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Nos finais do século XIX, Portugal continuava a ser um país predominantemente agrícola. As
importações continuavam a aumentar em relação às exportações (balança comercial deficitária) pois a
produção industrial nacional não se tornou competitiva em termos de qualidade e quantidade. Para
contrariar esta situação económica, o Estado recorria ao aumento dos impostos ou pedia novos
empréstimos para pagar os anteriores.
Na década de 1890, uma grave crise económica e financeira atingiu a Europa, atingindo Portugal com
intensidade, levando bancos e empresas à falência. As dificuldades económicas originaram um
crescente descontentamento social:
- a classe média (pequena e média burguesia) confrontava-se com o aumento dos impostos, a
inflação e a ameaça de desemprego pois as suas pequenas e médias empresas enfrentavam
graves dificuldades;
- o operariado, além de problemas semelhantes, lidava com os baixos salários e com horas
excessivas de trabalho.
Junto com estes motivos aparecia o ultimato inglês o que fazia crescer o descontentamento da
população face à monarquia. O Ultimato consistiu num telegrama enviado ao governo português pelas
autoridades inglesas, a 11 de janeiro de 1890. A missiva exigia a retirada imediata das forças militares
portuguesas mobilizadas nos territórios entre Angola e Moçambique. Esses territórios correspondem
aos atuais Zimbabwe e Malawi. Caso a exigência não fosse acarretada por Portugal, a Inglaterra
avançaria com uma intervenção militar.
Portugal era uma Monarquia Constitucional em que os dois partidos monárquicos (Regenerador e
Progressista) se alternavam no poder de acordo com os resultados eleitorais – rotatividade. Em 1875,
foi fundado o Partido Socialista dirigido pela classe operária. Em 1876, surgiu o Partido Republicano
Português que tinha como objectivo o derrube da Monarquia e a implantação da República. Este Partido
defendia o progresso, a liberdade e a justiça; era constituído por intelectuais, profissionais liberais,
comerciantes, industriais, funcionários e proletariado urbano. Entre os seus fundadores destacou-se
Teófilo Braga.
D. Manuel II, com 18 anos, sobe ao trono e demite João Franco, (acusado de ter fomentado revoltas
com as suas ações), formou um governo com representantes de todos os partidos monárquicos e
actuou de forma tolerante e branda. De 1908 a 1910 a monarquia foi incapaz de resolver a grave crise
do reino e Portugal conheceu seis governos.
Os escândalos políticos, muitas vezes exagerados pela imprensa, tornaram inevitável a queda da
Monarquia, por isso a 4 de Outubro de 1910 iniciou-se a revolução. A revolução seguiu um plano pré
estabelecido e contou com a ajuda de militares e civis pertencentes à classe média, à pequena
burguesia e ao operariado e com o apoio do Partido Republicano, da Maçonaria (sociedade inspirada
pelo Movimento das Luzes) e da Carbonária (sociedade secreta que apoiava a luta contra a Monarquia).
Os revoltos republicanos concentraram-se na Rotunda, em Lisboa.
Depois da proclamação da República, foi constituído um Governo Provisório, chefiado por Teófilo Braga,
que tinha como função realizar uma nova constituição, preparar as eleições e chefiar o país até esta ser
aprovada. A Assembleia Constituinte elabora a Constituição de 1911 e elege Manuel de Arriaga como
primeiro presidente da República Constitucional. A 21 de Agosto de 1911, a Constituição Republicana
foi aprovada. Esta adotava o sistema liberal de divisão e independência dos três poderes (executivo,
legislativo, judicial) e estabelecia um regime democrático parlamentar (o poder legislativo era superior
ao poder executivo).
Das medidas tomadas pelo Governo Provisório destacam-se as que marcaram a diferença entre o velho
e o novo regime: uma nova bandeira, um novo hino (A Portuguesa) e uma nova moeda (o Escudo).
REALIZAÇÕES DA I REPÚBLICA
A nível económico:
Agricultura — maior mecanização e maior utlização de adubos; apesar disso a agricultura permaneceu
atrasada.
Indústria — desenvolvimento do sector têxtil, moagem, metalurgia, conservas, cortiça, química e
cimentos.
Transporte — desenvolvimento das vias de comunicação, nomeadamente dos caminhos-de-ferro, e
meios de comunicação como automóveis, camionetas e camiões.
A economia permaneceu atrasada, foram feitas diversas tentativas para pôr fim ao défice das contas
públicas, sem grandes resultados. Só em 1913, Afonso Costa consegue que as contas públicas
apresentassem um saldo positivo, graças a um conjunto de medidas das quais se destacou uma forte
restrição nas despesas.
A nível social:
- publicaram-se leis que contemplavam a igualdade de direitos dos cônjuges e entre filhos
legítimos e ilegítimos;
- institui-se o divórcio;
- foram reconhecidos o direito à greve (legislação publicada ainda em 1910) e à proteção na
doença e na velhice;
- o horário de trabalho semanal foi fixado em 48 horas para a maioria dos trabalhos e em 42 horas
para os empregados de escritório e bancários;
- reconheceu-se a igualdade de direitos da mulher.
A laicização do Estado:
- lei da separação da Igreja do Estado (o estado passa a ser neutro em matéria religiosa);
- expulsão das ordens religiosas;
- nacionalização dos bens da Igreja;
- proibição do ensino religioso nas escolas oficiais;
- legalização do divórcio;
- criação de um registo civil obrigatório de nascimentos, casamentos, óbitos (tarefa feita apenas
pela Igreja e agora apenas da responsabilidade do Estado).
A Primeira República ficou marcada pela instabilidade política e governativa (45 governos, 8 eleições
presidenciais/ 9 presidentes e 9 eleições legislativas em 16 anos), por problemas económico-financeiros
e pelo descontentamento social, agravados com a participação de Portugal na I Guerra Mundial (1916).
A participação do país na guerra, com o envio do Corpo Expedicionário (CEP), não teve consenso de
todos os quadrantes políticos, o que acentuou as divisões entre o Partido Democrático, de Afonso
Costa, o Partido Unionista, de Brito Camacho, e o Partido Evolucionista, de António José de Almeida,
apesar de a entrada do país para a guerra ser uma forma da I República adquirir reconhecimento
internacional.
Os governos não permaneciam tempo suficiente no poder e não era possível implementar políticas
governativas com vista a solucionar problemas. Assistiu-se a golpes militares e à sublevação
monárquica com vista a afastar o Partido Democrático de Afonso Costa do poder.
O período de recuperação pós-guerra passou por uma crise grave e foram várias as formas de os
países lidarem coma situação. O crescente apoio a soluções autoritárias foi resultado do medo da
agitação revolucionária de inspiração bolchevique e do clima de insegurança que pairava pela Europa,
como forma de conter as vagas revolucionárias e a agitação social. Esta situação permitiu a ascenção
de novas ideologias políticas de carácter conservador, autoritário e nacionalista.
Como fatores que levaram à ascensão dos estados autoritários, podemos destacar:
Os valores defendidos pela República divergia daquilo que os conservadores e autoritários apoiavam,
uma vez que estes apoiavam valores tradicionais, particularmente os valores de ordem social, cultural e
religiosa estabelecida. Opunham-se, assim, à mudança.
A solução que pareia viável a Portugal, depois de uma grande instabilidade política e a grave crise que
afetava fortemente a população, era a revolta militar. O Parlamento foi dissolvido, a Constituição
suspensa e as liberdades restringidas. A ditadura militar instaurou-se.