Você está na página 1de 3

As transformações do regime político na viragem do século

Os problemas da sociedade portuguesa e a contestação da monarquia


A crescente massa urbana aliada aos progressos da instrução e a proliferação dos
jornais contribuíram para a formação da opinião pública, força poderosa que os
governos passaram a ter em conta e que desempenhou nas últimas décadas da
monarquia um papel primordial.

A crise político-social e a emergência das ideias republicanas


O rotativismo partidário português, fruto da Regeneração, parecia não dar resposta à
crise financeira. As rivalidades ente os dois partidos originaram duras críticas ao
Governo e o rei era visto na opinião pública como o culpado dos males que afligiam o
país. A debilidade económica fazia-se sentir e dos campos, saíam milhares de
emigrantes. O operariado miserável, pobremente alojado e alimentado, era
analfabeto e as classes médias olhavam com dificuldade os baixos salários face ao
seu estatuto que lhes dava uma vida digna. Com excepção da alta burguesia ligada ao
poder político, estas classes sociais viviam um descontentamento geral e eram
receptivos face aos projectos de mudança. O Partido Republicano viu nesta situação
uma oportunidade de se afirmar. Efectuou diversas críticas violentas ao rei e aos seus
governos e emancipava um patriotismo português forte, que originou a sua
crescente adesão.

A questão colonial e o Ultimato Britânico


Um dos assuntos que mais interessava à opinião pública era a questão das colónias. Em
1881, a Sociedade de Geografia de Lisboa elaborou um projecto que visava a ligação de
Angola com Moçambique, ficando conhecido por “Mapa Cor-de-Rosa”. Face a estas
pretensões africanas, Portugal recebeu um Ultimatum britânico, pois a Grã- Bretanha
pretendia ligar numa faixa contínua o seu território do Cabo ao Cairo. Ameaçando o
corte diplomático, Portugal aceitou as exigências britânicas e abandonou o projecto,
dando origem a diversas contestações face ao Governo que deram origem à primeira
tentativa de derrube da monarquia no Porto a 31 de Janeiro de 1891, que acabou por
fracassar.

Do reforço do poder à implantação da república


A revolução fracassada do Proto fez ver que o estado político do país estava muito débil
e que era necessário um poder forte e seguro capaz de dar volta à situação. Assistiu-se a
um contorno do republicanismo e a um clima propício ao reforço do poder real. D. Carlos
dispôs-se então a realizar diversas reformas à muito esperadas e em 1906, nomeia o
chefe de Governo João Franco. Franco viu-se nos braços de uma sistemática obstrução
do Parlamento, agitado por escândalos financeiros e pela agressividade dos partidos da
oposição. Desta forma, D. Carlos dissolveu o Parlamento e João Franco governou em
ditadura. A repressão abateu-se de tal forma que levou ao assassinato do rei e do
príncipe herdeiro a 1 de Fevereiro de 1908. Apesar do sucessor, D. Manuel, tentar
governar num clima de transigência e compromisso, a revolta republicana prosperou e a
5 de Outubro de 1910 foi proclamada a primeira república portuguesa.

A primeira República
21 de Agosto de 1911: Aprovação da Constituição Política da República Portuguesa.
24 de Agosto de 1911: Eleição de Manuel de Arriaga como primeiro presidente da
República Portuguesa.

O sistema parlamentar
O poder legislativo pertencia ao Congresso da República, composto por duas câmaras- a
dos Deputados e o Senado- ambas eleitas por sufrágio directo e universal, com restrições
(Eleitores: todos os portugueses com mais de 21 anos, com a condição de saberem ler e
escrever ou de serem chefes de família). O predomínio do poder legislativo expressava-se
nas vastas competências do Congresso a quem cabia a legislação geral, assim como muitas
matérias que dependia o exercício regular do Governo e da Administração Pública. Já o
presidente, eleito de 4 em 4 anos, promulgava de forma automática, as leis aprovadas. Pelo
contrário, era ao Parlamento que cabia o controla das acções do Governo e do Presidente,
o que contribuiu para uma enorme instabilidade governativa. Palco de encarniçadas lutas
políticas, o Congresso obstruía de forma quase sistemática, a acção dos governos que,
constantemente substituídos, não dispunham de tempo nem de autoridade para
concretizarem as suas tarefas.

A concretização do Ideário Republicano


Principais medidas implementas legislativamente:
- Com vista à pretendida igualdade social, foram abolidos os privilégios de nascimento,
títulos nobiliárquicos e até as ordens honoríficas;
- Dando cumprimento ao laicismo e anticlericalismo, promulgou-se a Lei da Separação do
Estado e das Igrejas (1911): o casamento foi definido como um contracto puramente
civil, suscetível de ser dissolvido pelo divórcio e foi implementado o Registo Civil
obrigatório. Nacionalizaram-se os bens da Igreja, expulsara-se as ordens religiosas e
laicizou-se todo o ensino;
- No plano da justiça social, foi reconhecendo o direito à greve, regulamentou-se o horário
de trabalho e institui-se o descanso obrigatório aos domingos para todos os assalariados.
Em 1916, surgiu o Ministério do trabalho e Previdência Social, tendo-se investido nas
áreas da Habitação Social, da saúde e da assistência;
- A nível do ensino público, foi reiterada a obrigatoriedade e gratuitidade do ensino
primário, reforçando-se os meios da sua efetivação coma criação de escolas e um
programa de formação de professores e renovou-se o ensino técnico e universitário.

Você também pode gostar