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CRISE E QUEDA DA MONARQUIA

CONSTITUCIONAL

➔ As dificuldades econômicas e a instabilidade política


Durante a segunda metade do séc.XIX, os governos portugueses
investiram em infraestruturas, com o objetivo de
criar condições para o desenvolvimento da indústria
e do comércio. Este projeto foi realizado com
recurso a empréstimos estrangeiros, que
acabaram por acentuar o défice das contas
públicas. Apesar dos incentivos criados pelo
governo, a indústria portuguesa mantinha um
desenvolvimento lento, que colocava a balança
comercial dependente de exportação estrangeira e,
por consequência, deficitária.

No início do séc. XX, a grande maioria da população


portuguesa dedicava-se à agricultura de subsistência
não retirando daí grande proveito econômico, já que
a terra continuava a ser trabalhada com métodos
artesanais sem recurso à mecanização, Às cidades
acorriam os camponeses, da periferia de Lisboa, que
aí vendiam os produtos das suas hortas

A já frágil situação económica do país foi agravada pelas


consequências da crise económica que afetou a Europa (na década
de 90, do séc.XIX) que aumentou o desemprego e a inflação. A solução
para este desequilíbrio financeiro passou por um agravamento dos
impostos que encontrou grande resistência junto da população,
nomeadamente a classe operária, que demonstrava impaciência e
denunciava a monarquia e a ineficácia dos seus governantes.
Em simultâneo, veio a público um escândalo que envolvia
membros da família real, a quem eram emprestadas avultadas somas
de dinheiro que fez com que o movimento republicano desacreditasse
na monarquia.

Foi neste ambiente de insatisfação que o republicanismo reforçou a


sua ação e começou a ganhar expressão no país.

Os princípios fundamentais defendidos pelos republicanos eram:

● a abolição da monarquia e a implantação da república;


● a separação da igreja e do estado (laicização do estado);
● a igualdade de todos os cidadãos perante a lei;
● o sufrágio universal;
● o liberalismo económico;
● nacionalismo e colonialismo.

Em 1879, fundou-se o Partido Republicano Português que,


aproveitando a liberdade de imprensa, passou a desenvolver
campanhas contra o regime monárquico, contando, na sua base de
apoio, com a média burguesia e o operariado urbano.

Conceitos e vocabulário
Republicanismo- ideologia política que tinha como objetivo abolir o regime
monárquico hereditário, substituindo-o por um regime à frente passava a
estar um presidente eleito por um período de tempo limitado

Partido político- conjunto de pessoas que organizaram para a defesa de


uma determinada ideologia e que desejam participar no poder.

➔ O ultimato e o fim da monarquia


O orgulho nacional, bastante enfraquecido, ficou ainda mais abalado
com a cedência do governo monárquico ao
Ultimato inglês, na sequência de
apresentação do mapa-cor-de-rosa. O
Partido Republicano, entretanto reforçado
por associações secretas, como a Maçonaria
e a Carbonária, aproveitou o desconforto
provocado pela cedência de Portugal aos
ingleses para intensificar a propaganda
antimonárquica e organizar manifestações
contra a monarquia.

➔ Da ditadura de João Franco ao regicídio

A primeira ameaça organizada ao regime monárquico foi a revolta


de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, facilmente controlada pelas
forças leais ao rei. Face aos acontecimentos, o monarca dissolveu o
Parlamento e entregou, em 1906, a chefia do governo a João
Franco, que passou a dirigir o país de forma ditatorial. Os opositores do
regime foram condenados ao exílio nas colônias e a liberdade de
imprensa foi limitada pela censura.

A dureza das medidas tomadas por João Franco acabou por


radicalizar a oposição e conduzir ao regicídio. Este acontecimento teve
consequências trágicas para D.Carlos e para o seu filho, que foram
assassinados por dois republicanos extremistas, em fevereiro de
1908. O trono foi ocupado pelo seu filho mais novo, D.Manuel, que
demitiu João Franco e restabeleceu as instituições democráticas. A
monarquia não conseguiu recuperar a credibilidade perdida nem o apoio
da população.

➔ A revolução republicana
No dia 4 de outubro de 1910, em Lisboa, um movimento de
militares revoltosos, apoiados pela Maçonaria, pela Carbonária e
pela população em geral, saiu para as ruas com o objetivo de
derrubar a monarquia. Militares e civis concentraram-se na Rotunda
enquanto, sob o comando de Machado dos Santos, alguns navios, que
estavam no rio Tejo, começaram a bombardear o Palácio das
Necessidades. Com isso, o rei D.Manuel II e a sua família abandonaram
a cidade e exilaram-se no estrageiro. Sem encontrar grande resistência
por parte das forças monárquicas, a 5 de outubro, na varanda da
câmara municipal de Lisboa, foi proclamado um novo regime político- a
República

Estabelecida a República, formou-se um governo provisório à


frente do qual Teófilo Braga, que elaborou as primeiras leis e
preparou as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte. O
primeiro Presidente da República portuguesa foi Manuel de
Arriaga.

REALIZAÇÕES E DIFICULDADES DA
AÇÃO GOVERNATIVA DA
1ªREPÚBLICA

➔ A constituição de 1911

As primeiras eleições foram em 1911. Após a legitimação do


governo, uma das primeiras medidas dos deputados foi a redação
de um novo texto constitucional que refletisse os ideais do
republicanismo, nomeadamente ao nível da distribuição dos poderes e
da definição do tipo de voto. - a Constituição de 1911.

Título II
Título III

Desde 1822 que Portugal se regia por textos constitucionais que foram
sofrendo alterações na sequência das transformações políticas do país.
É disso exemplo a Carta Constitucional de 1826, que esteve em vigor
praticamente durante toda a monarquia constitucional.
Mas a Constituição de 1911 determinou um corte com o modo de
funcionamento do poder estabelecido na Carta Constitucional de 1826.

Carta Constitucional de Carta Constitucional de 1911


1826
Soberania Rei Nação, representada pelo
presidente da república, o
Parlamento e os tribunais

Distribuição Separação dos poderes Separação dos poderes


do poder organizados da seguinte organizados da seguinte
forma: forma:
Poder moderador- dava ao rei Poder executivo- Presidente da
o poder de intervir nos outros República e Governo
poderes. Poder legislativo- Parlamento
Poder executivo- Rei e Poder Judicial- Tribunais
governo
Poder legislativo- Parlamento
Poder judicial- Tribunais

Acesso ao Sufrágio indireto (Os Sufrágio direto estendido aos


voto deputados não eram eleitos chefes de família (embora não
diretamente pelos cidadãos fosse universal, isto é, os
com direito a voto) e analfabetos e as mulheres não
censitário (só tinham acesso a tinham acesso a votos.
voto os cidadãos com um
rendimento acima de um
determinado valor).

➔ A ação dos governos republicanos

Logo nos primeiros anos de governação, os republicanos lançaram um


conjunto de medidas que confirmavam os seus ideais e que tiveram um
forte impacto na sociedade de então. Desse conjunto e medidas
destacam-se:

● a laicização do Estado- a expulsão das ordens religiosas e


nacionalização dos seus bens; a proibição do ensino religioso nas
escolas públicas
● medidas financeiras- forte controlo e restrição nas despesas
bem como outras medidas para conter o défice das contas
públicas;
● medidas sociais- reconhecido o direito à greve, instituído o
descanso semanal obrigatório, limitado o horário de e fixada a
semana laboral de 48 horas. Foi criado um seguro social
obrigatório, que protegia o trabalhador na doença e na velhice, foi
instituída a igualdade entre filhos legítimos e ilegítimos e publicada
legislação que contemplava a igualdade de direitos entre os
cônjuges; a criação do registo civil obrigatório e a legalização do
divórcio;
● a reforma do ensino- introduzida a escolaridade obrigatória e
gratuita entre os 7 e os 12 anos; criaram-se jardins-escola e novas
escolas primárias, fundaram-se as Universidades de Lisboa e do
Porto e foram realizadas reformas no ensino técnico.

Este conjunto de medidas provocou, em alguns setores da


sociedade, um profundo desconforto, que se traduziu num
aumento da pressão sobre o regime republicano. problemas com os
quais os governos republicanos tiveram de lidar e contribuíram para o
descrédito do regime:

● o forte ataque à igreja, num país de esmagadora maioria


católica;
● o parlamentarismo, instituído pela Constituição de 1911, impedia
a estabilidade governativa; como nenhum partido atingia a maioria
no Congresso, dificilmente conseguiam aprovar as suas leis e, por
isso, os governos não chegavam a pôr em prática os seus
programas; para tentarem inverter a situação, formavam-se
governos de coligação que eram facilmente derrubados pelas
forças da oposição;
● O Partido Republicano Português (PRP) fragmentou-se,
originando novos partidos que se lhe opunham.

Durante a 1ª República houve várias tentativas (1911,1912 e 1918)


para restaurar a monarquia, todas elas da responsabilidade de Paiva
Couceiro. A última dessas tentativas, da responsabilidade dos
monárquicos exilados no Norte de Portugal e na Galiza, culminou com a
proclamação da monarquia durante 25 dias, tendo ficado conhecida por
Monarquia do Norte. Apesar de fugazes, estas tentativas contra
revolucionárias não deixaram de causar instabilidade ao regime
republicano.

O FIM DA 1ª REPÚBLICA

➔ O agravamento da conjuntura política, económico-


financeira e social

A participação de Portugal na 1ª Grande Guerra, quatro anos após


a instauração do novo regime republicano, comprometeu a
estabilidade política, a recuperação económica e agravou o
descontentamento popular. No entanto, o envolvimento português na
guerra revelou-se fundamental quando, no final do conflito, Portugal
teve assento nas negociações de paz, ao lado dos vencedores, e pôde
assim garantir os seus direitos sobre as colónias.

Ao longo dos anos e de várias tentativas para suster a


degradação económica e financeira do país, a República não foi
capaz de equilibrar a balança comercial, permanentemente
deficitária. Com constantes mudanças de governo e com as
despesas aumentadas na guerra, as condições de vida das
populações deterioraram-se: os salários não acompanhavam a inflação
e a perda de poder de compra era real; o escudo desvalorizava cada
vez mais e os empréstimos contraídos por Portugal, no estrangeiro,
acumulavam-se. A população tentava procurar melhores condições de
vida na Europa e América.
➔ As tentativas de derrube do regime republicano- de
Sidónio Pais à ditadura militar

Em 1917, um golpe militar, comandado pelo major Sidónio Pais,


conduziu o país a uma ditadura conhecida por Sidonismo, que só
terminou com o seu assassinato, um ano depois.

Perante a desordem interna e a inquietação social, que se traduzia em


manifestações, greves, distúrbios, atentados e conspirações, vastos
setores de sociedade defendiam a existência de um governo forte e
capaz de restabelecer a ordem. O patronato e outros grupos
conservadores apoiavam qualquer governo que impedisse o país de
entrar num ambiente de convulsão social, idêntico ao que ocorrera na
Rússia, com a revolução soviética.

Em 28 de maio de 1926, militares, chefiados pelo general Gomes


da Costa, levaram por diante um golpe militar que pôs fim à 1ª
República e instaurou uma ditadura militar. O Parlamento suspendeu
as suas funções e foram restringidas as liberdades individuais. O
governo passou para as mãos dos militares, que, até 1933, assumiram
o controlo do país de forma ditatorial.

Conceitos e vocabulário
ditadura militar- regime político em que as Forças Armadas
concentram em si, pelo uso da força ou da intimidação, todos os
poderes do Estado

Datas importantes:
1879 - fundou-se o Partido Republicano Português

31 de Janeiro de 1891, no Porto - 1ª Revolta

1906 - D.Carlos dissolveu o parlamento e entregou a chefia a João


Franco
fevereiro de 1908 - Assassinato de D.Carlos e do seu filho princepe
herdeiro

4 de outubro de 1910, em Lisboa - Revolução republicana

5 de outubro, na varanda da câmara municipal de Lisboa - foi


proclamado um novo regime político- a República

1911 - Constituição de 1911

1917 - golpe militar, comandado pelo major Sidónio Pais

28 de maio de 1926 - militares, chefiados pelo general Gomes da


Costa, levaram por diante um golpe militar que pôs fim à 1ª República e
instaurou uma ditadura militar.

Até 1933 - O governo passou para as mãos dos militares que, até 1933,
assumiram o controlo do país de forma ditatorial.

Protagonistas da História
Afonso Costa - Ministro da Justiça Responsável pela lei da separação
da igreja e do Estado-

Rafael Bordalo Pinheiro - Pintor e caricaturista

Sidónio Pais - Presidente da República responsável pelo golpe militar


de 1917

Manuel da Arriaga - Primeiro Presidente da República Portuguesa

D.Carlos I - Rei assassinado em 1908

José Relvas - Político Republicano que proclamou a república em 1910


Carolina Beatriz Ângelo - Única mulher portuguesa a votar nas
eleições de 1911

Teófilo Braga - Chefe do Governo provisório de 1910

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