dinástica.
Nas Cortes de Tomar de 1581, Filipe
II de Espanha é aclamado rei, jurando os
foros, privilégios e mais franquias do Reino
de Portugal. Durante seis décadas Portugal
partilhou o Rei com Espanha, sob o que se
tem designado por "domínio filipino".
Com o primeiro dos Filipes (I de
Portugal, II de Espanha), não foi atingida de
forma grave a autonomia política e
administrativa do Reino de Portugal. Com
Filipe III de Espanha e II de Portugal, porém,
começam os atos de desrespeito ao
juramento de Filipe II em Tomar. Em 1610,
surgiu um primeiro sinal de revolta
portuguesa contra o centralismo
castelhano, na recusa dos regimentos de
Lisboa a obedecer ao marquês San-

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Germano que, de Madrid, fora enviado para
comandar um exército português.
No início do reinado de Filipe III de
Portugal (IV de Espanha), ao estabelecer-se
em Madrid uma política centralista,
pensada pelo Conde-duque de Olivares e
cujo projeto visava a anulação da
autonomia portuguesa, absorvendo por
completo o reino de Portugal. Na
Instrucción sobre el gobierno de España,
que o Conde-Duque de Olivares apresentou
ao rei Filipe IV, em 1625, tratava-se do
planeamento e da execução da fase final da
sua absorção, indicando três caminhos:
1º - Realizar uma cuidadosa
política de casamentos, para confundir e
unificar os vassalos de Portugal e de
Espanha;
2º - Ir o rei Filipe IV fazer corte
temporária em Lisboa;
3º - Abandonar definitivamente a
letra e o espírito dos capítulos das Cortes de
Tomar (1581), que colocava na
dependência do Governo autónomo de
Portugal os portugueses admitidos nos
cargos militares e administrativos do Reino
e do Ultramar (Oriente, África e Brasil),
passando estes a ser Vice-reis,

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Embaixadores e oficiais palatinos de
Espanha.
A política de casamentos seria talvez
a mais difícil de concretizar, conseguindo-se
ainda assim o casamento de Dona Luísa de
Gusmão com o Duque de Bragança, a
pensar que dele sairiam frutos de confusão
e de unificação entre Portugal e Espanha. O
resultado veio a ser bem o contrário.
A reação à política fiscal de Filipe IV
vai ajudar no processo que conduz à
Restauração de 1640. Logo em 1628, surge
no Porto o "Motim das Maçarocas", contra
o imposto do linho fiado. Mas vão ser as
"Alterações de Évora", em agosto de 1637,
o abrir definitivamente do caminho à
Revolução.
Através das "Alterações de Évora", o
povo dessa cidade tencionava deixar de
obedecer aos fidalgos subjugados ao reino
castelhano e desrespeitava o arcebispo a
ele afeto. A elevação do imposto do real de
água e a sua generalização a todo o Reino
de Portugal, bem como o aumento das
antigas sisas, fez subir a indignação geral,
explodindo em protestos e violências. O
contágio do seu exemplo atingiu quase de
imediato Sousel e Crato; depois, as revoltas
propagaram-se a Santarém, Tancos,
Abrantes, Vila Viçosa, Porto, Viana do

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Castelo, a várias vilas do Algarve, a
Bragança e à Beira.
Em 7 de Junho de 1640 surgia
também a revolta da Catalunha contra o
mesmo centralismo do Conde-Duque de
Olivares. O próprio Filipe IV manda
apresentar-se em Madrid o duque de
Bragança, para o acompanhar à Catalunha
e cooperar no movimento de repressão a
que ia proceder. O duque de Bragança
recusou-se a obedecer a Filipe IV. Muitos
nobres portugueses receberam semelhante
convocatória, recusando-se também a
obedecer a Madrid.
Sob o poder de Filipe III, o
desrespeito pelo juramento de Tomar
(1581) tinha-se tornado insuportável:
nomeados nobres espanhóis para lugares
de chefia militar em Portugal; feito o
arrolamento militar para guerra da
Catalunha; lançados novos impostos sem a
autorização das Cortes. Isto enquanto a
população empobrecia; os burgueses eram
afetados nos seus interesses comerciais; e o
Império Português era ameaçado por
ingleses e holandeses perante a impotência
ou desinteresse da coroa filipina.
Portugal achava-se envolvido nas
controvérsias europeias que a coroa filipina
estava a atravessar, com muitos riscos para

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a manutenção dos territórios coloniais, com
grandes perdas para os ingleses e,
principalmente, para os holandeses em
África (São Jorge da Mina, em 1637), no
Oriente (Ormuz, em 1622 e o Japão, em
1639) e fundamentalmente no Brasil (São
Salvador da Bahia, em 1624; Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e
Sergipe desde 1630).
Em 12 de outubro de 1640, em casa
de D. Antão de Almada, hoje Palácio da
Independência, reuniram-se D. Miguel de
Almeida, Francisco de Melo e seu irmão
Jorge de Melo, Pedro de Mendonça
Furtado, António de Saldanha e João Pinto
Ribeiro. Decidiu-se então ir chamar o Duque
de Bragança a Vila Viçosa para que este
assumisse o seu dever de defesa da
autonomia portuguesa, assumindo o
Ceptro e a Coroa de Portugal.

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No dia 1 de dezembro do mesmo
ano de 1640, eclodiu por fim em Lisboa a
revolta, imediatamente apoiada por muitas
comunidades urbanas e concelhos rurais de
todo o país, levando à instauração no trono
de Portugal da Casa de Bragança, dando o
poder reinante a D. João IV.

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