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Contextualização literária

Fernando Pessoa, Mensagem

• Publicada em 1934 (44 poemas);

• Concorrente ao “Prémio Antero que Quental”;

• Fernando Pessoa recebeu o “prémio de segunda categoria”


devido à reduzida extensão do livro (apesar das suas 102
páginas, só 55 tinha poemas);

• Por discordar frontalmente da política salazarista, Fernando


Pessoa não compareceu à entrega do prémio, mas não o recusou.
Contextualização literária
Fernando Pessoa, Mensagem

• Relata a História de Portugal através de uma série de


quadros ou de retratos nos quais se mostram,
sequencialmente, vários «reis, heróis, navegadores ou
profetas», que apresentam um sentido oculto, ou seja,
não representam só o passado, mas também o futuro.
PASSADO FUTURO

Fernando Pessoa apresenta uma profecia quanto ao destino


singular de Portugal, interrogando o «futuro do passado», isto é,
revelando o que do passado deve ser retomado, as lições que dele
podem ser colhidas para a construção desse futuro e,
consequentemente, para o cumprimento do destino português.
Luís de Camões Fernando Pessoa

 Se Camões procurou em Os Lusíadas cantar os feitos gloriosos


lusos que deram inicio ao grande império que se estendeu pelos
diversos continentes, Pessoa, em Mensagem, cantou o fim do
império territorial, procurando incentivar o aparecimento de um
império de língua, de cultura e de valores.
O Nacionalismo de Fernando Pessoa assenta no conceito de pátria como nação.

NAÇÃO

Conjunto humano unido por instituições comuns,


tradições históricas e, principalmente, uma língua.
• Transformar a sua pátria (que se encontrava num estado de profunda letargia,
incapaz de agir coletivamente, olhando apenas para o passado) em «nação
criadora de civilização» através do poder do sonho.

• Evocação, através do poder da sua escrita, com os olhos sempre postos no


futuro, dos heróis passados de Portugal (exemplos da vontade de mudança e
da capacidade de ação), de modo a influenciar os portugueses, transformando-
os em agentes da construção do Portugal futuro.
Mensagem: estrutura formal e simbólica

Obra composta por 44 poemas


agrupados em três partes

Parte I Parte II Parte III

Brasão Mar Português O Encoberto

Bellum Sine Bello Possessio Maris Pax In Excelsis


(guerra sem guerra) (a posse do mar) (paz nas alturas)
Parte I - BRASÃO

 Conjunto de poemas onde desfilam


figuras históricas até D. Sebastião,
identificadas nos elementos dos brasões
e que estão associadas ao nascimento e
à construção da pátria.
Parte I - BRASÃO

Subpartes Poemas Subpartes Poemas


Primeira – “D. DUARTE, REI DE PORTUGAL”
I. Primeiro – “O DOS CASTELOS” Segunda – “D. FERNANDO, INFANTE DE
Os Campos Segundo – “O DAS QUINAS” PORTUGAL”
III. Terceira – “D. PEDRO, REGENTE DE
Primeiro – “ULISSES” As Quinas PORTUGAL”
Segundo – “VIRIATO” Quarta – “D. JOÃO, INFANTE DE PORTUGAL”
Terceiro – “O CONDE D. Quinta – “D. SEBASTIÃO, REI DE
HENRIQUE” PORTUGAL”
II. Quarto – “D. TAREJA”
Quinto – “D. AFONSO IV.
Os “NUN’ ÁLVARES PEREIRA”
HENRIQUES” A Coroa
Castelos Sexto – “D. DINIS”
A Cabeça do Grifo – “O INFANTE D.
Sétimo I – “D. JOÃO O
HENRIQUE”
PRIMEIRO” V.
Uma Asa do Grifo – “D. JOÃO O SEGUNDO”
Sétimo II – “D. FILIPA DE O Timbre Outra Asa do Grifo – “AFONSO DE
LENCASTRE”
ALBUQUERQUE”
Parte II – MAR
PORTUGUÊS

 Poemas inspirados no sonho marítimo


e na obra das descobertas. Referem
personalidades e acontecimentos dos
Descobrimentos que exigiram uma luta
contra o desconhecido e os elementos
naturais.
Parte II – MAR
PORTUGUÊS

Poemas

I. “O INFANTE” VII. “OCIDENTE”


II. “HORIZONTE” VIII. “FERNÃO DE MAGALHÃES”
III. “PADRÃO” IX. “ASCENSÃO DE VASCO DA
IV. “O MOSTRENGO” GAMA”
V. “EPITÁFIO DE BARTOLOMEU X. “MAR PORTUGUÊS”
DIAS” XI. “A ÚLTIMA NAU”
VI. “OS COLOMBOS” XII. “PRECE”
Parte III – O ENCOBERTO

 Poemas que apresentam a imagem do


Império moribundo, com a esperança de
que a morte tenha o poder da
regeneração, capaz de provocar o
nascimento de um novo império
civilizacional, que se encontra para além
do material.
Parte III – O ENCOBERTO

Subpartes Poemas Subpartes Poemas

Primeiro – “D. SEBASTIÃO” Primeiro – “NOITE”


Segundo – “O QUINTO Segundo – “TORMENTA”
IMPÉRIO” III.
I. Terceiro – “CALMA”
Terceiro – “O DESEJADO” Os Tempos Quarto – “ANTEMANHÔ
Os Símbolos Quarto – “AS ILHAS Quinto – “NEVOEIRO”
AFORTUNADAS”
Quinto – “O ENCOBERTO”

Primeiro – “O BANDARRA”
II. Segundo – “ANTÓNIO VIEIRA”
Os Avisos Terceiro – [SCREVO MEU LIVRO
À BEIRA-MÁGOA]
Estrutura simbólica

Brasão Mar Português O Encoberto

Idade do Pai Idade do Filho Idade do Espírito


Os que, recolhendo a Idade que ainda não
As pedras basilares da
herança, a dilataram veio, o Espírito
nacionalidade
pelos mares e encoberto que espera o
portuguesa.
continentes. Desejado.

Nascimento Realização e vida Morte e renascimento


Fim das energias do
Os fundadores e Realização do império império. Renascimento
construtores do império. territorial sonhado. do império espiritual:
Quinto Império.
Brasão
I. Os Campos

Simbologia da terra, espaço de fecundidade, de vida.

A obra realizada pelos fundadores e construtores do


império.

II. Os Castelos

Força, nobreza e coragem.

Valores da fundação e da defesa da nacionalidade


colocados a par do mistério e do enigma como
portadores da origem e do futuro.
Brasão
III. As Quinas

Transposição heráldica das chagas de Jesus, que foram, segundo uma lenda,
oferecidas pelo próprio Cristo ao nosso primeiro rei.
Os cinco heróis sofredores (como as quinas exibidas no brasão nacional) que
lembram as chagas de cristo.

IV. A Coroa

Símbolo de perfeição e de poder; promessa de imortalidade.


Representada pelo arquétipo do herói-cavaleiro puro, o Condestável D. Nuno
Álvares Pereira, que coroa simbolicamente o fundador da dinastia de Avis, D.
João I.
Brasão
V. O Timbre

O grifo reforça uma dupla natureza


celeste (a águia) e terrestre (o leão), as
duas qualidades de sabedoria e de força
de Cristo.

A cabeça do grifo representa o Espírito, a


Sabedoria, o Sonho inspirado do Alto; as
asas transportam o sonho, do plano
celeste ao terrestre.
Mar Português
Glorificação das grandes descobertas marítimas portuguesas.

Entre a época do Infante e a de D. Sebastião, Portugal


assume-se como a cabeça da Cristandade ocidental,
percorrendo mares desconhecidos e revelando mundos
ignorados, aos quais vai fazer chegar a mensagem cristã.

Descreve-se, primeiro, a epifania oceânica do novo povo eleito,


depois a sua perdição na noite e na tormenta e, finalmente, a
sua prece a Deus para o ressurgimento ou a reconquista da
Distância, símbolo de distância geográfica para a Ásia e as
Américas, mas também símbolo da distância para o mistério
do absoluto ou do divino.
O Encoberto
A constatação de um tempo e de um espaço perdidos,
envoltos nas brumas da memória, e o sofrimento do eu
poético por ver dormir o seu povo, que tinha perdido a
sua identidade e os seus referentes.

É neste momento que o poeta explicita o significado do


Quinto Império, recorrendo a uma linguagem que deixa
antever esse tempo de prosperidade espiritual, numa
estrutura tripartida:

I. Os Símbolos II. Os Avisos III. Os Tempos


O Encoberto
I. Os Símbolos Correspondem à própria linguagem
da existência; os cinco grandes
mitos portugueses.

II. Os Avisos As profecias dos três grandes


arautos do messianismo português.

III. Os Tempos Desvelam-se os sinais que indiciam


a proximidade de «O Encoberto».
Símbolo da renovação dos mitos:
Ulisses Ulisses de facto não existiu, mas
bastou a sua lenda para nos
inspirar.
Metáfora / paradoxo O mito é o nada que é tudo.
1ª parte:
Personificação
O mesmo sol que abre os céus Uso do presente
do indicativo:
É um mito brilliante e mudo − valor intemporal
• Pessoa remota à figura mítica de Ulisses e universal.
O corpo morto de Deus,
para explicar a fundação de Portugal;
Vivo e desnudo.

• O mito que é Ulisses, passou de nada a


Este, que aqui aportou,
tudo, ao dar nome a uma cidade e 2ª parte:
Foi por não ser existindo. Uso do pretérito
fazendo transcender-se um povo e um
perfeito do
país, apresentando-se como exemplo; Sem existir nos bastou. indicativo: recuo a
uma narração do
Por não ter vindo foi vindo nosso passado
• O futuro glorioso de Portugal só poderá (origem de Lisboa)
E nos criou.
concretizar-se através da vivência do
mito.
Advérbio de modo: sintetiza a tese inicial Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
3ª parte:
E a fecundá-la decorre. Uso do presente
do indicativo.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Fernando Pessoa, Mensagem

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