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TAREJA)
1ª estrofe
A primeira quadra do poema diz-nos que cada nação é um “mundo a sós”, que todas “são
mistérios”. O mistério, para o ocultista, é apenas o destino ainda por ser, o destino que espera
ser cumprido no futuro e que por isso se vai necessariamente revelar. A “mãe de reis e avó de
impérios” é o começo do revelar desse “mistério”, desse destino por ser. Cumpre-se nela o
mistério no nascimento do nosso primeiro rei, efectivo instrumento e agente do destino nas
suas obras. D. Teresa de facto é mãe de reis – D. Afonso Henriques – e avó de impérios – se
entendermos que a partir de Afonso, a ideia de Império se começaria a formar.
Nos versos 3 e 4, o sujeito poético pede a D. Teresa («Tareja») que reze por nós e nos proteja,
partindo do pressuposto de que o pronome pessoal «nós» se refere aos portugueses contem-
porâneos de Fernando Pessoa. Por outro lado, o pedido é feito a esta mulher, considerada
«mãe de reis e avó de impérios», uma vez que ela foi a mãe do primeiro rei de Portugal e,
portanto, «avó», ou seja, antepassada dos reis que se lhe seguiram, nomeadamente os
responsáveis pelas Descobertas (período do império português ultramarino). Ao fazer este
pedido à nossa antepassada, o sujeito poético pede ajuda para dar vida a um novo Portugal
imperial, a que designará de «Quinto Império».
2ª estrofe
Na segunda quadra, indica-se que D. Teresa amamentou com “seio augusto” – D. Teresa era
filha do rei de Leão e Castela, D. Afonso VI – e com “bruta e natural certeza”, “o que,
imprevisto, Deus fadou”. A “bruta e natural certeza”, decerto é uma direta referência à
maneira como, depois de criar o futuro rei, este entrou em conflito com a sua mãe,
batalhando-a para o controlo do Condado Portucalense, em 1128. Imprevisto era também o
novo rei, porque vizinho de grandes potências, que iriam forçá-lo a lutar sobremaneira para se
afirmar no futuro, contra as maiores probabilidades do seu fracasso do que do seu sucesso.
Mas D. Afonso Henriques, “fadado por Deus”, não iria vacilar.
v. ½ - Dar de beber o seu leite nobre a seu filho que no futuro se tornaria rei D. Afonso
Henriques (ainda que no futuro esta ação se viesse a virar contra ela mesma. Batalha de S.
Mamede, 1128)
v. 3 – Eleito D. Afonso Henriques – logo se destacou pela sua bravura. Do nada começou a
erguer Portugal
3ª estrofe
v. ½ - Parece ter implícita uma valorização dos que, na época de Pessoa, são herdeiros da
bravura, coragem e espírito independentista de D. Afonso Henriques.
4ª estrofe
A última estrofe introduzida pela conjunção coordenativa adversativa “Mas” marca uma
projeção para o tempo presente em que devemos manter a esperança de ver Portugal
renascer do antigo seio, pois onde está “já não há o dia”.
O sujeito poético mostra, na última estrofe, que, apesar do que referiu anteriormente sobre o
envelhecimento (simbólico) da nação portuguesa, a verdade é que «todo vivo é eterno
infante», ou seja, tudo o que tem vida dentro de si tem jovialidade (conotação associada a um
«infante») e potencial para recriar o passado num futuro ainda melhor («De novo o cria!»).
Assim, podemos caracterizar este sujeito poético como um ser dotado de uma esperança que
se pode revelar poderosa para a reconstrução de um novo Portugal, de uma nação novamente
esplendorosa.
v. 2 Apelo dirigido a D. Teresa, mas também ao Infinito “não há o dia” Para que de novo
se crie esse português ambicioso, movido pela vontade de ser maior. O 1º rei agora feito
símbolo de coragem e força de superação
D. João o Primeiro (Primeira parte: Brasão; II. Os Castelos; Sétimo (I): D. JOÃO)
O homem como instrumento da vontade de Deus, sem a qual é matéria “carne” que se
converterá a “pó”. O que se lhe exige é que esteja à “hora” certa em que “Deus faz a história”.
“O homem e a hora são um só”, quer dizer que em dado momento, certos homens acham o
seu destino, a sua razão de ser na história. Isto embora esses homens operem as suas ações
controlados por quem faz o seu Destino (“Deus daz e a história é feita”). O resto “é carne”,
“pó” que a “terra espreita”, ou seja, tudo o resto não é feito da mesma vida, não tem o mesmo
significado.
2ª estrofe – Elogio ao seu patriotismo
Graças a ele não perdemos Portugal como nação e foi garantida a nossa independência
relativamente a Castela – por isso foi “Mestre... do Templo / Que Portugal foi feito ser”, sem
que tivesse consciência do mesmo, “sem o saber”. Foi um passado (ver tempos verbais) a
considerar como exemplo de instinto de defesa do que é nosso.
Atos de coragem que teve em defesa da independência do país, protegendo assim o seu futuro
– “exemplo / De o defender”
3ª estrofe – Imortalização
Uso do presente do indicativo – é o tempo da memória, desse símbolo “nome” e “fama” que
nos dá a identidade “nossa alma interna”, metaforicamente, é a nossa “eterna chama” que nos
livrou do eterno esquecimento, da nossa inexistência enquanto nação.
Eterna porque estará sempre na nossa memória, vive no coração dos portugueses
D. Duarte, rei de Portugal (Primeira parte: Brasão; III. As Quinas; Primeira: D. DUARTE)
1ª estrofe
D. Duarte foi criado para ser rei e ter o poder, bem como Deus (fez o Mundo). / Ser rei
preencheu o vazio que ele sentia, / E dedicou-se por inteiro só à governação e à escrita, de
uma forma inteira, empenhada e profunda.
O herói simbólico assume que o seu Ser foi totalmente determinado pelo seu dever, tal como
o mundo de Deus. Consequentemente, podemos deduzir a sujeição do homem, fazendo
também ele parte do mundo, à vontade de Deus.
“Meu dever fez-me”, ou seja, o dever deu sentido à vida dele, depois das desgraças que o
assolaram.
No entanto mesmo na tristeza, o sujeito poético indica que o rei foi “em dia e letra
escrupuloso e fundo”. Ou seja, era alguém de grande seriedade, mesmo que sentisse
profundamente que não era essa a sua verdadeira vocação.
Dupla adjetivação: “escrupuloso e fundo” – realça o carácter do rei: homem honesto, com
princípios morais. Exigente na escrita e no seu dever
2ª estrofe
Toda a sua vida foi o resultado do cumprimento de um dever – “Cumpri contra o Destino o
meu dever” - mas um dever assumido de forma livre, pelo que não considera ter sido inútil o
seu sacrifício. É a afirmação de que a consciência do dever cumprido é, por si só, suficiente.
Uso da anástrofe: “Firme em minha tristeza, tal vivi”; “Cumpri contra o Destino o meu dever”
O sujeito poético apresenta-se como alguém investido por Deus para levar a cabo a sua “santa
guerra” (v. 2). Assume-se como um “escolhido” (vv. 6-9) que, ao receber o “gládio” divino (v.
1), com ele se “Sagrou” (v. 3). Por isso, declara a sua coragem, já que “Cheio de Deus” (v. 13),
inspirado, nada será maior que a sua “alma” (v. 15), ou seja, que a sua determinação. A
conceção messiânica da História torna-se evidente no retrato que o sujeito poético faz de si
mesmo, pois o sacrifício a que se submeteu só foi possível por ter sido eleito por Deus para
cumprir uma alta e exemplar missão, ascendendo, assim, a herói.
Tempos verbais: 7 primeiros versos – pretérito perfeito; 8 a 12º verso – presente; 13 a 15º
verso – futuro.
1ª estrofe
2ª estrofe
O Infante é guiado por Deus para o caminho certo, que sente a vontade de conquistar e mudar
a fé dos Mouros. É salientada a vontade de querer ser grande em nome de Deus, isto é o herói
age por vontade divina.
Animado por uma “febre de Além”, por uma vontade de atingir o absoluto, não teme o que o
futuro lhe reserva e deseja ardentemente, a “grandeza”, porque se sabe animado pelo espírito
de Deus – “cheio de Deus”.
3ª estrofe
O poema encerra com a afirmação de que a sua alma é imensa, pelo que tudo o que possa
acontecer “nunca será maior” do que a sua fé e vontade.
O Infante está confiante e calmo, pois tem Deus do seu lado, a olhar pela sua missão. A sua fé
em Deus permite-lhe enfrentar o futuro sem medo. A sua vida e a sua lealdade ao reino e a
Deus mostram que ele possui realmente uma alma digna.
Nos últimos três versos, há um apelo à loucuro e à capacidade de sonhar que impede o
homem a não temer nada (relação sebastianismo)
“Em minha face calma” – hipálage
Face calma, porque ele é todo determinação, consciência de que é um escolhido. Ele está
“cheio de Deus”, e por isso sem medo da tortura muçulmana. “Venha o que vier”, refere que o
sofrimento nunca superará “a minha alma”.
1ª estrofe
É descrito como uma pessoa de imensa cultura (“claro em pensar”) e de grande honestidade
(“claro no sentir”). Também era uma pessoa decidida (“claro no querer”). Era também alguém
de mente esclarecida, com o bem público em mente. “Indiferente ao que há em conseguir /
Que seja só obter”, ou seja, alguém que vê para além dos ganhos imediatos, que planeia o
futuro e não quer apenas enriquecer. Por isso, “dúplice dono” de “dever e de ser”. Alguém
íntegro na sua vida e nos seus atos – que tem a teoria e a prática do que é justo e bom. D.
Pedro, ao planear o futuro da pátria, não pensava no que era melhor para si, mas sim o que
era melhor para aqueles que estavam sob as suas ordens. Dava mais importância aos valores
morais, à honra, à dignidade, ao compromisso e à justiça do que aos bens materiais.
2ª estrofe
A sorte protege os audazes, costuma-se dizer, mas não protegeu D. Pedro, “não” lhe deu “a
Sorte ... guarida”. Não que ele não fosse audaz, que o era, mas porque ele não era um homem
de procurar apenas a sorte. Não era um “dos seus”, um dos homens que procuram sempre a
sorte e por isso tantas vezes são protegidos por ela.
Apesar de não ser ganancioso, a sorte escolhia não o proteger, pois não o considerava um dos
seus. No entanto, ele não se importava com isso. Assim sabia que tudo o que conseguiu
alcançar foi fruto do seu trabalho árduo e da sua vontade, e não mera sorte.
D. Pedro viveu uma vida delicado ao bem superior. Sendo homem de fina educação, sabia ver
mais além da realidade. Era “calmo sob céus mudos”, porque o alimentava uma certeza
enorme, uma convicção feita de rocha. Por ela sempre lutou, até ao fim dos dias, recusando
até um desterro despreocupado, o que o levou, em última circunstância, à morte (“assim vivi,
assim morri, a vida”).
Ele foi “fiel à palavra dada e à ideia tida” – foi sempre o mesmo e por isso a sua memória pode
perdurar imaculada, como mito e como mártir (“o mais é com Deus”).
Era um homem honrado, de convicções fortes, sabia o rumo a tomar, e lutou pelas suas
crenças até à morte, mantendo-se sempre fiel a si mesmo. Por isso mesmo morreu em paz,
sabendo que nunca se desviou do destino que Deus lhe ofereceu, e tudo o que lhe aconteceu
de mal foi por Sua vontade, podendo então ser lembrado para sempre como uma lenda ou
mito.
No primeiro verso do poema, a palavra “trono” traduz a ideia de que o Infante D. Henrique foi
um homem grandioso, sendo esta reforçada pela expressão “entre o brilho das esferas”, que
significa entre o brilho das estrelas, colocando o Infante e o seu trono nas alturas.
Seguidamente, a ideia de “noite” representa um espaço de criação, de germinação das ideias,
e “solidão” simboliza o ato de pensar. O conceito “manto” demonstra que o Infante se revestia
de “noite” e “solidão”, ou seja, que se tratava de um grande criador e pensador.
No verso “Tem aos pés o mar novo e as mortas eras”, a expressão “mortas eras” simboliza os
impérios territoriais do passado que, segundo Fernando Pessoa, sempre padecem. O Infante
permite a abertura ao Homem Universal, faz do mar (que outrora simbolizava separação)
estrada, símbolo de união, criando o "mar novo", um oceano agora vencido, outrora
enigmático e indomável.
Por ter permitido esta junção, um feito de uma natureza superior, o Infante tornou-se imortal,
tornou-se no „único imperador“ que possui “O globo mundo em sua mão”, pois o seu império
é comum a todos os homens, primeiro por caminho marítimo e, a um nível superior, pela
possibilidade de partilha de ideias entre povos longínquos.
Se a visão (“cabeça do grifo”) pertencia ao Infante D. Henrique, faltava quem lhe desse o
poder de realizar essa visão, literalmente de a fazer voar. Por isso Pessoa usa a
expressão “asa do grifo” – são as asas que vão fazer levantar do chão a visão/sonho
magnífico do Infante. Uma das asas do grifo, é D. João II.
1ª estrofe
Foi D. João II que quis ir mais além, que quis dobrar o Cabo da Boa Esperança. É visionário que
aceita o desafio de ir além do que já foi conquistado (“além do mar”).
De “braços cruzados” – não usando a força, só a vontade, ele fita por isso “além do mar” –
para a Índia. Como um “promontório”, que alto desafia o mar, que é terra e ao mesmo tempo
quase mar. O promontório é um limite, mas D. João II encarna – para Pessoa – esse mesmo
limite, ele define-o e expande-o, com a sua vontade. É ele “o limite da terra a dominar / O mar
que possa haver além da terra”.
2ª estrofe
“Seu formidável vulto solitário” – referência à solidão que propícia a idealização e realização
de grandes feitos
“Enche de estar presente o mar e o céu” – a presença, ainda que solitária, de D. João II enche o
mar e o céu, ou seja, é uma figura que se impõe.
O mundo parece temer que D. João II possa acabar com os seus mistérios, com um só abrir de
braços.
1ª estrofe
O uso das expressões como “teve a fama e a glória tem”, “Imperador da língua portuguesa”
transmite a ideia de admiração e respeito que o autor tem pelo Padre António Vieira. Através
do uso da comparação “Foi-nos um céu também” (teve uma grandeza igual à do céu),
Fernando Pessoa realça, novamente, a importância e o papel de Vieira na literatura
portuguesa.
2ª estrofe
“O imenso espaço do seu meditar”, pode ter um duplo sentido. Pode Pessoa referir-se à vasta
cultura e imaginação de Vieira, bem como ao espaço geográfico que Vieira inclui no seu estudo
das profecias bíblicas e do Bandarra. De facto, o Sebastianismo de Vieira não é apenas
português, mas também brasileiro, e em essência universal.
3ª estrofe
No verso “Mas não, não é luar: é luz do etéreo”, o poeta diz que não é o luar, ou seja, o final
do dia, referindo-se ao império material, mas a luz celeste, o começo de um novo dia, um
império espiritual, o Quinto Império.
É uma luz que vem do alto, iluminar como nova e divina verdade a escuridão humana. “É um
dia; e, ... a madrugada irreal do Quinto Império”. Ou seja, a luz que vem do alto é a
madrugada, o início do dia (da realidade irreal, mito que existindo não existe) que será o
Quinto Império.
Essa “luz do etéreo” “doira as margens do Tejo”. A luz é dourada, porque é uma luz final, luz
do conhecimento verdadeiro, da irredutível nova realidade, fraterna e universal: a luz de Deus
que cai sobre os homens.